Subjetividade_Cultura_e_Complexidade_-_Parte_I.pdf
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Subjetividade, Cultura e Complexidade Parte I
Conteudista
Profª. Me. Ana Cristina Alves Lima
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Unidade 3 - Subjetividade, cultura e complexidade
Nesta semana será fundamental a leitura dos textos complementares. Vocês deverão escolher
ao menos 2 textos para dar embasamento às discussões no fórum, bem como a realização da
atividade-tarefa. Bom estudo!!!
Parte 1
Subjetividade e filosofia nas ciências humanas.
A questão da subjetividade pode ser considerada objeto de estudo primordial e um dos
temas centrais em Psicologia. Vista como algo relativo ao sujeito, no âmbito da Filosofia, ela
centraliza os aspectos subjetivos para um único indivíduo como algo universal. Buscando
organizar a questão de uma forma sistemática e empírica, a Psicologia busca elucidar os
aspectos subjetivos baseando-se no contexto social no qual eles são engendrados
coletivamente.
Segundo González Rey (2005) a subjetividade pode ser conceituada como o sistema
de produção e organização de sentidos subjetivos que o indivíduo utiliza para o registro, de
múltiplas formas, ao longo do desenvolvimento sócio-cultural. Por ser um sistema dinâmico, o
indivíduo organiza um sistema de configuração que caracterizará sua personalidade, baseando-
se na tensão entre os sentidos que apareceram no percurso de suas ações e os sentido que
antecedeu esse momento (GONZÁLEZ REY, 2005).
As representações de sentido podem ser modificadas ao longo da vida, uma vez que
novos sentidos irão aparecer, provenientes da sua história, bem como dos contextos atuais da
vida do sujeito. Esses novos sentidos podem contradizer as representações já existentes. Os
registros simbólicos das vivências do sujeito são associados às emoções e é a partir dessa
associação que é possível organizar um sistema psíquico ao qual chamamos sentido subjetivo
(GONZÁLEZ REY, 2005). A emoção como estrutura da consciência pode atuar como
forma de apreender o mundo, de forma relacional, como a consciência de alguma coisa,
e de forma geral do próprio mundo.
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Segundo May (2000, p 62) a concepção de “subjetividade” faz parte do processo
de construção das ciências humanas e, mais especificamente, da ciência psicologia. A
dimensão subjetiva, à luz da psicologia, entende a pessoa como um sujeito singular,
único, que constrói ao longo de sua vida uma história com memórias boas e ruins,
qualidades e defeitos, tristezas e fracassos, bem como sonhos realizados de uma forma
única:
O ser humano, ser de desejo e de pulsão, como define a
psicanálise, é dotado de uma vida interior, fruto de sua história
pessoal e social [...] e a consideração da subjetividade em
nossas reflexões e aprendizados, ao oferecer possibilidades de
tornar inteligível a experiência humana e entender as sutilezas
e riquezas das ações, reações, interações e relações das pessoas.
(DAVEL; VERGARA, 2008, p. 50)
Porém essa subjetividade é construída ao longo da vida do indivíduo, que pertence a um
grupo familiar, que, por sua vez, desenvolve suas atividades em uma cidade e se
relaciona com outros grupos diferentes. Todo esse contexto não pode ser
desconsiderado ao se analisar a subjetividade de um sujeito. Segundo Crochík,
O entendimento de que a subjetividade não é somente fruto das
circunstâncias sociais atuais, embora estas sejam fundamentais,
mas também de um projeto histórico implícito no
desenvolvimento de nossa civilização, leva a que os problemas
relacionados ao seu estudo devam ter uma dupla perspectiva: a
da noção histórica de indivíduo, presente na literatura e na
filosofia, e o da possibilidade da realização desse projeto nos
dias de hoje. (CROCHIK, 1998, p.69)
A subjetividade pode ser definida como algo particular, interno, que se opõe ao
mundo externo, mas ao mesmo tempo em que só pode surgir deste. Levando-se em
consideração toda a particularidade do sujeito, temos que lembrar que somos diferentes
e únicos, o que torna o estudo da subjetividade difícil sem falar em complexidade.
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Complexidade
Entender o ser humano como um ser complexo e capaz de se auto-organizar e,
ao mesmo tempo, estabelecer relações com o outro, é foco de muitos autores
contemporâneos. Segundo Neuber (2000, p. 153):
Uma das primeiras questões com que se depara a reflexão
sobre as tradições presentes na construção do conhecimento em
psicologia são as diversas limitações encontradas nas suas
distintas expressões diante da complexidade do real. A
psicologia parece padecer de tal dificuldade de uma forma
singular, uma vez que, possuindo um objeto complexo de
estudo (o ser humano, seu psiquismo, seu comportamento,
objetos enfim nomeados conforme o sistema de idéias adotado)
se vê, via-de-regra, constituída com base em noções
simplificadoras que implicam em consideráveis mutilações em
seus objetos de estudo.
A psicologia, enquanto ciência se vê em meio a um considerável campo de
produção, caracterizado tanto pela pluralidade de teorias e metodologias como pelas
poucas articulações e diálogos entre si (Neubern, 2000). As dimensões biológicas,
individuais, sociais, bem como culturais, da subjetividade, como objeto de estudo da
psicologia construído ao longo da história do sujeito, são, na maioria das vezes,
analisadas de forma separadas.
Com as mudanças geradas pela globalização, a vida contemporânea exige novos
pensamentos e reformulação de antigos conceitos para que novas posturas e
comportamentos que são influenciados pelo nosso modo de pensar reflitam uma nova
prática na sociedade. As mudanças nas diferentes áreas do saber indicam uma urgência
para que essas mudanças ocorram:
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Já compreendemos que é necessário mudar, criar novas
alternativas e desenvolver critérios e procedimentos éticos
diversificados, para sobrevivermos à barbárie. É preciso resistir
e manter viva a esperança de transformação, num mundo cada
vez mais excludente e violento. Aprendemos com Edgar Morin
que “A resistência é o outro lado da esperança”. (MORIN,
1997, p. 62).
O indivíduo, desde seu nascimento, faz parte de uma sociedade e, a partir dela,
torna-se pessoa, interagindo com as normas e regras pré-estabelecidas, bem como com
cultura e linguagem característicos. A epistemologia da complexidade entende que cada
parte compõe o todo, bem como o todo está em cada parte, ou seja, o indivíduo está na
sociedade, assim como a sociedade está no indivíduo. Segundo Morin,
A complexidade indica que tudo se liga a tudo e
reciprocamente, numa rede relacional e interdependente. Nada
está isolado no Cosmo, mas sempre em relação a algo. Ao
mesmo tempo em que o indivíduo é autônomo, é dependente,
numa circularidade que o singulariza e distingue
simultaneamente. Com o termo latino indica: “Complexus – o
que é tecido junto” (Morin, 1997, p.44).
Outras uma ideia importante não pode deixar de ser comentada para maior
compreensão da complexidade humana: o fato de o ser humano não ser somente um ser
biológico ou somente um ser cultural. O homem é um ser multidimensional e, ao
mesmo tempo em que é indivíduo, faz parte de uma sociedade. Para Morin (1991) há
muito mais do que a singularidade ou que a diferença entre um indivíduo e outro, mas
há a certeza de que cada indivíduo é um sujeito.
O ser humano traz em si diversas características que permitem que ele tenha
muitos jeitos e se apresente de diversas maneiras. Pode ser considerado um ser múltiplo
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ao mesmo tempo em que é único; é corpo, idéias e afetividade indissociavelmente; é
complexo.
Falaremos mais sobre essa complexidade e a importância das representações
sociais na formação e constituição desse sujeito social.
REFERÊNCIAS:
CROCHIK, José Leon. Os desafios atuais do estudo da subjetividade na Psicologia.
Psicol. USP, 1998, vol. 9, n. 2, p 69 – 85. ISSN 0103 – 6564.
DAVEL, Eduardo; VERGARA, Sylvia (org.). Gestão com pessoas e subjetividade. São
Paulo: Atlas, 2008.
MORIN, Edgar. Meus Demônios. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 1997.
____. Complexidade e Transdisciplinaridade: a reforma da universidade e do ensino
fundamental. Natal, EDUFRN, 1999.
GONZÁLEZ REY, Fernando (org.). O valor heurístico da subjetividade na investigação
psicológica. In: GONZÁLEZ REY, Fernando. Subjetividade, complexidade e pesquisa
em Psicologia. São Paulo: Thomson, 2005.