Subjetividades e identidades múltiplas na era da comunicação digital e das redes sociais.

22
AS SUBJETIVIDADES E AS IDENTIDADES MÚLTIPLAS NA ERA DA COMUNICAÇÃO DIGITAL E DAS REDES SOCIAIS. Luciana Prado 1 Resumo Faz sentido neste momento em que se vive no século XXI, momento de encurtamento de distâncias na era da tecnologia das redes de computadores, da internet, da globalização e da requisição profunda de todos os sentidos humanos no mundo das cidades modernas e cheias de luzes e sons e múltiplas formas de atração de interesse de um indivíduo qualquer, citar uma frase que se tornou uma referência recente, mas profundamente instigante, do sociólogo polonês Zygmund Bauman, em Modernidade Liquida (2001) na qual ele diz: “Ter uma identidade fixa é hoje, neste mundo fluido, uma decisão de certo modo suicida”. O que propõe este artigo é discutir os conceitos de alguns autores que tratam da questão da formação das subjetividades e das identidades, com o foco principal na participação da mídia em geral neste processo contínuo de produção de subjetividades e da referência de identidade dos indivíduos que se inserem nas redes sociais para buscar algum modo de compartilhamento de sentimentos, emoções, e visibilidade, esta completamente ligada ao seu contrário, a possibilidade de vigilância licenciada pelo indivíduo. 1 Luciana Prado, mestranda em Mídia e Cultura, e-mail: [email protected] . Trabalho apresentado como conclusão da disciplina Estudos Avançados em Mídia e Cultura, professora Dª Suely Gomes.

Transcript of Subjetividades e identidades múltiplas na era da comunicação digital e das redes sociais.

Page 1: Subjetividades e  identidades múltiplas na era da comunicação digital e das redes sociais.

AS SUBJETIVIDADES E AS IDENTIDADES MÚLTIPLAS NA ERA DA COMUNICAÇÃO DIGITAL E DAS REDES SOCIAIS.

Luciana Prado1

Resumo

Faz sentido neste momento em que se vive no século XXI, momento de encurtamento

de distâncias na era da tecnologia das redes de computadores, da internet, da globalização e da

requisição profunda de todos os sentidos humanos no mundo das cidades modernas e cheias

de luzes e sons e múltiplas formas de atração de interesse de um indivíduo qualquer, citar uma

frase que se tornou uma referência recente, mas profundamente instigante, do sociólogo

polonês Zygmund Bauman, em Modernidade Liquida (2001) na qual ele diz: “Ter uma

identidade fixa é hoje, neste mundo fluido, uma decisão de certo modo suicida”. O que propõe

este artigo é discutir os conceitos de alguns autores que tratam da questão da formação das

subjetividades e das identidades, com o foco principal na participação da mídia em geral neste

processo contínuo de produção de subjetividades e da referência de identidade dos indivíduos

que se inserem nas redes sociais para buscar algum modo de compartilhamento de

sentimentos, emoções, e visibilidade, esta completamente ligada ao seu contrário, a

possibilidade de vigilância licenciada pelo indivíduo.

Palavras chave: subjetividades, identidade, redes sociais, contemporaneidade.

Considerações sobrea relação do indivíduo com a mídia e a formação das suas

identidades.

Como o filósofo e político italiano, Antônio Negri, escreve em um de seus artigos “A

Infinitude da comunicação e a finitude do desejo”, parte da obra Imagem-máquina: a era das

tecnologias do virtual, organizado por André Parente, “a relação mídia-espectador nunca foi

tão satanizada, e isso só faz piorar. Não só isso se pretendeu dar da mensagem da mídia uma

imagem de uma rajada de metralhadora que se abate sobre o espectador-alvo miserável e o

1 Luciana Prado, mestranda em Mídia e Cultura, e-mail: [email protected]. Trabalho apresentado como conclusão da disciplina Estudos Avançados em Mídia e Cultura, professora Dª Suely Gomes.

Page 2: Subjetividades e  identidades múltiplas na era da comunicação digital e das redes sociais.

aniquila” (2008, p. 175). No contexto de seu pensamento Negri nega esse olhar, para ele já

muito superado, de uma esquerda advinda da escola crítica de Frankfurt, que não deixa de ter

muita razão em várias de suas críticas, adverte ele, mas que não pode aceitar que o indivíduo

não é uma massa amorfa, um bando de zumbis que deglutem tudo o que lhes é imposto pela

mídia. Continua ele, “É verdade que não somos insensíveis à degradação do gosto e do saber

coletivo, nem tampouco à colonização dos universos de vivência. Além do mais, parece-nos

evidente que a máquina da mídia não produz em absoluto efeitos com toda inocência” (2008,

p.176). Ele concorda que no sistema atual a mídia ainda produz conscientemente códigos

“infectos e epidêmicos”, suas palavras que impedem de certo modo a produção de

mecanismos simbólicos de subjetividade, que induz em muitos momentos a uma seleção

estratégica de conteúdos de informação que são reduções à mera mercadoria e à futilidade.

Mas, reflete também sobre o fato de os seres humanos não são unidimensionais, e por isso

mesmo não podemos crer que o indivíduo não tenha condições próprias de criar mecanismos

de fuga a tais estratégias midiáticas, assim como não possa produzir suas subjetividades que

se apoiem em uma autopoiese, na operatividade criativa, coletiva que também ajam no mundo

da comunicação, formando caminhos de resistência dentro do próprio sistema de

comunicação e da mídia. Um dos caminhos que ele, e outros autores acreditam que possa se

dar essa “liberdade” e a formação de novas subjetividades passa pelo contexto de máquinas e

trabalho, aqui considerados como instrumentos cognitivos e de autoconsciência poiética, de

novo ambiente e de nova cooperação. Para ele o trabalho humano de produção de uma nova

subjetividade ganha toda sua consciência dentro desta nossa era e do horizonte virtual, aberto

cada vez mais pelas tecnologias da comunicação, onde ele diz:

“Estamos entrando numa era ‘pós-mídia’, de consciências comunicantes, dos indivíduos cooperantes se portando capaz de levar a cabo, radicalmente, a transformação social, sem outro limite senão a finitude de nosso desejo. Uma finitude que tem como único obstáculo a in-finitude da tarefa” (2008, p. 175).

A visão de Negri se apresenta bastante otimista, principalmente partindo de um

filósofo marxista. Mas é, de certa forma corroborada por Santaella ao discutir um dos temas

mais frequentes entre as pessoas que estão refletindo sobre as questões que emergem da

cibercultura, que é a questão das identidades múltiplas que o usuário do ciberespaço pode

desenvolver em seus diversos ambientes. E isso ocorre porque, segundo ela, longe de ser uma

Page 3: Subjetividades e  identidades múltiplas na era da comunicação digital e das redes sociais.

comunicação linear entre emissor e receptor, a relação entre o eu e o (s) outro (s) fica

permeada de ambiguidades que são geradas por diversos fatores, principalmente pela

facilidade do anonimato, pela construção múltipla de identidades nos vários espaços que a

internet propicia. Mas o que Lúcia Santaella faz, no seu livro “Linguagens líquidas na era da

mobilidade” (2011) é também discutir esta noção de identidade, tendo como vista desconstruir

a crença de que a multiplicidade identitária só ocorra no ciberespaço, em suas palavras:

“Longe disso, identidades são sempre múltiplas. A ideia de que a identidade possa ser con-sistentemente uma e engessada sustenta-se sobre uma noção de sujeito e subjetividade herdada do cartesianismo e já vem sendo colocada em crise pela filosofia e pela psicanálise há pelo menos um século. Se as identidades são sempre múltiplas, então porque o tema identidade tornou-se tão proeminente na cultura digital? O que os ambientes ciberespaciais modificaram em relação ao tema?” (2011, p.83-84).

Partindo deste ponto vamos investigar um pouco mais a questão da noção de

identidades, das subjetividades partindo de olhares do filósofo francês Michel Foucault e

posteriormente por olhares da psicanálise, pois como foi dito por Santaella, já há pelo menos

um século estes temas já fugiram da ideia do homem como sujeito racional, reflexivo, senhor

dos comandos de seus pensamentos e ações como nos pressupostos Kantianos, hegelianos,

fenomenológicos e até dos existencialistas.

Contribuições de Foucault para uma visão do indivíduo e sua subjetividade

Já na obra Vigiar e Punir Michel Foucault fornece aos leitores uma análise histórico-

filosófica profunda sobre a estruturação de organização da sociedade Ocidental nos últimos

séculos. Através de uma análise que tem como foco o sistema punitivo-legal ao longo dos

séculos. Porém norteado pela construção histórica das punições submetidas ao corpo durante

os séculos e narrando estes fatos ele chega a história mais recente da modernidade, concluindo

que por meios mais requintados se chega ao sistema do panoptismo como forma de vigilância

e controle sobre os corpos não só nas prisões, do sistema carcerário, mas também do

funcionamento das fábrica e dos sistemas escolares, por exemplo. Para Foucault, a história do

Ocidente é uma história que pode ser reconstruída sob a ótica do binômio ‘vigiar e punir’.

Dentro do contexto sob o qual o autor estruturou esta temática que poderia ser

demonstrada em qualquer âmbito do cotidiano histórico, mas que nesta obra está mais

diretamente relacionada com a dimensão judiciária, ele mesmo deixa claro o objetivo de seu

livro: “uma história correlativa da alma moderna e de um novo poder de julgar; uma

Page 4: Subjetividades e  identidades múltiplas na era da comunicação digital e das redes sociais.

genealogia do atual complexo científico-judiciário onde o poder de punir se apoia, recebe suas

justificações e suas regras, estende seus efeitos e mascara sua exorbitante singularidade”

(p.23).

Mas na concepção da nossa temática nos interessa lançar um olhar sobre o que ele

estabelece na terceira parte do livro intitulada de “Disciplina” (p. 117-187) que constitui por

assim dizer o coração da demonstração do novo sistema punitivo engendrado a partir do

século XVIII. Aqui neste ponto ele de descreve as facetas ‘modernas’ da criação da disciplina

como forma de inscrever na representação o ideário de ‘vigiar e punir’.

No capítulo I (p. 117-142), o autor relata as ‘modernas’ formas e tecnologias para criar

“corpos dóceis”. Uma dos requisitos seria a “arte das distribuições”, isto é, distribuições de

espaço e de corpos no espaço. Deve haver uma tendência a criar a disciplina a partir da arte de

distribuição. Um lugar certo para cada corpo, as filas, a ordem, as senhas que ainda

conhecemos tão bem no nosso mundo moderno. Um segundo ponto é o controle da atividade

dos corpos distribuídos no espaço, ou seja, o que se pode fazer e onde, e principalmente o que

não se pode ou deve fazer diante da sociedade, o que também se aprende desde cedo. A

organização das gêneses e a composição das forças também fazem parte deste ideário de

controle social, ou seja, quem manda e quem detém o poder, por exemplo, deve estar claro

dentro do esquema de controle e vigilância da sociedade moderna. Mas adiante, o autor trata

dos “recursos para o bom adestramento” (p. 143-162). E neste ponto deixa claro que o melhor

caminho para o ‘bom adestramento’ é a vigilância hierárquica, tão representativa nos modelos

de todo funcionamento da sociedade, desde a família, com o pai e mãe, até as regras impostas

pelo Estado a população em geral, que também podemos citar como exemplos que se

encaixam na rotina da vida cotidiana moderna e contemporânea. O autor mesmo demonstra

isso no exemplo de escolas e também de fábricas, com a distribuição de micro-poderes de

vigilância autorizados por uma autoridade hierárquica superior.

Foucault reflete que toda lógica militar reside sobre esse princípio. A sanção

“normalizadora”, que deve ser genérica, bem como o “exame”, aqui subentendido como as

provas, seleções, que se configuram em outras formas utilizadas para um bom adestramento

dos corpos. “O exame combina as técnica da hierarquia que vigia e as da sanção que

normaliza” (p. 154). Neste ponto ele nos diz que “a escola torna-se uma espécie de aparelho

de exame ininterrupto que acompanha em todo o seu comprimento a operação do ensino” (p.

155). E por mais estranho que possa parecer é na vigilância e na normalização que se opera

Page 5: Subjetividades e  identidades múltiplas na era da comunicação digital e das redes sociais.

uma ‘individualização’. Mas de modo algum é uma individualização ‘ascendente’, que projeta

a pessoa para o cenário principal, de uma criatividade e modos de subjetividades próprios. Em

cenário de regime disciplinar, a individualização, ao contrário, é descendente à medida que o

poder se torna mais anônimo e mais funcional. Os indivíduos sobre quem se exerce o poder

tendem a ser mais fortemente individualizados, passando a se medirem uns aos outros, por

medidas comparativas que têm a “norma” como referência, e não por genealogias que dão os

ancestrais como pontos de referência; mais por “desvios que por proezas” (p. 160-1).

Se a visão do filósofo francês sobre a subjetividade dos indivíduos é um tema debatido

e controverso em muitos momentos por outros autores, em decorrência do fato de ter sido

trabalhado de modo diferente em outras obras, tome-se como referência o modelo por ele

exposto em Vigiar e Punir, onde a sensação é a de que o indivíduo torna-se quase um robô das

regras sociais que lhe são impostas. Do contexto desta obra, que traça uma reflexão ampla da

sociedade, se pode buscar uma ligação para tentar compreender como e porque no mundo

contemporâneo e dentro do nosso estudo sobre as relações de exposição e diálogos nas redes e

mídias sociais, algumas das considerações do filósofo francês ainda estão vivas.

Sua ideia do panóptico que é era a imagem de um edifício em forma de anel, no meio

do qual havia um pátio com uma torre no centro. O anel dividia-se em pequenas celas que

davam tanto para o interior quanto para o exterior. Em cada uma dessas pequenas celas, havia,

segundo o objetivo da instituição, uma criança aprendendo a escrever, um operário a trabalhar,

um prisioneiro a ser corrigido, um louco tentando corrigir a sua loucura, etc. Na torre havia

um vigilante. Como cada cela dava ao mesmo tempo para o interior e para o exterior, o olhar

do vigilante podia atravessar toda a cela; não havia nenhum ponto de sombra e, portanto, tudo

o que o indivíduo fazia estava exposto ao olhar de um vigilante que observava através de

persianas, de modo a poder ver tudo sem que ninguém ao contrário pudesse vê-lo.

Na discussão da temática dos homens modernos inseridos e imersos nas atividades do

ciberespaço, muitos questionamentos são levantados sobre a possibilidade de que o homem

contemporâneo esteja ainda mais vigiado que em todas as outras épocas. Isto, porque na era

da comunicação mediada por diversas tecnologias de rede, o homem em geral festeja sua

liberdade, mas acaba se expondo tranquilamente aos regimes de vigilância tão previsíveis

dentro das regras da Internet, por exemplo. Seus gostos, seus desejos, suas memórias, toda a

sua vida enfim fica gravada, “para todo o sempre”, uma vez inseridos na rede mundial de

computadores. As mídias sociais, como o Faceboock, por exemplo, a cada curtir de um

Page 6: Subjetividades e  identidades múltiplas na era da comunicação digital e das redes sociais.

indivíduo vai traçando seu perfil “mercadológico” e o repassando às empresas parceiras,

prontas para ampliar o leque de desejos do indivíduo, fornecendo a ele mais e mais daquilo

que ele deve e deseja consumir. Então, não seria incorreto suscitar a ideia de que estariam

todos sendo vigiados, observados, e principalmente, facilmente rastreados pelos IP´s - Internet

Protocolo, que é o protocolo base de toda a Internet, que faz o roteamento de pacotes entre

sistemas TCP/IP dos computadores, que pode em minutos dizer a exata localização do usuário

e o dono da máquina que processou qualquer tipo de entrada de informação.

Já nas suas últimas obras, prioritariamente de um modo aprofundado nos volumes que

tratam da história da sexualidade, do saber, da ética e do cuidado de si como prática de

liberdade, o autor vai tratar das formas de produção de subjetividades e das formas de

estetização da existência, que darão novos contornos e possibilidades de “fuga” aos regimes

de vigiar e punir, o que para a contemporaneidade passou a ficar cada vez mais difícil, frente a

tantas câmeras, e mesmo a facilidade com que muitos desejam mesmo se expor diante do

outro, em tempos de big-brother, geolocalização instantânea, e tantos outros recursos que

permitem que o indivíduo esteja o tempo todo sendo monitorado, na maioria dos casos

conscientemente e por vontade própria.

Michel Foucault vai buscar na experiência histórica greco-romana os conceitos acerca

das estéticas da existência, como estilos de vida diferenciados. Para ele, nas civilizações

antigas greco‐romanas, concentrando‐se nos anos I e II AC., haveria uma experiência pautada

na afirmação da liberdade e na ética, com o intuito de criação de uma existência boa e bela

(FOUCAULT, 2006 ‐ A: p.268). Haveria aí prescrições e cânones coletivos, porém sem a

constituição de um código de regras como viria a se instaurar no cristianismo, cumprido por

meio da obediência a uma vontade soberana de Deus. Com o cristianismo, vimos se inaugurar

lentamente, progressivamente, uma mudança em relação às morais antigas, que eram

essencialmente na Antiguidade, a vontade de ser um sujeito moral, a busca de uma ética da

existência era principalmente um esforço para afirmar a sua liberdade e para dar à sua própria

vida certa forma na qual era possível se reconhecer ser reconhecido pelos outros, e na qual a

própria posteridade podia encontrar um exemplo. (FOUCAULT, 2006 - B: p.289-290).

Toda essa abordagem constitui uma perspectiva ontológica que diz respeito a como

os sujeitos são constituídos em relações de poder e de saber, e também na relação consigo.

Para o pensador, é na dimensão ética expressa na relação de si para consigo que o indivíduo

pode confrontar o poder e criar um modo de vida mais livre e intensificado. Governar a si

Page 7: Subjetividades e  identidades múltiplas na era da comunicação digital e das redes sociais.

mesmo, as suas paixões desenfreadas, preceitos muito significativos na autarquia antiga,

define‐se então pela capacidade de dar forma a si próprio e de modular seus próprios valores,

não se submetendo a uma moral dominante e normalizadora.

Mas é relevante lembrar que Foucault, ao tratar de processos culturais e históricos,

sempre tinha no horizonte a discussão sobre a própria atualidade: a questão do presente. No

momento em que ele investiga as estéticas da existência na experiência greco‐romana, quer

marcar uma diferença, um estranhamento em relação ao presente, não faz um estudo da

antiguidade somente como um intuito historicista. Ele deixa claro que o anseio de constituir a

si mesmo como um indivíduo livre, um cidadão da polis, é um dos objetivos dessa

experiência antiga.

Em linhas gerais ele postula que esse objetivo é constituído por práticas com uma

intenção de transformação e atenção a si mesmo chamadas por Foucault de técnicas de si.

Consistiam em áreas de atenção como a alimentação ‐ a dietética, as relações amorosas ‐ a

afrodisia, a elaboração de si pela escrita, como os cadernos de anotação chamados

Hupomnêmatas, o falar francamente ‐ como a parrésia cínica (FOUCAULT, 2006 ‐ C, p.147 e

2009, p.248). Todas estas ações, que seriam elementos chave nas relações greco-romanas,

estavam destinadas à constituição de um cidadão e, nesse sentido, as artes da existência

contemplavam o cuidado com o outro, a constituição de si por meio de relações de amizade,

de amor e de aprendizado ‐ é possível que o termo “cuidado de si” possa parecer

erroneamente aos ouvidos do mundo contemporâneo como uma espécie de egocentrismo.

Mas trata‐se para Foucault de investigar outra relação possível com as normas, as prescrições

e com a verdade – ao mesmo tempo lembrarmos que olhamos ainda dentro da tradição

ocidental – fazendo surgir um espaço diferenciado de construção de si.

Neste ponto também é interessante observar considerações atuais sobre o que foi

observado por Foucault na forma de registro e vivência das sociedades antigas e o que vem

ocorrendo no mundo da comunicação mediada por redes de computadores e, particularmente

pelas redes sociais. Na visão do grupo Sociotramas, que é um grupo de pesquisa dedicado ao

estudo das redes sociais na internet e temas circundantes, e que reúne pesquisadores ligados

ao Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica e ao Programa de

Estudos Pós-Graduados em Tecnologias da Inteligência e Design Digital da PUC-SP,

encontra-se uma reflexão interessante sobre uma possível ligação do tema Hupomnêmatas e a

criação da timeline no Faceboock, em meados de setembro de 2011. Na avaliação feita pela

Page 8: Subjetividades e  identidades múltiplas na era da comunicação digital e das redes sociais.

autora do post, Patrícia Fonseca Fayana, em seu comentário publicado em junho de 2012,

encontramos a seguinte declaração:

Nos registros dos usuários, o tempo subjetivo e afetivo se revela em observações e comentários sobre acontecimentos do dia a dia; em avisos, frases retiradas de um livro qualquer ou trechos de músicas preferidas; em fotos dos eventos de família, das viagens e das crianças; em links para vídeos, matérias jornalísticas ou artigos assinados; em manifestações de caráter religioso, político ou humanitário; e assim por diante. Difícil não se recordar de Foucault, em A Escrita de Si (1983). Ele nos conta sobre os hupomnêmata, que podiam ser livros de contabilidade ou cadernetas de anotações que “constituíam uma memória material das coisas lidas, ouvidas ou pensadas”. Não eram diários íntimos e tampouco simples suportes para o exercício da memória — nem tinham como função guardar segredos ou revelar o desconhecido, mas justamente o contrário: reunir e registrar o já dito, o já lido e o já ouvido por alguém, com a finalidade de, em momentos posteriores de reflexão, confrontar esses fragmentos de discurso consigo mesmo e seus pensamentos e ideias. Os hupomnêmata se constituíam, portanto, em importantes auxiliares da subjetivação do discurso e, por isso mesmo, contribuíam efetivamente para a formação da consciência de si — gnôthi seautón ou “conhece-te a ti mesmo”, atribuído a Sócrates — um conceito caro aos gregos. Os posts dos usuários na Timeline do Facebook e os hupomnêmata dos gregos parecem guardar algumas semelhanças entre si. Em ambos os casos, os registros se configuram como um misto de pontos de vista sobre as coisas do mundo, de caráter particular — porém, de acesso público. Outra semelhança aparente é que, em ambos os casos, os registros não buscam a fidelidade à realidade, mas a fixação de um ponto de vista.Se para os gregos a escrita dos hupomnêmata ajudava-os a combater a stultitia (agitação da mente, a instabilidade da atenção), em tempos de redes sociais, em que a tal  stultitia parece reinar entre os internautas, os posts no Facebook — aparentemente inúteis, cansativos e sem significado, como observam alguns — talvez possam se revelar de grande utilidade na for-mação de um gnôthi seautón contemporâneo (2012).

No entanto, observa-se que nem toda prática de si prevê uma positivação das

experiências vividas e da relação com o outro. Ao contrário, com o decorrer da história, o que

presenciamos hoje é um profundo grau de massificação, espetacularização da vida, dos fatos

do cotidiano, e uma desvalorização vivenciada pelos indivíduos, cada vez mais atomizados e

dependentes de mercadorias desenhadas para a satisfação imediata e fugaz.

Outras visões das relações de subjetividade no mundo contemporâneo

No mundo ocidental, mas claramente, consegue-se observar por todo lado políticas de

subjetivação produtoras de “subjetividades mercadológicas”, em que as relações com o

mundo e consigo são empobrecidas, em favor dos contatos flutuantes estimulados pelo

capitalismo da informação (ROLNIK, 2005, p. 44).

O mundo contemporâneo demarcado pelo individualismo também se associa ao

consumismo, configurando aquilo que Debord (1997) chama de sociedade de consumo

Page 9: Subjetividades e  identidades múltiplas na era da comunicação digital e das redes sociais.

ostentatório e do espetáculo, com a busca do prazer incessante e a obsessão pela imagem

perfeita, de corpos e almas, tudo isso reforçado pelas ilusões farmacológicas para regular o

mal-estar. É também uma “cultura do narcisismo”, segundo propõe o historiador Chistopher

Lasch (1983), em sua obra, “A cultura do narcisismo”, na qual ele reflete sobre o que importa

nos tempos modernos e na cultura americana, particularmente, é a exaltação gloriosa do

próprio eu, uma cultura na qual não há lugar para a existência do amor, amizade, pois o que

interessa a cada um é o gozo predatório sobre o outro e sobre o seu corpo, que é tratado como

um anônimo qualquer, sem rosto. É, então, uma forma de estruturação que aponta muito mais

para uma “cultura de morte” do que para uma “cultura de vida”.

Outra característica deste tempo, apontada pelo sociólogo Bauman (1998), são os

fundamentalismos e seus fascínios, que prometem isentar cada um dos sujeitos das agruras da

escolha, ofertando-lhes uma autoridade indubitavelmente suprema. Os fundamentalismos

apresentam-se como um remédio de ordem radical para esse veneno da sociedade de consumo

ostentatório, pois oferecem ao indivíduo um caminho pré-determinado a ser percorrido, sendo

então uma certeza na incerteza característica do mundo pós-moderno. Podemos ainda destacar

neste contexto um processo de estetização generalizado. Em “Vida para o consumo”,

Bauman nos desenha um retrato particular do que estaria se tornando o sujeito moderno nos

dias de cultura do consumo:

As mercadorias confessam tudo que há para ser confessado, e ainda mais - sem exigir reci-procidade. Mantêm-se no papel de "objeto" cartesiano - totalmente dóceis, matérias obedientes a serem manejadas, molda se colocadas em bom uso pelo onipotente sujeito. Pela simples docilidade, elevam o comprador à categoria de sujeito soberano, incontestado e desobrigado - uma categoria nobre e lisonjeira que reforça o ego. Desempenhando o papel de objetos de maneira impecável e realista o bastante para convencer, os bens do mercado suprem e rea-bastecem, de forma perpétua, a base epistemológica e praxiológica do "fetichismo da sub- jetividade". Como compradores, fomos adequadamente preparados pelos gerentes de marketing e redatores publicitários a desempenhar o papel de sujeito - um faz-de-conta que se experi-menta como verdade viva; um papel desempenhado como "vida real", mas que com o passar do tempo afasta essa vida real, despindo-a, nesse percurso, de todas as chances de retorno. E à medida que mais e mais necessidades da vida, antes obtidas com dificuldade, sem o luxo do serviço de intermediação proporcionado pelas redes de compras, tornam-se "comodizados" (a privatização do fornecimento de água, por exemplo, levando invariavelmente à água engar-rafada nas prateleiras das lojas), as fundações do "fetichismoda subjetividade" são ampliadas e consolidadas. Para completar a versão popular e revista do Cogito de Descartes, "Compro, logo sou...", deveria ser acrescentado "um sujeito". E à medida que o tempo gasto em compras se torna mais longo (fisicamente ou em pensamento, em carne e osso ou eletronicamente), multiplicam-se as oportunidades para se fazer esse acréscimo. (2008, p. 27).

Page 10: Subjetividades e  identidades múltiplas na era da comunicação digital e das redes sociais.

Estas proposições elaboradas por Bauman também se inserem dentro do nosso objeto

de pesquisa das novas formas de comunicação em redes sociais, e nos leva ao conhecimento

de algumas questões sobre as quais também se pode refletir, pois segundo o sociólogo, Cada

vez mais pessoas preferem comprar em websites do que em lojas. E tal fato se daria pela

enorme conveniência (entrega em domicílio) e economia de gasolina, por exemplo poderiam

compor a explicação mais imediata, mas para Bauman estas são razões mais rasas e parciais

que escondem uma tendência de esconder o conforto espiritual obtido ao se substituir um

vendedor pelo monitor , pois nas suas palavras:

Um encontro face a face exige o tipo de habilidade social que pode inexistir ou se mostrar inadequado em certas pessoas, e um diálogo sempre significa se expor ao desconhecido: é como se tornar refém do destino. É tão mais reconfortante saber que é a minha mão, só ela, que segura o mouse e o meu dedo, apenas ele, que repousa sobre o botão. Nunca vai acontecer de um inadvertido (e incontrolado!) trejeito em meu rosto ou uma vacilante, mas reveladora expressão de desejo deixar vazar e trair para a pessoa do outro lado do diálogo um volume maior de meus pensamentos ou intenções mais íntimas do que eu estava preparado para divulgar. (2008, p.28)

Os avanços tecnológicos de um mundo globalizado também reforçam todo esse

panorama, pois permitem cada vez mais aos sujeitos do mundo moderno/contemporâneo a

ilusão de suportar o tempo marcadamente acelerado, estabelecendo comunicações variadas

em qualquer lugar e momento. Assim, as novas e recentes tecnologias, como, por exemplo, a

internet e o celular, podem ter um efeito de fascínio sobre cada um, pois oferecem uma ilusão

de liberdade de escolha, que parece infinita, mas que, ao mesmo tempo, demarcam uma

ausência de intimidade, pois o sujeito pode ser localizado a qualquer tempo e em qualquer

lugar. Essa ilusão parece proteger o sujeito do medo do encontro, do íntimo e do contato com

o outro.

A modernidade alimentou a ilusão de que tais forças da natureza, o controle do corpo e

do tempo poderia ser controlado pela tecnologia, pela ciência e pela razão. O ideal de

autossuficiência, que a liberdade e autonomia para qual o homem moderno foi educado viria a

protegê-lo, quem sabe, do incômodo do inferno que são os outros, parafraseando Sartre. O

que se vê hoje, então é a hipervalorizarão do “cada um estar na sua” ou do “estar bem aqui e

agora”, a importância do autoconhecimento, do “ser mais eu”. Dezenas de terapias, religiões e

seitas, que se colocam hoje como alternativa para formar o homem para a felicidade e sucesso

(MARIN, 2004, p. 89).

Page 11: Subjetividades e  identidades múltiplas na era da comunicação digital e das redes sociais.

Mas como dissemos anteriormente são inúmeras as propostas de debates e visões do

homem e da sua subjetividade na era moderna na trincheira do uso das novas formas de

comunicação, e postulados como o de Lucia Santaella (2011), aqui novamente nos ancorando

nesta discussão, vem reforçar um olhar psicanalítico de onde a imagem do eu sempre foi

produto de uma construção imaginária. E é essa essência que nos ilude quanto à existência de

uma forma coerente e unificada do ser humano. Santaella nos diz que, “para Jung, por

exemplo, o eu é um ponto de encontro de arquétipos diversos (...) Lacan (1982) demonstrou

que o ego é, na realidade, uma coleção desordenada de identificações e a ilusória unidade do

eu é uma projeção do imaginário” (2011, p.86). E a autora ainda no propõe a pensar que hoje

fala-se da subjetividade socialmente construída, descentrada, múltipla, inscrita na superfície

do corpo, produzida pela linguagem e muitas outras formas, como por exemplo a imagem de

subjetividade delineada por Edgar Morin (1996), “quando este enfatiza que a incerteza

existencial é a marca do propriamente humano, do que decorre de fundar o pensamento na

ausência de fundamento e reinventar o sujeito a partir da lógica do ser vivo: bio-lógica”

(2010. P, 87). Por fim, mas não como proposta de ter esgotado todas as possibilidades e

autores que debatem o sujeito e sua subjetividade no mundo contemporâneo, temos também

as visões de uma subjetividade polifônica proposta pelo filósofo Félix Guattari, para o qual a

subjetividade coletiva é engendrada “por componentes semióticos irredutíveis a uma tradução

em termos de significantes estruturais e sistêmicos” (1992. p, 162). Então por essa sua

perspectiva não se poderia falar do sujeito em geral e de uma “enunciação perfeitamente

individualizada, mas de componentes parciais e heterogêneos de subjetividade e de

agenciamentos coletivos de enunciação que implicam multiplicidades humanas, mas também

devires animais, vegetais, maquínicos, incorporais e infrapessoais” (idem. p, 162).

Inserindo mais um pensamento que nos provoca e nos induz a fazer analises sobre as

formações possíveis das subjetividade do indivíduos encontramos também em Santaella, na

obra “Corpo e Comunicação”(2008), uma passagem que retoma os pensamentos de Freud

onde o psicanalista, segundo Santaella, promove a universalização do sintoma, propondo que

todas as produções do espírito são sintomas, podendo inclusive ser transmitido o conceito de

sintoma de cultura onde não há nenhuma pretensão de uma construção de inconsciente

coletivo e sim, segundo ela nos explica uma proposta do psicanalista de ficções coletivas que

conduzem a eficácia de cada inconsciente, segundo ela:

Assim sendo, os sintomas variam em função das ficções de cada época. Sendo uma con- sequência do tipo de recalque próprio de cada cultura, os sintomas também variam de acordo

Page 12: Subjetividades e  identidades múltiplas na era da comunicação digital e das redes sociais.

com a cultura, quer dizer, há sintomas novos tantos quantos forem os novos modos de gozo. (...) Cabe, portanto a pergunta: quais seriam os modos de gozo do mundo contemporâneo, das sociedades pós-modernas do capitalismo tardio? De um mundo que vem assistindo ao colapso irremediável do projeto civilizatório iluminista com suas propostas de emancipação humana através de um conjunto de valores e ideais, consubstanciados em tendências como o racio-nalismo, o individualismo e o universalismo . (SANTAELLA, 2008, p. 139).

Nas avaliações de Santaella (2008), tudo faz crer que dentro de uma cultura

caracterizada pela hegemonia da ciência e da tecnologia, dominada pela força potente do

mercado que promete ilusoriamente a satisfação de todos os desejos e necessidades, e que

agora tentam agarrar até mesmo os consumidores/indivíduos das classes E dos países

periféricos, a sugestão lacaniana, para a autora carrega um grande significado de que um dos

aspectos do gozo na sociedade capitalista esteja encerrado dentro dos modelos do consumo

pelo consumo, como forma de obtenção de uma falsa satisfação, produção de subjetividades

“líquidas” e fugidias.

Conclusão

Longe de presumir encerrar a discussão proposta por este artigo o que se pretende é

somente fazer um fechamento onde o que parece mais razoável diante deste debate é tentar

fazer compreender que o sujeito não é unificado, suas subjetividades são uma construção

incessante, de acordo com vários autores a análises que apresentamos. E principalmente o fato

de que o indivíduo estar inserido nas redes sociais com seus codinomes, suas fantasias e seus

múltiplos eu´s não se perfaz nenhuma grande novidade, já que no mundo do real cotidiano

face a face todos estão também sujeitos a vários papéis contextualizados de acordo com a

cena em que estão, e não existe uma separação nítida entre a realidade fora do ciberespaço

onde sim, habitam e proliferam identidades múltiplas e linguagens múltiplas que se

desenrolam num processo que se constrói na vivência de cada um.

Bibliografia

BAUMAN, Zigmunt. O mal-estar da pós-modernidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.

BAUMAN, Zigmunt. Tempos líquidos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007.

________ Vida para consumo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.

________. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001

Page 13: Subjetividades e  identidades múltiplas na era da comunicação digital e das redes sociais.

DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.

FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade I: a vontade de saber. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1999.

__________ A ‐ “A ética do cuidado de si como prática da liberdade”. In. Ditos e escritos V

__________ ética, sexualidade e política. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006, pp. 264‐287.

__________ B ‐ “Uma estética da existência”. In. Ditos e escritos V – ética, sexualidade e política. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006, pp. 288‐293.

__________ C ‐ “A escrita de si”. In. Ditos e escritos V – ética, sexualidade e política. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006, pp. 144‐162.

FAYNA, Patrícia Fonseca. http://sociotramas.wordpress.com/2012/06/25/os-hupomnemata-e-os-posts-do-facebook/ OS HUPOMNÊMATA E OS POSTS DO FACEBOOK. Publicado por Sociotramas, em 25 de junho de 2012./> Acesso em 25/07/2012.

GUATARRI, Félix e ROLNIK, Suely. Micropolíticas, cartografias do desejo. Rio de Janeiro: Vozes, 2005. 

LASCH, Cristhopher. “A cultura do narcisismo. A vida americana numa era de esperanças em declínio. Rio de Janeiro: Imago, 1983.MARIN, Isabel da Silva Kahn. “Sofrimento e violência na contemporaneidade: destinos subjetivos”. In: SANDLER, Paulo Cesar (Org.). Leituras psicanalíticas da violência. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004. p. 85-100.

NEGRI, Antônio. “Infinitude da comunicação/Finitude do desejo”. In: Imagem máquina. A era das tecnologias do virtual. André Parente (orgs), 2008, São Paulo: Editora 34. Pp. 175-176

ROLNIK, Suely. Cartografia Sentimental. Transformações contemporâneas do desejo. São Paulo: Estação Liberdade, 1989Santaella, Lucia. Linguagem líquidas na era da mobilidade. São Paulo: Comunicação, 2011.

___________. Corpo e comunicação: sintoma de cultura. São Paulo: Paulus, 2008.