SIBILIA PAULA, A Escola as REDES e O FIM DAS Paredes Evista Brasileira de Educacao

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Sibilia Paula Resumo

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evista Brasileira de EducaoPrintversionISSN1413-2478Rev. Bras. Educ.vol.20no.61Rio de JaneiroApr./June2015http://dx.doi.org/10.1590/S1413-24782015206113RESENHASIBILIA, Paula.Redes ou paredes: a escola em tempos de disperso. Traduo de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Contraponto, 2012. 224p.Osvaldo BarretoOliveiraJnior11professor do Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia Baiano (IF Baiano) e doutorando em educao pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). E-mail: [email protected], Paula.Redes ou paredes: a escola em tempos de disperso.Traduo de. Ribeiro, Vera.2012.Contraponto.Rio de Janeiro.224p.A modernidade ps em cena uma concepo de sujeito disciplinado, subordinado s leis de carter universal, para "enquadrar" os indivduos em padres condizentes com as necessidades de uma sociedade reguladora, para a qual as instituies deveriam criar condies geradoras de subjetividades dceis.Nesse contexto, o domnio do conhecimento letrado tornou-se condio para a insero dos sujeitos nos engendramentos produtivos vigorados pela sociedade industrial. Por causa disso, instituio escolar cumpria a funo de disciplinar, instruir, civilizar e moralizar os indivduos, preparando-lhes para os postos de trabalho e para a convivncia social harmnica, nos moldes da legislao do Estado democrtico de direito.Buscava-se, nessa conjuntura, a consolidao de instituies capazes de formar cidados para a convivncia produtiva em uma sociedade que valorizava o conhecimento letrado e os modos de produo industriais, em que a razo cientfica deveria se sobrepujar s emoes humanas. Assim, a escola exercia papel de grande relevncia, pois fora a instituio pensada para alm de instruir civilizar, moralizar e disciplinar os indivduos.No entanto, a trajetria humana na Terra no esttica. Ela experimenta fluxos de desenvolvimento que proporcionam transformaes significativas e profundas nos modos de ser e viver. Por essa razo, durante o sculo XX, a sociedade ocidental passou por mudanas que abalaram alguns dos pilares erguidos pela modernidade, o que gerou, alm de novas subjetividades, inditas configuraes sociais, a ponto de vivenciarmos, na contemporaneidade, no mais uma sociedade do conhecimento, e sim da informao.Se a sociedade do conhecimento tinha na disciplina um exerccio do poder privilegiado, para adequar os sujeitos s expectativas sociopolticas, culturais e ideolgicas da poca, a sociedade da informao (marca inconteste de nossa contemporaneidade) tem no controle o seu mecanismo de poder de maior destaque. Por essa razo, os aparatos disciplinares cedem espao para as tecnologias de controle, que tornam quase tudo visvel aos olhos de todos. por meio dessa anlise histrica de vis antropolgico e genealgico que Paula Sibilia (2012) aborda os desafios, os problemas e as expectativas da instituio escolar em tempos de disperso. Ao analisar a crise da escola contempornea, Sibilia foge do bvio e apresenta-nos argumentos sobre "algumas tendncias prprias de nossa era" (idem, p. 9), construdos luz de interpretaes crtico-reflexivas sobre os eventos que suscitaram transformaes relevantes nas configuraes sociais, polticas, econmicas e culturais das sociedades.Esse significativo aporte terico sobre os movimentos sociais, histricos, polticos, econmicos, tecnolgicos e ideolgicos, que se entretecem nos espaos escolares da contemporaneidade, est reunido no livroRedes ou paredes: a escola em tempos de disperso, no qual Paula Sibilia, pesquisadora e ensasta argentina, residente na cidade do Rio de Janeiro, analisa os fatores que resultaram na crise da escola.Essa contextualizao garante uma abordagem crtica dos processos que impuseram a onipresena digital de nosso tempo, evitando, dessa maneira, o discurso raso que culpa as tecnologias da informao e da comunicao pelo desinteresse dos jovens pela escola. A abordagem ensasta sobre a crise da escola feita por meio da apresentao de argumentos que so desenvolvidos em catorze captulos, precedidos por uma introduo "Para que serve a escola?" cuja funo a de suscitar reflexes acerca dos tipos de corpos e subjetividades que a sociedade contempornea deseja forjar e de que maneira isso afeta nossas instituies escolares.Nos trs primeiros captulos "O colgio como tecnologia de poca", "O molde escolar e a maquinaria industrial" e "Educar o soberano disciplinando os selvagens" , Sibilia (idem) analisa as ambies da sociedade industrial moderna que estabeleceram os princpios edificantes da instituio escolar, especificando-a como instrumento a servio da manuteno de ideologias e poder, que se alinhava s necessidades de formao de mo de obra para a indstria emergente no continente europeu.As dissonncias entre as disposies modernas que geraram a escola e as caractersticas contemporneas que deflagraram sua crise so analisadas nos trs captulos subsequentes: "Os incompatveis: outros tipos de corpos e subjetividades", "O desmoronamento do sonho letrado: inquietao, evaso ezapping" e "As subjetividades miditicas querem se divertir". Dessa maneira, Sibilia (idem) apresenta-nos as razes sociais e histricas que suscitaram tempos e sujeitos de disperso, que no se conformam tradicional instituio escolar, forjada na modernidade.A fim de analisar as transformaes pelas quais passam os agentes escolares nesses novos tempos, Sibilia (idem) dedica a maior parte de seu livro ao desenvolvimento de argumentos, que se complementam em oito captulos, analisando a transformao da escola em tempos de disperso, quando a lgica mercadolgica influencia os hbitos de consumo dos cidados, suas ontologias, meios de controle e os ambientes em que desenvolvem suas prticas educativas.Entre o stimo e o nono captulos, a autora discute as transformaes que as leis do mercado e o seu consequente estilo de vida mercadolgico imprimem s subjetividades do aluno, da criana e do profissional da educao. Assim, evidencia que as escolas tornaram-se empresas nas quais as normas de convivncia precisam ser sempre (re)negociadas. Em razo disso, os alunos de hoje j no mais aceitam passivamente o saber emitido pela voz do professor; eles querem expressar suas opinies, o que exige negociao constante e abala os papis de professor e de aluno desenhados na modernidade.Quando a cultura mercadolgica "invade" os ambientes escolares, promove ressignificaes em instrumentos disciplinares imprescindveis escola burguesa. Nesses termos, a advertncia oral pode ser confundida combullying, e as normas morais, outrora usadas para docilizar e conter a violncia, cedem lugar blindagem policial. Esse o debate proposto por Sibilia (idem) nos captulos de nmeros dez e onze.No antepenltimo captulo do livro, "Do quadro-negro s telas: a conexo contra o confinamento", a autora sugere que na contemporaneidade h uma nova instncia exemplar que vem substituindo a ultrapassada hierarquia disciplinar da escola burguesa. So as conexes estabelecidas por meio dos novos aparatos tecnolgicos que materializam as aspiraes de uma sociedade que se acostumou a viver em rede. O captulo seguinte, intitulado "Salas de aula informatizadas e conectadas: muros para qu?", aponta que as novas subjetividades forjadas em sintonia com os inmeros aparatos tecnolgicos dos nossos tempos no se habituam ao confinamento; da, talvez seja mais relevante, em termos educativos, aproveitar as possibilidades de conexo atualmente existentes que tentar submeter essas subjetividades rigidez do confinamento.Diante da evidncia de tantas transformaes, que certamente abalam convices "tradicionais" do aparato escolar, Sibilia (idem, p. 199) prope, no ltimo captulo, a seguinte reflexo: "Resistir ao confinamento ou sobreviver rede?". Nesse trecho do livro, a autora enfatiza que no somente a escola que vivencia uma crise nesses tempos de disperso, mas tambm todas as instituies pan-pticas, como a priso e o hospital, j que nos novos tempos pululam incompatibilidades entre corpos e subjetividades fluidas e os arcaicos dispositivos disciplinares que privilegiavam a recluso, o confinamento e a concentrao como forma de exerccio da autoridade e do poder. Por isso, sugere a disperso como marca da contemporaneidade, como mecanismo de sublevao das normas disciplinares, o que nos leva no mais a resistir ao confinamento, e sim a apreciar a sobrevivncia em rede.No trecho final de seu excelente livro, Sibilia (idem, p. 207) confidencia-nos uma proposio certamente de difcil consolidao, mas da qual no nos podemos abster : preciso "inventar novas armas". Com esse ttulo, a autora nos apresenta uma breve e esclarecedora concluso propondo que as novas subjetividades que emergem nesses novos tempos, bem como seus dilemas ticos, estticos e as inditas maneiras de convivncia, de ensino e de aprendizagem que elas requerem, no devem ser encaradas como aspectos que exigem o abandono da escola como instituio formadora, tampouco se deve buscar retrocessos para restaurar o que j no faz mais sentido. Por isso, as tecnologias no podem ser concebidas como garantidoras da excelncia escolar, mas sim como "espaos de encontro e dilogo" (idem, p. 211).Se conseguirmos concretizar essa tarefa, talvez possamos, ento, acionar os novos aparatos tecnolgicos para buscar meios e construir alternativas que nos possibilitem superar a crise pela qual passa a escola nesses tempos de disperso.Recebido: Agosto de 2013; Aceito: Dezembro de 2013