Síntese - Homem moral e sociedade imoral

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Homem moral e sociedade moral – Um estudo sobre ética e política, lançado em 1932 foi um dos livros mais influentes de Reinhold Niebuhr. Ao longo do capítulo quatro: A moralidade das nações, observamos uma forte crítica de Niebuhr sobre o egoísmo que movia, e move até hoje, os atos das nações. O autor começa o capítulo definindo que nações são sociedades territoriais que têm seu poder amparado pelo sentimento de nacionalidade e pela autoridade do Estado. Ele também afirma que Estado e nação não são sinônimos e o fato de um Estado poder incorporar várias nacionalidades diferentes indica que a autoridade do governo é uma força muito importante para a coesão das nações. Isso provaria, na opinião do autor, que sem o sentimento de nacionalidade com suas línguas e tradições comuns, a autoridade do governo é, geralmente, incapaz de manter a unidade nacional. Entretanto, Niebuhr esclarece que para acompanharmos as ideias que ele mostrará ao longo do capítulo, devemos pensar em Estado e nação como uma instituição única, visto que nossos interesses estão nas atitudes morais das nações que possuem os aparatos dos Estados à suas disposições e através deles são capazes de consolidar seus poderes sociais e definir suas atitudes e políticas. Então o autor começa a desenvolver suas ideias com uma frase convicta. Niebuhr diz que o egoísmo das nações é notório. Ele ampara esse pensamento parafraseando políticos e autores como, por exemplo, George Washington que disse que nenhuma nação deve ser confiada para além de seus próprios interesses. Também faz menção a Johannes Haller, um autor alemão que disse que nenhuma vez um Estado entrou em um tratado por nenhuma razão além de suas próprias conveniências. Niebuhr então se pergunta qual a base e a razão para tal egoísmo. Uma de suas explicativas é de que as nações não têm contato direto com outras comunidades nacionais e, por esse motivo, sabem muito superficialmente sobre o cerne dos problemas alheios. Ademais, o autor ressalta que enquanto os avançados meios de comunicação aumentaram o conhecimento sobre os negócios do mundo entre cidadãos e várias nações e o avanço da educação, que ampliou a capacidade de pensar racionalmente sobre os conflitos de interesses entre nações, há,porém, pouca esperança

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Homem moral e sociedade moral – Um estudo sobre ética e política, lançado em 1932 foi um dos livros mais influentes de Reinhold Niebuhr. Ao longo do capítulo quatro: A moralidade das nações, observamos uma forte crítica de Niebuhr sobre o egoísmo que movia, e move até hoje, os atos das nações.

O autor começa o capítulo definindo que nações são sociedades territoriais que têm seu poder amparado pelo sentimento de nacionalidade e pela autoridade do Estado. Ele também afirma que Estado e nação não são sinônimos e o fato de um Estado poder incorporar várias nacionalidades diferentes indica que a autoridade do governo é uma força muito importante para a coesão das nações. Isso provaria, na opinião do autor, que sem o sentimento de nacionalidade com suas línguas e tradições comuns, a autoridade do governo é, geralmente, incapaz de manter a unidade nacional. Entretanto, Niebuhr esclarece que para acompanharmos as ideias que ele mostrará ao longo do capítulo, devemos pensar em Estado e nação como uma instituição única, visto que nossos interesses estão nas atitudes morais das nações que possuem os aparatos dos Estados à suas disposições e através deles são capazes de consolidar seus poderes sociais e definir suas atitudes e políticas.

Então o autor começa a desenvolver suas ideias com uma frase convicta. Niebuhr diz que o egoísmo das nações é notório. Ele ampara esse pensamento parafraseando políticos e autores como, por exemplo, George Washington que disse que nenhuma nação deve ser confiada para além de seus próprios interesses. Também faz menção a Johannes Haller, um autor alemão que disse que nenhuma vez um Estado entrou em um tratado por nenhuma razão além de suas próprias conveniências. Niebuhr então se pergunta qual a base e a razão para tal egoísmo.

Uma de suas explicativas é de que as nações não têm contato direto com outras comunidades nacionais e, por esse motivo, sabem muito superficialmente sobre o cerne dos problemas alheios. Ademais, o autor ressalta que enquanto os avançados meios de comunicação aumentaram o conhecimento sobre os negócios do mundo entre cidadãos e várias nações e o avanço da educação, que ampliou a capacidade de pensar racionalmente sobre os conflitos de interesses entre nações, há,porém, pouca esperança de que o crescimento dessas inteligências irá modificar, para melhor, a moralidade internacional. O desenvolvimento do comércio internacional, o aumento da interdependência econômica entre nações e todo o aparato tecnológico aumentam os problemas entre as nações muito mais rapidamente do que a inteligência para poder resolver tais problemas.

Niebuhr diz ainda, que sempre há, nas nações, um grupo de cidadãos mais inteligentes do que a média populacional que vê os problemas de sua própria nação mais claramente e com uma visão mais crítica do que outros. Porém, esse grupo não é poderoso o suficiente para modificar as atitudes nacionais. Algumas vezes, completa o autor, impulsos humanitários e sentimentos de justiça criam nesses grupos uma comoção tão grande que os seus ideais espalham-se por toda população e podem, às vezes, afetar a vida diplomática dos seus Estados, mas isso não e comum de acontecer, garante ele. Normalmente, os governos são corrompidos pelos seus grupos economicamente privilegiados, em detrimentos dos outros nacionais. Niebuhr diz: “A atual economia das nações tem interesses especiais nos lucros do comércio internacional, na exploração de povos mais fracos e na aquisição de matérias primas

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e mercados. Tudo isso, é apenas remotamente importante para o bem-estar de toda população. Eles só são importantes porque, na presente organização social, a vida econômica de uma nação está intensamente ligada com empresas privadas”. O autor continua sua crítica dizendo: “Além disso, a má distribuição de riquezas, dentro do presente sistema econômico, concentra dinheiro que não pode ser investido e produz bens que não podem ser absorvidos pela própria nação...Se os socialistas conseguirem êxito em separar privilégios de poder, poderia, desse modo, reduzir o egoísmo das nações, embora, talvez, seja uma esperança românica esperar que todos os conflitos internacionais seriam abolidos. Guerras já ocorriam muito antes da existência do capitalismo atual e possivelmente continuarão existindo depois que ele for abolido”

Outra de suas teses apresentadas neste quarto capítulo é de que, talvez, uma das características morais mais significantes de uma nação seja a sua hipocrisia. Niebuhr cita exemplos como a guerra de Estados Unidos contra Espanha pela liberdade de Cuba. Ao mesmo tempo em que os americanos argumentavam que lutavam para livrar os cidadãos cubanos da opressão e do imperialismo espanhol, eles também estavam realizando uma campanha para a anexação do território das Filipinas, através do tratado de Paris. A ficção de que as fortunas da pimeira Guerra Mundial fizeram dos Estados Unidos os beneficiários relutantes e guardiões das Filipinas foram rapidamente fabricados e existem até hoje. Como um americano crítico, Niebuhr diz: “Nós decidimos em manter as Filipinas contra sua vontade ao mesmo tempo em que concluímos uma guerra para libertar os cubanos.” Por que Cuba, com seus 1.600.000 habitantes, ter o direito á liberdade e autogoverno e as Filipinas, com seus 8.000.000 de habitantes, ser negada a esses mesmo direitos?

Outros exemplos dados pelo autor sobre a hipocrisia das nações. No Tratado de 1907 no qual Rússia e Inglaterra dividiram a Pérsia, as duas nações prometeram “respeitar a integridade e a independência da Pérsia” e alegaram estar “desejando, sinceramente, a preservação da ordem”. Quando França e Espanha dividiram Marrocos elas articularam uma afirmação de que “estavam firmemente ligadas a integridade do Império marroquino sob a soberania do Sultão”. Niebuhr cita ainda, a política imperialista americana para com a América Latina e o Caribe, que difere do imperialismo europeu porque é evidentemente muito mais comercial do que militar, embora os americanos não hesitariam em usar a força naval caso fosse preciso. Ele menciona fala do secretário de estado americano Charles Hughes sobre o assunto: “Nós queremos, não explorar, mas sim somar; não para subverter, mas para ajudar as fundações de governos independentes e estáveis... Nosso interesse não é controlar as estrangeiro, nosso interesse é ter uma prospera e pacífica relação com nossos vizinhos”. Em 1927, o senador americano Hiram Johnson declarou: “Qualquer que sejam nossas falhas, e elas são majoritariamente internas, os Estados Unidos é a única nação na Terra que demonstrou em suas relações internacionais idealismo e altruísmo. Os Estados Unidos escreveu uma história internacional baseada em atos de generosidade e compaixão”. Niebuhr ressalta que esse mesmo senador foi um adepto ao Ato de Exclusão Japonesa.

Niebuhr conclui seus pensamentos dizendo que não é fácil manter sempre a moralidade das nações. Um método de redimir essa moralidade é colocá-la nas mãos de uma comunidade, que transcende os conflitos de interesses entre nações e possui uma perspectiva imparcial diante deles. Ele garante que, esse método, resolve muitos conflitos dentro das

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comunidades nacionais e exemplifica dizendo que a Liga das Nações é uma extensão desse princípio ao campo internacional. Mas se classes sociais poderosas em sociedades nacionais corrompem a imparcialidade das cortes nacionais, pode-se considerar que essa comunidade de nações, onde poderosas e fracas nações se unem, tem menor chances de atingir a imparcialidade. Uma sociedade de nações não está executando seu papel corretamente até que possa representar honestamente os mais fracos. O autor termina esclarecendo: “A ampliação dos antagonismos entre cada nação industrial moderna está favorecendo a destruição da união nacional e pondo em risco também a união internacional. Pode ser que o crescimento das desigualdades econômicas e das injustiças sociais na nossa civilização industrial forçará as nações para um conflito final, o qual provavelmente acabará em suas destruições”.