Segundo Reinado

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HISTÓRIA Editora Exato 30 2º REINADO – GOVERNO DE D. PEDRO II 1. LIBERAIS E CONSERVADORES Vimos que, durante a Regência Una de Feijó, a vida partidária brasileira se resumiu a dois partidos: o Progressista e o Regressista. Após o Golpe da Maio- ridade, o Partido Progressista passou a se chamar Partido Liberal e o Regressista, Partido Conservador. Para garantir a vitória dos deputados liberais na formação da nova Câmara, o governo liderado pe- los irmãos Andrada, alterou completamente a prática eleitoral no Brasil. Não bastando a violência física, a fraude foi a garantia da vitória do Partido Liberal: meninos, es- cravos mortos e pessoas que não existiam foram qua- lificadas como eleitores; trocaram a identidade de muitos eleitores e o conteúdo das urnas substituído por votos preparados; fraudaram a apuração alterando a contagem dos votos. A partir de então, a fraude e a violência tornaram-se práticas comuns nas eleições brasileiras. O gabinete conservador iniciou um processo de reformas que atestavam seu espírito regressista: restauraram o Conselho de Estado e decretaram a re- forma do Código do Processo Criminal. 2. O PARLAMENTARISMO Num regime parlamentarista clássico como o inglês – (do qual, aliás, tirou-se o modelo), primeiro são realizadas eleições para a Câmara dos Deputados, que elegeria o 1°ministro. Já no caso brasileiro o im- perador nomeava o 1°ministro fazendo valer o título de palamentarismo às avessas. Poder Moderador exercido pelo imperador Poder Legislativo Poder Executivo Poder Judiciário Primeiro Ministro Câmara dos Deputados Senado Conselho de Estado Presidentes de Províncias Juízes Parlamento Esquema das relações dos poderes políticos durante o parlamentarismo, no Segundo Reinado. 3. A CONCILIAÇÃO A partir dos anos 50 do século XIX, a grande maioria dos políticos entendia que era necessária a realização de reformas econômico-financeiras que promovessem o progresso material do país e uma maior integração nacional. Contudo, sabiam que para a realização de reformas era preciso o trabalho con- junto dos dois partidos. Isso levou à criação, em 1853, do Ministério da Conciliação, assim chamado porque em sua composição haviam liberais e conser- vadores. Mesmo após o fim deste ministério e da for- mação de sucessivos ministérios conservadores, a po- lítica brasileira continuou marcada pela conciliação. De 1862 a 1868, houve uma nova conciliação parti- dária no exercício do poder. Foi o período de governo da Liga Progressista, formada novamente por liberais e conservadores. 4. A REVOLUÇÃO PRAIEIRA A tradição revolucionária dos pernambucanos se manifesta mais uma vez, em 1848, através da Re- volução Praieira. A insurreição dos praieiros mantém-se até 1850, quando seu último líder, ainda atuando, Pedro Ivo, rendeu-se ao governo. Atraiçoado, preso e envi- ado às fortaleza da Laje (RJ), foge de navio para a I- tália, mas no meio do caminho morre de causas naturais. O pretexto para a eclosão da luta foi a queda do Ministério Liberal, no Rio de Janeiro, em 1848, e a nomeação de um presidente conservador para Per- nambuco. No Manifesto ao Mundo, de autoria de Borges da Fonseca, os revolucionários tornavam público seu programa de reivindicações. Exigiam: o fim do império e a proclamação de uma República; a extinção do Senado vitalício e do Poder Moderador; voto livre e universal; nacionalização do comércio; liberdade de trabalho para garantir a vida do cidadão, princípio defendido também pelos socialistas utópicos franceses; reformas sociais e econômicas; liberdade de imprensa; reforma judicial que assegurasse as garanti- as individuais. 5. ECONOMIA E SOCIEDADE A sociedade e a economia brasileiras passa- ram, na segunda metade do século XIX, por signifi- cativas transformações que alteraram o processo histórico nacional.

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Page 1: Segundo Reinado

HISTÓRIA

Editora Exato 30

2º REINADO – GOVERNO DE D. PEDRO II 1. LIBERAIS E CONSERVADORES

Vimos que, durante a Regência Una de Feijó, a

vida partidária brasileira se resumiu a dois partidos: o

Progressista e o Regressista. Após o Golpe da Maio-

ridade, o Partido Progressista passou a se chamar

Partido Liberal e o Regressista, Partido Conservador.

Para garantir a vitória dos deputados liberais

na formação da nova Câmara, o governo liderado pe-

los irmãos Andrada, alterou completamente a prática

eleitoral no Brasil.

Não bastando a violência física, a fraude foi a

garantia da vitória do Partido Liberal: meninos, es-

cravos mortos e pessoas que não existiam foram qua-

lificadas como eleitores; trocaram a identidade de

muitos eleitores e o conteúdo das urnas substituído

por votos preparados; fraudaram a apuração alterando

a contagem dos votos. A partir de então, a fraude e a

violência tornaram-se práticas comuns nas eleições

brasileiras.

O gabinete conservador iniciou um processo

de reformas que atestavam seu espírito regressista:

restauraram o Conselho de Estado e decretaram a re-

forma do Código do Processo Criminal.

2. O PARLAMENTARISMO

Num regime parlamentarista clássico como o

inglês – (do qual, aliás, tirou-se o modelo), primeiro

são realizadas eleições para a Câmara dos Deputados,

que elegeria o 1°ministro. Já no caso brasileiro o im-

perador nomeava o 1°ministro fazendo valer o título

de palamentarismo às avessas.

PoderModerador

exercido peloimperador

PoderLegislativo

PoderExecutivo

PoderJudiciário

PrimeiroMinistro

Câmara dosDeputados Senado

Conselho deEstado

Presidentes deProvíncias

Juízes

Parlamento

Esquema das relações dos poderes políticos durante o parlamentarismo,

no Segundo Reinado.

3. A CONCILIAÇÃO

A partir dos anos 50 do século XIX, a grande

maioria dos políticos entendia que era necessária a

realização de reformas econômico-financeiras que

promovessem o progresso material do país e uma

maior integração nacional. Contudo, sabiam que para

a realização de reformas era preciso o trabalho con-

junto dos dois partidos. Isso levou à criação, em

1853, do Ministério da Conciliação, assim chamado

porque em sua composição haviam liberais e conser-

vadores.

Mesmo após o fim deste ministério e da for-

mação de sucessivos ministérios conservadores, a po-

lítica brasileira continuou marcada pela conciliação.

De 1862 a 1868, houve uma nova conciliação parti-

dária no exercício do poder. Foi o período de governo

da Liga Progressista, formada novamente por liberais

e conservadores.

4. A REVOLUÇÃO PRAIEIRA

A tradição revolucionária dos pernambucanos

se manifesta mais uma vez, em 1848, através da Re-

volução Praieira.

A insurreição dos praieiros mantém-se até

1850, quando seu último líder, ainda atuando, Pedro

Ivo, rendeu-se ao governo. Atraiçoado, preso e envi-

ado às fortaleza da Laje (RJ), foge de navio para a I-

tália, mas no meio do caminho morre de causas

naturais. O pretexto para a eclosão da luta foi a queda

do Ministério Liberal, no Rio de Janeiro, em 1848, e

a nomeação de um presidente conservador para Per-

nambuco.

No Manifesto ao Mundo, de autoria de Borges

da Fonseca, os revolucionários tornavam público seu

programa de reivindicações. Exigiam:

� o fim do império e a proclamação de uma

República;

� a extinção do Senado vitalício e do Poder

Moderador;

� voto livre e universal;

� nacionalização do comércio;

� liberdade de trabalho para garantir a vida do

cidadão, princípio defendido também pelos

socialistas utópicos franceses;

� reformas sociais e econômicas;

� liberdade de imprensa;

� reforma judicial que assegurasse as garanti-

as individuais.

5. ECONOMIA E SOCIEDADE

A sociedade e a economia brasileiras passa-

ram, na segunda metade do século XIX, por signifi-

cativas transformações que alteraram o processo

histórico nacional.

Page 2: Segundo Reinado

HISTÓRIA

Editora Exato 31

Sudeste 41%

Nordeste 47%

Sul 7%

Centro-Oeste 2%

Norte 3%

Distribuição regional da população brasileira em 1872 (%)

Cláudio Vicentino e Gianpaolo Dorigo – História do Brasil.

No período, ocorreram a extinção do tráfico

negreiro, um relativo desenvolvimento industrial, um

extraordinário crescimento da produção cafeeira e da

imigração, a sistematização do trabalho assalariado, a

abolição da escravidão e, do ponto de vista político, a

proclamação da República.

Café

Oceano Atlântico

Minas Gerais

SãoPaulo

RibeirãoPreto

Campinas

São Paulo

Santos São Sebastião

Queluz

Rio PretoJuiz de Fora

Carangola

Petrópolis

Angra dos ReisRio deJaneiro

Rio de Janeiro

EspíritoSanto

CULTURA CAFEEIRA NO BRASIL

Primeiro setor em que acafeicultura se desenvolveu

Segundo setor em que acafeicultura se desenvolveu

História do Brasil – Luiz Koshiba e Denise Manzi Frayze Pereira

Principal responsável pelas transformações e-

conômicas, sociais e políticas ocorridas no Brasil na

segunda metade do século XIX, o café reintegrou a

economia brasileira nos mercados internacionais,

contribuiu decisivamente para o incremento das rela-

ções assalariadas de produção e possibilitou a acumu-

lação de capital que, disponível, foi aplicado em sua

própria expansão e em alguns setores urbanos como a

indústria, por exemplo. O café foi ainda responsável

pela inversão na balança comercial brasileira que,

depois de uma história de constantes déficits, passou

a superavitária entre os anos de 1861 e 1885.

Contudo, a economia brasileira continuava es-

truturada no velho modelo agroexportador e depen-

dente dos mercados externos. Semelhante ao período

colonial, a economia do país sustentava-se na expor-

tação de um pequeno número de produtos agrícolas,

dos quais o café tornou-se “produto-rei”.

No processo de desenvolvimento da economia

cafeeira, no Brasil, duas regiões se destacaram como

grandes produtoras, gerando renda e uma forte oli-

garquia cafeeira (Os Barões do Café). A primeira a se

destacar, até meados da década de 1860, foi a região

do Vale do Paraíba, no Rio de Janeiro. A segunda re-

gião, o chamado Oeste Paulista assume a dianteira na

economia cafeeira, a partir de meados da década de

1870.

Exportação do café do vale do Paraíba (em milhares de sacas de 60 kg)

1821-1830

1831-1840

1841-1850

1851-1860

1861-1870

1871-1880

1881-1890

3.178

10.430

18.367

27.339

29.103

32.509

51.631

Produção de Café do Brasil (em toneladas de café em grão)

1841-1850

1851-1860

1861-1870

1871-1880

1881-1890

1891-1900

1901-1910

1911-1920

1921-1930

1.027.260

1.575.180

1.730.820

2.180.160

3.199.560

4.469.460

7.835.940

7.230.180

8.371.920 Elza Nadai e Joana Neves – História do Brasil

A imigração Para os cafeicultores, tornou-se urgente buscar

uma solução para o agravamento da carência de mão-

de-obra após a eliminação da fonte africana. A solu-

ção encontrada foi o incremento da imigração estran-

geira.

Pelo sistema de parceria, que se espalhou por

quase todo o interior paulista, os fazendeiros financi-

avam, através de empréstimos, a vinda e as despesas

de instalação nos primeiros momentos do imigrante

europeu.

O imigrante agora estava mais garantido que

no sistema de parceria. Sua viagem com a família era

paga pelo governo, e os gastos, durante o primeiro

ano de sua estada no Brasil, eram de responsabilidade

do fazendeiro. Além disso, o imigrante recebia um

salário fixo anual e mais um salário que variava de

acordo com a colheita.

A Era Mauá Apesar da inegável prosperidade do império, a

arcaica estrutura socioeconômica assentada na agro-

exportação escravista e o ainda incipiente mercado

consumidor interno não possibilitaram uma industria-

lização nos moldes europeus. Portanto, o que houve

no Brasil, na segunda metade do século XIX, apesar

da explosão da “Era Mauá”, não foi mais que um sur-

to industrial que não tirou o país da dependência eco-

nômica internacional. Por longos anos ainda, a

economia brasileira continuaria baseada na lavoura

de exportação.

Page 3: Segundo Reinado

HISTÓRIA

Editora Exato 32

A Tarifa Alves Branco Os privilégios alfandegários ingleses, que boi-

cotavam o crescimento do setor industrial brasileiro,

finalmente foram extintos pela Tarifa Alves Branco

de 1844. Com essa medida protecionista de elevação

das tarifas alfandegárias, as mercadorias estrangeiras

que desembarcavam no Brasil pagariam de 30% a

60% de impostos alfandegários.

6. POLÍTICA EXTERNA DO SEGUNDO REI-

NADO

Intervenções na bacia do prata

BRASIL

Mato Grosso

PARAGUAI

URUGUAI

ARGENTINA

1

2

3

4

5

Territórios perdidospelo Paraguai

Buenos Aires

0 232 464

km

N

(Província daCisplatina entre(1816-28)

1

2

3

4

5

Data

Cisplatina

do Paraguai

GuerrasPlatinas

ContraOribe

ContraRosasContra Aguirre

1825-1828

1850-1851

1852

1864-1865

1864-1870

Brasil x Argentina, Uruguai

Brasil x Argentina

Adversários

Brasil + “colorados” xArgentina + “blancos”

Brasil + Argentina + “colorados”x “blancos”

Tríplice aliança (Brasil, Argentinae Uruguai) x Paraguai

O Imperialismo brasileiro no Prata.

Cláudio Vicentino e Gianpaolo Dorigo – História do Brasil.

Entre 1851 e 1870, o Brasil interveio em vários

conflitos na Bacia do Prata, gerando conflitos com o

Uruguai, a Argentina e o Paraguai, o mais mortífero

conflito da história das Américas.

A primeira intervenção brasileira deu-se em

1851 (Guerra de Oribe e Rosas). Visava pôr no poder

os colorados de Rivera, no Uruguai; e os federalistas,

na Argentina. O inimigo declarado pelo Brasil é o ar-

gentino Rosas e seu aliado, Manuel Oribe, presidente

uruguaio. O governo brasileiro temia que Rosas reu-

nificasse o antigo vice-reinado do Prata (Argentina,

Uruguai, Paraguai, Bolívia).

O Uruguai foi invadido pelo RS (Caxias), Ar-

gentina (Urquiza) e por mar (Grenfell). A permanên-

cia brasileira no Uruguai durou 2 anos.

A invasão reforça a presença brasileira no U-

ruguai. O Barão de Mauá torna-se o maior barqueiro

e pecuarista do país; 30% das terras uruguaias são de

brasileiros.

A segunda intervenção brasileira no Uruguai

aconteceu em 1864. Foi mais violenta do que a de

1851, e visava derrotar e retirar do poder o Presidente

Aguirre. Frente a 11 navios e 8 mil soldados, Aguirre

se rende (20/02/1865) e entrega a capital a Flores. O

império brasileiro conta outra vez com um governo

amigo na ex-província Cisplatina.

A guerra do Paraguai Os ingleses não podiam tolerar um país que,

por meio de uma política excessivamente protecionis-

ta, impedia as importações de manufaturados estran-

geiros. Para a Inglaterra, o modelo econômico

paraguaio era muito perigoso e teria de ser destruído

antes que nações como Brasil e Argentina o adotas-

sem e se libertassem do jugo capitalista britânico.

Para viabilizar a destruição, a Inglaterra articu-

lou um conflito e habilmente jogou o Brasil e a Ar-

gentina na guerra destruidora do Paraguai.

Francisco Solano López, sucessor do pai, em

1862, também não confiava no capital privado e por

isso continuou a política intervencionista estatal. Vi-

sando a um maior incremento industrial, Solano Ló-

pez concedeu bolsas de estudos na Europa a jovens

paraguaios e de lá importou técnicos, engenheiros e

homens de ciências.

Uma saída para o mar libertaria o país das altas

taxas cobradas por Buenos Aires para exportar mer-

cadorias paraguaias e o integraria nos mercados in-

ternacionais. O Grande Paraguai seria formado por

Paraguai, Uruguai, Rio Grande do Sul, parte de Mato

Grosso e as províncias argentinas de Corrientes e En-

tre-Rios.

A Guerra do Paraguai

Revista Super Interessante Setembro 1999.

O conflito tornou-se iminente quando o gover-

no brasileiro não aceitou a intermediação de Solano

López na questão com o Uruguai. Solano rompeu re-

lações com o Brasil, estabeleceu uma aliança políti-

co-militar com Aguirre e afirmou que não toleraria a

intervenção brasileira no Uruguai.

Nesse mesmo ano, a vitória do almirante Bar-

roso na Batalha do Riachuelo foi fundamental para a

libertação do Rio Grande do Sul.

Em Janeiro de 1869, Caxias conquistou As-

sunção e pouco depois foi substituído pelo conde

d’Eu. Apesar de conquistada a capital do país, os pa-

raguaios continuaram resistindo bravamente. O conde

d”Eu empreendeu a Campanha das Cordilheiras, uma

Page 4: Segundo Reinado

HISTÓRIA

Editora Exato 33

intensa perseguição a Solano López que só terminou

com a morte em combate do ditador paraguaio em

Cerro Cora, em março de 1870. A guerra chegava ao

fim. A maior guerra da história do Brasil, que forma

seu exército e marinha, é também a mais mortífera

das Américas. Mata 158 mil brasileiros, 32 mil ar-

gentinos e uruguaios, 606 mil militares e civis para-

guaios (mais que a Guerra Civil dos EUA, da qual

utilizam-se armamentos como os fuzis de repetição,

canhões de cano raiado e couraçados).

7. A CRISE DO IMPÉRIO

A Extinção do tráfico negreiro. O fim do tráfico contribuiu para uma série de

transformações na economia brasileira. Os capitais

que eram investidos no comércio de escravos passam

a ser aplicados na modernização dos transportes; logo

após, surgiram as primeiras ferrovias no Brasil. O sis-

tema de comunicações também foi inovado, surgindo

o telégrafo. O sistema financeiro se amplia com o

surgimento de muitos bancos.

Um fato que está relacionado à Lei Eusébio de

Queirós foi à edição da Lei de Terras, também no ano

de 1850. Por essa lei, ficava determinado que as ter-

ras devolutas (abandonadas) só poderiam ser ocupa-

das mediante a compra pelo interessado. Desta

forma, os pequenos agricultores continuaram impos-

sibilitados de ter acesso à propriedade. Por outro la-

do, esta lei visava dificultar ao máximo a aquisição

de terras pelos imigrantes. Uma vez que, após o ano

de 1850, a classe dominante brasileira passa a incen-

tivar a vinda de colonos europeus para substituir o

trabalhador compulsório, objetiva-se transformar o

imigrante em mão-de-obra para as grandes lavouras e

não em pequenos proprietários.

As Transformações econômicas e so-ciais

As transformações econômicas e a urbanização

promoveram profundas mudanças sociais e geraram

aspirações e interesses diferentes dos tradicionais.

A nova elite cafeeira do Oeste paulista, ao de-

senvolver uma mentalidade empresarial moderna, se

contrapunha à tradicional elite agrária açucareira do

Nordeste e à cafeeira fluminense e valeparaibana a-

pegadas ao conservadorismo escravista. Dona do po-

der econômico, já que o café era a base da

sustentação econômica nacional, a aristocracia cafe-

eira paulista não tinha entretanto uma representação

política compatível com sua força econômica, pois o

poder era manipulado pela velha e retrógrada aristo-

cracia.

A aristocracia cafeeira do Oeste paulista intro-

duziu métodos mais modernos de produção. Diferen-

te dos “barões do café” das zonas fluminenses e do

Vale do Paraíba, presos às velhas e arcaicas formas

de produção escravista, a nova aristocracia paulista

introduziu o trabalho assalariado em suas fazendas,

substituindo a mão-de-obra escrava.

Movimento e Partido Republicano As idéias republicanas eram antigas no Brasil

e, no fim do período colonial, significavam a revolta

contra a metrópole e a negação do estatuto de colô-

nia. Mas na época da independência passaram a sig-

nificar a oposição ao governo.

Os princípios básicos do republicanismo eram

a federação, o fim do poder hereditário, soberania na-

cional e a reintegração política do Brasil com as na-

ções européias e americanas.

Os republicanos pretendiam mudanças sem vi-

olência, este movimento elitista não admitia a parti-

cipação popular e nem alterações profundas na

realidade política e social do país dando ao movimen-

to um caráter reformista e não revolucionário.

Questão abolicionista Prova da intenção gradualista da elite escravis-

ta foi a aprovação de algumas leis que visavam acal-

mar os ânimos dos abolicionistas mais exaltados e

postergar uma resolução final para a questão. A Lei

do Ventre Livre (1871), aprovada na gestão do Gabi-

nete Conservador do Visconde do Rio Branco, de-

terminava que, a partir de sua entrada em vigor, os

filhos de escravas seriam libertos. Mas, determinava

que isso só ocorreria após completarem 21 anos e que

seus proprietários receberiam uma indenização. Co-

locada em prática, esta lei produziu poucos efeitos.

Entre os anos de 1885 a 1888, a luta abolicio-

nista ganha força, radicaliza-se, promovendo fugas

em massa, arrecadando fundos para a compra de al-

forrias. Nesta época, praticamente só existiam vozes

fortes em favor do escravismo no Vale do Paraíba.

Torna-se clara a falta de base social para manter-se o

sistema. Isso ficou demonstrado no ano de 1888. A

maioria do parlamento, com exceção de apenas nove

deputados, acompanhando os anseios sociais, aprova

o fim da escravidão, em lei que foi sancionada pela

regente, Princesa Isabel.

Esse fato foi determinante para a crise do im-

pério. Muitos dos escravistas ainda existentes des-

contentam-se profundamente com relação ao regime.

Para os libertos, contudo, a liberdade não foi acom-

panhada de melhorias em suas condições de vida.

Não houve um programa educacional e nem de re-

forma agrária para a população afro-brasileira. Aque-

les que viviam no campo continuam como

trabalhadores nas grandes fazendas.

Nas cidades, tornam-se excluídos, constituem,

por meio das favelas, uma nova paisagem urbana.

Page 5: Segundo Reinado

HISTÓRIA

Editora Exato 34

Escravos importados pelo Brasil

No período de 1842-1852

1842 1843 1844 1845 1846 1847 1848 1849 1850 1851 1852

17.435 19.095 22.849 19.453 50.324 56.172 60.000 54.000 23.000 3.287 700

Análise sobre a crise Em síntese, a crise do Império se deve a uma

série de fatores que, interagindo, levaram à mudança

do regime:

� as transformações ocorridas na sociedade

brasileira na segunda metade do século

XIX;

� a decadência da aristocracia tradicional;

� aparecimento de um nova aristocracia cafe-

eira mais dinâmica, moderna, rica e podero-

sa, cuja intervenção na política nacional

conduziu o país ao regime republicano;

� a apatia do governo imperial no atendimen-

to às aspirações das diferentes camadas so-

ciais que exigiam mudanças significativas;

� a Questão Militar, a Questão Religiosa e a

abolição da escravidão.

O fim do regime monárquico resultou, portan-

to, numa série de fatores cujo peso não é o mesmo.

Duas forças, de características diversas, devem ser

ressaltadas: o Exército e um setor expressivo da bur-

guesia cafeeira de São Paulo, organizado politica-

mente no Partido Republicano Paulista (PRP). A

queda do Imperador, em 15 de novembro de 1889,

resultou da iniciativa quase exclusiva do Exército,

que deu um decisivo empurrão para o fim do regime

monárquico. Por outro lado, a burguesia cafeeira

permitiria à República contar com uma base social

estável que nem o Exército nem a população urbana

do Rio de Janeiro podiam por si mesmas proporcio-

nar.

8. CULTURA NO IMPÉRIO

A cultura durante o império também se desen-

volveu. As escolas, que ofereciam ensino para os fi-

lhos da elite, cresceram acompanhando a

prosperidade econômica e social vivida. O Colégio

Pedro II (RJ) foi criado como modelo para várias es-

colas secundárias que foram criadas. No ensino supe-

rior, há que se destacar a Escola de Medicina (RJ) e

as Escolas de Direito (SP e PE).

O teatro foi muito pouco explorado, destacan-

do-se apenas algumas obras de Martins Pena e de ou-

tros autores. Na poesia, nasce o Parnasianismo, uma

corrente que se preocupava com rimas ricas, levando

a poesia à perfeição e ao afastamento da realidade

social (ex: Olavo Bilac).

A cultura popular urbana manifestava-se na

organização dos grupos de bairros que dariam origem

às sociedades carnavalescas, às escolas de samba e

aos conjuntos de chorinho. Também começava a to-

mar impulso, neste momento, a prática daquele que

seria o nosso grande esporte nacional: o Futebol. Nas

artes plásticas, destacaram-se as correntes cubista e

impressionista.

A Cultura imperial sofreu este desenvolvimen-

to após o período de produção cafeeira, pois os ba-

rões eram mais viajados, conheciam outros países e

outras culturas, custeando assim uma produção inte-

lectual mais refinada e um sistema de governo mais

moderno a seu serviço.

ESTUDO DIRIGIDO

1 Que partidos destacaram-se no segundo reinado?

2 Cite duas reivindicações da revolução praieira.

3 Mencione dois fatores que explicam a crise do

Império e a mudança do regime.

EXERCÍCIOS

1 Na segunda metade do século XIX, considerada a

fase do apogeu, ocorreu no Brasil um surto de

crescimento de atividades econômicas. Assinale,

entre as alternativas a seguir, a que corresponde

aos principais fatores que contribuíram para esse

desenvolvimento:

a) Alta das cotações do café no mercado interna-

cional; extinção do tráfico negreiro, com a lei

de Eusébio de Queiroz; construção de estradas

de ferro, facilitando o escoamento da produ-

ção.

Page 6: Segundo Reinado

Editora Exato 35

b) Investimentos particulares em estaleiros, valo-

rização da mão-de-obra negra, passando o ex-

escravo a receber salários; desenvolvimento da

exportação cafeeira.

c) Valorização da mão-de-obra imigrante em

substituição à mão-de-obra escrava; redução

das tarifas alfandegárias; construção de estra-

das de ferro, facilitando as comunicações.

d) A vinda de imigrantes para substituir a mão-

de-obra escrava; a substituição das grandes

propriedades de café por minifúndios; investi-

mentos particulares na plantação de outros

produtos no lugar do decadente café.

2 O declínio da monarquia e a propagação dos ide-

ais republicanos, no final do século passado, li-

gam-se sem dúvida, aos efeitos que a guerra do

Paraguai nos deixou como herança, isto porque:

a) a guerra acelerou as contradições internas, aba-

lando a mais sólida base da monarquia - a es-

cravidão – e fazendo emergir um exército com

consciência de seu poder.

b) a guerra contra a nação paraguaia acarretou pa-

ra o Brasil uma redução considerável de sua

dívida externa, bem como uma crescente influ-

ência política e social do exército.

c) a derrota brasileira obrigou a monarquia a fa-

zer concessões territoriais que abalaram a eco-

nomia, aumentando consideravelmente a

dívida externa do Brasil, o que levou D. Pedro

II a recorrer aos empréstimos ingleses.

d) embora nossa situação econômica se consoli-

dasse com a guerra, a monarquia não procurou

reconciliar as duas facções de nossa política na

época, o partido liberal e o conservador, levan-

do este último a patrocinar o golpe que derru-

bou D. Pedro II.

3 Há mais de século, teve início no Brasil um pro-

cesso de industrialização e crescimento urbano

acelerado. Podemos identificar, como condições

que favoreceram essas transformações:

a) a crise da economia açucareira no nordeste que

propiciou um intenso êxodo rural e uma grande

aplicação de capitais no setor têxtil em outras

regiões do país, mas principalmente na região

norte.

b) o que favoreceu essas transformações foram os

lucros conseguidos com a produção e a comer-

cialização do café, que deram origem ao capi-

tal para a instalação de industrias e importação

de mão-de-obra estrangeira.

c) a crise provocada pela abolição do tráfico ne-

greiro, que favoreceu a criação de leis que le-

galizasse a entrada de estrangeiro no país como

mão-de-obra específica para o setor agrário.

d) a crise da economia agrícola cafeeira, com a

abolição da escravatura, ocasionando a aplica-

ção de capital estrangeiro no setor fabril.

4 Assistiram-se, no decorrer de 1988, às mais di-

versas comemorações dos cem anos de abolição

da escravidão. Ao mesmo tempo, presenciaram-

se protestos de grupos ligados ao movimento ne-

gro contra a idealização da figura da princesa I-

sabel como grande libertadora dos escravos.

I – Os movimentos negros, após a emancipação,

passaram a adotar posições racistas com rela-

ção aos homens brancos brasileiros.

II – A história oficial da escravidão não leva em

consideração toda a luta da raça negra por sua

liberdade.

III – A abolição não libertou os negros da situa-

ção social inferior que lhes foi imposta pelos

brancos escravistas.

IV – A comemoração de um fato histórico não

significa que os negros ocupem na escala eco-

nômica, atualmente, papéis proporcionais aos

dos brancos.

Marque a alternativa CORRETA:

a) Estão corretos somente os itens I, II, III.

b) Estão corretos somente os itens I, III, IV.

c) Estão corretos somente os itens II, III, IV.

d) Todos os itens estão corretos.

GABARITO

Estudo Dirigido

1 Partidos Liberal e Conservador.

2 Voto livre e universal e nacionalização do co-

mércio.

3 A decadência da aristocracia tradicional e as

questões militar, abolicionista e religiosa.

Exercícios

1 A

2 A

3 B

4 C