Serra da Gandarela -...

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72 sagarana O insustentável Serra da Gandarela rePortaGem ana Carolina Diniz Fotos FranCilins Paraíso cercado por montanhas e águas cristalinas que deslizam pelas encostas de imensos vales, a Serra da Gandarela — cujo solo, quase todo composto de minerais de ferro, desperta a cobiça da atividade de mineração —, abriga uma complexa e ainda bem conservada biodiver- sidade. Para preservar a Gandarela é discutida uma proposta de trans- formar toda a região da serra em Parque Nacional.

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O insustentável peso do minério

Serra da Gandarela

rePortaGem ana Carolina Diniz

Fotos FranCilins

Paraíso cercado por montanhas e águas cristalinas que deslizam pelasencostas de imensos vales, a Serra da Gandarela — cujo solo, quasetodo composto de minerais de ferro, desperta a cobiça da atividade demineração —, abriga uma complexa e ainda bem conservada biodiver-sidade. Para preservar a Gandarela é discutida uma proposta de trans-formar toda a região da serra em Parque Nacional.

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O insustentável peso do minério

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Sobrevoar a área do Quadrilátero Ferrífero, a maisimportante província mineral do Brasil, queabriga cerca de 30 municípios mineiros, é senão

passear por uma história de riqueza e prosperidade, vivi-da durante séculos, acompanhada pela triste herança dadevastação deixada pela atividade mineradora.

Há mais de 300 anos, essa região vem sendo degrada-da por diversos ciclos mineradores, e nem por isso ela setornou rica ou exemplo de desenvolvimento social. Muitopelo contrário, grande parte das cidades exploradasestão em plena decadência e, ainda hoje, sofrem com osimpactos deixados pelos processos produtivos da mine-ração. Enquanto a riqueza é privatizada, os impactossocioambientais são sistematicamente socializados.

Voltada aos interesses imediatos, indiferente às con-sequências a longo prazo, a busca insensata dessasindústrias, compromete seriamente a capacidade domeio ambiente em responder às demandas das geraçõesfuturas. Diante do cenário mundial catastrófico que seesboça referente ao futuro planetário, parece haverempresas que ainda se pautam pelo imperativo da ren-tabilidade imediata.

De uma área que compreende sete mil quilômetrosquadrados, repleta de montanhas e formações rochosas,a terra vermelha dos mineiros das Minas vai aos poucosse desfazendo em forma de dinheiro. Foi o que já aconte-ceu com as serras do Curral, da Moeda, do Itatiaiuçu, daPiedade, do Rola Moça, da Ferrugem, entre tantas outras,e o que, num futuro bem próximo, pode ocorrer com aSerra da Gandarela.

Mina ou Minas?Situada na região metropolitana de Belo Horizonte,

entre os municípios de Caeté, Santa Bárbara, Rio Acima,Itabirito, Barão de Cocais e Raposos, a Serra daGandarela consiste em um dos últimos remanescentesintactos do Quadrilátero Ferrífero, de inestimável riquezahídrica, geológica, paleontológica, arqueológica e tam-bém de flora e fauna.

Nela são encontradas as maiores extensões de biomascomo Mata Atlântica, Cerrado e Campos Rupestres sobreCanga Ferruginosas de toda a região. Esta última con-siste em um tipo de formação rochosa que serve comoum mecanismo de filtragem de água, que propicia for-mação de reservas naturalmente puras. Esse corredorecológico também abriga espécies endêmicas e emextinção, e possui mais de 100 cavernas, cachoeiras,corredeiras, poços e lagoas que formam um conjuntocom potencial turístico tão significativo quanto o daSerra do Cipó.

Serra da Gandarela: Grandesextensões de CamposRupestres sobre CangaFerruginosas, um tipo de formação rochosa que servecomo um mecanismo de filtragem natural de água, quepropicia a formação de reservasnaturalmente puras.

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Nas festas religiosas, a população local também reza pela preservação das nascentes, dos bichos e das plantas.

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Nessas montanhas também está a “caixad’água” que abastece as bacias dos rios Docee São Francisco, que consistem numa dasmais significativas fontes de fornecimento deágua limpa para toda a Região Metropolitanade Belo Horizonte (RMBH).

No entanto, o futuro desse santuário natu-ral, bem próximo a Belo Horizonte, se encontraameaçado pela implantação da Mina Apolo,um empreendimento da Vale S.A, que será ins-talada na vertente do Rio das Velhas e terácapacidade de produzir 24 milhões de tonela-das de ferro por ano, algo similar à produçãoda Mina de Brucutu, em São Gonçalo do RioAbaixo (MG).

Parque NacionalÁguas do Gandarela

O projeto que prevê a exploração da serracom retirada e destruição da cobertura deCanga, além do uso da água das nascentespara lavagem do minério, e a construção deuma enorme barragem de rejeitos noRibeirão do Prata, está na primeira fase delicenciamento, conhecida como LicençaPrévia (LP).

Neste momento, são realizadas audiênciaspúblicas e discussões sobre os possíveisimpactos, como já vem acontecendo emvários municípios afetados pelo projeto. Essalicença não autoriza a instalação doempreendimento, mas, uma vez concedida, épouco provável que ele não vingue, já que odiálogo entre a empresa e as comunidadestende a diminuir.

Paralelamente a esse projeto de exploraçãodo minério, também está em pauta, outra pro-posta baseada em estudos científicos realiza-dos pela Universidade Federal de Minas Gerais(UFMG) e pela Universidade Federal de OuroPreto (UFOP), que propõem a criação doParque Nacional Águas do Gandarela, paraexploração do potencial turístico da região,garantindo assim, a preservação do seu patri-mônio natural.

Consciência e cidadania

Esta proposta já está sendo avaliada peloInstituto Chico Mendes de Conservação daBiodiversidade (ICMBio)/Ministério do MeioAmbiente e dependerá do apoio da socieda-de para se concretizar. Segundo Saulo Álva-res Albuquerque, mobilizador do ProjetoManuelzão, é possível perceber um salto deconsciência e cidadania das comunidadesafetadas. “Nunca antes, na história daregião, um projeto de mineração teve tantoenvolvimento das comunidades e foi tãodebatido, como este da Mina Apolo”,comenta.

Diante desse impasse que se coloca àsociedade é preciso pensar em processos decrescimento que permitam conciliar desenvol-vimento econômico e proteção socioambiental.

Mar de lamaEnquanto os cidadãos de Santa Bárbara e

Barão de Cocais temem pelo abastecimentopúblico de água, que poderá ser seriamentecomprometido com a instalação do empreen-dimento Mina Apolo, a cidade de Raposos(cerca de 15.500 habitantes) corre granderisco de ser soterrada por um mar de lama,caso haja algum acidente com a barragem derejeitos prevista para ser instalada na cabe-ceira do ribeirão da Prata, há mais de 270metros, acima da cidade.

Além de interromper o fluxo natural do ribei-rão, com o rebaixamento do lençol freático e aconsequente diminuição da vazão e a conta-minação de suas águas, que abastecem acidade de Raposos e onde estão váriascachoeiras que oferecem opções de lazer atoda a comunidade. A barragem comportará141 bilhões de litros de uma mistura de resí-duos sólidos e água proveniente do processode beneficiamento do minério.

Sobre a implantação do Projeto Apolo, aCompanhia Vale, em nota, esclarece que “oempreendimento está em fase de licenciamen-

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to, seguindo rigorosamente os trâmites legais.O projeto abrange os municípios de Caeté,Santa Bárbara, Raposos e Rio Acima. O Estudode Impacto Ambiental já foi protocolado naSupram. Cumprindo o processo de licencia-mento, a previsão é iniciar a implantação em2011 e começar as operações em 2014. Nafase de obras devem ser gerados cerca de doismil empregos e na operação aproximadamen-te mil postos de trabalho. Cinco AudiênciasPúblicas para discutir o projeto com as comu-nidades já foram realizadas nos municípios deCaeté, Raposos, Nova Lima, Rio Acima e SantaBárbara. A Vale tem uma larga experiência naimplantação de projetos de mineração e sem-pre esteve totalmente aberta tanto ao debatepúblico, quanto com autoridades, entidades einstituições representativas da sociedade. Aexemplo de todos os projetos anteriores, a Valeestuda a implantação de Unidades deConservação na região de abrangência”.

Muito além do minérioPassear pela Serra da Gandarela é percorrer

um mosaico de ecossistemas conservados,com diversidades biológicas e estruturas geo-lógicas de relevante significado e considerávelriqueza paisagística. Vigiado pelos picos doItabirito e do Itacolomi, pelas serras do Curral,Piedade e Caraça, este imenso paraíso, aindapouco conhecido, esconde mamíferos como oLobo Guará, a Anta e tem potencial para abri-gar a Onça Pintada, e também além de aco-lher espécies arbóreas, como jacarandá, can-deia, braúna e peroba.

A imponência de seu relevo, que privilegiaaltas declividades por onde despencam águascristalinas, formando dezenas de cachoeiras,algumas com mais de cem metros de altura,faz desta serra um recinto privilegiado paraexploração do ecoturismo, uma atividade eco-nômica que utiliza de forma sustentável opatrimônio natural e cultural da região.

De acordo com documento publicado em2008 pelo Instituto Estadual de Florestas deMinas Gerais (IEF), a Serra da Gandarela con-figura-se como uma região de alta relevância,identificada como área prioritária de preserva-ção permanente do setor sul da RMBH:

“Trata-se de uma ampla região com baixaocupação antrópica, havendo extensos e diver-sos ambientes naturais preservados.

Concentra-se neste Setorum grande número de cursos d’água contri-

buintes da margem direita do rio das Velhas,representando significativo volume de águautilizado no abastecimento da população daRegião Metropolitana de Belo Horizonte”.

Rica em nascentes de água com os melho-res padrões de qualidade do mundo, a Serrada Gandarela é o mais importante manancialde abastecimento do Rio das Velhas, acima dacaptação de Bela Fama, região que fornececerca de 60% da água consumida por BeloHorizonte e 45% da água que abastece aRegião Metropolitana.

Último reduto ambiental

No seu interior também está o ConjuntoNatural, Paisagístico e Paleontológico Baciado Gandarela, tombado pelo município deSanta Bárbara. Nele é possível encontrardepósitos de fósseis, sobretudo de espéciesvegetais, que remontam a história das gran-des mudanças climáticas e ambientais queocorreram entre de 10 e 40 milhões de anosatrás. Essa região ainda revela vestígios daocupação colonial, com seus caminhos, minasantigas e casas fortes, integrando assim, oroteiro do Ciclo do Ouro de Minas Gerais.

Como o último reduto ambiental da RegiãoMetropolitana de Belo Horizonte, rico em biodi-versidade, cavernas, cachoeiras, lagoas, sítioshistóricos, paleoambientais e hídricos, a Serrada Gandarela requer medidas de proteçãourgentes para que o seu patrimônio naturalseja preservado. Utilizar recursos naturaissem comprometer sua preservação, fazer pro-veito da natureza sem devastá-la e buscar amelhoria da qualidade de vida de sua popula-ção torna-se uma operação obrigatória paraque as próprias organizações de empreendi-mentos minerários prosperem.

A exigência total da rentabilidade imediatapode ainda dominar, mas não continuaráassim indefinidamente. Mesmo que o desen-volvimento realmente sustentável ainda este-ja longe de dispor dos meios técnicos e siste-mas reguladores dos quais necessita, ele jácomeça, aqui, a alimentar as controvérsiaspúblicas sobre a atividade mineradora e ofuturo da região, alterando assim, certas prá-ticas que antes eram impensáveis.

A Serra da Gandarela guarda asmais importantes (e uma das

últimas) reservas da vegetação decanga ferruginosa do Brasil.

O Maior Trem do Mundo

Carlos DrummonD De anDraDe

“Leva minha terrapara Alemanhaleva a minha terrapara o Canadáleva a minha terrapara o Japão.O maior trem do mundo puxado por cinco locomotivas à óleodieselengatadas geminadas desembestadasleva o meu tempo, minha infância, minha vidatriturada em 163 vagões de minério e destruição. O maiortrem do mundotransporta a coisa mínima do mundo meu coração itabirano.Lá vai o maior trem do mundo Vai serpenteando, vai sumindoE um dia, eu sei, não voltará Pois nem terra, nem coração existem mais”.

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As serras das Minas Gerais são famosaspela sua beleza cênica e pela suaimportância biológica no mundo inteiro.

Ambientes que antes compunham uma exube-rante Mata Atlântica contínua, há tempos sãoameaçados por vários fatores — a expansãourbana, a utilização de recursos vegetais e ani-mais, além da histórica extração mineral naregião iniciada ainda no século XVII com a che-gada dos remanescentes da bandeira de BorbaGato e seus companheiros na região de SantaLuzia, iniciando o ciclo do ouro.

Séculos depois, o histórico minerário continua,sobretudo nas serras pertencentes ao chamadoQuadrilátero Ferrífero, região rica em minério deferro que abrange municípios importantes doestado como Belo Horizonte, Ouro Preto, SantaBárbara e Moeda. Ecossistemas importantespara a manutenção da biodiversidade já foramsuprimidos por completo e com eles várias espé-cies foram extintas, muitas vezes antes de seremcontempladas pela espécie humana. Além dosimples fato de que extinções diminuem a biodi-versidade de uma área e causam distúrbios aoequilíbrio ecológico, a perda dessas espéciespode eliminar recursos que seriam utilizados emprol da espécie humana como importantes poli-nizadores ou chave para a cura de doenças.Apesar do crescente apelo pela preservação e de

estudos que comprovam os inúmeros problemaspor trás da destruição de ambientes, empreendi-mentos inadmissíveis ainda são comuns e mui-tas vezes apoiados pela sociedade.

Um destes ambientes ameaçados é aSerra da Gandarela. Localizada entre os municí-pios de Rio Acima, Santa Bárbara, Caeté e OuroPreto, a serra possivelmente abriga o maiorremanescente preservado de Mata Atlântica doQuadrilátero Ferrífero. O local possui uma dasmaiores áreas de ecossistemas ferruginosos daregião, conhecidos como cangas, abrangendocerca de 1500 ha. As cangas estão entre os sis-temas ecológicos mais ameaçados do Brasildevido a sua distribuição restrita e associada aosprincipais depósitos de minério de ferro do país.

CangaO pesquisador Flávio Fonseca do Carmo, dou-

torando em Ecologia, Conservação e Manejo daVida Silvestre pela UFMG, estuda o grau dedegradação destes ambientes únicos. Segundoele, “os ecossistemas ferruginosos abrigamcomunidades naturais com alto valor para a con-servação, caracterizadas por elevada diversida-de e pela presença de várias espécies de plantasraras, endêmicas e ameaçadas. Estes atributos,quando analisados em conjunto aos ecossiste-mas subterrâneos, ambientes alagáveis (lagoas

Área ainda preservada de imensurável importânciaambiental é ameaçada pela expansão minerária.

Por luCas neves Perillo

Reserva ecológica aos pés da capital mineira

Reserva ecológica aos pés da capital mineira

A imponência do relevo daGandarela, que privilegia altasdeclividades por onde despen-cam águas cristalinas, formandodezenas de cachoeiras, algu-mas com mais de cem metrosde altura, faz desta serra, umrecinto privilegiado para explo-

ração do ecoturismo.

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Passear pela serra da Gandarela é percorrer um mosaico de ecossistemas intactos, com diversidadesbiológicas e estruturas geológicas de relevante significado e considerável riqueza paisagística.

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e brejos) e ao patrimônio geoambiental, histó-rico e arqueológico ratificam a importânciadas áreas de cangas localizadas na Serra deGandarela para a conservação ambiental emMinas Gerais.’’ Flávio ainda garante que sóexiste uma canga sem grandes sinais dedegradação protegida (dentro de uma Unidadede Conservação Integral) no estado. Todas asáreas de canga estão com seus dias contados.Qualquer outro local que possua ecossistemasem canga sem exceção são passíveis de seremexploradas. O valor do passivo ambientalgerado pela exploração do minério não é justi-ficável, já que as áreas exploradas possuemuma grande relevância ambiental (o empreen-dedor paga em média apenas US$ 0,10 portonelada de reserva medida). As geraçõesfuturas que pagam o preço da destruição.“Temos que avaliar o que é melhor: a explora-ção indiscriminada de ferro ou a preservaçãodos principais mananciais de água daregião”, ressalta o pesquisador.

Diversidade deCavernas

Segundo Felipe Fonseca do Carmo, alunode mestrado do mesmo programa de pós gra-duação da UFMG, existem centenas de caver-nas mapeadas na região de Gandarela. Eexistem muitas outras para serem encontra-das. “As cavernas de canga normalmente sãopequenas e não possuem muita beleza cêni-ca, fato que as torna inviáveis para o ecotu-rismo. Mas essas pequenas cavidades, quepara os leigos parece um ambiente inóspito esem a presença de qualquer forma de vida,possuem em média cerca de cinco vezesmais diversidade de organismos troglóbios(invertebrados cavernícolas extremamenteraros) do que gigantescas cavernas de calcá-rio. Além da diversidade endêmica das caver-nas de canga, elas ainda tem um papel

importante como abrigo para a fauna emgeral desse ambiente tão extremo.” Se oempreendimento de mineração for aprovadona área, todas as cavernas catalogadasseriam dizimadas, inclusive a segunda maiordo mundo neste tipo de litologia.

Diversidade de faunaA presença de mamíferos de grande porte,

como a Onça parda (Puma concolor) e a Anta(Tapirus terrestris) já foi comprovada naregião. “A Gandarela é uma importante rema-nescente de Mata Atlântica que garante asobrevivência de várias espécies, inclusive demamíferos ameaçados”, afirma Ericson Sousada Silva, mastozoólogo que tem projetos depesquisa na região. Isso sem contar com apresença de uma gigantesca diversidade avese de invertebrados, afirma.

O limnólogo Msc. Nelson Melo garante quetemos um tesouro a ser descoberto e preserva-do. “A diversidade de microcustáceos” é enor-me. É bem provável que nas lagoas de cangahajam espécies e variações ainda não descri-tas na literatura”, diz o biólogo que teme pelopior. “Para preservar as lagoas de canga e asua fauna, é necessária uma ação imediatade conservação e manejo, e a criação de umparque é a melhor alternativa viável. ”

Coletas recentes de sapos indicam a pre-sença de novas espécies na região. “Além deencontrarmos algumas espécies endêmicasda porção sul da cadeia do espinhaço, existe apossibilidade de ocorrência de novas espéciesde anuros (sapos, rãs e pererecas) a seremdescritas”, afirma o biólogo Tiago Pezzuti, queestuda as espécies de sapos do quadrilátero

Serviços Ambientais prestados pela preser-vação da Serra:

A Serra do Gandarela apresenta grandeimportância em termos de recursos hídricos,

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já que possui nascentes, córregos e ribeirões,com água de excelente qualidade que contri-buem tanto para a Bacia do rio Docequanto para a Bacia do rio das Velhas, garan-te o professor do Instituto de Geociências daUFMG, Dr. André Augusto Rodrigues Salgado.“Vale ressaltar que o Ribeirão da Prata, umdestes cursos d�água que drena o Gandarela é,dentre os cursos fluviais de maior volume, oafluente da alta bacia do Velhas com melhorqualidade de água. Tal fato pode se tornarfundamental para o futuro abastecimento deágua da Região metropolitana de BeloHorizonte”. As águas da Serra da Gandarela jáforam classificadas como “água tipo espe-cial” e “água tipo 1”, as mais puras e limpasexistentes. Além disto, toda a região possuiinúmeras cachoeiras, extremamente belas euma diversidade geológica que condicionauma imensa e bela variedade de paisagem,ressalta o professor.

PaleontologiaA Serra da Gandarela ainda conserva um

dos sítios paleontológico mais importantes doMundo, já que é o único sítio intertropicalconhecido que possui registros do fim doEoceno e Oligoceno. Já foi aprovado pelo SIGEP(Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil)como sítio Paleoambiental, Sedimentar eEstratigráfico de Patrimônio Mundial pelaUNESCO. Contém um riquíssimo acervo desedimentos, nos quais são encontrados váriosregistros paleobotânicos da flora terciária daregião. Além do seu valor paleontológico, olocal possui um valor histórico científico rele-

vante para preservar a história da paleontolo-gia do Brasil. Nos idos de 1884, o sítio emquestão foi o primeiro sítio paleontológicoexplorado no estado de Minas pelo fundadorda Escola de Minas de Ouro Preto, o cientistafrancês Claude Henri Gorceix a pedido doentão imperador Dom Pedro

ParqueMas este ambiente está longe de estar pro-

tegido. Existe um forte apelo para exploraçãodo local pela indústria minerária. Extração deminério de ferro implica obrigatoriamente emperda de habitat, apontado como o principalfator mundial para a diminuição da biodiver-sidade.

Tal importância biológica e os relevantesserviços ecossistêmicos para a população doquadrilátero chegou aos ouvidos do InstitutoChico Mendes e um movimento para criaçãode uma Unidade de Conservação Federal nolocal ganha cada vez mais força.Comunidades do entorno da Serra e várias ins-tituições estão envolvidas no projeto de cria-ção da UC, como o Projeto Manuelzão e oInstituto Guaicuy. Mas o projeto mineráriotorna eminente a necessidade da criação daUnidade. A criação do Parque Nacional Águasda Gandarela talvez seja a única ação imedia-ta capaz de garantir a preservação dessereduto ameaçado pelos projetos minerários.

Lucas Neves Perillo é biólogo e mestrando emEcologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestrepela UFMG.

A paisagem árida da atividade da mineração, decorada pelos exóticos eucaliptos.

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