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SEJA Módulo 4: Ciências Humanas e suas Tecnologias Unidade 3: “Decifra-me ou te devorarei!” – a crise dos anos 1970 e o nascimento do mundo em que vivemos. Autora: Claudia Affonso , Gilberto Angelozzi, Jose Ricardo, Marcia Pinto, Nicole Regine. Designer Instrucional: Marcelo Franco Lustosa Para início de conversa... Você provavelmente já ouviu a seguinte pergunta: Mas afinal, para quê serve estudar História? A resposta, nem sempre convincente, convida a considerar o lugar do passado na compreensão do presente; a necessidade de conhecermos outros povos e civilizações; a pertinência de alargarmos nosso horizonte e, no limite, a importância do passado para nos conhecermos e identificarmos. Nessa unidade, entretanto, o convite será um pouco diferente. Trata-se de pensar um pouco sobre a História do Tempo Presente, do mundo em que vivemos. O termo parece carregar uma contradição, não é? Se História é o estudo do passado, como compreender o tempo do agora, ou do agora há pouco, como História? Estamos imersos num dos períodos de maior dinamismo já experimentados pela humanidade, no qual tudo parece instantaneamente superado. Neste contexto, vemo- nos, por vezes, confusos em relação à interpretação e utilização de termos, à escolha de caminhos pessoais, profissionais, políticos - a realidade parece oculta, acessível apenas aos que compreendem o economês, o politiquês, entre outros “idiomas”. Quem nunca parou diante de uma banca de jornal, ou de um telejornal, e se perguntou: que crise econômica mundial é essa? Por que se fala tanto em dívida externa? As medidas do Consenso de Washington não são mais eficazes? Por que o mercado oscila tanto? O que é desemprego estrutural? Por que sustentabilidade virou 1

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SEJA Módulo 4: Ciências Humanas e suas Tecnologias Unidade 3: “Decifra-me ou te devorarei!” – a crise dos anos 1970 e o nascimento do

mundo em que vivemos. Autora: Claudia Affonso, Gilberto Angelozzi, Jose Ricardo, Marcia Pinto, Nicole Regine. Designer Instrucional: Marcelo Franco Lustosa

Para início de conversa... Você provavelmente já ouviu a seguinte pergunta:

Mas afinal, para quê serve estudar História?

A resposta, nem sempre convincente, convida a considerar o lugar do passado na

compreensão do presente; a necessidade de conhecermos outros povos e

civilizações; a pertinência de alargarmos nosso horizonte e, no limite, a importância do

passado para nos conhecermos e identificarmos.

Nessa unidade, entretanto, o convite será um pouco diferente. Trata-se de pensar um

pouco sobre a História do Tempo Presente, do mundo em que vivemos. O termo

parece carregar uma contradição, não é? Se História é o estudo do passado, como

compreender o tempo do agora, ou do agora há pouco, como História?

Estamos imersos num dos períodos de maior dinamismo já experimentados pela

humanidade, no qual tudo parece instantaneamente superado. Neste contexto, vemo-

nos, por vezes, confusos em relação à interpretação e utilização de termos, à escolha

de caminhos pessoais, profissionais, políticos - a realidade parece oculta, acessível

apenas aos que compreendem o economês, o politiquês, entre outros “idiomas”.

Quem nunca parou diante de uma banca de jornal, ou de um telejornal, e se

perguntou: que crise econômica mundial é essa? Por que se fala tanto em dívida

externa? As medidas do Consenso de Washington não são mais eficazes? Por que o

mercado oscila tanto? O que é desemprego estrutural? Por que sustentabilidade virou

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uma espécie de sobrenome das propostas no campo econômico? Essas são só

algumas questões dentre tantas outras igualmente justificáveis.

Há também aqueles que têm a reação inversa: “Isso não tem nada a ver com a minha

vida!” ou “Detesto política e economia! História, então, nem se fala!”.

Diante deste quadro, gostaríamos de afirmar, para início da nossa conversa, que

todos nós afetamos e somos afetados pelas dinâmicas da economia e da política,

local e mundial. Somos, portanto, sujeitos e objetos deste complexo processo

histórico, no tempo presente. Fica, então, a proposta: vamos decifrar o “economês” e o

“politiquês” e tentar compreender o mundo em que vivemos?

Tentando gerar pistas para isto, estudaremos nesta unidade:

- A crise dos anos 1970 como um momento de falência de um modelo de organização

social conhecido como a Era de Ouro do capitalismo;

- A especificidade da crise na Europa e nos Estados Unidos e, por outro lado, na América

Latina e no Brasil;

- As relações desta crise com a afirmação do Neoliberalismo nos anos 1980 e 1990.

Objetivos de Aprendizagem:

• Caracterizar a crise dos anos 1970, em suas dimensões econômicas e políticas;

• Comparar os efeitos da crise nos países centrais do capitalismo (Estados Unidos e

países europeus) com os países periféricos (Brasil e países da América Latina);

• Relacionar a crise dos anos 1970 e o surgimento do neoliberalismo;

• Caracterizar o contexto histórico no qual surgiu o conceito de sustentabilidade.

Seção 1 Aproximação ao enigma...

Os projetos para desenvolvimento de um país ou região nem sempre foram os

mesmos. O tema da sustentabilidade, ou seja, da organização econômica que evita o

esgotamento dos recursos naturais e ambientais, tornou-se uma bandeira de luta que

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envolve a defesa da democracia, da distribuição de renda e da extensão dos direitos

econômicos, sociais, culturais e ambientais para todos, para que haja justiça social.

Começamos a perceber as relações entre economia e política...

Embora hoje pareça indiscutível que a preservação da natureza é uma meta de toda a

humanidade, nem sempre foi assim. Durante muito tempo, ancorados na crença de

que os recursos naturais eram ilimitados e na ideia de progresso, os projetos de

desenvolvimento estiveram centrados na ampliação das indústrias e na produção

crescente de gêneros de consumo duráveis e não duráveis, o que, é claro, gera

impactos no meio ambiente. A paixão pelo automóvel, símbolo das concepções

fordistas de produção e consumo, talvez resuma esta ideia. Neste modelo, o petróleo

– fonte de energia descoberta e explorada a partir do século XIX – tornou-se um

recurso natural estratégico. O que seria das fábricas sem o óleo para movê-las? E dos

automóveis, não fossem os combustíveis derivados do petróleo? Você sabia que

somente em 1970 se descobriu que o petróleo é um recurso natural não renovável?

Reflita também sobre este outro dado: o Greenpeace, organização não governamental

que luta pela preservação ambiental, nasceu em 1971. Observe e compare o mapa

das regiões produtoras e o das consumidoras de petróleo no mundo:

PEDIDO DO DESIGNER INSTRUCIONAL: Favor redesenhar o mapa abaixo. Ignore o título do mapa (“Principais regiões e consumo de petróleo no mundo...”) e o texto que vem logo abaixo do mesmo. Apenas desenhe o mapa com as barras que indicam produção e consumo. Favor mudar a cor da “barra de consumo” para azul (o laranja está muito parecido com o vermelho referente à produção).

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Figura 1: Principais regiões de produção e consumo de petróleo no mundo.

Percebeu que quem mais produz petróleo não é quem mais consome? Imagine as

tensões decorrentes desta observação? Pois é. O controle das áreas produtoras de

petróleo, através de empresas multinacionais como as “Sete Irmãs”, pela diplomacia

ou pela guerra, é um dos grandes temas da geopolítica internacional na 2ª metade do

século XX. A oscilação do preço do petróleo é um indício de problemas no ocidente

industrializado. Talvez seja por isso que alguns observadores acreditam que o mundo

contemporâneo mudou radicalmente com o Choque do Petróleo, em 1973, como

veremos adiante.

O tema da democracia enquanto espaço de extensão de direitos econômicos, sociais,

culturais e ambientais para que haja justiça social, também parece ser uma nova

síntese de antigas questões. Veja que, particularmente na Europa, mas também nos

Estados Unidos, desde o fim da 2ª grande guerra mundial (1945) até os anos 1970,

ampliou-se a esfera de direitos públicos universais considerados imprescindíveis à

vida em sociedade. Educação, emprego, saúde, previdência e assistência formavam

a base de integração dos cidadãos ao projeto de desenvolvimento mantido pelo

Estado de Bem Estar Social (“Welfare State”). Eric Hobsbawn, um notável historiador

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inglês, nomeou este período como a Era de Ouro do capitalismo, já que em grande

parte, durante uma geração, eliminara pobreza, desemprego em massa, miséria e

instabilidade. Para José Luis Fiori, economista brasileiro, os grandes objetivos dos

Estados de Bem Estar Social eram crescimento econômico com equidade e pleno

emprego.

Baseado nas teses do economista inglês John Keynes (1883-1946), o Estado de bem

Estar Social (ou keynesiano) procurava opor-se aos efeitos da crise do liberalismo de

1929, intervindo como planejador e investidor direto em obras de infraestrutura

(estradas, hidrelétricas, barragens), indústrias de grande porte (metalúrgicas,

siderúrgicas, petroquímicas) ou mesmo patrocinando pesquisas científicas e

tecnológicas que acabariam por impulsionar um forte crescimento de suas economias

nacionais. Realizando as metas do sistema de produção fordista – produção em

massa para consumo em massa – estas economias tornaram-se enormes pólos

consumidores de petróleo a baixo custo, já que nesta época o barril era vendido a 2

dólares. O alto consumo de eletricidade, e posteriormente da energia nuclear,

aumentou o impacto ambiental desse modelo.

Contemporâneos ao avanço do comunismo na URSS e na China, estes Estados

talvez tenham procurado integrar os trabalhadores ao capitalismo para deter o avanço

das ideologias anticapitalistas no ocidente. É fato que a ação dos sindicatos de

trabalhadores, notadamente nos regimes socialdemocratas da Europa, moveu-se na

direção da aquisição de direitos públicos e capacidade de consumo, afastando-se das

bandeiras revolucionárias. De toda forma, destaca-se no período o desenvolvimento

de políticas públicas objetivando a diminuição das taxas de desemprego e a ampliação

dos direitos universais.

Os empresários também se beneficiaram, pois para manter o funcionamento das

escolas e hospitais públicos, por exemplo, o Estado de Bem Estar Social acabou se

tornando um excelente comprador de produtos de suas fábricas. Por outro lado, ao

investir no desenvolvimento de tecnologias sofisticadas e caras como as que levaram

ao desenvolvimento dos computadores, dos robôs e a possibilidade da automação

industrial, o Estado subsidiava direta ou indiretamente o enriquecimento desses

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mesmos empresários. Para se ter uma ideia desta “parceria”, no período pós guerra,

principalmente nos Estados Unidos, foi desenvolvida uma política de militarização

bilionária que tornou o Estado um importante comprador das empresas privadas

produtoras de armas.

Contraditoriamente, desenvolveu-se sob o Estado de Bem Estar Social um campo de

risco para a paz mundial e o meio ambiente. Isto ocorreu, dentre outros fatores, devido

ao avanço do complexo industrial militar, à disputa por domínio sobre as áreas

produtoras de petróleo e à corrida para a produção e consumo em massa de bens

industrializados, que implicaram em crescentes necessidades de recursos naturais

renováveis e não renováveis.

Imagine você que a partir de 1973 – e nem faz tanto tempo assim! – o mundo passou

por profundas transformações econômicas, políticas e sociais que acabaram levando

à perda de referências, instabilidade e crise. Em síntese, naquele momento, vivia-se,

por um lado, uma revolução tecnológica impulsionada pelo desenvolvimento da

informática e da robótica, o que permitia a superação do fordismo pelo toyotismo e a

globalização e, por outro lado, a crise do Estado de Bem Estar Social e do

Keynesianismo como proposição econômica hegemônica, favorecendo a afirmação do

Neoliberalismo. O fim da Era de Ouro do capitalismo se anunciava.

-Ops! Estamos falando economês? Vamos, então, traduzir em miúdos...

Seção 2 Entendendo a crise dos anos 1970

Quando, no começo dos anos 1970, os preços internacionais do petróleo e do dólar

dispararam, muitas fábricas europeias e norte americanas faliram, milhares de

trabalhadores perderam seus empregos e a bolsa de valores de Nova Iorque quebrou

(1973), muita gente acreditou estar vivendo uma nova Crise de 1929. Mas, apesar do

pavor reinante, a nova crise era, e só podia ser, diferente. Também os efeitos

negativos da crise foram enfrentados de maneira distinta: os sistemas de proteção

social e regulação – típicos do Estado de Bem Estar Social – ao manter as compras

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públicas e pagar seguros desemprego, por exemplo, salvaram as empresas do

acúmulo de estoques e mantiveram o poder de compra dos cidadãos. A Grande

Depressão dos Anos 30 não voltaria mais...

Podemos considerar que a crise dos anos 1970 começou nos EUA. Como você deve

lembrar, após a 2ª Guerra Mundial, a economia americana funcionou como locomotiva

do mundo ocidental. Ela patrocinou a reconstrução europeia durante o Plano Marshall,

emprestou dinheiro aos países da América Latina, e expandiu o alcance de suas

empresas multinacionais pelo mundo. Além disso, dirigiu as relações diplomáticas

internacionais no bloco capitalista durante a Guerra Fria e depois dela. Os americanos

do norte fizeram de seu modelo econômico e de sua moeda – o dólar – o padrão do

capitalismo. Desde a Conferência de Bretton Woods, em 1944, o padrão ouro do

dólar americano fora afirmado como garantia internacional de estabilidade e

confiabilidade. Ocorre, entretanto, que a Guerra contra o Vietnã (1959-1975) custou

caro aos EUA. A manutenção dos exércitos numa guerra prolongada e distante

acabou levando à necessidade de emissão de dinheiro sem lastro, isto é, sem a sua

quantia correspondente em ouro, e a consequente desvalorização da moeda

americana, em 1971. Envolvidos com suas próprias dificuldades – inflação, custos da

guerra, pessimismo quanto ao futuro - os americanos romperam a conversibilidade do

dólar, desresponsabilizando-se do papel de regulador internacional das trocas

financeiras. A instabilidade financeira tornou-se assim internacional.

Verbete Padrão-ouro é um regime cambial que foi adotado, na época em que foi instituído, por

praticamente todos os países importantes economicamente. Ele consiste na fixação

do valor da moeda em relação à reserva de ouro que o país detém.

Fim do verbete

É neste momento que a maior economia do mundo capitalista apresenta um fenômeno

até então desconhecido: a estagflação. Ou seja, ao mesmo tempo, recessão

econômica e inflação. Trocando em miúdos, os preços continuam subindo apesar de

haver pouco dinheiro em circulação devido ao aumento do desemprego e ao

empobrecimento crescente da população.

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Nos anos que se seguiram, o cenário de crise se aprofundou. Na região do Oriente

Médio, área produtora de petróleo e disputada pelos países centrais, o conflito entre

Árabes e Israelenses – estes últimos apoiados pelos EUA, desde a criação do Estado

de Israel em 1948 - explodiu em 1967 com a guerra dos Seis Dias. Anos mais tarde,

em 1973, a Guerra do Yom Kippur, opondo Síria e Egito a Israel, voltou a incendiar a

região que, para muitos, é um “barril de pólvora”. Talvez fosse melhor chamá-la “barril

de petróleo em chamas”. Diante da vitória de Israel, os países árabes reagiram

através da OPEP (Organização dos Países Produtores de Petróleo), reduzindo o

fornecimento de petróleo ao ocidente e provocando uma crise energética mundial. O

petróleo se transformava em arma.

Boxe Saiba Mais Cronologia das Guerras/Crises que envolvem disputa do petróleo:

- Nacionalização do Canal de Suez pelo Egito;

- Guerra dos seis dias (1967);

- Guerra do Yom Kippur (1973);

- Revolução Islâmica no Irã (1979);

- Guerra do Irã x Iraque (1980);

Guerra do Golfo (1991);

Fim do boxe saiba mais

Boxe Saiba Mais

A Organização dos Países Produtores de Petróleo foi fundada em 1961 por 11 países

(Argélia, Venezuela, Indonésia, Irã, Iraque, Quatar, Kwait, Líbia, Arábia saudita, Emirados

Árabes Unidos e Nigéria) com o objetivo protestar contra o achatamento do preço do petróleo

pelas multinacionais controladoras da produção e comercialização deste produto. Estas

multinacionais ficaram conhecidas como as “Sete Irmãs” (Standart Oil, Royal Dutch, Shell,

Móbil, Guef e Standart Oil da California).

Foram 3 os objetivos fixados inicialmente pela OPEP:

a) Aumento da receita dos países membros;

8  

b) Aumento gradativo do controle da produção de petróleo para desbancar as multinacionais;

c) Unificação das práticas de produção. .

Fim do boxe saiba mais

Como a produção e distribuição de petróleo era, àquela altura, controlada por

multinacionais norte-americanas, britânicas e francesas, estas companhias aproveitaram

a crise para estocar grandes quantidades de petróleo. Entre outubro de 1973 e março de

1974 o preço do petróleo subiu 400%. A este fenômeno, deu-se o nome de Choque do

Petróleo.

PEDIDO DO DESIGNER INSTRUCIONAL: Favor redesenhar o mapa abaixo, traduzindo as expressões em negrito. Eis abaixo as traduções: Creation OPEC – Criação da OPEP Six Day War – Guerra dos Seis Dias Yom Kippur War – Guerra de Yom Kippur Iranian Revolution – Revolução Iraniana Iran/Irak war – Guerra Irã/Iraque Gulf War – Guerra do Golfo Irak War – Guerra do Iraque

Figura 2: Flutuação do preço do petróleo de 1960 a 2006.

Neste contexto, a indústria europeia tradicional (siderurgia, construção naval e

química), organizada sob o padrão fordista de produção e extremamente dependente

do petróleo, abre falência. À diminuição do ritmo de crescimento e à recessão

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econômica se junta, também aqui, a inflação. Trata-se da estagflação na Europa. O

desemprego de jovens, mulheres, imigrantes e operários da indústria tradicional

apesar de acionados os mecanismos de proteção social, acaba por reinstituir a

carência, a miséria e corroer as bases da integração social propostas pelo Estado de

Bem Estar. É este o contexto de avanço da xenofobia – ódio ao estrangeiro - e do

racismo naquele continente.

PEDIDO DO DESIGNER INSTRUCIONAL: Ilustração, com posse dos dados abaixo, favor elaborar um gráfico de colunas (tipo o que segue abaixo). Favor colocar as décadas no eixo X e o percentual de desemprego no eixo Y. Observe a tabela sobre aumento do desemprego em massa na Europa Ocidental

- década de 1960 --- média 1,5%;

- década de 1970 --- 4,2%

- década de 1980 --- 9,2%

- década de 1990 --- 11%,

- 2012 na zona do euro ---- 11,2%

Figura 3: Variação no índice de desemprego da década de 1960 até o ano de 2012

O grande drama, porém, é que o crescente desemprego dessas décadas não foi

simplesmente cíclico, ou conjuntural – aquele tipo de desemprego que acontece

quando uma atividade está temporariamente suspensa ou foi redirecionada. Estas

décadas marcam, isto sim, o processo de reestruturação produtiva ou flexibilização

produtiva que, por incorporação das modernas tecnologias da microinformática e da

robótica, possibilitaram a substituição permanente do trabalho humano por sistemas

automatizados. A esse tipo de desemprego dá-se o nome de estrutural, ou seja, os

empregos suprimidos no setor industrial, agrícola e de serviços não serão

recuperados. Isto não implica dizer que a capacidade de produzir tenha sido limitada

ou diminuída. A implementação da produção flexível (ou do toyotismo) manterá e

ampliará os níveis de produção, acrescentando possibilidades novas como a

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dispersão das fábricas – agora menores e mais compactas – pelo mundo; o controle

dos estoques e a parcialização do processo produtivo com a alocação de montadoras

nos lugares onde as relações de custo/benefício forem mais vantajosas. A

globalização é, certamente, parte e produto deste processo.

Boxe Saiba Mais

Por globalização, entendemos o processo de mundialização das transações comerciais,

financeiras e culturais que, embora não constitua novidade na história do capitalismo, foi

muito impulsionado nas últimas décadas do século XX, dentre outros motivos, pelo

desenvolvimento tecnológico aplicado à produção, pela dinamização dos transportes e pelo

desenvolvimento dos sistemas de telecomunicações.

São algumas das características deste processo: a ampliação da competição comercial entre

países e regiões, as pressões pela liberalização do comércio, a formação de blocos

econômicos e a subordinação dos interesses nacionais, especialmente nos países

dependentes ou periféricos, aos interesses das empresas transnacionais.

Arruda observa aspectos potencialmente positivos da globalização como: o avanço das

formas produtivas flexíveis que demandam mais conhecimento que trabalho manual; a

valorização da criatividade do trabalhador; as inovações nas esferas da informática e da

robótica que reduzem o dispêndio de energia humana em tarefas de risco e repetitivas; os

avanços na telemática que geram potencial de democratização das comunicações, enfim,

“(...) a globalização fornece a base material para que, afinal, se torne possível aos

trabalhadores do mundo inteiro unir-se, em vez de digladiar-se, por uma humanidade

responsável e solidária.” (1997: 7)

Porém, o mesmo autor observa os riscos e ameaças trazidos pela globalização. São eles: a

subordinação do trabalho assalariado à escala global; aprisionamento do conceito de

desenvolvimento, identificado exclusivamente com a modernização da empresa e

competitividade empresarial; a extensão a todo o mundo do conceito de desenvolvimento

imposto pelos mais ricos; a subordinação das economias nacionais e suas superestruturas

políticas aos interesses corporativos das empresas e grupos transnacionais; a

reconcentração do capital nas mãos dos mais ricos; a mercantilização dos seres humanos e

da natureza, pondo em risco a sobrevivência humana, entre outros.

Fim do boxe saiba mais

11  

Início da Atividade Atividade 1

“O que tornava os problemas econômicos das Décadas de Crise extraordinariamente

perturbadores, e socialmente subversivos, era que as flutuações conjecturais

coincidiam com convulsões estruturais. A economia mundial que enfrentava os

problemas das décadas de 1970 e 1980 não era mais a da Era de Ouro, embora

fosse, como vimos, o produto previsível daquela era. Seu sistema de produção fora

transformado pela revolução tecnológica, globalizado ou “transnacionalizado” em uma

extensão extraordinária e com consequência impressionantes. Além disso, na década

de 1970 tornou-se impossível ignorar as revolucionárias consequências sociais e

culturais da Era do Ouro (...), assim como suas consequências ecológicas potenciais.”

(Hobsbawn, E. A era dos extremos. )

Pensando sobre o texto, responda:

a) Explique a frase marcada sublinhada.

b) Identifique duas consequências ecológicas potenciais da Era de Ouro do

capitalismo.

Fim da Atividade

Um exemplo simples e curioso deste processo pode ser encontrado na telefonia. Entre

1950 e 1970, o número de telefonistas interurbanas nos EUA caiu 12%, enquanto o

número de telefonemas aumentou 5 vezes; já entre 1970 e 1980, a quantidade de

telefonistas caiu 40%, enquanto os telefonemas triplicaram. Hoje, as telefonistas

praticamente não existem mais. Já o número de ligações...

Contudo, o modelo dos Estados de Bem Estar Social foi solapado pela globalização

da economia após 1970, que pôs os governos de todos os Estados – com possível

exceção dos EUA, com sua enorme economia – à mercê de um incontrolável

“mercado mundial”.

A reestruturação produtiva levou também ao aumento do abismo entre os países

desenvolvidos e os não desenvolvidos, já que o domínio das novas técnicas consistirá

numa das formas de reafirmação do poder econômico, político e cultural dos países

12  

centrais. Aqueles países da América Latina, África e Ásia, que tradicionalmente foram

consumidores de produtos industrializados, tecnologias e financiamentos, vindos da

Europa e dos Estados Unidos, verão sua dependência ampliada.

Por outro lado, no bloco soviético, a tentativa de competição tecnológica e bélica com

o ocidente, conhecida como Guerra nas Estrelas, resultou no aprofundamento de sua

crise econômica e contribuiu para a falência daquele modelo, nos anos 1980.

Em síntese, para Hobsbawn, a tragédia histórica das Décadas de Crise foi a de que a

produção agora dispensava seres humanos mais rapidamente do que a economia de

mercado gerava novos empregos para eles. Além disso, esse processo foi acelerado

pela competição global e pelo aperto financeiro dos governos, que, direta ou

indiretamente, eram os maiores empregadores individuais. A então predominante

teologia de livre mercado, após 1980, também fomentou este processo.

Porém, se na Europa e nos Estados Unidos onde os sistemas de seguridade social

existiam e puderam ser acionados, a crise e a instabilidade provocaram uma

“rachadura histórica” (Fiori, 1996), a situação era diferente na África e América Latina,

onde cessou o crescimento do PIB per capita e a depressão se prolongou nos anos

1980.

Nos anos 1990, com o fim da URSS, a crise atingiu o socialismo ocidental na Rússia,

Polônia, Tchecoslováquia, Romênia e Bulgária. Apenas a China e o sudeste da Ásia

saem da crise com a economia dinâmica. A crise persistiu e se aprofundou durante a

Revolução Islâmica (1979), que levou o Aiatolá Khomeini ao poder no Irã, depondo o

aliado do governo norte americano, o Xá Reza Pahlevi. Mais uma vez, os preços do

petróleo dispararam. A fim de captar recursos para fazer frente ao novo choque do

petróleo, o governo americano elevou a taxa de juros dos títulos da dívida pública dos

EUA e impactou o mundo todo, especialmente a América Latina e o Brasil.

Como isso aconteceu? Você já deve ter ouvido falar que os países latino-americanos

possuíam, na década de 1970 e 1980, as maiores dívidas externas do mundo e que

os EUA eram os principais credores desta dívida. Talvez lhe falte a informação de que

13  

essas dívidas foram contraídas com juros variáveis, quer dizer, juros que podem ser

alterados mesmo depois dos contratos firmados. Assim, quando os EUA decidiram

pela ampliação dos juros por lá, nossa dívida externa cresceu junto.

No conjunto, a crise dos anos 1970 mudou as perspectivas do mundo ocidental

capitalista. Observe o discurso do então presidente dos EUA, Jimmy Carter, em julho

de 1979:

“A maioria dos cidadãos não crê que os próximos cinco anos serão melhores que os

cinco anteriores. Dois terços de nossa população sequer exerce o direito de voto. A

produtividade dos trabalhadores tem declinado. Aumenta a falta de respeito ao poder

do Estado. A ruptura entre cidadãos dos Estados Unidos e o governo jamais foi tão

grande quanto agora (...) Esta crise de confiança é uma crise que afeta o coração, a

alma, o espírito de nossa vontade nacional. Podemos ver como a crise se manifesta

nas crescentes dúvidas em relação ao sentido de nossas vidas (...) A quebra de nossa

confiança no futuro ameaça destruir o próprio sistema social e político da América do

Norte.”

A resposta veio com a eleição do republicano Ronald Reagan, no mesmo ano.

Propondo diminuir a atividade governamental pela redução do tamanho do Estado;

estimular a iniciativa privada; substituir a assistência estatal pela competição,

valorizando o individualismo, ele faria coro com a Primeira Ministra inglesa Margareth

Thatcher na implantação do neoliberalismo. Para recuperar o prestígio externo dos

EUA e ampliar seu poder nas regiões produtoras de petróleo, Reagan apoiou o Iraque

de Saddam Hussein contra o Irã, na guerra que se estenderia por toda a década de

80.

Início da Atividade Atividade 2 Leia a frase do economista José Luis Fiori:

“Entre o maio de 1968 na França e o fim do padrão ouro do dólar, estava-se fazendo

uma rachadura na história contemporânea”.

Agora, apresente 3 argumentos históricos que sustentem a frase.

Fim da Atividade

14  

Seção 3 Entendendo a crise no Brasil

No caso brasileiro, o Milagre Econômico (1969-1973) tinha sido realizado a partir do

modelo energético do petróleo e da captação de financiamentos externos. A

substituição progressiva do transporte ferroviário pelo automobilístico era apenas uma

evidência disto. Como dependíamos da importação de petróleo para suprir as

necessidades do mercado interno, podemos entender o impacto do 1º Choque do

Petróleo (1974) em nossas contas externas. As flutuações de preço do barril,

provocadas pelos conflitos internacionais, resultavam em dificuldades para a

manutenção do ritmo de crescimento da economia brasileira. Era a crise do Milagre

Brasileiro.

Além disto, devemos considerar o peso do endividamento externo do país nos anos

1970. As grandes obras – conhecidas como faraônicas – realizadas pelo governo

ditatorial brasileiro (1964-1984) custavam caro. Como o crescimento acelerado

demandava investimentos em infraestrutura (estradas, energia, entre outros), o ritmo

da tomada de empréstimos se intensificava. Já imaginou o custo para construir uma

das maiores hidrelétricas do mundo, como Itaipu? Ou uma das maiores pontes do

mundo, como a Rio-Niterói? Ou, ainda, para comprar o programa nuclear brasileiro e

construir as Usinas de Angra? De tão grande, nossa dívida externa, parece mesmo

eterna!

PEDIDO DO DESIGNER INSTRUCIONAL: Diagramação, favor compor um quadro botando essas três fotos lado a lado, da esquerda para direita (hidroelétrica de Itaipú, ponte Rio-Niterói e Usina Nuclear de Angra).

15  

Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:ItaipuAerea2AAL.jpg?uselang=pt-br

Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Rio_de_Janeiro_Ponte_Niteroi_Aerea_10

2_Feb_2006.jpg - Mario Roberto Duran Ortiz

16  

Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Kernkraftwerk_Angra.jpg - Martin

H.

Figura 4: Respectivamente, hidroelétrica de Itaipu, ponte Rio-Niterói e Usina de

Angra.

Mas as coisas ficaram ainda piores quando os EUA aumentaram os juros pagos pelos

bônus da sua própria dívida, em 1979. Como os empréstimos feitos ao governo

brasileiro admitiam juros flutuantes, nossa dívida cresceu junto, lembra?

PEDIDO DO DESIGNER INSTRUCIONAL: Favor redesenhar o gráfico a seguir.

igura 5: Dívida externa.

F

17  

E tem mais. Investidores estrangeiros preferiram comprar papéis da dívida externa

aiba Mais

onsenso de Washington foi uma expressão cunhada por Sr John Williamson, do

sforço de equilíbrio fiscal; reforma administrativa e

pliar a competitividade;

m síntese e desabafo, Fiori conclui, em 1996: “Pois bem, isso já é a segunda metade

americana, considerados mais seguros do que investimentos no Brasil, ou na América

Latina. Desta forma, houve fuga dos capitais necessários ao financiamento de nossa

economia, particularmente após a crise do México, em 1982. O resultado disto é que

na década de 1980 o Brasil cresceu a níveis muito baixos. Os economistas chegaram

a nomear o período como “Década Perdida”. Neste período, um dos objetivos básicos

do governo brasileiro era a renegociação da dívida externa, finalmente alcançada em

1992. Não conclua, entretanto, que esta renegociação nos tenha sido muito favorável.

É que a renegociação das dívidas externas vinham agora com as imposições do

Consenso de Washington: desregulamentação; privatização; abertura comercial,

enfim, desmontagem do Estado desenvolvimentista. Parte do empresariado brasileiro

adere a essas propostas e, afastando-se do Estado Ditatorial, passa a propor

reformas.

S

C

International Institute for Economy, que promoveu, em 1989, uma reunião para discutir

as reformas necessárias para que a América Latina saísse da década que alguns

chamavam de “perdida” – em função da estagnação, inflação, recessão e dívida

externa - e retomasse o caminho do crescimento.

Foram conteúdos do consenso:

a) A política macroeconômica: e

previdenciária; corte dos gastos públicos;

b) Estabilização Monetária e reformas;

c) Desoneração fiscal do capital para am

d) Desregulamentação dos mercados financeiro e do trabalho.

Fim do saiba mais

E

dos anos oitenta, início dos anos 90, é nesse período que a Argentina acerta a

renegociação da sua dívida, o México acerta a renegociação da sua dívida e nós,

18  

brasileiros, acertamos a renegociação da nossa dívida e temos a honra de receber

ingresso para voltar ao sistema financeiro internacional, apenas, numa exata hora em

que o sistema financeiro internacional estava em uma explosão da bolha financeira, a

chamada financeirização capitalista ou globalização financeira. Quer dizer, entramos

por uma porta na expectativa de encontrarmos investimentos produtivos que nos

reconduzissem ao sucesso, ao crescimento, e o que nós encontramos foram capitais

‘sobrantes’ e, absolutamente entusiasmados com as nossas taxas de juros, com as

nossas vantagens em termos de investimento, de portfólio, enfim, uma maravilha.”

Verbete ização capitalista - Os recursos monetários circulam pelo mundo e são

erbete ntos Produtivos – São recursos disponíveis num país ou captados no exterior

ício da Atividade

fico abaixo e, então, reflita sobre o que se pede.

Financeir

aplicados em atividades financeiras como bancos e bolsas de valores. Espera-se

lucratividade com a cobrança de juros pelo empréstimo de dinheiro.

Fim do verbete

VInvestime

para serem aplicados em atividades produtivas como a indústria e a agricultura.

Espera-se que esse tipo de investimento leve ao crescimento do Produto Interno Bruto

(PIB) de um país. A lucratividade dos empresários virá com a comercialização dos

produtos advindos do investimento.

Fim do verbete

InAtividade 3 Analise o grá

19  

Observe o afastamento entre a linha que representa o aumento do PIB per capita e

aquela que representa o salário mínimo real. O que este afastamento significa? Que

período histórico é particularmente representativo deste afastamento?

Fim da Atividade

Seção 4 “... Ou te devorarei!” - A afirmação do Neoliberalismo

Com tudo o que estudamos até aqui, temos condição de entender o contexto histórico

da chamada “virada conservadora” (1979/82), ou seja, o momento em que as teses

neoliberais se tornam hegemônicas e governantes são eleitos em várias partes do

mundo para implementá-las. Da perda do padrão ouro do dólar (1971), passando pelo

1º Choque do Petróleo (1973) e chegando ao 2º Choque do Petróleo (1979) e à crise

das dívidas externas, o que se operava era uma profunda mudança, em um período

20  

de recessão prolongada. Recessão esta marcada pela desaceleração do crescimento,

aumento da inflação, aumento do desemprego, aumento dos gastos públicos de

natureza social e falência das políticas de estabilização. O Estado de Bem Estar

Social, nos países centrais, e o Estado Nacional Desenvolvimentista, nos periféricos,

tornam-se impotentes frente a essas dificuldades.

Alguns autores observam que a crise do socialismo na URSS e no leste europeu

acabou por facilitar a expansão das ideias neoliberais, já que o contraponto socialista

deixa de existir, o que parecia sublinhar a superioridade dos regimes capitalistas do

ocidente.

Diante disto, os argumentos neoliberais elaborados por Friedrich von Hayek, em seu

livro “O caminho da servidão” (1944), ganham projeção e destaque. Repare que nem o

livro, nem as ideias liberais representam exatamente uma novidade. Defendem a

diminuição do Estado e das políticas sociais, a desregulamentação do mercado de

capitais e o pressuposto de que a igualdade formal, perante a lei, e o livre jogo das

disputas entre os indivíduos são os melhores motores para uma sociedade dinâmica e

próspera. Em outras palavras, o ataque aos direitos sociais – notadamente aos

direitos trabalhistas e às atividades sindicais – apresentados como “culpados”

fundamentais da crise e a defesa da privatização como recurso para limitar a

interferência do Estado, tornando-o mínimo, são as chaves do discurso neoliberal.

A célebre frase da Primeira Ministra Britânica Margareth Thatcher, em outubro de

1987, resume a proposição: “Não existe essa tal de sociedade. O que existe são

indivíduos, homens e mulheres, e famílias”.

Para FIORI (1996), os grandes objetivos colocados pelos Estados Neoliberais

passaram a ser “equilíbrio macroeconômico, eficiência e competitividade”.

O liberalismo só é novo, portanto, neoliberalismo, pois o contexto agora é de oposição

ao Estado de Bem Estar Social. Assim, os adeptos desta concepção se apresentam

como antidemocratas, críticos dos Estados Nacionais e defensores da competitividade

global.

21  

A afirmação política do neoliberalismo é perceptível. Você já ouviu falar do Prêmio

Nobel? Aquele oferecido todos os anos pela Academia Sueca aos cientistas que se

destacam na física, na química, na economia, entre outros? Pois é. O Prêmio Nobel

de Economia foi criado em 1969. Todos os anos o prêmio foi entregue a economistas

keynesianos. Porém, em 1974 e 1976, portanto, quando a Crise dos Anos 1970 se

aprofundava, a honraria foi atribuída a dois economistas da Escola Neoliberal,

respectivamente Friedrich von Hayek e Milton Friedman.

E o Neoliberalismo resolveu a crise? O crescimento econômico seguiu sendo

medíocre. A produtividade nunca mais cresceu como anteriormente. Os salários nunca

mais recuperaram a participação que já obtiveram na riqueza nacional. A riqueza

concentrou-se de uma forma nunca dantes vista na história do capitalismo. Por outro

lado, se os gastos sociais caíram, os gastos públicos mantiveram-se iguais na maioria

dos países centrais, ou aumentaram. O que houve foi uma redefinição do gasto. Isto é,

aumentou a quantidade de recursos gastos com a dívida financeira e diminuiu a

quantidade de gastos com saúde e educação, por exemplo.

Por fim, essa longa era neoliberal nos deixou um alto índice de desemprego e levou à

precarização do emprego pelos contratos de trabalho flexíveis, aqueles em que o

trabalhador tem seus direitos - como, por exemplo, carga horária definida, descanso e

férias - parcialmente respeitados.

PEDIDO DO DESIGNER INSTRUCIONAL: Favor, refazer esta tabela. OBS: Não é para escrever esta observação que se encontra logo abaixo da mesma, a saber, “O IBGE divide o desemprego entre jovens...”.

22  

Figura 6: Índice de desemprego dividido em duas faixas etárias.

A advertência de Hobsbawn sobre a persistência de funções keynesianas do Estado

merece nossa máxima atenção. Segundo o autor, “O maior dos regimes neoliberais,

os EUA do presidente Ronald Reagan, embora oficialmente dedicado ao

conservadorismo fiscal (isto é, orçamentos equilibrados) e ao monetarismo de Milton

Friedman, na verdade usou métodos keynesianos para sair da depressão de 1979-82,

entrando num déficit gigantesco e empenhando-se de modo igualmente gigantesco a

aumentar seus armamentos”. Na verdade, os regimes mais profundamente

comprometidos com a economia neoliberal eram também às vezes, e notadamente no

caso dos EUA de Reagan e na Grã-Bretanha de Thatcher, profunda e visceralmente

nacionalistas e desconfiados do mundo externo. O historiador não pôde deixar de

notar que as duas atitudes são contraditórias.

De fato e contraditoriamente, as mais profundas e totais experiências neoliberais do

planeta não foram vividas pelos países centrais. A imposição das reformas do

Consenso de Washington se deu na América Latina, seja através de golpes de estado

e implantação de ditaduras reformistas (caso do Chile, em 1973), seja pela força da

23  

renegociação das dívidas externas locais. O impacto destrutivo nessas áreas,

entretanto, é maior, uma vez que nelas nunca se teve um Estado de Bem Estar Social

capaz de garantir seguro desemprego, previdência social, educação e saúde para

todos.

Início da Atividade Atividade 4 Você conseguiria relacionar o Proálcool no Brasil aos temas da aula de hoje?

Fim da Atividade

Resumo Nesta unidade vimos que:

• O modelo de desenvolvimento característico da Era de Ouro do Capitalismo se

caracterizava pela produção industrial em massa para consumo em massa, o

chamado fordismo. Como o padrão energético adotado no período estava centrado no

petróleo e seus derivados, isto gerou grande pressão e disputa sobre as áreas

produtoras;

• O Estado de Bem Estar Social que caracterizou a organização política naquela época

realizou, nos países centrais, a extensão dos direitos públicos e universais à saúde,

educação, transportes, habitação, emprego, previdência e assistência;

• Externamente, este mesmo Estado acabou por gerar instabilidades e guerras na

medida em que a disputa pelo domínio de áreas produtoras de petróleo fomentou a

militarização dos países centrais. Por outro lado, a crescente necessidade de

matérias-primas e recursos naturais decorrente da aceleração da produção industrial

ampliou os riscos ambientais do planeta;

• A crise dos anos 1970 teve diferentes dimensões. Situam-se neste campo: a

progressiva flexibilização do modelo produtivo, com a implantação do toyotismo; o

avanço das tecnologias da informação e da robótica; e a globalização produtiva e

financeira. O desemprego estrutural e a pressão sobre os sistemas de seguridade

social são decorrências deste processo;

• A crise do padrão ouro e a desregulamentação do sistema financeiro internacional

acabaram acrescentando dramaticidade à crise, dando início à estagflação;

24  

• Paralelamente, os conflitos na região de maior produção de petróleo do planeta, o

Oriente Médio, e a interferência das potências centrais nestes conflitos acabaram por

tornar o preço do petróleo uma “arma de guerra”. A criação da Organização dos

Países Produtores de Petróleo (OPEP) reflete esta tensão;

• Os Choques dos Preços do Petróleo correspondem a momentos de subida intensa do

preço do barril e desequilíbrio das contas internacionais, tornando a crise mundial;

• A crise se expressa no Brasil como crise do Milagre Brasileiro e crise da Dívida

Externa;

• A renegociação das dívidas dos países da periferia favoreceu a implantação das

medidas conhecidas como “Consenso de Washington”, que implicaram na

desregulamentação, privatização, abertura comercial, enfim, desmontagem do Estado

desenvolvimentista;

• O final da década de 1970 é o momento histórico da “virada conservadora”, que

corresponde à afirmação do modelo capitalista neoliberal;

• Os argumentos centrais do Neoliberalismo são: a diminuição do Estado e das políticas

sociais, a desregulamentação do mercado de capitais e o pressuposto de que a

igualdade formal, perante a lei, e o livre jogo das disputas entre os indivíduos são os

melhores motores para uma sociedade dinâmica e próspera;

• Nas décadas seguintes a crise continuou e se aprofundou atingindo inclusive os

países centrais.

Veja Ainda

• Para entender a dinâmica do mercado financeiro e suas crises, assista “Wall Street

– o dinheiro nunca dorme”, de Oliver Stone (1987). É um filme de ficção que

mostra os bastidores da Bolsa de Valores. Michael Douglas se destaca no filme

com uma atuação sensacional!

• Outra obra que tem a ver com o que temos tratado aqui é o filme “O Discreto

Charme da Burguesia” de Luis Buñuel. O filme surrealista mostra um jantar de

pessoas pertencentes à classe média, que é interrompido inúmeras vezes por

estranhos acontecimentos. Esta obra é uma crítica ácida à hipocrisia da classe

burguesa.

25  

• Para saber mais sobre os temas que abordamos nesta aula, não deixe de ler o

livro de Marcos Arruda:

“Dívida E(x)terna: Para o Capital Tudo, Para o Social Migalhas” (Marcos Arruda, ed. Vozes, 1999).

Referências FIORI, J. L. “O consenso de Washington”. Palestra proferida no CCBB, em

04/09/1996.

HARVEY, D. A condição pós-moderna. SP, 1993.

HOBSBAWN, E. “A Era dos Extremos: o breve século XX (1914-1991)”. SP, Cia das

Letras, 1995.

Resposta das Atividades

1. a) Flutuações conjecturais são alterações de preço, disponibilidade de produtos ou de

postos de emprego condicionadas por variações momentâneas do clima ou da

mudança de ênfase da política de desenvolvimento. Pode-se citar como exemplo, a

diminuição da produção e venda de sorvetes e ar condicionados durante os meses de

inverno. Quando, entretanto, acontecem transformações nos padrões produtivos,

como o desenvolvimento da informática e da robótica, as alterações na oferta de

produtos e empregos torna-se estrutural, ou seja, aquelas funções substituídas pelas

novas soluções tecnológicas não serão restabelecidas. No período da crise do

petróleo, por exemplo, a falência de diversas indústrias tradicionais e o desemprego

crescente tinham justificativa conjectural – o aumento do preço dos combustíveis, o

encarecimento da produção - e justificativas estruturais: o avanço da flexibilização

produtiva (ou toyotismo).

b) Como a Era de Ouro foi baseada na expansão do fordismo, cuja chave é produção

em massa para consumo em massa, uma consequência é a pressão do consumismo

sobre as possibilidades de produção de matérias primas para a indústria. Além disto,

como o padrão energético do período é fortemente centrado nos combustíveis

derivados do petróleo, a extração, transporte e produção de derivados do petróleo

produziram frequentes acidentes ecológicos. Considere-se, ainda, a poluição do ar

26  

pelos gases produzidos pela queima de gasolina e óleo diesel ampliados pela

expansão da frota de automóveis – um dos ícones do período fordista.

2) “Maio de 1968” foi um movimento estudantil e depois operário e civil que ocorreu na

França e em outros países. Criticava e questionava o conservadorismo e o

tradicionalismo e propunha mudanças nas relações entre raças, sexos e gerações na

França, e, em seguida, no restante da Europa. No decorrer das décadas, as

manifestações ajudaram o Ocidente a fundar ideias como as das liberdades civis

democráticas, dos direitos das minorias, e da igualdade entre homens e mulheres,

brancos e negros e heterossexuais e homossexuais.

O fim do padrão ouro do dólar, em 1971, é o momento de desregulamentação do

sistema financeiro internacional, o que facilitaria a circulação de capitais

internacionalmente e a progressiva substituição dos investimentos produtivos por

investimentos especulativos.

Neste período está se processando a passagem do fordismo ao toyotismo, ou seja, do

modelo produtivo e social baseado na produção em massa para consumo em massa

de produtos idênticos, por fábricas que empregavam milhares de operários e que

funcionavam com rotinas repetitivas, para modelos flexíveis, automatizados que

substituíram mão de obra humana por máquinas e robôs. O desemprego estrutural é

um dos efeitos desta transformação. O avanço do individualismo e das dinâmicas de

competição podem estar relacionados a estas mudanças.

3) O PIB per capita é o resultado da divisão hipotética entre toda a riqueza produzida no

país e o conjunto dos seus cidadãos. O salário mínimo real é o valor do salário mínimo

pago à enorme maioria dos trabalhadores brasileiros, descontado da inflação e

atualização monetária. O afastamento das duas curvas demonstra que não há relação

direta entre o crescimento do PIB (produto interno bruto) e a distribuição desta riqueza

entre os brasileiros. É uma imagem do aprofundamento da concentração de renda por

um lado, e da desigualdade social, por outro. Observa-se que o período que se inicia

em 1964, coincidindo com o Golpe Civil Militar e a implantação da Ditadura Militar no

Brasil, representa ponto de abertura desta curva que, entretanto, continua de

27  

ampliando ao longo do tempo. O Milagre Brasileiro é um dos períodos de maior

aprofundamento da desigualdade no Brasil. Quando pressões na sociedade

propuseram uma maior divisão da riqueza, o então ministro do planejamento do

governo Figueiredo (1979-1985), Delfim Netto, cunhou a frase que se tornou célebre:

era preciso "crescer o bolo para depois dividi-lo".

4) O Pró-Álcool foi um programa desenvolvido pelo governo brasileiro para substituir os

motores movidos a gasolina e óleo diesel – derivados do petróleo - por motores a

álcool, a partir de 1975, como resposta às dificuldades impostas pela Crise do Petróleo

à continuidade do Milagre Brasileiro. Naquela ocasião, os preços internacionais do

açúcar estavam muito baixos e o Pró Álcool representou um grande ganho para os

produtores. Ocorreu, entretanto, que na década seguinte os preços se inverteram

tornando a venda de açúcar mais vantajosa. O projeto, então, entrou em crise. A

revalorização do Pró-Álcool aconteceu no final da década de 1980 quando

aumentaram as pressões pelo desenvolvimento de combustíveis menos poluentes.

Nesta nova conjuntura, surgem os carros flex, capazes de funcionar com álcool e/ou

gasolina. Ainda hoje são perceptíveis, entretanto, as oscilações em relação ao preço e

disponibilidade do álcool nos postos.

O que perguntam por aí?

(ENEM 2009 – Questão 71)

Além dos inúmeros eletrodomésticos e bens eletrônicos, o automóvel produzido pela

indústria fordista promoveu, a partir dos anos 50, mudanças significativas no modo de vida

dos consumidores e também na habitação e nas cidades. Com a massificação do consumo

dos bens modernos, dos eletroeletrônicos e também do automóvel, mudaram radicalmente o

modo de vida, os valores, a cultura e o conjunto do ambiente construído. Da ocupação

do solo urbano até o interior da moradia, a transformação foi profunda. MARICATO, E. Urbanismo na periferia do mundo globalizado: metrópoles brasileiras. Disponível em: http://www.scielo.br.

Acesso em: 12 ago. 2009 (adaptado).

28  

29  

Uma das consequências das inovações tecnológicas das últimas décadas, que determinaram

diferentes formas de uso e ocupação do espaço geográfico, é a instituição das chamadas

cidades globais, que se caracterizam por:

a) possuírem o mesmo nível de influência no cenário mundial.

b) fortalecerem os laços de cidadania e solidariedade entre os membros das diversas

comunidades.

c) constituírem um passo importante para a diminuição das desigualdades sociais causadas

pela polarização social e pela segregação urbana.

d) terem sido diretamente impactadas pelo processo de internacionalização da economia,

desencadeado a partir do final dos anos 1970.

e) terem sua origem diretamente relacionadas ao processo de colonização ocidental do

século XIX.

Resposta: alternativa “d”.

Caia na Rede!

Você se lembra como morreu Saddam Hussein, em dezembro de 2006? Após ser julgado

e condenado por um tribunal iraquiano, ele foi entregue pelas forças militares americanas

que o custodiavam até o cumprimento da sentença de morte. Curioso? Caia na rede,

acesse o link a seguir e desvende o mistério desta mudança de posição dos EUA.  

http://www.geomundo.com.br/geografia-30124.htm