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TECNOLOGIAS DIGITAIS DA COMUNICAÇÃO E INFORMAÇÃO: PERSPECTIVAS E DESAFIOS PARA O ENSINO Francisca Neiriland Turbano dos Santos¹, Luiz Alberto Ribeiro Rodrigues 1. [email protected] Resumo O presente artigo tem como objetivo identificar as perspectivas e os desafios dos professores na implantação das tecnologias digitais da comunicação e informação na escola. Apresenta-se reflexões iniciais de uma pesquisa em andamento em que se busca obter um contexto de informações de abordagem de natureza qualitativa, identificando os fatores colaborativos de aplicação de tecnologias da comunicação e da informação na prática de sala de aula, mais precisamente a utilização dos tablets do Programa Aluno Conectado do Estado de Pernambuco. Entende-se que o processo de aprender de cada indivíduo se concretiza pela construção do conhecimento integrando com a prática pedagógica. O papel do professor consiste em uma nova postura pedagógica, sendo necessário um aprofundamento teórico do conhecimento e da prática de sala de aula, bem como, de cada um dos envolvidos na ação. Palavras-Chaves: Tecnologias Digitais da Comunicação e Informação, Ensino e Aprendizagem. Abstract This article aims to identify the prospects and challenges of teachers in the implementation of digital technologies of communication and information at school. Presents initial reflections of an ongoing research which seeks to obtain a context information of qualitative approach, identifying the factors collaborative application of communication and information technologies in practice of the classroom, the more precisely use of tablets Connected Program Student of the State of Pernambuco. It is understood that the process of learning of each individual is realized by the construction of knowledge by integrating with the pedagogical practice. The teacher's role consists of a new pedagogical approach, requiring a theoretical deepening of knowledge and practice of the classroom as well, each one of those involved in the action. Key Words: Digital Technologies of Information and Communication, Teaching and Learning.

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TECNOLOGIAS DIGITAIS DA COMUNICAÇÃO E

INFORMAÇÃO: PERSPECTIVAS E DESAFIOS PARA O ENSINO

Francisca Neiriland Turbano dos Santos¹, Luiz Alberto Ribeiro Rodrigues

1. [email protected]

Resumo

O presente artigo tem como objetivo identificar as perspectivas e os desafios dos professores

na implantação das tecnologias digitais da comunicação e informação na escola. Apresenta-se

reflexões iniciais de uma pesquisa em andamento em que se busca obter um contexto de

informações de abordagem de natureza qualitativa, identificando os fatores colaborativos de

aplicação de tecnologias da comunicação e da informação na prática de sala de aula, mais

precisamente a utilização dos tablets do Programa Aluno Conectado do Estado de Pernambuco.

Entende-se que o processo de aprender de cada indivíduo se concretiza pela construção do

conhecimento integrando com a prática pedagógica. O papel do professor consiste em uma nova

postura pedagógica, sendo necessário um aprofundamento teórico do conhecimento e da prática

de sala de aula, bem como, de cada um dos envolvidos na ação.

Palavras-Chaves: Tecnologias Digitais da Comunicação e Informação, Ensino e

Aprendizagem.

Abstract

This article aims to identify the prospects and challenges of teachers in the implementation of

digital technologies of communication and information at school. Presents initial reflections of

an ongoing research which seeks to obtain a context information of qualitative approach,

identifying the factors collaborative application of communication and information

technologies in practice of the classroom, the more precisely use of tablets Connected Program

Student of the State of Pernambuco. It is understood that the process of learning of each

individual is realized by the construction of knowledge by integrating with the pedagogical

practice. The teacher's role consists of a new pedagogical approach, requiring a theoretical

deepening of knowledge and practice of the classroom as well, each one of those involved in

the action.

Key Words: Digital Technologies of Information and Communication, Teaching and Learning.

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Introdução

O uso das Tecnologias Digitais da Comunicação e Informação (TDCI) na educação tem sido

uma questão abordada por vários pesquisadores, dado a complexidade com que se apresentam,

uma tentativa de mediação pedagógica, incorporação de práticas diferenciadas na sala de aula,

buscando oportunizar a interatividade necessária para ampliar seus conhecimentos.

Uma questão pertinente é analisar como professores utilizam no seu planejamento a inserção

das Tecnologias Digitais de Comunicação e Informação no ensino e aprendizagem. Foi se

debruçando sobre práticas e procedimentos adotados pelos professores no uso das tecnologias

digitais da comunicação e informação, que estudiosos como Karsentii, (2010), Rezende (2002),

Bondia (2002), Arruda (2012), Sacristan e Gómez (1996), chegarm a conclusões de que a

incorporação das TDCI na educação tem sentido enquanto ligado a articulação do saber e do

conhecimento.

Grinspun (2002) propõe a utilização das TDCI, mas alerta que não é tão fácil utilizar-se das

tecnologias como ferramenta de aprendizagem, devido às principais necessidades e dificuldades

enfrentadas pelos professores na sua prática de sala de aula, cabendo nesta pesquisa identificar

e analisar os desafios das inovações tecnológicas na educação com o uso do tablet na sala aula

do ensino médio em Pernambuco, que indique mudanças no fazer pedagógico.

As TDCI são citadas por Cardoso, Pino e Dorneles (2012) como exemplo dos saberes referentes

ao manuseio de ferramentas concretas de trabalho.

Tem sido cada vez mais comum entre as escolas, como por exemplo as escolas estaduais de

Pernambuco, o uso de tecnologias como ferramentas que contribuem para promover a inclusão

digital, e num só tempo incorporar o desenvolvimento econômico e cultural do país

contribuindo para a construção do conhecimento e a formação cultural dos estudantes.

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No entanto, observa-se que a chegada das tecnologias digitais na sociedade está muito longe de

haver uma relação com a sala de aula e com as inovações tecnológicas incorporadas nas escolas

que segundo Karsentii:

parece que ainda existe uma distância muito grande entre o meio escolar e a

sociedade impregnada de tecnologias na qual vivem os jovens (...) a escola

não parece ter conseguido construir a ponte entre as transformações

tecnológicas e sociais vividas no seio da sociedade e a sala de aula, onde o

aluno é “forçado” a estudar, obrigado a escutar, afastado das inovações,

apertado em um horário relativamente restrito. (2010, p.338).

Acrescenta-se ao estudo que não basta ofertar conteúdos e recursos multimídia e digitais, como

destaca:

Introduzem-se tecnologias sem verdadeiramente mudar o resto da escola ou a

pedagogia que se pratica ali: nesse ponto estaria o verdadeiro desafio da

integração das TIC à escola(...) o problema da incursão das TIC na pedagogia

ultrapassa as condições materiais e estaria mais ligado à necessidade de

mudanças radicais na maneira de dar aula, que segundo vários estudos, mudou

muito pouco ao longo do último século. (Ibidem, p.338-339).

De acordo com o que destaca o autor acima observa-se como exemplo, que a chegada dos

tablets para os alunos do segundo ano do ensino médio, nas escolas estaduais de Pernambuco

tem gerado um trabalho muito intenso por parte dos gestores e professores, pois até então não

se evidenciam mudanças significativas no ensino e aprendizagem ligadas a esta ferramenta

tecnológica ofertada para as escolas. Visto que o acesso à internet que existe nelas é de baixa

velocidade, o que impede que os alunos realizem pesquisas. Outro complicador é sentido pelos

professores em ministrar suas aulas, o uso inadequado dos tablets por parte dos alunos.

Percebe-se por outro lado, um baixo nível de preparação do professores para trabalhar com esta

ferramenta como estratégia para aprofundar o conhecimento. Nota-se que a maioria deles estão

um passo atrás dos alunos no que se refere ao domínio das tecnologias.

A chegada dessas tecnologias nas escolas na verdade faz parte da Política Nacional de

Informática que se efetivou inicialmente, sob a responsabilidade da Secretaria Especial de

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Informática (SEI) que em 1980 cria a Comissão Especial de Educação, para realizar estudos

sobre a aplicabilidade da informática da educação.

Atualmente o Distrito Federal, estados e municípios ofertam para as escolas que tenham uma

estrutura adequada para receber os laboratórios de informática e capacitar os educadores para

o uso dos equipamentos tecnológicos.

Entre o final do século XX e o início do século XXI, a disseminação do uso

das tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC) transformou as

relações espaço-temporais, potencializou a mobilidade funcional e acentuou

as mudanças já em curso nos modos de trabalho, na produção de

conhecimento e na aprendizagem, o que evidenciou a necessidade de preparar

profissionais para viver e trabalhar na sociedade tecnológica (....)decorrente

das desigualdades sociais, levando-os à definição de políticas públicas de

inclusão digital, entre as quais as ações de uso de tecnologias nas escolas.

(SILVA & ALMEIDA, 2011, p. 27)

As tecnologias Digitais da Comunicação e Informação (TDCI) na educação se apresentam

como uma ação voltada para a incorporação de práticas diferenciadas na sala de aula, bem

como, oportunizar aprendizagens em que o aluno possa buscar nas ferramentas tecnológicas

digitais a interatividade, necessária para ampliar seus conhecimentos. “A relação entre a

tecnologia educacional e a prática pedagógica pode ser de colaboração, desde que a tecnologia

seja subjugada aos objetivos pedagógicos”. (REZENDE, 2002, p. 15).

Acerca desta perspectiva, a incorporação das TDCI na sala de aula deve está ligada a situações

em que os conhecimentos científicos estudados aconteçam de forma contextualizada atendendo

ao currículo escolar para se tornarem adequados à prática de sala de aula. Neste sentido

Sacristan e Gómez (1996) destacam:

A prática – a boa e correta prática – não pode ser deduzida diretamente

de conhecimentos científicos descontextualizados das ações realizadas

em situações reais. Em primeiro lugar, porque a realidade educativa em

que os professores/as devem trabalhar não foi criada pela ciência, como

acontece com muitas das tecnologias modernas. Se acreditássemos que

os professores/as podem realizar um ensino “adequado” a partir do

conhecimento científico, deveríamos explicar-lhes porque sempre se

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deparam com uma realidade que os impede de tentarem realizar esta

prática. (SACRISTAN & GÓMEZ, 1996, p. 10).

É tão importante nos dias de hoje a incorporação das TDCI na sala de aula, a qual é considerada

um ambiente que está ligado articulação do saber e do conhecimento. Neste sentido, Bondia

(2002) destaca que algo é útil quando tem sentido, quando nos apropriamos e nos faz crescer,

a ciência e a tecnologia não tem fim:

o conhecimento atualmente, é essencialmente a ciência e a tecnologia,

algo essencialmente infinito, que somente pode crescer, algo universal

e objetivo, de alguma forma impessoal; algo que está ai, fora de nós

como algo de que podemos nos apropriar e que podemos utilizar; e algo

que tem haver fundamentalmente com o útil no seu sentido mais

estreitamente pragmático, num sentido estritamente

instrumental.(BONDIA,2002, p. 27).

Utilizar-se das tecnologias como ferramenta de aprendizagem, não é tão simples como parece,

porque depende de práticas diferenciadas que devem ser ajustadas ao fazer pedagógico e ao

currículo como destaca Grispun (2002), “como as tecnologias são complexas e práticas ao

mesmo tempo, elas estão a exigir uma nova formação do homem que remeta à reflexão e

compreensão do meio social em que ele se circunscreve.” (2002, p.25).

Neste contexto as TDCI que vem sendo utilizadas em Pernambuco como suporte para a prática

pedagógica nas escolas públicas, desafiam os educadores a um novo jeito de formação baseado

na reflexão e compreensão do meio social, como destaca a autora acima citada.

Contempla-se a um novo jeito de formação efetivamente utilizado pelas formas de fazer do

professor:

(....) aos saberes que seriam caracterizados por contribuírem na

formulação das concepções dos docentes a respeito de sua atividade

profissional, como por exemplo, os saberes da formação profissional,

os saberes da experiência e os seus saberes pessoais; e também

referência àqueles saberes que poderiam ser caracterizados como

instrumentais, a exemplo, os saberes referentes ao manuseio de

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ferramentas concretas de trabalho (livros, apostilas, fichas, programas

de computador, etc.). (CARDOSO, PINO e DORNELES, 2012, p. 5).

Além disso, Bondia (2002) deixa claro o quanto é importante o que aproveitamos a cada dia,

para que novas experiências se caracterize a riqueza em nossa prática pedagógica.

A experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca.

Não o que se passa, não o que acontece, ou o que toca. A cada dia se

passam muitas coisas, porém, ao mesmo tempo, quase nada nos

acontece. Dir-se-ia que tudo o que se passa está organizado para que

nada nos aconteça. Walter Benjamin, em um texto célebre, já

observava a pobreza de experiências que caracteriza o nosso mundo.

Nunca se passaram tantas coisas, mas a experiência é cada vez mais

rara. (2002, p. 21).

Em 1997, o governo federal lançou o programa de informatização de escolas públicas

denominado como Programa Nacional de Informática na Educação – Proinfo, que propunha a

melhoria da qualidade educacional e com o objetivo de promover o uso pedagógico da

informática na rede pública de educação básica. Trata-se de um programa para integrar e

articular a distribuição de equipamentos tecnológicos para as escolas (computadores,

impressoras e outros equipamentos tecnológicos). Em contrapartida, o Distrito Federal, estados

e municípios devem garantir a estrutura adequada para receber os laboratórios de informática e

capacitar os educadores para o uso dos equipamentos tecnológicos.

No estado de Pernambuco o governo, através da Gerência Geral de Tecnologia da Informação,

aprovou a Lei nº 13.686 (11 de dezembro de 2008) que instituiu abono, de natureza

indenizatória, destinado à aquisição de computadores e acessórios, no âmbito da Secretaria de

Educação de Pernambuco para o quadro efetivo de professores em regência de sala de aula. Em

2011, foi aprovada a Lei nº 14.546 (21 de dezembro de 2011), do “Programa Aluno

Conectado”, o qual disponibiliza gratuitamente, aos alunos dos segundo e terceiro anos do

ensino médio da rede pública estadual, um Tablet/PC, para uso individual, dentro e fora do

ambiente escolar, como material de apoio pedagógico permanente do estudante. Os critérios

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para que esses alunos recebam este material, constam no termo de comodato, assinado pelo

responsável pelo aluno e pela gestão da escola. Esses critérios serão descritos mais adiante com

o desenvolvimento da pesquisa. Adicionalmente, a maioria das escolas estaduais conta com

um laboratório de informática, com sistema multimídia (Datashow) e projetor de slides e lousa

digital, e os utilizam como apoio pedagógico.

Outros estudiosos são a favor da utilização das tecnologias digitais da comunicação e

informação em sala de aula, o que favorece o processo de ensino e aprendizagem, destaca-se

Arruda em seu trabalho de doutorado pela Universidade Católica de São Paulo:

(....)O processo de ensino e aprendizagem pode ser amplamente

beneficiado com a utilização das tecnologias, que são potentes

catalisadoras deste processo. O docente, de posse delas, poderá ampliar

o seu repertório de como ensinar, as suas estratégias, repensar as

abordagens pedagógicas usadas e criar novas e desafiadoras situações

de aprendizagem. Por outro lado, o aluno poderia: variar o ritmo de sua

aprendizagem melhorar seu desempenho com relação à apropriação do

conhecimento, alterar sua disponibilidade e sua relação com o processo

de aprendizagem (até mesmo na sua interação com o docente) e

desenvolver-se de maneira mais completa para enfrentar os obstáculos

e incertezas do mundo do trabalho. (ARRUDA, 2012, p. 36).

Acrescenta ainda a autora à importância das tecnologias como estratégias de aprendizagem nos

planos de aula ou no currículo:

(....)As tecnologias, quando aparecem nos planos de aula ou currículo,

são consideradas mais como motivadoras da aprendizagem dos alunos

ou como fornecedoras do status de modernização para as escolas, do

que para ampliar os desafios do meio e apresentar ao aluno uma gama

maior de estratégias de aprendizagem. (ARRUDA, 2012, p. 36).

A abordagem da autora está de acordo com os textos escritos pelo do MEC que em 2005,

promoveu a educação à distância intitulada: Integração das Tecnologias na Educação que

destaca o seguinte:

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O professor que associa a TIC aos métodos ativos de aprendizagem

desenvolve a habilidade técnica relacionada ao domínio da tecnologia

e, sobretudo, articula esse domínio com a prática pedagógica e com as

teorias educacionais que o auxiliem a refletir sobre a própria prática e a

transformá-la, visando explorar as potencialidades pedagógicas da TIC

em relação a aprendizagem e à consequente constituição de redes de

conhecimentos. (MEC/SEE 2005, p. 72)

Com relação às principais necessidades e dificuldades no uso das tecnologias em sala de aula

Grinspun (2002) propõe a interação das TDCI com a educação e um currículo flexível

destacando-se o seguinte:

a utilização das tecnologias com sua dimensão interativa mostra que a

educação tem que mudar para que o indivíduo não venha a sofrer com

lacunas que deixaram de ser preenchidas porque a educação só estava

preocupada com um currículo rígido voltado para saberes e

conhecimentos aprovados por um programa oficial. (GRINSPUN,

2002, p. 30).

Dando também ênfase a contribuição a esse respeito destaca-se Karsentii (2010):

As TIC dão a ocasião de repensar e de deslocalizar, no tempo e no

espaço, os intercâmbios entre os docentes e os alunos, e favorecem

assim a criação de novas avenidas para as atividades de aprendizagem

ou de formação. As TIC permitem principalmente uma nítida evolução,

uma mutação da relação com o saber para os alunos”. (KARSENTII,

2010, p. 343)

A respeito das estratégias de utilização dos recursos ofertados pelas TDCI na perspectiva de

aprendizagem segundo Almeida (2000):

com a utilização do computador em diferentes ambientes educacionais

e com a evolução dos recursos de computação a ideia de

construcionismo foi expandida para além dos limites da linguagem e da

metodologia Logo, deixando de representar a proposta inicial de Papert

a respeito da programação em Logo e da relação concreto-abstrato.

(ALMEIDA, 2000, p. 35).

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No seu trabalho de pesquisa: TIC - Educação 2010 de Silva e Almeida (2011) afirmam que:

Vivemos sob conexão e em conexão com outros, vivemos a partir do

mundo digital, e este, sempre acompanhado de mídias e dispositivos em

formatos diversos, nos acrescenta novas funções de comunicação.

Servimo-nos, em nosso cotidiano, dos recursos possíveis à

comunicação e à informação, e é principalmente da tecnologia da

Internet que nos valemos para realizar transações, ouvir música, assistir

a vídeos, acessar notícias, comunicar, conversar, compartilhar, informar

e produzir informações. (SILVA E ALMEIDA, 2011, p. 28).

Na escola as novas tecnologias tem sido importantes ferramentas que contribuem para

promover a inclusão digital, e num só tempo incorporar o desenvolvimento econômico e

cultural do país contribuindo para a construção do conhecimento e a formação cultural dos

estudantes.

A introdução de novas tecnologias na educação não implica

necessariamente novas práticas pedagógicas, pois podemos com ela

apenas vestir o velho com roupa nova, como seria o caso dos livros

eletrônicos, tutoriais multimídia e cursos a distância disponíveis na

internet, que não incorporam nada de novo no que se refere à concepção

do processo de ensino aprendizagem. (REZENDE, 2002, p. 02).

Como contribuição sobre o que se configura o processo de ensino aprendizagem, num contexto

cultural e social, Sacristan e Gòmez (2000) afirmam que:

A aprendizagem em aula não é nunca meramente individual, limitado

às relações frente a frente de um professor/a e um aluno/a. É claramente

uma aprendizagem dentro de um grupo social com vida própria, com

interesses, necessidades e exigências que vão configurando uma cultura

peculiar. (SACRISTAN & GÓMEZ, 2000, p. 64).

Contrário a essa afirmação, numa concepção construtivista, Zabala (1998), enfatiza que:

a aprendizagem é uma construção pessoal, esta construção através da

qual podem atribuir significado a um determinado objeto de ensino,

implica a contribuição por parte da pessoa que aprende, de seu interesse

e disponibilidade, de seus conhecimentos prévios e de sua experiência,

mesmo que com ajuda de outras pessoas. (ZABALA, 1998, p.63).

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Com relação ao ensino decorrente da concepção construtivista, “ensinar envolve estabelecer

uma série de relações que devem conduzir à elaboração, por parte do aprendiz, de

representações pessoais sobre o conteúdo objeto de aprendizagem”. (ZABALA, 1998, p. 90).

Neste sentido, os materiais curriculares e outros recursos didáticos estão apoiados na utilização

de instrumentos que proporcionem ao professor uma tomada de decisões para o uso das

variáveis metodológicas em suas aulas.

Ainda de acordo com Zabala, “conforme os conteúdos e a maneira de organizá-los, podemos

encontrar materiais com pretensões integradoras e globalizadoras, que tentam abarcar

conteúdos de diferentes matérias e outros com enfoque claramente disciplinares”. (ZABALA,

1998, p. 168).

No entanto, observa-se que a chegada das tecnologias digitais na sociedade está muito longe de

haver uma relação com a sala de aula e com as inovações tecnológicas incorporadas nas escolas

por não tem conseguido alcança-las, estando um passo atrás da sociedade. Karsentii (2010)

afirma que:

parece que ainda existe uma distância muito grande entre o meio escolar

e a sociedade impregnada de tecnologias na qual vivem os jovens (...) a

escola não parece ter conseguido construir a ponte entre as

transformações tecnológicas e sociais vividas no seio da sociedade e a

sala de aula, onde o aluno é “forçado” a estudar, obrigado a escutar,

afastado das inovações, apertado em um horário relativamente restrito.

(KARSENTII, 2010, p.338).

Concordando com o autor, observa-se que existem professores que ainda não avançaram e não

conseguem acompanhar as transformações sociais resistindo às mudanças. A sociedade espera

da escola que a utilização de diferentes fontes de informação e recursos tecnológicos seja

realizada não apenas como conhecimento acadêmico, mas que estes conhecimentos sejam

utilizados pelas pessoas com consciência, capacidade crítica e responsabilidade.

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Acrescenta-se ao estudo que não basta ofertar conteúdos e recursos multimídia e digitais, a

escola e a prática pedagógica deve passar por mudanças radicais como destaca Karsentii (2010)

a seguir:

Introduzem-se tecnologias sem verdadeiramente mudar o resto da

escola ou a pedagogia que se pratica ali: nesse ponto estaria o

verdadeiro desafio da integração das TIC à escola (...) o problema da

incursão das TIC na pedagogia ultrapassa as condições materiais e

estaria mais ligado à necessidade de mudanças radicais na maneira de

dar aula, que segundo vários estudos, mudou muito pouco ao longo do

último século. (KARSENTII, 2010, p.338-339).

É importante ressaltar que o trabalho relacionado com as TDCI deve estar ligado a uma

interação coletiva do aluno de acordo com as necessidades de aprendizagem, como acrescenta

Zabala na sua obra: A prática Educativa: Como ensinar, com relação ao contexto de

intercâmbios afetivos:

há necessidades específicas de aprendizagem às quais tem que se

acrescentar, em caso de necessidade, as que provêm de certos objetivos

educativos que considerem a socialização como eixo prioritário. Por

esse motivo, o uso dos suportes de informática não tem que nos levar a

uma situação de trabalho estritamente individual, de interação do aluno

com a máquina, mas a considera-los como mais um dos recursos que

podemos utilizar para alcançar determinados objetivos educacionais da

melhor maneira possível [...] a capacidade de interagir imagens

estáticas ou em movimento garantem que as emulações, a busca de

informação ou o trabalho de sistematização sejam cada vez mais ricos.

(ZABALA, 2010, p. 185).

Assim, há necessidade de um estudo mais detalhado acerca do uso dos tablets em salas do

ensino médio para ganhar importância na prática pedagógica dos professores uma vez que lhes

permite levar aos alunos melhores práticas de aprendizagem junto às tecnologias de informação

e comunicação educacional, com ênfase numa temática significativa para melhoria do processo

ensino aprendizagem.

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Deve-se considerar que o uso de tecnologias digitais da informação e comunicação na educação

tem funções didáticas pedagógicas, necessário portanto investigar permanentemente como essa

interação acontece no âmbito das práticas pedagógicas dos professores e que perspectivas e

desafios demandam ao ensino e a aprendizagem. É desse modo um desafio a educação,

considerar o uso das TDCI como uma nova postura pedagógica frente às mudanças culturais do

nosso tempo.

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