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Centro de Convenções Ulysses Guimarães Brasília/DF 16, 17 e 18 de abril de 2013 INOVAÇÃO ABERTA E DESIGN THINKING NO SETOR PÚBLICO: O CASO DA “GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA” NO MOVIMENTO MINAS Ricardo Kadouaki Cícero Nogueira Marra

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Centro de Convenções Ulysses Guimarães Brasília/DF – 16, 17 e 18 de abril de 2013

INOVAÇÃO ABERTA E DESIGN THINKING NO SETOR PÚBLICO: O CASO DA “GRAVIDEZ NA

ADOLESCÊNCIA” NO MOVIMENTO MINAS

Ricardo Kadouaki Cícero Nogueira Marra

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Painel 29/110 Governança e participação em políticas públicas

INOVAÇÃO ABERTA E DESIGN THINKING NO SETOR PÚBLICO:

O CASO DA “GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA” NO MOVIMENTO MINAS

Ricardo Kadouaki Cícero Nogueira Marra

RESUMO O presente trabalho visa descrever e refletir sobre a aplicação da abordagem de design thinking no desenho colaborativo de soluções para um problema coletivo. O caso estudado é do processo de cocriação da “Gravidez na Adolescência”, tema abordado pelo projeto Movimento Minas. Não houve rigor metodológico no registro das atividades abordadas neste trabalho; trata-se da visão do autor, integrante da equipe do projeto, em relação a forma como aconteceu. O Movimento Minas é um projeto que busca aproximar e corresponsabilizar Estado e sociedade em torno dos problemas da sociedade mineira. O projeto conta com três fases: Escuta, Ideias e Ação. Na fase “Escuta”, a equipe do projeto ouve pessoas relacionadas com temas pré-estabelecidos que, em conjunto, identificam um problema. Na fase de “Ideias”, a sociedade é convidada a discutir e dar ideias, virtual e presencialmente, para resolver o problema. Na fase de “Ação”, as ideias são compiladas e testadas na prática, sob a forma de protótipos. Trata-se de projeto de inovação aberta – que utiliza a inteligência coletiva para construir soluções de um problema – e que tem uma abordagem de design thinking, ao considerar as necessidades do usuário (cidadão) como ponto de partida do desenho de um serviço público. O primeiro processo de cocriação do Movimento Minas, seu piloto, foi relacionado à temática da gravidez na adolescência. Com sua implantação, a intenção da equipe era testar a metodologia proposta e ajudar a responder questões como, por exemplo: Como conduzir um processo de inovação aberta? Como utilizar canais virtuais para promover participação? Como testas ideias antes de sua efetiva implantação? Como prototipar serviços públicos? Na fase de “escuta”, o problema escolhido foi a falta de bem-estar da adolescente gestante; Na fase de “Ideias”, a sociedade foi convidada a responder a pergunta “Como promover o bem-estar da adolescente durante a gravidez?”. Uma série de ideias foram recebidas, resultado de um processo de mobilização virtual e presencial; Na fase de “Ações”, optou-se por verificar qual abordagem seria mais adequada para levar informações e qualidade às jovens, de forma adaptada ao seu contexto. Um protótipo foi desenhado com base nas ideias recebidas, testado junto às adolescentes e provou que a abordagem adequada facilita a assimilação de informações relevantes para o seu bem-estar. Ao se analisar o desenvolvimento do piloto, é possível identificar uma série de aprendizados para as próximas iniciativas de cocriação. A seguir, destacam-se as principais dificuldades enfrentadas em cada uma das fases, para que não se repitam nos próximos projetos: O tema “Gravidez na adolescência” é complexo, cercado de moralismos, aspectos culturais e preconceitos. Foi difícil conduzir certos tipos de discussão e foi necessário estabelecer premissas, reestabelecer o problema e focar

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as discussões. Houve grande dificuldade em ouvir adolescentes gestantes ou jovens mães devido à delicadeza de sua situação. Optou-se por acessar centros de atendimento ao adolescente, seja em unidades municipais de saúde, seja em ONGs, mesmo sabendo que o perfil das adolescentes que frequentam esses locais poderia ser diferenciado em relação a maioria da população. Foi muito difícil mobilizar os participantes ao longo do processo. Nem todos consideravam a falta de bem-estar da adolescente gestante um problema e, dessa forma, foi difícil formar uma rede discutir o assunto. Além disso, houve um grande deslocamento na qualidade da participação virtual em relação à presencial. As discussões presenciais tinham muito mais qualidade que as virtuais, apesar de ocorrerem em menor quantidade. Na fase “Escuta”, devido à complexidade das discussões, foram levantados uma série de problemas decorrentes do tema “gravidez na adolescência”, muitos influenciados por aspectos culturais e morais, de difícil abordagem. Para evitar a polemização das discussões, a escolha do problema foi feita pela própria equipe do projeto. O problema definido como objeto de trabalho, a falta de bem-estar da adolescente grávida, contava com dois aspectos que impactaram negativamente no andamento do projeto: a ausência da declaração das jovens que faltava bem-estar e a pouca objetividade do termo “bem-estar”. Na fase “Ideias”, houve dificuldade na condução do processo de compilação das ideias. Enquanto a metodologia do projeto contava com a participação das pessoas para consolidar as ideias, na prática, a equipe que teve de compilar e definir a ideia a ser testada no protótipo. Considerando os critérios escolhidos para compilar as discussões, a ideia escolhida para ser testada foi a da adoção de uma abordagem adequada à jovem. Na fase de “Ações”, para que fosse possível testar a abordagem, foi necessário tomar como pressuposto que quanto mais informação, maior o bem-estar da adolescente gestante; Somente assim foi possível de fato desenhar o protótipo para testar a abordagem. Considerando restrições de tempo e recursos, foi necessário restringir o teste da abordagem às personas que falam com a jovem. Os arquétipos identificados foram a “tia legal” e a “irmã mais velha”. Vídeos com as personas foram mostrados às adolescentes, e a reação foi positiva. Foi possível concluir que uma abordagem adequada garante o bem-estar à jovem gestante. A conclusão foi do processo foi muito simples. Se, por um lado, isso ocorreu devido à necessidade de restringir o escopo de atuação, por outro, não se esperava conclusões complexas: trata-se de uma inovação no processo de construção de um serviço público. Ou seja, mesmo com os problemas citados sanados, a conclusão dos próximos não necessariamente trará soluções nunca antes pensadas, mas, certamente, elas serão construídas de forma a atender as necessidades do cidadão. A seguir, cada uma das fases e as reflexões são apresentadas de forma aprofundada.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...................................................................................................... 05

a) Movimento Minas............................................................................................... 05

b) Design Thinking................................................................................................. 07

c) O processo da gravidez na adolescência........................................................ 08

2 FASE ESCUTA..................................................................................................... 09

a) Pesquisa............................................................................................................. 09

b) Entrevistas.......................................................................................................... 11

c) Sistematização................................................................................................... 14

d) Definição da pergunta....................................................................................... 15

3 FASE IDEIAS........................................................................................................ 15

a) Evento de Ideação.............................................................................................. 19

b) Compilação das ideias...................................................................................... 21

4 FASE AÇÕES....................................................................................................... 23

5 LIÇÕES APRENDIDAS........................................................................................ 26

6 AGRADECIMENTOS............................................................................................ 28

7 REFERÊNCIAS..................................................................................................... 28

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1 INTRODUÇÃO

a) Movimento Minas

O Movimento Minas é um projeto que busca mobilizar e

corresponsabilizar a sociedade para a construção de soluções que contribuam com

o desenvolvimento do Estado, envolvendo atores externos ao setor público em

processos de cocriação.

Desenvolvido e coordenado pelo Escritório de Prioridades Estratégicas, o

Movimento Minas conta com uma plataforma virtual, desenvolvida para estimular

iniciativas inovadoras e o diálogo aberto entre governo e sociedade, possibilitando a

participação e a resolução de desafios de forma colaborativa. Fora do mundo virtual,

mas em sintonia com ele, funciona a plataforma presencial do Movimento Minas,

composta por encontros inspiradores, mobilizadores e espaços para trazer as

pessoas com as ideias mais destacadas no site, além de lideranças do setor

privado, de organizações sociais, das universidades e do governo, para discutir

desafios, gerar ideias inovadoras e desenhar formas de implementá-las, seja pelo

governo ou pela sociedade.

O projeto funciona a partir de processos de cocriação, que percorrem o

fluxo de participação, composto de três fases: Escuta, Ideias e Ações.

Na primeira fase do processo de cocriação, “Escuta”, as pessoas são

incentivadas a conversar virtual e presencialmente sobre temas relevantes,

escolhidos pela equipe do projeto, sempre relacionados a desafios da sociedade

mineira. As conversas acontecem no site do projeto, em encontros de escuta,

reuniões ou outros momentos.

Na segunda fase, “Ideias”, a equipe do projeto lança uma pergunta

relacionada à forma de se resolver ou mitigar os principais pontos levantados na

fase anterior. Os participantes são então convidados a discutir soluções que

respondam a pergunta, considerando premissas previamente definidas, em um

espaço de tempo definido. As discussões ocorrem virtual ou presencialmente, seja

no site do projeto, seja em encontros de ideação ou outros momentos. Após o

término dessa fase, as ideias dadas pelos participantes são compiladas com base

nas premissas. Essas ideias são a fonte principal para que os protótipos sejam

desenhados.

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Na terceira fase, “Ações”, o protótipo de testes é desenhado a partir dos

inputs surgidos na fase de “Ideias”. Ele então é testado e avaliado. A utilização de

protótipos serve para desenvolver, testar e melhorar as idéias em um estágio inicial,

de forma mais rápida e antes de comprometer uma grande escala de recursos com

a implementação. É uma forma de trabalho em equipe que permite experimentar,

avaliar, aprender, aperfeiçoar e adaptar, garantindo que idéias são plenamente

estressadas antes de tirar quaisquer conclusões. Assim, um protótipo é a

tangibilização de uma ideia, a passagem do abstrato para o concreto buscando

representar uma realidade e propiciar experimentação, adaptação, aperfeiçoamento

e validação.

O projeto acontece em dois ambientes: Virtual e presencial. A plataforma

virtual foi desenvolvida para estimular iniciativas inovadoras, o diálogo aberto e

transparente e, principalmente, para possibilitar a participação e a construção de

soluções de forma colaborativa. É baseado em conceitos de inovação aberta,

governo eletrônico, governo 2.0 e webcidadania. Para dar suporte à participação na

plataforma, o projeto conta com uma série de contas institucionais em ferramentas

gratuitas da web 2.0 (Twitter, YouTube, Prezi, Flickr, etc.). A plataforma virtual está

disponível em www.movimentominas.mg.gov.br.

Em sintonia com o ambiente virtual, há a participação presencial, onde

pessoas participam das discussões, seja nas fases de escuta, ideias ou ação. A

participação presencial ocorre em diversos tipos de encontros, reuniões, eventos de

divulgação (road shows), etc.

Trata-se de um projeto de inovação aberta, que aproveita a inteligência

coletiva distribuída e de multidões. É baseada em uma série de princípios, incluindo:

colaboração, compartilhamento, auto-organização, descentralização, transparência

do processo, e pluralidade dos participantes.

Ela assume um significado mais amplo graças à internet, que permitiu que

uma quantidade de pessoas pudessem interagir, permitindo a participação e o

surgimento de ideias. As práticas de inovação aberta representam uma

manifestação da administração pública que sinalizam uma mudança fundamental na

natureza da criação de valor público e na prestação de serviços públicos.

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b) Design Thinking

O design é uma disciplina transversal, que aceita e propõe interações

multidisciplinares, com o objetivo de promover o bem-estar na vida das pessoas. De

acordo com Vianna (2012), o design interage com outras áreas que compõem o

âmbito do comportamento humano, aquelas que consideram o valor da estima, a

qualidade percebida e demais atributos derivados e secundários.

O profissional de design (ou designer) tem uma abordagem que não se

restringe à estética de produtos:

o designer enxerga como um problema tudo aquilo que prejudica ou impede a experiência e o bem-estar na vida das pessoas. Isso faz com que sua principal tarefa seja identificar problemas e gerar soluções. Ele entende que problemas que afetam o bem-estar das pessoas são de natureza diversa, e que é preciso mapear a cultura, os contextos, as experiências pessoais e os processos na vida dos indivíduos para ganhar uma visão mais completa e assim melhor identificar as barreiras e gerar alternativas para transpô-las (VIANNA, 2011).

De acordo com Vianna (2011), o design thinking, por sua vez, é uma

abordagem do design para o desenvolvimento de projetos em que a busca para

soluções é centrada nas necessidades e comportamentos humanos. A abordagem é

baseada na observação, na experimentação, na colaboração multidisciplinar e

principalmente na perspectiva de transformação e inovação.

É uma forma de pensar a resolução de problemas pressupondo a

formação de equipes, a participação de diversos atores, a vivência e a

experimentação real, trazendo uma visão holística para a inovação com maneiras de

se romper o raciocínio lógico. Trata-se de uma abordagem focada no ser humano

que vê na multidisciplinaridade, colaboração e tangibilização de pensamentos e

processos, o trabalho colaborativo entre equipes que trazem olhares diversificados e

oferecem interpretações variadas sobre questões e soluções inovadoras.

O Design Thinking contempla três fases: A da aproximação do contexto

do problema, a de criação de ideias e a de desenvolvimento de protótipos para a

tangibilização e validação das ideias.

De acordo com Nesta (2012), a prototipação (ou prototipagem) de

serviços é uma forma de testar ideias em um estágio inicial, com os usuários dos

serviços, para ajudar na escolha de alternativas, contribuindo na reflexão de

aspectos sobre como um serviço deve ser executado. Ou seja, caracteriza-se pela

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simulação e/ou validação de uma ideia, serviço, produto e/ou combinação destes em

contextos com maior ou menor grau de fidelidade à realidade para a qual foram

pensados os conceitos propostos.

A prototipação faz com que atores envolvidos e usuários de serviços

públicos, que nem sempre dominam técnicas de pesquisa ou conhecimento técnico,

contribuam de forma significativa.

Trata-se de uma forma de trabalho em equipe que permite experimentar, aprender fazendo, com objetivo de aperfeiçoar e adaptar uma ideia a ser implementada. Um protótipo é a tangibilização de uma ideia, a passagem do abstrato para o concreto buscando aproximar os gestores públicos da realidade de execução dessa ideia. Propicia a oportunidade de que antes de se implementar um projeto ou política pública haja experimentação, adaptação, aperfeiçoamento e validação (NESTA, 2012).

Ainda de acordo com o autor, o grande benefício de um protótipo é testar

alternativas e encontrar erros para aprender o que funciona e o que não funciona

antes da efetiva implementação. Além disso, a prototipagem permite envolver uma

ampla gama de stakeholders no processo de experimentação, o que para a esfera

pública tem relevância especial, pois normalmente envolvem redes complexas de

atores.

De acordo com Vianna (2012), a proposta central da abordagem é testar

soluções em ambientes próximos à realidade de uso. Desta forma, é possível definir

o grau de fidelidade de uma prototipação a partir da combinação da complexidade

de representação, do grau de contextualidade e do número de iterações de

desenvolvimento do protótipo.

c) O processo da gravidez na adolescência

O processo de cocriação da “Gravidez na Adolescência” foi o primeiro

desenvolvido pelo Movimento Minas. A escolha do tema surgiu de um conjunto de

fatores: Um ambiente propício para a discussão aliado a atores internos e externos

dispostos a desenvolver um projeto de participação social.

Esse tem sido o mote defendido pelo Movimento Minas: dentre todos os

problemas que a sociedade enfrenta, opta-se por um tema específico que, por um

lado, é relevante para a comunidade em um momento específico, e, por outro, revela

oportunidades de articulação de atores.

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2 FASE ESCUTA

A coleta de informações (fase Escuta) sobre o tema gravidez na

adolescência abrangeu a realização de pesquisas, análise de dados, entrevistas e

realização de encontros de escuta.

a) Pesquisa

O Estado de Minas Gerais teve 42.884 mães adolescentes, entre 10 e 19

anos, em 2010:

Figura 1: Mães adolescentes em Minas Gerais, por ano.

Fonte: SINASC/DATASUS

Apesar da queda na quantidade de mães adolescentes desde o ano

2000, a proporção é relevante: Em 2010, 16,8% dos recém-nascidos mineiros

tinham mães adolescentes:

Figura 2: Faixa etária da mãe em Minas Gerais (2010)

Fonte: SINASC/DATASUS

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A proporção de adolescentes que já tiveram filhos é maior nas regiões do

Triângulo Mineiro e, principalmente, no Norte e Noroeste de Minas, que estão dentre

as regiões mais pobres do Estado:

Figura 3: Proporção de adolescentes do sexo feminino que já tiveram filhos no Estado de Minas Gerais, por município (2010)

Fonte: Censo 2010 / IBGE

O grau de escolaridade das mães adolescentes está de acordo com a

expectativa de anos de estudo para sua faixa etária.

Figura 4: Proporção de nascidos vivos por anos de estudo da mãe adolescente em Minas Gerais (2010)

Fonte: SINASC/DATASUS

A taxa de mortalidade infantil vem caindo ao longo dos anos em MG.

Entretanto, a taxa de mortalidade infantil de recém-nascidos de mães adolescentes

é constante:

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Figura 5: Taxa de Mortalidade Infantil em Minas Gerais (2000 a 2010)

Fonte: SIM; SINASC/DATASUS

b) Entrevistas

Para entender melhor a questão da gravidez na adolescência e chegar a

uma pergunta que traduzisse o desafio do tema, um evento de escuta foi promovido

com os envolvidos: As adolescentes e os profissionais dedicados a seus cuidados.

Pessoas de diferentes perfis, realidades e experiências participaram de

um encontro no dia 30/6, em Belo Horizonte. Na ocasião, os cerca de 40

participantes discutiram diversas questões, entre elas: Motivos pelos quais as

adolescentes ficam grávidas; Cuidados necessários durante a gravidez e as

transformações após o nascimento do bebê.

Figura 6: Encontro de Escuta

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Participantes:

Nome Profissão Instituição

Ana Cecilia Silva Pereira Estudante

Cássia Reis Donato Psicóloga e Diretora de Atendimento

Centro de Reeducação Social São Jerônimo (CRSSJ)

Cláudia Maria Beco Lisboa

Médica Centro de Referência da Criança e do Adolescente - Secretaria de Saúde - Prefeitura de Betim

Cristiane Guedes Diretora Gerar

Dilamar Ribeiro Abreu Assistente social UBS Alcides Braz – Prefeitura Municipal de Betim

Eliane da Consolação Palhares

Enfermeira / Coordenadora do Centro de Atendimento Especial

Secretaria Municipal de Saúde - Prefeitura Municipal de Juatuba

Erika Conceição Soares Enfermeira / Coordenadora de Atenção Básica

Secretaria Municipal de Saúde - Prefeitura Municipal de Juatuba

Felipe Sacchi Estudante Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG)

Fernando Costa Administrador Secretaria de Estado de Esportes e Juventude - Governo de Minas

Fernando Libanio Médico Coordenador da Casa de Saúde do Adolescente (CASA) - Hospital Julia Kubistchek /FHEMIG

Francisca Cândida Diretoria de Promoção da saúde

Promoção à Saúde - Prefeitura Municipal de Betim

Ivanilda Ramos da Neiva Diretora e Missionária Ministério AMGI - Apoio a Mulheres numa Gravidez Indesejada

Ivens Reis Reyner Antropólogo Coalizão Jovem pelos direitos sexuais e reprodutivos

Katia Helena de Jesus Soares

Antropóloga - Professora de Sociologia

Ministério AMGI - Apoio a Mulheres numa Gravidez Indesejada

Katilene Cristina F. Silva Assistente social Ministério AMGI - Apoio a Mulheres numa Gravidez Indesejada - Betim

Klerce Cabral de Oliveira Vice-Diretora Ministério AMGI - Apoio a Mulheres numa Gravidez Indesejada

Ludmilla Pinheiro Designes de Produto Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG)

Luisa Vitória de Jesus Soares

Estudante Ministério AMGI - Apoio a Mulheres numa Gravidez Indesejada - Betim

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Márcia Aparecida dos Santos Rodrigues

Educadora em Saúde

Clínica Saúde da Mulher e da Criança - Escola da Gestante / Prefeitura Municipal de Pedro Leopoldo e Instituto Camargo Corrêa

Maria de Lourdes da Costa

Pediatra

Clínica Saúde da Mulher e da Criança - Escola da Gestante / Prefeitura Municipal de Pedro Leopoldo e Instituto Camargo Corrêa

Marli Alves Enfermeira Prefeitura Municipal de Juatuba

Mércia de Souza Azevedo

Gerente e Pedagoga

Programa Educacional de Atenção ao Jovem (Peas Juventude) - Secretaria de Estado da Educação - Governo de Minas

Nathan Henrique Estudante Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG)

Patrícia Antunes Tavares Terapeuta Ocupacional UBS / Saúde Mental Infanto-Juvenil

Renata Lucindo Mendonça

Psicóloga ONG Manjedoura

Tatiane Miranda Médica Faculdade de Saúde Ecologia Humana e Prefeitura de Vespasiano

Thaís Falabella Estudante Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG)

Vera Evangelista Ribeiro Diretora Brazil4life (Minstério AMGI)

Virgínia Silva Pereira Enfermeira

Clínica Saúde da Mulher e da Criança - Escola da Gestante / Prefeitura Municipal de Pedro Leopoldo e Instituto Camargo Corrêa

Tabela 1: Participantes do evento de escuta

Vídeo com a síntese das opiniões dos grupos de trabalho está disponível em http://youtu.be/WWw02_jsjfQ

Nos dias 03 e 04/7, visitamos duas instituições para conversar e captar

percepções das jovens: O Centro de Reeducação Social São Jerônimo (CRSSJ), em

Belo Horizonte, e o Programa Escola da Gestante, da Prefeitura do Município de

Pedro Leopoldo - MG.

Além disso, entrevistamos profissionais e voluntários das ONGs Casa da

Mãe, em Nova Lima - MG e Ministério de Apoio a Mulheres numa Gravidez

Indesejada (Ministério AMGI), em Belo Horizonte.

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c) Sistematização

De forma, geral, foi possível identificar que o assunto é extremamente

complexo. As discussões focaram especialmente as jovens mais pobres, e

concentraram-se em três distintas fases: Antes, durante e após a gravidez. A seguir,

a síntese dos levantamentos de cada fase:

Antes da gravidez: Fatores que levam à gravidez na adolescência

A fase antes da gravidez envolve a discussão sobre os motivos que

fazem a jovem engravidar. Ao contrário do que diz o senso comum, não

necessariamente ocorre por falta de informação e não necessariamente é um

problema, sendo, em muitos casos, desejada. Ela pode ser considerada fator para

crescimento pessoal, emancipação, respeito, proteção, cidadania e auto-estima. Em

alguns casos, ser mãe é, possivelmente, a realização de um dos poucos sonhos

possíveis para a adolescente em questão. Entretanto, pode também ser considerada

como parte de um ciclo de perpetuação de pobreza e marginalização, principalmente

para as jovens inseridas em ambientes familiares com pouca estrutura ou vítimas de

violência. Adicionalmente, a questão da moralização da discussão prejudica a

desmistificação de assuntos como, por exemplo, a questão do sexo durante a

adolescência.

Durante a gravidez: Necessidades da adolescente durante a gestação

A fase durante a gravidez envolve fatores ligados ao bem-estar das

adolescentes. Foi possível identificar a necessidade de acesso à informação em

relação a cuidados durante a gestação e a importância de se acolher

adequadamente a adolescente, especialmente em relação ao acesso ao sistema de

saúde. Discutiu-se, com grau elevado de polêmica, o desejo de interrupção da

gravidez, sem conclusões definitivas. Da mesma forma, não houve consenso em

relação à existência de diferença em relação aos riscos biológicos da gravidez na

adolescência comparados aos da fase adulta.

Após a gestação: Necessidades da adolescente após a gestação

A fase após a gestação evidenciou a preocupação da mãe adolescente

em cuidar adequadamente e construir perspectivas de futuro para o bebê. Para isso,

levantou-se a necessidade de se garantir acolhimento à mãe e ao bebê, de

continuidade dos estudos da jovem, de acesso à informação e ao sistema de saúde.

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d) Definição da pergunta

Evidenciou-se uma falha na metodologia: Ficou claro que a gravidez na

adolescência, é um tema que envolve uma série de problemas; Por si, não é

necessariamente um problema. Diferentes pessoas deram interpretações distintas

ao tema e, considerando a complexidade dos assuntos, alguns envolvidos em

aspectos culturais e morais, de difícil abordagem, e ainda assim, respeitando todas

as opiniões, legítimas, a equipe percebeu que era necessário focar.

Assim, definiu-se que o problema a ser tratado seria a falta de bem-estar

da adolescente durante a gravidez, por envolver questões transversais (saúde,

assistência social, educação, etc.) e por não questionar os motivos que fizessem

que engravidasse; Apesar de ser uma discussão importante, não seria adequada ao

contexto do Movimento Minas. A equipe do projeto formulou, dessa forma, a

pergunta: "Como promover o bem-estar da adolescente durante a gravidez?" como

ponto de partida para o processo de escuta.

Conforme será abordado ao longo desse trabalho, a forma de elaboração

da pergunta também consistiu em erro metodológico. Uma vez que não foi declarado

pelos próprios atores sujeitos do problema (no caso, as adolescentes), houve

dificuldade para mobilizar pessoas a participarem da resolução do problema.

3 FASE IDEIAS

Definida a pergunta, iniciou-se a segunda fase do processo de cocriação,

a da geração de ideias. Ela ocorreu tanto por meio virtual, por meio da participação

no site, como presencialmente, através dos workshops de Ideação.

A pergunta “Como promover o bem-estar da adolescente durante a

gravidez?” foi lançada no site do Movimento Minas, acompanhada de um texto que

descrevia o contexto do desafio. A pergunta ficaria disponível para participação por

30 dias. A partir dela, o qualquer pessoa que acessasse o site poderia inserir novas

ideias ou discutir as ideias dadas por outras pessoas.

A mobilização virtual envolveu a utilização de canais institucionais do

Governo de Minas: foi divulgado no painel de todos os telefones da Cidade

Administrativa de Minas Gerais, abrangendo um público de mais de 16 mil

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servidores. Nesse dia registrou-se um pico de visitas, totalizando 207 novos acessos

e 12 novos usuários cadastrados. Além disso, foi veiculado em sites e perfis de

redes sociais institucionais do governo, como Agência Minas, Secretarias de Estado

de Saúde, Educação, Ciência e Tecnologia e Desenvolvimento Social. Foi divulgado

também nos Jornais “Diário do Aço” e “Agora Divinópolis”.

Figura 7: Reprodução do site do Movimento Minas

http://movimentominas.mg.gov.br/quebra-cabecas/gravidez-adolescencia

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Os Eventos de discussão com grupos específicos (“Road-Shows”) foram

determinantes na mobilização dos participantes. Foram realizados cinco Road

Shows para discussão do tema da Gravidez na Adolescência. Cada dinâmicas

ocorreu com formatos distintos de mobilização, de acordo com o contexto e o

tamanho do público. Ora focando a discussão, ora criando dinâmicas para geração

de ideias.

O primeiro Road Show aconteceu no projeto Escola da Gestante,

desenvolvido pela Prefeitura do Município de Pedro Leopoldo - MG em parceria com

o Instituto Camargo Corrêa. Ali funciona um posto de saúde do Programa Saúde da

Família (PSF) que tornou-se referência. Às quintas-feiras, um médico ginecologista

atende as grávidas da comunidade que agendam consultas de pré-natal. Enquanto

aguardam, elas assistem palestras, recebem orientações e participam de atividades.

Desse modo, a equipe aproveitou uma das reuniões para participar e ouvir ideias da

equipe e de cerca de 30 gestantes, destas, cerca de 10 adolescentes. Todos foram

incentivados a postar suas ideias no site, mas, mesmo assim, houve baixa

efetividade.

O segundo Road Show ocorreu na Secretaria Municipal de Saúde do

município de Vespasiano - MG, no dia 10/8. Na ocasião, tivemos a chance de

conversar com cerca de 25 enfermeiras gerentes de unidades de Unidades Básicas

de Saúde (UBSs) e de unidades de do Programa Saúde da Família (PSFs) do

município. Elas deram ideias para garantir o bem-estar da gestante adolescente

durante a sua gravidez. Devido à dificuldade ou até mesmo resistência em participar

pelo site (mesmo com um computador com acesso à internet disponibilizado durante

o road show), decidiu-se colher as ideias das participantes em formulários.

Posteriormente, foi criado um perfil no site específico para o road-show e esses

formulários inseridos no site pela equipe do Movimento Minas. A seguir, alguns dos

formulários escaneados:

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Figura 8: Ideias dadas pelos profissionais da SMS de Vespasiano

No dia 11 de agosto de 2012, a equipe do projeto visitou a ONG Casa de

Mãe, um projeto social que atende mulheres grávidas e mães moradoras do bairro

Jardim Canadá, no município de Nova Lima, Região Metropolitana de Belo

Horizonte. Na ocasião, além de conhecer e participar de atividades promovidas pela

ONG, pudemos fazer uma roda de conversa com três mães adolescentes: Bruna, de

18 anos, Diully, de 15 anos e Lucilene, de 19 anos.

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O quarto encontro ocorreu na Escola de Design da Universidade Estadual

de Minas Gerais. Na ocasião, alunos dos cursos de Design de Produtos, Design de

Ambientes e Design Gráfico discutiram como o desenho de produtos e serviços

podem ser repensados a serviço do bem estar da gestante adolescente. As ideias

surgidas foram postadas no site.

O último Road show ocorreu durante um dia no projeto de formação de

jovens Plug Minas, em Belo Horizonte. Cerca de 300 jovens puderam opinar e

relatar histórias de familiares e pessoas próximas que conviveram com a gravidez na

adolescência. Durante a discussão, três computadores ficaram à disposição desses

jovens, assessorados por membros da equipe do projeto, para que pudessem postar

suas ideias. Ao todo mais de 60 ideias foram dadas, um número muito acima da

média observada até então.

Figura 9: Road Show no Plug Minas

Algumas das histórias estão disponíveis em: http://youtu.be/5XAwk9y55AY

a) Evento de Ideação

Após um mês de contribuições, foram recebidas 99 ideias que abordaram

desde a surpresa inicial dos jovens e a melhor forma de contar aos pais que seriam

futuros avós, até propostas como inclusão de creches em escolas do ensino médio e

dieta balanceada específica para a adolescente que está em fase de crescimento,

entre outras.

No dia 18/8, o Movimento Minas promoveu um encontro para agregar e

consolidar as ideias. Da mesma forma que o evento de escuta, estavam presentes

diversas pessoas envolvidas com o tema da gravidez na adolescência, sejam

profissionais, voluntários, participantes de discussões no site e duas mães

adolescentes.

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Participantes

NOME INSTITUIÇÃO

Bruna Casa de Mãe (Mãe Adolescente)

Caio Magno Lima Campos Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão (SEPLAG)

Christina Diniz Conselho Estadual da Mulher (CEM)

Cláudia Maria Belo Lisboa Centro de Referência da Criança e do Adolescente / Prefeitura

Municipal de Betim

Elisa Alkmim THE HUB

Erika Conceição Soares Secretaria Municipal de Juatuba

Francisca Oliveira Participante do Site - Diretoria e Promoção da Saúde / Prefeitura

Municipal de Betim

Kátia Wan Der Maas Participante do Site

Livia Barreto Ministério AMGI - Apoio a Mulheres numa Gravidez Indesejada

Luciana da Conceição de

Moreira Fernandes Estudante de psicologia

Lucilene Casa de Mãe (Mãe Adolescente)

Milla Fernandes Ribeiro

Tangari Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão (SEPLAG)

Mônica Nogueira Antunes ONG APROMIV - Associação de Promoção à Maternidade,

Infância e Velhice

Raquel Helen Santos Silva Participante do Site

Rebeca Gregorio Ministério AMGI - Apoio a Mulheres numa Gravidez Indesejada

Vanessa ONG APROMIV - Associação de Promoção à Maternidade,

Infância e Velhice

Vanuza Oliveira Participante do Site - Diretoria e Promoção da Saúde / Prefeitura

Municipal de Betim

Virginia THE HUB

Esperava-se que os participantes do evento de ideação pudessem

consolidar as ideias recebidas no processo. Entretanto, devido a mais um ponto

crítico na metodologia, o evento focou na discussão de novas ideias para resolução

do problema.

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Isso ocorreu devido à impossibilidade de manter a maior parte dos

participantes mobilizados durante o processo. A maioria dos participantes do evento

de ideação não havia participado do evento de escuta, dos road shows ou das

discussões no site, comprometendo a qualidade das discussões.

Ainda assim, havia um claro deslocamento entre o virtual e o presencial.

A qualidade das discussões dos eventos presenciais não se comparava à das idéias

postadas no site. A equipe teve dificuldade em transmitir aos participantes do evento

de ideação o que havia ocorrido nos road shows.

Dessa forma, os esforços para convergência de ideias foram feitas após o

evento, pela própria equipe.

b) Compilação das ideias

Para que fosse possível avançar para a próxima fase de ação, seria

preciso compilar as ideias e decidir o que seria testado.

O primeiro passo foi excluir as idéias que não abordavam a fase da

gravidez. Idéias sobre prevenção ou sobre assistência à adolescente após o

nascimento do bebê foram desconsideradas.

Após isso, optou-se por consolidar as ideias válidas (que respeitavam os

critérios pré-estabelecidos no site) em algumas poucas categorias que, por sua vez,

puderam ser agrupadas em temáticas. A partir daí, seriam priorizadas as que fossem

possíveis de serem testadas, dadas as restrições de tempo e recursos.

Dessa forma, todas as ideias válidas foram consolidadas em 20

categorias, que, por sua vez, foram agrupadas em seis temáticas: a saber:

Criação de espaços de atendimento integrados,

Criação de espaços de atendimento integrado (7 ideias

relacionadas)

Espaços para orientação às famílias (8 ideias relacionadas)

Utilização de ferramentas de gestão

Ferramentas de gestão (2 ideias relacionadas)

Intersetorialidade / Multidisciplinaridade (5 ideias relacionadas)

Diálogo (4 ideias relacionadas)

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Capacitação de profissionais de saúde para lidar com gestantyes

adolescentes (7 ideias relacionadas)

Incentivos às adolescentes por meio de transferência de recursos,

Dar incentivo financeiro (3 ideias relacionadas)

Dar outros recursos para ter/manter o bebê (21 ideias relacionadas)

Suporte financeiro ao pai (2 ideias relacionadas)

Educação para gestante

Atendimento / acolhimento / cursos / tratamento diferenciado na

escola (8 ideias relacionadas)

Ensino à distância (2 ideias relacionadas)

Tratar a auto auto-estima da adolescente

Fortalecer a auto-estima (9 ideias relacionadas)

Apoio psicológico (4 ideias relacionadas)

Dar atenção / acolhimento / acompanhamento profissional para

aumentar a auto-estima (29 ideias relacionadas)

Conscientização das famílias (14 ideias relacionadas)

Apoio da família para a auto-estima (8 ideias relacionadas)

Conscientizar pais ausentes (2 ideias relacionadas)

Grupos de conversa entre mães e gestantes (12 ideias relacionadas)

Promoção da saúde da adolescente.

Dar orientação quanto aos cuidados (6 ideias relacionadas)

Incentivo para o pré-natal (4 ideias relacionadas)

A memória de compilação de cada uma das ideias dadas no site está

disponível em: http://goo.gl/gzdEE

Para os testes, decidiu-se focar em três dos seis temas: Educação, Auto-

estima e Saúde. Não seria possível testar a transferência de recursos e não havia

tempo para criar e testar espaços de atendimento ou ferramentas de gestão.

Nos três temas, a necessidade de informação esteve presente em

diversas das ideias dadas, seja em relação aos cuidados à jovem e ao bebê, às

questões de educação, conscientização, rede de apoio, formação de grupos para

troca de experiências, dentre outras contribuições. Assim, optou-se por trabalhar a

questão da informação à jovem.

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Considerando a limitação de recursos disponíveis para os testes (de

tempo, pessoas e financeiros), não seria possível testar se a informação promoveria

o bem-estar da gestante. Entretanto, considerando o conhecimento acumulado pela

equipe do projeto com as entrevistas e encontros, foi definido como pressuposto

que, quanto mais informação, maior o bem-estar da gestante adolescente. Dessa

forma, o objetivo do teste seria provar que a abordagem adequada facilita a

assimilação de informações pela adolescente gestante, promovendo, dessa forma,

seu bem-estar.

Definido o objeto do protótipo, foi possível iniciar a terceira fase do

processo de cocriação: seu desenho e execução. Para isso, a equipe do projeto

voltou a campo e buscou informações com adolescentes grávidas e especialistas,

por meio de visitas ao Centro de Referência ao Adolescente, da Prefeitura Municipal

de Vespasiano (MG) e à ONG Manjedoura, em Belo Horizonte (MG), buscando

desvendar quais são suas necessidades em relação à informação, para desenhar as

estratégias para aplicar o teste.

4 FASE AÇÕES

Para provar que a abordagem adequada facilita a assimilação de

informações pela adolescente gestante, a equipe do projeto foi a campo para

identificar melhores opções de abordagem. Cerca de 20 jovens foram ouvidas

quanto à forma como normalmente se informam, seja sobre cuidados necessários

quanto à gravidez, seja em relação a outros assuntos de forma geral.

Em grande parte dos casos, a gravidez é um “momento mágico” para a

jovem, um gatilho que acelera a transição para a fase adulta. Sua mãe tem papel

essencial nesse momento, sendo o principal ponto de referência para a adolescente.

Esse contexto deve ser respeitado ao se pensar a abordagem. Além disso, foi

possível perceber certa passividade da adolescente em relação à busca de

informação: Foram poucos os casos em que a jovem buscava informação sobre a

gravidez por conta própria. Normalmente recebiam informações de suas mães ou de

pessoas que consideravam que tinham credibilidade.

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Foi possível concluir que o interlocutor que passa a informação à

adolescente é a principal variável para o sucesso da abordagem e, por isso,

restringiu-se o teste a ele.

Com os testes, a proposta da equipe era provar que uma abordagem

adequada faz com que a informação não só chegue, mas que seja internalizada pela

jovem. Por isso, apesar de envolver uma série de aspectos (tipo de conteúdo,

ferramenta, contexto, local, etc.), o teste iria se restringir a somente um deles: o

arquétipo necessário para comunicar-se com a adolescente.

Os arquétipos funcionariam como facilitadores na comunicação de

informações importantes para as jovens. Nesse caso, tanto especialistas quanto as

próprias adolescentes relatam a preferência por uma figura próxima, de confiança,

que inspire credibilidade. Por isso, foram criados dois personagens que podem

funcionar como possíveis interlocutores para essas jovens:

Tia legal – Alguém um pouco mais velho e experiente, com credibilidade, acessível, que usa linguagem leve e agradável. É relativamente próximo à jovem; podem ser professoras, vizinhas, tutoras, profissionais de saúde, familiares, etc. Não são amigas, mas mantém relação de respeito, confiança e proximidade. Essa pessoa conversa principalmente sobre saúde da gestante e do bebê, mas também compartilha sua experiência de vida e aconselha sobre a relação com a criança, com sua mãe e com o pai do bebê, sobre os estudos e o futuro, dentre outros assuntos.

Irmã mais velha – Alguém jovem, próximo à adolescente, que já passou pela experiência da gravidez. Mantém relação de amizade, de confiança, com troca de confidências. Podem conversar sobre saúde da gestante e do bebê, mas, principalmente, sobre sua experiência de vida, sobre a relação com o bebê, com sua mãe e com o pai do bebê, sobre os estudos e o futuro, dentre outros assuntos.

Apesar de não ser o foco dos testes, foi necessário definir, além dos

arquétipos, a ferramenta (vídeo), o local (posto de saúde) e o conteúdo (histórias

reais ou fictícias) para a sua realização. Eles ocorreram no Centro de Referência da

Juventude, da Prefeitura Municipal de Vespasiano (MG), onde realizamos uma série

de grupos focais com as gestantes e profissionais do local. Ali, pudemos exibir três

vídeos com diferentes abordagens: um abordando o arquétipo da “tia legal”, outro

com a “irmã mais velha” e um terceiro, um trecho de documentário com uma

linguagem técnica, científica, uma abordagem diametralmente oposta dos dois

outros vídeos.

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Os vídeos foram mostrados sempre em dupla: Um dos arquétipos

primeiro, e, logo após, o documentário. As adolescentes que os assistiram eram

pacientes do Centro de Referência do Adolescente e aguardavam ou haviam

acabado de realizar suas consultas médicas. Elas eram levadas para uma sala, em

grupos de no máximo cinco pessoas, onde o vídeo era mostrado em um laptop ou

em um tablet. Após isso, a equipe do projeto conversava com elas, recolhendo

impressões.

A “Tia legal” foi interpretada por uma colega de trabalho da equipe do

projeto: http://youtu.be/cIDki3f96fk. Mãe de dois filhos e participante de trabalhos

voluntários, ela dá um depoimento em que divide um sua experiência e revela

algumas dicas sobre alimentação saudável. Ao final, transmite a dimensão do amor

materno, destacando a importância da construção de um ambiente de acolhimento.

A “Irmã mais velha” foi interpretada por uma designer que trabalhou junto com a

equipe do projeto. A personagem era uma jovem que passou recentemente por uma

gravidez precoce conturbada. Entre problemas de saúde e problemas afetivos,

demonstra empatia com a realidade do público, buscando aproximar os conselhos

às principais dúvidas que eventualmente surgem nessa fase.

Além dos vídeos mencionados, trechos do documentário “O Guia

Completo da Gravidez” produzido pela Discovery Channel foram exibidos para os

grupos para servir de contraprova. (É possível assistir ao trecho no link

http://youtu.be/cqjaIqU3zhc).

Foi possível observar que as adolescentes gestantes de fato

compreenderam a mensagem passada tanto pela “tia legal”, quanto da “irmã mais

velha”. Além disso, interagiam com as informações que passavam, ou seja, muitas

emitiam suas opiniões, remetiam a casos que conheciam ou já haviam vivenciado e

conversavam a partir das histórias das duas personas.

Desse modo, foi possível concluir que, para que a comunicação flua e

seja mais facilmente compreendida, é preciso que nossos personagens transmitam

uma noção de confiança, de familiaridade. Na medida em que elas se identificam

com essas personagens, ou mesmo enxerguem nelas pessoas do convívio familiar,

da comunidade ou da escola, elas se sentem mais confiantes para dividirem suas

histórias pessoais, seguras de que suas demandas e dúvidas estarão seguras com

pessoas que, assim como elas, passaram por experiências semelhantes.

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É importante ressaltar que os conteúdos dos vídeos não foram avaliados.

O objeto da avaliação foi a capacidade de envolvimento e identificação pelo

espectador dos personagens. Certamente, diferenças no conteúdo dos vídeos

podem afetar o resultado do trabalho. Da mesma forma, se as adolescentes

estivessem em outro local (escola, em casa, etc.), sua reação poderia ter sido

diferente. Como já ressaltado, os testes foram aplicados sem rigor metodológico.

5 LIÇÕES APRENDIDAS

O tema “Gravidez na adolescência” é complexo, cercado de aspectos

culturais, juízos de valor e preconceitos.

Houve grande dificuldade em ouvir adolescentes gestantes ou jovens

mães. Devido à delicadeza de sua situação, nem todas querem se expor ou se

voluntariam para contar suas histórias. Optou-se por acessar centros de

atendimento ao adolescente, seja de municípios, seja ONGs, mesmo sabendo que o

perfil das adolescentes que frequentam esses locais é diferenciado.

Por envolver uma série de aspectos polêmicos (Ex: sexualidade, aborto,

direitos da mulher, políticas de juventude, etc.), houve dificuldade em conduzir as

discussões e foi necessário, em diversos pontos do processo, estabelecer

premissas, reestabelecer o problema e focar as discussões. A própria declaração de

que a gravidez na adolescência em si não era necessariamente um problema para

as jovens fez com que a condução do processo fosse redirecionada.

A falta de acuidade na definição do problema foi fator chave para a

qualidade do andamento dos trabalhos.

O evento de escuta, que reuniu cerca de 40 profissionais envolvidos com

a gravidez na adolescência, tinha como objetivo terminar com uma grande pergunta

que compilasse as principais discussões sobre o assunto. Entretanto, devido à

complexidade das discussões, mencionadas anteriormente, isso não ocorreu, sendo

que, ao invés disso, foram levantados uma série de problemas decorrentes do tema

“gravidez na adolescência”. Inicialmente identificado como problema, descobriu-se

durante o processo que gravidez na adolescência é um tema, do qual desdobram-se

uma série de problemas (ligados, em regra, a aspectos de saúde, educação,

assistência social e defesa social).

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Desse modo, foi necessário restringir a abordagem, e definiu-se que o

problema era a ausência de bem-estar da adolescente durante a gravidez. Ao

abordar somente essa etapa, desconsiderou-se a discussão sobre as causas da

gravidez e o que acontece com a jovem após o nascimento do bebê. Essa foi uma

tentativa de se escapar de discussões com viés moral.

Entretanto, o problema foi definido pela equipe do projeto; não havia de

fato um grupo declarante do problema. Posteriormente, foi possível identificar,

durante as conversas com as jovens, que o bem-estar não necessariamente era um

problema. Importante ressaltar que entrevistamos jovens na região Metropolitana de

Belo Horizonte, a mais desenvolvida do Estado de Minas Gerais, em locais de

referência em saúde.

Durante a fase de ideias, a falta de um problema bem definido, somou-se

à dificuldade em mobilizar pessoas para discutir e compilar ideias. Justamente por

não existir declarantes do problema, não foi possível garantir o comprometimento

dos participantes ao longo do processo de formar rede para discussão do assunto

Graças a esses fatores, os participantes do evento de ideação, não conseguiram

compilar as ideias dadas, atividade assumida pela equipe do projeto.

Na fase de ações, superadas as dificuldades, quando o escopo já estava

definido, foi possível de fato executar o protótipo, desenhando as personas (irmã

mais velha e tia legal) de acordo com o comportamento de necessidades do público-

alvo. A conclusão foi muito simples, mas bastante inovadora na forma.

Nos próximos processos de cocriação, com um problema bem definido e

declarado pelos participantes, provavelmente a equipe do projeto terá a

possibilidade de ampliar ao invés de restringir o seu escopo de atuação.

Apesar de ter terminado muito menos abrangente do que o início de suas

discussões, o processo traz grande aprendizado para o Movimento Minas ou outras

iniciativas que envolvam inovação aberta e/ou design thinking. Trata-se, na

essência, uma inovação no processo. Sua conclusão não necessariamente trouxe

ou trará soluções nunca antes pensadas, mas a forma como foi construída é

legítima, desenhada a partir das necessidades da população, construída de forma

participativa e democrática. Necessariamente deve passar por mais testes e

aprimoramentos, mas desde já apresenta-se promissora.

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6 AGRADECIMENTOS

A realização do presente trabalho foi possível graças à participação de

Cícero Nogueira Marra, integrante da equipe do projeto, Caio Alves Werneck,

gerente do projeto, e André Victor dos Santos Barrence, Diretor-Presidente do

Escritório de Prioridades Estratégicas.

A realização do processo de cocriação sobre a Gravidez na Adolescência

foi possível graças à participação da Escola de Design da UEMG, da Secretaria

Municipal de Saúde de Vespasiano/MG, do Centro de Referência do Adolescente de

Vespasiano/MG, da ONG Casa de Mãe (www.casademae.org.br) e da ONG

Manjedoura (www.manjedoura.org).

7 REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Saúde. Sistema de Informações de Nascidos Vivos (SINASC/DATASUL). Acesso em Junho/2012. Disponível em: http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php?area=040702

______. Ministério da Saúde. Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM/DATASUL). Acesso em Junho/2012. Disponível em: http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php?area=040701

BROWN, Tim. Design Thinking: Uma metodologia poderosa para decretar o fim das velhas ideias. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo 2010. Acesso em Junho/2012 http://censo2010.ibge.gov.br/

MINAS GERAIS. Escritório de Prioridades Estratégicas. Movimento Minas e o Desafio “Gravidez na Adolescência”. Belo Horizonte, 2013, 18p.

______. Escritório de Prioridades Estratégicas. Movimento Minas: O processo de cocriação da Gravidez na Adolescência. Belo Horizonte, 2012, 36p.

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______. Prototyping in public services. 2011, Reino Unido. Acesso em Junho/2012. Disponível em: http://www.nesta.org.uk/events/assets/features/prototyping_in_public_services

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SHIRKY, Clay. Here comes everybody: the power of organizing without organizations. EUA: Penguin Books, 2008.

TANAKA, Samara. Designing for citizen-government interaction. 2011. 112p. Dissertação (Master of Arts in Integrated Design) - Köln International School of Design, Cologne, Alemanha

VIANNA, Maurício et al. Design Thinking: Inovação em negócios. Rio de Janeiro, MJV Press, 2012

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AUTORIA

Ricardo Kadouaki – Governo do Estado de Minas Gerais / Escritório de Prioridades Estratégicas.

Endereço eletrônico: [email protected]

Cícero Nogueira Marra