Tema Toxicologia dos solventes e metais no ambiente...

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CCDD Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 1 Tema Toxicologia dos solventes e metais no ambiente de trabalho Projeto Pós-graduação Curso Enfermagem do trabalho Disciplina Toxicologia Tema Toxicologia dos solventes e metais no ambiente de trabalho Professor João Luiz Coelho Ribas Introdução A toxicidade de solventes e metais é de grande importância para o trabalhador, visto se tratar de uma intoxicação silenciosa e, por vezes, grave e incapacitante. Essa aula tem então como objetivo comentar sobre os principais solventes e metais presentes no trabalho e suas consequências em uma exposição crônica. (Vídeo disponível no material on-line) Problematização Rita, 54 anos, há 32 anos trabalha como auxiliar em consultório odontológico. Ela viu a Odontologia se modernizar e vários produtos serem substituídos dentro do âmbito odontológico, no entanto algo permaneceu até os dias atuais, que é o amálgama. As gerações mais novas não gostam dele, mas as gerações mais antigas ainda o pedem, fazendo-o se tornar a principal matéria-prima utilizada no tratamento da cárie dentária dessas pessoas. Entre suas funções, Rita sempre preparou o amálgama que o dentista utiliza diariamente. Ela trabalha com o mesmo dentista desde que começou na área e com ele aprendeu tudo. Provavelmente só vai parar quando ele se aposentar, o que

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Tema – Toxicologia dos solventes e metais no ambiente de

trabalho

Projeto Pós-graduação

Curso Enfermagem do trabalho

Disciplina Toxicologia

Tema Toxicologia dos solventes e metais no ambiente de trabalho

Professor João Luiz Coelho Ribas

Introdução

A toxicidade de solventes e metais é de grande importância para o

trabalhador, visto se tratar de uma intoxicação silenciosa e, por vezes, grave e

incapacitante.

Essa aula tem então como objetivo comentar sobre os principais

solventes e metais presentes no trabalho e suas consequências em uma

exposição crônica.

(Vídeo disponível no material on-line)

Problematização

Rita, 54 anos, há 32 anos trabalha como auxiliar em consultório

odontológico. Ela viu a Odontologia se modernizar e vários produtos serem

substituídos dentro do âmbito odontológico, no entanto algo permaneceu até os

dias atuais, que é o amálgama.

As gerações mais novas não gostam dele, mas as gerações mais

antigas ainda o pedem, fazendo-o se tornar a principal matéria-prima utilizada

no tratamento da cárie dentária dessas pessoas. Entre suas funções, Rita

sempre preparou o amálgama que o dentista utiliza diariamente.

Ela trabalha com o mesmo dentista desde que começou na área e com

ele aprendeu tudo. Provavelmente só vai parar quando ele se aposentar, o que

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ela espera que ainda demore um tempo.

De uns anos para cá, ela vem desenvolvendo gengivite que aparece e

reaparece frequentemente. Já pediu orientação para o dentista que trabalha,

mas não conseguiu curar-se de forma definitiva e fica com vergonha de falar

que ainda está com gengivite, visto trabalhar em um consultório odontológico.

No entanto, outros sintomas estranhos têm aparecido, tais como

ulcerações orais (aftas, que ela atribui ao estresse e a comer abacaxi

frequentemente), gosto metálico na boca (o que ela atribui aos medicamentos

que toma para reduzir a pressão arterial) e crises ocasionais de gastrite (a qual

já está tratando com omeprazol).

Além disso, Rita vem apresentando redução de memória (como diz ela

“coisa da idade”), irritabilidade, ansiedade e reflexos reduzidos (o que ela

atribui à dificuldade constante de dormir, mesmo com medicação para isso).

Cefaleia constante e vertigens também fazem parte de seu cotidiano.

O dentista vem notando essas alterações e que, mesmo frequentemente

indo ao médico, ela não melhorava e parecia que o quadro apenas progredia.

Lembrou-se que um de seus clientes era enfermeiro do trabalho e que talvez

ele pudesse ajudar a “dar uma luz” sobre esses problemas e que especialista

procurar.

Esse enfermeiro do trabalho é você e, após conhecimento do caso, qual

a sua suspeita? Será que tem relação com o trabalho? Quais as principais

orientações que você daria à Rita? Calma, não responda agora... Ao final dos

estudos desse tema a gente volta a conversar sobre isso. Bons estudos!

(Vídeo disponível no material on-line)

Toxicologia dos solventes e metais no ambiente de trabalho

Na vida pessoal são poucos os momentos em que entramos em contato

com substâncias perigosas, só que esse pode ser um problema bastante

recorrente no ambiente do trabalho. A exposição aos solventes orgânicos e

metais pode ocorrer diariamente em algumas carreiras e isso é uma

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preocupação para a Medicina e a Enfermagem do trabalho. Por esse motivo

você conhecerá melhor essas substâncias neste tema.

Aspectos toxicológicos dos solventes orgânicos

Antes de falarmos sobre solventes e quais são de interesse para

toxicologia ocupacional, temos que definir o que de fato é um solvente e quais

suas implicações para o trabalhador.

Então, quando falamos em solventes estamos falando de substâncias:

Líquidas

Compostos Orgânicos

Que dissolvem outros compostos orgânicos

Lipofílicas

Habitualmente voláteis

Essas características fazem com que os solventes tenham grande

importância também para a toxicologia ocupacional. De uma forma geral, os

solventes podem ser utilizados em atividades que necessitem de:

Dissolução

Extração

Desengraxamento

Tintas, corantes, pinturas e coberturas

Diluição e dispersão

Limpeza a seco

Combustíveis

Bebidas

Anticongelantes

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Explosivos

Toxicocinética dos solventes

(Vídeo disponível no material on-line)

Algumas características importantes dos solventes fazem com que eles

apresentem uma absorção rápida, tanto por via inalatória, por sua

característica de volatilidade, quanto por via cutânea, pela sua característica de

lipossolubilidade.

Após a sua absorção, independente da via de exposição, ocorre a sua

distribuição. Essa distribuição irá depender e variar com o teor de lipídeos e

vascularidade. Vale a pena lembrar que devido à característica de

lipossolubilidade dos solventes, os tecidos adiposos são verdadeiros depósitos

para o armazenamento desses solventes que são ricos em lipídeos.

O seu metabolismo é essencialmente hepático, mas nem sempre é

efetivo, pois os solventes têm como característica sofrerem bioativação, alguns

deles inclusive gerando metabólitos tóxicos.

Sua excreção é realizada via renal a partir de produtos conjugados.

Devido a sua característica de ser volátil, o ar expirado também é uma forma

bastante importante e comum de excreção dos solventes.

Efeitos dos solventes

(Vídeo disponível no material on-line)

Entre os principais efeitos dos solventes no organismo do trabalhador

podemos citar:

Efeitos dérmicos locais devido à extração dos lipídeos da derme

Efeito depressor do SNC

Efeitos neurotóxicos

Efeitos hepatotóxicos

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Efeitos nefrotóxicos

Risco variável de câncer

Entre os efeitos hepáticos dos solventes podemos destacar a hepatite

química, que ocorre com aumento das transaminases, indicando dano

hepatocelular bastante importante e esteatose, ocasionalmente progredindo

para necrose hepática com possível aparecimento de cirrose durante a

recuperação da lesão.

Outro efeito importante dos solventes é a inibição enzimática, o que

acarreta um metabolismo reduzido de outros xenobióticos presentes tanto no

ambiente de trabalho quanto no meio ambiente.

Em relação à toxicidade renal dos solventes, podemos citar como

importante e de gravidade variável a necrose tubular aguda, devido a uma

exposição aguda severa aos hidrocarbonetos halogenados, glicóis, tolueno,

destilados do petróleo e glomerulonefrite pela exposição crônica a solventes

como a gasolina.

Outro problema bastante característico e importante quando falamos de

exposição aos solventes é a neurotoxicidade. Essa neurotoxicidade pode se

apresentar de várias maneiras, incluindo alteração do estado de consciência,

euforia, agitação com desinibição, incoordenação motora associada à ataxia e

disartria.

Muitos dos estudos nessa área estão centrados na pesquisa do que

chamamos de “Síndrome dos Pintores”, pela importância social que ela

representa. Essa síndrome é caracterizada por quatro sintomas característicos

que são:

Depressão

Desempenho psicomotor retardado

Alteração da personalidade

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Redução da memória recente

Para a determinação dessa síndrome, o que por sinal é muito difícil pela

incongruência dos sintomas e da confusão deles com outros problemas e

síndromes, é recomendado uma série de testes neurocomportamentais

indicados pela Organização Mundial da Saúde. A partir desses testes espera-

se a redução de erro e o diagnóstico diferencial dessa patologia.

Mesmo assim, assim como outras doenças derivadas da exposição aos

solventes, temos vários problemas na avaliação e determinação exata da

neurotoxicidade originada. Entre esses problemas podemos citar:

Depressão

Desempenho psicomotor retardado

Alteração da personalidade

Redução da memória recente

Para a determinação dessa síndrome, o que por sinal é muito difícil pela

incongruência dos sintomas e da confusão deles com outros problemas e

síndromes, é recomendado uma série de testes neurocomportamentais

indicados pela Organização Mundial da Saúde. A partir desses testes espera-

se a redução de erro e o diagnóstico diferencial dessa patologia.

Mesmo assim, assim como outras doenças derivadas da exposição aos

solventes, temos vários problemas na avaliação e determinação exata da

neurotoxicidade originada por solventes. Entre esses problemas podemos citar:

Definição de casos não específica

Índice de prevalência na reprodução

Variabilidade nos testes neurocomportamentais

Exames fisiológicos não específicos

Confundida com etanol, trauma ou outros fatores

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Exposições mistas

Parestesias sensoriais precoces

o Dormência

o Perda da capacidade de receber estímulos dos músculos e

tendões (posteriormente)

Efeitos motores

o Fraqueza motora

o Atrofia de nervos

Entre os principais solventes presentes no ambiente do trabalho, vamos

discutir os mais prevalentes e de maior importância clínica frente a uma

intoxicação crônica. Eles são chamados de BTEX (benzeno, tolueno,

etilbenzeno e xileno).

(Vídeo disponível no material on-line)

Os BTEX são especialmente encontrados em combustíveis e

consequentemente toda atividade que envolve produção, distribuição ou

utilização de combustíveis está em contato direto ou indireto com esses

poluentes ocupacionais. Esses compostos são extremamente nocivos à saúde

do trabalhador.

Os compostos BTEX compreendem de 10 a 60% da constituição da

gasolina e apresentam maior mobilidade que os outros compostos presentes

na gasolina, pois são leves e consequentemente, mais voláteis apresentando

expressiva toxicidade crônica. Em termos gerais, as diferentes formulações da

gasolina podem influenciar de forma decisiva o destino e transporte do BTEX

uma vez que dependendo dessa constituição pode-se agravar a contaminação

e os sintomas exibidos pelo trabalhador.

Nos últimos anos a adição de etanol à gasolina com o intuito de redução

da poluição ambiental, contribuiu decisivamente para redução dos efeitos

tóxicos crônicos da exposição do trabalhador. Não que o etanol não tenha

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efeitos tóxicos importantes à saúde do trabalhador, mas com certeza são

menores e bem menos graves que o BTEX.

Contudo, a adição do etanol à gasolina, altera o comportamento do

BTEX na questão de solubilidade e da motilidade em sistemas superficiais,

além de aumentar a sua persistência na água devido a sua maior dificuldade

de biodegradação. Ou seja, de um lado o trabalhador foi beneficiado no

ambiente de trabalho, do outro, apesar da justificativa ambiental, o meio

ambiente foi prejudicado, o que influencia de forma direta ou indireta também a

saúde do trabalhador e de sua família.

Uma característica essencial da toxicidade ocupacional crônica do BTEX

é a sua capacidade, devido à lipossolubilidade, de se armazenar nos tecidos

adiposos, levando a uma acumulação e ao aparecimento tardio dos sintomas

de intoxicação por solvente. Em termos gerais, o BTEX é responsável pelo

aparecimento de problemas renais e hepáticos, mas principalmente e

caracteristicamente neurológicos, devido a sua neurotoxicidade acentuada.

O benzeno especificamente também tem o poder de invadir a medula

óssea e levar a uma anemia aplásica, levando a uma redução expressiva e

mortal de glóbulos brancos, vermelhos e plaquetas. Por esse motivo o benzeno

é classificado como carcinogênico humano, representando assim sérios

problemas para a saúde pública e a saúde do trabalhador.

Por esse motivo existe uma diferença na classificação, tendo assim o

benzeno como carcinogênico e o tolueno, etilbenzeno e xileno como tóxicos. O

que faz a diferença nessa classificação é, portanto, os valores de sua

exposição. Enquanto os classificados como tóxicos possuem uma valoração

abaixo do valor em que o dano à saúde é significativo, o contato com o

benzeno em qualquer concentração aumenta a possibilidade do trabalhador

desenvolver câncer.

Essa fixação de valores extremamente baixos para a exposição ao

benzeno pode até reduzir o risco de contaminação, mas somente vai de fato

assegurar a proteção total do trabalhador quando esses índices forem zero. Ou

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seja, nessa interpretação não existe nenhuma forma segura de não

contaminação pelo benzeno, nem com a utilização de EPIs, e a única

alternativa é o trabalhador não entrar em contato com ele.

Para maior aprofundamento nesse assunto recomendo a leitura do artigo

a seguir, sobre a qualidade do ar em ambientes fechados e seu impacto na

saúde humana:

http://www.revistas.sp.senac.br/index.php/ITF/article/viewFile/438/382

(Vídeo disponível no material on-line)

Aspectos toxicológicos dos metais

(Vídeo disponível no material on-line)

Os metais são por definição elementos químicos com uma massa

atômica elevada. Alguns representam um interesse crescente especialmente

em se tratando da exposição ocupacional do trabalhador, devido às evidências

de que eles podem causar doenças graves mesmo em exposições crônicas.

De fato, a exposição crônica a metais ocorre há mais de 5000 anos,

desde que o homem iniciou sua extração e processamento. No entanto,

somente nos últimos anos é que ela ganhou um destaque real no que tange à

saúde do trabalhador e aos problemas oriundos da sua exposição aos mais

diversos metais.

Entre os metais de maior importância no ambiente de trabalho, podemos

citar o arsênico, o cádmio, o chumbo e o mercúrio.

Arsênico

O arsênico é um elemento químico muito frequente na ecosfera, sendo

considerado o agente mais conhecido pelo homem, dado que é utilizado desde

a idade média.

Ocupacionalmente, o trabalhador entra em contato com ele

especialmente na indústria siderúrgica, na indústria de vidro, na cerâmica, na

preparação de fármacos e na preparação de corantes.

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O arsênico é absorvido preferencialmente no âmbito ocupacional pela

via inalatória, se acumulando, sobretudo, na pele, pulmões, fígado, rins e

músculos. Sua principal via de excreção é a urinária, na forma de arsênico

inorgânico e de seus metabólitos metilados.

Em termos bioquímicos, a toxicidade celular deve-se principalmente à

forma trivalente, que apresenta elevada afinidade pelos grupamentos tiol de

proteínas e enzimas. A ligação do arsênico com essas proteínas leva à inibição

de uma grande variedade de processos oxidativos intracelulares, sendo o

principal exemplo a inibição de enzimas mitocondriais e a inibição de enzimas

envolvidas na reparação e expressão do DNA.

Isso leva, em última análise, à redução da respiração celular, aumento

de espécies reativas de oxigênio e quebras no DNA, estimulando proto-

oncogenes. Em termos gerais, devido a essa ação, em exposição crônica, o

trabalhador pode apresentar:

Fadiga

Problemas gastrintestinais

Melanodermia

Hiperqueratose

Hepatomegalia que pode evoluir para uma cirrose

Neoplasia pulmonar, hepática e cutânea.

Cádmio

O cádmio é um elemento que se encontra disperso por todo ambiente e

que pode entrar no organismo por várias vias, sendo a via inalatória a mais

grave em termos de exposição ocupacional.

O cádmio é utilizado nas indústrias de baterias juntamente com níquel e

vidro. A forma mais comum de exposição ocupacional é a inalação de

partículas ou fumos gerados durante o aquecimento ou soldadura de materiais

contendo cádmio. De forma geral o trabalhador está exposto ao cádmio ao lidar

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com:

Indústria do zinco

Ligas de cádmio com outros metais

Baterias níquel-cádmio

Ligas de solda manganês-cádmio

Pigmentos de tintas

Estabilizantes de plásticos

O cádmio uma vez absorvido é acumulado principalmente nos

eritrócitos, ligando-se a proteínas de baixo peso molecular tais como albumina,

globulinas e metalotioneinas. O cádmio pode se ligar a grupamentos

sulfidrílicos de enzimas, grupos carboxílicos, grupos fosfóricos, cisteina,

histidina e ácidos nucleicos, levando a sintomas de exposição crônica de:

Rinorreia

Dispneia

Dor torácica

Edema pulmonar

Enfisema progressivo (por inibição da antitripsina)

Proteinúria

Anemia hipocrômica

Câimbras, vertigens e dores ósseas

Proteinúria e glicosúria

Chumbo

O chumbo foi um dos primeiros metais a ser utilizado e atualmente é o

agente tóxico ocupacional mais estudado. A sua grande utilização nas mais

variadas aplicações faz com que o trabalhador esteja constantemente exposto

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a ele, originando problemas ocupacionais graves. No entanto, a sua utilização

mais intensa ainda ocorre na produção de baterias, corantes e ligas metálicas.

A absorção do chumbo depende essencialmente do tamanho da

partícula. Partículas maiores são retidas pelo trato respiratório e as que são

removidas acabam sendo deglutidas, sendo absorvidas via gastrointestinal. As

partículas menores podem ser absorvidas pelos pulmões ou mesmo pela pele.

Uma vez absorvido, o chumbo é distribuído no plasma, fluidos

extracelulares, tendo a capacidade de atravessar a barreira hemato-encefálica.

Preferencialmente acumula-se nos tecidos moles e no esqueleto.

A toxicidade do chumbo resulta, principalmente na sua interferência no

funcionamento das membranas celulares e enzimas, formando complexos

estáveis com o enxofre, fósforo, azoto e oxigênio. Uma indicação evidente de

uma futura intoxicação é o aumento das porfirinas no sangue e na urina. Essas

interferências celulares podem levar a:

Interferência na biossíntese do grupamento heme

Interferência na síntese da globina

Alterações hematológicas

Distúrbios gastrintestinais

Distúrbios no SNC

Falência renal

Distúrbios cardíacos

Problemas musculares

Anemia normocítica

Encefalopatia

Aminoacidúria

Coproporfirinúria

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Mercúrio

O mercúrio é o metal mais volátil no meio ambiente e um dos mais

tóxicos quando falamos em toxicidade ocupacional. Ele apresenta, entre outros

efeitos toxicológicos, a neurotoxicidade e teratogenia.

Os trabalhadores expostos ao mercúrio são essencialmente aqueles que

mexem com a preparação de amálgamas dentárias, manufatura de lâmpadas,

produção de aparelhos científicos de precisão, tais como termômetros,

barômetros e manômeros, e mineradores.

A absorção do mercúrio dá-se especialmente por via inalatória, por

tratar-se de um metal extremamente volátil, que aumenta sua volatilidade com

o aumento da temperatura. O mercúrio uma vez absorvido é distribuído no

organismo, acumulando-se nos rins, sistema nervoso central, fígado, medula

óssea, vias áreas superiores, pele, parede intestinal, glândulas salivares,

coração, músculos e placenta.

O mercúrio pode ser eliminado pelas fezes, na urina, no ar expirado ou

pela saliva. Dentre seus principais sintomas, em uma intoxicação ocupacional

crônica, podemos citar:

Lesões orais, do estômago, intestino e fígado

Gengivite (distúrbio mais comumente encontrado nos trabalhadores

expostos ao mercúrio)

Gosto amargo ou metálico na boca

Faringite inespecífica

Gastrite e gastroduodenite

Necrose de túbulo renal

Neurotoxicidade

Aumento na sensibilidade térmica e dolorosa

Alterações nos reflexos e na coordenação motora

Irritabilidade, insônia, timidez, ansiedade, esquecimento e dificuldade

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de concentração

Cefaleia e vertigens frequentes

Alterações de sociabilidade

Nas trabalhadoras grávidas ele atravessa a placenta causando

teratogenia

Revendo a problematização

Agora que você já conheceu os efeitos nocivos dos solventes e dos

metais, veja algumas possíveis alternativas para a solução do problema que

apresentamos a você no início deste tema:

a. Estresse ocupacional, orientando a Rita a tomar medidas para redução

do estresse e consequentemente dos sintomas ocasionados por ele.

b. Problemas ergonômicos, orientando a Rita a tomar medidas para

melhorar sua ergonomia a assim a redução dos sintomas.

c. Intoxicação crônica por mercúrio, orientando a Rita a não fazer mais os

amálgamas para não piorar a sua situação.

Veja agora os Feedbacks para cada alternativa:

a. Com certeza o estresse ocupacional está presente nesse contexto, no

entanto não é o principal fator para o surgimento dos sintomas. Ele está

atuando de forma decisiva no estabelecimento e agravamento dos

sintomas.

b. Assim como o estresse ocupacional, com certeza ela também tem como

agravantes os problemas de ergonomia, especialmente quando está

manipulando materiais a serem utilizados pelo dentista, mas não é o

principal problema! Se analisarmos a totalidade dos sintomas,

provavelmente estamos tratando de uma intoxicação agravada pelo

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estresse e pelos problemas ergonômicos.

c. Os sintomas são condizentes com a intoxicação crônica por mercúrio

oriundo da manipulação do amálgama sem os devido cuidados (EPIs)

ao longo de sua história profissional. Aqui a primeira medida é sim o

afastamento de Rita de suas funções, especialmente da preparação dos

amálgamas para evitar a continuidade e a manutenção da intoxicação

crônica pelo mercúrio.

Síntese

Neste tema tratamos especificamente dos metais e solventes e seus

impactos na saúde do indivíduo que entre em contato constante ou até mesmo

limitado com os esses tóxicos.

Enfatizamos uma preocupação especial com alguns metais (mercúrio,

arsênico, cádmio e chumbo) e alguns solventes (benzeno, tolueno, etilbenzeno

e xileno), por suas características altamente tóxicas, delineando as reações e

sintomas que podem ser esperados durante uma intoxicação por cada um

desses agentes.

Você pôde perceber a importância desse conhecimento para a

enfermagem e a medicina ocupacional, visto que muitas indústrias e até

mesmo profissionais da saúde como médicos e dentistas necessitam desses

componentes que devem ser manuseados com um cuidado muito grande.

(Vídeo disponível no material on-line)

Referências

Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA. Disponível em:

<www.anvisa.gov.br>. Acesso em: 24 fev. 2014.

Biblioteca Virtual em Saúde – Toxicologia Brasil. Disponível em:

<http://br.storescompared.net/search/biblioteca+virtual/>. Acesso em: 24 fev.

2014.

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Centro de controle de doenças CDC. Disponível em: <www.cdc.gov>. Acesso

em: 24 fev. 2014.

Klaassen, C. D.; Watkins III, J. B. Fundamentos em Toxicologia de Casarett

e Doull. 2 ed. São Paulo: Artmed, 2012.

Larini, L. Toxicologia. São Paulo: Manole Ltda, 1999.

Michel, O. da R. Toxicologia Ocupacional. São Paulo: Revinter. 2001.

Ministério do trabalho e emprego – TEM. Disponível em:

<http://portal.mte.gov.br/portal-mte/>. Acesso em: 24 fev. 2014.

Oga, S. Fundamentos de Toxicologia. 3 ed. São Paulo: Atheneu, 2008.

Sistema Nacional de informações Tóxico-Farmacológicas – SINITOX.

Disponível em: <www.fiocruz.br>. Acesso em: 24 fev. 2014.

Atividades

Algumas características dos solventes orgânicos são: 1.

a. Sólidos, hidrossolúveis e voláteis.

b. Capazes de dissolver outros compostos orgânicos, são sólidos e

lipossolúveis.

c. Volatilidade, lipossolubilidade e capacidade de dissolver outros

compostos orgânicos.

d. Líquidos, hidrossolúveis e capacidade de dissolver outros compostos

orgânicos.

Todos os itens relacionados abaixo são efeito dos solventes no 2.

organismo do trabalhador, mas, o principal e mais comum efeito quando

relacionamos saúde e exposição aos solventes é:

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a. a nefrotoxicidade;

b. a hepatotoxicidade;

c. o risco de câncer;

d. a neurotoxicidade.

A “Síndrome dos Pintores” é caracterizada pelo aparecimento nos 3.

trabalhadores em contato com tintas dos seguintes sintomas:

a. Depressão, desempenho psicomotor retardado, alteração da

personalidade e redução da memória recente.

b. Depressão e redução de memória recente.

c. Depressão e alteração da personalidade.

d. Desempenho psicomotor retardado e redução da memória recente.

Benzeno, tolueno, etilbenzeno e xileno caracterizam o principal grupo de 4.

solventes com interesse na toxicologia ocupacional. Eles conjuntamente

podem ser chamados de:

a. BHT

b. DDT

c. POP

d. BTEX

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Fadiga, problemas gastrointestinais, melanodermia, hiperqueratose, 5.

hepatomegalia e neoplasia pulmonar, hepática e cutânea são sintomas

característicos da exposição crônica do trabalhador ao:

a. Cádmio

b. Mercúrio

c. Arsênico

d. Chumbo

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Gabarito comentado

Questão 1 - Alternativa correta letra c

a. Errado - Eles são líquidos, lipossolúveis e, sim, voláteis.

b. Errado - São sim capazes de dissolverem outros compostos orgânicos

e lipossolúveis, mas são líquidos e não sólidos.

c. Correto - De fato, eles são voláteis, lipossolúveis e tem a capacidade

de dissolver outros compostos orgânicos.

d. Errado - Sim, eles são líquidos e tem capacidade de dissolverem

outros compostos orgânicos, mas são lipossolúveis e não

hidrossolúveis.

Questão 2 - Alternativa correta letra d

a. Errado - A nefrotoxicidade existe, mas apenas em contato com alguns

solventes.

b. Errado - A hepatotoxicidade é bastante evidente na exposição aos

solventes, no entanto não é o principal nem o efeito mais comum.

c. Errado - O risco de câncer realmente existe, mas especialmente com

exposição ao benzeno e não aos solventes em geral.

d. Correto - Os solventes têm vários efeitos sobre o organismo do

trabalhador, mas o mais importante é a neurotoxicidade.

Questão 3 - Alternativa correta letra a

a. Correto - A “Síndrome dos Pintores” é caracterizada pelo

aparecimento de 4 sintomas característicos: depressão, desempenho

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psicomotor retardado, alteração da personalidade e redução da

memória recente.

b. Errado - Além da depressão e redução de memória recente, o

desempenho psicomotor retardado e alteração da personalidade

estão associados a essa síndrome.

c. Errado - Além da depressão e alteração da personalidade, a redução

de memória recente e o desempenho psicomotor retardado estão

associados a essa síndrome.

d. Errado - Além do desempenho psicomotor retardado e redução da

memória recente, a depressão e a alteração da personalidade estão

associadas a essa síndrome.

Questão 4 - Alternativa correta letra d

a. Errado - BHT é o composto Di-Terc-Butil metil fenol (Butylated

hydroxy toluene).

b. Errado - DDT – dicloro difenil tricloroetano.

c. Errado - POP – Produtos Orgânicos Persistentes.

d. Correto - BETEX - Benzeno, tolueno, etilbenzeno e xileno.

Questão 5 - Alternativa correta letra c.

a. Errado - Sintomas como rinorreia, dispneia, dor torácica, edema

pulmonar, enfisema progressivo, proteinúria, anemia hipocrômica,

câimbras, vertigens e dores ósseas são características da exposição

crônica ao cádmio.

b. Errado - Sintomas como lesões orais, do estômago, intestino e fígado,

gengivite, gosto amargo ou metálico na boca, faringite inespecífica,

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gastrite e gastroduodenite, necrose de túbulo renal, neurotoxicidade,

aumento na sensibilidade térmica e dolorosa, alterações nos reflexos

e na coordenação motora, irritabilidade, insônia, timidez, ansiedade,

esquecimento, dificuldade de concentração, cefaleia e vertigens

frequentes e alterações de sociabilidade além de nas trabalhadoras

grávidas atravessar a placenta causando teratogenia, são

características da exposição crônica ao mercúrio.

c. Correto - De fato, sintomas como fadiga, problemas gastrointestinais,

melanodermia, hiperqueratose, hepatomegalia e neoplasia pulmonar,

hepática e cutânea são sintomas característicos a exposição crônica

do trabalhador ao Arsênico.

d. Errado - Sintomas como interferência na biossíntese do grupamento

heme, interferência na síntese da globina, alterações hematológicas,

distúrbios Gastrintestinais, distúrbios no SNC, falência renal e

distúrbios cardíacos são características da exposição crônica ao

chumbo.