Tc Cfinal 10
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UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA
CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS
COMUNICAÇÃO SOCIAL – JORNALISMO
COMUNICAÇÃO, TECNOLOGIA E MEDIAÇÕES CULTURAIS: um estudo de
recepção das mensagens da EMBRAPA, veiculadas no Jornal do Trópico
Úmido, junto aos jovens agricultores, enquanto culturas populares
DANIELA FERREIRA SODRÉ
HELANNY TORRES FERREIRA
Ananindeua – Pará – Brasil
2009
DANIELA FERREIRA SODRÉ
HELANNY TORRES FERREIRA
COMUNICAÇÃO,TECNOLOGIA E MEDIAÇÕES CULTURAIS: um estudo de
recepção das mensagens da EMBRAPA, veiculadas no Jornal do Trópico
Úmido, junto aos jovens agricultores, enquanto culturas populares
Trabalho apresentado à Universidade
da Amazônia – Unama, como pré-
requisito para obtenção do grau de
Bacharel em Comunicação Social –
habilitação em Jornalismo, sob a
orientação da Professora, Doutora
Cenira Almeida Sampaio.
Ananindeua – Pará – Brasil
2009
DANIELA FERREIRA SODRÉ
HELANNY TORRES FERREIRA
COMUNICAÇÃO,TECNOLOGIA E MEDIAÇÕES CULTURAIS: um estudo de
recepção das mensagens da EMBRAPA, veiculadas no Jornal do Trópico
Úmido, junto aos jovens agricultores, enquanto culturas populares
Banca Examinadora
Professora Doutora CENIRA ALMEIDA SAMPAIO
Orientadora
Professor (a) .............................................................
Convidado (a)
Apresentado em: _____/_____/_____
Conceito: _____ ( )
Ananindeua – Pará – Brasil
2009
A Deus, por ter sempre iluminado o meu caminho, capacitando-me para
alcançar este sonho;
Ao meu pai e ídolo Benedito Costa Ferreira (in memorian), pelo exemplo de
generosidade e bom coração que me ensinou o valor da vida acreditando sempre no
meu sucesso que propiciou alcançar os caminhos desejados;
A minha mãe Maria Torres Ferreira, pela acolhida e amparo em diversos
momentos;
Ao meu irmão Denny Torres Ferreira cuja presença transmite segurança para
a continuidade desta jornada;
Aos demais familiares, todos foram parte essencial na conquista desse
desafio profissional;
As minhas amigas Michelle Braz Belmont e Hefa Karla Souza de Oliveira, por
terem me dado forças para seguir adiante;
Aos meus amigos jovens agricultores Benildo Jonas de Holanda, Jarlene
Lima, Isadilva Castro, Helena Ferreira, Celso Luis Moreira Alves, Josilene, Helena
Ferreira, Alexa, Mara Ganzer, Zezé, Edna, Valberto Maia, Manoel Evangelista
Carneiro da Silva, Rodrigo Campos Ferreira, Ducilene Santos Gaspar, Monica
Almeida, Rosiane Borcem, Michele Borcem e Luiz Prestes Campos, que dedicaram
grande atenção ao compartilhar seus conhecimentos comigo e que me ensinaram
que a luta por direitos no campo começa pela união e organização dos
trabalhadores rurais;
A minha orientadora Cenira Sampaio, por me mostrar a importância do amor
pela profissão através de seus exemplos de dedicação e perseverança;
A todos os outros professores da UNAMA que merecem o respeito pelos seus
trabalhos e por seus exemplos de ética.
Helanny Torres
Aos meus familiares e amigos que sempre me apoiaram e, acima de tudo,
acreditaram no meu potencial. Com isso, foram de extrema importância na minha
jornada.
Daniela Sodré
AGRADECIMENTOS
A minha orientadora, Dra. Cenira Sampaio, pelo exemplo de profissional, pelo
acolhimento inicial na UNAMA em realizar esta pesquisa, pela contribuição,
sugestões, críticas, apoio e orientações durante todo o desenvolvimento deste
trabalho;
Aos jovens agricultores que contribuíram solicitamente em participar da
pesquisa. E a atenção dada a este trabalho, no entendimento de que o direito à
informação deve ser um bem de todos;
A minha parceira de estudos nesta conclusão de curso, Daniela Sodré, pela
compreensão, dedicação e esforço para realizar este TCC;
Ao jovem agricultor Benildo Jonas de Holanda, amigo e grande incentivador
deste trabalho;
Ao Mestre Francisco do Nascimento Felix, pelo aprendizado de
levantamentos estatísticos imprescindíveis para o desenvolvimento do trabalho;
Ao educador Edson Ary de Oliveira Fontes, professor que eu tive como
referência de conhecimento durante minha formação universitária;
A Universidade da Amazônia (UNAMA), pelo ensino do jornalismo, e em
especial ao reitor Édson Franco, educador que tive a oportunidade de conhecer
durante a minha graduação e minha atuação no movimento estudantil;
Todas as pessoas que de alguma forma colaboraram para a execução deste
trabalho, mesmo que de forma indireta.
Helanny Ferreira
AGRADECIMENTOS
A Deus, Senhor de todas as coisas;
A minha mãe, pelo amor e dedicação durante toda a minha existência, por
estar sempre me amparando e encaminhando e, acima de tudo, pelos exemplos a
serem seguidos;
A professora Cenira Sampaio, por sua valiosa orientação, compreensão e
principalmente paciência, durante a execução deste trabalho;
Ao Mestre Francisco do Nascimento Felix, pelo aprendizado de
levantamentos estatísticos imprescindíveis para o desenvolvimento do trabalho;
A minha parceira de estudos nesta conclusão de curso, Helanny Ferreira, pela
compreensão, dedicação e esforço para realizar este TCC;
A coordenadora do Curso de Jornalismo Alda Costa, cuja atenção, paciência
e palavras, nos momentos mais difíceis, foram de uma verdadeira mãe para comigo.
A todo corpo docente do Curso de Jornalismo da UNAMA, pois sem a
dedicação destes sábios mestres, não seria possível concluir com tanto conteúdo
minha graduação;
A todos os amigos e colegas de curso e do meu dia-a-dia que foram
companheiros e em alguns momentos verdadeiros irmãos durante esses quatro
anos.
Daniela Sodré
“Um dia, a Terra vai adoecer. Os
pássaros cairão do céu, os mares vão
escurecer e os peixes aparecerão
mortos na correnteza dos rios.
Quando esse dia chegar, os índios
perderão o seu espírito.
Mas vão recuperá-los para ensinar ao
homem branco a reverência pela
sagrada terra.
Ai, então, todas as raças vão se unir
sob o símbolo do arco-íris para
terminar com a destruição.
Será o tempo dos Guerreiros do Arco-
Íris”.
Profecia feita há mais de 200 anos
por "Olhos de Fogo", uma velha índia
Cree.
SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS ....................................................................................... 11 ABREVIATURAS E SIGLAS ........................................................................... 12 RESUMO ......................................................................................................... 13 ABSTRACT ..................................................................................................... 14 PARTE I ........................................................................................................... 15 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 15 PARTE II .......................................................................................................... 17 2. COMUNICAÇÃO E TECNOLOGIA: uma proposta da EMBRAPA ao meio rural ..................................................................................................... 17 2.1 Da Comunicação-informação, rumo à divulgação científica ...................... 17 2.2 Aspectos históricos da Comunicação na EMBRAPA ................................ 17 2.3 Jornal do Trópico Úmido como veículo de Ciência e Tecnologia .............. 18 PARTE III ......................................................................................................... 21 3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................... 21 3.1 O que dizem os estudos de recepção? ..................................................... 21 PARTE IV ........................................................................................................ 29 4. POR QUE ESTUDAR A RECEPÇÃO DO JORNAL DO TRÓPICO ÚMIDO NO ÂMBITO DA JUVENTUDE CAMPONESA?............................... 29 4.2 Objetivo geral ............................................................................................. 30 4.2.1 Objetivos Específicos .............................................................................. 30 PARTE V ......................................................................................................... 31 5. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .................................................... 31 5.1 Metodologia da Pesquisa .......................................................................... 31 4.1 Método ....................................................................................................... 31 5.2 A pesquisa ................................................................................................. 32 5.3 Público – alvo ............................................................................................. 35 5.3.1 A definição de juventude camponesa ..................................................... 36 5.3.2 Jovens agricultores enquanto culturas populares.....................................37 5.4 Análises e discussões ................................................................................ 38 5.4.1 A recepção das mensagens tecnológicas pelos jovens agricultores ...... 38 5.5 Conclusão .................................................................................................. 44 5.6 Cronograma do estudo .............................................................................. 45 PARTE VI ........................................................................................................ 46 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................... 46 REFERÊNCIAS ............................................................................................... 49
ANEXO A ......................................................................................................... 53 QUESTIONÁRIO APLICADO PARA A PESQUISA DE OPINIÃO PÚBLICA COM OS JOVENS AGRICULTORES ANEXO B ......................................................................................................... 57 EXEMPLAR N. 54 DO JORNAL DE ESTUDO ANEXO C ......................................................................................................... 58 EXEMPLAR N. 57 DO JORNAL DE ESTUDO ANEXO D ......................................................................................................... 59 EXEMPLAR N. 58 DO JORNAL DE ESTUDO
LISTA DE FIGURAS Figura 1 ........................................................................................................... 39 JOVENS QUE CONHECEM AS TECNOLOGIAS DA EMBRAPA ATRAVÉS DO JORNAL. NO QUE CORRESPONDE OS 15% DA AMOSTRA DE 80 ENTREVISTADOS. Figura 2 ........................................................................................................... 40 AVALIAÇÃO DOS JOVENS REFERENTE A DIVULGAÇÃO DO JORNAL. Figura 3 ........................................................................................................... 42 CONSCIENTIZAÇÃO JUVENIL PODERÁ DESENVOLVER TODA A CONSCIENTIZAÇÃO DA SOCIEDADE. Figura 4 ........................................................................................................... 43 GRÁFICO QUE REPRESENTA ÁS PRINCIPAIS ÁREAS QUE SÃO BENEFICIADAS PELOS JOVENS NO QUE CONDIZ À PRESERVAÇÃO DO MEIO. Figura 5 ........................................................................................................... 57 JORNAL DO TRÓPICO ÚMIDO – ÓRGÃO DE DIVULGAÇÃO DA EMBRAPA AMAZÔNIA ORIENTAL, ANO XVIII, N 54, JULHO A SETEMBRO DE 2006, BELÉM, PARÁ. Figura 6 ........................................................................................................... 58 JORNAL DO TRÓPICO ÚMIDO – ÓRGÃO DE DIVULGAÇÃO DA EMBRAPA AMAZÔNIA ORIENTAL, ANO XVIII, N. 57, ABRIL A JUNHO DE 2007, BELÉM, PARÁ. Figura 7 ........................................................................................................... 59 JORNAL DO TRÓPICO ÚMIDO – ÓRGÃO DE DIVULGAÇÃO DA EMBRAPA AMAZÔNIA ORIENTAL, ANO XVIII, N. 58, JULHO A SETEMBRO DE 2007, BELÉM, PARÁ.
ABREVIATURAS E SIGLAS CPATU - Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Úmido EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária JTU - Jornal do Trópico Úmido IAN - Instituto Agronômico do Norte IPEAN - Instituto de Pesquisa e Experimentação Agronômico do Norte
RESUMO Analisa-se, aqui, a visibilidade de temas científicos e ambientais na mídia impressa com foco na aplicabilidade dos estudos tecnológicos: uma análise sobre a divulgação das tecnologias geradas pela EMBRAPA no Jornal do Trópico Úmido, junto à juventude rural do Pará. A comunicação busca acompanhar a evolução da sociedade, impulsionada pelas inovações tecnológicas da informação. Essa comunicação, porém, quando se trata de ciência e tecnologia para o rural, embora se conheça todos os avanços que já existem nesse meio, sugere que se busque não só as inovações, mas estratégias específicas no sentido da democratização e popularização dessa informação. Caso contrário, a recepção das mensagens pode ficar comprometida e não obter os resultados esperados pela forma como ela é transmitida, ou, ainda, como essas mensagens chegam a esse público. A problemática nasce do seguinte questionamento: como esses jovens agricultores estão pondo em prática as tecnologias geradas pela EMBRAPA em suas propriedades que estão sendo veiculados no Jornal do Trópico Úmido. Palavras Chaves: Tecnologia da EMBRAPA, Jornal do Trópico Úmido, jovens agricultores.
ABSTRACT Is analyzed here, the visibility of scientific and environmental topics in print focusing applicability of technology studies: an analysis of the dissemination of technologies developed by EMBRAPA in the Humid Tropics, with young people's land to stop. The communication seeks to monitor the evolution of society, driven by technological innovations of the information. This communication, however, when it comes to science and technology into rural areas, although they know all the advances that already exist in that environment, suggests that not only look for innovations, but specific strategies towards democratization and popularization of such information. Otherwise, the receipt of messages might be compromised and not getting the results expected by the way it is transmitted, or even how these messages reach the public. The problem arises from the question, how these young farmers are putting into practice the technologies developed by EMBRAPA in their properties that are running in the Humid Tropics. Keywords: Technology EMBRAPA, the Humid Tropics, youth agrarian environment.
15
PARTE I
1. INTRODUÇÃO
Historicamente, a prática da comunicação para a divulgação científica sempre
existiu, desde os primórdios da história da Humanidade. Lyotard (apud Connor, 1989:
29-42) aponta que na pós-modernidade a ciência passa por uma importante
transformação, a sua ênfase passa dos fins para os meios. O discurso científico foi
deslocado de sua posição como a verdade final, proposta pelo ideário positivista, ou
seja, a produção do conhecimento está ligada ao princípio da performatividade, uma
preocupação maior com o retorno e o valor utilitário e econômico que o conhecimento
científico pode trazer à sociedade como um todo.
A ciência, agora, compreendida como prática social de conhecimento deve,
portanto, tornar-se compreensível. Para tanto deve ter seus objetos desconstruídos,
tanto para eliminar o distanciamento e a estranheza do discurso científico para o
interior da comunidade científica, quanto para o senso comum. (Santos, 1989: 13). Isso
se realiza através do que Santos (1989: 12) compreende como círculo hermenêutico,
no qual:
“A reflexão hermenêutica visa transformar o
distante em próximo, o estranho em familiar, através
de um discurso racional – frenético, que não apolítico
–, orientado pelo desejo de diálogo com o objeto da
reflexão para que ele “nos fale”, numa língua não
necessariamente a nossa, mas que nos seja
compreensível, e nessa medida se nos torne
relevante, nos enriqueça e contribua para aprofundar
a autocompreensão do nosso papel na construção da
sociedade, ou na expressão cara à hermenêutica, do
mundo da vida (Lebenswelt)” (Santos 1989: 12)
Os estudos de Santos (1989: 42) destacam a importância do desenvolvimento
tecnológico da comunicação para a realização da ruptura “De fato, a amplitude e a
diversidade das redes de comunicação que é hoje possível estabelecer deixam no ar a
expectativa de um aumento generalizado da competência comunicativa.”
16
Metodologicamente, a pesquisa segue as diretrizes de um estudo de caso que
tem como público – alvo os jovens agricultores1. Dado o universo considerado bastante
amplo, delimitou-se, intencionalmente, uma amostra de 80 jovens oriundos do setor
agrário.
Nessa perspectiva, desenvolve-se um estudo de recepção das mensagens da
Embrapa no jornal, ou seja, o uso dado às tecnologias geradas pelas pesquisas da
Embrapa, divulgadas no referido veículo de comunicação. Busca-se compreender o
sentido que essas tecnologias geradas pelas pesquisas da Embrapa têm para esse
público que emerge com foco na aplicabilidade dos recursos tecnológicos da
informação, mudanças e melhorias na qualidade de vida, diferentemente de uma
cultura tradicional, herdada de seus ancestrais.
Este trabalho está dividido em seis capítulos, denominados de partes, a partir da
introdução (parte I) faz-se uma breve apresentação do trabalho como um todo. A parte
II trata de comunicação e tecnologia e sobre o objeto de estudo desta pesquisa, que é
o Jornal do Trópico Úmido (periódico impresso da EMBRAPA). Na parte III, através dos
estudos já desenvolvidos sobre recepção e mediações culturais, buscam-se elencar as
contribuições que podem ser proporcionadas a este trabalho. Na parte IV é evidenciado
o problema da pesquisa; o porquê do interesse em desenvolver este estudo, dando-se
ênfase a sua relevância; levantam-se as hipóteses bem como os objetivos (geral e
específicos) que buscam os resultados. O item V trata dos procedimentos
metodológicos da pesquisa, cujo método mostra a área de estudo, o público alvo, a
pesquisa propriamente dita, a coleta de dados e entrevistas, os resultados e discussão.
O cronograma que delimita o período destinado ao estudo e, no item IV, a conclusão e
as referências.
1 O conceito de Juventude é relativamente recente. Weisheimer (2005, apud Badalotti, Bertoncello,
Rossi, p. 100) sustenta que o conceito de juventude rural é apresentado a partir de cinco abordagens: “Faixa Etária, Período de Transição ou Ciclo de Vida, Enfoque Geracional, Juventude como Cultura ou Modo de Vida, Representação Social”. A definição de juventude camponesa será melhor destacada na apresentação do público-alvo desta pesquisa, configurado no Item V.
17
PARTE II
2. COMUNICAÇÃO E TECNOLOGIA: uma proposta da EMBRAPA ao meio rural
2.1 Da Comunicação-informação, rumo à divulgação científica.
A comunicação busca acompanhar a evolução da sociedade, impulsionada
pelas inovações tecnológicas da informação. Essa comunicação, porém, quando se
trata de ciência e tecnologia para o rural, embora se conheça todos os avanços que já
existem nesse meio, sugere que se busque não só as inovações, mas estratégias
específicas no sentido da democratização e popularização dessa informação. Caso
contrário, a recepção das mensagens pode ficar comprometida e não obter os
resultados esperados pela forma como ela é transmitida, ou, ainda, como essas
mensagens chegam a esse público.
Por se tratar de uma fatia da sociedade que apesar dos avanços tecnológicos já
existentes, o agricultor ou produtor rural, particularmente os seus filhos, ainda
correspondem a um público carente de muitas ferramentas da comunicação;
necessitam de uma leitura maior sobre o uso que fazem em suas vidas das tecnologias
disponibilizadas pelas instituições de pesquisa à sociedade. Este é o objetivo deste
estudo que busca analisar o sentido que a juventude rural está dando às mensagens
tecnológicas da EMBRAPA, veiculadas no Jornal do Trópico Úmido, periódico editado
pela Embrapa Amazônia Oriental, situada em Belém, capital do Estado do Pará.
2.2 Aspectos históricos da Comunicação na EMBRAPA
A comunicação na EMBRAPA Amazônia Oriental sempre existiu desde a década
de trinta quando, ainda, a pesquisa agropecuária era desenvolvida pelo antigo Instituto
Agronômico do Norte (IAN), depois Instituto de Pesquisa e Experimentação
Agronômico do Norte (IPEAN). Em 1974, o IPEAN passou a ser chamado de Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA). Como na época existiam os
institutos em todas as regiões brasileiras, a empresa nacional ora criada, passou a ser
representada em todas as Unidades da Federação. No Estado do Pará foi criado o
Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Úmido – CPATU, hoje denominado
Embrapa Amazônia Oriental.
18
Nesse período histórico (IAN, IPEAN e EMBRAPA) até meados de 1980, a
comunicação sempre se deu de forma técnico-científica, ou produção científica:
documentos, recomendações básicas, boletins técnicos de pesquisa que eram
distribuídos para um público direcionado, por ocasião dos eventos institucionais como
feiras agropecuárias, exposições, dias de campo, congressos, dentre outros.
A década de 80 registra profundas mudanças sócio-econômico-político-cultural
que obriga as instituições, de modo geral, mudarem suas posturas frente à sociedade
que passa a ser, de certa forma, mais exigente e cobradora de seus direitos. A
EMBRAPA não ficou fora desse contexto e passa a reformular a sua estrutura científica
e tecnológica de modo a atender essa sociedade heterogênea, diversificada e exigente.
No que se refere à comunicação, a instituição também sofre mudanças. A
proposta era fazer chegar à sociedade de modo geral, os resultados tecnológicos
gerados pelas pesquisas, Nesse sentido, a comunicação, teoricamente, deveria passar
a ser não mais direcionada, e sim, compartilhada, popularizada, ou democratizada.
Além da produção científica, caracterizada pelos artigos científicos, boletins,
recomendações e revistas especializadas, passou a produzir inserções nas diversas
mídias radiofônicas, televisivas e impressas. Porém, apesar desse avanço, ainda não
atendia todo o seu público. Por isso, a proposta considerada eficaz foi a criação de
seus veículos próprios de divulgação.
2.3 Jornal do Trópico Úmido como veículo de Ciência e Tecnologia
No final da década de 1980, o então CPATU cria o Jornal do Trópico Úmido,
periódico trimestral, com uma tiragem de 3 mil exemplares, produzido pela Assessoria
de Imprensa da Instituição, composta por dois jornalistas, para atender uma demanda
nacional. A distribuição era direcionada para órgãos dos governos federal (presidência
da república, senado, câmara dos deputados, ministérios, secretarias, empresas); em
nível estadual (gabinete do governador, secretarias de estado); em nível municipal
(prefeitos, secretarias e órgãos afins); Universidades e Institutos de Pesquisa e Ensino.
No que tange ao público rural, a distribuição do JTU sempre foi realizada através
de suas entidades representativas: Sindicatos, Cooperativas, Associações, ou em
momentos de dias de campo, feiras, exposições, o Jornal era entregue pessoalmente
19
aos participantes, ou visitantes dos estandes. O JTU está no seu 58° número, editado
em 2008. Nessa perspectiva, a comunicação praticada pela Embrapa busca conciliar
os focos institucional e mercadológico, entendendo que o cliente, o usuário e o cidadão
devem merecer a mesma atenção, porque, todos, contribuem decisivamente para a
consolidação de sua imagem.
Parte-se do pressuposto de que, em qualquer relacionamento, seja a
comunicação de um fato ou para a transferência de uma tecnologia, tanto o sentido
desejado pelo seu receptor, ou uso, como o sentido que é dado ao objeto (informação
ou produto tecnológico) dessa interação, depende mais de fatores e circunstâncias
associadas ao cliente ou usuário que os estiver recebendo as informações
tecnológicas, do que das intenções da Instituição no repasse das mensagens.
Neste caso, a recepção das mensagens ocorre no espaço daquele que decide
se a tecnologia que está sendo divulgada é, ou não satisfatória; é o receptor das
mensagens quem a adquire e usa, da mesma maneira que é o leitor do jornal, quem
julga se a versão dos fatos é verdadeira, pois é no espaço da recepção que as coisas
adquirem sentido.
Isto se torna particularmente complexo porque clientes e usuários, no seu
relacionamento com a Empresa, assumem distintos papéis: o mesmo cidadão que
exige rigor metodológico num paper, aceita com tranqüilidade imprecisões do noticiário
da imprensa, e se torna francamente prático ao participar de um dia-de-campo na
condição de produtor.
O que é mais importante nessa discussão é perceber que um mesmo cidadão
que impõe à EMBRAPA um compromisso diferente e específico para cada um desses
papéis distintos, assume uma interação de comunicação com a Empresa. A habilidade
da EMBRAPA em atender a esses compromissos distintos consiste em determinar o
sucesso ou insucesso da sua comunicação.
Nessa direção, a Comunicação e Transferência de Tecnologia, veiculada, no
Jornal do Trópico Úmido (JTU), mais conhecida como divulgação científica devem
buscar essa integração, reunindo esforços no sentido de maximizar o relacionamento
com os públicos de interesse e consolidar a imagem ou reputação da Empresa.
20
A geração de conhecimentos, tecnologias e processos, que se constitui no
âmbito da empresa deve estar respaldada na leitura do macro ambiente, no
atendimento às demandas dos clientes e na melhoria da qualidade de vida dos
cidadãos, de modo que esta rede de competências precisa estar articulada para a
consecução destes objetivos.
Desde a prospecção de demandas, de que vão resultar projetos de pesquisa,
até a sua disponibilização para o mercado e para a sociedade de produtos e soluções
desenvolvidos pela Empresa, as áreas de Comunicação e de Transferência de
Tecnologia têm papel relevante a desempenhar, incorporando-se à massa crítica que
subsidia o processo de tomada de decisões. Esta integração, fundamental nos
processos de gestão de uma organização moderna, otimiza a obtenção de resultados,
potencializa a circulação de informações e contribui para a sustentabilidade
institucional da empresa, na medida em que busca, ao mesmo tempo um modelo de
gestão que está focado nos seus diversos públicos de interesse e na própria sociedade
e que continuamente se avalia, buscando atingir a excelência em termos de
capacitação tecnológica e inserção social.
A existência de um número diversificado de instrumentos/veículos/canais de
relacionamento que atendem às demandas localizadas da Embrapa, teve a
preocupação de buscar uma padronização, formatos para não incorrer a perda da
identidade em termos do esforço global de comunicação da empresa. Tornou-se
necessário, pois, definir alguns parâmetros que pudessem orientar a produção de
jornais ou revistas, publicações impressas em geral e de veículos eletrônicos
(newsletters, por exemplo) ou mesmo homepages.
No caso específico do JTU, ressalta-se que, para que o Jornal pudesse atingir à
sua clientela, a Embrapa procurou observar esses padrões e exigências sendo
fundamental que, em qualquer caso, prevalecesse à identificação explícita da
Embrapa, de modo a evitar conflitos entre a identidade da unidade e da empresa de
maneira geral. A Embrapa reconhecendo que a comunicação é expressão da cultura e
que, portanto, linguagens e discursos devem se adequar ao perfil sócio-cultural e
lingüístico da audiência ou de seu público-alvo criou uma padronização básica, de
modo a impedir que se manifestasse as características diferentes e que viessem
dificultar a recepção das informações tecnológicas contidas no veículo em questão.
21
PARTE III
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3.1 O que dizem os estudos de recepção?
Nos anos oitenta, com a disseminação dos trabalhos do teórico italiano Antônio
Gramsci, desenvolvidos sobre hegemonia, especialmente aqueles relacionados à
cultura, Canclini e Martin-Barbero procuraram atualizar esses estudos no âmbito da
comunicação.
Nesse sentido, a comunicação passa a ser compreendida como um fenômeno
indissociado da cultura e dentro dessa ótica, o conceito de dominação se desloca para
o de hegemonia. Na concepção de Gramsci, hegemonia deve ser entendida como “a
capacidade de unificar através da ideologia e de conservar unido um bloco social que
não é hegemônico, mas sim marcado por profundas contradições de classe” (GRUPPI,
1978, p.91 e 92). Daí, o próprio Gramsci ressaltar que “uma classe é hegemônica até o
momento em que através da sua ação política, ideológica e cultural consegue manter
articulado um grupo de forças heterogêneas” (Ibidem).
Ressalta-se que a contribuição mais importante para o tema da Cultura na
sociedade de classe, dentro do paradigma marxista, encontra-se na obra de Antônio
Gramsci, fundamentalmente porque se apóia no binômio: cultura hegemônica - cultura
subalterna. Gramsci é o primeiro marxista a examinar a ideologia das classes
populares como conhecimento por elas acumulado e as suas maneiras de ocupar-se
com a vida.
Para Canclini, nas sociedades complexas, a hegemonia se estabelece mediante
uma relação dialética entre a homogeneidade e diferenciação social. Enquanto a
dominação homogeneíza, submetendo as pretensões de pluralidade ao denominador
comum da obediência, a hegemonia consiste em trabalhar com as diferenças e às
vezes fomentá-las, sob a coesão de um poder unificador.
O autor ressalta que quando a diversidade de interesses se desenvolve em
estilos de vida enfrentados sem pactos e reciprocidade, gera conflitos desintegradores
da unidade social, mas essas mesmas diferenças, desde que reconhecidas pelo poder
22
hegemônico e coordenados por ele, podem coexistir e inclusive colaborar para que a
hegemonia seja legitimada através do consenso“ (CANCLINI, 1988, p.22).
Nessa esfera, hegemonia, segundo o autor, permite entender o processo pelo
qual uma classe se torna hegemônica não mais pela imposição, mas pela conquista do
consenso, pois representa interesses que, de alguma forma, as classes populares
também conhecem como seus interesses.
Portanto, a atualização dos escritos gramscianos sobre hegemonia, por Canclini
e Martin-Barbero, no âmbito da comunicação, tem levado os estudos a aprofundarem-
se na perspectiva das mediações culturais. E, a partir de suas conceituações, os
autores afirmam que para entendermos a comunicação, nessa nova linha de
pensamento, as culturas populares não podem ser estudadas de forma isolada e sim,
mediatizadas por elementos que produzem e reproduzem significados sociais e
culturais como um espaço que possibilita compreender as interações entre a recepção
e a produção do sentido.
Nessa direção, buscam-se alguns aspectos que caracterizam a preocupação
teórica e analítica dos estudos que vêm sendo desenvolvidos acerca das culturas
populares, no âmbito da comunicação.
Para Canclini, a cultura é “el conjunto de procesos simbólicos a través de los
cuales se comprende, reproduce y transforma la estructura social” (CANCLINI,
op.cit.p29), (grifos do próprio autor) e, portanto, constitui-se numa condição interna ao
aparecimento das forças produtivas. Já, para Martin-Barbero, a cultura se constitui num
“campo estratégico en la lucha por ser espacio articulador de los conflitos” (MARTIN-
BARBERO, 1991, P.85).
Essas duas definições são explicadas por Spenillo (1998), de que a cultura é
uma força viva, construída da ação autônoma dos indivíduos que compartilham
códigos, condições materiais de vida e formas de apropriação semelhantes. A autora
enfatiza que cultura não se trata, de um padrão estático a ser incorporado e
reproduzido fielmente pelos indivíduos, grupos e gerações. A cultura, segundo a
autora, sejam elas processos, espaços ou modos de viver, só podem se formar “a partir
da interação entre os indivíduos ou grupos, daquilo que fazem em suas vidas, de suas
23
vitórias e sucessos, ou daquilo que criam seus medos, conflitos e das novas interações
com outros grupos ou códigos culturais” (...) “sejam elas, em suas crenças e magias,
em seus ritos e formas de linguagem” (...) “em guerras ou pregação da paz, até no
relacionamento entre si com a natureza, com o cosmo e com o seu „eu‟ o sujeito deixa
marcas de sua existência”. (SPENILLO, 1998, P.17-18).
Pensando as culturas populares, Canclini aponta a necessidade de se conhecer
a autonomia das culturas, ou seja, sua construção cotidiana do modo de vida, uma vez
que, segundo esse autor, é na esfera do consumo que o modo de vida - o que se faz e
a maneira como se faz, no espaço concreto e cotidiano da existência - pode ser
observado, conforme tratado ainda nesta seqüência. Tenta-se, portanto, compreender
o que é o popular nesta corrente de pensamento que vem se desenvolvendo nos
últimos anos.
O conceito de popular adotado pelos teóricos latino-americanos, implica na
necessidade de incluir não só aquilo que as classes populares produzem culturalmente,
mas também o que consomem e como se apropriam dos bens simbólicos. Implica na
exigência de pensar o popular na cultura não como algo enclausurado no passado,
mas articulado à modernidade, aos cruzamentos e complexidades do urbano e do
massivo e, sobretudo, num olhar/ posicionamento do investigador livre de preconceitos
e maniqueísmo que, de antemão, excluem e adjetivam as produções e práticas dos
populares, invalidando-as ou sacralizando-as.
O popular ao qual se refere neste estudo não pode ser associado à noção que o
vincula ao popular puro; aquele que é imediatamente identificável pela nitidez de suas
características; ou aquela noção de senso comum que o caracteriza pela vulgaridade -
o popular inculto.
Martin-Barbero afirma que o valor do popular não reside na sua autenticidade,
ma sim na sua representatividade socio-cultural, bem como na capacidade de
materializar e de expressar o modo de viver e pensar das classes subalternas; as
maneiras como sobrevivem e as estratégias, através das quais filtram, reorganizam o
que vêem da cultura hegemônica e o integram, fundindo-as com o que vêm de sua
memória histórica (MARTIN-BARBERO, 1987, P.83).
24
Por outro lado, Canclini sustenta que o popular não corresponde com precisão a
um referente empírico, a sujeitos ou situações sociais nitidamente identificáveis na
realidade. O popular “es una construcción ideológica, cuya consistencia teórica está
aún por alcanzarse. Es más un campo de trabajo que un objeto de estudio
científicamente delimitado” (CANCLINI, 1987, p.6).
A partir dessas colocações pode-se dizer que o popular não é algo que exista
por si mesmo, mas implica em algo construído por atores sociais. Esse posicionamento
afasta-se de uma conotação essencialista onde o popular teria características internas
próprias, anteriores à industrialização e à massificação da cultura como acontece com
o folclore. Nesse sentido, Canclini afirma que “o popular não pode definir-se por uma
série de razões internas ou um repertório de conteúdos tradicionais, premassivos,
portanto as culturas populares devem ser compreendidas por uma posição que
assumem frente ao hegemônico”. (CANCLINI, op.cit. p.41).
O autor explica que elas existem porque geram uma elaboração própria de suas
condições de vida e uma satisfação específica de suas necessidades nos setores
excluídos da participação plena no produto social, como também, uma interação
conflitiva entre as classes populares. Daí, se considerar a cultura como uma produção
de fenômenos que contribuem, mediante a representação ou reelaboração simbólica
das estruturas materiais, para a compreensão, reprodução ou transformação do
sistema social, ou seja, a cultura diz respeito a todas as práticas e instituições
dedicadas à administração, renovação e reestruturação do sentido.
Canclini considera o termo mais adequado - Culturas Populares - o uso no plural
como importante porque cada grupo dá resposta diferente às suas necessidades vitais.
As culturas populares existem porque há toda uma reprodução desigual da sociedade
que gera uma apropriação desigual dos bens econômicos e culturais por parte de
diferentes classes e grupos na produção e no consumo, ou, ainda, devido à elaboração
própria de sua condição de vida e uma satisfação específica de suas necessidades nos
setores excluídos da participação plena no produto social. Ressalta, ainda, o autor que
as Culturas Populares existem porque há uma interação conflitiva entre as classes
populares com as hegemônicas pela apropriação dos bens. (CANCLINI, op. cit. p. 49).
Na relação desnivelada existente entre as culturas populares e a cultura
25
hegemônica há duas características principais que são a “ambigüidade política e a
capacidade de refuncionalizar os usos das mensagens originadas da cultura
hegemônica como forma de resistir ou simplesmente adaptar o uso dessas mensagens
às suas necessidades cotidianas imediatas” (CANCLINI, op.cit. p.12-13).
Canclini considera as culturas populares como integrantes do processo de
reprodução social e como tal define e estuda essas culturas a partir de uma teoria da
reprodução. Não no sentido limitado da teoria econômica, como assinala o autor, mas
“incluindo os aspectos culturais e da vida cotidiana” (Idem). Trata-se, portanto, de ver
conjuntamente a reprodução do capital, da força de trabalho, das relações de produção
e de mercado- reprodução da vida- a família, a cotidianidade – e a reprodução cultural
– o conjunto das relações educativas, comunicacionais – com base dos processos nos
quais se conformam as culturas populares.
Canclini ressalta que a reorganização da cultura, na contemporaneidade, não
pode ser vista de forma linear, pois, a necessidade de expansão dos mercados
culturais populariza os bens da elite e introduz as mensagens massivas na esfera
popular. Porém a luta pelo controle do culto e do popular segue fazendo-se, mediante
esforços, por defender os capitais simbólicos e marcar a distinção a respeito dos outros
(CANCLINI, 1989).
Essa compreensão em Canclini, cuja atualização dos estudos procura ver as
culturas populares no estágio atual da hibridização com o massivo, conforme ressalta o
autor, “só pode ser vista a partir do conceito de cultura popular enquanto cultura
híbrida”(Ibidem). O autor explica que a cultura contemporânea é híbrida porque tem
caráter “ni culto, ni popular, ni massivo” (Ibidem). Para o autor, hibridização serve para
pensar tudo aquilo que não cabe mais sob o rótulo de culto, popular e massivo, ou seja,
praticamente, tudo o que se produz atualmente, pois o processo de globalização, que
assola todos os setores da sociedade contemporânea, não deixaria de fora,
justamente, as manifestações culturais tão sensíveis à dinâmica social. (Ibidem).
Canclini explica essa situação quando diz que “la hibridación sociocultural no es
una simples mezcla de estruturas o práticas sociales discretas, puras que existian en
forma separada, y al combinarse, generan nuevas estruturas y nuevas práticas”
(CANCLINI, 1996, P.3).
26
Entretanto, a hibridização não adquire sentido por si só, senão numa
constelação de conceitos, como: modernidade-modernização-modernismo; diferença –
desigualdade – heterogeneidade; multitemporalidade e reconversão. Para o autor a
reconversão, termo tomado da economia, permite uma visão conjunta das estratégias
de hibridização. É através da reconversão que dá sentido à hibridização, o indivíduo
reconverte as suas práticas culturais para adquirir outras competências necessárias à
participação da ordem hegemônica.
Portanto, a reconversão, na opinião de Canclini, pode ocorrer de forma não
planejada, o que entendemos por uma reconversão voluntária, espontânea ou simples.
Como, por exemplo, o indivíduo que se adapta a certos hábitos, costumes, usos, fala,
gestos imitando outros indivíduos. Entretanto, Canclini ressalta que a hibridização
surge da intenção de reconverter um patrimônio, ou uma fábrica, uma capacitação
profissional, ou um conjunto de saberes e técnicas, reinserindo-o em novas condições
de produção e mercado.
Assim, o movimento da construção da hegemonia ou direção política da
sociedade pressupõe complexas interações entre as culturas populares e a cultura
hegemônica. Esse posicionamento indica que não existe um confronto bipolar e rígido
entre diferentes culturas. Na prática o que acontece é um sutil jogo de intercâmbios
entre a cultura hegemônica e as culturas populares. Essas culturas não são vistas
como exteriores entre si, mas comportando cruzamentos, transações interseções - é o
que se entende por uma reconversão planejada.
Parte-se dessas premissas para compreender a recepção do JTU pelos
agricultores ou jovens rurais. Por um lado a Embrapa, através do JTU como uma
cultura hegemônica. Por outro lado os jovens agricultores, ou juventude camponesa,
enquanto uma cultura popular, concebida em suas pluralidades culturais.
Ao se buscar compreender o sentido dado às mensagens da EMBRAPA,
veiculadas através do Jornal do Trópico Úmido (JTU), como um processo de
comunicação entre culturas: uma cultura hegemônica, materializada pela EMBRAPA e
a cultura dos jovens agricultores - uma cultura popular, entende-se que a relação de
comunicação entre culturas não se dá unilateralmente como costuma ser abordada por
27
outras metodologias e, sim, por uma relação multilateral e multidirecional que se realiza
através de diversas mediações.
Analisando a interação da comunicação do jovem rural, caracterizado como
“leitor do JTU, à luz da teoria de Canclini que trata da relação das culturas
hegemônicas e as culturas populares, no sentido de que as culturas populares
reconvertem os seus códigos para “participar” da cultura hegemônica”. Essa
reconversão, entretanto não se dá de forma automática e nem linear. A reconversão
das culturas populares se dá num processo de renegociação que sofre a influência das
mediações das culturas populares.
Daí as hipóteses formuladas neste estudo de que os jovens produtores rurais
reconvertem seus códigos culturais nos códigos culturais da EMBRAPA e, assim
poderem colocar em prática as tecnologias da EMBRAPA, veiculadas no JTU. Os
jovens agricultores devem encontrar nessas tecnologias produzidas pelas pesquisas da
EMBRAPA, algo que seja bom para si e que atendam às reais necessidades de suas
famílias. Assim, possibilite a reconversão de seus códigos culturais, pois essas
reconversões sofrem a influência das mediações culturais desses jovens agricultores.
Estudar a recepção na perspectiva das mediações culturais implica em
considerar a comunicação enquanto fenômeno indissociado da cultura. Martin-Barbero
garante que a relação entre emissor e receptor muda, o que significa dizer que o
emissor perde o seu poder absoluto de ação, ao mesmo tempo em que elimina a
passividade do receptor.
O receptor, neste caso específico, passa a ser considerado o sujeito ativo no
processo, pois produz significados às vezes diferentes, e até antagônicos, em relação
às propostas do emissor. A tendência, entretanto, em muitos casos, é a de que as
culturas populares emprestam consenso às propostas da cultura hegemônica, e para
isso essas culturas reconvertem os seus códigos no trabalho e na vida.
A partir dessas premissas evidenciadas no aporte teórico de Canclini e Martin-
Barbero (apud SAMPAIO, C.A, 1989), este estudo ganha maior relevância, na medida
em que se pode garantir que as hipóteses levantadas nesta pesquisa são bastante
pertinentes.
28
A seguir, ressaltam-se a relevância deste estudo onde maior contribuição é
aumentar cada vez mais o elenco das pesquisas no contexto da recepção e das
mediações culturais. Neste caso específico que tem a mídia impressa alternativa de
uma instituição de pesquisa, como objeto de estudo.
29
PARTE IV
4. POR QUE ESTUDAR A RECEPÇÃO DO JORNAL DO TRÓPICO ÚMIDO (JTU) NO
ÂMBITO DA JUVENTUDE CAMPONESA?
A preferência pela juventude camponesa consiste na nova mentalidade que se
forma no meio rural. Hoje, não se concebe mais falar no rural como algo distante,
estranho, alheio aos acontecimentos urbanos. Os avanços tecnológicos da Informação
e da Comunicação, a partir da Revolução Industrial que impulsionaram grandes
acontecimentos no mundo não permitem mais ver públicos diferentes.
Vive-se, hoje, o mundo globalizado provocando profundas mudanças
socioeconômico-político-cultural-moral-ético e ambiental. Trata-se de uma ordem global
onde a sociedade e os indivíduos passam a ser um produto que vive em permanente
conflito, pois a vida passa ser veloz, num espaço cada vez menor. Isso gera uma
enorme competitividade. Cada vez mais, as pessoas buscam esse espaço mediado
pela tecnologia da informação.
Pensar na geração de tecnologia disponibilizada aos agricultores familiares nos
dias atuais significa pensar que esse agricultor já possui acesso às informações
midiáticas, pois no “meio rural” que, para Graziliano Silva (1986) não se pode mais
conceber o rural, na sua tradicionalidade. Hoje, a palavra de ordem é “desenvolvimento
e sustentabilidade, portanto, o autor recomenda que o espaço produtivo seja como um
novo rural, voltado para o desenvolvimento local, com foco na sustentabilidade. Logo,
em se tratando do JTU, editado pela Embrapa, entende-se que deve ser um veículo
com essas características, configura-se num instrumento de levar essa mensagem
tecnológica com vistas ao desenvolvimento sustentável para um novo rural, ou espaço
tecnológico.
Portanto, nesse sentido, passa-se a conceber a juventude camponesa, como
atores sociais nesse processo de desenvolvimento, como uma cultura emergente na
sociedade rural, com novas mentalidades, em busca da prática das tecnologias
geradas pela Embrapa. Concebendo-se esses jovens, enquanto culturas populares, as
pesquisas divulgadas no Jornal do Trópico Úmido (JTU) hipoteticamente são usadas
pelos jovens agricultores que conhecem o JTU, ou não fazem uso dessa tecnologia por
30
não compreenderem a linguagem científica, logo deixam de praticar as tecnologias
geradas pela Embrapa. Pressupõe-se, também que os jovens não conhecem o JTU,
por isso continuam com as tecnologias tradicionalmente praticadas pelos seus
ancestrais. Para que essas hipóteses sejam ou não confirmadas, evidenciam-se os
objetivos deste trabalho.
4.2 Objetivo geral
Compreender o sentido, ou uso das tecnologias da Embrapa, veiculados no
Jornal do Trópico Úmido, enquanto um veículo de divulgação científica da Embrapa
Amazônia Oriental, junto aos jovens rurais, aqui denominados de juventude
camponesa, enquanto uma cultura popular, ou receptores da tecnologia.
4.2.1 Objetivos Específicos
Especificamente, o estudo desenvolverá algumas ações no sentido da obtenção
dos resultados esperados, como:
Compreender a política de comunicação para a Ciência e Tecnologia da
Embrapa;
Analisar o Jornal do Trópico Úmido, enquanto um veículo de divulgação
científica;
Compreender a juventude rural, a partir de sua cultura, nas suas pluralidades e
diversidades culturais, portanto, culturas populares.
Nessa perspectiva, este estudo elege como objeto de estudo o JTU, tendo como
público – alvo, a juventude camponesa do nordeste paraense. A seguir, elencam-se os
rumos tomados pela pesquisa com vistas a analisar o sentido das mensagens
tecnológicas da EMBRAPA, na vida desses agricultores, como podem ser observados
na parte V, a seguir.
31
PARTE V
5. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
5.1 Metodologia da Pesquisa
Os procedimentos metodológicos ou metodologia da pesquisa conduzem os
rumos que o estudo tem que tomar para o atingimento de seus objetivos. Portanto, este
estudo consiste num estudo de caso, com características de pesquisa quali-
quantitativa, no qual foram elaborados questionários com perguntas abertas e
fechadas. O objetivo aqui foi deixar os entrevistados bastante à vontade para
prestarem esclarecimentos na fala.
Com suporte da revisão da literatura, a partir dos estudos já realizados sobre
recepção, confirmam-se não existir nenhum trabalho igual a este que ora se realiza.
Foram encontrados muitos estudos sobre recepção e que serviram de aporte teórico,
porém, nenhum tratou da recepção das mensagens da Embrapa no seu veículo
impresso de divulgação científica, como é o que é tratado neste estudo. Nesse sentido,
constata-se a fidedignidade do estudo, como pode ser ratificada junto às informações
obtidas na ocasião das entrevistas.
4.1 Método
Para a execução deste trabalho, realizou-se a pesquisa exploratória com base
no procedimento técnico do estudo de caso. Essa modalidade de pesquisa tem como
premissas proporcionar maior familiaridade com o problema, ou seja, busca aproximar
o pesquisador aos informantes de modo a conhecer em maior profundidade, o senso
crítico das pessoas, tornando-o mais explícito, além de construir hipóteses e facilitar a
compreensão do objeto de estudo.
Procurou-se, especificamente compreender os jovens agricultores como um
público que emerge com uma cultura indissociada da comunicação como um processo,
os jovens passam a ser vistos como uma cultura popular, ou uma cultura, cujo sujeito é
o próprio receptor; aquele que dá sentido às mensagens recepcionadas na recepção;
onde o uso passa a ser visto no seu cotidiano, ou mais especificamente, o que diz
Canclini, nas suas pluralidades, heterogeneidade, ou culturas populares.
32
O estudo de caso é uma avaliação qualitativa do problema. Nesta avaliação o
que importa não é o número de pessoas pesquisadas e, sim, a intensidade que este
grupo vivencia o problema, no caso, a recepção das informações tecnológicas da
Embrapa, veiculadas no JTU.
A pesquisa qualitativa define-se de acordo com cinco características básicas: (a)
a pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o
pesquisador como seu principal instrumento; (b) os dados coletados são
predominantemente descritivos; (c) a preocupação com o processo é muito maior do
que com o produto; (d) o significado que as pessoas dão às coisas e à sua vida são
focos de atenção especial do pesquisador; (e) a análise dos dados tende a seguir um
processo indutivo (TRIVIÑOS, 1995).
O estudo de caso é preferido quando o tipo das questões da pesquisa é da
forma “como” e “por quê?”, quando o foco está em fenômenos contemporâneos que se
manifestam dentro do contexto de vida real, quando o investigador tem um controle
reduzido sobre os eventos, às fronteiras entre o fenômeno e o contexto não são
claramente evidentes e/ou quando múltiplas fontes de evidências são utilizadas.
Como o estudo de caso não necessita de um grande número de amostragem e,
sim, de uma boa análise do processo, este número suprirá as necessidades, a
população amostral utilizada para ser analisada será de 80 jovens na faixa etária de 16
a 32 anos, delimitada num universo de 250 jovens rurais que se encontravam reunidos
no I Encontro de Jovens Rurais, como descrito no item seguinte.
5.2 A pesquisa
No sentido de compreender a recepção do Jornal do Trópico Úmido – JTU, seus
conteúdos tecnológicos pela juventude camponesa, ou seja, o sentido que os
resultados das tecnologias geradas pela Embrapa têm na vida do agricultor jovem,
intencionalmente, foi aproveitada a realização do I Encontro da Juventude Rural do
Nordeste Paraense, realizado em Salinas, no período de 28 a 30 de agosto de 20092 o
2 O lema do Encontro foi “Se a Juventude Rural não planta, a cidade não almoça e nem janta”. Em meio
a discussões deliberativas, este acontecimento foi um momento de debate, estudos e reflexões sobre a vida da Juventude Camponesa. O Encontro foi sediado no STTR‟S de Salinópolis (Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais). Foram pautados temas como a Análise de Conjuntura sobre o
33
qual teve como tema: Jovens Rurais lutando por seus direitos. O evento teve como
sede, o município de Salinópolis no Estado do Pará, tendo como base de apoio a
Comunidade Alto Pindorama onde foi congregada a participação de 250 jovens
camponeses.
O evento foi realizado pela Comissão de Juventude Rural da Bragantina e
contou com o apoio da Fetagri (Federação dos Trabalhadores na Agricultura),
CONTAG (Confederação dos Trabalhadores da Agricultura), Rede GTA (grupo de
Trabalho Amazônico), INCRA (Instituto de Colonização Reforma Agrária), Governo
do Estado do Pará, Casa Civil, Governo Federal, CUT/ Pará (Central Única dos
Trabalhadores), SAGRI (Secretaria de Agricultura do Estado do Pará), EMATER
Pará (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural), e do deputado federal
Beto Faro e deputado estadual Carlos Bordalo.
Considerou-se o encontro um momento bastante oportuno para a aplicação
dos questionários e entrevistas, como de fato, pela exigüidade do tempo para este
estudo, foi bastante produtiva e bem sucedida à coleta de dados.
O auditório serviu de espaço onde foi feita a pesquisa. Nesse sentido, a
preocupação foi deixar os jovens bastante à vontade, pois, o lugar tinha proximidade
com as suas vivências cotidianas. A observação do pesquisador foi acompanhada
de forma muito próxima e com o diálogo interativo com os jovens, porém de forma a
ouvir mais do que a falar. Os jovens mostraram amplo interesse em participar das
entrevistas, sendo bastante receptivos em responder ao questionário.
No segundo dia de evento foi aplicada a maioria dos questionários, ao todo,
60 formulários foram preenchidos. A pesquisa foi precedida de uma breve introdução
sobre os objetivos do estudo e das entrevistas. Os questionários foram aplicados ao
longo do dia, nos intervalos da programação oficial. A intenção neste momento foi a
de entender a interação entre a juventude camponesa paraense e o Jornal do
Trópico úmido, editado pela Embrapa.
olhar da Juventude Rural e Políticas Públicas Para Juventude Rural. Assim foram realizados GT‟S (Grupos de Trabalho) nas temáticas: Geração de Renda e Economia Solidária; Saúde, Sexualidade e direitos reprodutivos; Educação do campo; Sucessão Rural, identidade e preconceito; Meio Ambiente; Violência e drogas; Cultura, esporte e lazer.
34
Em seguida a observação se voltou para certas peculiaridades como o modo
de vida dos jovens, frente aos assuntos elencados no JTU. Com vistas a observar se
os jovens conheciam o JTU como veículo de comunicação para a divulgação das
tecnologias da Embrapa foi distribuídos exemplares do jornal para os entrevistados.
De acordo com as peculiaridades do público leitor, a pesquisa se deteve,
primeiramente, em observar o impacto causado pelo jornal aos leitores.
Esses jovens agricultores acostumados a desenvolver as suas práticas
agrícolas de forma tradicional, naquele momento vivenciando informações
tecnológicas como uma nova experiência de uso em suas propriedades.
O jornal, ora analisado contém informações sobre meio ambiente,
preservação ambiental, desenvolvimento sustentável. As matérias focaram a
preservação ambiental como forma de contribuir com a vida no campo, como por
exemplo: o não uso do fogo na agricultura familiar.
A relação jovem do campo e meio ambiente foi focada na forma de trabalhar a
informação sustentável e aplicá-la no meio em que vive. Superando assim velhas
técnicas tradicionais como a queima do solo e adotando novas tecnologias de modo
a preservar e conservar o meio.
Na manhã de domingo foram aplicados vinte questionários, totalizando assim
oitenta questionários aplicados durante a realização do evento. No último dia do
Encontro a satisfação dos jovens superou as expectativas. Muitos participaram pela
primeira vez de um Encontro específico para jovens camponeses. Ressalta-se aqui
a receptividade das tecnologias como algo muito promissor para os jovens. A troca
de experiências foi intensa, por ter proporcionado, dentre outras oportunidades do
Encontro, novas informações que antes não chegavam até os jovens agricultores.
Registrou-se a presença de várias autoridades acerca das questões do meio agrário,
entre elas, EMATER (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural) e MDA
(Ministério do Desenvolvimento Agrário). O que fortaleceu a importância deste
estudo.
É interessante, lembrar que os pontos de discussão no Encontro,
basicamente, todos, foram pertinentes aos objetivos deste trabalho, como por
35
exemplo, a visão que se tem hoje do público rural; a sucessão rural que foi outro
ponto ressaltado, pois é preciso garantir condições para que o jovem permaneça no
campo, valorize sua identidade e dê continuidade a sua produção agrícola, o que
parece bastante relevante com o objetivo deste trabalho.
Como foi bastante enfatizado, no momento do evento e somado aos objetivos
da pesquisa, hoje muitos jovens se deslocam do campo para as grandes cidades,
sem muitas vezes estar qualificado para empregos de maior instrução, o que ocorre
em muitos casos é que este jovem que migra com esperanças de uma vida melhor
fica desempregado ou submete-se a longas jornadas de trabalho sem remuneração
adequada, na sua grande maioria passa a ser alvo de criminalidades urbanas.
Segundo dados do MDA, existem hoje no Brasil 4,8 milhões de
estabelecimentos rurais, 85% são familiares (4,1 milhão) e ocupam 30,5% da área
agrícola total, os quais são responsáveis por 38% da renda bruta total. Assim, 40%
da produção agrícola total são oriundos da agricultura familiar, sendo que 60% dos
alimentos consumidos pela população brasileira vêm das pequenas propriedades.
Portanto, a partir desta perspectiva observa-se a necessidade de incorporar e
dinamizar novas tecnologias para os agricultores familiares, pois se trata de uma
questão de segurança alimentar e garantir o acesso as novas tecnologias é um
processo dinâmico que está ligado também a Embrapa, enquanto empresa pública e
pioneira na produção de conhecimento. Para isso, é preciso repensar a forma de
distribuir informação e interagir com os jovens camponeses. Os desafios são muitos,
mas a juventude do meio rural está dando um grande passo ao se propor a pautar
tais conjunturas e estar aberta para concretizar novos formatos de sua interação
com o meio.
De um modo geral, avaliou-se que a recepção dos jovens em responder a
pesquisa, foi satisfatória, nenhum entrevistado se negou a respondeu o questionário,
pelo contrário, todos os jovens abordados queriam contribuir para a pesquisa. A
seleção foi feita de modo aleatória entre os participantes do evento, observado o
público-alvo desta pesquisa.
36
5.3 Público-alvo
O público-alvo delimitado para esta pesquisa são jovens camponeses entre 16 e
32 anos. Ao aprofundarmos a problemática sobre a juventude rural deparou-se com
uma diversidade de possibilidades de reflexão sobre o conceito de juventude rural. Daí,
a necessidade da conceituação e/ou definição para o termo.
5.3.1 A definição de juventude camponesa
O conceito de Juventude é relativamente recente e subjetivo, já que é construído
no contexto de determinadas situações econômicas, sociais ou políticas. Weisheimer
(2005, apud Badalotti, Bertoncello, Rossi, p. 100) sustenta que o conceito de juventude
rural é apresentado a partir de cinco abordagens: “Faixa Etária, Período de Transição
ou Ciclo de Vida, Enfoque Geracional, Juventude como Cultura ou Modo de Vida,
Representação Social”.
A autora afirma que ser jovem no meio rural é adquirir responsabilidades de
cultivo da terra, ela compara ao que é ser jovem no meio urbano, que é quando o
indivíduo começa a trabalhar e a adquirir independência financeira. No meio rural, a
juventude ocorre quando o individuo casa e assume uma nova família. Assim, é
essencial interpretar as práticas simbólicas que caracterizam estas culturas a partir dos
contextos sociais em que os jovens se movem, de forma a assimilar da melhor forma
possível o significado que, correntemente, os jovens dão às suas ações, às suas
atividades cotidianas.
Faixa Etária: Esta concepção do “ser jovem rural” é compreendida a partir do
critério idade. Para isso, os autores fundamentaram-se em indicadores demográficos,
critérios normativos ou padrões estabelecidos pelos organismos internacionais.
Questionando este conceito podemos perceber que se embasa numa compreensão
limitada ao parâmetro biológico, não abrangendo as dimensões histórico-culturais do
“ser jovem”.
Período de Transição ou Ciclo de Vida: Nesta perspectiva a juventude é
entendida sobre o ponto de vista de que é um período transitório, de preparação para o
mercado de trabalho, tendo seu início com o aparecimento da puberdade. Neste
37
sentido, a juventude acaba sendo pensada a partir do ponto de vista de um período
passageiro, transitório, preparatório.
Enfoque Geracional: Esta abordagem centraliza as discussões no enfoque das
gerações, compreendendo-a através da idéia de “situação” no processo social, ou
seja,os ritmos de mudanças sociais possibilitam novos valores e ideais que são
incorporados mais facilmente pelos jovens por não estarem completamente enredados
no status quo.
Juventude como Cultura ou Modo de Vida: O olhar desta perspectiva sobre a
juventude enfatiza-a como uma forma de expressão da cultura de massa. Nesse
sentido está intimamente ligada à sociedade de consumo.
Representação Social: Segundo esta perspectiva o termo juventude refere-se a
um conjunto de relações sociais específicas que são determinadas socialmente, ou
seja, é a atribuição que se estabelece sobre quem é ou não pertencente a determinado
grupo – no caso, de quem é ou não jovem para certa cultura/sociedade.
Em seguida, faz-se uma análise qualitativa das entrevistas, capaz de gerar um
relatório, mostrando os resultados obtidos na pesquisa.
5.3.2 Jovens agricultores enquanto culturas populares
Pensando a juventude camponesa enquanto culturas populares, retoma-se as
idéias Canclinianas que apontam a necessidade de se reconhecer a autonomia das
culturas, ou seja, sua construção cotidiana de modo de vida. Para o autor, é na esfera
do cotidiano que o modo de vida pode ser concretamente observado. Portanto, o
cotidiano assume um papel relevante quando se busca compreender as práticas
culturais dos segmentos populares, pois é nele que o sujeito compara e viabiliza, ou
não, as propostas hegemônicas, sustentando os seus hábitos ou costumes e o de seus
grupos aos quais essas culturas populares pertencem. (HELLER, Agnes, 1989, apud
SAMPAIO, C. A. 1997).
Concebe-se, portanto, os jovens rurais como o homem da cotidianidade, atuante
e fruidor de sentido, ativo e receptivo. Nessa direção, concebe-se também, juventude
camponesa como uma cultura que tem como parte orgânica de sua vida organizada no
trabalho no campo.
38
Essa concepção obtida dos jovens agricultores sugere realizar uma nova leitura
dessa população rural, como nova percepção de que o jovem receptor da tecnologia da
Embrapa, através do JTU, configura-se num receptor como um produtor de sentido.
5.4 Análises e discussões
5.4.1 A recepção das mensagens tecnológicas pelos jovens agricultores
Os resultados obtidos a partir dos questionários aplicados aos jovens, por
ocasião do I Encontro da juventude, realizado em Salinas, para uma amostra
intencional de 80 pessoas, em específico jovem camponeses do Estado do Pará, como
já explicitado anteriormente, mostra inicialmente, um índice composto por homens e
mulheres - jovens camponeses com escolaridade que vem desde o ensino médio até o
ensino superior, na faixa etária de 16 a 32 anos de idade, sendo que todos oriundos
dos municípios paraenses, particularmente, do nordeste do estado. A maioria desses
jovens pertence ao gênero masculino, onde a maioria, entre 16 e 18 anos, já havia
concluído o ensino médio.
No sentido de identificar a categoria “agricultor” no âmbito desses jovens, no
universo de oitenta jovens entrevistados, houve um destaque maior, de 77,50% para o
SIM, ou seja, declaram-se agricultores e, apenas 22,50% declararam-se filhos de
agricultores, ou seja, ainda não são agricultores.
Ressalta-se, porém que, tanto aqueles que se declaram como jovens
agricultores como os que são apenas filhos de agricultores, desenvolvem em suas
propriedades, atividades de agricultura familiar tradicional; Um percentual de 55%,
ainda exerce a prática da agricultura de derrubada e queima da floresta, por exemplo,
técnica não mais aceita pela Embrapa. A Instituição, hoje, já preconiza a agricultura
sustentável, divulgada em seu veículo de comunicação impressa- Jornal do Trópico
Úmido- JTU, que são os Sistemas Agroflorestais, mais conhecidos por SAFS, como a
tecnologia que mais contribui para a preservação do meio ambiente e que está ao
alcance da agricultura familiar. Por outro lado, um percentual de 40% já pratica a
Agricultura familiar sustentável preconizada pela Embrapa. Embora menor, considera-
se significante o avanço desses agricultores.
39
É interessante enfatizar que 86% desses jovens declaram conhecer a Embrapa.
No entanto, o conhecimento desses jovens relacionados com as tecnologias
desenvolvidas pela empresa é de apenas 53,62% dos entrevistados. O que chama
atenção é pelo fato que esses jovens conhecem a Instituição, têm conhecimento das
pesquisas que ela realiza, muito já colocam em prática, mas não porque lêem o Jornal
do Trópico Úmido. Essa população informante tem conhecimento da Embrapa e o que
ela produz, através de outros veículos de comunicação, como: a TV, através do
Programa Globo Rural, jornais de sindicatos rurais, rádio e cartilhas da prefeitura.
Vale ressaltar que o meio de comunicação mais procurado por esses jovens foi o
Globo rural que teve o percentual de 46% da pesquisa, sendo esse o veículo que lhes
permite conhecer a Embrapa e as pesquisas desenvolvidas por ela. Um total de 62%
desse público pratica essas tecnologias no seu território de trabalho, seguindo o globo
rural.
No que tange ao objeto de estudo proposto neste trabalho que é o Jornal do
Trópico Úmido (JTU), o percentual de jovens que conhecem esse meio de
comunicação é de 15%, porém, fica claro que 92,31% têm conhecimento das
tecnologias geradas pela Embrapa, seja através do Jornal, ou outros veículos como o
globo rural. Esses dados podem ser mais esclarecidos na figura abaixo.
Figura 1. JOVENS QUE CONHECEM AS TECNOLOGIAS DA EMBRAPA ATRAVÉS DO
JORNAL. NO QUE CORRESPONDE AOS 15% DA AMOSTRA DE 80 ENTREVISTADOS.
40
Ao serem interrogados sobre a credibilidade junto às tecnologias da Embrapa
veiculadas no JTU, os informantes reafirmam que acreditam muito na Embrapa.
Garantem que as tecnologias são uma ferramenta que fomenta uma obtenção de
melhoria ao meio ambiente como, de fato, corresponde ao percentual de 94% desse
público propriamente dito, embora, como já foi enfatizado, essa credibilidade é dada
pelo que esses jovens vêem no Globo Rural e não pelo JTU.
A preocupação neste item foi verificar ou avaliar a aceitação do JTU enquanto
um veículo de divulgação científica junto aos agricultores familiares jovens. A figura
abaixo mostra os percentuais considerados pela pesquisa.
Figura 2. AVALIAÇÃO DOS JOVENS REFERENTE A DIVULGAÇÃO DO JORNAL
Como pode ser observada a figura acima, a variável que se sobrepõe, com
38,46% é boa, o que significa dizer que os jovens consideram o JTU um veículo de
divulgação bom. A variável ótimo, apenas 30,77% se manifestaram favorável nessa
classificação. Um percentual menor, de 23,08% consideram excelente e 7,69%,
razoável. Esses percentuais nos levam à conclusão de que, apesar do JTU ser um
veículo que busca divulgar as tecnologias da Embrapa, porém, por não chegar aos
agricultores jovens, eles desconhecem o seu conteúdo, ou a sua importância. Por isso,
o classificam como bom, embora estejam já exercitando muitas tecnologias que são
veiculadas no jornal.
41
Por ocasião das entrevistas, os jovens reafirmam essa hipótese de que o JTU
não é tão recorrente, como também, não vem contribuindo na execução de seus
trabalhos, porém, como mostra a figura, aqueles que consideram excelente, afirmam
que o jornal ajuda a compreender como funcionam esses processos tecnológicos
gerados pela Embrapa veiculados no JTU.
Apesar dos contrapontos desta pesquisas os jovens - resultado de 15% que
conhecem o jornal - alegam com 100% dos resultados que essas informações
veiculadas pelo jornal JTU com foco nas tecnologias geradas pela Embrapa ajudam a
promover conscientização de preservação do meio rural, e que a linguagem utilizada
pelo jornal é de forma compreensível com 85% dos resultados.
Com base na divulgação das tecnologias, procurou-se saber se elas promovem
melhorias no meio ambiente e se isso é divulgado para os agricultores como forma de
atividades nos municípios do Estado. A pesquisa mostra que 70% desse tipo de
atividade já foram promovidas para se alcançar o conhecimento dessas ferramentas
tecnológicas. Ao se indagar sobre a necessidade de maior aproximação com a
prefeitura local e órgãos dos municípios para a divulgação dos resultados das
pesquisas. Os jovens concordam que deva haver maior intercâmbio entre a Embrapa e
municípios. Esse percentual foi de 52%.
Os entrevistados, 59%, lamentam que para melhorar a aceitação e aplicabilidade
das tecnologias em nível de comunidades, ainda faltam ferramentas que divulguem
esse tipo de técnica. Cerca de 97% da pesquisa têm essa visão.
Por outro lado, 52% afirmaram que na sua comunidade, a conscientização está
sendo fortalecida quanto à tecnologia de produzir sem desmatar ou agredir o meio.
Essa conscientização entende-se ser maior, pela parceria que já existe com outros
órgãos locais, dentre outros, o Pró-ambiente, do Ministério do Meio Ambiente, com
recursos do governo federal, vem desenvolvendo ações de conscientização para a
preservação ambiental.
Essa visão reforça ainda mais, a hipótese de que o JTU pelas suas
peculiaridades tem que avanças também nessas ações de parceria como uma
ferramenta de divulgação.
42
O jovem rural considera-se um público em potencial e que pode ser um dos
atores nessa parceria. Parte-se do conceito de Canclini que defende o agricultor
familiar, enquanto uma cultura vista hoje no contexto de suas pluralidades. Os jovens
acreditam que a conscientização juvenil poderá desenvolver a conscientização de toda
a sociedade, como pode ser observada na figura a seguir.
Figura 3. CONSCIENTIZAÇÃO JUVENIL PODERÁ DESENVOLVER TODA A CONSCIENTIZAÇÃO DA SOCIEDADE.
Esses jovens acreditam no seu potencial, principalmente, nas áreas que são
mais beneficiadas na preservação do meio ambiente nas suas propriedades que são:
Pecuária, floresta e agrofloresta onde sempre foram conflitantes com a preservação e
hoje, já é possível produzir sem agredir o meio ambiente simultaneamente.
Vale ressaltar que, a incorporação da temática ambiental em grupos de
discussão tem propiciado ao homem do campo novas mentalidades, seu caráter
reflexivo tem sido remodelado. A exploração pura e simples do uso da terra tem
despertado a preocupação do jovem camponês, de modo que este venha a tirar da
terra o sustento de sua família, mas também é perceptível como este se preocupa em
deixar para as gerações futuras as mesmas riquezas naturais que dispõe hoje.
No Grupo de Trabalho que tratou sobre meio ambiente foi fortemente discutido
sobre educação ambiental através da educomunicação. Entende-se por
educomunicação como o ato de educar utilizando os meios de comunicação de massa
e as tecnologias. Inclusive, como parte dos questionários desta pesquisa foi aplicada
pela manhã, aproveitou-se esse momento oportuno para discutir, também, sobre a
43
importância do JTU em divulgar novas tecnologias e levar informações aos mais
longínquos municípios do estado do Pará, reconhecendo a Embrapa como uma
empresa engajada na geração de tecnologias.
A pauta do GT de meio ambiente, portanto, foi: educação ambiental,
agroecologia, sustentabilidade, planos de manejo, degradação ambiental, uso da água
e os impactos da agricultura familiar, quando esta não aplica os recursos disponíveis
para a preservação e conservação ambiental, ou ainda quando possui culturas
ultrapassadas de uso da terra, como a queima da terra. A relação jovem do campo e
meio ambiente foi focada na forma de trabalhar a informação sustentável e aplicá-la no
meio em que vive. Superando assim velhas técnicas tradicionais como a queima do
solo e adotando novas tecnologias de modo a preservar e conservar.
Figura 4. GRÁFICO QUE REPRESENTA ÁS PRINCIPAIS ÁREAS QUE SÃO BENEFICIADAS
PELOS JOVENS NO QUE CONDIZ À PRESERVAÇÃO DO MEIO.
Essa nova visão de produzir sem devastar é uma das tecnologias veiculadas no
JTU e que os agricultores já passam a usar a terra com vistas no reflorestamento, na
reposição, no reaproveitamento da capoeira sem a utilização do fogo. A sua visão está
voltada para áreas que muitas vezes sempre foram conflitantes com as questões
ambientais, como a pecuária, o plantio de outros produtos como a soja por exemplo.
44
5.5 CONCLUSÃO
Os resultados obtidos mostram que o JTU é um veículo de comunicação de
peso da Embrapa; contém os resultados mais importantes sobre as pesquisas
desenvolvidas pela instituição. É considerado um excelente jornal. Entretanto, é
mostrado, também, um percentual enorme que desconhece a importância dessas
tecnologias. A grande maioria põe em prática essas tecnologias porque assistem o
Globo Rural.
Entende-se que, se dependesse apenas do JTU, esses jovens estariam
desinformados, totalmente. Os percentuais são evidenciados no decorrer da análise e
mostram que há maior interesse pelas tecnologias da Embrapa; que embora um
percentual menor, 15% que conhece o JTU, ainda que possuam certa escolaridade,
não põem em prática essas tecnologias através do JTU, mas, sim, porque assistem o
Globo Rural.
Observa-se então, que a compreensão desses jovens sobre essas divulgação,
não está ligado às questões relacionadas à escolaridade, nem tão pouco a dificuldade
de leitura, ou seja, tem fácil linguagem, segundo o percentual de 85,00% dos
entrevistados. Eles ainda alegam com 100% dos resultados que essas informações
veiculadas pelo jornal JTU com foco nas tecnologias geradas pela Embrapa, ajudam a
promover conscientização de preservação do meio rural. Embora se saiba que essa
conscientização ambiental está relacionada a outras mediações que é o pró-ambiente.
É possível observar que, embora os jovens, na sua grande maioria não utilizam
o jornal como benefício para o seu cotidiano, eles compreendem a linguagem que o
jornal quer passar. Porém, são pouco suficientes em questão de utilizá-los como forma
de melhoria na execução do trabalho em suas propriedades.
A hipótese de que a recepção do JTU pelos agricultores proporciona aos jovens
praticarem as tecnologias da Embrapa nas suas propriedades, isto é, o JTU ser um
veículo de divulgação científica que está ao alcance, recepcionado, dando sentido na
vida dos jovens agricultores, não foi confirmada.
45
Para a execução deste estudo, houve necessidade de um período de onze
meses, dividido em pré-projeto e projeto. A representação gráfica dessas ações do
trabalhos podem ser visualizadas no cronograma a seguir.
5.6 CRONOGRAMA DO ESTUDO
ATIVIDADES Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Definição do tema, objeto de
estudo, objetivos, problema,
justificativa
x x
Revisão da literatura x x x
Elaboração do pré-projeto x x x
Pesquisa de campo x x x
Coleta de dados; resultados e
discussão
x x x
Elaboração e redação do
projeto
x x x
Redação final do Projeto
x x x
Defesa x
46
PARTE VI
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Retomando o objeto de estudo deste trabalho, cumpre fazer-se algumas
considerações, para, ao final, propor sugestões que possam contribuir na minimização
dos problemas encontrados no decorrer da pesquisa.
O estudo de recepção desenvolvido neste trabalho procurou analisar o sentido
das tecnologias geradas pelas pesquisas da Embrapa, veiculadas no Jornal do Trópico
Úmido, junto à juventude camponesa. Esses jovens foram caracterizados na pesquisa
como receptores dessas mensagens.
Para isso, a pesquisa respaldou-se no aporte teórico dos pesquisadores latino-
americanos Nestor Garcia Canclini e Jesus Martin-Barbero que tem impulsionado
estudos de comunicação e cultura na perspectiva das mediações culturais. Busca ver o
receptor como o espaço onde as mensagens adquirem sentido na vida das pessoas.
Nesse sentido, procurou-se um mediador dessa cultura, representada pelo
Jornal do Trópico Úmido que é um veículo rico em informações tecnológicas;
pressupondo-se que a linguagem técnica já está popularizada ao alcance da população
rural; que esse jornal esteja, de fato, na vida dos agricultores; que esses agricultores
estejam lendo e disseminando as informações contidas nos jornais e aplicando nas
suas propriedades rurais.
Entretanto, nota-se que essas informações não estão chegando ao setor
produtivo local o qual neste caso específico, são os agricultores familiares que se
configuram o público – alvo deste estudo. Mais especificamente, o que se buscou, na
pesquisa, foi trabalhar com os jovens agricultores que se pressupõem, indivíduos com
novas mentalidades, com certa escolaridade, com novas visões de mundo, nos dias
atuais. Como diz Canclini – culturas pluralizadas, mundializadas, globalizadas, a partir
dos meios de comunicação da informação.
O estudo de caso proporcionou essa visão, mostrando que apesar da
importância e dos interesses manifestados pelos jovens entrevistados, na verdade, a
47
grande maioria desconhece o Jornal do Trópico Úmido e não praticam as tecnologias
geradas pelas pesquisas da Embrapa, por meio dele.
No que se refere às fontes de informações conclui-se que ainda é
extremamente, fraca a recepção desse veículo de comunicação da Embrapa. Pelo
tempo que o Jornal é editado e pela abrangência de sua distribuição, em nível nacional
e para públicos direcionados, dentre outros, os sindicatos e associações de
trabalhadores rurais, entende-se que os jovens deveriam ter mais acesso e,
conseqüentemente, terem um conhecimento maior sobre as tecnologias geradas pela
Embrapa. As práticas das tecnologias da Embrapa acontecem nas comunidades,
porém através de outras mediações, como Televisão – Programa Globo Rural, Visitas
Técnicas, pesquisadores, cursos, dentre outros.
Portanto, este estudo apresenta algumas sugestões quanto à divulgação das
tecnologias da Embrapa voltada ao público jovem rural.
A divulgação científica deve ser muito mais ampla e de modo a valorizar muito
mais e, principalmente, o público que tem o compromisso pela manutenção alimentar
do mundo que é o setor produtivo rural. Neste caso específico, manifestado pelos
jovens agricultores.
Entende-se que o ponto-chave é a divulgação para todos. É preciso criar uma
consciência pública sobre o valor da ciência. As pessoas sabem muito pouco. Nos
Estados Unidos, apesar de toda a produção de conhecimento, há uma falta de
consciência científica na sociedade. A cultura científica deveria fazer parte da cultura
popular.
Nesse sentido, acreditamos que a intensificação e valorização da Comunicação
Científica e Ambiental voltado ao público Rural no âmbito das Instituições é
fundamental, já o papel desse profissional, dentre outros, é compreender a
comunicação e a cultura de forma indissociável. É esse profissional que busca
compreender as mensagens no espaço da recepção onde as mensagens adquirem
sentido maior, pois o receptor passa a ser o sujeito ativo no processo da comunicação.
48
No caso específico do Jornal do Trópico Úmido da Embrapa, sabe-se de sua
excelência, enquanto fonte de informações científicas, mas a divulgação necessita de
ferramentas mais direcionadas para o público rural.
Sugere-se por fim que a Embrapa reavalie a distribuição do JTU para o meio
rural, de modo a chegar até o agricultor rural, particularmente, ao jovem rural, criando
estratégias que façam com que os jovens agricultores pratiquem as tecnologias
geradas pelas pesquisas em suas propriedades rurais. Esta é a maior contribuição que
se busca neste estudo.
Espera-se que este trabalho configurado num estudo de recepção, junto aos
jovens rurais, possa contribuir para futuras investigações nessa área do conhecimento
e, assim, aumentar cada vez mais o elenco de estudos de comunicação e cultura.
49
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ZANETI, Hermes. Juventude e Revolução. Uma Investigação sobre a atitude
Revolucionária Juvenil no Brasil. Brasília: Edunb, 2001.
53
ANEXO A. QUESTIONÁRIO APLICADO PARA A PESQUISA DE OPINIÃO
PÚBLICA COM OS JOVENS AGRICULTORES.
2. Gênero
Feminino ( ) Masculino ( )
3. Município onde você mora:
4. Faixa etária:
16 a 18 ( ) 19 a 21 ( ) 22 a 25 ( ) 26 a 29 ( ) acima de 30 ( )
5. Escolaridade:
Ensino fundamental ( ) Ensino fundamental incompleto ( ) Ensino médio ( )
Ensino médio incompleto ( ) Ensino superior ( )
6. Há quanto tempo você trabalha no meio rural? Menos de 01 ano ( ) 1 a 2 anos ( ) 3 a 4 anos ( ) 5 a 7 anos ( ) 7 a 10 anos ( ) acima de10 anos ( ) 7. Você se considera um agricultor ou apenas filho de agricultor? Agricultor ( ) Filho de agricultor ( ) 8. Como agricultor, que atividades são desenvolvidas na sua propriedade? ( ) Sistemas Agroflorestais ( ) Agricultura Familiar tradicional ( ) Agricultura Familiar Sustentável ( ) Agronegócios 9. Você conhece a EMBRAPA? Sim ( ) Não ( ) 10. Como agricultor ou filho de agricultor, você tem conhecimento das pesquisas desenvolvidas pela EMBRAPA? Sim ( ) Não ( )
54
11. Como chegam até você às informações das pesquisas desenvolvidas pela EMBRAPA? TV ( ) Rádio( ) Jornal Impresso do local ( ) Globo Rural ( )
Cartilhas da prefeitura local ( ) jornais de sindicatos rurais ( )
12. Você põe em prática as tecnologias desenvolvidas pela EMBRAPA com foco no produtor rural? Sim ( ) Não ( ) 13. Conhece o Jornal do Trópico Úmido da EMBRAPA? Sim ( ) Não ( ) 14. O Jornal é distribuído em todo o Brasil, particularmente ao público rural interessado das pesquisas da EMBRAPA. Você tem acesso com freqüência a esse jornal? Sim ( ) Não ( ) 15. Conhece as tecnologias da EMBRAPA através do Jornal do Trópico Úmido? Sim ( ) Não ( ) 16. Você acha que as tecnologias da EMBRAPA podem ser uma ferramenta na melhoria do meio ambiente? Sim ( ) Não ( ) 17. Quais as ações implementadas na sua propriedade voltadas ao meio ambiente? ( ) Derruba e queima a floresta ( ) Utiliza as tecnologias de reaproveitamento da capoeira* sem precisar queimar ( ) Sistema de plantio está voltado para a sustentabilidade ( ) Planta sem se preocupar com o meio Ambiente ( ) Todas as ações são voltadas a sustentabilidade 18. Você recorre ao Jornal do Trópico Úmido para essas orientações tecnológicas dos recursos naturais ? Sim ( ) Não ( )
55
19. Como você avalia a divulgação dessas informações dadas pelo jornal Trópico Úmido relativo ao meio ambiente sobre assuntos voltados a tecnologias geradas pela EMBRAPA: Excelente ( ) Ótimo ( ) Boa ( ) Razoável ( ) 20. A quantidade de informações que você vem recebendo da EMBRAPA através do Jornal Trópico Úmido para melhor executar o seu trabalho é: Suficiente ( ) Pouco suficiente ( ) Insuficiente ( ) 21. E essa informação que você vem recebendo da EMBRAPA por meio do jornal tem ajudado você a compreender como funcionam os processos tecnológicos? Sim ( ) Não ( ) 22. Você acha que essas informações ajudam a promover conscientização de preservação do meio rural? Sim ( ) Não ( ) 23. Como você avalia a linguagem adotada pelo Jornal do Trópico Úmido: Excelente ( ) Muito boa, compreensível ( ) Razoável ( ) 24 No seu município já foram promovidas atividades que divulgam Esses tipos de tecnologias para a melhoria do meio ambiente? Sim ( ) Não ( ) 25. Há um intercâmbio entre a EMBRAPA e o seu município sobre essas tecnologias? Sim ( ) Não ( ) 26. De um modo geral a sua comunidade emprega técnicas de tecnologias para o bom funcionamento do meio ambiente? Sim ( ) Não ( ) 27 Você acredita que ainda faltam ferramentas que divulguem esses tipos de técnicas? Sim ( ) Não ( )
56
28. A comunidade na qual você vive é consciente em relação ao meio ambiente, ou seja, produz sem desmatar ou agredir o meio? Sim ( ) Não ( ) 29. Você acredita que a conscientização juvenil poderá desenvolver a conscientização de toda a sociedade? Sim ( ) Não ( ) 30. Assinalar as áreas que são mais beneficiadas na preservação meio ambiente na sua propriedade de acordo com as informações repassadas pelo Jornal: Pecuária ( ) Floresta ( ) Agrofloresta ( )
57
ANEXO B. EXEMPLAR N. 54 DO JORNAL DE ESTUDO
Figura 5. JORNAL DO TRÓPICO ÚMIDO – Órgão de divulgação da EMBRAPA
Amazônia Oriental, Ano XVIII, N. 54, Julho a Setembro de 2006, Belém, Pará.
58
ANEXO C. EXEMPLAR N. 57 DO JORNAL DE ESTUDO
Figura 6. JORNAL DO TRÓPICO ÚMIDO – Órgão de divulgação da EMBRAPA
Amazônia Oriental, Ano XVIII, N. 57, Abril a Junho de 2007, Belém, Pará.
59
ANEXO D. EXEMPLAR N. 58 DO JORNAL DE ESTUDO
Figura 7. JORNAL DO TRÓPICO ÚMIDO – Órgão de divulgação da EMBRAPA
Amazônia Oriental, Ano XVIII, N. 58, Julho a Setembro de 2007, Belém, Pará.