Selitz Escolha e Formulacao

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 Métodos de pesquisa nas relações sociais. Selltiz et al. São Paulo: EPU, Ed. da Universidade de São Paulo, 1974. pp. 33-56.   Freqüentemente, a formulação de um problema é mais essencial que sua solução. A. EINSTEIN E L. I  NFELD  Escolha de um Tópico para P esquisa A AMPLITUDE DE TÓPICOS POTENCIAIS para a pesquisa social é tão ampla quanto o comportamento social. Naturalmente, é muito menor a amplitude de tópicos que foram, de fato, escolhidos. No entanto, mesmo em uma área de pesquisa – por exemplo, nas relações entre grupos de diferentes origens étnicas ou religiosas – as pesquisas abrangem um grande campo, onde se incluem estudos a respeito da maneira pela qual os grupos agem, pensam e sentem com relação aos outros; como diferem em suas tradições, crenças, personalidades e cultura; como tratam suas crianças; como chegam a ser o que são; como respondem às tentativas para mudar sua relação com outro grupo, e assim por diante. Tais pesquisas foram realizadas em muitas partes do mundo; atingiram  pessoas de muitos grupos étnic os e religiosos, e m muitos aspecto s de sua vida. Como já notamos no Capítulo 1, o tópico geral de um estudo pode ser sugerido  por algum interesse prático ou por algu m interesse intelectual ou científico. Uma g rande diversidade de interesses práticos  pode apresen tar tópicos para pes quisa. Por exemp lo, é  possível desejar informação, como base para saber se existe necess idade de algum novo serviço ou alguma nova instalação. Assim, o diretor de um departamento estadual ou municipal de saúde e bem-estar pode desejar um levantamento de todas as pessoas com mais de 65 anos de idade, a fim de verificar se há necessidade de outros serviços para esse grupo e, se isso ocorrer, qual o tipo de serviço – auxílio financeiro mais amplo, serviços de estudos de caso, centros sociais e de divertimento, residenciais especiais, hospitais, etc. Pode-se desejar uma avaliação dos efeitos de um programa de uma instituição de recuperação na saúde mental de seus participantes, os efeitos de campanha de folhetos em eleições, os efeitos, nas atitudes com relação aos negros, de uma fita sobre Jackie Robinson. Outro tipo de questão prática que pode conduzir à pesquisa é aquele em que a informação sobre as prováveis conseqüências de vários caminhos de ação seria útil para decidir entre alternativas já propostas. Assim, no fim da Segunda Grande Guerra, o exército dos Estados Unidos realizou um amplo levantamento, entre seus soldados, a fim de verificar qual seria o sistema de dispensa considerado, de modo geral, como  justo. Um interesse prático ligeiramente diverso exige a predição de certa seqüência futura de acontecimentos, a fim de planejar ação adequada. Por exemplo, em 1945 o Tesouro dos Estados Unidos solicitou um estudo que permitisse a predição do andamento de resgates de apólices de guerra no ano seguinte, como orientação para  programa e ação quanto aos problemas de controle da inflação. Um construtor que considera a construção de um conjunto residencial em que as casas serão vendidas sem consideração da raça do comprador, pode desejar uma estimativa do mercado provável e da extensão em que este será i nfluenciado pelo caráter interracial do conjunto. Os interesses científicos ou intelectuais  podem sugerir uma amplitude igualmente grande de tópico para pesquisa. Talvez a principal diferença entre tópicos sugeridos por interesses práticos e os indicados por interesses científicos seja o fato de

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Métodos de pesquisa nas relações sociais. Selltiz et al. São Paulo: EPU, Ed. da Universidade de SãoPaulo, 1974. pp. 33-56. 

 Freqüentemente, a formulação de um problema é

mais essencial que sua solução.

A. EINSTEIN E L. I NFELD

 Escolha de um Tópico para Pesquisa 

A AMPLITUDE DE TÓPICOS POTENCIAIS para a pesquisa social é tão ampla quantoo comportamento social. Naturalmente, é muito menor a amplitude de tópicos queforam, de fato, escolhidos. No entanto, mesmo em uma área de pesquisa – por exemplo,nas relações entre grupos de diferentes origens étnicas ou religiosas – as pesquisasabrangem um grande campo, onde se incluem estudos a respeito da maneira pela qual osgrupos agem, pensam e sentem com relação aos outros; como diferem em suastradições, crenças, personalidades e cultura; como tratam suas crianças; como chegam aser o que são; como respondem às tentativas para mudar sua relação com outro grupo, e

assim por diante. Tais pesquisas foram realizadas em muitas partes do mundo; atingiram pessoas de muitos grupos étnicos e religiosos, em muitos aspectos de sua vida.

Como já notamos no Capítulo 1, o tópico geral de um estudo pode ser sugerido por algum interesse prático ou por algum interesse intelectual ou científico. Uma grandediversidade de interesses práticos pode apresentar tópicos para pesquisa. Por exemplo, é

 possível desejar informação, como base para saber se existe necessidade de algum novoserviço ou alguma nova instalação. Assim, o diretor de um departamento estadual oumunicipal de saúde e bem-estar pode desejar um levantamento de todas as pessoas commais de 65 anos de idade, a fim de verificar se há necessidade de outros serviços paraesse grupo e, se isso ocorrer, qual o tipo de serviço – auxílio financeiro mais amplo,

serviços de estudos de caso, centros sociais e de divertimento, residenciais especiais,hospitais, etc.

Pode-se desejar uma avaliação dos efeitos de um programa de uma instituiçãode recuperação na saúde mental de seus participantes, os efeitos de campanha defolhetos em eleições, os efeitos, nas atitudes com relação aos negros, de uma fita sobreJackie Robinson.

Outro tipo de questão prática que pode conduzir à pesquisa é aquele em que ainformação sobre as prováveis conseqüências de vários caminhos de ação seria útil paradecidir entre alternativas já propostas. Assim, no fim da Segunda Grande Guerra, oexército dos Estados Unidos realizou um amplo levantamento, entre seus soldados, a

fim de verificar qual seria o sistema de dispensa considerado, de modo geral, como justo.

Um interesse prático ligeiramente diverso exige a predição de certa seqüênciafutura de acontecimentos, a fim de planejar ação adequada. Por exemplo, em 1945 oTesouro dos Estados Unidos solicitou um estudo que permitisse a predição doandamento de resgates de apólices de guerra no ano seguinte, como orientação para

 programa e ação quanto aos problemas de controle da inflação. Um construtor queconsidera a construção de um conjunto residencial em que as casas serão vendidas semconsideração da raça do comprador, pode desejar uma estimativa do mercado provável eda extensão em que este será influenciado pelo caráter interracial do conjunto.

Os interesses científicos ou intelectuais  podem sugerir uma amplitudeigualmente grande de tópico para pesquisa. Talvez a principal diferença entre tópicossugeridos por interesses práticos e os indicados por interesses científicos seja o fato de

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estes últimos terem menos probabilidade de incluir o estudo de uma situação específicacomo objetivo fundamental de obter conhecimento a respeito de tal situação. Osinteresses intelectuais e científicos tendem a conduzir a questões gerais e voltar-se parasituações específicas como exemplos de classes gerais de fenômenos, e não como objeto

de interesse intrínseco.O pesquisador que tem curiosidade científica pode estar interessado na

exploração de algum objeto geral a respeito do qual pouco se sabe. Por exemplo,quando Piaget começou seus estudos sobre o pensamento das crianças, essa era umaárea relativamente inexplorada.

De outro lado, pode interessar-se por fenômenos que, até certo ponto, já foramestudados; neste caso, tende a interessar-se, por exemplo, por especificação mais exatadas condições em que determinados fenômenos ocorrem, ou como podem ser influenciados por outros fatores. Por exemplo, digamos que esteja interessado em saber até que ponto os julgamentos de indivíduos são influenciados pelas opiniões

apresentadas por seus companheiros. Esta é uma questão a respeito da qual já se fizerammuitos trabalhos; já se verificou, de maneira bem clara, que os julgamentos dosindivíduos são, freqüentemente, influenciados pelos julgamentos apresentados pelosoutros. O pesquisador pode desejar verificar diferenciações nessa verificação geral. Por exemplo, pode desejar perguntar: será que os julgamentos sobre questões para as quaisnão existe uma resposta "correta" e única, baseada em fatos, tendem a ser mais oumenos influenciados pelas opiniões apresentadas pelos outros do que os julgamentossobre questões para as quais existe uma resposta objetivamente correta? Como exemplodo primeiro tipo de questão, poderia pedir que os sujeitos dissessem se, comodramaturgo, consideram Tennesse Williams melhor ou pior que Arthur Miller; comoexemplo do segundo, poderia pedir que julgassem o comprimento de linhas. Seu

 problema de pesquisa seria respondido pela comparação da influência exercida, nasduas situações, pelos julgamentos dos outros sobre os julgamentos dos sujeitos.

Se trabalha num campo em que existe um sistema teórico muito desenvolvido,o pesquisador pode desejar verificar predições específicas, baseadas nessa teoria.Assim, Hunt (1941), interessado na verificação experimental da teoria psicanalítica,decidiu verificar a predição de que a privação na infância provoca comportamento de"pãodurismo" no adulto. Criou três grupos de ratos: um era normalmente alimentadodurante o período de desenvolvimento; o segundo era alimentado normalmente nainfância, mal alimentado durante o período da pré-puberdade, e depois normalmentealimentado; o terceiro era mal alimentado na infância, mas adequadamente alimentado

nos períodos posteriores. Na vida adulta, todos os grupos foram submetidos à privaçãode alimento; o que tinha sido privado de alimento na infância reagiu acumulandoalimento.

Com essa variedade de fontes que podem sugerir tópicos para pesquisa, como éque um investigador seleciona um problema para estudo? Entre os fatores importantesque determinam sua escolha estão suas inclinações pessoais e seus julgamentos devalor. Nas palavras de Whitehead:

Os juízos de valor não fazem parte da estrutura da ciência física, mas fazem parte domotivo de sua criação. (...) Existe escolha consciente das partes dos camposcientíficos que devem ser cultivados, e esta escolha consciente envolve juízos devalor. (Citado em Cantril, Ames, Hastorf e Ittelson, 1949).

 No entanto, nem sempre se reconhece o papel que os valores inevitavelmentedesempenham na escolha de assunto para pesquisa. A respeito, Cook (1949) relata oseguinte incidente:

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Certa vez descrevi, para outro psicólogo, um estudo em que nossa equipetentava avaliar o efeito de determinada experiência para a mudança deatitudes de não-judeus com relação a judeus. No entanto, esse psicólogo não

 pensava que tais atitudes devessem ser mudadas. Meu interesse pelamensuração do êxito de esforços para provocar mudança, segundo se tornou

evidente, significava, para ele, aprovação de um objetivo de que discordavaviolentamente. Além disso, esse psicólogo lembrou a possibilidade de quemeu apoio fosse interpretado por outros como apoio dos psicólogos em geral 

(o itálico não é do original).

Se neste caso se reconhecesse o fato de que os valores se incluem na escolha dequalquer tópico de pesquisa, não teria surgido o medo de que os valores que conduzemà escolha de um estudo pudessem ser considerados como valores comuns aos

 psicólogos em geral. Se se reconhece que todo pesquisador, em sua escolha de umtópico para pesquisa (a respeito de preconceito racial ou religioso ou dodesenvolvimento dos conceitos espaciais elas crianças), exprime seu julgamento ousentimento quanto ao que é importante estudar, a grande variedade de pesquisas

realizadas torna claro que nenhum estudo representa um acordo comum dos cientistassociais quanto às acentuações adequadas ele pesquisa.

Cientistas sociais com diferentes valores escolhem, para pesquisa, tópicosdiferentes. O cientista social que sabe quais as suas preferências pessoais que entraramna escolha de seu assunto, será mais capaz de evitar o viés que poderiam introduzir emsua pesquisa do que aquele que trabalha com a ilusão de ser orientado apenas por considerações científicas. Como os valores pessoais inevitavelmente influem na escolhade um assunto, o único meio de manter a racionalidade do processo científico é ter consciência de como e onde interferem tais valores.

 No entanto, seria errado supor que os valores pessoais são ou podem ser o

único determinante da escolha de um tópico de pesquisa. Não apenas as condiçõessociais sob as quais se realiza a ciência conformam, de maneira sutil e frequentementeimperceptível, as preferências dos pesquisadores, mas também existem váriosincentivos intensos e explícitos para que se realize pesquisa sobre um assunto e nãosobre outro. Diferentes sociedades dão recompensas a trabalho sobre diferentes tópicos.A pesquisa sobre câncer pode dar mais prestígio que a tentativa de encontrar uma cura

 para o resfriado comum; é possível que haja mais recursos para experimentos não- polêmicos com animais que para a pesquisa de tópicos que podem ter repercussões políticas; pode haver posições com melhor remuneração para o pesquisador de mercadoque para o psicólogo educacional. Existem poucos cientistas sociais que possam dar-se

ao luxo de desprezar prestígio, recursos para pesquisa e rendimento pessoal. Essasituação tende a provocar uma redução da efetiva liberdade de escolher tópicos de pesquisa, a não ser que diferentes instituições, com diferentes interesses, opiniões evalores, apoiem as pesquisas, de forma que o pesquisador possa escolher entre elas. NosEstados Unidos, atualmente, embora seja bem grande o número de diferentes fontes derecursos para pesquisa, uma grande proporção do dinheiro disponível para a pesquisa seconcentra em poucas agências governamentais e algumas grandes fundações. Por isso,em grande parte tais organizações determinam os problemas a respeito dos quais sedeve fazer pesquisa. Isso é verdade tanto para as Ciências físicas quanto para as ciênciassociais.

 Formulação do Problema de Pesquisa

A escolha de um tópico para pesquisa não coloca o investigador imediatamentenuma posição de começar a considerar os dados que coligirá, quais os métodos a

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empregar e como analisará tais dados. Antes de iniciar tais etapas, precisa formular um problema específico que possa ser pesquisado por processos científicos. Infelizmente,não poucas vezes ocorre que um pesquisador tenta saltar, imediatamente, da escolha deum tópico paia a coleta de observações. No melhor dos casos, isso significa que, depois

da coleta de dados, enfrentará a tarefa de formular um problema; no pior dos casos,significa que não realizará qualquer pesquisa científica.

(Porque) é uma opinião extremamente superficial dizer que a verdade éencontrada através do estudo dos fatos. É superficial porque nenhuma

 pesquisa pode começar a não ser que se perceba certa dificuldade numasituação prática ou teórica. É a dificuldade, ou problema, que orienta nossa

 busca de alguma ordem entre os fatos, em função da qual a dificuldade possaser afastada (Cohen e Nagel, 1934).

A pesquisa científica é uma atividade voltada para a solução de problemas. O primeiro passo na formulação da pesquisa é tomar o problema concreto e explícito.

Embora a escolha de um tópico de pesquisa possa ser determinada por outrasconsiderações, além das científicas, a formulação do tópico em um problema de

 pesquisa é a primeira etapa na busca científica e, como tal, deve ser influenciada,fundamentalmente, pelas exigências do processo científico. No entanto, não existe umaregra infalível para orientar o pesquisador na formulação de questões significativas emdeterminada área de pesquisa. Aqui, têm importância fundamental o treinamento e osdotes do indivíduo. Segundo Cohen e Nagel (1934):

A capacidade para perceber, em alguma experiência bruta, a ocorrência deum problema, e, sobretudo, de um problema cuja solução se relaciona com a

 solução de outros problemas, não é talento comum entre os homens. (...) Éum sinal do gênio científico ser sensível a dificuldades onde pessoas menosdotadas não se perturbam com dúvidas.

 No entanto, é possível enumerar algumas condições que, segundo o mostra aexperiência, conduzem à formulação de problemas significativos. Entre tais condições,estão as seguintes: imersão sistemática, através de observação sistemática, no objeto;estudo da literatura existente; discussão com pessoas que acumularam muita experiência

 prática no campo de estudo1. Por mais importantes que essas condições sejam para aformulação de um projeto de pesquisa, contêm um perigo. Na ciência social, como emqualquer domínio, os hábitos de pensamento podem interferir na descoberta do novo einesperado, a não ser que a observação direta e preliminar, a leitura e a discussão sejamconduzidas com uma disposição crítica, de curiosidade e de imaginação.

O primeiro passo na formulação é a descoberta de um problema que precisa ser solucionado. Sem esse passo, a pesquisa não pode caminhar, como se vê pelo episódioseguinte. Todos os verões, uma instituição educacional norte-americana reúne, por seissemanas, aproximadamente duzentos moços e moças de todas as categorias sociais. Sãorepresentadas todas as regiões do país, todas as crenças e todas as raças. Alguns dos

 jovens são operários ou camponeses; outros são empregados de escritório ou estudantes.São selecionados para esse curso de verão por causa dos indícios de liderança quemostraram em seus sindicatos, suas organizações sociais ou cursos universitários. Ainstituição patrocinadora pretende dar a esses jovens informação a respeito do mundoem que vivem, uma experiência da vida em grupo, bem como capacidades que

1 Ver o Capítulo 3 para uma discussão minuciosa de planejamentos de estudo que envolvem tais processos. O vaiar fundamental de tais pesquisas exploratórias é o fato de poderem conduzir à proposição de perguntas maissignificativas que as possíveis de outro modo. 

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 permitam a cada um enfrentar, de maneira ainda mais eficiente, as exigências de um papel de liderança em sua esfera de vida. Os organizadores desse empreendimentovoluntário convidaram uma equipe de cientistas sociais a fim de discutir a possibilidadede realização de pesquisa na escola. A razão para o convite era a mesma que faz com

que muitas instituições procurem o auxílio de cientistas sociais – a instituição desejavaestar certa do valor do programa e estava convencida de que a ciência poderia verificar isso de maneira indiscutível. Portanto, o tópico da pesquisa prevista era, evidentemente,o valor do empreendimento educacional. O objetivo da discussão entre patrocinadores edentistas sociais era transformar esse tópico, etapa por etapa, num problema de

 pesquisa.

Como é usual em tais discussões, os cientistas sociais começaram com aseguinte pergunta: o que é que vocês gostariam de descobrir em seu empreendimento?Esta foi seguida pela pergunta contrária, também usual: o que é que os cientistas sociaisnos podem dizer a respeito? O resto da sessão mostrou, aos dois grupos, as dificuldades

da formulação da pesquisa.Superado o obstáculo inicial, os representantes da instituição explicaram,

minuciosamente, os seus objetivos finais. Já tinham considerável conhecimento arespeito dos problemas típicos e dos efeitos imediatos de seu esforço pioneiro, mas seuselevados objetivos e sua visão educacional os impedia de aceitar, como  medidaadequada de êxito, o evidente prazer que os jovens tinham com a experiência.Procuravam algo que se  mostraria fora dos limites da situação educacional e na vida

 posterior de cada participante. Aparentemente os problemas imediatos da administraçãoda escola – convocação de alunos, programa, organização, etc. – estavam bemcontrolados.

Embora a discussão de efeitos finais fosse muito interessante, concordou-seque a pesquisa de tais efeitos não seria possível a não ser em programa de pesquisa devinte anos, o que a instituição e os cientistas sociais não poderiam, no momento,considerar. Todos concordaram também que a competência e a experiência doseducadores era melhor guia para um programa voltado para objetivos finais do que osresultados de esforços de pesquisa em questões secundárias. Em outras palavras:embora houvesse um tópico, não foi possível formular um projeto, realizável sobre osefeitos finais do trabalho da escola; se houvesse interesse pelo estudo de efeitosimediatos, o resultado seria indiscutivelmente diverso. No entanto, apesar do resultadoem grande parte negativo, a discussão apresentou um subproduto valioso, emborainesperado sob a forma de esclarecimento dos objetivos e suposições subjacentes ao

 programa da instituição.Embora este exemplo demonstre que nem todo tópico pode ser facilmente

transformado em projeto realizável de pesquisa, felizmente é atípico quanto àimpossibilidade de chegar a qualquer base a partir na qual a pesquisa poderia ser iniciada. Mais frequentemente é possível identificar algum aspecto que  pode ser formulado numa questão específica de pesquisa a ser investigada com os recursosdisponíveis.

Como exemplo do processo de formulação, dentro de uma área geral, de um problema de pesquisa, consideremos um estudo de Morris e Davidsen (ainda não publicado) sobre estudantes estrangeiros nos Estados Unidos. Ao decidir que desejavam

estudar algum aspecto da experiência de estudo em país estrangeiro, os pesquisadorestinham selecionado um tópico geral. No entanto, grande número de questões específicas

 poderia ser pesquisado nessa área. Os estudos exploratórios já realizados tinham dado

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algumas indicações interessantes. Por exemplo, sugeriam a possibilidade de que osestudantes, num país estrangeiro, passam por uma sequência uniforme de estádios deajustamento, que começam por uma fase de "espectador" e terminam com uma fase de

 preparação para a volta ao país de origem. Outra ideia derivada do período de

 preparação era a possibilidade de que, em grande parte, a atitude do estudante diante do país estrangeiro seja colorida pela posição que ocupa em seu país, combinada com aatitude geral diante do país estrangeiro mantida por vários grupos em seu país. Outrasugestão retirada desses estudos iniciais era a ideia de que a atitude do estudante comrelação ao país estrangeiro possa ser muito influenciada por sua avaliação da estima, aseus país de origem, por parte dos membros do país que visita2. 

Evidentemente, não seria possível considerar, nos limites de um único estudo,todas essas possibilidades. Portanto, um dos primeiros passos seria selecionar um tópicoque apresentasse uma tarefa realizável. Este é, muitas vezes, um passo necessário nas

 primeiras etapas da formulação de problema. O tópico. escolhido para pesquisa – seja a

avaliação do programa de urna instituição, um levantamento para diagnóstico deatitudes e opiniões com relação a questões internacionais, o desenvolvimento decooperação em pequenos grupos – tem, geralmente, uma amplitude tal que nem todos osaspectos do problema podem ser pesquisados simultaneamente. A tarefa precisa ser reduzida a um aspecto que possa ser tratado em um único estudo, ou dividido emalgumas subquestões que possam ser tratadas em estudos separados.

Morris e Davidsen resolveram focalizar a seguinte questão: saber como asatitudes dos estudantes com relação ao país estrangeiro são influenciadas por sua

 percepção da estima, por parte dos membros desse país, a seu país de origem. Depois deter limitado o problema a uma questão que poderia ser tratada razoavelmente em umúnico estudo, passaram a várias etapas interrelacionadas: formulação de hipóteses;esclarecimento e definição formal dos conceitos usados no estudo; especificação dostipos de provas que poderiam servir como indicadoras dos vários conceitos (isto é,estabelecimento de "definições para o trabalho"); consideração dos métodos para ligar esse estudo a outros, que usaram conceitos semelhantes, de forma que fizesse a maior contribuição possível ao conhecimento geral nesse campo.

Tais etapas estão tão intimamente ligadas que não é possível trabalhar separadamente com elas. Quando um pesquisador formula suas hipóteses, precisadefinir os conceitos aí incluídos, e nesta definição tende a considerar a relação de seusestudos com outros e comum conjunto geral de conhecimento. Apesar disso, paraclareza da apresentação, as várias etapas precisam ser discutidas separadamente, e

dentro de certa ordem. Começaremos com a formulação de hipóteses – não porque esteseja o aspecto que sempre recebe atenção em primeiro lugar, mas porque, quando é

 possível começar por esse aspecto, ele apresenta muita orientação para as outras etapas.

 Formulação de Hipóteses

Uma hipótese é "uma proposição, condição ou principio que se supõe, talvezsem acreditar nele, a fim de chegar às suas consequências lógicas e ,  por esse método,verificar o seu acordo com fatos conhecidos ou que podem ser verificados" (Websters

2 Para uma pequena discussão de um dos estudos que conduziram a essa última sugestão, ver o Capítulo 11, pág. 450s.

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 New lnternational Dictionary of the English Language, segunda edição, não-resumida.1956). O papel das hipóteses na pesquisa científica é sugerir explicações paradeterminados fatos e orientar a pesquisa de outros. A importância das hipóteses para a

 pesquisa foi acentuada por Cohen e Nagel (1934), que afirmam:

 Não podemos dar um único passo adiante em qualquer pesquisa, se nãocomeçarmos com uma explicação ou solução  sugeridas  para a dificuldadeque provocou a pesquisa. Tais explicações provisórias nos são sugeridas por algo no objeto e por nosso conhecimento anterior. Quando formuladas como

 proposições, são denominadas hipóteses.

A função de uma hipótese é orientar nossa busca de ordem entre os fatos. Assugestões formuladas na hipótese  podem ser as soluções para o problema.Saber  se o. são é a tarefa da pesquisa. Não é necessário que qualquer dassugestões conduza ao nosso objetivo. E, frequentemente, algumas dassugestões são incompatíveis entre si, de forma que nem todas podem ser·soluções para o mesmo problema.

Parece-nos que essa é uma apresentação precisa da natureza e do valor dehipóteses na pesquisa científica, mas acreditamos que seja excessivamente ampla emsua afirmação de que a pesquisa não  pode começar antes da formulação de umahipótese. Como diremos mais tarde, um tipo muito importante de pesquisa tem, comoobjetivo, a formulação de hipóteses significativas a respeito de determinado assunto.

Uma hipótese pode afirmar que algo ocorre em determinado caso;  que umobjeto, uma pessoa, uma situação ou um acontecimento específicos têm certacaracterística. Por  exemplo, o livro de Freud,  Moisés e o Monoteísmo, começa com ahipótese de que Moisés era, na realidade, egípcio, e não judeu. De outro lado, umahipótese pode referir-se à  frequência de acontecimentos ou à ligação entre variáveis.

Pode afirmar que algo ocorre em determinada proporção do tempo, ou que algo tende aser acompanhado por alguma outra coisa, ou que algo é geralmente maior ou menor quealguma outra coisa. Muitas pesquisas de ciência social se referem a tais hipóteses. Por exemplo, os psicólogos pesquisaram a correlação entre diferentes tipos de capacidade;os sociólogos estudaram a ecologia de crime e de doença mental; os antropólogos

 pesquisaram a relação entre crenças religiosas, costumes matrimoniais e outras práticasde uma sociedade.

Outras hipóteses afirmam que um acontecimento ou característica específica éum dos fatores que determinam outra característica ou outro acontecimento. Por exemplo, a teoria psicanalítica inclui a hipótese de que as experiências na primeirainfância são importantes determinantes da personalidade adulta. As hipóteses deste tiposão denominadas hipóteses de relação causal  ou apenas hipóteses causais. Serãodiscutidas mais minuciosamente no Capítulo 4.

As hipóteses podem ser criadas a partir de várias fontes. Uma hipótese pode basear-se apenas num "palpite." Pode basear-se em resultados de outro ou outrosestudos, e na expectativa de que uma relação semelhante entre duas ou mais variáveisocorra no novo estudo. Pode decorrer de um conjunto de teoria que, por um processo dededução lógica, conduza à predição de que, sob determinadas condições, decorrerãodeterminados resultados. Quaisquer que sejam as fontes de uma hipótese, esta realizauma importante função no estudo: serve como um guia para (1) o tipo de dados que

 precisam ser coligidos, a fim de responder à questão da pesquisa, e (2) a maneira de

organizá-los ele maneira mais eficiente na análise.3 

3  No Capítulo 11 discute-se a importância das hipóteses no planejamento da análise de um estudo. 

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 No entanto, as fontes da hipótese do estudo têm uma relação importante com anatureza da contribuição que a pesquisa fará ao conjunto geral do conhecimento. Umahipótese que surge apenas da intuição ou do "palpite" pode, finalmente, fazer umacontribuição importante para a ciência. No entanto, quando foi verificada em apenas um

estudo, existem duas limitações à sua utilidade. Em primeiro lugar, não existe garantiade que uma relação entre duas variáveis. encontrada em determinado estudo, sejaencontrada em outros. Voltando ao estudo de Morris e Davidsen – suponha-se que osinvestigadores tenham apenas tido o "palpite" de que os estudantes estrangeiros queacreditam que os norte-americanos têm ideias muito favoráveis aos seus países deorigem tendem a ter atitudes mais favoráveis aos Estados Unidos do que os estudantesque acreditam que os norte-americanos desprezam seus países de origem. Mesmo que se

 prove que isso ocorre em seu estudo, não haveria forma de julgar se as diferenças nasatitudes, entre os dois grupos de. estudantes, realmente decorrem de diferenças em sua

 percepção de atitudes dos norte-americanos com relação aos seus países de origem ou,ao contrário, se algum outro fator na situação explica a diferença. Em segundo lugar,

uma hipótese baseada apenas em "palpite" tende a não estar relacionada com outroconhecimento ou outra teoria. Por isso, os resultados de um estudo baseado numahipótese desse tipo não têm ligação clara com o conjunto mais amplo de conhecimentode ciência social. Podem propor questões interessantes, podem estimular outras

 pesquisas, podem ser posteriormente integrados em teoria explicativa. Mas, a não ser que ocorram tais desenvolvimentos, tendem a permanecer como partes isoladas deinformação.

Uma hipótese decorrente de resultados de outros estudos está, até certo ponto,livre da primeira dessas limitações. Se a hipótese se baseia em resultados de outrosestudos, e se o estudo atual confirma a hipótese, o resultado auxilia a demonstrar que a

relação se repete regularmente. Para continuar com nosso exemplo: se dois ou maisestudos verificam uma relação entre a percepção da opinião dos norte-americanos, arespeito do país de origem de uma pessoa, e as atitudes dessa pessoa com relação aosEstados Unidos, temos maior confiança na afirmação de que a percepção do estudanteestrangeiro da estima dos norte-americanos por seu país de origem tem influência emsuas atitudes com relação aos Estados Unidos. Reduz-se – embora evidentemente não seelimine – a possibilidade de que a aparente relação se deva a alguma condiçãoespecífica em determinada situação.

Uma hipótese decorrente não apenas de resultados de um estudo anterior, mastambém de teoria apresentada em termos mais gerais, está livre da segunda limitação – a

de estar separada de um conjunto mais amplo de conhecimento. Suponha-se, por exemplo, que Morris e Davidsen tenham baseado sua predição em uma teoria deestratificação social, segundo a qual os indivíduos que ascendem em seu status tendem aser favoráveis a indivíduos e objetos vistos como auxílios para seu movimentoascendente, enquanto que os que perdem status tendem a ser desfavoráveis a indivíduose objetos vistos como colaboradores de seu movimento descendente. A fim deestabelecer uma relação entre seu estudo e a teoria geral, precisam ser capazes dedemonstrar, de forma convincente, que suas medidas podem ser consideradas comoindicadores de mudança de status e que se pode inferir, de maneira razoável, que osestudantes vêem os norte-americanos como colaboradores dessa mudança.4 Se a ligaçãoentre os dados do estudo e a teoria geral for satisfatoriamente estabelecida dessa

maneira, e se os resultados do estudo confirmarem a predição, os pesquisadores terno4  Nas págs. 48s discute-se mais minuciosamente a maneira pela qual os pesquisadores desenvolveram esseargumento. 

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Métodos de pesquisa nas relações sociais. Selltiz et al. São Paulo: EPU, Ed. da Universidade de SãoPaulo, 1974. pp. 33-56. 

feito uma dupla contribuição. De um lado, os resultados do estudo ajudam a confirmar ateoria geral, ao demonstrar que é válida nessa situação, bem como em outras em que jáfoi aplicada. De outro lado, a aplicação da teoria geral ao caso específico ajuda-nos acompreender como a percepção, pelos estudantes estrangeiros, das opiniões dos norte-

americanos a respeito de seu país de origem, influi na atitude dos primeiros com relaçãoaos Estados Unidos.5 

 No caso do estudo de Morris e Davidsen, os pesquisadores puderam utilizar tanto resultados de pesquisas anteriores quanto a teoria sociológica para a formulaçãode suas hipóteses específicas, a principal das quais era uma versão mais complexa daapresentada nos parágrafos anteriores. O fato de haver resultados significativos de

 pesquisa e uma teoria significativa simplificou a tarefa da formulação de hipóteses; ofato de ter formulado hipóteses simplificou a tarefa de planejamento dos tipos de dadosa serem coletados e da sua análise. A principal hipótese foi confirmada pelos resultadosdo estudo. A relação com pesquisas anteriores aumentou a confiança na ocorrência

constante da relação entre avaliação das opiniões dos norte-americanos a respeito do país de origem de uma pessoa e as atitudes dessa pessoa com relação aos EstadosUnidos. O fato de o estudo ter sido planejado em função de uma teoria sociológicasobre os efeitos de mobilidade ascendente e descendente de status significa que osresultados contribuíram para a confirmação da teoria geral. Ao mesmo tempo, a teoriaapresentava uma explicação dos resultados do estudo, como um caso de processos

 psicológicos mais gerais, apresentados na teoria.

O fato de a natureza das relações previstas poder ou não ser apresentadaexplicitamente – isto é, se podem ou não ser apresentadas como hipóteses no. estágio deformulação de uma pesquisa – depende, em grande parte, da situação do conhecimentona área a ser pesquisada. A pesquisa científica pode começar com hipóteses bemformuladas, ou pode formular hipóteses como o produto final da pesquisa.

 Nem é preciso dizer que a formulação e verificação de hipóteses constituemum objetivo da pesquisa cientifica. Apesar disso, não existe atalho para esse objetivo.Em muitas áreas de relações sociais, não existem hipóteses significativas. Por isso, énecessário fazer muitas pesquisas exploratórias, antes de ser possível formular hipóteses. Esse trabalho exploratório é uma etapa inevitável no progresso científico.

Por exemplo, ainda não se sabe muita coisa a respeito da influência decomunidades planejadas no comportamento, nos sentimentos e na visão geral das

 pessoas que aí vivem. Quando Merton e seus colegas (em trabalho ainda não publicado) procuraram pesquisar esse tópico, na caso de conjuntos residenciais públicos nosEstados Unidos, não havia ainda hipóteses bem estabelecidas com as quais pudesseminiciar o estudo. Nessa época, havia poucos estudos descritivos que permitissem aformulação de hipóteses aplicáveis a esse novo fenômeno na paisagem física e socialdos Estados Unidos. Os estudos de Merton foram concebidos em base ampla; formulou-se uma série completa de problemas interrelacionados de pesquisa e foi feita a previsãode diferentes formas pelas quais se manifestaria o impacto de residências públicas.

Um desses problemas referia-se à amplitude de participação política. Oslocatários de residências públicas têm, geralmente, uma oportunidade para participar daresponsabilidade da administração dos conjuntos e para eleger representantes locais,mais ou menos como ocorre no governo municipal. Na etapa de formulação do

 problema, pouco se sabia a respeito desse aspecto do comportamento e de suas

5 Para discussão mais minuciosa da relação entre pesquisa empírica e teoria, ver o Capítulo 14. 

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consequências. Pareciam igualmente possíveis dois efeitos opostos da participação naadministração dos conjuntos residenciais. De um lado, o interesse pelo autogoverno

 poderia levar os locatários a ficarem tão absorvidos pelos pequenos problemas doconjunto residencial que não se interessassem por questões políticas mais amplas. De

outro lado, a participação no governo de uma pequena comunidade, onde a atuação deforças políticas poderia ser facilmente observada, poderia servir como treinamento e,dessa forma, provocar um maior interesse e maior compreensão das. forças políticas no

 plano nacional.

 No entanto, como não se sabia sequer se os locatários utilizariam aoportunidade de participar no autogoverno, ou até que ponto o fariam, seria prematuroque os pesquisadores baseassem o plano de seu trabalho em qualquer hipótese referenteaos efeitos da participação. Durante a pesquisa, tomou-se evidente que a participaçãoera a regra. Além disso, em dois conjuntos residenciais muito diferentes, verificou-seque o interesse pela política local não substituía, mas, ao contrário, iniciava e fortalecia

o interesse pejos problemas nacionais. Diante dessa prova, agora é possível começar uma pesquisa em conjunto residencial público – ou, sob esse aspecto, em qualquer outrasituação – a fim de verificar essa hipótese em diferentes circunstâncias.

De outro lado, no campo do preconceito, onde já se realizaram muitas pesquisas, é possível realizar investigações com hipóteses formuladas antecipadamente.Isso foi demonstrado no estudo de residências públicas (Deutsch e Collins, 1951),discutido no Capítulo 1. Como se recorda, nesse estudo o problema era o impacto de

 padrão de residência nas relações entre locatários brancos e negros. A partir de pesquisas anteriores, os investigadores foram capazes de formular, antecipadamente,algumas hipóteses interrelacionadas a respeito dos efeitos dos padrões de residência nasatitudes dos locatários.

Tais exemplos demonstram que não tem sentido considerar, como mais"científico", um estudo que começa com hipóteses do que aquele que termina comhipóteses. O tempo para a formulação de hipóteses varia com a natureza do problema ea amplitude de conhecimento anterior a respeito. A formulação e reformulação de

 problemas de pesquisa é um processo contínuo. Segundo Max Weber, sociólogoalemão, "toda realização científica propõe novas questões; deseja ser superada eultrapassada."

 Definição de Conceitos

Qualquer pesquisador, a fim de organizar seus dados de forma a perceber relações entre eles, precisa empregar conceitos. Um conceito é uma abstração a partir deacontecimentos percebidos, ou, segundo McClelland (1951), "uma representaçãoresumida de uma diversidade de fatos. Seu objetivo é simplificar o pensamento, aocolocar alguns acontecimentos sob um mesmo título geral." Alguns conceitos estãomuito próximos dos objetos ou fatos que representam. Por exemplo, o sentido doconceito cão  pode ser facilmente exemplificado através da indicação de cãesespecíficos. O conceito é uma abstração das características que todos os cães têm emcomum – características que são facilmente observáveis ou facilmente mensuráveis. Noentanto, outros conceitos não podem ser tão facilmente ligados aos fenômenos que

 pretendem representar; por exemplo, é isso que ocorre com atitudes, aprendizagem,

 papel  e motivação. São inferências, em nível mais elevado de abstração, a partir deacontecimentos concretos, e seu sentido não pode ser facilmente transmitido através daindicação de objetos, indivíduos ou acontecimentos específicos. Às vezes, essas

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abstrações de nível mais elevado são denominadas construções, uma vez que sãoconstruídas a partir de conceitos de nível inferior de abstração.

Quanto maior a distância entre os conceitos e os fatos empíricos. a que pretendem fazer referência, maior a possibilidade de tais conceitos serem malcompreendidos ou mal empregados, e maior o cuidado necessário para sua definição.Devem ser definidos em termos abstratos, dando-se o sentido geral que devemtransmitir, bem como em termos das operações através das quais serão representados noestudo específico. O primeiro tipo de definição é necessário para ligar o estudo ao.conjunto de conhecimentos que empregam conceitos semelhantes. O segundo é um

 passo essencial para a realização de qualquer pesquisa, pois os dados devem ser coligidos através de fatos observados.

Como exemplo, podemos voltar ao estudo de Morris e Davidsen S0breestudantes estrangeiros. Sua hipótese referia-se aos efeitos, em suas atitudes comrelação aos Estados Unidos, da avaliação do estudante quanto à estima dos norte-

americanos com relação ao seu país de origem. Na realidade, como já notamos, lihipótese era mais complexa. Incluía os conceitos de "obtenção de status nacional" e"perda de status nacional", através de viagem aos Estados Unidos. O "status nacional"era definido como "a relativa valorização atribuída ao próprio país, numa escalainternacional de comparação." A hipótese incluía uma distinção entre duas avaliaçõesde status nacional: "o status nacional percebido" – isto é, a avaliação, feita peloestudante, de seu país; "status nacional percebido como atribuído" – estimativa, feita

 pelo estudante, da avaliação de seu país pelos norte-americanos6. A diferença entreessas duas avaliações dava uma medida de "discrepância de status nacional." Esseconceito estava ligado à teoria de estratificação social e mobilidade de status, através dasuposição de que um estudante que acreditasse que os norte-americanos davam ao seu

 país uma avaliação superior à que ele próprio atribuía, tinha experiência de "elevação destatus nacional", enquanto aquele que acreditava que os norte-americanos davam umaavaliação inferior à que ele próprio atribuía, tinha uma experiência de "redução de statusnacional". Esses conceitos básicos eram formalmente definidos através do sentido deelevação de status e  perda de status na teoria sociológica geral. Para esse estudoespecífico fez-se um início de definição de trabalho, definindo-se elevação de status eredução de status nacional através de uma comparação entre duas avaliação feitas peloestudante – sua avaliação pessoal da posição de seu país e sua estimativa das avaliaçõesdos norte-americanos. Consideremos, agora, como foram mais desenvolvidas asdefinições de trabalho.7 

6

 O "status nacional real atribuído" – a avaliação realmente feita pelos norte-americanos – foi também considerado,como verificação da percepção dos estudantes 7 Na realidade, alguns outros conceitos foram também incluídos neste estudo; entre eles, o de identificação e o deatitude. Como nos interessamos pelo estudo apenas como exemplo, não consideraremos a forma de definir essesoutros termos. 

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 Estabelecimento de Definições de Trabalho8 

Qualquer que seja a simplicidade ou complexidade da definição formal de seus

conceitos, o pesquisador, para realizar qualquer pesquisa, precisa encontrar algumaforma de traduzi-los em acontecimentos observáveis. Não é possível estudar "elevação"ou "redução de status nacional" como tais, pois esses conceitos não têm complementosdiretos em acontecimentos observáveis. O pesquisador precisa criar algumas operaçõesque provoquem resultados que possa aceitar como um indicador de seu conceito. Esteestágio da formulação do projeto pode exigir muita habilidade, sobretudo se osconceitos estão muito distantes dos acontecimentos cotidianos e se foram realizadas

 poucas pesquisas com tais conceitos.

 No caso do estudo de estudantes estrangeiros, embora tivesse havido muitas pesquisas a respeito de perda e elevação de status em outros contextos, nenhum estudo

anterior tinha lidado sistematicamente com o conceito de "perda ou elevação de statusnacional"; por isso, não tinham sido criadas operações que constituíssem definições detrabalho desses termos. Morris e Davidsen já tinham começado sua definição detrabalho, quando decidiram que sua medida básica seria a discrepância entre a avaliaçãode seu país feita pelo estudante e sua estimativa das avaliações dos norte-americanos.

 No entanto, em que termos deveriam ser feitas tais avaliações? Será que os estudantes poderiam apenas receber uma lista de países e distribuí-los de acordo com a suaavaliação de cada um deles? Essa tarefa parecia excessivamente ambígua; a partir desuas reações pessoais, os pesquisadores concluíram que os países serão classificados deforma diferente, de acordo com diferentes critérios. Finalmente, estabeleceram trêscritérios, através dos quais os países deveriam ser avaliados: nível de vida, padrões

culturais e padrões políticos. A partir de tais avaliações seria construído um índice de"status nacional." (É óbvio, a partir deste exemplo, que o passo do estabelecimento dedefinições de trabalho está muito ligado a decisões a respeito de instrumentos de coletade dados e do padrão de análise. Este é outro aspecto da maneira pela qual as etapasiniciais determinam as posteriores, bem como da necessidade de predizer, nas etapasiniciais, as etapas posteriores).

As definições de trabalho são adequadas se os instrumentos ou processos neles baseados obtêm dados que constituam indicadores satisfatórios dos conceitos que pretendem representar. Saber se esse resultado foi conseguido é, freqüentemente, umaquestão de opinião. Um pesquisador pode pensar que seus dados apresentam

indicadores razoavelmente bons de seus conceitos; um crítico do estudo pode pensar que isso não ocorre. Freqüentemente acontece de o pesquisador estar ciente de que seusdados constituem apenas um reflexo muito limitado do conceito que tem em mente,mas, sobretudo nós estágios iniciais da pesquisa de um problema, pode não ser capaz decriar um conceito mais satisfatório. De qualquer forma, embora geralmente o

 pesquisador relate seus resultados através de conceitos abstratos, a fim de ligá-las maisfacilmente a outras pesquisas e à teoria, ele e seus leitores devem lembrar que, narealidade, encontrou uma relação entre dois conjuntos de dados que, segundo pretende,representam seus conceitos. Assim, o que Morris e Davidsen realmente verificaram foique a discrepância entre as duas avaliações do país de origem estava ligada às respostasa certas perguntas sobre os Estados Unidos. Embora possam, com propriedade,

8 O leitor pode observar uma semelhança entre nosso conceito de definição de trabalho e o termo maisfreqüentemente usado, isto é, definição operacional. Evitamos esse termo mais usual porque traz consigo algumasconotações filosóficas que não desejamos discutir aqui 

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interpretar isso como indício de uma relação entre elevação ou perda de status nacional por parte do estudante estrangeiro e sua atitude diante dos Estados Unidos, deve-selembrar que essa interpretação depende da suposição de, que as respostas às perguntasda entrevista são adequadas definições de trabalho dos conceitos elevação de status

nacional, perda de status nacional e atitude com relação ao país em que estuda.

 Ligação dos Resultados com Outros Conhecimentos

A pesquisa científica é um empreendimento comunitário, embora estudosisolados sejam realizados por pesquisadores que trabalham sozinhos. Cada estudodepende aos anteriores e apresenta a base para futuros estudos. Quanto maior o númerode relações que puderem ser estabelecidas entre determinado estudo e outros estudos ouum conjunto teórico, maior . a contribuição provável.

Existem duas maneiras principais para ligar determinado estudo a um conjuntomais amplo de conhecimento. Um deles é, evidentemente, examinar a pesquisa c asreflexões já feitas sobre determinado problema ou problemas de pesquisa a ela ligados,e planejar o estudo de forma que este se ligue, no maior número possível de pontos,com o trabalho existente. O segundo é formular o problema de pesquisa em nívelsuficientemente abstrato, de forma que os seus resultados possam ser ligados aos eleoutros estudos referentes aos mesmos conceitos.

O estudo de estudantes estrangeiros que estamos considerando foi formuladoem nível muito elevado de abstração, e assim poderia ser facilmente ligado com outrosestudos de status, em diferentes situações e com diferentes populações. Em estudos quedecorrem de determinada questão científica, geralmente não é difícil formular o

 problema de pesquisa em nível útil de abstração, pois as questões científicas, por suanatureza, tendem a ser apresentadas em termos gerais. No entanto, os estudos quesurgem da necessidade de resposta a uma questão prática podem permanecer em níveltão específico que não apresentem contribuição real ao conhecimento, a menos que o

 pesquisador se esforce para transpor a questão a um nível mais elevado de abstração.

Consideremos o exemplo de um pesquisador que, a pedido de uma instituiçãointeressada pela melhoria de relações intergrupais, realiza um levantamento com oobjetivo de avaliar. a eficiência de uma série de desenhos sobre preconceito. Se propõeo problema de forma que não possa generalizar além dos desenhos específicos,fracassará, tanto na tarefa prática quanto na teórica. Os desenhos que se propõe

investigar são produtos únicos e, até certo ponto, diferentes de todos os outros, tanto emconteúdo quanto em forma. Se começa o processo de pesquisa a fim de verificar aeficiência desse pequeno número de desenhos, que podem ser hoje atuais, masesquecidos logo depois, envolve-se em tarefa que precisará começar novamente, logodepois de terminá-la. Por exemplo, se descobre que um desenho específico atrai ediverte parte de sua audiência, mas é incompreendido pela maioria, pouco aprendeu quemereça ser classificado como conhecimento científico. Nem podem tais resultadosapresentar muita orientação para o criador dos desenhos. A fim de afastar essa limitaçãode seu trabalho, o pesquisador, antes de começar a coleta de dados, precisa reformular seu problema concreto, de forma que, finalmente, lhe permita chegar a conclusões arespeito dos aspectos mais gerais do desenho e das respostas das pessoas que o vêem.

Em outras palavras: seu interesse, nessa etapa da formulação de problema, deve voltar-se à possibilidade de generalização de seus resultados. Não é suficiente perguntar sedeterminado desenho é compreendido, nem quem o compreende. Para ser capaz de

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responder à primeira parte da pergunta, precisa analisar os aspectos gerais do desenho.Precisa chegar a algumas categorias, tais como "sátira", "legenda necessária para acompreensão", etc. Se depois puder demonstrar, através de sua análise, que esse tipo dedesenho é incompreendido porque é aceito literalmente, e não satiricamente, está em

condições de aconselhar o artista a experimentar desenhos não-satíricos ou formas paratomar mais clara a sátira.

Apenas quando um problema está formulado em termos com sentido geral éque o cientista social pode ter a esperança de transferir, para outros problemas, oconhecimento obtido com o estudo de um único acontecimento. A generalização a partir de estudo de acontecimentos únicos exige que o problema o.e pesquisa seja formuladoem termos mais abstratos do que os necessários se houvesse interesse em responder auma pergunta a respeito do acontecimento único. Evidentemente, todo acontecimentona vida humana, quando visto em sua total concreção, é único. No entanto, por maisraro e atípico que seja, torna-se um problema legítimo para a pesquisa científica,  se se

especificam os  processos subjacentes que podem ocorrer em outras, combinaçõestambém únicas.  Neste sentido, um tremor de terra, o bombardeio de Hiroshima, ou aexecução de Mussolini por italianos enfurecidos – acontecimentos únicos em todos ossentidos – constituem objeto para pesquisa9, desde que o problema seja formulado emtermos que se refiram aos processos potencialmente observáveis em outras ocasiões.

A formulação, dessa maneira, de um problema de pesquisa, permite a repetiçãode estudos sob diferentes condições únicas. Esse processo de repetição é conhecidocomo a reprodução da pesquisa. Esta é essencial para o aumento da confiança nosresultados da pesquisa. Por exemplo, a verificação de Morris e Davidsen, segundo aqual existe uma relação entre elevação ou redução de status nacional e atitude para como país em que o jovem estuda, é interessante e sugestiva; sua coerência com a teoriageral de mobilidade de status permite maior confiança no resultado. No entanto, só podeser aceita como geralmente verdadeira depois. de ter sido repetida com outrosestudantes, que frequentam diferentes universidades, que estudam em outros países,além dos Estados Unidos. Finalmente, essa reprodução da pesquisa mostrará se o

 processo subjacente que o cientista social tinha em mente explicava a relação entre osdois conjuntos de acontecimentos observados, ou se era explicável por outras condições,ainda não conhecidas, que caracterizavam o estudo específico. Embora seja essencial

 buscar processos mais gerais, o pesquisador precisa manter um equilíbrio cuidadosoentre sua atenção à configuração única e aos aspectos gerais de suas observações. Odesprezo da configuração única pode conduzir a generalizações falsas e prematuras: o

desprezo dos aspectos gerais pode conduzir à impossibilidade de criar princípios que possam ser usados para a compreensão de outras condições, diferentes das condiçõesespecíficas estudadas.

9 Evidentemente, uma dificuldade básica para a pesquisa de tais. acontecimentos é conseguir estar numa posição cm que se possa obter informação fidedigna sobre o acontecimento, as Condições que o iniciaram, bemcomo suas conseqüências. 

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 Resumo

Muitas considerações – e muitas dificuldades – surgem na escolha de umtópico de pesquisa e na sua formulação como um projeto de pesquisa. Basicamente, tais

 processos exigem que o cientista social tenha consciência das escolhas possíveis ecompreenda ns regras que governam a formulação ele problema.

A formulação de um projeto de pesquisa passa por várias etapas.

Em primeiro lugar, o  problema que exige solução precisa ser percebido naárea circunscrita pelo tópico escolhido.

Em segundo lugar, a tarefa de pesquisa precisa ser reduzida a um tamanho

viável ou dividida ou algumas subtarefas, cada uma das quais possa ser realizada em um

único estudo.A seguir, existem algumas etapas tão estreitamente relacionadas que sua ordem

não pode especificada. Se há conhecimento significativo referente ao problema de pesquisa, a formulação conterá hipóteses, tanto coma guia para a coleta e análise dedados, quanto como meio para relacionar o estudo a outros estudos ou a um conjunto deteoria. Se não existe suficiente conhecimento para dar uma base para o estabelecimentode hipóteses nessa etapa, a formulação do problema indicará as áreas em que um estudoexploratório procura estabelecer hipóteses.

Haja ou não hipóteses estabelecidas nessa etapa, o estudo exigirá a definição de

conceitos, que serão usados na organização dos dados. Tais definições incluirão

definições formais, destinadas a apresentar a natureza geral do processo ou fenômeno pelo qual o pesquisador se interessa, bem como sua relação com outros estudos e com ateoria existente de ciência social. Incluirão também definições de trabalho, que

 permitem a coleta de dados que o pesquisador aceita como indicadores de seusconceitos.

Em todos esses processos, haverá interesse pela possibilidade de generalização

dos resultados e sua relação com ,outros conhecimentos. Isso exige estudo ,cuidadosode trabalhos já realizados no campo, bem como a formulação do problema de pesquisaem termos suficientemente gerais para que esteja clara sua relação com outrosconhecimentos e permita a reprodução da pesquisa.

Ao formular o problema de pesquisa, as etapas subseqüentes no processo de pesquisa precisam ser previstas, a fim de haver certeza de que o problema pode ser estudado através das técnicas existentes. Tal previsão deve incluir as etapas científicas e

 práticas.