SEMANAleitura2011
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Semana da leituraSemana da leitura20112011
Semana da LeituraSemana da Leitura20112011
PRIMAVERA E VERÃOPRIMAVERA E VERÃO
Jorge de SenaEquinócio da Primavera
Da noite a aragem tépida refrescando vem surpreender as luzes que, interiores, se apagam lentamente, uma após outra, como em madrugadaao longe as luzes de outra margem — rio descido pelas águas tenuemente crespas, sombras passando, e escorre matutina, ainda sem brilho, a vibração das águas, enquanto rósea apenas de uma aurora ausente a crista das montanhas reverdece.
Por sobre a plácida e pensante aragem física das violações diurnas, de amarguras, vilezas vistas e traições sonhadas, notícias de jornal e desafios, guerra eminente ou, mais que dolorosa, cravada nas imagens de uma paz sombria, perpassa a noite véus de primavera, glicínias que amanhã estarão floridas,e folhas verdes, muito frágeis, tenras,e o azular-se o mar, o distanciar-se o céu na crua luz que juvenis sorrisos, traços ligeiros de alegria funda, devora lentamente, e as rugas ficam... — ao longe as luzes de outra margem, rio onde a noite se esconde até à morte.
Eduarda ChioteO corpo e a Primavera
Ouço o corpo da Primavera.
Na brisa segura macias flores. Dir-se-ia o delicioso rubor dos seios. Não sei se surgindo da vergonha de alguns botões ainda por abrir. Terno enredo o de escutá-lo no sobressalto e despontar do sexo: sentado conserva os joelhos apertados contra o queixo, furtando-o a invisíveis e furiosas abelhas.
Talvez por medo de que o mel desabe e o tempo tenha de acolher-se, abrasado de cio, na delícia e destreza de uma ingenuidade em absoluto efémera. De que as rosas breve percam o engano e o frescor da voz.
Deixemo-lo, pois, entregue ao claro som e asseio do seu respirar.
Cesário VerdeDe Verão
I
No campo; eu acho nele a musa que me anima:
A claridade, a robustez, a acção.
Esta manhã, saí com minha prima,
Em quem eu noto a mais sincera estima
E a mais completa e séria educação.
II
Criança encantadora! Eu mal esboço o quadro
Da lírica excursão, de intimidade,
Não pinto a velha ermida com seu adro;
Sei só desenho de compasso e esquadro,
Respiro indústria, paz, salubridade.
III
Andam cantando aos bois; vamos cortando as leiras;
E tu dizias: «Fumas? E as fagulhas?
Apaga o teu cachimbo junto às eiras;
Colhe-me uns brincos rubros nas gingeiras!
Quanto me alegra a calma das debulhas!»
IV
E perguntavas sobre os últimos inventos
Agrícolas. Que aldeias tão lavadas!
Bons ares! Boa luz! Bons alimentos!
Olha: os saloios vivos, corpulentos,
Como nos fazem grandes barretadas!
V
Voltemos. Na ribeira abundam as ramagens
Dos olivais escuros. Onde irás?
Regressam rebanhos das pastagens;
Ondeiam milhos, nuvens e miragens,
E, silencioso, eu fico para trás.
VI
Numa colina azul brilha um lugar caiado.
Belo! E arrimada ao cabo da sombrinha,
Com teu chapéu de palha, desabado,
Tu continuas na azinhaga; ao lado
Verdeja, vicejante, a nossa vinha.
Sophia de Mello Breyner Andresen Os dias de verão
Os dias de verão vastos como um reinoCintilantes de areia e maré lisaOs quartos apuram seu fresco de penumbraIrmão do lírio e da concha é nosso corpo
Tempo é de repouso e festaO instante é completo como um frutoIrmão do universo é nosso corpo
O destino torna-se próximo e legívelEnquanto no terraço fitamos o alto enigma familiar dos astrosQue em sua imóvel mobilidade nos conduzem
Como se em tudo aflorasse eternidade
Justa é a forma do nosso corpo
ÁGUAÁGUA
António GedeãoAntónio GedeãoLição sobre a águaLição sobre a água
Este líquido é água.Quando puraé inodora, insípida e incolor.Reduzida a vapor,sob tensão e a alta temperatura,move os êmbolos das máquinas que, por isso,se denominam máquinas de vapor.
É um bom dissolvente.Embora com excepções mas de um modo geral,dissolve tudo bem, bases e sais.Congela a zero graus centesimaise ferve a 100, quando à pressão normal.
Foi neste líquido que numa noite cálida de Verão,sob um luar gomoso e branco de camélia,apareceu a boiar o cadáver de Oféliacom um nenúfar na mão.
Eugénio de AndradeÀ beira de água
Estive sempre sentado nesta pedra
escutando, por assim dizer, o silêncio.
Ou no lago cair um fiozinho de água.
O lago é o tanque daquela idade
em que não tinha o coração
magoado. (Porque o amor, perdoa dizê-lo,
dói tanto! Todo o amor. Até o nosso,
tão feito de privação.) Estou onde
sempre estive: à beira de ser água.
Envelhecendo no rumor da bica
por onde corre apenas o silêncio.
Carlos de Oliveira Rumor de água
Rumor de água
na ribeira ou no tanque?
O tanque foi na infância
minha pureza refractada.
A ribeira secou no verão
Rumor de água
no tempo e no coração.
Rumor de nada.
Fiama Hasse Pais Brandão
Toda a chuva a cair me torna grata
por ela e pela que tem caído sobre mim
nos anos sem tacto, sem vista, sem olfacto.
Aqui, bebo-a misturada com os resíduos
que o vento traz do fundo do pomar,
gravetos, folhas e as flores perdidas.
O cheiro da flor de laranja perfumou
esta água, para a ablução dos pés
de um poeta que antes fora nómada.
Depois, porque não hei-de vestir-me com a túnica
da chuva, que me envolva como árvores
ou um corpo humano vivo e natural?
-•
Dormir, onde esta lama doce e insonora
calidamente me vista e me sepulte?
Verme, que constróis o altar da chuva
com os teus pequenos montículos e covas
e sob o córtex da nogueira velha
escondeste a tua vida, como oferenda
que vai ser recolhida pelas mãos
de uma criança que ame os dons naturais;
verme, que sabes que eu outrora
já fui muda, não-gerada e ausente,
mostra-me o que mais sabes da chuva,
como és sinuoso nela, vivente,
e eu que devo fazer na pura terra
contigo, lado a lado, ó laborioso?
Rosa Alice BrancoSerenata à chuva
Chuva, manhã cinza, guarda-chuva. Entrar no contexto, dois pontos. Ele e elaabraçados caminham sob o tectodo guarda-chuva que os guarda.Pelas ruas vão com a vontade de voltarao branco dos lençóis. Esse objecto prosaicoque às vezes se vira com o ventotorna-se objecto do poema. Dizer tambémcomo a chuva é doce neste dia de verão.Como o amor altera o sentido da chuva,sim, como ela se eleva no ar e as frases se colamao vestido. No interior da pele o poema mudoudesde que entraste no guarda-chuva esquecidoa um canto do armário. Talvez o amor seja tudo amarsem excepção. Eu que nunca uso guarda-chuvaassino incondicionalmente este poema.
Vasco de Graça Moura Praias
1
na praia lá do guincho as velas
de windsurf saltam sobre as ondas
e o meu olhar, equestre,
pula nos peitos das banhistas, enquanto
um cachorro tenta agarrar a cauda.
nos feriados tudo é insuportável
menos o sol e o mar
apesar das famílias.
e sustendo as gaivotas na mais alta
imaginação, porque hoje não vi nenhuma,
o vento traz de tudo
e antónio nobre e lorca às pandas roupas
que modelam os corpos em míticas figuras
com o seu drapejado esvoaçante,
entre dunas e lixo e vendedores de gelados.
restaria o campo, mas
«no campo não há bicas nem paperbacks»
diz uma amiga minha e tem razão.
que seria de nós, bucólicos, sem esses indicadores da alma? dou
lume a uma italiana e enquanto
ela agradece ocorre-me que despi-la já não é
cosa mentale; faz-me lembrar o algarve, mas no verão
o algarve é a continuação
da política por outros meios. antes
a nortada, os surfistas,
na crista da onda, a areia que entra no poema,
e o regresso mais cedo, quando já não se
Aguenta.
2
agora que passaste muito queimada do sol
o vento vem pela estrada até à duna
com uma folha de jornal desdobrada
aos baldões e as vozes dos piqueniques.
tu desceste da moto e foste
comprar um gelado, afastando impaciente
algumas crianças. era a impostura
para a sede, avivada pelos guarda-sóis
de cor berrante. nas rochas havia
alguns pares esfregando-se
mais ou menos à vista. penduraste
os óculos de sol no decote da blusa
e o gelado avançou para os teus dentes muito brancos.
tudo isto dava uma fotografia
com o teu peito em grande plano
e a cena reflectida nos óculos escuros.
Luís Miguel Nava Ars poética
O mar, no seu lugar pôr um relâmpago.
José Gomes Ferreira
Onda que, enrolada, tornas,
Pequena, ao mar que te trouxe
E ao recuar te transtornas
Como se o mar nada fosse.
Porque é que levas contigo
Só a tua cessação,
E, ao voltar ao mar antigo,
Não levas meu coração?
Há tanto tempo que o tenho
Que me pesa de o sentir.
Leva-o no som sem tamanho
Com que te oiço fugir!
Albano MartinsAssim são as algas
Das palavrasque aprendestesó umanão tem tradução.Quando traduzeso amor, tu sabesque é já outro o seu nome.Assim são as algasquando apodrecem.
Alexandre O’Neill Sigamos o cherne
Sigamos o cherne, minha Amiga!Desçamos ao fundo do desejoAtrás de muito mais que a fantasiaE aceitemos, até, do cherne um beijo,Senão já com amor, com alegria...
Em cada um de nós circula o cherne,Quase sempre mentido e olvidado.Em água silenciosa de passadoCircula o cherne: traídoPeixe recalcado...
Sigamos, pois, o cherne, antes que venha,Já morto, boiar ao lume de água,Nos olhos rasos de água,Quando, mentido o cherne a vida inteira,Não somos mais que solidão e mágoa...
Diogo AlcoforadoSete Meditações sobre os rios
Incontáveis, e rasos, rasgamsinuosos, a rocha: abrempequenos sulcos, breves, semrumor, os caminhos leves: travam
em si a luta: haver, aléma extensão onde, o longo, outrorio, foz, já corre,- encontroou fim? Ou, ainda, voo? Quem
vendo o curso, o frio, desce? Sesobe, entre pedras, sobreo leito, denso, nasce. É
aí o nome, o golpe: facecontínua das coisas, da morte. E cobrea terra, a dor: o fundo, o pé.
José Gomes FerreiraEntrei no café com um rio na algibeira
Entrei no café com um rio na algibeira
e pu-lo no chão,
a vê-lo correr
da imaginação...
A seguir, tirei do bolso do colete
nuvens e estrelas
e estendi um tapete
de flores
a concebê-las.
Depois, encostado à mesa,
tirei da boca um pássaro a cantar
e enfeitei com ele a Natureza
das árvores em torno
a cheirarem ao luar
que eu imagino.
E agora aqui estou a ouvir
A melodia sem contorno
Deste acaso de existir
— onde só procuro a Beleza
para me iludir
dum destino.
Eugénio de AndradeUm rio te espera
Estás só, e é de noite,na cidade aberta ao vento leste.Há muita coisa que não sabese é já tarde para perguntares.Mas tu já tens palavras que te bastem,as últimas,pálidas, pesadas, ó abandonado.
Estás sóe ao teu encontro vema grande ponte sobre o rio.Olhas a água onde passaram barcos,escura, densa, rumorosade lírios ou pássaros nocturnos.
Por um momento esquecesa cidade e o seu comércio de fantasmas,a multidão atarefada em construirpequenos ataúdes para o desejo,a cidade onde cães devoram,com extrema piedade,crianças cintilantese despidas.
.
Olhas o riocomo se fora o leitoda tua infância:lembras-te da madressilvano muro do quintal,dos medronhos que colhiase deitavas fora,dos amigos a quem mandavaspalavras inocentesque regressavam a sangrar,lembras-te de tua mãeque te esperavacom os olhos molhados de alegria.
Olhas a água, a ponte,os candeeiros,e outra vez a água;a água;água ou bosque;sombra puranos grandes dias de verão.
Estás só.Desolado e só.E é de noite.
Rosa Alice BrancoSerenata à chuva
Chuva, manhã cinza, guarda-chuva.
Entrar no contexto, dois pontos. Ele e ela
abraçados caminham sob o tecto
do guarda-chuva que os guarda.
Pelas ruas vão com a vontade de voltar
ao branco dos lençóis. Esse objecto prosaico
que às vezes se vira com o vento
torna-se objecto do poema. Dizer também
como a chuva é doce neste dia de verão.
Como o amor altera o sentido da chuva,
sim, como ela se eleva no ar e as frases se colam
ao vestido. No interior da pele o poema mudou
desde que entraste no guarda-chuva esquecido
a um canto do armário. Talvez o amor seja tudo amar
sem excepção. Eu que nunca uso guarda-chuva
assino incondicionalmente este poema.
José Gomes FerreiraChove!
Chove...
Mas isso que importa!,
se estou aqui abrigado nesta porta
a ouvir a chuva que cai do céu
uma melodia de silêncio
que ninguém mais ouve
senão eu?
Chove...
Mas é do destino
de quem ama
ouvir um violino
até na lama.
Fiama Hasse Pais Brandão
Toda a chuva a cair me torna grata
por ela e pela que tem caído sobre mim
nos anos sem tacto, sem vista, sem olfacto.
Aqui, bebo-a misturada com os resíduos
que o vento traz do fundo do pomar,
gravetos, folhas e as flores perdidas.
O cheiro da flor de laranja perfumou
esta água, para a ablução dos pés
de um poeta que antes fora nómada.
Depois, porque não hei-de vestir-me com a túnica
da chuva, que me envolva como árvores
ou um corpo humano vivo e natural?
Dormir, onde esta lama doce e insonora
calidamente me vista e me sepulte?
Verme, que constróis o altar da chuva
com os teus pequenos montículos e covas
e sob o córtex da nogueira velha
escondeste a tua vida, como oferenda
que vai ser recolhida pelas mãos
de uma criança que ame os dons naturais;
verme, que sabes que eu outrora
já fui muda, não-gerada e ausente,
mostra-me o que mais sabes da chuva,
como és sinuoso nela, vivente,
e eu que devo fazer na pura terra
contigo, lado a lado, ó laborioso?
ARAR
António Ramos Rosa
O ar passa Através das palavras
Alberto de LacerdaVento
Que a minha vida fosse para os humanos
Como o vento que passa e que se esquece.
Jorge de Sousa Braga Boletim meteorológico
Céu muito nublado vento
Fraco moderado de sudoeste
Soprando forte nas terras
Altas aguaceiros em especial
Nas regiões do Norte e Centro
E que serão de neve nos
Pontos mais altos da Serra
Da Estrela e no teu coração.
Carlos de OliveiraNevoeiro
A cidade caía
casa a casa
do céu sobre as colinas,
construída de cima para baixo
por chuvas e neblinas,
encontrava
a outra cidade que subia
do chão com o luar
das janelas acesas
e nop ar
o choque as destruía
silenciosamente,
de modo que se via.
TERRATERRA
Carlos de OliveiraMontanha
Sons sob a luz. Mosteiros, torres sobrenaturais, vibrando fluidamente no ar; como? se o fluxo de mica, os altos blocos de água, cintilam sem rumor.
Toda esta arquitectura, lenta percussão, perpassa; sobre cerros sonoros; com o seu contorno infixo, fulgurando. Detenham-se as estrelas quando for noite; preguem-se outros pregos de prata fora do céu visível. Sons já sem luz. Pastores poisam as ocarinas, bebem; entre colinas ocas; o frio coalhado pelas tetas das cabras.
Florbela EspancaPasseio ao campo
Meu Amor! Meu Amante! Meu Amigo!
Colhe a hora que passa, hora divina,
Bebe-a dentro de mim, bebe-a comigo!
Sinto-me alegre e forte! Sou menina!
Eu tenho, Amor, a cinta esbelta e fina...
Pele doirada de alabastro antigo...
Frágeis mãos de madona florentina...
— Vamos correr e rir por entre o trigo! —
Há rendas de gramíneas pelos montes...
Papoilas rubras nos trigais maduros...
Água azulada a cintilar nas fontes...
E à volta, Amor... tornemos, nas alfombras
Dos caminhos selvagens e escuros,
Num astro só as nossas duas sombras!...
Luís de CamõesAlegres campos, verdes arvoredos
Alegres campos, verdes arvoredos,claras e frescas águas de cristal,Que em vós os debuxais ao natural,discorrendo da altura dos rochedos;
Silvestres montes, ásperos penedos,compostos em concerto desigual,sabei que, sem licença de meu mal,já não podeis fazer meus olhos ledos.
E, pois me já não vedes como vistes,não me alegrem verduras deleitosas,nem águas que correndo alegres vêm.
Semearei em vós lembranças tristes,regando-vos com lágrimas saudosas,e nascerão saudades de meu bem.
.
Luís Miguel Nava Ars erótica
Eu amo assim: com as mãos, os intestinos.
Onde ver deita folhas.
Jorge de Sousa BragaGerês
Quando me levantei já as minhas sandálias andavam a passear lá fora na relva.
Esta noite até os atacadores dos sapatos floriram.
PLANTASPLANTAS
Fernando Pessoa
Vou em mim como entre os bosques,Vou-me fazendo paisagemPara me desconhecer.Nos meus sonhos sinto aragem,Nos meus desejos descer.
Passeio entre arvoredoNos meandros de quem sintoQuando sinto sem sentirVaga clareira de instinto,Pinheiral todo a subir...
Sorriso que no regatoAtravés dos ramos curvosO sol, espreitando, acho.
Ruy BeloUma árvore na minha vida Não sei um dia mas alguma coisa me doía
ou talvez não doesse mas havia fosse o que fosse
Era isso sentia a grande falta de uma árvore
e pensei plantar em seguida uma árvore na minha vida
uma árvore ouvida sempre que me sentisse só
e mostrasse ela só na face a compreensão que mais ninguém mostrasse
mesmo que não me queixasse fosse por pudor ou fosse pelo que fosse
Era mesmo uma árvore que me faltava
precisava de sombra mais do que vivia eu envelhecia
não dispunha da companhia de ninguém
e far-me-ia decerto bem conhecer gente nova
gente que se renova no alto de um tronco forte
que não sabe da morte que floresce ou sorri
Tudo mas tudo me sobressalta cansaço ou mentira
a palavra demora há falta de gente
um ramo inocente que me dê a mão
que aparado aproveite para o caixão quando um dia morrer
que eu possa queimar e que me dê lume
Que a sombra serena de uma árvore mesmo sem nome
facilmente se afaça a submeter-se a face
A árvore é vária e resume compaixão ternura
é humana e dura não há nada melhor
Tragam-me a árvore seja ela qual for. [O poema prossegue, tem 3 págs.]
Fernando GuimarãesÁrvore
Conheço as suas raízes. É tudo o que vejo.
Há um movimento que a percorre devagar. Não sei
Se ela existe. Imagino apenas como são os ramos,
Este odor mais secreto, as primeiras folhas
Aquecidas. Mas eu existo para ela. Sou
A sua própria sombra, o espaço que fica á volta
Para que se torne maior. É assim que chega
O que não passa de um pressentimento. Ela compreende
Este segredo. Estremece. Comigo procuro trazer
Só um pouco de terra. É a terra de que ela precisa.
Ruy Belo
Os pássaros nascem na ponta das árvores
As árvores que eu vejo em vez de fruto dão pássaros
Os pássaros são o fruto mais vivo das árvores
Os pássaros começam onde as árvores acabam
Os pássaros fazem cantar as árvores
Ao chegar aos pássaros as árvores engrossam movimentam-se
deixam o reino vegetal para passar a pertencer ao reino animal
Como pássaros poisam as folhas na terra
quando o outono desce veladamente sobre os campos
Gostaria de dizer que os pássaros emanam das árvores
mas deixo essa forma de dizer ao romancista
é complicada e não se dá bem na poesia
não foi ainda isolada da filosofia
Eu amo as árvores principalmente as que dão pássaros
Quem é que lá os pendura nos ramos?
De quem é a mão a inúmera mão?
Eu passo e muda-se-me o coração
Carlos de OliveiraMusgo
Dir-se-á mais tarde;por trémulos sinais de luzno ocaso mais obscuro;se os templos contemplandoestes currais sem gadoruíram de pobreza.
Dir-se-á depoispor púlpitos postos em silêncio;peso também a decompor-seno mesmo pouco som;se desaba o desenhoda nave antes de fermentara cor da sua pedra,como fermentam leite e lãde ovelhas mais salinas.
Dir-se-á por fimque nenhum tempo se demorana rosácea intacta;e talvezque só o musgo dá;em seu discurso esquivode água e indiferença;alguma ideia disto.
Eugénio de AndradeCom os juncos
Elas crescem, as crianças.
Crescem com os juncos,
com os mastros.
Crescem no meu coração esburacado.
Só as crianças não morrem.
E os gatos.
Eugénio de AndradeAs mãos e os frutos
Passamos pelas coisas sem as ver,gastos, como animais envelhecidos:se alguém chama por nós não respondemos,se alguém nos pede amor não estremecemos,como frutos de sombra sem sabor,vamos caindo ao chão, apodrecidos
Eugênio de AndradeFrutos
Pêssegos, peras, laranjas,
morangos, cerejas, figos,
maçãs, melão, melancia,
ó música de meus sentidos,
pura delícia da língua;
deixai-me agora falar
do fruto que me fascina,
pelo sabor, pela cor,
pelo aroma das sílabas:
tangerina, tangerina.
José Bento
Eis um lírio e não preciso de louvá-lo:
está diante de vós
no braço esvoaçante
que a brancura alcança ao pé do fogo
Seu nome?
Vive inscrito no perfume
desfolhado em redor
com que magoa e chama
ao resvalar nos dedos.
Almeida GarrettA rosa – um suspiro
Se esta flor tão bela e pura,
Que apenas uma hora dura,
Tem pintado no matiz
O que o seu perfume diz,
Por certo na linda cor
Mostra um suspiro d'amor:
Dos que eu chego a conhecer
É este o maior prazer.
E a rosa como um suspiro
Há-de ser; bem se discorre:
Tem na vida o mesmo giro,
É um gosto que nasce e - morre.
ANIMAISANIMAIS
Eugénio de AndradeAcerca de gatos
Em abril chegam os gatos: à frente
o mais antigo, eu tinha
dez anos ou nem isso,
um pequeño tigre que nunca se habituou
às areias do caixote, mais foi quem
primeiro me tomou o coração de assalto.
Veio depois, já em Coimbra uma gata
que não parava em casa: fornicava
e paria no pinhal, não l'he tive
afeição que durasse, nem ela a merecia,
de tão puta. Só muitos anos
entrou em casa, para ser
senhor dela, o pequeno persa
azul. A beleza vira-nos a alma
do avesso e vai-se embora.
Por isso, quem me lambe a ferida
aberta que me deixou a sua morte
é agora uma gatita rafeira e negra
com três ou quatro borradelas de cal
na barriga. É ao sol dos seus olhos
que talvez aqueça as mãos, e partilhe
a leitura do "Público" ao domingo.
Fernando PessoaGato que brincas na rua
Como se fosse na cama,
Invejo a sorte que é tua
Porque nem sorte se chama.
Bom servo das leis fatais
Que regem pedras e gentes,
Que tens instintos gerais
E sentes só o que sentes.
És feliz porque és assim,
Todo o nada que és é teu.
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu.
Eduardo Guerra CarneiroGato
Chama-se Luís o gato do terceiro
e é companheiro de um mestre filósofo.
Em madrugadas altas há por vezes sobressalto,
quando o bichano acorda mal disposto.
O professor, sábio também
em jogos de paciência, acalma
o animal e já o mima. Trata-se,
vendo bem, de outra ciência,
tão difícil de conseguir como
um estudo de Pessoa. Chama-se Agostinho
da Silva, o do terceiro, e tem um gato
com quem, à vontade, discreteia.
Luís, discípulo, ronrona baixinho.
Tudo vai bem, assim, no sete desta rua.
Inês LourençoÍtaca sem gatos
Nenhum gato reconheceu Ulisses no
seu regresso a casa. Nem consta
que algum brincasse com os novelos
que a mulher dobava e desdobava
durante a longa ausência para
iludir os pretendentes. Por isso
me soa estranha a Odisseia e o
regresso a Ítaca sem o festivo içar
da cauda dum gato.
Alexandre O’NeilCão
Cão passageiro, cão estrito,
cão rasteiro cor de luva amarela,
apara-lápis, fraldiqueiro,
cão liquefeito, cão estafado,
cão de gravata pendente,
cão de orelhas engomadas,
de remexido rabo ausente,
cão ululante, cão coruscante,
cão magro, tétrico, maldito,
a desfazer-se num ganido,
a refazer-se num latido,
cão disparado: cão aqui,
cão além, e sempre cão.
Cão marrado, preso a um fio de cheiro,
cão a esburgar o osso
essencial do dia a dia,
cão estouvado de alegria,
cão formal da poesia,
cão-soneto de ão-ão bem martelado,
cão moído de pancada
e condoído do dono,
cão: esfera do sono,
cão de pura invenção, cão pré-fabricado,
cão-espelho, cão-cinzeiro, cão-botija,
cão de olhos que afligem,
cão-problema...
Sai depressa, ó cão, deste poema!
Vitorino NemésioCão no jardim
Cãozinho cagão,
Pedra sob o cu
Preta e branca pedra,
Preto e branco és tu.
Cãozinho de nada
No jardim de luxo
Dormindo na orilha,
E eu que sou da ilha,
Aguento o repuxo.
Cãozinho húmido,
Filho da pedra,
Osso barato,
Rabo de vírgula,
Cão apenas,
Rapando terra
Esconde as pernas.
Cãozinho da madrugada de Lisboa,
Herbívoro por distracção,
Não corras atrás de nada!
Ah, vida! Cadela em vão.
Sophia de Mello Breyner AndresenOs pássaros
Ouve que estranhos pássaros de noite
Tenho defronte da janela:
Pássaros de gritos sobreagudos e selvagens
O peito cor de aurora, o bico roxo,
Falam-se de noite, trazem Dos abismos da noite lenta e quieta
Palavras estridentes e cruéis.
Cravam no luar as suas garras
E a respiração do terror desce
Das suas asas pesadas.
Jorge de Sena De passarem aves
Das aves passam as sombras,
um momento, no chão, perto de mim.
No tardo Verão que as trouxe e as demora,
por que beirais não sei
onde se abrigam piando
como ao passar chilreiam.
Um momento só. Rápidas voam!
E a vida em que regressam de outras terras
não é tão rápida: fiquei olhando
as sombras não, mas a memória delas,
das sombras não, mas de passarem aves.
Fernando GuerreiroOrnitologia
Chegado o Outono, o conhecimento concentra-se nas asas
dos pássaros que pousam lentos sobre a cor dos frutos.
Sem sentimentos, as aves entregam-se ao sabor do vento
e deixam que no cérebro cresça a febre negra das urzes.
Aquieta-os a experiência que conservam do espaço
e que todas as tardes os inibe de partir para continentes
mais prósperos e seguros. Sustém-os um atavismo
apenas explicável pelo saber dos signos e o seu desejo
colectivo de suicídio.
Porque não escolhem antes
perder-se na tempestade? Talvez visto do ar,
aos seus olhos o mundo se torne mais pesado
e o pensamento se confunda, na memória,
com uma paisagem festiva de piras fúnebres.
E contudo, apesar do carácter cerrado da atmosfera,
o seu peso parece já ter-se deixado de sentir
sobre o discurso. Virados para dentro,
as imagens em que se reflectem são
as de um mundo banhado pela penumbra.
Afogado na sua razão de ser. Mediúnico.
Imagine-se agora o caçador a entrar
paisagem dentro para abater as peças
de que se compõe o cenário uma a uma:
vista de dentro, o Sol em que se esgota
a paisagem deixa cair as suas penas
sobre a imensidão que a chuva perturba.
•
Daniel Maia Pinto Rodrigues
Gosto daquela cigarra
Que ao chegar o inverno
E porque gosta
Come as formigas.
Vitorino NemésioA minhoca
Um torrão de barro!Eu vi um torrão de barroFresco, na enxada, e uma minhoca!Aquele torrão cheirosoEra a toca!
Eu vi bichas da terra,Uma raiz ao sol,Vi ervas verdesE um osso.
E fiquei tão comovido,Tão agradecido,Que quis dizer isso a alguém,Mas não sei a quemNem posso.Eu vi a oliveira de bronze e de prataCheia de folhas e de pios,E pelo vento soube dos rios.
Mas nem pinheiros nem fuminhosDe casais, semeaduras, cigarras,Nem este pouco de poesia que me tocaE que do Mundo me desligaValem a pobre minhocaQue se mexia para eu ver,Só com metade da barriga.
Armando Silva Carvalho Os ovos d’oiro
Comei os ovos.A galinha vive.Passeia em bibliotecase tasquinhajunto aos murosde Tebas.Galinha grega.Arredondando os ovossobre o mar.Sorvendo pelo bicoas gotas gregas.
Talassiana.
Pelo cu desta galinhasai um ovo.E sai a caca.Ave pesada de maispara Aristófanes.Encheu o papocom milho de Aristóteles.Os seus ovos são d’oiro.
Com as asas castigadassobe aos deuses.Perímetraglutonaempoleirada nos restosde colunasque as turistas beijame o cão do tempo mija.
Os homens de camisas clarasestendem sob o solas palmas ressequidas:mais um ovo.
Os homens indispostoscaminham para tráspisam os séculosprocuram nos quintaisdo temponos poleirosda históriaa passagem trôpegada galinha grega.
Cont.→
Armando Silva Carvalho Os ovos d’oiro
Uma galinha ausenteque dava pios d’almabicava nos arquétipose quando punha um ovoouvia-se em toda a Renascença.
Não sabemos porquêgalinha escritapequeno corpopondo em alvoroçoos fregueses dos mitosnão sabemos porquêtu ainda chocasou dormes no regaçode Montaigne.
Imensos velhosd’óculosque cuidam d’aviáriosperseguem toda a castade animaisapuram raças novaspara voltarem a tigalinha grega.
Cisca a galinhaem tornodas estátuaseterna vampdo mudo arqueológico.
Aphroditíssima.
O bicouma batutapara o seu silêncio.O gládiosuspensode uma antiga ânfora.
Enxotada entre guerrase alianças.Disseminando penaslargando por descuidoum ovo em cada voo.
Galinha grega.
A. M. Pires Cabral A mosca do serviço de urgência
A velha está sentada na sala de espera.Chegou amparada pela filha, que a depositou alienquanto trata dos papéis. A afliçãodeve ter sido tão súbita e imperiosaque a velha vem descomposta,não houve tempo para atender a pudores.Perdeu algures um chinelo.
Está sentada, muito branca, e parecemascar as dores com as gengivas nuas.
Tem a morte pousada na cara, sob a formade uma mosca insistente e de ar atarefado.Não tem forças para a sacudir.A mosca aproxima-se da boca, depois pareceinteressar-se pelo nariz. Delicia-secom o muco ao canto do olho, como a criançaque come a ocultas um gelado interdito.É como se estivesse em casa e percorresseos aposentos ao sabor dos afazeres.Cansada do rosto, levanta vooe vai pousar, desta feita, numa mão.
Mas breve volta atrás, como se se tivesseesquecido ali de alguma coisa,e demora-se um pouco a tentar lembrar o quê.
Esfrega uma na outra as patas dianteiras,celebrando a vitória que logo virá.
A velha já nem se dá contadesse penúltimo escárnio da morte.Está visivelmente madura para ela,pronta a entregar-lhe os destroços do corpo.
Consumada a posse daquele território,a mosca vai no seu voo fortuitoem busca de mais carne a requerer.Há dezenas de doentes na sala.Apalpa-os um por um, como se faz aos figos,para saber qual deve ser comidoem primeiro lugar.
O mais certo é que acabe – mais dia, menos dia –por devorá-los todos.
LEITURALEITURA
Nuno Júdice Bibliofilia
No armazém onde apodreciam as batatas, com o cheiro
a terra e raticida dos velhos sacos de estopa,
sentei-me a ler romances de capa e espada nas tardes de calor. Ali,
uma obscuridade de pedra e madeira protegia-me da
luz; um longínquo ruído de cigarras misturava-se
ao voo monótono de sombrios besouros; e do papel
envelhecido dos livros saía o furor de uma paixão que
só nos romances existia. Ah!, em que alcovas secretas
se encontravam os heróis antigos? que sedas e
cortinas davam acesso a corpos exaustos? Que
ácidas frases traíam decepções de amor? É que
o tempo era feito, então, de tardes sem fim, num
tédio solar, multiplicado pela brancura monótona
do horizonte, como se o próprio céu cobrisse a vida
com a sua mortalha luminosa. O romance
chegava ao fim demasiado depressa; os maus
morriam e os bons ganhavam com excessiva facilidade;
a última página não passava de um tímido abraço de
amantes, calando o que viria para além disso. Então, fechando
o livro, dava-se por que a tarde entrava no declínio;
já não se ouviam cigarras, e os besouros escondiam-se
nalguma trave do tecto. Sob os sacos, por entre fardos
de palha e peças de máquina, os fantasmas começavam
a acordar. Era o que esse tempo tinha para dar: nem
luz nem treva, nem morte nem vida. Os minutos de
hesitação entre o fim de um livro e o princípio de noite;
e o abrir da porta para o quintal, onde um vento quente
se metia por dentro da lenha já pronta para o forno do pão.
Carlos de OliveiraLeitura
Quando por fim as árvores se tornam luminosas; e ardem por dentro pressentindo; folha a folha; as chamas ávidas de frio: nimbos e cúmulos coroam a tarde, o horizonte, com a sua auréola incandescente de gás sobre os rebanhos.
Assim se movem as nuvens comovidas no anoitecer dos grandes textos clássicos.
Perdem mais densidade; ascendem na pálida aleluia de que fulgor ainda? e são agora cumes de colinas rarefeitas policopiando à pressa a demora das outras feita de peso e sombra.
António Ramos RosaA Leitora
A leitora abre o espaço num sopro subtil. Lê na violência e no espanto da brancura. Principia apaixonada, de surpresa em surpresa. Ilumina e inunda e dissemina de arco em arco. Ela fala com as pedras do livro, com as sílabas da sombra.
Ela adere à matéria porosa, à madeira do vento. Desce pelos bosques como uma menina descalça. Aproxima-se das praias onde o corpo se eleva em chama de água. Na imaculada superfície ou na espessura latejante, despe-se das formas,
branca no ar. É um torvelinho harmonioso, um pássaro suspenso. A terra ergue-se inteira na sede obscura de palavras verticais. A água move-se até ao seu princípio puro. O poema é um arbusto que não cessa de tremer.
Manuel António Pina O que não pode ser dito
guarda um silênciofeito de primeiras palavrasdiante do poema, que chega sempre demasiado tarde,
quando já a incertezae o medo se consomemem metros alexandrinos.Na biblioteca, em cada livro,
em cada página sobre sirecolhida, às horas mortas em quea casa se recolheu tambémvirada para o lado de dentro,
as palavras dormem talvez,sílaba a sílaba,o sono cego que dormiram as coisasantes da chegada dos deuses.
Aí, onde não alcançam nem o poetanem a leitura,o poema está só.E, incapaz de suportar sozinho a vida, canta.
Rui Knopfli
Amo todas as palavras, mesmo as mais difíceis
que só vêm no dicionário.
O dicionário ensinou-me mais um atributo
para o sabor de teus lábios.
São doces como sericaia.
Faz-me pensar ainda se a tua beleza não será
comparável à das huris prometidas.
No dicionário aprendi que o meu verso é
por vezes fabordão e sesquipedal.
Nele existe o meu retrato moral (que
não confesso) e o de meus inimigos,
rasteiros como seramelas sepícolas
e intragáveis como hidragogos destinados à comua.
O dicionário, as palavras, irritam muita gente.
Eu gosto das palavras com ternura
e sinto carinho pelo dicionário,
maciço e baixo e pelo seu casaco, azul
desbotado, de modesto erudito.
UNIVERSOUNIVERSO
António Gedeão
O Universo é feito essencialmente de coisa nenhuma.
Intervalos, distâncias, buracos, porosidade etérea.
Espaço vazio, em suma.
O resto, é a matéria.
Daí, que este arrepio,
este chamá-lo e tê-lo, erguê-lo e defrontá-lo,
esta fresta de nada aberta no vazio,
deve ser um intervalo.
Nuno JúdiceAstronomia
Vou buscar uma estrela que caiu
do céu, esta noite. Ficou presa a um
ramo de árvore, mas só ela brilha,
único fruto luminoso do verão passado.
Ponho-a num frasco, para não se
oxidar; e vejo-a apagar-se, contra
o vidro, à medida que o dia se
aproxima, e o muno desperta da noite.
Não se pode guardar uma estrela. O
seu lugar é no meio de constelações
e nuvens, onde o sonho a protege.
Por isso, tirei a estrela do frasco e
meti-a no poema, onde voltou a brilhar,
no meio de palavras, de versos, de imagens.