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Software Boardmaker na comunicação de uma criança com Trissomia 21 Alexandra Sousa Colégio das Antas [email protected] Mónica Lima Colégio das Antas [email protected] Mónica Silvério Colégio das Antas Silvé[email protected] Resumo Este trabalho tem como objectivo um estudo de caso relativo às vantagens do software Boardmaker na comunicação 1 Software Boardmaker na comunicação de uma criança com Trissomia 21

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Software Boardmaker na comunicação de uma criança

com Trissomia 21

Alexandra Sousa

Colégio das Antas

[email protected]

Mónica Lima

Colégio das Antas

[email protected]

Mónica Silvério

Colégio das Antas

Silvé[email protected]

Resumo

Este trabalho tem como objectivo um estudo de caso relativo às vantagens do

software Boardmaker na comunicação de uma criança com trissomia 21, cuja

comunicação está fortemente compremetida.

Num primeiro momento, apresentaremos um enquadramento teórico relativo à

problemática – Trissomia 21- destacando a sua definição conceptual e as suas

primordiais características.

1 Software Boardmaker na comunicação de uma criança com Trissomia 21

Posteriormente, será apresentado o estudo de caso, bem como os quadros

comunicativos realizados através do programa Boardmaker. Neles destacamos os

quadros relativos: à rotina diária; à alimentação (acções e alimentos) e à higiene.

Atendendo ao nosso estudo de caso, o desenvolvimento do nosso trabalho

assenta no modelo de ocupação humana, dado que defende um enquadramento das

alterações ocupacionais nos três subsistemas: volição, habituação e capacidade de

desempenho.

Palavras chave: Trissomia 21, Boardmaker, modelo de ocupação humana.

Summary

This case study focus on the advantages of the software Boardmaker in the

communication with a child with Trisomy 21, whose communication is very poor.

Initially, we will present a theoretical framework of the problem - Trisomy 21 -

highlighting its conceptual definition and its primary characteristics.

Later, we will present the case study, as well as the communicative frames

executed with Boardmaker. Of these frames we highlight the ones related to: daily

routine, feeding (actions and food) and hygiene.

Given our study of the case, our work is based on the model of human

occupation, as it supports a framework of occupational changes in the three subsystems:

volition, habituation and performance capacity.

Keywords: Trisomy 21, Boardmaker, model of human occupation.

2 Software Boardmaker na comunicação de uma criança com Trissomia 21

Introdução

Tendo por base os conhecimentos adquiridos na unidade curricular Tecnologias

de Informação e Comunicação em Contextos de Educação Inclusiva, foi-nos proposto a

realização de um artigo sobre as vantagens do software Boardmaker no

desenvolvimento da comunicação de uma criança alvo de estudo.

Deste modo, tendo em consideração a escolha do grupo, optamos por estudar

uma criança com Trissomia 21, sendo portanto o nosso objectivo realizar um estudo de

caso relativo às vantagens do software Boardmaker na comunicação de uma criança

com trissomia 21, cuja comunicação está fortemente comprometida.

Abordamos o modelo de ocupação humana, visto o nosso trabalho defender um

enquadramento das alterações ocupacionais nos três subsistemas: volição, habituação e

capacidade de desempenho.

Neste sentido, este trabalho está dividido em três partes, inicialmente,

apresentaremos um enquadramento teórico relativo à problemática – Trissomia 21-

destacando a sua definição conceptual e as suas primordiais características.

Posteriormente, será apresentado o estudo de caso, bem como os quadros

comunicativos realizados através do programa Boardmaker. Neles destacamos os

quadros relativos: à rotina diária; à alimentação (acções e alimentos) e à higiene.

3 Software Boardmaker na comunicação de uma criança com Trissomia 21

1- Trissomia 21

1.1- Definição Conceptual e tipologia

Quando falamos de Trissomia 211 referimo-nos a uma alteração cromossómica

de índole bastante específica, manifesta pela presença total ou parcial de um

cromossoma extra do cromossoma 21, sendo a principal causa genética da deficiência

mental. Enquanto num cariótipo de um indivíduo normal existem 46 cromossomas, em

pessoas com Trissomia 21, existem 47 cromossomas. “A criança com Síndrome de

Down é portadora de uma anomalia cromossómica que implica perturbações de vária

ordem. O síndrome aparece por estarem presentes na célula 47 cromossomas em vez

dos 46 que existem numa pessoa normal. Estes 46 cromossomas dividem-se em 23

pares: 22 pares formados por auto-somas e um par de cromossomas sexuais.” (Sampedro, Blasco e Hernández: 1997:225)

Neste sentido, nesta problemática, a divisão celular apresenta uma distribuição

defeituosa dos cromossomas: a presença de um cromossoma suplementar, três em vez

de dois, no par 21.

Fig.1 – Cariótipo de uma paciente portadora de Trissomia 21

Ao falarmos de Trissomia 21, torna-se primordial apresentarmos breves notas no

que respeita à história desta patologia. Segundo Milton & Gonzalo (1974) há milhares

de anos, já havia conhecimento desta patologia, visíveis através de pinturas

1 Trissomia 21 – terminologia mais adequada. Abandono do termo Síndrome de Down por questões de carácter ciêntifico

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rupestres.”Há pinturas rupestres que registam a existência de seres com deficiência

mental já na pré-história. Segundo alguns pesquisadores, estas reproduzem pessoas

que por gestos, fisionomia ou atitudes, se destacariam das demais por manifestarem um

padrão de inteligência inferior à média do resto do grupo.” (Werneck:1993:57)

Por sua vez, segundo Chambers (1844) esta condição era designada de

mongolismo, devido a uma semelhança superficial com a raça oriental. No entanto,

Langdon Down (1866), deixou sob o ponto de vista clínico uma rigorosa caracterização

morfológica, descrita pelo conjunto de sinais típicos de fenótipo, designando esta

patologia de Síndrome de Down. Em 1959, Turpin, Léjeune & Gautier consequiram

provar a existência de um cromossoma suplmentar do par 21, graças a um técnica de

fotomontagem dos cromossomas, designando a problemática de Trissomia 21. Ainda

hoje o termo “Trissomia 21” é o mais adequado sob o ponto de vista científico.

Neste sentido, no âmbito da Trissomia 21, existem três tipos: a trissomia do 21

regular, translocação e o mosaicismo.

A trissomia do 21 regular é o tipo mais frequente, em que se verifica a

presença de um cromossoma extra no par 21, em todas as células do organismo. “Neste

caso, o erro da distribuição dos cromossomas está presente antes da fertilização,

produz-se durante o desenvolvimento do óvulo ou do espermatozóide, ou na primeira

divisão celular. Todas as células serão idênticas. Este tipo de trissomia aparece em 90

por cento dos casos.” (Sampedro, Blasco e Hernández: 1997:225). Neste caso, os pais têm

cariótipo normal – com 46 cromossomas em todas as células- e a trissomia sucede por

acidente, cujas causas são até hoje indiscutíveis.

Por sua vez, na trissomia de 21 por translocação, a cópia extra do cromossomo

21 não está livre, mas ligada a um dos outros cromossomas, sendo o mais frequente o

par 14. “Diferentemente da trissomia do 21 livre, cada célula tem 46 cromossomas

separados, mas um deles é um cromossoma translocado, com a cópia extra do

cromossoma 21 fusionada em outro cromossoma.” (Cunningham:2006:83) A

translocação pode surgir no momento da formação do espermatozóide ou do óvulo, ou

ainda no momento em que se produz a divisão celular. Clinicamente, a criança com

trissomia por translocação é semelhante à criança com trissomia de 21 livre.

Corresponde a 2% da população com trissomia 21.

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Por fim, na trissomia 21 por mosaicismo, existe presença de parte extra do

cromossoma 21, apenas em alguma proporção das suas células. “ocorre quando há um

padrão de algumas células trissômicas e algumas células normais (…)

“(Cunningham:2006:83) A incidência da trissomia em mosaico é aproximadamente de

1%. “São indivíduos que, ao contrário dos demais casos em que todas as células são

trissômicas, possuem células normais (com 46 cromossomas) e células trissômicas

(com 47 cromossomas) (Werneck:1993:79). É pequena a reincidência numa mesma

família.

Enquanto meio eficaz de prevenção no período pré-natal, a amniocentese é um dos

métodos mais eficazes para diagnóstico precoce da trissomia 21, consistindo em extrair

líquido amniótico, entre a décima quarta e décima nona semanas de gravidez.

Posteriormente, realiza-se uma análise cromossómica ou cariótipo, descobrindo se o

feto apresenta, ou não, trissomia 21. “O cariótipo é uma espécie de carteira de

identidade genética do ser humano. Através de um exame conhecido como cariograma

é possível obter o cariótipo de qualquer um de nós, inclusive do feto. O exame analisa o

material cromossômico de cada núcleo celular através de uma amostra de células do

sangue ou da placenta.” (Werneck:1993:74) Por outro lado, algumas alterações do

fenótipo podem ser observadas já no feto com Trissomia 21 através do exame de ultra-

sonografia. No entanto, embora essas alterações possam levantar suspeita da presença

de trissomia 21, não permitem um diagnóstico conclusivo.

As crianças com T21 se forem estimuladas no contexto poderão apresentar boas

evoluções. “a criança com trissomia 21 é compreendida com uma criança com NEE

que, inserida num contexto ecológico estimulante e adequado, consegue evoluir de

acordo com os padrões regulares esperados para o seu contexto sociocultural e escalão

etário.” (Santos e Morato, 2002: 42)

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1.2– Etiologia

Como já foi referido anteriormente, a Trissomia 21 é cientificamente

determinada pela presença de um cromossoma no par 21. No entanto, como se verifica

em muitas patologias, a Trissomia 21 é uma desordem multifactorial, traduzida por um

conjunto de factores. “É muito difícil determinar os factores responsáveis, e parece que

todos os especialistas estão de acordo em que existe uma multiplicidade de factores

etiológicos que interactuam entre si, dando lugar à trissomia.” (Sampedro, Blasco e

Hernández: 1997:229).

Neste sentido, um dos factores desencadeadores da trissomia 21 poderá estar

associado à hereditariedade, onde existem famílias com várias crianças afectadas, casos

de translocação ou mosaicismo num dos pais. No entanto, só apenas alguns casos

possuem histórico familiar relacionado com Trissomia 21.

Por seu turno, um dos factores inquestionáveis e que normalmente está

relacionado com nascimentos de bebés com Trissomia 21 é a idade elevada da mãe. É

significativamente mais frequente a partir dos 35 anos, verificando-se, contudo, maior

incidência em mães com idades superior a 40 anos.” Mulheres mais velhas apresentam

riscos maiores de terem filhos com trissomia, possivelmente devido ao envelhecimento

dos óvulos. O mesmo não acontece com os espermatozóides e por esta razão é que não

há uma relação directa entre trissomia 21 e a crescente idade paterna.” (Antonieta e

Voivodic, 2004:40)

Contudo, outros autores referem factores ambientais associados a processos

infecciosos (hepatite e rubéola), exposição a radiações e deficiências vitamínicas. Esta

última, ideia mais recente, devido a falta de ácido fólico, primordial na constituição do

DNA. “O uso de suplementos de ácido fólico reduz os riscos de defeitos no tubo

neural.” (Cunningham:2006:104)

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2.3– Características

“O Síndrome de Down provoca problemas cerebrais, de desenvolvimento

físico e psicológico e de saúde. A maioria das alterações orgânicas acontece durante o

desenvolvimento do feto, pelo que o diagnóstico pode ser feito no momento do

nascimento, o que é uma vantagem, pois possibilita uma intervenção precoce. A

aparência física destas crianças apresenta características muito particulares e

específicas que, embora não sendo os indivíduos afectados todos iguais, lhes dá um

aspecto muito semelhante.” (Sampedro, Blasco e Hernández: 1997:227). O material

genético extra está associado a algumas características frequentes da trissomia 21, como

problemas cardíacos, características físicas do rosto, das mãos e dos pés, baixo tonus

muscular (hipotonia), desenvolvimento mais lento e dificuldades de aprendizagem.

Neste sentido, como já foi referido em cima, Dr. Langdon Down identificou

características físicas muito semelhantes. Deste modo, verifica-se um baixo tónus

muscular e a tendência de ter as articulações frouxas, que vem aumentar essa sensação

de moleza corporal; também os pés tendem a ser largos, e os dedos dos pés, bastante

curtos. Nestes casos, muitas vezes, há um espaço maior do que o normal entre o dedo

grande do pé e os outros dedos, e entre o polegar e os outros dedos da mão.

Por seu turno, as mãos costumam ser largas e achatadas e os dedos curtos, as

pernas e os braços costumam ser curtos em comparação com o comprimento do corpo,

bem como o pescoço, com dobras de pele soltas nos lados e na nuca, que desaparecem à

medida que a criança cresce. A boca normalmente permanece aberta, devido à hipotonia

e o céu-da-boca é mais plano, pelo que a língua (em protusão) tende a sair da boca.

Ainda na mesma linha de pensamento, as orelhas tendem a ser baixas e pequenas e o

lóbulo das orelhas é muito pequeno ou ausente, o que também parece ser um traço

familiar (implantação baixa dos pavilhões auriculares). Também, as fontanelas são

maiores que o normal e a cabeça é menor do que a média e a parte posterior da cabeça,

designada de occipucio, tende a ser achatada, conferindo-lhe uma aparência

arredondada.

Verifica-se um aumento da distância interpupilar, pelo que os olhos se

inclinam para cima e para fora e a abertura do olho é curta e estreita. A parte exterior da

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íris pode apresentar manchas de cor ligeira (manchas de Brushfield). Também o nariz

tende a ser pequeno e com a parte superior achatada e a pele aparece ligeiramente

arroxeada e tende a tornar-se seca à medida que a criança cresce. “A pele das pessoas

com síndrome de Down geralmente tem menos elasticidade do que as demais e, em

certos pontos, é bastante firme, seca e áspera (…) a circulação do sangue na pele

também tende a ser reduzida, mesmo em crianças que não apresentem condições

cardíacas graves.(…) Os ossos do maxilar tendem a ser pequenos, produzindo uma

boca pequena e o palato em forma ogival (…) os canais dos ouvidos, das cavidades

ósseas e ao redor dos olhos podem ser estreitos e bloquear, causando problemas

auditivos, visuais e respiratórios.”” (Cunningham:2006:160)

Neste sentido, para além das características físicas, existem alguns problemas

internos que afectam bastante estas crianças. Têm maior tendência a sofrer de

problemas nos pulmões e sistema respiratório, devido à sua hipotonia, tornando o acto

de engolir menos eficiente e inalando muco. No entanto, há medida que as crianças

crescem, a frequência de infecções diminui. “Cerce de 60% das crianças com síndrome

de Down respiram pela boca e são agitadas ao dormir. Entre 30 e 50% às vezes têm

uma obstrução das vias respiratórias superiores. Inspirar para os pulmões torna-se

difícil porque as amígdalas grandes, as adenóides ou a língua obstruem as passagens

estreitas atrás do nariz e da língua.” (Cunningham:2006:137) Cerca de 12% das

crianças com Trissomia 21 têm episódios de apnéia.

Por seu turno, também o desenvolvimento motor da criança com T21

encontra-se condicionado, por um atraso significativo, sendo que todos os marcos de

desenvolvimento motor ocorrerão mais tarde que a criança “normal”. “…a presença de

hipotonia muscular contribui para esse atraso motor. É evidente que o atraso no

desenvolvimento motor da criança vai interferir no desenvolvimento de outros aspectos,

pois é através da exploração do ambiente que a criança constrói o seu conhecimento do

mundo. (Antonieta e Voivodic, 2004:43)

Verifica-se, igualmente, que o contacto ocular ocorre mais tardiamente e no

que diz respeito à linguagem segundo Schwartzman (1999) é a área em que a criança

com trissomia 21 apresenta maiores dificuldades. Compreende o que é dito mas

apresenta dificuldades na produção. Existe também um défice em relação à memória,

não conseguindo acumular informações na memória auditiva imediata de forma

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constante como a criança normal. “Essa limitação na retenção da informação afecta a

produção e o processamento da linguagem. A criança não reproduz frases, pois retém

somente algumas palavras do que ouve. Apresenta também défice na memória a longo

prazo, o que pode interferir na elaboração de conceitos, na generalização e no

planeamento de situações.”. (Antonieta e Voivodic, 2004:45)

Entre 30 e 60% dos bebés com trissomia 21 têm algum defeito cardíaco.

Muitas vezes os médicos alertam para sopros no coração. Existem sobretudo três tipos

de problemas cardíacos: defeito do canal atrioventricular, defeito no septo ventricular e

ducto arterioso patente.

“Pudemos verificar que, embora a criança com SD apresente características

determinadas pela alteração genética, o seu desenvolvimento, o seu comportamento e a

sua personalidade são resultados da interacção de sua carga genética, com as

importantes influências do meio.” (Antonieta e Voivodic, 2004:48)

10 Software Boardmaker na comunicação de uma criança com Trissomia 21

2 – Parte Empírica

3.1 – Apresentação do caso

Nome: MR

Idade: 5 anos

Problemática: Trissomia 21

Nivel de Educação: Pré-Escolar – sala dos 5 anos

Quando nos centrarmos directamente num estudo de caso, torna-se primordial deter

o seu contexto ecológico, tendo em consideração a comunidade educativa em que a

criança se insere. Neste sentido, “Para perceber o desenvolvimento humano, diz

Bronfenbrenner2, devemos estudar a criança no contexto dos ambientes múltiplos, ou

sistemas ecológicos, nos quais ele ou ela se desenvolve. O que começa com o

enquadramento íntimo do lar, desloca-se de seguida para fora, para as instituições

mais alargadas como o sistema escolar e, finalmente, abrange os padrões e condições

culturais e sócio-históricos que afectam a família, a escola e a totalidade da vida da

criança” (Papalia, Olds e Feldman:2001:14)

Os três ambientes mais próximos da criança MR e que se torna importante deter

informação é a sua família, jardim-de-infância e intervenção precoce, bem como a

UADIP que diariamente/semanalmente contribuem de forma estimulante e cuidada para

o seu processo de desenvolvimento.

Família

O agregado familiar é composto pela mãe, pai e duas irmãs mais velhas. Vivem em

boas condições habitacionais, em casa própria. Os pais são pessoas que demonstram

muita preocupação, sendo o elo de ligação mais forte a mãe. Interessados no dia-a-dia

2 Define cinco níveis de influência contextual: microssistema, mesossistema, exossistema, macrossistema e cronossistema

11 Software Boardmaker na comunicação de uma criança com Trissomia 21

da criança e no seu desenvolvimento, contactam com o jardim de Infância diariamente e

directamente com a Educadora e colaboram sempre que solicitados para eventuais

reuniões.

Complicações na gravidez da mãe: diabetes

APGAR: 1ª 5ª

Pré-Escolar e Intervenção Precoce

Frequenta o Pré-Escolar desde os três anos. Beneficiou de uma educadora da

Intervenção Precoce nos anos lectivos 2008/2009 e continua a beneficiar no ano lectivo

2010/2011. Usufrui de intervenção precoce duas vezes por semana, uma hora e meia

cada sessão.

Frequenta a sala dos 5 anos com 19 alunos, uma educadora e uma auxiliar.

UADIP3

Beneficia e continua a beneficiar de terapia da fala e terapia ocupacional na

UADIP.

2.2 – Perfil Intra-Individual da Criança3 UADIP – Unidade de Avaliação do Desenvolvimento e Intervenção Precoce

12 Software Boardmaker na comunicação de uma criança com Trissomia 21

8 100

Legenda:

locomotoras:

manipulativas:

visuais:

audição e linguagem:

fala e linguagem:

interacção social:

autonomia pessoal:

3 – Utilização do Software Boardmaker

13 Software Boardmaker na comunicação de uma criança com Trissomia 21

ÁREAS EMERGENTES

Competências visuais

Competências de audição e linguagem

Competências manipulativas

ÁREAS FRACAS / PRIORITÁRIAS

Competências locomotoras

Competências de fala e linguagem

Competências de interacção social

Competências de autonomia pessoal

O Boardmaker constitui um dos softwares mais inovadores ao nível das TIC,

sobretudo na construção de ferramentas importantes ao desenvolvimento da

comunicação e linguagem.

Possui mais de 4500 símbolos de comunicação pictórica, sendo bastante intuitivo e

de fácil utilização. Estes símbolos apresentam-se mais atractivos que o SPC, visto serem

de cor. Possui, igualmente, agendas e calendários que poderão ser aproveitados para

realizar outros materiais.

Neste sentido, tendo em consideração que a criança, alvo de estudo de caso,

apresenta dificuldades nítidas ao nível da comunicação verbal, proferindo cerca de dez

palavras, torna-se crucial encontrar estratégias que promovam esta área que nos parece

prioritária. Consideramos que este software, enquanto possibilitador da construção de

quadros de comunicação, poderá permitir a esta criança comunicar em diferentes

contextos e situações, quer em casa, quer no jardim-de-infância, quer na UADIP (únicos

contextos que a criança frequenta).

Foram, deste modo, realizados quadros comunicativos ao nível das rotinas, e

interligados às mesmas, quadros relativos à higiene pessoal, alimentação e alimentos

que a criança poderá querer sinalizar.

Fig 2. Quadro de comunicação relativo às rotinas da criança

Associado ao quadro das rotinas, a criança poderá compreender a ordem da

rotina bem com adquirir segurança e alguma mobilidade, interagindo sobre o meio.

14 Software Boardmaker na comunicação de uma criança com Trissomia 21

Poderá, igualmente sinalizar a acção que deseja quer em casa, quer no jardim-de-

infância. Escolhemos esta rotina porque é, de facto, a que se assemelha à sua rotina

diária. Dentro da rotina diária surgem interligações para a higiene pessoal e para a

alimentação.

Fig 3. Quadro de comunicação relativo à higiene pessoal

No que concerne à higiene pessoal, também foi criado um quadro de

comunicação com as principais acções que a criança realiza. Torna-se importante dar

diferentes possibilidades para que a criança sinalize aquela que corresponda às suas

necessidades.

Fig 4. Quadro de comunicação relativo às acções importantes durante a alimentação

No quadro da alimentação tentamos construir um interface que possibilitasse não

só a sinalização de acções básicas de alimentação, como também alguns indicadores

15 Software Boardmaker na comunicação de uma criança com Trissomia 21

prementes durante este momento de rotina como o “preciso de ajuda”, “mais” e o

“parar”.

Fig 5. Quadro de comunicação relativo aos alimentos

Este quadro de comunicação constitui um complemento ao quadro de

alimentação (acções) onde destacamos os principais alimentos que a criança consome,

de forma a que ela também pudesse sinalizar o que mais lhe apraz durante o dia.

Os quadros foram construídos de modo a que interligados possam preencher as

necessidades do seu utilizador.

É nosso primordial objectivo que os quadros de comunicação sejam impressos e

que a criança os utilize na sua vida quotidiana, como que o um portfólio/meio de

comunicação com os outros. Também consideramos uma mais-valia, enquanto

exploração das novas tecnologias, a utilização destes quadros através de suporte

informático.

Por seu turno, consideramos igualmente pertinente em conjunto com a equipa

pedagógica que as histórias e músicas, que são exploradas em grupo, possam ser

transformadas em imagens através deste software.

16 Software Boardmaker na comunicação de uma criança com Trissomia 21

Torna-se premente referir que estes quadros podem sofrer reajustes à medida que

são utilizados e que a criança se vai desenvolvendo dado que é uma ferramenta

personalizada.

4 – Modelo de Ocupação Humana

“Toda a ocupação humana procede de uma tendência espontânea, inata do

sistema humano- a urgência de explorar e dominar o ambiente. O modelo baseia-se na

suposição de que a ocupação é um aspecto crucial da experiência humana. A urgência

inata do homem para a exploração e sua consequente capacidade para simbolizar é o

que o torna único entre os animais.” (Kielhofner & Burke, 1980, p. 573)

Neste sentido, o modelo de ocupação humana que defende a totalidade do ser

humano, teve como principal autor Gary Kielhofner nos anos 80, sendo nos dias de hoje

enfatizado através da Terapia Ocupacional.

Tendo em consideração o nosso estudo de caso, o desenvolvimento do nosso

trabalho assenta neste modelo, visto que defende um enquadramento das alterações

ocupacionais nos três subsistemas: volição, habituação e capacidade de desempenho.

Consideramos, portanto, premente a utilização dos quadros de comunicação em

todos os contextos que a criança frequenta, de modo a que exista interacção entre o

ambiente e o desempenho da actividade.

Por seu turno, todas as oportunidades são vistas de forma diferente pelo

deficiente, pois a forma como se desenvolve a interacção com o meio pode desencadear

frustração ou aceitação.

Conclusão

17 Software Boardmaker na comunicação de uma criança com Trissomia 21

A realização deste trabalho permitiu não só reforçar a importância que este tipo de

software desempenha (Boardmaker), essencialmente na configuração de ferramentas

importantes ao desenvolvimento da comunicação e da linguagem na criança com

Trissomia 21, bem como, intensificar a utilização dos quadros de comunicação em

todos os contextos que a criança frequenta, de tal forma que a interacção entre o

ambiente e o cumprimento da actividade coexista, facilitando assim a sua vida.

É importante, intervir precocemente e de forma adequada, capacitando estas

crianças com ferramentas que as ajudem a viver em sociedade e em conformidade com

a mesma.

Podemos concluir que a existência da criança com Trissomia 21 é mais

harmoniosa quando os adultos que fazem parte dela reconhecem “ até que ponto as

exigências sociais resultam em tensão” e a melhor forma de ajudar, é chegarmos ao seu

nível e ver o mundo como ela o vê. Facilitaremos consideravelmente a compreensão das

regras sociais e afastaremos por completo sentimentos negativos que impedem o

desabrochar da aprendizagem.

O contributo das TIC no processo de ensino aprendizagem veio facilitar em grande

medida a resposta às primordiais necessidades de crianças com Necessidades

Educativas Especiais.

“ A utilização das Tecnologias da Informação e Comunicação, permite e

potencia a existência de novas perspectivas na participação das crianças

com Necessidades Educativas Especiais(…)facilitarão deste modo, o acesso

ao conhecimento, à aprendizagem, à ocupação dos tempos livres, ao lazer,

ao desenvolvimento de capacidades intelectuais, ao contacto com grupos de

interesse comuns; evitarão a exclusão e contribuíram para uma integração

plena.” (Santos,2006:15)

Bibliografia

18 Software Boardmaker na comunicação de uma criança com Trissomia 21

Cunningham, C. (2008). Síndrome de Down. Brasil: Artmed.

Papalia, D. E. (1999). O mundo da criança . Lisboa: McGraw-Hill.

Kirk, S., & Gallagher, J. (1984). A Educação da Criança Excepcional. São Paulo: Martins Fontes.

Santos, P. M. (2002). Comportamento Adaptativo. Porto: Porto Editora.

Santos, J. (2006. A escrita e as TIC em Crianças com Dificuldades de Aprendizagem: um ponto de encontro. Universidade do Minho. Braga

Werneck, C. (1993). Muito Prazer eu existo - um livro sobre pessoas com Síndrome de Down. Brasil: Potylivros.

19 Software Boardmaker na comunicação de uma criança com Trissomia 21