Sintese de Cesario Verde.doc

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Cesário Verde “S eu não morresse nunca! E eternamenteBuscasse e conseguisse a perfeição das cousas!”

A poesia de Cesário Verde revela modernidade:

no registo do real quotidiano, trivial, que ele teima em poetizar

“E eu que medito um livro que exacerbeQuisera que o real e a análise mo dessem “

no dinamismo com que as imagens passam ante o seu olhar, próprio de um sujeito que deambula pelos espaços e tenta fazer o seu registo

“Embrenho-me, a cismar, por boqueirões, por becos, Ou erro pelo cais a que se atracam botes.”

na captação dos estímulos sensoriais que os objetos nele despertam (impressionismo),em que o elemento fundamental é a cor e a luz

“E tangem-me excitados, sacudidos,O tato, a vista, o ouvido, o gosto, o olfato “

no surrealismo de algumas imagens, que surgem transfiguradas, grotescas.

a) Temática:

o binómio campo/cidade

A cidade desperta no poeta “um desejo absurdo de sofrer”, por ser sentida como um espaço fechado, opressor, “de prédios sepulcrais”, onde “A Dor humana” vive e “tem marés, de fel”. A sua ânsia de abarcar espaços amplos é tamanha, que o único local onde verdadeiramente se sente em plenitude é no campo. O sol, o ar puro, a fartura e a opulência da mãe-natureza revigoram-no. E só aí é que o amor é vivido, por lhe parecer mais natural,mais autêntico.

a mulher

A mulher em Cesário assume a sua dupla faceta de anjo e de demónio. Lúbrica, fatal, ameaçadora, impondo-se pela sua altivez e pela frigidez

com que trata o sujeito, torna-se facilmente alvo da sua ironia. Muitas vezes surge também associada à imagem de uma Inglaterra prepotente, imperialista. O olhar crítico que o poeta detém sobre a mesma, reflete o

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seu posicionamento face ao espaço que ela percorre e à classe a que pertence - a burguesia citadina aristocratizada.

Pura, honesta, frágil, simples, capaz de redimir o sujeito, inspirando-lhe sentimentos nobres (respeito, união familiar, etc.), esta é a imagem da mulher que sobressai da “turba ruidosa, negra e espessa” da cidade, por lhe fazer lembrar as coisas boas e simples do campo, que ele tanto ama. E é em plena liberdade que o amor acontece, pois aí a mulher encontra-se liberta de mácula, funde-se com a natureza e desperta no homem todos os seus sentidos. Só aí verdadeiramente é que ele se sente predisposto para amar em plenitude.

a crítica social

“... eu desgostoso e azedocom tanta crueldade e tantas injustiças “

O poeta mostra-se atento às desigualdades sociais e às injustiças do mundo em que vive. O seu olhar dirige-se, sobretudo para os oprimidos, os explorados, vítimas do poder das classes mais favorecidas e das adversidades da própria vida. Os “mais fortes”, pela audácia com que suportam a dor, a fome, a doença e a morte, pela força dos seus músculos, desenvolvida em trabalhos hercúleos, pela salubridade dos seus gestos, pela sua autencidade, pela pureza com que guardam as tradições mais ancestrais, são esses que merecem a sua atenção, a sua ternura, a sua solidariedade.

b) Linguagem:

valorização do vocabulário corrente, em que abundam termos concretos, técnicos e familiares;

uso de tom de fala prosaico, corriqueiro, autêntico, familiar, isto é, coloquial;

c) Estilo

acumulação de adjetivosEx: “... o seu nevado e lúcido perfil” – dupla adjetivação “... rota, pequenina, esguedelhada” – tripla adjetivação(Reparar que, tal como Eça, Cesário usa essa série de adjetivos para com eles caracterizar aspetos distintos de uma mesma realidade, nomeadamente o físico, o psicológico e o social);

combinações surpreendentes com adjetivos e advérbios, através da sinestesia

Ex: “brancuras quentes”, “nuvens alvas a incensá-lo”;

uso da exclamaçãoEx: “Vêm sacudindo as ancas opulentas!”

metáforas e comparaçõesEx: “E num cardume negro (...) assomam as varinas”.

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“Como morcegos (...) saltam de viga em viga os mestres carpinteiros”.

coordenação,em particular, a copulativa

ironiaEx: “Como é saudáveis ter o seu conchego e a sua vida fácil!”.

d) Forma

o rigor próprio dos poetas parnasianos

a preferência pela quadra e pelos versos longos, em particular o de 12 sílabas (verso alexandrino).

Leituras aconselhadas (à disposição na biblioteca da escola):

MENDES, Margarida Vieira Mendes, Poesias de Cesário Verde, Seara Nova.

LOPES, Óscar e SARAIVA, António José, “Poetas Realistas e Parnasianos - Cesário Verde”, in História da Literatura Portuguesa, Porto Editora.

COELHO, Jacinto do Prado Coelho, Dicionário de Literatura Portuguesa, Galega e Brasileira, Livraria Figueirinhas.

REIS, Carlos, “Cesário Verde: realismo e criação poética”, in História da Literatura Portuguesa – O Realismo e o Naturalismo, volume 5, Edições Alfa.