SISTEMAS DE INOVAÇÃO E APROPRIABILIDADE ......a inovação aberta torna-se ferramenta essencial na...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS
ALÍPIO JOSÉ SOUZA SILVA
SISTEMAS DE INOVAÇÃO E APROPRIABILIDADE TECNOLÓGICA: UMA
ANÁLISE PELO PARADIGMA DA INOVAÇÃO ABERTA
Varginha/MG
2016
SISTEMAS DE INOVAÇÃO E APROPRIABILIDADE TECNOLÓGICA: UMA
ANÁLISE PELO PARADIGMA DA INOVAÇÃO ABERTA
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao
Instituto de Ciências Sociais Aplicadas da
Universidade Federal de Alfenas, como requisito
parcial à obtenção do título de Bacharel em
Ciências Econômicas com Ênfase em
Controladoria.
Orientador: Prof. Dr. Thiago Caliari Silva
Varginha/MG
2016
ALÍPIO JOSÉ SOUZA SILVA
SISTEMAS DE INOVAÇÃO E APROPRIABILIDADE TECNOLÓGICA: UMA
ANÁLISE PELO PARADIGMA DA INOVAÇÃO ABERTA
A Banca examinadora abaixo-assinada, aprova a
monografia apresentada como parte dos
requisitos para obtenção do título de Bacharel
em Ciências Econômicas com Ênfase em
Controladoria da Universidade Federal de
Alfenas.
Aprovada em: Varginha, 21 de Junho de 2016
________________________________
Prof. Dr. Thiago Caliari Silva
________________________________
Prof.ª Dra. Juliana Souza Scriptore
________________________________
Prof. Dr. Thiago Fontelas Rosado Gambi
4
RESUMO
O desenvolvimento de P&D vem ao longo do tempo demonstrando ser um importante ativo de
valor estratégico na criação de barreiras de entrada de novos competidores no mercado.
Considerando o arcabouço teórico de sistemas de inovação (SI), a apropriabilidade tecnológica é
um importante determinante da capacidade inovativa do ambiente e por isso, através de uma
revisão bibliográfica, procuramos realizar uma discussão teórica que contribuísse para o debate
na literatura da inovação aberta dentro da revisão dos conceitos presentes nos sistemas nacionais
de inovação. Pode-se verificar que a inovação aberta apresenta-se como uma estratégia
interessante de compartilhamento de base científica e tecnológica entre instituições quando a
inovação tem como características a sequencialidade e a complementariedade. Nesse caso, a
imitação torna-se um elemento estratégico da mudança tecnológica, elevando a “biodiversidade”
da tecnologia e melhorando as perspectivas para a inovação futura. Em firmas focadas em
atividades de alta tecnologia, caracterizada por um desenvolvimento sequencial e complementar,
a inovação aberta torna-se ferramenta essencial na busca da competitividade e de share de
mercado.
Palavras-chave: Inovação Aberta, Sistemas de Inovação, Apropriabilidade tecnológica.
5
ABSTRACT
The development of R&D has over time proven to be an important asset of strategic value in
creating new competitors entry barriers in the market. Considering the theoretical framework of
innovation systems (IS) technology appropriability is an important determinant of the innovative
capacity of the environment and therefore, through a literature review, we seek to carry out a
theoretical discussion to contribute to the debate in the open innovation literature in the review of
present concepts in national innovation systems. It can be seen that open innovation is presented
as an interesting strategy of scientific and technological base sharing between institutions where
innovation has the features to sequentiality and complementarity. In this case, imitation becomes
a strategic element of technological change, raising the "biodiversity" of technology and
improving the prospects for future innovation. In firms focused on high-tech activities,
characterized by a sequential and complementary development, open innovation becomes an
essential tool in the pursuit of competitiveness and market share.
Keywords: Open Innovation, Innovation System, Technological Appropriability
6
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 7
2. O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE PESQUISA & DESENVOLVIMENTO ................... 9
3. SISTEMAS NACIONAIS DE INOVAÇÃO (SNI) ................................................................11
2.1. Instituições e Sistemas Nacionais de Inovação (SNI) ..............................................................13
3.2. Globalização e Sistemas Nacionais de Inovação (SNI) .......................................................14
4. O PARADIGMA DA INOVAÇÃO ABERTA .......................................................................18
3.1. O modelo de negócios na Inovação Aberta .............................................................................22
4.2. O processo de inovação aberta ...........................................................................................24
4.3. As métricas no processo de Inovação Aberta ......................................................................25
3.4. O paradigma da inovação aberta como alternativa competitiva ................................................26
5. CONGRUÊNCIAS TEÓRICAS ENTRE INOVAÇÃO ABERTA E SISTEMAS DE
INOVAÇÃO .................................................................................................................................28
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................31
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................................32
7
1. INTRODUÇÃO
O desenvolvimento de P & D vem ao longo do tempo demonstrando ser um importante
ativo de valor estratégico na criação de barreiras de entrada de novos competidores no
mercado. Nessa perspectiva, surgiram diferentes processos de condução de P & D, salientando
a importância de atores externos (fornecedores, spin-offs, PMEs e etc) como fontes que levem
a criação de novos produtos de acordo com as diferentes realidades setoriais.
Podemos observar nos século XIX, por exemplo, a existência de uma inovação
institucional do departamento de P & D industrial interno no processo de pesquisa por novos
produtos (BEER apud FREEMAN, 1995), com o desenvolvimento de uma indústria com
bases sistemáticas, em especial a indústria química, assim como pode ser visto nas indústrias
BASF, Bayer dentre outras.
Contudo, no final do século XX surgiam fatos que começavam a corroer a capacidade
de inovação fechada nos Estados Unidos como a crescente mobilidade entre os
conhecimentos dos trabalhadores, aumentando a dificuldade de controle da propriedade de
ideias e experiências por parte das indústrias.
Somado a esse fator, observamos o aumento do padrão e da complexidade da
competição entre as empresas exigindo das organizações uma capacidade maior de
gerenciamento de incertezas e acompanhamento das rápidas mudanças no mercado,
transitando para uma dinâmica em torno do domínio do conhecimento, que por vezes, é
encontrado fora dos limites da firma, modificando o formato dos negócios existentes (SILVA
E DACORSO, 2013).
Com as inovações, surgiram novas possibilidades para os engenheiros e cientistas
além da tradicionalmente ancorada ou seja, as inovações permitiram a descentralização do
processo de criação de novos produtos através de investidores que não eram proprietários das
grandes empresas e viam a possibilidade de grandes ganhos, surgindo o paradigma da
inovação aberta (ENKEL, GASSMANN E CHESBROUGH, 2009). Segundo esse novo
paradigma, os investimentos realizados exigem um equilíbrio entre a inovação aberta e
fechada de modo que a empresa consiga obter vantagem competitiva, criar produtos de valor e
garantir a propriedade intelectual dos seus principais produtos.
Sendo assim, o presente trabalho pretende explorar as congruências do entendimento
do processo de inovação aberta, considerando-o como uma visão teórica particular e inscrita
8
dentro do conceito de Sistema de Inovação (SI), no qual a apropriabilidade tecnológica é vista
de maneira diferente, considerando a distinção do teor inovativo (inovações sequenciais e
complementares, dentre outros).
Para tal propósito, o presente estudo foi estruturado em seis capítulos, sendo o
primeiro esta introdução. O segundo aborda os fundamentos teóricos sobre o processo de
construção da pesquisa e desenvolvimento (P&D). O terceiro faz uma rápida discussão
discussão de literatura sobre os sistemas nacionais de inovação (SNI). O quarto apresenta os
principais fundamentos teóricos que embasam este trabalho, presents na revisão de literatura
sobre o paradigma da inovação aberta. O quinto realiza uma análise comparativa com as
congruências entre a inovação aberta e os sistemas de inovação. E por fim, o sexton apresenta
as considerações finais do estudo.
9
2. O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE PESQUISA & DESENVOLVIMENTO
Alguns relatos históricos sugerem que as atividades iniciais de pesquisa e
desenvolvimento (P&D) cresceram pela necessidade da manutenção e melhoria das atividades
de produção por muitas indústrias (CHANDLER, 1990 apud. CHESBROUGH, 2006) e como
tais atividades eram únicas para cada firma, os investimentos em P&D também eram muito
específicos.
Segundo Freeman e Soete (2008), a expansão da departamentalização interna no seio da
empresa e de instituições especializadas em P&D foi talvez a mais importante mudança
econômica e social para a produção do século XX, sendo que atualmente os trabalhos de
pesquisa e desenvolvimento realizados em laboratórios especializados tiveram papel
fundamental na elevação do progresso tecnológico.
A partir da base tecnológica criada pela P&D interna, as firmas naturalmente se
posicionaram para explorar os conhecimentos acumulados para o desenvolvimento de novos
produtos, aumentando suas economias de escala e escopo. Em muitas indústrias com larga
escala as empresas passaram a dedicar-se de forma específica à função de P&D, criando
barreiras de entrada através de economias de escala e de custos (CHESBROUGH, 2006).
Os benefícios de escala e escopo da P&D interna ocorrem por um aumento vertical
integrado dos modelos de inovação onde grandes empresas focavam em suas atividades de
P&D, permitindo a comercialização através do desenvolvimento interno, manufatura e
distribuição de processos. Assim, o desenvolvimento de P&D vem ao longo do tempo
demonstrando ser um importante ativo de valor estratégico na criação de barreiras de entrada
de novos competidores no mercado.
Esse é o padrão de inovação conhecido como modelo linear, estabelecido por Vandnevar
Bush em 1945 e que compreende a mudança técnica como uma sequência de estágios, em que
novos conhecimentos derivados da pesquisa científica levariam a processos de invenção que
sucedidos por atividades de pesquisa aplicada e desenvolvimento tecnológico criariam, ao
final da cadeia, uma introdução de processos e produtos comercializáveis. Ou seja, a
aplicação do conhecimento científico na empresa para descobrir novos processos e produtos
(CONDE E ARAUJO-JORGE, 2003).
Depois da II Guerra Mundial, o paradigma do modelo linear ainda era recorrente,
acreditando que as criações vinham do laboratório de P&D das grandes corporações enquanto
o empreendedor individual com sua nova firma possuía amplamente apenas tecnologia
obsoleta (NELSON,2002).
10
Em contraponto a essa perspectiva de inovação no modelo linear, após a década de 1950
houve uma significativa evolução nas pesquisas sobre inovação, demonstrando que muitos
fatores além da P&D são responsáveis pelo sucesso no processo de inovação. Contudo as
dificuldades práticas de incorporação desses fatores nas comparações internacionais ainda
eram muito grandes (FREEMAN, 1995).
Além disso, muitos são os casos de inovações incrementais que vieram de técnicos e
engenheiros de produção, em resumo, do ‘chão da fábrica’ uma vez que estes estavam
fortemente relacionados a diferentes formas de trabalhos nas organizações (HOLLANDER
apud. FREEMAN, 1995). Ainda, pesquisas mais recentes como a de Nelson (2002)
demonstram que o número de indústrias que possuem rápida apropriação tecnológica são
empresas nascentes (startups) empreendedoras, na qual a inovação é baseada fortemente no
trabalho de um ou alguns indivíduos jogando com seus competidores e oferecendo forças
competitivas significativas para as grandes firmas, sendo em muitos dos casos, tecnologias
classificadas de science based (baseadas em ciência).
Algumas contribuições dessa nova literatura dos autores schumpeterianos-
institucionalistas, além dos já apresentados anteriormente, como o modelo Kline-Rosenberg
desenvolvido em 1986 e o modelos de Aoki desenvolvido em 1988, de modo geral enfatizam
que existem diferentes processos de condução de P&D, sendo que o papel da inovação vai
muito além dos conhecimentos derivados da pesquisa científica, salientando a importância da
ligação entre as diferentes atividades de pesquisa e as atividades industriais e comerciais, a
coordenação interna, as estruturas informacionais e os atores externos (fornecedores, spin-
offs, PMEs e etc) (SILVA E DACORSO, 2013; KUPFER E HASENCLEVER, 2013).
É importante ainda enfatizar a ideia de que o surgimento das inovações é catalisado graças
à associação entre um mercado potencial e uma ideia inventiva; logo, ao longo do tempo o
que muda são as formas pelas quais essa associação é alcançada, assim como o ambiente
(nacional ou internacional) em que ela ocorre (FREEMAN E SOETE, 2008). Assim, a
associação entre os diferentes agentes de uma economia apresenta-se como um aspecto
crucial para o posicionamento profícuo de uma estratégia inovativa. Por isso, é importante
entendermos o papel desempenhado pelos sistemas nacionais de inovação no processo de
P&D e, consequentemente, a geração de processos inovativos.
11
3. SISTEMAS NACIONAIS DE INOVAÇÃO (SNI)
Para Freeman (1995), Bengt-Ake Lundvall foi a primeira pessoa a utilizar a expressão
‘Sistema Nacional de Inovação’, advinda da concepção de ‘Sistema Nacional de Política
Econômica’ de Friedrich List1.
Freeman e Soete (2008) mostram que List defendeu não apenas a proteção das indústrias
nascentes, mas também a criação de um amplo leque de políticas que fossem destinados a
acelerar e possibilitar a industrialização e o respectivo crescimento econômico, sendo a
maioria dessas políticas voltada ao aprendizado e aplicabilidade de novas tecnologias,
antecipando, portanto, muitas das atuais teorias sobre os sistemas nacionais de inovações
(SNI).
É importante observarmos o fato de que muitos dos melhoramentos nos produtos e
serviços surgiram diretamente da interação com o mercado e com firmas relacionadas, tais
como fornecedores de materiais e serviços. A inovação formal costumava exercer uma
contribuição decisiva nas inovações radicais, mas não era possível ignorar as várias outras
influências dentro do processo de mudança técnicas no nível das indústrias (FREEMAN,
1995).
A partir do instante em que as maiores tecnologias ‘genéricas’ (biotecnologia, tecnologia
de novos materiais e tecnologia informacional) se difundem no mercado mundial a partir das
décadas de 1970/80, os aspectos estruturais da inovação assumem cada vez mais um papel de
destaque, tornando-se cada vez mais consenso que o sucesso das atividades inovativas, os
ganhos de produtividade e suas taxas de difusão dependiam de uma ampla variedade de outras
atuações, assim como das P&D formais (FREEMAN, 1995; FREEMAN E SOETE, 2008).
Isso ocorre porque em meados dos anos de 1970 as oportunidades para produção em
escala foram gradualmente exauridas e as firmas passaram a investir na melhoria das bases já
existentes e a expandir suas linhas de produtos.
1List defendeu não apenas proteção as indústrias infantes, mas também uma série de política designadas a
acelerar, ou tornar possível, a industrialização e o crescimento econômico, envolvendo um processo de aprendizado e aplicação de tecnologias. Além disso, List antecipou a construção do paradigma em que expõe
como característica essencial em um sistema de inovação nacional, a interdependência de tecnologias
estrangeiras e desenvolvimento técnico doméstico. As nações não só deveriam alcançar resultados pelos avanços
realizados nas nações mais avançadas, mas também deveriam se desenvolver pelos seus próprios esforços. Esse
modelo pode ser visto na abordagem prussiana na qual houve preocupação na criação e aquisição de ferramentas
tecnológicas. As transferências de tecnologias coordenadas pela Prússia tiveram significativo sucesso,
fornecendo a indústria de máquinas da Alemanha uma grande capacidade de desenvolvimento e produção
necessárias para a construção de locomotivas a vapor durante as décadas de 1840 e 1850 (ver FREEMAN,
1995).
12
As inovações realizadas nos EUA, Japão e Europa começam a ganhar destaque como base
de análise empírica, em especial a Europa. As firmas provenientes dos países da União
Europeia em média mostraram uma alta tendência de estratégias de pesquisas internacionais
em relação às companhias dos Estados Unidos e Japão, sendo que durante 1969-95, o total de
patentes compartilhadas pelas firmas da União Europeia cresceram cerca de 26,3% (entre
1969-1977) para 32,5% (1987-1995), com uma aceleração nos anos recentes (NARULA E
ZANFEI, 2005).
Enquanto isso, um grande contraste pode ser visto, por exemplo, nos sistemas nacionais
de inovações presentes nos países latino-americanos na década de 1980 e do Leste Asiático
(em especial os denominados ‘Tigres Asiáticos’), com destaque para dois países recém-
industrializados na década de 1980: Coréia do Sul e Brasil. Freeman e Soete (2008) a partir de
um quadro comparativo destacam algumas divergências entre os sistemas nacionais de
inovações desses países, a destacar:
a) Enquanto a América Latina apresentava um sistema educacional deteriorado, com
redução proporcional do número de engenheiros, o Leste Asiático buscou investir
fortemente em um sistema de ensino universal com grande proporção no nível
terciário, com alta proporção de formados em engenharia.
b) Alto nível de transferência tecnológica nos países da América Latina, em especial
dos EUA, com fraca P&D no âmbito das empresas e escassez de integração com a
transferência tecnológica. Já no Leste Asiático houve uma combinação entre
importações de tecnologia e criação de iniciativas locais de mudança técnica,
posteriormente com níveis de P&D crescendo rapidamente.
c) Na América Latina o P&D industrial permanece em condição estacionária, em
nível inferior a 25% do total com enfraquecimento da infraestrutura de ciência-
tecnologia, já no Leste Asiático o índice de P&D industrial eleva-se para mais de
50% de toda a P&D com alto desenvolvimento da infraestrutura científica e
tecnológica.
Essas diferenças institucionais apresentadas entre os países latino-americanos e os
países do Leste Asiático corroboram com a literatura a respeito dos sistemas de inovação, a
qual reconhece explicitamente que as políticas precisam ser analisadas a luz do contexto
13
específico, por isso, as instituições tem um papel fundamental no processo de construção de
um sistema de inovação. Para Altenburg (2008), essas diferenças são responsáveis pela
mudança nas condições econômicas e sociais e por isso, a escolha de tecnologias depende da
forma em que se estruturam tais instituições e suas condições sociais e econômicas iniciais.
2.1. Instituições e Sistemas Nacionais de Inovação (SNI)
Freeman e Soete (2008) expõem que a difusão de um novo paradigma tecnoeconômico
passa por um processo de tentativa e erro, que é construído a partir de uma grande variedade
institucional. Podemos observar que as características institucionais de determinada região
estão ligadas diretamente ao incentivo dos Sistemas Nacionais de Inovação (FREEMAN,
1995).
Em outros termos, as estruturas industriais, as tecnologias e as instituições de suporte se
interdependem (ALTENBURG, 2008). Estes fatores explicam o porquê de o conhecimento
tecnológico ser profundamente enraizado nas instituições específicas das sociedades e por isso
seu conteúdo e disponibilidade possuem uma grande variabilidade entre sociedades, ainda que
a dotação de fatores seja semelhante.
Na vida econômica, as instituições tem uma importante função de reduzir os custos de
transação. Em nosso caso, em uma economia competitiva e moderna as instituições-chave são
direcionadas para um melhor funcionamento do mercado. O mercado é o principal agente
construtor da competição como processo chave da inovação, por isso, políticas2 de promoção
à competição são centrais no crescimento da produtividade de um país. Isso inclui leis contra
o monopólio, abertura de mercado e medidas de incentivo a entrada e saída de firmas
(ALTENBURG, 2008).
Uma discussão realizada na literatura sobre o papel das mudanças institucionais e seu
papel na construção de inovações destaca duas correntes: as definições “estreitas” dos
sistemas de inovação e uma definição mais ampla.
A primeira (definição estreita) concentra no fato de que essas instituições promovem
deliberadamente a aquisição e disseminação de conhecimento e são recursos principais de
inovação; a segunda (definição ampla) reconhece que essas instituições “estreitas” estão
sendo colocadas em um sistema socioeconômico muito mais amplo em que as políticas e
2 A elaboração de politicas apropriadas aos países em desenvolvimento é essencial para a construção de uma
sólida aprendizagem tecnológica com importante desenvolvimento do sistema nacional de inovação.
14
influências culturais assim como as políticas econômicas ajudam a determinar a direção,
escala e o sucesso relativo das atividades de inovação e existe uma enorme diferença no
crescimento econômico de longo-prazo durante os dois séculos passados, atribuídos em larga
medida à presença ou ausência de capacidade social para mudanças institucionais.
(FREEMAN, 1995) (FREEMAN, 2002).
Nas inovações radicais, por exemplo, diferentemente das inovações incrementais3, a
importância de uma variedade institucional e do aprendizado localizado são ainda maiores,
uma vez que uma teoria de mudança técnica que ignore a interdependência entre inovação
técnica e inovação organizacional não é mais útil que uma teoria econômica na qual ignora a
interpendência de preços e quantidades em uma economia mundial (LUNDVALL, 1993).
Dado à importância de inovações radicais nos sistemas nacionais de inovação,
reconhecemos que o nível de financiamento da P&D é influenciado pelas políticas nacionais
(como, por exemplo, políticas macroeconômicas) e também pelo comportamento das
instituições nacionais (como, por exemplo, o mercado de capitais, agências de fomento e
sistemas de governança corporativa).
Porém, o conceito geral de diferenças nacionais nas capacidades de inovação como
determinantes do desempenho tem sido mudado com o fundamento de que as corporações
transnacionais (TNC- Transnacional corporations) vêm mudando a forma da economia
mundial em direção a um processo de globalização.
3.2. Globalização e Sistemas Nacionais de Inovação (SNI)
Pavitt (2002) expõe algumas importantes conclusões a respeito do relacionamento
entre as corporações globais e os sistemas nacionais de inovação:
a) as habilidades e o como fazer (know-how) que dão as firmas vantagem competitiva
são menos internacionalizados que outras dimensões da atividade corporativa, ou seja, muitas
firmas grandes em várias situações realizam suas atividades de P&D em casa;
b) como consequência, as atividades de inovação são significativamente influenciadas
pelo sistema nacional de inovação de seus respectivos países de origem tais como:
1) as habilidades da força de trabalho,
3 No caso de inovação incremental em economias abertas, a forma com que se dirige em torno da padronização é limitada, sendo a proximidade geográfica e cultural dos usuários avançados e a ligação o relacionamento dos
produtores-usuários um importante recurso para a vantagem comparativa e diversificação na inovação
(LUNDVALL, 1993).
15
2) a qualidade da pesquisa básica,
3) o sistema de governança corporativa,
4) o grau de competitividade,
5) o preço do trabalho e da energia e
6) os padrões persistentes de investimento privado;
c) em termos gerais, a pesquisa básica e o treinamento aperfeiçoam as capacidades
corporativas de resolver problemas complexos;
d) a competitividade tecnológica das firmas depende inevitavelmente de um sistema
nacional de inovação, e o sistema nacional de inovação depende inevitavelmente de uma
política governamental.
Segundo o relatório da OCDE (2008), as redes de inovação global influenciam
significativamente no sistema regional e nacional de inovação aberta; a ciência, a tecnologia e
a política de inovação devem ser desenhadas em um contexto nacional; políticas estruturais,
tais como mercado de trabalho e políticas de incentivo a competição como uma estrutura
pública para inovação e uma força de trabalho habilidosa são essenciais.
Narula e Zanfei (2005) identificam dois tipos de atividades de P&D dentro dos
sistemas de inovação; a) as firmas internacionalizam sua P&D por conta da necessidade de
aperfeiçoar os caminhos aos quais os recursos são utilizados, ou seja, as empresas podem
buscar promover o uso de seus ativos tecnológicos em conjunção com condições locacionais
específicas às regiões/setores e b) as firmas utilizam uma estratégia de busca de ativos,
focadas em aperfeiçoar seus investimentos, ou adquirir ou criar por completo um novo ativo
tecnológico através das facilidades da P&D das regiões/setores. Essa linha assume a visão de
que as interações com outros países fornecem acesso a vantagens complementares específicas
que não estão disponíveis na base local de origem.
Para Narula e Zanfei (2005), a extensão da proteção da inovação é necessária à
comercialização de novos produtos em dado mercado, por conta do encurtamento do ciclo de
vida dos produtos. Assim, as patentes representam uma estratégia chave para a extensão de
certos mercados e ganhar acesso às economias de escala dinâmicas e estáticas.
Com um processo que se inicia na segunda grande guerra e se intensifica no final do
século XX, observou-se que no custo desses processos, em especial o da retenção de grandes
pesquisadores e os materiais necessários para o desenvolvimento de produtos, podiam ter
crescimento considerável. Junto a isso surgiram alguns importantes acontecimentos como: a)
a crescente mobilidade entre os conhecimentos dos trabalhadores, b) o aumento da dificuldade
16
de controle da propriedade de ideias e experiências por parte das indústrias gerando
externalidades fora da firma no processo inovativo e levando a três fatores:
1) aumento dos custos com o desenvolvimento de tecnologia,
2) redução da apropriabilidade tecnológica e consequentemente
3) à diminuição do ciclo de vida dos produtos (FREEMAN E SOETE, 2008).
Somado a esses fatores, observamos o aumento do padrão e da complexidade da
competição entre as empresas exigindo das organizações uma capacidade maior de
gerenciamento de incertezas e acompanhamento das rápidas mudanças no mercado,
transitando para uma dinâmica em torno do domínio do conhecimento, que por vezes, é
encontrado fora dos limites da firma.
Essa necessidade de gerenciamento de incertezas se dá pelo fato de que a socialização
de alguns dos riscos e incertezas decorrentes dentro da inovação técnica é difícil de ser
evitada por conta de algumas características inerentes ao processo como: a) as externalidades,
b) pressões da competição mundial e c) dos fatores de escala da P&D em conjunto com
consequências adversas do “laissez-innover” (FREEMAN E SOETE, 2008).
Assim, o conceito de inovação passou a incluir modelos de negócios4 que visassem
outras formas de criação de valor para a firma, mais do que apenas a tecnologia e a P&D
interna (CHESBROUGH, 2007), forçando a modificação do ciclo tradicionalmente sustentado
pela inovação fechada (DACORSO E SILVA, 2013). Nesse sentido, Chesbrough (2003b)
observa que a P&D interna não é mais o principal ativo estratégico, como apresentado em
tempos anteriores, por conta de uma mudança fundamental no modo como as companhias
geram novas ideias e as trazem para o mercado.
Em outras palavras, esse novo modelo no qual se utiliza de conhecimento externo permitia
a descentralização do processo de criação de novos produtos através de investidores que não
eram proprietários das grandes empresas e viam a possibilidade de grandes ganhos (ENKEL,
GASSMANN E CHESBROUGH, 2009).
4 Como explicita Chesbrough (2007), toda companhia possui um modelo de negócio, sejam elas articuladas ou não, tendo duas importantes funções: criar valor e capturar valor, se definindo primeiro uma série de atividades
ao qual produzirá um novo serviço ou produto no qual terá um valor líquido criado ao longo de várias atividades
e capturando valor de uma porção de várias atividades para a firma. O modelo de negócios surge para articular o
valor criado para os clientes pela oferta, a especificação dos mecanismos de geração de receita da firma e a
estimação da estrutura de custo e do potencial de lucro da produção e da oferta, como forma de garantir a busca
da minimização dos custos gerados durante o processo de pesquisa e desenvolvimento.
17
Em decorrência desses fatores, e dada a importância dos trabalhos de pesquisa e
desenvolvimento realizados em laboratórios especializados na elevação do progresso
tecnológico (FREEMAN E SOETE, 2008), uma nova literatura emergiu para tentar entender
as relações entre P&D, os sistemas regionais de inovação e a geração de novos processos
produtivos em que o acesso à informação e à criação de novos produtos se encontram
altamente globalizados e além dos laboratórios internos das grandes empresas, o que
denominamos de paradigma da inovação aberta (CHESBROUGH, 2003).
18
4. O PARADIGMA DA INOVAÇÃO ABERTA
Vários modelos vêm sendo criados para explicar como as firmas podem explorar os
conhecimentos externos, mas o mais simples de todos se resume a imitação de um
competidor. A pesquisa com consumidores que lidarão com usuários finais também podem
fornecer ideias à firma sobre como descobrir, desenvolver e aperfeiçoar suas inovações (VON
HIPPEL, 1988 apud. CHESBROUGH, 2006).
A literatura tradicional, baseada em um padrão econômico racional e focada na proteção
de inventores por patentes diz que, a menos que o competidor seja impedido de imitar uma
invenção, o inventor pode não colher lucro suficiente para cobrir esse custo (BESSEN E
MASKIN, 2009).
A indústria de software dos Estados Unidos, por exemplo, foi submetida durante os
anos de 1980 e 1990 a importantes experiências de fortalecimento das patentes de programas
de computadores e longe de desencadear uma onda de nova atividade inovadora, as firmas
que adquiriram muitas dessas patentes reduziram seus gastos de P&D em relação às vendas
(BESSEN E MASKIN, 2009).
Nesse caso, as evidências sugerem que a proteção por patentes não levou a um
resultado ótimo, porque para alguns setores específicos, como a indústria de software ou
computadores, a teoria sugere que a imitação deve promover a inovação e que patentes fortes
(patentes com longa duração) podem, na verdade, inibi-la (BESSEN E MASKIN, 2009).
Assim, caso a proteção da propriedade intelectual fosse mais limitada em indústrias, as
empresas inovadoras poderiam desenvolver de forma mais efetiva o processo de imitação5,
ainda que reduzam o lucro em sua descoberta atual elas aumentam a probabilidade de
inovações6 posteriores, e consequentemente a melhoria de lucro futuro.
5 Bessen e Maskin (1999) mostram que existem indústrias em que a inovação é ao mesmo tempo sequencial e complementar. Por sequencial, entende-se que a cada invenção sucessiva é construída por uma invenção anterior
e complementar significa que cada inovador potencial toma uma linha de pesquisa diferente, aumentando assim
à probabilidade geral que um objetivo específico seja alcançado dentro de um determinado tempo, logo a
imitação pode ser socialmente desejável em indústrias de inovação sequencial e complementar porque ajuda o
imitador a desenvolver novas invenções.
6 Bessen e Maskin (2009) não descartam a ideia de que ainda em um ambiente sequencial, alguma forma de proteção é essencial para promover a inovação caso não haja nenhum custo para a entrada e não haja limite para
a rapidez de como a imitação pode ocorrer. Nesse caso, os imitadores poderiam copiar imediatamente, sempre
que uma nova descoberta for feita, levando as receitas do inventor para zero. Porém, eles assumem que a entrada
requer investimento em capital especializado, seja capital humano ou não.
19
Esse fato ocorre porque quando a inovação é sequencial e complementar, a imitação
torna-se um incentivo à inovação já que os diferentes padrões de P&D por trás dos produtos
permitem complementaridades inovativas, ou seja, a imitação tende a alavancar a
“biodiversidade” da tecnologia, melhorando as perspectivas para a inovação futura e a
empresa pode ser capaz de produzir valor com as inovações através de licenciamento,
estimulando a produção de mais inovações (BESSEN E MASKIN, 1999; TEECE, 1986).
Além disso, a complementaridade entre as firmas7 no cenário sequencial cresce
naturalmente quando algumas, mas não todas, as informações técnicas necessárias para a
inovação se difundem livremente ou a baixo custo.
Já em um modelo estático8 (não sequencial), patentes
9 são melhores que a não
existência delas desde que o limite superior da distribuição de valores de inovação seja
suficientemente consistente e o bem-estar esperado com a proteção das patentes exceda o caso
de sua não proteção, em resumo, a concorrência de forma explícita diminui a recompensa de
um possível inventor (BESSEN E MASKIN, 1999).
No caso de indústrias de alta tecnologia, uma vez que tais firmas possuem a habilidade
de gerar receitas positivas (ainda que possivelmente reduzidas) quando realizado o processo
de imitação. Isso significa dizer que as patentes podem, no caso dessas indústrias, reduzir o
bem-estar, já que o bloqueio da imitação poderá interferir em inovações futuras (BESSEN E
MASKIN, 1999).
Por isso, dependendo da atividade setorial, a sociedade e alguns inventores ficarão em
melhores condições sem tais proteções. No caso da Inovação Aberta, observamos essas
evidências partindo da análise de indústrias de “alta tecnologia”. Isso implica no fato de que
em firmas maiores, com um mercado mais voltado a atividades de alta tecnologia, como na
produção de semicondutores, a proteção da propriedade intelectual é direta, a inovação aberta
torna-se ferramenta de governança essencial para garantir a competitividade e a conquista
robusta de uma parte do mercado (HUIZINGH E KRE, 2011; FELIN E ZENGER, 2014).
7 Isso ocorre porque em um cenário típico, o sucesso comercial de um produto inovador mostra informações parciais que é útil para aspirantes a inventores (talvez porque ele facilita a engenharia reversa), que, em seguida,
aplica a sua própria experiência particular (BESSEN E MASKIN, 2009).
8 Como descrito na proposição 1 de Bessen e Maskin (2009), “Em um modelo estático, o nível de equilíbrio de
investimento em P&D sem patentes é menor ou igual ao ótimo social. Por contraste, o nível de equilíbrio do
investimento em P&D com proteção a patente é maior que o ótimo social” (p.14).
9 Vale lembrarmos que apesar das patentes incentivam imitadores a investir em inovação, elas também criam um
risco de sobreinvestimento em P&D (BESSEN E MASKIN, 2009).
20
Isso ocorre porque a inovação aberta afeta as habilidades da firma de gerar e capturar
as rendas da economia que acompanham a vantagem competitiva que vem do controle da
propriedade intelectual, subjacentes às inovações (REED, STORRUD-BARNES E JESSUP,
2012).
Para Reed, Storrud-Barnes e Jessup (2012), a Inovação aberta permite ganhos
monopolísticos de economias de escala10
, curva de efeitos de experiência e requisição de
capital.
Como observam Huizingh e Kre (2011), a inovação aberta se tornou um termo que
engloba, conecta e integra uma série de atividades já existentes, assim existem diferentes
práticas da inovação aberta (natureza multidimensional) e estas podem ser ligadas a diferentes
matrizes que distinguirão as diferentes formas de se inovar.
Nelson e Winter (1982), por exemplo, procuraram modelar a decisão da firma por
procurar uma nova tecnologia de fora no processo de criação da organização, Cohen e
Levinthal (1989, 1990) demonstraram os dois lados da P&D (o lado de dentro de fora da
firma), além da importância do investimento na pesquisa interna objetivando utilizar
tecnologias externas, o que eles denominaram “capacidade absortiva”.
Se as empresas não desenvolvem capacidades absortivas suficientes por si próprias,
elas devem se utilizar de alianças estratégicas objetivando ganhar tais conhecimentos,
utilizando recursos complementares para exploração desse conhecimento. Essa abordagem de
aliança é particularmente comum em indústrias com tecnologias intensivas como as de
biotecnologia (POWELL, KOPUT E SMITH-DOERR, 1996 apud CHESBROUGH, 2006).
Nesse novo modelo de Inovação Aberta, as firmas comercializam ideias externas pela
implantação de caminhos externos no mercado11
, portanto, as companhias olham as
oportunidades de forma diferente, incorporando a capacidade de resgatar “falsos negativos”
(projetos que inicialmente pareciam não ter capacidade, mas se tornam de surpreendentes
valores) e reavaliando as ideias não aproveitadas que requerem um novo tipo de distribuição
desconhecida de recursos, bens e posições, permitindo a circulação e uso dessas ideias em
10 Sandroni (1994) define economia de escala como “a produção de bens em larga escala, com vistas a uma considerável redução nos custos, resultando na racionalização intensiva da atividade produtiva”.
11 O novo paradigma criado por Chesbrough (2003) expõe que o conhecimento externo além de desempenhar um papel útil, também suplementa na teorização prévia sobre inovação, jogando com as regras iguais ao que é
assegurado pelo conhecimento interno em concepções anteriores. Observa-se ainda quatro recursos externos de
conhecimento útil ajudam nesse processo de identificação: 1) universidades, governos e laboratórios privados; 2)
ofertantes e consumidores; 3) competidores e 4) outras nações (VON HIPPEL, 1988 apud. CHESBROUGH,
2006).
21
outras empresas nas quais essas pesquisas possam gerar um novo produto (CHESBROUGH,
2003).
Dahlander e Gann (2010) procuram esclarecer que a inovação aberta pode ser vista
como um exemplo de como as firmas tomam decisões entre desenvolver as inovações
internamente ou parcerias com atores externos.
Logo os investimentos realizados exigem um equilíbrio entre a inovação aberta e
fechada de modo que a empresa consiga obter vantagem competitiva, criar produtos de valor e
garantir a propriedade intelectual dos seus principais produtos (CHESBROUGH, 2012).
Laursen e Salter (2014) tentam expor, a partir da literatura emergente em inovação
aberta, como as decisões das firmas por abrir para diferentes atores externos são relacionados
às escolhas que eles fazem sobre sua estratégia de apropriabilidade12
.
Como exposto por Vanhaverbeke, Van de Vrande e Chesbrough (2008), a inovação
aberta se baseia em uma imagem de conhecimentos descentralizados e sem fechamento de sua
propriedade intelectual, com a busca de lucratividade por outros meios como: acordo de
licença de tecnologia, joint ventures e outros acordos.
O que ocorre aqui é que em um modelo de Inovação Aberta, a propriedade intelectual
representa uma nova classe de ativos que podem ser entregues como receitas adicionais ao
atual modelo de negócios, além de permitir criar novas entradas, dentro de um negócio,
gerando novos modelos de negócios (VANHAVERBEKE, VAN DE VRANDE E
CHESBROUGH, 2008; CHESBROUGH, 2006).
Esses fatores são importantes porque uma firma que é focada internamente (com uma
abordagem de inovação fechada) fica sujeita a perder um número de oportunidades porque
muitas cairão fora dos negócios correntes ou precisaram se combinar com tecnologias
externas que destravam seu potencial, podendo ser doloroso para as corporações que fizeram
um investimento substancial em pesquisas ao longo prazo, somente para descobrir mais tarde
que alguns desses projetos abandonados se tornaram de grande valor comercial (WEST et al.,
2014).
Roper,Vahter e Love (2013) utilizando-se da análise de dados em painel com base em
modelos de regressão de variáveis instrumentais da indústria de transformação irlandesa 12 A apropriabilidade pode ser entendida como a abordagem decidida pela firma, para proteger os seus conhecimentos contra uma possível tentativa de cópia ou apropriação dos retornos de suas atividades inovadoras.
É importante enfatizarmos o fato de que a aplicação de mecanismos de proteção excessivamente restritivos pode
reduzir o interesse dos gestores das empresas em colaborar, ou ainda afastar os atores externos no sistema de
inovação, logo a estratégia de apropriabilidade da firma está estreitamente ligada ao nível de abertura da
empresa.
22
durante o período que compreende 1994 a 2008, sugerem que existe uma evidência positiva
entre a existência de externalidades na abertura da inovação, fornecendo uma justificativa
plausível para a intervenção pública de forma a incentivar o aumento de estratégias de
inovação aberta, maximizando o benefício social da abertura. Os autores mostram ainda que
uma competição mais intensa, através das inovações abertas, pode aumentar o incentivo ao
investimento em inovação aberta já na entrada da firma, resultando em uma melhoria de longo
prazo na produtividade da inovação13
.
Dessa forma, se torna essencial entendermos a conceituação e o funcionamento do
modelo de negócios no processo de inovação aberta.
3.1. O modelo de negócios na Inovação Aberta
A construção de um modelo de negócios robusto permite a empresa encontrar de
forma mais efetiva as oportunidades de mercado, criando a possibilidade de competir a partir
da reinvenção do que já existe no mercado.
A inovação aberta utiliza-se de modelos de negócios que procuram definir as
arquiteturas e sistemas em que as ideias internas e externas possam criar valor, ao conseguir
definir mecanismos internos para reivindicar uma parcela desse valor. É essencial para o
processo de Inovação Aberta que as ideias internas também possam ser tomadas pelos canais
de mercado externo, fora do atual negócio da firma, para gerar valor adicional, ou seja, o
processo de pesquisa e desenvolvimento é tratado como um sistema aberto (ENKEL,
GASSMANN E CHESBROUGH, 2009).
Nas invenções da Xerox PARC, por exemplo, o crescimento do modelo de negócios
foi mediado dentre as entradas internas e os benefícios econômicos da tecnologia,
estruturando como as firmas criaram e capturaram valor de um mercado específico
(CHESBROUGH E ROSENBLOOM, 2002).
As empresas que praticam as competências do modelo de inovação aberta aumentam
suas chances de entrar em outros mercados por meio da atuação em conjunto com outra firma;
podendo ter acesso ao portfólio de tecnologias de outras companhias, disseminando
tecnologia própria para outras empresas, o que permite criar um potencial de lucro com essa
tecnologia que até então era obsoleta em seu portfólio, além de não infrigirem as lei de
13 É importante enfatizar o fato de que a força em que este tipo de competição exercerá depende da distância em que a firma particular estará dos seus competidores em termos de desempenho da inovação e nível de
tecnologia/conhecimento.
23
propriedade intelectual (PI), já que a informação passa a ser compartilhada, podendo ainda
desenvolver atividades compartilhadas de P&D, oportunizando a conquista de liderança
tecnológica (CHESBROUGH, 2006).
Podemos observar, por exemplo, o caso da IBM que repensou em toda a abordagem de
gerencialmente de propriedade intelectual, especialmente nas tecnologias e patentes.
Mudando de uma abordagem defensiva (focado na proteção de PI) para uma abordagem
efetiva (focado no licenciamento de PI para terceiros), a companhia foi capaz de gerar
significantes novas receitas (CHESBROUGH, 2013).
A inovação aberta potencializa o potencial de criação de novos negócios e reduz os
riscos, aumentando o aprendizado em vários espaços de companhias inovadoras. Nesse caso,
as firmas têm a possibilidade de desenvolver novas competências em ordem migrar através de
mais tecnologias atrativas e aplicações.
Contudo vale lembrar que as vantagens não vêm automaticamente. As companhias
devem desenvolver novas rotinas, habilidades e estratégias (VANHAKERBEKE, VAN DE
BRANDE & CHESBROUGH, 2008)14
. Em sua essência a inovação aberta assume que o
conhecimento útil é globalmente distribuído, e que as organizações de P&D podem
identificar, e conectar-se, e alavancar-se a fontes de conhecimentos externos como um
processo de inovação.
Muitas companhias têm definido novas estratégias para explorar os princípios da
inovação aberta, explorando os possíveis caminhos em que as tecnologias externas podem
preencher buracos em seus atuais negócios e observando como as tecnologias internas podem
ser uma forma de se criar valor na criação de novos negócios fora da organização atual,
focando em três áreas principais: financiamento, geração e comercialização de inovação
(CHESBROUGH, 2007).
Para que se possa realizar a escolha de qual caminho tomar na P&D interna,
disseminação do aprendizado gerado nesse processo interno, além da busca e abertura para
tecnologias e ideias e soluções externas até a geração de um novo processo, produto ou
criação de nova tecnologia, devemos entender em que contexto se insere o paradigma da
inovação aberta dentro dessas etapas e como se realiza esse processo em cada uma dessas
fases.
14 Segundo os autores, “Where there is a wealth of information, there is a poverty of attention”.
24
4.2. O processo de inovação aberta
Existem dentro do processo de inovação aberta dois tipos de processos iniciais até a
geração da inovação: a entrada de inovação aberta (inbound open innovation) e a saída de
inovação aberta (outbound open innovation). A entrada de inovação aberta, por exemplo,
refere-se ao uso interno de conhecimento externo enquanto o processo de saída da inovação
aberta refere-se à exploração do conhecimento interno, referindo-se a três processos de
conhecimento: a exploração, a manutenção e a retenção que pode ser utilizada dentro ou fora
da empresa (HUIZINGH E KRE, 2011).
A grande diferença da inovação aberta se insere exatamente no processo de saída, uma
vez que ela permite a busca de fluxos de ideias externas para resolução de problemas internos,
e em troca, oferece o fluxo de ideias internas que não utilizados dentro da empresa para
resolução de problemas externos, como será exposto de forma mais contundente nos próximos
parágrafos.
Segundo o processo de inovação a partir do modelo de inovação fechada, os projetos
de pesquisa são lançados da base científica e tecnológica da firma. Seu progresso através do
processo, e alguns projetos são encerrados, enquanto outros são selecionados para
continuação de seu desenvolvimento e um subconjunto desses são escolhidos para que sejam
encaminhados para o mercado.
Esse processo é denominado processo “fechado” porque projetos somente podem
entrar em um caminho, no começo, e somente podem sair por um caminho, indo para o
mercado. Os laboratórios Bell da AT&T são um exemplar desse modelo, com notáveis
conquistas em muitas pesquisas, mas com uma notória cultura focada para dentro
(CHESBROUGH, 2006).
Em um modelo de Inovação Aberta, os projetos podem ser desenvolvidos por
tecnologias de recursos internos ou externos, e uma nova tecnologia pode se inserir dentro de
um processo em vários estágios.
Quando as firmas saem para absorver conhecimento externo, tem como objetivo o
desenvolvimento interno da manufatura e das vendas. No paradigma da Inovação Aberta,
abrir os fluxos de saída de tecnologias permitem as tecnologias que estejam em falta a serem
preenchidas em sua busca de mercado interno através do padrão externo15
.
15 O negócio interno da firma agora é complementado com canais externos de mercado para novas
tecnologias, fornecendo evidências de emergência ou negligência técnica das oportunidades de mercado (de
25
Esse processo permite que os projetos se encaminhem para o mercado em muitos
caminhos, por exemplo, através de uma spin-off venture company, em adição a ir para o
mercado através dos próprios canais de marketing e venda. Este modelo pode ser considerado
“aberto” porque existem vários caminhos para que as ideias fluam dentro do processo, e
muitos caminhos para que o fluxo seja de fora para dentro do mercado. Empresas como IBM,
Procter & Gamble e Intel são excelentes exemplos desse modelo de inovação aberta
(CHESBROUGH, 2006).
No modelo de Inovação Aberta, acredita-se que o conhecimento útil está universalmente
distribuído, e geralmente em alta qualidade16
e por isso, torna-se fundamental avaliar a
qualidade da aplicabilidade desses conhecimentos com o desenvolvimento de métricas
específicas.
4.3. As métricas no processo de Inovação Aberta
O último ponto que gira em torno dessa nova abordagem é o desenvolvimento de
novas e diferentes métricas para acessar o desempenho do processo de inovação da firma.
Métricas clássicas incluem a porcentagem de investimento gastos em P&D interno, o número
de novos produtos desenvolvidos no ano passado, a porcentagem de vendas para os novos
produtos, e o número de patentes produzidas por dólar de P&D.
Questões como quanto da P&D está sendo conduzida de dentro do canal de oferta da
firma se tornam mais importantes, assim a nova análise passa a ser centrada em questões
como em qual porcentagem de atividades de inovação vindas de fora da firma, e quanto disso
se compara com a indústria na qual a firma opera, o tempo em que as ideias levam para ir do
certa forma, sendo uma segunda opinião), constituindo uma forma de gerenciar os projetos de P&D “falsos
negativos”.
16 A respeito da melhor forma de se utilizar o conhecimento, cabe aqui a exposição de Hayek (1945). Como expõe Hayek (1945), o problema econômico da sociedade não é meramente de como alocar os recursos dados,
isso é um problema da utilização do conhecimento não dado a todos em sua totalidade. Tanto teoria econômica e
política econômica têm suas origens em comum em um equívoco sobre a natureza dos problemas econômicos da
sociedade. Esse equívoco, por sua vez ocorre devido a um erro de transferência para o fenômeno social dos
hábitos de pensamento que nós temos desenvolvido ao lidar com os fenômenos da natureza.
Os vários caminhos no qual o conhecimento de cada pessoa baseia seus planos é comunicado a elas é um problema crucial para qualquer teoria que explique o processo econômico. E o problema de qual é o melhor
caminho para utilizar o conhecimento inicialmente dispersado entre todas as pessoas é de certa forma um dos
problemas principais de política econômica, ou de desenho de um sistema econômico eficiente. Não podemos
esperar que os problemas da sociedade sejam comunicados todos os conhecimentos para uma entidade central,
depois integrando todo o conhecimento para resolução. Nós precisamos resolver isso por alguma forma de
descentralização.
26
laboratório ao mercado e quantas variedades de canais de mercado existem se tornam
questões essenciais (CHESBROUGH, 2007).
O grande interesse prático predomina no mercado uma vez que os gestores
observaram que esse novo paradigma leva a uma redução de custo considerável porque muitas
firmas estão na posição de usar a tecnologia ao invés de criá-la.
Segundo Vanhaebrbeke, Van de Vrande e Chesbrough (2008), as firmas inovadoras
têm de aprender novas rotinas e habilidades toda à “opção real” de potencial das práticas de
inovação aberta, cada negócio matura depois de um tempo, por isso as firmas devem sempre
olhar para novas oportunidades de negócios já que estender a vida útil de seus produtos deve
ser uma solução de curto prazo.
Parte das vantagens em utilizar a inovação aberta em uma corporate venturing17
por
exemplo, pode ser explicada aplicando as abordagens de opções reais. Inovação aberta em
atividades de risco tais como em corporate venturing tem as seguintes vantagens: a)
benefícios para os envolvidos iniciais nas oportunidades de negócios e nas novas tecnologias;
b) redução das perdas iniciais e c) atraso dos compromissos financeiros por parte das
empresas. Esses benefícios não se materializam automaticamente (VANHABERBEKE, VAN
DE VRANDE E CHESBROUGH, 2008).
Portanto, o que se observa é que o gerenciamento externo (através da inovação aberta)
de corporate venture estimula o crescimento, uma vez que a) tem sido um dos veículos
organizacionais de aplicação de inovação aberta em firmas inovadoras e b) é uma atividade de
risco que pode ser utilizada como um primeiro, mas, reversível passo em uma sequência de
investimentos com crescimento de comprometimento financeiro por parte das empresas
investidoras (VANHAKERBEKE, VAN DE BRANDE & CHESBROUGH, 2008).
3.4. O paradigma da inovação aberta como alternativa competitiva
A evolução do mercado e das necessidades dos clientes junto ao aumento da
competição global trouxeram uma necessidade crescente de inovação por parte de algumas
realidades setorias, como é o caso das empresas com alto nível de tecnologia (software,
computadores, etc) e diante dessas questões, o modelo de inovação aberta surge como nova
17 O conceito de corporta venturing tem raízes no ventures capital, em que investidores de risco aplicam recursos em empresas nascentes visando lucro futuro. A diferença é que, neste caso, são empresas e organizações
que assumem o lugar do investidor. Além disso, os investimentos tradicionais oferecem no máximo um suporte a
gestão ou mentoria enquanto uma organização estruturada pode oferecer, além do capital, uma série de outros
ativos como tecnologia, força de marca, canais de distribuição, ferramentas de gestão, etc.
27
alternativa competitiva, dada as possibilidades de aprendizado, acesso a tecnologias,
conhecimento, posicionamento competitivo e geração de valor.
Por fim, é importante entendermos que ainda é muito cedo para que possamos afirmar
que o paradigma da inovação aberta vá fornecer uma contribuição duradoura para a nossa
compreensão da inovação, porém podemos afirmar que tal paradigma vem causando grande
impacto em nossa compreensão sobre inovação.
A partir dessa perspectiva, muitas das indústrias inovadoras (software,
semicondutores, biotecnologia, computadores), nas últimas três décadas, historicamente tem
enfraquecido suas políticas de proteção de patentes e buscado soluções externas às suas
necessidades e tem com isso, experimentado rápida inovação em seus produtos.
28
5. CONGRUÊNCIAS TEÓRICAS ENTRE INOVAÇÃO ABERTA E SISTEMAS
DE INOVAÇÃO
Desde 1970, alguns pesquisadores tem entendido e verificado que muitas vezes os
recursos para a ideias inovativas vem de fora da firma como Gibbons e Johnston (1974)
estudando os recursos de informação para invenções técnicas, Freeman e Soete (2008) em sua
pesquisa sobre a indústria química, von Hippel (1976) e o crescimento de usuários na geração
de inovações e Allen (1977) com estudo do crescimento da habilidade da firma com a
assimilação de conhecimento externo e portanto, os estudos desses autores já reconheciam o
surgimento de um novo modelo, ainda que ainda não fosse denominada de Inovação Aberta
(mais tarde feita por Chesbrough(2003).
O modelo de Inovação Aberta nasce a partir da análise dos estudos de Freeman (2008) e
outros a respeito dos sistemas de inovação, ou seja, a inovação aberta é baseada sob um
modelo verticalmente integrado de P&D, logo sendo de certa forma um subproduto do
estudos de SNI.
Ainda que se enfatize a importância de sistemas de inovação abertos como formas de
desenvolvimento para economias atrasadas, as inovações ainda continuam apresentando um
importante conteúdo local específico, por envolverem um conjunto de fatores que vão além
dos aspectos unicamente tecnológicos, além de serem também de natureza institucional
(NELSON, 2002). Deve-se atentar ao fato de que o desenvolvimento do produto/processo e a
difusão do conhecimento18
irão depender das características da empresa, ou seja, quanto mais
concentrada a empresa, menor a necessidade de aprendizado interativo (DATHEIN E
PEREIRA, 2012).
Os dois fenômenos são inicialmente desenvolvidos por um pequeno número de
praticantes da inovação, possuindo como foco inicial um grande número de indústrias de alta
tecnologia, distinguindo-se apenas sobre o formato em que se escolhem suas ideias. Seja no
sistema de inovação como na inovação aberta, vê-se a grande importância da P&D para a
realização do processo de inovação, porém a inovação aberta é adeptas a ideia dos “falsos
positivos” (isso é, ideias ruins que inicialmente parecem promissoras), e do resgate de “falsos
negativos” (projetos que inicialmente pareciam não ter capacidade, mas se tornam de
surpreendentes valores).
18 Dathein e Pereira (2012) identificam uma grande relação entre o processo de aprendizado, a rotina e o conhecimento tácito, em que a inovação (entendido aqui por um processo criativo) “(...) é resultado da relação
entre compreensão e execução, que conduzem a uma melhor concepção do processo produtivo e/ou
organizacional”(p. 13).
29
A visão da inovação aberta permite que as ideias, a propriedade intelectual e as
pessoas circulem livremente tanto dentro como fora da organização, o que induz a empresa na
criação de novos produtos e novas capacidades internas (CHESBROUGH; GARMAN, 2009).
No paradigma da Inovação Aberta, abrir os fluxos de saída de tecnologias permite que
tecnologias deficitárias ao nível da firma sejam preenchidas em sua busca de mercado interno
através do padrão externo constituindo uma importante forma de gerenciar os projetos de
P&D “falsos negativos”. Em suma, uma vez que se as empresa não desenvolvem capacidades
absortivas suficientes por si próprias, elas devem se utilizar de alianças estratégicas
objetivando ganhar tais conhecimentos, utilizando recursos complementares para exploração
desse conhecimento.
Essa abordagem de aliança é particularmente comum em indústrias com tecnologias
intensivas como as de biotecnologia, software, eletrônica, telecomunicações, farmácia e
biotecnologia. No software, vemos a Microsoft construindo laboratórios descentralizados de
pesquisa ou em universidades objetivando aumentar sua capacidade absortiva do processo de
inovação outside-in (POWELL, KOPUT E SMITH-DOERR, 1996 APUD CHESBROUGH,
2006; GASSMANN, ENHEL, CHESBROUGH, 2010).
Alguns outros exemplos de empresas que utilizam desse modelo são: a DuPont, uma
indústria química19
; Procter & Gamble Co., uma corporação de produtos de bens de consumo;
Philips, empresa na área de estilo de vida, saúde e iluminação; Top Coder, uma empresa de
desenvolvedores de softwares e a Recepta Biopharma, uma companhia biotecnológica.
Vemos a predominância da DuPont com a criação de uma variedade de produtos como
a fibra sintética e o nylon. A Procter & Gamble, em meados de 2010 criou uma posição de
diretor externo de inovação e criou uma meta de fornecimento de 50% das suas inovações de
fora da companhia em cinco anos, com a estimativa de atingir 10% em 2013.
A Philips convidou outras companhias a criarem junto a seus times de P&D criando um
espaço compartilhado por mais de 7000 pessoas de 15 companhias, incluindo ASML,
Bekaert, IBM e NXP. (CHESBROUGH E GARMAN, 2009).
Outro exemplo é a empresa TopCoder, a qual tem um modelo que permite uma rede de
quase 300.000 desenvolvedores para mais de 200 países, agregando demanda por tarefas
específicas (MALONE, LAUBACHER, JOHNS, 2011).
19 O locus de inovação dessas grandes indústrias mudou de um laboratório central de P & D para startups, universidades, consórcios de pesquisa e outras organizações de fora da organização.
30
A Recepta Biopharma é uma empresa de biotecnologia que realiza P&D para
desenvolvimento de novos fármacos a serem utilizados no tratamento do câncer. A construção
de um modelo de negócios baseado na inovação aberta permitiu um baixo investimento
financeiro próprio e grande desenvolvimento científico, a partir de parcerias com
universidades públicas, hospitais e centros de pesquisa. Os recursos foram obtidos de dois
empresários independentes (sócios da empresa) e de agências de fomento a pesquisa. O ativo
principal da empresa são as quatro patentes de anticorpos monoclonais licenciadas pelo
Instituo Ludwig de Pesquisas sobre o Câncer (LICR), em troca de sociedade na empresa
(STAL, NOHARA, DE FREITAS CHAGAS, JR, 2014).
Conclui-se, portanto, em firmas com um mercado mais voltado à atividades de alta
tecnologia, caracterizada por um desenvolvimento sequencial e complementar (como a
produção de software) a inovação aberta torna-se ferramenta essencial na garantia da
competitividade e a conquista robusta de uma parte do mercado.
Em suma, deve-se atentar para possíveis congruências no processo de inovação aberta
que surge na verdade como uma visão teórica dentro do conceito de sistema nacional de
inovação, no qual a apropriabilidade tecnológica é vista de maneira diferente visto o teor
diferente da inovação (sequencial, complementar, etc), uma vez que todo modelo que surge
como novo paradigma da inovação industrial deve contar com o estabelecimento de
paradigmas anteriores que os dão suporte (KUHN, 1962; FEYERABEND, 1981 apud.
CHESBROUGH, 2006).
31
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A evolução da importância da institucionalização das atividades de pesquisa e
desenvolvimento para o processo de inovação tecnológica mostra que essas atividades se
tornaram uma importante estratégia na criação de barreiras de entrada de novos competidores
no mercado em um primeiro momento, contribuindo de forma decisiva nas inovações radicais
sem ignorar em um segundo momento, outras influências dentro do processo de mudança
técnicas no nível das indústrias. Porém, com o avanço dos processos de P&D nas décadas de
1970/80, a partir do instante em que setores como o de biotecnologia e tecnologia da
informação se apresentam como os novos paradigmas tecnológicos mundiais, a estrutura da
inovação começa a assumir uma função diferente no mercado mundial.
Já que a difusão dependia de uma ampla variedade de outras atuações, verifica-se um
aumento nos custos do desenvolvimento dos processos tecnológicos com a redução da
necessidade de apropriabilidade tecnológica interna plena e do ciclo de vida dos produtos,
exigindo das organizações uma capacidade maior de gerenciamento de incertezas e
acompanhamento das rápidas mudanças no mercado.
Em determinados setores, como a indústria de software, a proteção por patentes não
elevou o conteúdo inovativo a resultados satisfatórios, visto que a inovação é sequencial e
complementar, ou seja, a imitação deve promover a inovação pois tende a alavancar a
diversidade tecnológica com o melhoramento da inovação futura, sendo capaz de produzir
valor através de licenciamento e estímulo na produção de mais inovações.
Podemos concluir, portanto, que em firmas cujo mercado tende a ser caracterizado por
um desenvolvimento sequencial e complementar de inovações, a apropriabilidade tecnológica
mais eficaz nem sempre a melhor estratégia de negócios para um agente que visa apropriação
de lucros. Em alguns casos a abertura das patentes permitem uma alavancagem e ganhos de
escopo e escala nos processos de mercado, reduzindo os custos dentro do ciclo de vida dos
produtos.
32
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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dissemination of technological information within the R and D organization”. 1977.
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