SEJA Módulo 4: Ciências Humanas e suas Tecnologias Unidade ... · - A crise dos anos 1970 como um...
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SEJA Módulo 4: Ciências Humanas e suas Tecnologias Unidade 3: “Decifra-me ou te devorarei!” – a crise dos anos 1970 e o nascimento do
mundo em que vivemos. Autora: Claudia Affonso, Gilberto Angelozzi, Jose Ricardo, Marcia Pinto, Nicole Regine. Designer Instrucional: Marcelo Franco Lustosa
Para início de conversa... Você provavelmente já ouviu a seguinte pergunta:
Mas afinal, para quê serve estudar História?
A resposta, nem sempre convincente, convida a considerar o lugar do passado na
compreensão do presente; a necessidade de conhecermos outros povos e
civilizações; a pertinência de alargarmos nosso horizonte e, no limite, a importância do
passado para nos conhecermos e identificarmos.
Nessa unidade, entretanto, o convite será um pouco diferente. Trata-se de pensar um
pouco sobre a História do Tempo Presente, do mundo em que vivemos. O termo
parece carregar uma contradição, não é? Se História é o estudo do passado, como
compreender o tempo do agora, ou do agora há pouco, como História?
Estamos imersos num dos períodos de maior dinamismo já experimentados pela
humanidade, no qual tudo parece instantaneamente superado. Neste contexto, vemo-
nos, por vezes, confusos em relação à interpretação e utilização de termos, à escolha
de caminhos pessoais, profissionais, políticos - a realidade parece oculta, acessível
apenas aos que compreendem o economês, o politiquês, entre outros “idiomas”.
Quem nunca parou diante de uma banca de jornal, ou de um telejornal, e se
perguntou: que crise econômica mundial é essa? Por que se fala tanto em dívida
externa? As medidas do Consenso de Washington não são mais eficazes? Por que o
mercado oscila tanto? O que é desemprego estrutural? Por que sustentabilidade virou
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uma espécie de sobrenome das propostas no campo econômico? Essas são só
algumas questões dentre tantas outras igualmente justificáveis.
Há também aqueles que têm a reação inversa: “Isso não tem nada a ver com a minha
vida!” ou “Detesto política e economia! História, então, nem se fala!”.
Diante deste quadro, gostaríamos de afirmar, para início da nossa conversa, que
todos nós afetamos e somos afetados pelas dinâmicas da economia e da política,
local e mundial. Somos, portanto, sujeitos e objetos deste complexo processo
histórico, no tempo presente. Fica, então, a proposta: vamos decifrar o “economês” e o
“politiquês” e tentar compreender o mundo em que vivemos?
Tentando gerar pistas para isto, estudaremos nesta unidade:
- A crise dos anos 1970 como um momento de falência de um modelo de organização
social conhecido como a Era de Ouro do capitalismo;
- A especificidade da crise na Europa e nos Estados Unidos e, por outro lado, na América
Latina e no Brasil;
- As relações desta crise com a afirmação do Neoliberalismo nos anos 1980 e 1990.
Objetivos de Aprendizagem:
• Caracterizar a crise dos anos 1970, em suas dimensões econômicas e políticas;
• Comparar os efeitos da crise nos países centrais do capitalismo (Estados Unidos e
países europeus) com os países periféricos (Brasil e países da América Latina);
• Relacionar a crise dos anos 1970 e o surgimento do neoliberalismo;
• Caracterizar o contexto histórico no qual surgiu o conceito de sustentabilidade.
Seção 1 Aproximação ao enigma...
Os projetos para desenvolvimento de um país ou região nem sempre foram os
mesmos. O tema da sustentabilidade, ou seja, da organização econômica que evita o
esgotamento dos recursos naturais e ambientais, tornou-se uma bandeira de luta que
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envolve a defesa da democracia, da distribuição de renda e da extensão dos direitos
econômicos, sociais, culturais e ambientais para todos, para que haja justiça social.
Começamos a perceber as relações entre economia e política...
Embora hoje pareça indiscutível que a preservação da natureza é uma meta de toda a
humanidade, nem sempre foi assim. Durante muito tempo, ancorados na crença de
que os recursos naturais eram ilimitados e na ideia de progresso, os projetos de
desenvolvimento estiveram centrados na ampliação das indústrias e na produção
crescente de gêneros de consumo duráveis e não duráveis, o que, é claro, gera
impactos no meio ambiente. A paixão pelo automóvel, símbolo das concepções
fordistas de produção e consumo, talvez resuma esta ideia. Neste modelo, o petróleo
– fonte de energia descoberta e explorada a partir do século XIX – tornou-se um
recurso natural estratégico. O que seria das fábricas sem o óleo para movê-las? E dos
automóveis, não fossem os combustíveis derivados do petróleo? Você sabia que
somente em 1970 se descobriu que o petróleo é um recurso natural não renovável?
Reflita também sobre este outro dado: o Greenpeace, organização não governamental
que luta pela preservação ambiental, nasceu em 1971. Observe e compare o mapa
das regiões produtoras e o das consumidoras de petróleo no mundo:
PEDIDO DO DESIGNER INSTRUCIONAL: Favor redesenhar o mapa abaixo. Ignore o título do mapa (“Principais regiões e consumo de petróleo no mundo...”) e o texto que vem logo abaixo do mesmo. Apenas desenhe o mapa com as barras que indicam produção e consumo. Favor mudar a cor da “barra de consumo” para azul (o laranja está muito parecido com o vermelho referente à produção).
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Figura 1: Principais regiões de produção e consumo de petróleo no mundo.
Percebeu que quem mais produz petróleo não é quem mais consome? Imagine as
tensões decorrentes desta observação? Pois é. O controle das áreas produtoras de
petróleo, através de empresas multinacionais como as “Sete Irmãs”, pela diplomacia
ou pela guerra, é um dos grandes temas da geopolítica internacional na 2ª metade do
século XX. A oscilação do preço do petróleo é um indício de problemas no ocidente
industrializado. Talvez seja por isso que alguns observadores acreditam que o mundo
contemporâneo mudou radicalmente com o Choque do Petróleo, em 1973, como
veremos adiante.
O tema da democracia enquanto espaço de extensão de direitos econômicos, sociais,
culturais e ambientais para que haja justiça social, também parece ser uma nova
síntese de antigas questões. Veja que, particularmente na Europa, mas também nos
Estados Unidos, desde o fim da 2ª grande guerra mundial (1945) até os anos 1970,
ampliou-se a esfera de direitos públicos universais considerados imprescindíveis à
vida em sociedade. Educação, emprego, saúde, previdência e assistência formavam
a base de integração dos cidadãos ao projeto de desenvolvimento mantido pelo
Estado de Bem Estar Social (“Welfare State”). Eric Hobsbawn, um notável historiador
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inglês, nomeou este período como a Era de Ouro do capitalismo, já que em grande
parte, durante uma geração, eliminara pobreza, desemprego em massa, miséria e
instabilidade. Para José Luis Fiori, economista brasileiro, os grandes objetivos dos
Estados de Bem Estar Social eram crescimento econômico com equidade e pleno
emprego.
Baseado nas teses do economista inglês John Keynes (1883-1946), o Estado de bem
Estar Social (ou keynesiano) procurava opor-se aos efeitos da crise do liberalismo de
1929, intervindo como planejador e investidor direto em obras de infraestrutura
(estradas, hidrelétricas, barragens), indústrias de grande porte (metalúrgicas,
siderúrgicas, petroquímicas) ou mesmo patrocinando pesquisas científicas e
tecnológicas que acabariam por impulsionar um forte crescimento de suas economias
nacionais. Realizando as metas do sistema de produção fordista – produção em
massa para consumo em massa – estas economias tornaram-se enormes pólos
consumidores de petróleo a baixo custo, já que nesta época o barril era vendido a 2
dólares. O alto consumo de eletricidade, e posteriormente da energia nuclear,
aumentou o impacto ambiental desse modelo.
Contemporâneos ao avanço do comunismo na URSS e na China, estes Estados
talvez tenham procurado integrar os trabalhadores ao capitalismo para deter o avanço
das ideologias anticapitalistas no ocidente. É fato que a ação dos sindicatos de
trabalhadores, notadamente nos regimes socialdemocratas da Europa, moveu-se na
direção da aquisição de direitos públicos e capacidade de consumo, afastando-se das
bandeiras revolucionárias. De toda forma, destaca-se no período o desenvolvimento
de políticas públicas objetivando a diminuição das taxas de desemprego e a ampliação
dos direitos universais.
Os empresários também se beneficiaram, pois para manter o funcionamento das
escolas e hospitais públicos, por exemplo, o Estado de Bem Estar Social acabou se
tornando um excelente comprador de produtos de suas fábricas. Por outro lado, ao
investir no desenvolvimento de tecnologias sofisticadas e caras como as que levaram
ao desenvolvimento dos computadores, dos robôs e a possibilidade da automação
industrial, o Estado subsidiava direta ou indiretamente o enriquecimento desses
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mesmos empresários. Para se ter uma ideia desta “parceria”, no período pós guerra,
principalmente nos Estados Unidos, foi desenvolvida uma política de militarização
bilionária que tornou o Estado um importante comprador das empresas privadas
produtoras de armas.
Contraditoriamente, desenvolveu-se sob o Estado de Bem Estar Social um campo de
risco para a paz mundial e o meio ambiente. Isto ocorreu, dentre outros fatores, devido
ao avanço do complexo industrial militar, à disputa por domínio sobre as áreas
produtoras de petróleo e à corrida para a produção e consumo em massa de bens
industrializados, que implicaram em crescentes necessidades de recursos naturais
renováveis e não renováveis.
Imagine você que a partir de 1973 – e nem faz tanto tempo assim! – o mundo passou
por profundas transformações econômicas, políticas e sociais que acabaram levando
à perda de referências, instabilidade e crise. Em síntese, naquele momento, vivia-se,
por um lado, uma revolução tecnológica impulsionada pelo desenvolvimento da
informática e da robótica, o que permitia a superação do fordismo pelo toyotismo e a
globalização e, por outro lado, a crise do Estado de Bem Estar Social e do
Keynesianismo como proposição econômica hegemônica, favorecendo a afirmação do
Neoliberalismo. O fim da Era de Ouro do capitalismo se anunciava.
-Ops! Estamos falando economês? Vamos, então, traduzir em miúdos...
Seção 2 Entendendo a crise dos anos 1970
Quando, no começo dos anos 1970, os preços internacionais do petróleo e do dólar
dispararam, muitas fábricas europeias e norte americanas faliram, milhares de
trabalhadores perderam seus empregos e a bolsa de valores de Nova Iorque quebrou
(1973), muita gente acreditou estar vivendo uma nova Crise de 1929. Mas, apesar do
pavor reinante, a nova crise era, e só podia ser, diferente. Também os efeitos
negativos da crise foram enfrentados de maneira distinta: os sistemas de proteção
social e regulação – típicos do Estado de Bem Estar Social – ao manter as compras
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públicas e pagar seguros desemprego, por exemplo, salvaram as empresas do
acúmulo de estoques e mantiveram o poder de compra dos cidadãos. A Grande
Depressão dos Anos 30 não voltaria mais...
Podemos considerar que a crise dos anos 1970 começou nos EUA. Como você deve
lembrar, após a 2ª Guerra Mundial, a economia americana funcionou como locomotiva
do mundo ocidental. Ela patrocinou a reconstrução europeia durante o Plano Marshall,
emprestou dinheiro aos países da América Latina, e expandiu o alcance de suas
empresas multinacionais pelo mundo. Além disso, dirigiu as relações diplomáticas
internacionais no bloco capitalista durante a Guerra Fria e depois dela. Os americanos
do norte fizeram de seu modelo econômico e de sua moeda – o dólar – o padrão do
capitalismo. Desde a Conferência de Bretton Woods, em 1944, o padrão ouro do
dólar americano fora afirmado como garantia internacional de estabilidade e
confiabilidade. Ocorre, entretanto, que a Guerra contra o Vietnã (1959-1975) custou
caro aos EUA. A manutenção dos exércitos numa guerra prolongada e distante
acabou levando à necessidade de emissão de dinheiro sem lastro, isto é, sem a sua
quantia correspondente em ouro, e a consequente desvalorização da moeda
americana, em 1971. Envolvidos com suas próprias dificuldades – inflação, custos da
guerra, pessimismo quanto ao futuro - os americanos romperam a conversibilidade do
dólar, desresponsabilizando-se do papel de regulador internacional das trocas
financeiras. A instabilidade financeira tornou-se assim internacional.
Verbete Padrão-ouro é um regime cambial que foi adotado, na época em que foi instituído, por
praticamente todos os países importantes economicamente. Ele consiste na fixação
do valor da moeda em relação à reserva de ouro que o país detém.
Fim do verbete
É neste momento que a maior economia do mundo capitalista apresenta um fenômeno
até então desconhecido: a estagflação. Ou seja, ao mesmo tempo, recessão
econômica e inflação. Trocando em miúdos, os preços continuam subindo apesar de
haver pouco dinheiro em circulação devido ao aumento do desemprego e ao
empobrecimento crescente da população.
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Nos anos que se seguiram, o cenário de crise se aprofundou. Na região do Oriente
Médio, área produtora de petróleo e disputada pelos países centrais, o conflito entre
Árabes e Israelenses – estes últimos apoiados pelos EUA, desde a criação do Estado
de Israel em 1948 - explodiu em 1967 com a guerra dos Seis Dias. Anos mais tarde,
em 1973, a Guerra do Yom Kippur, opondo Síria e Egito a Israel, voltou a incendiar a
região que, para muitos, é um “barril de pólvora”. Talvez fosse melhor chamá-la “barril
de petróleo em chamas”. Diante da vitória de Israel, os países árabes reagiram
através da OPEP (Organização dos Países Produtores de Petróleo), reduzindo o
fornecimento de petróleo ao ocidente e provocando uma crise energética mundial. O
petróleo se transformava em arma.
Boxe Saiba Mais Cronologia das Guerras/Crises que envolvem disputa do petróleo:
- Nacionalização do Canal de Suez pelo Egito;
- Guerra dos seis dias (1967);
- Guerra do Yom Kippur (1973);
- Revolução Islâmica no Irã (1979);
- Guerra do Irã x Iraque (1980);
Guerra do Golfo (1991);
Fim do boxe saiba mais
Boxe Saiba Mais
A Organização dos Países Produtores de Petróleo foi fundada em 1961 por 11 países
(Argélia, Venezuela, Indonésia, Irã, Iraque, Quatar, Kwait, Líbia, Arábia saudita, Emirados
Árabes Unidos e Nigéria) com o objetivo protestar contra o achatamento do preço do petróleo
pelas multinacionais controladoras da produção e comercialização deste produto. Estas
multinacionais ficaram conhecidas como as “Sete Irmãs” (Standart Oil, Royal Dutch, Shell,
Móbil, Guef e Standart Oil da California).
Foram 3 os objetivos fixados inicialmente pela OPEP:
a) Aumento da receita dos países membros;
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b) Aumento gradativo do controle da produção de petróleo para desbancar as multinacionais;
c) Unificação das práticas de produção. .
Fim do boxe saiba mais
Como a produção e distribuição de petróleo era, àquela altura, controlada por
multinacionais norte-americanas, britânicas e francesas, estas companhias aproveitaram
a crise para estocar grandes quantidades de petróleo. Entre outubro de 1973 e março de
1974 o preço do petróleo subiu 400%. A este fenômeno, deu-se o nome de Choque do
Petróleo.
PEDIDO DO DESIGNER INSTRUCIONAL: Favor redesenhar o mapa abaixo, traduzindo as expressões em negrito. Eis abaixo as traduções: Creation OPEC – Criação da OPEP Six Day War – Guerra dos Seis Dias Yom Kippur War – Guerra de Yom Kippur Iranian Revolution – Revolução Iraniana Iran/Irak war – Guerra Irã/Iraque Gulf War – Guerra do Golfo Irak War – Guerra do Iraque
Figura 2: Flutuação do preço do petróleo de 1960 a 2006.
Neste contexto, a indústria europeia tradicional (siderurgia, construção naval e
química), organizada sob o padrão fordista de produção e extremamente dependente
do petróleo, abre falência. À diminuição do ritmo de crescimento e à recessão
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econômica se junta, também aqui, a inflação. Trata-se da estagflação na Europa. O
desemprego de jovens, mulheres, imigrantes e operários da indústria tradicional
apesar de acionados os mecanismos de proteção social, acaba por reinstituir a
carência, a miséria e corroer as bases da integração social propostas pelo Estado de
Bem Estar. É este o contexto de avanço da xenofobia – ódio ao estrangeiro - e do
racismo naquele continente.
PEDIDO DO DESIGNER INSTRUCIONAL: Ilustração, com posse dos dados abaixo, favor elaborar um gráfico de colunas (tipo o que segue abaixo). Favor colocar as décadas no eixo X e o percentual de desemprego no eixo Y. Observe a tabela sobre aumento do desemprego em massa na Europa Ocidental
- década de 1960 --- média 1,5%;
- década de 1970 --- 4,2%
- década de 1980 --- 9,2%
- década de 1990 --- 11%,
- 2012 na zona do euro ---- 11,2%
Figura 3: Variação no índice de desemprego da década de 1960 até o ano de 2012
O grande drama, porém, é que o crescente desemprego dessas décadas não foi
simplesmente cíclico, ou conjuntural – aquele tipo de desemprego que acontece
quando uma atividade está temporariamente suspensa ou foi redirecionada. Estas
décadas marcam, isto sim, o processo de reestruturação produtiva ou flexibilização
produtiva que, por incorporação das modernas tecnologias da microinformática e da
robótica, possibilitaram a substituição permanente do trabalho humano por sistemas
automatizados. A esse tipo de desemprego dá-se o nome de estrutural, ou seja, os
empregos suprimidos no setor industrial, agrícola e de serviços não serão
recuperados. Isto não implica dizer que a capacidade de produzir tenha sido limitada
ou diminuída. A implementação da produção flexível (ou do toyotismo) manterá e
ampliará os níveis de produção, acrescentando possibilidades novas como a
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dispersão das fábricas – agora menores e mais compactas – pelo mundo; o controle
dos estoques e a parcialização do processo produtivo com a alocação de montadoras
nos lugares onde as relações de custo/benefício forem mais vantajosas. A
globalização é, certamente, parte e produto deste processo.
Boxe Saiba Mais
Por globalização, entendemos o processo de mundialização das transações comerciais,
financeiras e culturais que, embora não constitua novidade na história do capitalismo, foi
muito impulsionado nas últimas décadas do século XX, dentre outros motivos, pelo
desenvolvimento tecnológico aplicado à produção, pela dinamização dos transportes e pelo
desenvolvimento dos sistemas de telecomunicações.
São algumas das características deste processo: a ampliação da competição comercial entre
países e regiões, as pressões pela liberalização do comércio, a formação de blocos
econômicos e a subordinação dos interesses nacionais, especialmente nos países
dependentes ou periféricos, aos interesses das empresas transnacionais.
Arruda observa aspectos potencialmente positivos da globalização como: o avanço das
formas produtivas flexíveis que demandam mais conhecimento que trabalho manual; a
valorização da criatividade do trabalhador; as inovações nas esferas da informática e da
robótica que reduzem o dispêndio de energia humana em tarefas de risco e repetitivas; os
avanços na telemática que geram potencial de democratização das comunicações, enfim,
“(...) a globalização fornece a base material para que, afinal, se torne possível aos
trabalhadores do mundo inteiro unir-se, em vez de digladiar-se, por uma humanidade
responsável e solidária.” (1997: 7)
Porém, o mesmo autor observa os riscos e ameaças trazidos pela globalização. São eles: a
subordinação do trabalho assalariado à escala global; aprisionamento do conceito de
desenvolvimento, identificado exclusivamente com a modernização da empresa e
competitividade empresarial; a extensão a todo o mundo do conceito de desenvolvimento
imposto pelos mais ricos; a subordinação das economias nacionais e suas superestruturas
políticas aos interesses corporativos das empresas e grupos transnacionais; a
reconcentração do capital nas mãos dos mais ricos; a mercantilização dos seres humanos e
da natureza, pondo em risco a sobrevivência humana, entre outros.
Fim do boxe saiba mais
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Início da Atividade Atividade 1
“O que tornava os problemas econômicos das Décadas de Crise extraordinariamente
perturbadores, e socialmente subversivos, era que as flutuações conjecturais
coincidiam com convulsões estruturais. A economia mundial que enfrentava os
problemas das décadas de 1970 e 1980 não era mais a da Era de Ouro, embora
fosse, como vimos, o produto previsível daquela era. Seu sistema de produção fora
transformado pela revolução tecnológica, globalizado ou “transnacionalizado” em uma
extensão extraordinária e com consequência impressionantes. Além disso, na década
de 1970 tornou-se impossível ignorar as revolucionárias consequências sociais e
culturais da Era do Ouro (...), assim como suas consequências ecológicas potenciais.”
(Hobsbawn, E. A era dos extremos. )
Pensando sobre o texto, responda:
a) Explique a frase marcada sublinhada.
b) Identifique duas consequências ecológicas potenciais da Era de Ouro do
capitalismo.
Fim da Atividade
Um exemplo simples e curioso deste processo pode ser encontrado na telefonia. Entre
1950 e 1970, o número de telefonistas interurbanas nos EUA caiu 12%, enquanto o
número de telefonemas aumentou 5 vezes; já entre 1970 e 1980, a quantidade de
telefonistas caiu 40%, enquanto os telefonemas triplicaram. Hoje, as telefonistas
praticamente não existem mais. Já o número de ligações...
Contudo, o modelo dos Estados de Bem Estar Social foi solapado pela globalização
da economia após 1970, que pôs os governos de todos os Estados – com possível
exceção dos EUA, com sua enorme economia – à mercê de um incontrolável
“mercado mundial”.
A reestruturação produtiva levou também ao aumento do abismo entre os países
desenvolvidos e os não desenvolvidos, já que o domínio das novas técnicas consistirá
numa das formas de reafirmação do poder econômico, político e cultural dos países
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centrais. Aqueles países da América Latina, África e Ásia, que tradicionalmente foram
consumidores de produtos industrializados, tecnologias e financiamentos, vindos da
Europa e dos Estados Unidos, verão sua dependência ampliada.
Por outro lado, no bloco soviético, a tentativa de competição tecnológica e bélica com
o ocidente, conhecida como Guerra nas Estrelas, resultou no aprofundamento de sua
crise econômica e contribuiu para a falência daquele modelo, nos anos 1980.
Em síntese, para Hobsbawn, a tragédia histórica das Décadas de Crise foi a de que a
produção agora dispensava seres humanos mais rapidamente do que a economia de
mercado gerava novos empregos para eles. Além disso, esse processo foi acelerado
pela competição global e pelo aperto financeiro dos governos, que, direta ou
indiretamente, eram os maiores empregadores individuais. A então predominante
teologia de livre mercado, após 1980, também fomentou este processo.
Porém, se na Europa e nos Estados Unidos onde os sistemas de seguridade social
existiam e puderam ser acionados, a crise e a instabilidade provocaram uma
“rachadura histórica” (Fiori, 1996), a situação era diferente na África e América Latina,
onde cessou o crescimento do PIB per capita e a depressão se prolongou nos anos
1980.
Nos anos 1990, com o fim da URSS, a crise atingiu o socialismo ocidental na Rússia,
Polônia, Tchecoslováquia, Romênia e Bulgária. Apenas a China e o sudeste da Ásia
saem da crise com a economia dinâmica. A crise persistiu e se aprofundou durante a
Revolução Islâmica (1979), que levou o Aiatolá Khomeini ao poder no Irã, depondo o
aliado do governo norte americano, o Xá Reza Pahlevi. Mais uma vez, os preços do
petróleo dispararam. A fim de captar recursos para fazer frente ao novo choque do
petróleo, o governo americano elevou a taxa de juros dos títulos da dívida pública dos
EUA e impactou o mundo todo, especialmente a América Latina e o Brasil.
Como isso aconteceu? Você já deve ter ouvido falar que os países latino-americanos
possuíam, na década de 1970 e 1980, as maiores dívidas externas do mundo e que
os EUA eram os principais credores desta dívida. Talvez lhe falte a informação de que
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essas dívidas foram contraídas com juros variáveis, quer dizer, juros que podem ser
alterados mesmo depois dos contratos firmados. Assim, quando os EUA decidiram
pela ampliação dos juros por lá, nossa dívida externa cresceu junto.
No conjunto, a crise dos anos 1970 mudou as perspectivas do mundo ocidental
capitalista. Observe o discurso do então presidente dos EUA, Jimmy Carter, em julho
de 1979:
“A maioria dos cidadãos não crê que os próximos cinco anos serão melhores que os
cinco anteriores. Dois terços de nossa população sequer exerce o direito de voto. A
produtividade dos trabalhadores tem declinado. Aumenta a falta de respeito ao poder
do Estado. A ruptura entre cidadãos dos Estados Unidos e o governo jamais foi tão
grande quanto agora (...) Esta crise de confiança é uma crise que afeta o coração, a
alma, o espírito de nossa vontade nacional. Podemos ver como a crise se manifesta
nas crescentes dúvidas em relação ao sentido de nossas vidas (...) A quebra de nossa
confiança no futuro ameaça destruir o próprio sistema social e político da América do
Norte.”
A resposta veio com a eleição do republicano Ronald Reagan, no mesmo ano.
Propondo diminuir a atividade governamental pela redução do tamanho do Estado;
estimular a iniciativa privada; substituir a assistência estatal pela competição,
valorizando o individualismo, ele faria coro com a Primeira Ministra inglesa Margareth
Thatcher na implantação do neoliberalismo. Para recuperar o prestígio externo dos
EUA e ampliar seu poder nas regiões produtoras de petróleo, Reagan apoiou o Iraque
de Saddam Hussein contra o Irã, na guerra que se estenderia por toda a década de
80.
Início da Atividade Atividade 2 Leia a frase do economista José Luis Fiori:
“Entre o maio de 1968 na França e o fim do padrão ouro do dólar, estava-se fazendo
uma rachadura na história contemporânea”.
Agora, apresente 3 argumentos históricos que sustentem a frase.
Fim da Atividade
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Seção 3 Entendendo a crise no Brasil
No caso brasileiro, o Milagre Econômico (1969-1973) tinha sido realizado a partir do
modelo energético do petróleo e da captação de financiamentos externos. A
substituição progressiva do transporte ferroviário pelo automobilístico era apenas uma
evidência disto. Como dependíamos da importação de petróleo para suprir as
necessidades do mercado interno, podemos entender o impacto do 1º Choque do
Petróleo (1974) em nossas contas externas. As flutuações de preço do barril,
provocadas pelos conflitos internacionais, resultavam em dificuldades para a
manutenção do ritmo de crescimento da economia brasileira. Era a crise do Milagre
Brasileiro.
Além disto, devemos considerar o peso do endividamento externo do país nos anos
1970. As grandes obras – conhecidas como faraônicas – realizadas pelo governo
ditatorial brasileiro (1964-1984) custavam caro. Como o crescimento acelerado
demandava investimentos em infraestrutura (estradas, energia, entre outros), o ritmo
da tomada de empréstimos se intensificava. Já imaginou o custo para construir uma
das maiores hidrelétricas do mundo, como Itaipu? Ou uma das maiores pontes do
mundo, como a Rio-Niterói? Ou, ainda, para comprar o programa nuclear brasileiro e
construir as Usinas de Angra? De tão grande, nossa dívida externa, parece mesmo
eterna!
PEDIDO DO DESIGNER INSTRUCIONAL: Diagramação, favor compor um quadro botando essas três fotos lado a lado, da esquerda para direita (hidroelétrica de Itaipú, ponte Rio-Niterói e Usina Nuclear de Angra).
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Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:ItaipuAerea2AAL.jpg?uselang=pt-br
Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Rio_de_Janeiro_Ponte_Niteroi_Aerea_10
2_Feb_2006.jpg - Mario Roberto Duran Ortiz
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Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Kernkraftwerk_Angra.jpg - Martin
H.
Figura 4: Respectivamente, hidroelétrica de Itaipu, ponte Rio-Niterói e Usina de
Angra.
Mas as coisas ficaram ainda piores quando os EUA aumentaram os juros pagos pelos
bônus da sua própria dívida, em 1979. Como os empréstimos feitos ao governo
brasileiro admitiam juros flutuantes, nossa dívida cresceu junto, lembra?
PEDIDO DO DESIGNER INSTRUCIONAL: Favor redesenhar o gráfico a seguir.
igura 5: Dívida externa.
F
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E tem mais. Investidores estrangeiros preferiram comprar papéis da dívida externa
aiba Mais
onsenso de Washington foi uma expressão cunhada por Sr John Williamson, do
sforço de equilíbrio fiscal; reforma administrativa e
pliar a competitividade;
m síntese e desabafo, Fiori conclui, em 1996: “Pois bem, isso já é a segunda metade
americana, considerados mais seguros do que investimentos no Brasil, ou na América
Latina. Desta forma, houve fuga dos capitais necessários ao financiamento de nossa
economia, particularmente após a crise do México, em 1982. O resultado disto é que
na década de 1980 o Brasil cresceu a níveis muito baixos. Os economistas chegaram
a nomear o período como “Década Perdida”. Neste período, um dos objetivos básicos
do governo brasileiro era a renegociação da dívida externa, finalmente alcançada em
1992. Não conclua, entretanto, que esta renegociação nos tenha sido muito favorável.
É que a renegociação das dívidas externas vinham agora com as imposições do
Consenso de Washington: desregulamentação; privatização; abertura comercial,
enfim, desmontagem do Estado desenvolvimentista. Parte do empresariado brasileiro
adere a essas propostas e, afastando-se do Estado Ditatorial, passa a propor
reformas.
S
C
International Institute for Economy, que promoveu, em 1989, uma reunião para discutir
as reformas necessárias para que a América Latina saísse da década que alguns
chamavam de “perdida” – em função da estagnação, inflação, recessão e dívida
externa - e retomasse o caminho do crescimento.
Foram conteúdos do consenso:
a) A política macroeconômica: e
previdenciária; corte dos gastos públicos;
b) Estabilização Monetária e reformas;
c) Desoneração fiscal do capital para am
d) Desregulamentação dos mercados financeiro e do trabalho.
Fim do saiba mais
E
dos anos oitenta, início dos anos 90, é nesse período que a Argentina acerta a
renegociação da sua dívida, o México acerta a renegociação da sua dívida e nós,
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brasileiros, acertamos a renegociação da nossa dívida e temos a honra de receber
ingresso para voltar ao sistema financeiro internacional, apenas, numa exata hora em
que o sistema financeiro internacional estava em uma explosão da bolha financeira, a
chamada financeirização capitalista ou globalização financeira. Quer dizer, entramos
por uma porta na expectativa de encontrarmos investimentos produtivos que nos
reconduzissem ao sucesso, ao crescimento, e o que nós encontramos foram capitais
‘sobrantes’ e, absolutamente entusiasmados com as nossas taxas de juros, com as
nossas vantagens em termos de investimento, de portfólio, enfim, uma maravilha.”
Verbete ização capitalista - Os recursos monetários circulam pelo mundo e são
erbete ntos Produtivos – São recursos disponíveis num país ou captados no exterior
ício da Atividade
fico abaixo e, então, reflita sobre o que se pede.
Financeir
aplicados em atividades financeiras como bancos e bolsas de valores. Espera-se
lucratividade com a cobrança de juros pelo empréstimo de dinheiro.
Fim do verbete
VInvestime
para serem aplicados em atividades produtivas como a indústria e a agricultura.
Espera-se que esse tipo de investimento leve ao crescimento do Produto Interno Bruto
(PIB) de um país. A lucratividade dos empresários virá com a comercialização dos
produtos advindos do investimento.
Fim do verbete
InAtividade 3 Analise o grá
19
Observe o afastamento entre a linha que representa o aumento do PIB per capita e
aquela que representa o salário mínimo real. O que este afastamento significa? Que
período histórico é particularmente representativo deste afastamento?
Fim da Atividade
Seção 4 “... Ou te devorarei!” - A afirmação do Neoliberalismo
Com tudo o que estudamos até aqui, temos condição de entender o contexto histórico
da chamada “virada conservadora” (1979/82), ou seja, o momento em que as teses
neoliberais se tornam hegemônicas e governantes são eleitos em várias partes do
mundo para implementá-las. Da perda do padrão ouro do dólar (1971), passando pelo
1º Choque do Petróleo (1973) e chegando ao 2º Choque do Petróleo (1979) e à crise
das dívidas externas, o que se operava era uma profunda mudança, em um período
20
de recessão prolongada. Recessão esta marcada pela desaceleração do crescimento,
aumento da inflação, aumento do desemprego, aumento dos gastos públicos de
natureza social e falência das políticas de estabilização. O Estado de Bem Estar
Social, nos países centrais, e o Estado Nacional Desenvolvimentista, nos periféricos,
tornam-se impotentes frente a essas dificuldades.
Alguns autores observam que a crise do socialismo na URSS e no leste europeu
acabou por facilitar a expansão das ideias neoliberais, já que o contraponto socialista
deixa de existir, o que parecia sublinhar a superioridade dos regimes capitalistas do
ocidente.
Diante disto, os argumentos neoliberais elaborados por Friedrich von Hayek, em seu
livro “O caminho da servidão” (1944), ganham projeção e destaque. Repare que nem o
livro, nem as ideias liberais representam exatamente uma novidade. Defendem a
diminuição do Estado e das políticas sociais, a desregulamentação do mercado de
capitais e o pressuposto de que a igualdade formal, perante a lei, e o livre jogo das
disputas entre os indivíduos são os melhores motores para uma sociedade dinâmica e
próspera. Em outras palavras, o ataque aos direitos sociais – notadamente aos
direitos trabalhistas e às atividades sindicais – apresentados como “culpados”
fundamentais da crise e a defesa da privatização como recurso para limitar a
interferência do Estado, tornando-o mínimo, são as chaves do discurso neoliberal.
A célebre frase da Primeira Ministra Britânica Margareth Thatcher, em outubro de
1987, resume a proposição: “Não existe essa tal de sociedade. O que existe são
indivíduos, homens e mulheres, e famílias”.
Para FIORI (1996), os grandes objetivos colocados pelos Estados Neoliberais
passaram a ser “equilíbrio macroeconômico, eficiência e competitividade”.
O liberalismo só é novo, portanto, neoliberalismo, pois o contexto agora é de oposição
ao Estado de Bem Estar Social. Assim, os adeptos desta concepção se apresentam
como antidemocratas, críticos dos Estados Nacionais e defensores da competitividade
global.
21
A afirmação política do neoliberalismo é perceptível. Você já ouviu falar do Prêmio
Nobel? Aquele oferecido todos os anos pela Academia Sueca aos cientistas que se
destacam na física, na química, na economia, entre outros? Pois é. O Prêmio Nobel
de Economia foi criado em 1969. Todos os anos o prêmio foi entregue a economistas
keynesianos. Porém, em 1974 e 1976, portanto, quando a Crise dos Anos 1970 se
aprofundava, a honraria foi atribuída a dois economistas da Escola Neoliberal,
respectivamente Friedrich von Hayek e Milton Friedman.
E o Neoliberalismo resolveu a crise? O crescimento econômico seguiu sendo
medíocre. A produtividade nunca mais cresceu como anteriormente. Os salários nunca
mais recuperaram a participação que já obtiveram na riqueza nacional. A riqueza
concentrou-se de uma forma nunca dantes vista na história do capitalismo. Por outro
lado, se os gastos sociais caíram, os gastos públicos mantiveram-se iguais na maioria
dos países centrais, ou aumentaram. O que houve foi uma redefinição do gasto. Isto é,
aumentou a quantidade de recursos gastos com a dívida financeira e diminuiu a
quantidade de gastos com saúde e educação, por exemplo.
Por fim, essa longa era neoliberal nos deixou um alto índice de desemprego e levou à
precarização do emprego pelos contratos de trabalho flexíveis, aqueles em que o
trabalhador tem seus direitos - como, por exemplo, carga horária definida, descanso e
férias - parcialmente respeitados.
PEDIDO DO DESIGNER INSTRUCIONAL: Favor, refazer esta tabela. OBS: Não é para escrever esta observação que se encontra logo abaixo da mesma, a saber, “O IBGE divide o desemprego entre jovens...”.
22
Figura 6: Índice de desemprego dividido em duas faixas etárias.
A advertência de Hobsbawn sobre a persistência de funções keynesianas do Estado
merece nossa máxima atenção. Segundo o autor, “O maior dos regimes neoliberais,
os EUA do presidente Ronald Reagan, embora oficialmente dedicado ao
conservadorismo fiscal (isto é, orçamentos equilibrados) e ao monetarismo de Milton
Friedman, na verdade usou métodos keynesianos para sair da depressão de 1979-82,
entrando num déficit gigantesco e empenhando-se de modo igualmente gigantesco a
aumentar seus armamentos”. Na verdade, os regimes mais profundamente
comprometidos com a economia neoliberal eram também às vezes, e notadamente no
caso dos EUA de Reagan e na Grã-Bretanha de Thatcher, profunda e visceralmente
nacionalistas e desconfiados do mundo externo. O historiador não pôde deixar de
notar que as duas atitudes são contraditórias.
De fato e contraditoriamente, as mais profundas e totais experiências neoliberais do
planeta não foram vividas pelos países centrais. A imposição das reformas do
Consenso de Washington se deu na América Latina, seja através de golpes de estado
e implantação de ditaduras reformistas (caso do Chile, em 1973), seja pela força da
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renegociação das dívidas externas locais. O impacto destrutivo nessas áreas,
entretanto, é maior, uma vez que nelas nunca se teve um Estado de Bem Estar Social
capaz de garantir seguro desemprego, previdência social, educação e saúde para
todos.
Início da Atividade Atividade 4 Você conseguiria relacionar o Proálcool no Brasil aos temas da aula de hoje?
Fim da Atividade
Resumo Nesta unidade vimos que:
• O modelo de desenvolvimento característico da Era de Ouro do Capitalismo se
caracterizava pela produção industrial em massa para consumo em massa, o
chamado fordismo. Como o padrão energético adotado no período estava centrado no
petróleo e seus derivados, isto gerou grande pressão e disputa sobre as áreas
produtoras;
• O Estado de Bem Estar Social que caracterizou a organização política naquela época
realizou, nos países centrais, a extensão dos direitos públicos e universais à saúde,
educação, transportes, habitação, emprego, previdência e assistência;
• Externamente, este mesmo Estado acabou por gerar instabilidades e guerras na
medida em que a disputa pelo domínio de áreas produtoras de petróleo fomentou a
militarização dos países centrais. Por outro lado, a crescente necessidade de
matérias-primas e recursos naturais decorrente da aceleração da produção industrial
ampliou os riscos ambientais do planeta;
• A crise dos anos 1970 teve diferentes dimensões. Situam-se neste campo: a
progressiva flexibilização do modelo produtivo, com a implantação do toyotismo; o
avanço das tecnologias da informação e da robótica; e a globalização produtiva e
financeira. O desemprego estrutural e a pressão sobre os sistemas de seguridade
social são decorrências deste processo;
• A crise do padrão ouro e a desregulamentação do sistema financeiro internacional
acabaram acrescentando dramaticidade à crise, dando início à estagflação;
24
• Paralelamente, os conflitos na região de maior produção de petróleo do planeta, o
Oriente Médio, e a interferência das potências centrais nestes conflitos acabaram por
tornar o preço do petróleo uma “arma de guerra”. A criação da Organização dos
Países Produtores de Petróleo (OPEP) reflete esta tensão;
• Os Choques dos Preços do Petróleo correspondem a momentos de subida intensa do
preço do barril e desequilíbrio das contas internacionais, tornando a crise mundial;
• A crise se expressa no Brasil como crise do Milagre Brasileiro e crise da Dívida
Externa;
• A renegociação das dívidas dos países da periferia favoreceu a implantação das
medidas conhecidas como “Consenso de Washington”, que implicaram na
desregulamentação, privatização, abertura comercial, enfim, desmontagem do Estado
desenvolvimentista;
• O final da década de 1970 é o momento histórico da “virada conservadora”, que
corresponde à afirmação do modelo capitalista neoliberal;
• Os argumentos centrais do Neoliberalismo são: a diminuição do Estado e das políticas
sociais, a desregulamentação do mercado de capitais e o pressuposto de que a
igualdade formal, perante a lei, e o livre jogo das disputas entre os indivíduos são os
melhores motores para uma sociedade dinâmica e próspera;
• Nas décadas seguintes a crise continuou e se aprofundou atingindo inclusive os
países centrais.
Veja Ainda
• Para entender a dinâmica do mercado financeiro e suas crises, assista “Wall Street
– o dinheiro nunca dorme”, de Oliver Stone (1987). É um filme de ficção que
mostra os bastidores da Bolsa de Valores. Michael Douglas se destaca no filme
com uma atuação sensacional!
• Outra obra que tem a ver com o que temos tratado aqui é o filme “O Discreto
Charme da Burguesia” de Luis Buñuel. O filme surrealista mostra um jantar de
pessoas pertencentes à classe média, que é interrompido inúmeras vezes por
estranhos acontecimentos. Esta obra é uma crítica ácida à hipocrisia da classe
burguesa.
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• Para saber mais sobre os temas que abordamos nesta aula, não deixe de ler o
livro de Marcos Arruda:
“Dívida E(x)terna: Para o Capital Tudo, Para o Social Migalhas” (Marcos Arruda, ed. Vozes, 1999).
Referências FIORI, J. L. “O consenso de Washington”. Palestra proferida no CCBB, em
04/09/1996.
HARVEY, D. A condição pós-moderna. SP, 1993.
HOBSBAWN, E. “A Era dos Extremos: o breve século XX (1914-1991)”. SP, Cia das
Letras, 1995.
Resposta das Atividades
1. a) Flutuações conjecturais são alterações de preço, disponibilidade de produtos ou de
postos de emprego condicionadas por variações momentâneas do clima ou da
mudança de ênfase da política de desenvolvimento. Pode-se citar como exemplo, a
diminuição da produção e venda de sorvetes e ar condicionados durante os meses de
inverno. Quando, entretanto, acontecem transformações nos padrões produtivos,
como o desenvolvimento da informática e da robótica, as alterações na oferta de
produtos e empregos torna-se estrutural, ou seja, aquelas funções substituídas pelas
novas soluções tecnológicas não serão restabelecidas. No período da crise do
petróleo, por exemplo, a falência de diversas indústrias tradicionais e o desemprego
crescente tinham justificativa conjectural – o aumento do preço dos combustíveis, o
encarecimento da produção - e justificativas estruturais: o avanço da flexibilização
produtiva (ou toyotismo).
b) Como a Era de Ouro foi baseada na expansão do fordismo, cuja chave é produção
em massa para consumo em massa, uma consequência é a pressão do consumismo
sobre as possibilidades de produção de matérias primas para a indústria. Além disto,
como o padrão energético do período é fortemente centrado nos combustíveis
derivados do petróleo, a extração, transporte e produção de derivados do petróleo
produziram frequentes acidentes ecológicos. Considere-se, ainda, a poluição do ar
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pelos gases produzidos pela queima de gasolina e óleo diesel ampliados pela
expansão da frota de automóveis – um dos ícones do período fordista.
2) “Maio de 1968” foi um movimento estudantil e depois operário e civil que ocorreu na
França e em outros países. Criticava e questionava o conservadorismo e o
tradicionalismo e propunha mudanças nas relações entre raças, sexos e gerações na
França, e, em seguida, no restante da Europa. No decorrer das décadas, as
manifestações ajudaram o Ocidente a fundar ideias como as das liberdades civis
democráticas, dos direitos das minorias, e da igualdade entre homens e mulheres,
brancos e negros e heterossexuais e homossexuais.
O fim do padrão ouro do dólar, em 1971, é o momento de desregulamentação do
sistema financeiro internacional, o que facilitaria a circulação de capitais
internacionalmente e a progressiva substituição dos investimentos produtivos por
investimentos especulativos.
Neste período está se processando a passagem do fordismo ao toyotismo, ou seja, do
modelo produtivo e social baseado na produção em massa para consumo em massa
de produtos idênticos, por fábricas que empregavam milhares de operários e que
funcionavam com rotinas repetitivas, para modelos flexíveis, automatizados que
substituíram mão de obra humana por máquinas e robôs. O desemprego estrutural é
um dos efeitos desta transformação. O avanço do individualismo e das dinâmicas de
competição podem estar relacionados a estas mudanças.
3) O PIB per capita é o resultado da divisão hipotética entre toda a riqueza produzida no
país e o conjunto dos seus cidadãos. O salário mínimo real é o valor do salário mínimo
pago à enorme maioria dos trabalhadores brasileiros, descontado da inflação e
atualização monetária. O afastamento das duas curvas demonstra que não há relação
direta entre o crescimento do PIB (produto interno bruto) e a distribuição desta riqueza
entre os brasileiros. É uma imagem do aprofundamento da concentração de renda por
um lado, e da desigualdade social, por outro. Observa-se que o período que se inicia
em 1964, coincidindo com o Golpe Civil Militar e a implantação da Ditadura Militar no
Brasil, representa ponto de abertura desta curva que, entretanto, continua de
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ampliando ao longo do tempo. O Milagre Brasileiro é um dos períodos de maior
aprofundamento da desigualdade no Brasil. Quando pressões na sociedade
propuseram uma maior divisão da riqueza, o então ministro do planejamento do
governo Figueiredo (1979-1985), Delfim Netto, cunhou a frase que se tornou célebre:
era preciso "crescer o bolo para depois dividi-lo".
4) O Pró-Álcool foi um programa desenvolvido pelo governo brasileiro para substituir os
motores movidos a gasolina e óleo diesel – derivados do petróleo - por motores a
álcool, a partir de 1975, como resposta às dificuldades impostas pela Crise do Petróleo
à continuidade do Milagre Brasileiro. Naquela ocasião, os preços internacionais do
açúcar estavam muito baixos e o Pró Álcool representou um grande ganho para os
produtores. Ocorreu, entretanto, que na década seguinte os preços se inverteram
tornando a venda de açúcar mais vantajosa. O projeto, então, entrou em crise. A
revalorização do Pró-Álcool aconteceu no final da década de 1980 quando
aumentaram as pressões pelo desenvolvimento de combustíveis menos poluentes.
Nesta nova conjuntura, surgem os carros flex, capazes de funcionar com álcool e/ou
gasolina. Ainda hoje são perceptíveis, entretanto, as oscilações em relação ao preço e
disponibilidade do álcool nos postos.
O que perguntam por aí?
(ENEM 2009 – Questão 71)
Além dos inúmeros eletrodomésticos e bens eletrônicos, o automóvel produzido pela
indústria fordista promoveu, a partir dos anos 50, mudanças significativas no modo de vida
dos consumidores e também na habitação e nas cidades. Com a massificação do consumo
dos bens modernos, dos eletroeletrônicos e também do automóvel, mudaram radicalmente o
modo de vida, os valores, a cultura e o conjunto do ambiente construído. Da ocupação
do solo urbano até o interior da moradia, a transformação foi profunda. MARICATO, E. Urbanismo na periferia do mundo globalizado: metrópoles brasileiras. Disponível em: http://www.scielo.br.
Acesso em: 12 ago. 2009 (adaptado).
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Uma das consequências das inovações tecnológicas das últimas décadas, que determinaram
diferentes formas de uso e ocupação do espaço geográfico, é a instituição das chamadas
cidades globais, que se caracterizam por:
a) possuírem o mesmo nível de influência no cenário mundial.
b) fortalecerem os laços de cidadania e solidariedade entre os membros das diversas
comunidades.
c) constituírem um passo importante para a diminuição das desigualdades sociais causadas
pela polarização social e pela segregação urbana.
d) terem sido diretamente impactadas pelo processo de internacionalização da economia,
desencadeado a partir do final dos anos 1970.
e) terem sua origem diretamente relacionadas ao processo de colonização ocidental do
século XIX.
Resposta: alternativa “d”.
Caia na Rede!
Você se lembra como morreu Saddam Hussein, em dezembro de 2006? Após ser julgado
e condenado por um tribunal iraquiano, ele foi entregue pelas forças militares americanas
que o custodiavam até o cumprimento da sentença de morte. Curioso? Caia na rede,
acesse o link a seguir e desvende o mistério desta mudança de posição dos EUA.
http://www.geomundo.com.br/geografia-30124.htm