SIMBOLISMO EM RAUL BRANDÃO

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  • 7/22/2019 SIMBOLISMO EM RAUL BRANDO

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIS

    FACULDADE DE LETRAS

    DISCIPLINA:LITERATURA PORTUGUESA 2

    ACADMICA:LORENA ARAJO DE OLIVEIRA BORGES

    O DECADENTISMO EM RAUL BRANDO

    Raul Brando considerado o maior expoente da prosa simbolista em Portugal.

    Sob a influncia das caractersticas simbolistas do comeo do sculo XX e enquanto

    indivduo extremamente sensibilizado diante da vida, ele imerge na esttica decadente, a

    partir da qual se v diante de um processo de decomposio, no s da sociedade, mas

    tambm da produo literria. Nesse ltimo caso, a decomposio envolvendo os

    nveis da mtrica, da rima, da sonoridade e do sistema imagstico, como apontam

    Abdala Jnior e Paschialin (1994, p. 124).

    Nessa perspectiva, o aspecto mais marcante da faceta decadentista de Raul

    Brando a sua dor consciente diante da explorao do indivduo. Vivia um constante

    dilema, diante do sentimento de simpatia para com os excludos e o egosmo advindo de

    uma educao que se deu no seio de uma famlia burguesa. Nele, a dicotomia vida/arte

    se transformou uma verdadeira obsesso, uma vez que entendia que o literrio era uma

    traio da verdade da vida caracterstica que pode ser observada em Hmus. essa

    caracterstica crepuscular, ora com um aspecto mais diurno, ora com um mais noturno,

    que pode ser encontrada nas cenas portuenses nebulosas, decrtipas e corrodas da obra

    de Brando.

    Uma vila encardida ruas desertas ptios de lajes soerguidas pelo nico esforo da

    erva o castelo restos intactos de muralha que no tm serventia : uma escada

    encravada no alvolos das paredes no conduz a nenhures. S uma figueira braa

    conseguiu meter-se nos interstcios das pedras e dela extrai o suco da vida. A torre a

    porta da S com os santos nos seus nichos a praa com rvores raquticas e um

    coreto de zinco.

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    Segundo a perspectiva de Massaud Moiss (1995), a prosa de fico

    decadentista tem caractersticas que fogem aos rtulos tradicionais (conto, novela e

    romance) e deve ser encarada enquanto prosa potica ou romance em prosa, trazendo

    para o mbito das narrativas uma atmosfera lrica. exatamente esse fator que dificulta

    a insero dessas obras dentro de um gnero literrio nico, uma vez que no h, sequer

    (por parte do autor), a preocupao com a definio de um enredo. No caso de Hmus,

    temos uma obra permeada de caractersticas expressionistas, em que Brando se

    preocupa em descrever, meditar e discorrer sobre a vida e o processo de humanizao

    do indivduo, submerso diante da delinqncia de valores e do extermnio do homem

    importante lembrar que Brando publicaHmusem 1917, em plena I Guerra Mundial.

    Tambm vale ressaltar que essa faceta indefinida exatamente o que seduz o

    leitor para a obra de Brando, uma vez que o pblico para o qual ela escrita se via

    submerso nas narrativas queirosianas. Assim, Hmus representante de uma postura

    literria ousada, que recusa uma estrutura pr-estabelecida. Trata-se, em certa medida,

    de um retorno ao romantismo, no mais desmesurado e superficial, mas com o intuito

    de escavar as camadas mais profundas e interiores dos poetas, numa jornada interior

    imprevisvel. E ultrapassando o consciente, tombavam no subconsciente e no

    inconsciente: mergulham no caos, no algico, no anrquico, e que se reduz, em ltima

    anlise, a vida interior de cada um (MOISS, 1995, p. 210).

    Em meio a essa perspectiva, a faceta de indefinio da obra de Brando que a

    caracteriza como decadentista. Indefinio diante da forma, do humano, da vida. A

    percepo de que a existncia incua, gratuita e plena de dor. E que qualquer busca

    por uma razo para toda essa irracionalidade , em si, uma fuga da realidade.