Sobre o Fetiche na perspectiva de Walter Benjamin
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5/10/2018 Sobre o Fetiche na perspectiva de Walter Benjamin - slidepdf.com
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Sobre o Fetiche na perspectiva de Walter Benjamin
Por: Juliano Gustavo Ozga
Graduando de Filosofia UFSM-UFOP
Sobre o Fetichismo da Mercadoria
O termo fetichismo está etimologicamente ligado à palavra português feitiço que
provém do latim facticius, i.e., elaborado pelas mãos. Isso é derivado de um desejo de
diferenciar os objetos de origem africana que eram produzidos por nativos e
comercializados por marcadores portugueses na Europa, que ao entender dos
portugueses eram objetos de feitiço.
No entanto havia um grau pejorativo envolvendo essa denominação dos objetos
de fetiche, que para os nativos possuíam uma propriedade mágica, como o exemplo dos
chocalhos tribais e indígenas de possuem a função de espantar os espíritos.
O objeto de fetiche era interpretado como sendo portador de uma força mágica
que era atribuída pelo próprio produtor do objeto de fetiche (de feitiço), sendo que no
caso de o objeto ser inútil ou ineficaz o indivíduo elaborava outro objeto.
Em outra abordagem o sujeito-indivíduo é possuidor de uma determinada força
mágica que é transferida para o objeto de fetiche (ou feitiço), onde essa força mágicaestá ligada à natureza e sua concepção simbólica. Nesse caso há a possibilidade de uma
analogia entre o objeto de fetiche do homem arcaico em geral (em conexão com a
natureza) com o objeto de mercadoria do homem moderno industrial (em conexão à
natureza técnica pós era industrial).
No entanto é útil a compreensão do modelo de fetiche moderno atribuído aos
objetos industrializados como um fetichismo da mercadoria onde a necessidade é gerada
pela segunda natureza do homem segundo Lukács, ou seja, a natureza técnica. Porém o
fetichismo econômico não está totalmente ligado diretamente ao fetichismo arcaico.
Na era moderna (perspectiva de Karl Marx) as mercadorias produzidas através
da força de trabalho do trabalhador assalariado possuem mecanismos sociais abstratos
de valoração do objeto mercadoria de fetiche se for possível a interpretação.
O fetiche é algo que preenche uma ausência, ou seja, é uma presença que
substitui uma sensação consciente, diferente do sentimento de recalque inconsciente.
Desse modo o fetiche possui um caráter de ocultamento desejado (definido por
Sigmund Freud) através da analogia de clivagem (separar de forma que não seja
possível o estado original) e do sentimento de recalque (sentimento de recusa insciente).
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Adentrando agora na perspectiva do fetiche na concepção de Walter Benjamin,
esse mesmo proveniente da escola de Frankfurt (Alemanha), teorizadora da designada
teoria crítica, caracterizada por fazer a junção entre o pensamento de K. Marx e S. Freud
(economia histórica e o subconsciente respectivamente), donde provém a teoria crítica
frankfurtiana que interpreta os conceitos econômico-históricos de K. Marx juntamente
com os conceitos de S. Freud, resultando assim o fetichismo (Freud) da mercadoria
(Marx), ou seja, objetos de feitiço que substituem algum sentimento abstrato do
indivíduo, porém de forma inconsciente.
A questão não é sobre substituir algo ou um sentimento perdido e sim a questão
da substituição de um sentimento de impossibilidade de possuir algo (Marx), ou
impossibilidade de desejar algo abstrato como se o fetiche fosse uma máscara (lat.
persona) que substitui algo impossível de ser ou de desejar (Freud).
Sobre o sentimento de recusa (que é anterior ao sentimento de clivagem) na
perspectiva de S. Freud é possível elaborar a concepção de algo que causa, motiva a
clivagem. Freud designa a razão para uma concepção fundamentada na realidade e
fantasia para uma concepção fundamentada no desejo.
Nesse caso o desejo e a imaginação podem criar uma fantasia e essa mesma
fantasia subjetiva ao ser auxiliada pela razão com base na realidade pode influenciar
uma ação na realidade que no início era apenas um núcleo de desejo e imaginação, que
no caso de não ser efetivado é considerado uma fantasia, sendo fantasia uma
impossibilidade racional não efetivada.
Outro exemplo pode ser expresso pela imaginação de imagens mentais
auxiliadas pela razão baseada na realidade podem ser possíveis de realização, como o
exemplo de criações científicas que somente são possíveis de efetivação com o auxílio
da tecnologia baseada na ciência (razão real), no caso a imaginação de ser possível o
homem voar e posteriormente ser possível a criação de máquinas a partir de imagens
mentais possuidoras de elementos doxais (de doxa) que auxiliam o homem a voar
efetivamente.
Ao passo que podemos definir o recalque como uma intensidade do desejo
contrariado e clivagem do Eu como percepção indesejada ou agregada.
No entanto para K. Marx o problema pode estar na concepção de valor, sendo
depositário de um desejo oculto abstrato, ou seja, mecanismos sociais abstratos
projetados como valor de uma mercadoria ou objeto. Marx cita que Aristóteles foi um
dos primeiros pensadores a tratar a questão do valor na obra Ética à Nicômaco com o
exemplo do valor de uma música elaborada por um músico e comprada por um
apreciador. Aqui a questão do valor é baseada em um exemplo imaterial, no caso o
valor de uma obra abstrata (uma música, ou seja, elemento criativo que depende da
imaginação auxiliada ao conhecimento teórico musical e de instrumentos físicos para
sua execução, sendo assim considerado um objeto [físico] musical [abstrato]).
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Assim sendo é possível a citação de W. Benjamin (ou Marx): “os civilizados
encontram-se submetidos a representações simbólicas, imaginárias e denominadas por
produtos de suas mãos, assim como os selvagens a seus fetiches”.
Outro aspecto importante é a concepção de Marx sobre o produto do trabalho
antes como uso se torna agora mercadoria, ou seja, antes o produto de trabalho era para
o uso limitado e muitas vezes encomendados (produtos com valor de uso) e
posteriormente o produto do trabalho é elaborado para ser uma mercadoria, i.e., antes
era produzido para o Mecenas e posteriormente passou a ser produzido para o
Mercador.
A partir desse fato a força de trabalho e o tempo de trabalho gastos para a
produção do objeto como mercadoria é o princípio do valor. O princípio de mais valia
elaborado por K Marx representa o valor do produto além do seu valor bruto ou real, ou
seja, o produto é vendido com o acréscimo de lucro isento das despesas que a sua
produção necessita, em ouras palavras, a mais valia é o lucro.
Porém Walter Benjamin elabora a questão da troca de mercadorias e produtos
como uma ilusão de igualdade e liberdade entre os indivíduos iguais na relação de troca
da sua força de trabalho, ou seja, seu tempo de vida biológica por trabalho para a
produção de objetos de mercadoria de fetiche.
Isso permite a interpretação de que a igualdade e liberdade são possíveis se
aceitarmos essa ilusão de uma troca justa (medida-calculada) de força de trabalho por
um salário justo, como se a democracia (onde a minoria aceita exerce poder sobre a
maioria, ou seja, a maioria pobre é dependente e influenciada pelo capital detido pela
minoria rica) oferecesse alternativa justa além da venda ou não da força de trabalho do
(ser ou não ser um trabalhador), ou investir a força de trabalho para o estudo ocioso e
formador de conhecimento crítico (podendo esse conhecimento ser uma forma de
elaboração epistemológica e científica) ou não.
A igualdade e liberdade não podem ser direitas apenas de uma fraternidade de
iguais e sim devem ser necessariamente o direito de uma humanidade de iguais
(diferença entre os trilemas Liberdade, Igualdade e Fraternidade e Igualdade, Liberdade
e Humanidade), porém esse desejo de igualdade e liberdade para uma humanidade deiguais pode ser considerado uma utopia ou sem possibilidade de realização efetiva
devido a uma diferença de semelhantes na humanidade.