SOBRE O TESTE AT-9

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LOUREIRO, Altair Macedo Lahud (Org.). O velho e o aprendiz: O imaginário em experiências com o AT-9. São Paulo: Z ou K, 2004. Sobre o teste do AT-9 Trata-se de um teste criado por Yves Durand sobre a Teoria do Imaginário de Gilbert Durand. Com este teste, Y. Durand valida, com o que ele chamou de “modelo experimental” de pesquisa, a teoria referida; constrói um instrumento capaz de levantar/conhecer imagens individuais ou grupais; um instrumento que permite tornar evidente dados profundos relacionados com a interferência externa. O teste AT-9 é composto de uma parte desenhada (o desenho), de uma parte escrita (o discurso), de um quadro síntese e de um pequeno questionário. O desenho e o discurso (narrativa) constroem-se estimulados por nove palavras- chave, nove elementos (estímulos arquetípicos). Estes elementos são: Queda – Espada – Refúgio – Monstro Devorador – Algo Cíclico – Personagem – Água – Animal e Fogo. A escolha dos elementos/estímulos não se deu aleatoriamente. Y. Durand selecionou os nove elementos, considerando seus significados mais profundos, para servirem de motivação ao traçado gráfico e discursivo, representativos da trama criada pelo sujeito. Cada elemento representa um significado próprio. A Queda é um schème, “mais que um elemento arquetípico”, que atualizado chega ao arquétipo vertigem; lembra o traumatismo do nascimento, designa a situação existencial do homem, a angústia humana, e representa, mais facilmente, o fim, a morte, do que a origem, a vida. A significação dada à queda, no Velho Testamento, lembra o pecado original. Cair significa perder o equilíbrio, descer, ir ao fundo. Lembra a angústia humana (Durand, Y., 1989: 50) 16 . O Monstro Devorador 17 representa a

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LOUREIRO, Altair Macedo Lahud (Org.). O velho e o aprendiz: O imaginrio em experincias com o AT-9. So Paulo: Z ou K, 2004.

Sobre o teste do AT-9

Trata-se de um teste criado por Yves Durand sobre a Teoria do Imaginrio de Gilbert Durand. Com este teste, Y. Durand valida, com o que ele chamou de modelo experimental de pesquisa, a teoria referida; constri um instrumento capaz de levantar/conhecer imagens individuais ou grupais; um instrumento que permite tornar evidente dados profundos relacionados com a interferncia externa. O teste AT-9 composto de uma parte desenhada (o desenho), de uma parte escrita (o discurso), de um quadro sntese e de um pequeno questionrio. O desenho e o discurso (narrativa) constroem-se estimulados por nove palavras-chave, nove elementos (estmulos arquetpicos). Estes elementos so: Queda Espada Refgio Monstro Devorador Algo Cclico Personagem gua Animal e Fogo. A escolha dos elementos/estmulos no se deu aleatoriamente. Y. Durand selecionou os nove elementos, considerando seus significados mais profundos, para servirem de motivao ao traado grfico e discursivo, representativos da trama criada pelo sujeito. Cada elemento representa um significado prprio.A Queda um schme, mais que um elemento arquetpico, que atualizado chega ao arqutipo vertigem; lembra o traumatismo do nascimento, designa a situao existencial do homem, a angstia humana, e representa, mais facilmente, o fim, a morte, do que a origem, a vida. A significao dada queda, no Velho Testamento, lembra o pecado original. Cair significa perder o equilbrio, descer, ir ao fundo. Lembra a angstia humana (Durand, Y., 1989: 50)16. O Monstro Devorador17 representa a noite inquietante, o tempo angustiante e simboliza a morte (Durand, Y., 1989: 52). A Espada,18 no regime diurno, cobre os trs nveis de agrupamentos de imagens simblicas que compreendem as estruturas hericas/esquizomorfas do imaginrio: smbolos ascensionais, smbolos espetaculares e smbolos dierticos (Durand, Y., 1989: 54-55). O Refgio, pertencente ao regime noturno das imagens, remete s estruturas msticas, antifrsicas e diz respeito a um imaginrio oposto ao precedente; simboliza a proteo e o aconchego, pode representar lugar protetor, guardado, ntimo, recipiente, feminilidade maternal, embarcao, tumba, etc. A imagem da figura materna representa o refgio primordial, o feto no tero materno; a me terra pode referir-se ao tmulo19 (Durand, Y., 1989: 57, 58 e 60). Num micro universo herico, o elemento refgio pode levar a respostas opostas ao de tipo mstico. Para o imaginrio herico, o refgio ser sempre um lugar de refgio contra um perigo, enquanto para o imaginrio mstico, ele (o refgio) uma imagem de recipiente, smbolo de bem-estar e da vida em paz, conforme um sentido arquetipal. Algo de Cclico (que gira, que se reproduz, ou que progride) um estmulo que, no mais das vezes, sugere o imaginrio sinttico, mas G. Durand (Apud Durand, Y., 1989: 60, 62 e 63) lembra ser possvel coloc-lo tanto no regime diurno como noturno das imagens. Segundo Y. Durand (1989: 63), a idia de progresso parece comandar a escolha do arqutipo cclico. Pode algo ciclico se localizar em um micro universo herico, mstico ou sinttico. A estrutura mtica, caracterizada pela harmonia dos contrrios, pode ser sugerida por um schme cclico e um arqutipo cclico, apesar de no explicitado claramente, pode ser percebido (no vis das estrias nos protocolos hericos.20 A gua, o Animal e o Fogo so considerados elementos complementares no Teste AT-9, com significados polivalentes. A gua: dormente, parada, perigosa, considerada por G. Durand, quando este analisa os smbolos nictomorfos. O medo da gua, seus aspectos tenebrosos, caractersticas inquietantes (gua negra, hostil), morturia, convite a morrer, convite a uma viagem sem retorno, lembra fatalidade. O sangue menstrual, a imagem do corpo feminino, que a gua sugere, considerado elemento nefasto, no aspecto negativo do elemento gua. No entanto, a gua pode ser lmpida e sugere ento a estrutura esquizomorfa, herica, como gotas de gua que lembram a pureza, a purificao do mundo. A gua mtica, que remete estrutura antifrsica, a simbolizada pelo lquido aminitico gua protetora; enquanto a gua que identifica a estrutura sinttica a da chuva, do ciclo das guas, promessa de crescimento vegetal e as guas da histria diluvial21 (Durand, Y., 1989: 65). O Animal um estmulo que, conforme o contexto, pode remeter a uma estrutura herica, como representao de certos pssaros, aves de rapina, guia (a pomba mstica) ou a uma estrutura mstica, como certo peixes; ou ainda estrutura sinttica, como uma serpente desenhada (ciclo temporal, mudana de pele). O Fogo, como a gua e o animal, tambm tem polivalncia de significao simblica. O fogo purificador faz parte do simbolismo herico; o calor, indispensvel nutrio, isomorfo da estrutura mstica (calor doce, fogo significando calor sexual, rituais iniciticos, ou passagem da vida para a morte); remetendo estrutura sinttica, encontramos o fogo epifnico (fogueira de So Joo), smbolo de Deus, renascimento, mediador entre natureza e cultura; pode contribuir e acentuar seu semantismo angustiante de destruio, de fim, de morte, quando em forma de cataclisma: incndios, vulces, guerras, seca, sol devorador e tenebroso e instabilidade do tempo (Durand, Y., 1989: 66). O personagem o ator da estria criada, o agente da trama realizada no micro-universo, expressado no desenho; pode ser homem simples, um heri, um pastor, um cavaleiro medieval, caador, pescador, andarilho; pode ser masculino ou feminino, e ser representado no plural (mais de um). O personagem pode tambm ser representado por um homem mau, legendrio, conforme a poliformia, e a polissemia no quadro da experimentao (Durand, Y., 1989: 49). A postura do personagem no desenho se em p, sentado curvado bem como sua localizao prxima ou distante dos demais elementos sero indicadores, para a identificao da estrutura do universo mtico construdo. Geralmente num micro-universo herico, o heri est em p, com a espada em riste.A leitura do universo mtico se dar no conjunto, grfica e semanticamente registrado no teste, deste nove elementos arquetpicos considerados estmulos imaginao, para representar, de forma adequada ao grau da angstia do passar do tempo e medo da morte, as imagens simblicas e posies interligadas, demonstrativas da estrutura do imaginrio, seja herica, mstica, sinttica, ou defeituosa (Rocha Pitta: 129-132). Os agrupamentos ou universos mticos se categorizam como Esquizomorfos ou Hericos, quando o elemento espada tem o papel significativo, tanto de luta, como de separao; Antifrsicos ou Msticos, quando o elemento refgio sobressai-se na simbolizao da paz e da harmonia, e Dramticos ou Sintticos, depois chamados por G. Durand de Disseminrios, quando no h a oposio entre a caracterstica herica e mstica e se evidencia um duplo universo existencial ou simblico.Portanto, os elementos espada, refgio, e coisa cclica, alm do personagem, numa primeira leitura, so importantes para a conduo descoberta e classificao do universo mtico em Herico, Mstico ou Disseminatrio. Os demais elementos completam o sentido, formando o universo mtico no quadro criado pelo sujeito-autor, expresso no protocolo do teste.Y. Durand procura compreender como se d a organizao interna do conjunto das mensagens mticas, considerando, como na teoria do imaginrio, os dois regimes: diurno e noturno e os trs modos de estruturao dos universos mticos: esquizomorfos, antrifrsicos e sintticos, j explicitados anteriormente com G. Durand. sobre o trajeto antropolgico que incide a busca das imagens, a identificao das estruturas, pois a permuta entre as exigncias exteriores do social, sedimentado na cultura que parece querer os homens todo iguais e os sonhos, ou loucuras internas, ntimas e silenciosas, que diferenciam os indivduos se expressam nos smbolos. Da troca entre estes dois plos (j explicitados) resultam os smbolos termo que comporta sempre a idia de reunio de um sentido e de uma imagem; de um aspecto vivido (o sentido) e de um comportamento espacial (a imagem). Da a construo do teste com uma narrativa (sentido) e um desenho (imagem: representao imagtico-simblica).Um universo mtico nem sempre pode ser considerado rigidamente em uma das trs categorias apresentadas (Herica, Mstica ou Sinttica). Assim sendo, Y. Durand subdivide as estruturas como segue.A Estrutura Herica pode se atualizar em quatro nveis (Durand, Y., 1989: 83-92): a) Super-herico (o combate realizado por todos os elementos); b) Herico integrado (o monstro aparece hiperbolizado, o combate est presente, mas pode-se vislumbrar o refgio); c) Herico impuro (o tema herico o predominante, mas existe falta de lgica na colocao de alguns elementos os regimes diurno e noturno so considerados); d) Herico descontrado (falta a coerncia simblica, pois smbolos msticos se agregam aos hericos e tenso herica diminui).A Estrutura Mstica subdividida por Y. Durand (1989: 92-102) em: a) Super-mstica (personagem goza a paz da natureza, Monstro e Espada elementos caractersticos da esquizomorfia no aparecem. O cenrio, resultante da composio do desenho e da narrativa, inspira a tranquilidade pura); b) Mstica integrada (impresso de coerncia simblica, mas algo esquizomorfo pode ser integrado ao cenrio e histria); c) Mstica impura (aparece um monstro caricaturado a situao pode ser jocosa, mas a angstia da morte est ali); d) Mstica ldica (combate de brinquedo o sujeito cria uma situao de brincadeira que exige a luta torna presente a necessidade de separar ou de combater, mesmo que de brincadeira).A Estrutura disseminatria, ou sinttica, pode se expressar de maneiras diferentes: bipolar (os temas anteriores se atualizam, ao mesmo tempo, numa sincronia), e polimorfa (a ao acontece no correr do temo, historicamente, diacronicamente, numa trama histrica). Y. Durand (1989: 238-242) fala da estrutura sinttica com quatro subestruturas: a estrutura histrica, a estrutura progressista, a estrutura de harmonizao dos contrrios e a estrutura dialtica, e assume a dificuldade de um s estmulo para as quatro estruturas, o que levou Y. Durand a subdividir inicialmente a estrutura (Sinttica, Dramtica ou Dissiminatria) em quatro possibilidades: bipolar simples, polimorfa real e polimorfa simples (Rocha Pitta: 36), o que mais tarde reformula, sugerindo as categorias: Duplo Universo Existencial Diacrnico ou Sincrnico (antes polimorfo simples e bipolar simples), Universo Sinttico Simblico Diacrnico Cclico ou Progressista e Universo Simblico Sincrnico, de forma Dualista ou de Mediao (Rocha Pitta: 102-122).Os universos mticos sintticos so identificados como sinttico simples enquanto se trata de um desenrolar existencial nico; reais, quando a narrativa exprime uma considerao simblica-alegrica da narrativa existencial, a qual se torna um pretexto explicitao de um schme temporal (cclico, progressivo, etc.) (Rocha Pitta: 102-122).Aparecem, nos protocolos do teste, alguns micro-universos mticos, que fogem s categorias propostas. Por isso, para Y. Durand, esses protocolos so considerados como de Estruturao Defeituosa e se apresentam sob quatro formas diferentes (Rocha Pitta: 129-132): a) desestruturados reais (onde os elementos so desenhados e enumerados ou escritos por eles mesmos, sem nenhuma ligao); b) subgrupos no estruturados (no ligados entre si, mas podendo ser estruturados como subgrupos); c) pseudo-desestruturados (os elementos parecem espalhado, mas a histria os junta, na sua maioria, ou mesmo todos, numa sntese, em que cada elemento comporta um valor simblico, seno alegrico). Quando no se desenvolve um mecanismo de defesa, apesar da angstia se expressar, a subcategoria ser: d) unificada, mas de estrutura temtica no formulada.Para se processar a anlise do contedo representacional (imagtico-simblico) nos protocolos do teste, pode-se efetuar vrios tipos de anlises. Entre estas anlises, sugeridas por Y. Durand, esto a anlise Elemencial ou Morfolgica, a Anlise Actancial, a anlise Funcional e a anlise Estrutural.22O contedo imagtico simblico, contido nos micro-universos mticos dos protocolos preenchidos, poder ser lido auxiliado por cada um dos tipos de anlises propostas por Y. Durand; pode-se, no entanto, adot-las de forma complementar para melhor ou, mais ainda, justificar os resultado, quer dizer, facilitar o levantamento/conhecimento do imaginrio.Em cada um dos trabalhos/pesquisas relatados a seguir pelos pesquisadores autores nos captulos/experincias que se seguem, tanto a teoria de base aqui sucintamente apresentada, como as noes e especificidades maiores ou mais relevantes do teste, para cada estudo/pesquisa, sero retomadas. Nesta retomada os detalhes utilizados na anlise dos dados sero mais bem explicitados, oferecendo assim a complementao necessria ao maior entendimento do assunto, da linha de pesquisa assumida e da heurstica culturanaltica adotada: o AT-9.O teste AT-9, criado por Yves Durand, considerado, como diz G. Durand, um dos flores da Escola de Grenoble; o teste prope, ao sujeito que realiza a prova, iscas semnticas (Durand, 1988; 39), os estmulos arquetpicos para o deflagrar do processo de imaginao e seu consequente explicitar/emergir hbrido/simbiotizado composto de pulses internas e de presses externas, de desejos e de deveres -, em representaes imagtico-simblicas: do imaginrio. Referindo-se ao AT-9, G. Durand diz: este teste no apenas constitui um diagnstico psiquitrico excelente como confirma os resultados tericos que havamos criado pessoalmente para as estruturas do imaginrio: todo imaginrio humano articula-se por meio de estruturas plurais e irredutveis, limitadas a trs classes que gravitam ao redor dos processos matriciais do separar (herico), incluir (mstico) e dramatizar (disseminador), ou pela distribuio das imagens de uma narrativa ao longo do tempo (Durand, 1998: 40).Na folha de papel entregue ao sujeito da prova, no alto, aparece a ordem solicitando que seja desenhada, a partir de nove elementos dados, uma histria. Em uma folha seguinte a ordem para que a histria imaginada, j desenhada, agora seja contada em forma de discurso/narrativa. O desenho realizado contm elementos reveladores da estrutura mtica presente no micro-universo representado pictoricamente; a posio em que o personagem desenhado se de p, com o brao, ou os braos levantados, enfim, uma posio ereta, brandindo a espada, o que sugere um enfrentamento, principalmente quando o monstro est desenhado prximo ao referido personagem -, sugere a presena de um universo mtico com estrutura esquizomorfa/herica. Se o personagem est em posio curvada, acocorado ou deitado, enfim em posio que lembra repouso, aconchego, ou recolhimento, este fato remete possvel representao de um universo mtico antifrsico/mstico. Quando aparece um desenho, um cenrio trespassado, cortado pelo desenho/presena de algo que o divide, com alguns elementos desenhados de um lado, e outros elementos desenhados de outro lado, tudo leva a crer que se est na presena de um micro universo mtico sinttico/disseminatrio/dramtico, podendo, possivelmente, ser reconhedico, com Yves Durand, como um duplo universo existencial (DUEX), que poder ser diacrnico ou sincrnico, conforme o tempo, os momentos, em que acontece a ao: se ao mesmo tempo ou em tempos sequenciais diferentes. Outras possveis dicas, oferecidas pelo desenho, podem ser retiradas da localizao dos elementos no quadro: da proximidade, ou da distncia, entre os mesmos.Alm da observao atenta do aspecto pictrico do teste, o discurso, a narrativa, a histria contada/criada/imaginada pelo sujeito-autor do teste, traz em si informaes valiosas para a anlise mtica do contedo dos protocolos do teste. No traado semntico, no discurso, estaro presentes os elementos do teste de forma articulada deixando transparecer a angstia maior ou menor do passar do tempo e o consequente medo da morte.A prova se completa com a realizao de um pequeno questionrio destinado a recolher informaes que possam oferecer precises sobre algum, ou alguns fatos nebulosos contidos no protocolo do teste, e de um quadro onde, na primeira coluna, o sujeito-autor registrar as imagens com as quais representou cada um dos nove elementos do teste; na segunda coluna explicitar a funo que ele atribuiu aos elementos e, na terceira e ltima coluna, escrever os simbolismos considerados, por ele, relativos cada um dos nove elementos do AT-9.Como lembra Yves Durand, em recente publicao sobre metodologias do imaginrio, organizada por Joel Thomas, ser um indivduo humano , notadamente, tomar conscincia de uma condio existencial feita do destino mortal (Y. Durand apud Thomas, 1998: 281) e, como afirma Gilbert Durand, o imaginrio a arma que dada ao ser humano para vencer o medo da morte e a angstia do passar do tempo. Essa angstia se configura, se expressa no discurso e no desenho realizado pelo sujeito-autor do teste; o medo da morte e a maneira de consider-la, enfrentando-a, lutando contra ela dissipando as trevas, perseguindo a luz -, ou despistando-a, enfemizando-a, como se ela no existisse, ou fosse um brinquedo harmonizao dos contrrios.Olvia, uma das personagens criadas por rico Verssimo, em romance, obra clssica da literatura brasileira, Olhai os lrios do campo, lembra que um amigo seu costumava dizer que (...) a vida como uma travessia transatlntica (...). Os passageiros so das mais variadas escies. Uns passam a viagem a se preparar para o desembarque no porto de seu destino, outros no tm nenhuma esperana no porto de chegada e procuram passar da melhor maneira possvel a travessia (Verssimo, 1973: 96:97). So formas diferentes de entender a vida e a morte. A idia de vida ou morte, que impregna as composies e os desenhos do teste, evidenciam a maneira de ser, a viso de mundo de cada um e dos grupos, oferecendo assim pistas para o seu entendimento, compreenso e organizao.Gilbert Durand, em As estruturas Antropolgicas do Imaginrio, apresenta o que cada uma destas diferentes atitudes significa, apresentando uma organizao das estruturas do imaginrio, pois, conforme a maior ou menor aceitao da inexorvel realidade da finitude humana e que as imagens constelam em torno de um ou de outro n aglutinador (das imagens). As peculiaridades de cada uma destas estruturas fornecem pistas para a organizao dos grupos, com a considerao da dimenso simblica.

1. Paisagem mental so modos de pensar, sentir e agir.2. Arqutipo, segundo Jung: uma forma, uma estrutura inata, que permite a um contedo se exprimir em imagens. Para Y. Durand: um conceito intermedirio entre o schme e o smbolo. Do schme ele conserva o substrato gestual e do smbolo apresenta a duplicao representativa de uma intencionalidade cultural. (Durand, Y. LExplorations de LImaginaire. Introduction la Modalisation des Univers Mythiques. Paris. Lespace Bleu, 1988. P.p. 33 e 43. Com a noo de trajeto antropolgico G. Durand concebe o arqutipo de forma fenotpica, forma modificada da concepo junguiana (genotpica).3. DURAND, G. As Estruturas Antropolgicas do Imaginrio. Op. Cit. 45: Estrutura: uma forma transformvel desempenhando o papel de protocolo motivador para todo um agrupamento de imagens, e suscetvel, ela prpria, de se agrupar numa estrutura mais geral a qual ele chama Regime, classificando-o em regime diurno e regime noturno, os quais no podem ser considerados como agrupamentos rgidos de formas imutveis. A questo que G. Durand coloca : saber se os regimes resultam do prprio indivduo, com suas caractersticas, bem como se as suas possveis alteraes tm algo a ver com social, com o exterior.4. DUMZIL. com a tnica no carter funcional e social das motivaes, do ritual, dos mitos e da prpria terminologia. PIGANIOL nfase na diferena das mentalidades e dos simbolismos que decorrem do estatuto histrico poltico de ocupante e ocupado. Noes de projeto antropolgico nas reflexes de R. Bastide (relao do sociolgico e da psicanlise). JEAN PIAGET analisa o smbolo do ponto de vista do psiquismo individual, vendo na inteligncia a operatividadeque permite ao indivduo lidar com a realidade de modo adaptativo e construtivo. in DURAND, G. op. Cit. P. 26 e 27.5. O autor (DURAND, 1989: 179) identifica no regime diurno os simbolismos: teriomorfos (animais), nictomorfos (trevas) e catamorfos (queda).6. Yves Durand coloca no teste AT-9, o elemento (estmulo arquetpico) ESPADA, como provocador de resposta do tipo herica (esquizomorfa).7. bom lembrar, mais uma vez, que a imaginao dinamismo organizador e que esse dinamismo organizador fator de homogeneidade na representao: da a preocupao com o imaginrio dos grupos para melhor entender e atuar na organizao. BACHELARD,