Se um grão de trigo lançado à terra não morrer, não dá fruto. Mas...

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A Reforma Protestante a desafiar a nossa cultura evangélica Se um grão de trigo lançado à terra não morrer, não dá fruto. Mas se morrer dá muito fruto . (João 12:24) Publicação periódica da Igreja Evangélica Lisbonense (Presbiteriana) Novembro 2018 boletim informativo Grão de Trigo Recordar a Reforma Protestante é celebrar a aproxima- ção do povo às Escrituras, e por isso, ao próprio Jesus, mas é também recordar que esse caminho foi desvirtuado ao se cair num individualismo acérrimo. Hoje, passados mais de 500 anos é tempo de agra- decer a Deus pela forma como Ele usou homens e mulheres para que o seu povo o conhecesse de forma mais profunda, mas também clamar pela sua orientação de forma a que o seu povo passe a viver como povo redimido. João Calvino, como muitos outros reformadores, dizia que se podia inferir quem era ou não salvo pela forma como as pessoas viviam, dentro e fora da Igreja, mas, em última análise, era Deus que sabia quem seria salvo e quem não seria. Ao contrário da Igreja romana, os reformadores defendiam uma fé pessoal. Essa nova ordem exigia uma relação pessoal entre o indivíduo e Deus. Nesse novo contexto relacional com Deus, a Reforma contribuiu para o desenvolvimento do espírito capitalista, pilar da economia moderna. Como defendeu o sociólogo alemão Max Weber em The Protestant Ethic and the Spirit of Capitalism (1904), o capitalismo já existia na Europa antes da Reforma, bastava olhar para a actividade dos banqueiros de então. Porém, era uma sistema limitado pelo contexto religioso e socio-cultural. O Protestantismo veio tornar esse modelo económico muito mais dinâmico. Uma vez que defendia a obrigatoriedade de o cristão ter ser um instrumento nas mãos de Deus na construção de um mundo mais próspero, acabou por se tornar um pilar da modernização. Este espirito nasceu da interpretação de que o ser humano devia continuar a obra criadora de Deus através do tra- balho. Porém, se essa visão possibilitou que se iniciasse um desenvolvimento social, politico e económico a uma velocidade que não era conhecida, também foi catalisador da formação de uma socie- dade que na sua consciência individual, dispensou Deus. Os deuses da sociedade deixaram de ser imagens fabricadas pelas mãos de homens e mulhe- res. Esses deuses passaram a ser conceitos que prevale- ceram sobre a própria definição de ‘ser’ Deus. Deixou de haver uma estátua de Mamon, mas o dinheiro ocupou o lugar de um deus nos corações; deixou de haver estátuas de Ares, mas a guerra continuou a proliferar pelo mundo; deixou de haver imagens de Atenas mas o conhecimento humano sobrepôs-se à vontade de Deus. Porém, hoje, a dificuldade não é ver como a cultura foi influenciada pela Reforma. Desde as artes até à (Continua na página 4 e 5)

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A Reforma Protestante a desafiar a nossa cultura evangélica

Se um grão de trigo lançado à terra não morrer, não dá fruto. Mas se morrer dá muito fruto. (João 12:24)

Publicação periódica da Igreja Evangélica Lisbonense (Presbiteriana) Novembro 2018

boletim informativo

Grão de Trigo

Recordar a Reforma Protestante é celebrar a aproxima-

ção do povo às Escrituras, e por isso, ao próprio Jesus,

mas é também recordar que esse caminho foi desvirtuado

ao se cair num individualismo acérrimo. Hoje, passados

mais de 500 anos é tempo de agra-

decer a Deus pela forma como Ele

usou homens e mulheres para que o

seu povo o conhecesse de forma

mais profunda, mas também clamar

pela sua orientação de forma a que o

seu povo passe a viver como povo

redimido.

João Calvino, como muitos outros

reformadores, dizia que se podia

inferir quem era ou não salvo pela

forma como as pessoas viviam,

dentro e fora da Igreja, mas, em

última análise, era Deus que sabia

quem seria salvo e quem não

seria. Ao contrário da Igreja romana,

os reformadores defendiam uma fé pessoal. Essa nova

ordem exigia uma relação pessoal entre o indivíduo e

Deus.

Nesse novo contexto relacional com Deus, a Reforma

contribuiu para o desenvolvimento do espírito capitalista,

pilar da economia moderna. Como defendeu o sociólogo

alemão Max Weber em The Protestant Ethic and the Spirit

of Capitalism (1904), o capitalismo já existia na Europa

antes da Reforma, bastava olhar para a actividade dos

banqueiros de então. Porém, era uma sistema limitado

pelo contexto religioso e socio-cultural. O Protestantismo

veio tornar esse modelo económico muito mais dinâmico.

Uma vez que defendia a obrigatoriedade de o cristão ter

ser um instrumento nas mãos de Deus na construção de

um mundo mais próspero, acabou por

se tornar um pilar da modernização.

Este espirito nasceu da interpretação

de que o ser humano devia continuar a

obra criadora de Deus através do tra-

balho.

Porém, se essa visão possibilitou que

se iniciasse um desenvolvimento social,

politico e económico a uma velocidade

que não era conhecida, também foi

catalisador da formação de uma socie-

dade que na sua consciência individual,

dispensou Deus.

Os deuses da sociedade deixaram de

ser imagens fabricadas pelas mãos de homens e mulhe-

res. Esses deuses passaram a ser conceitos que prevale-

ceram sobre a própria definição de ‘ser’ Deus. Deixou de

haver uma estátua de Mamon, mas o dinheiro ocupou o

lugar de um deus nos corações; deixou de haver estátuas

de Ares, mas a guerra continuou a proliferar pelo mundo;

deixou de haver imagens de Atenas mas o conhecimento

humano sobrepôs-se à vontade de Deus.

Porém, hoje, a dificuldade não é ver como a cultura foi

influenciada pela Reforma. Desde as artes até à

(Continua na página 4 e 5)

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GRÃO DE TRIGO / IGREJA EVANGÉLICA LISBONENSE (PRESBITERIANA) / 02

Editorial

Olá, bom dia, cá estamos de novo.

O nosso boletim não morreu; e para o seu reaparecimento evocamos o versículo bíblico que lhe deu o nome: “Se um

grão de trigo lançado à terra não morrer, não dá fruto; mas se morrer dá muito fruto” (João, 24:12).

Que frutos dá o nosso boletim? Não sabemos, mas estando convictos de que ele proclama a palavra do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo acreditamos que se inscreve dentro daquelas iniciativas cujo resultado não podemos medir, nem

agora nem nunca, mas que é o nosso Deus quem o usa para sua gloria..

É nosso propósito, no início desta nova fase do boletim, que o GT saia duas vezes por ano; no dia da Reforma e no Do-

mingo de Páscoa. Manterá a sua dupla função informativa e formativa e procurará ser mais um meio de ligação de todos

os membros e amigos da nossa Igreja.

No mês comemorativo da Reforma Protestante, impossí-

vel esquecer do slogan cunhado pelo Reformador Holan-

dês Gisbertus Voetius: «Ecclesia Reformata et Semper

Reformanda Est» que pode ser traduzido como: Igreja

reformada, sempre se reformando.

Essa contínua reforma, não significa que as doutrinas

fundamentais da Igreja podem ser cedidas e que aquela

está aberta a qualquer aculturação, a ponto de tornar-se

mais sofisticada e parecida com o mundo. Na verdade, a

pedra de toque do lema, é um retorno contínuo às Sagra-

das Escrituras e a submissão a Cristo que é Senhor da

Igreja.

Naturalmente, a igreja por ser constituída por seres huma-

nos salvos pela Graça, mas ainda pecadores, acaba por

perder seu foco e objetivo, desviando-se vez após vez do

caminho para o qual foi chamada a trilhar. Por isso que,

ela deve sempre se «reformar».

Entretanto, quais os critérios para que possamos repen-

sar se a igreja do Senhor como um todo e especificamen-

te, aquela comunidade na qual participamos semanal-

mente, precisa de uma nova reforma?

Os escritores e pastores, Kevin DeYoung e Mark Dever,

em dois pequenos artigos, tratam daquilo que eles deno-

minam de 9 marcas de uma igreja doente (artigo do Ke-

vin) e 9 marcas de uma igreja saudável (artigo do Dever).

Penso que, por meio destas listas – que não são taxati-

vas, ou seja, resumem a saúde de uma igreja, mas pode

haver outros critérios de análise para tal – conseguimos

vislumbrar com melhor lucidez se nossas igrejas, preci-

sam de reforma.

Destarte, as nove marcas de uma igreja doente são: 1)

quanto mais periférico o tópico do sermão, mais entusias-

madas as pessoas ficam; 2) os oficiais da igreja não têm

prazer em trabalhar; 3) o pastor/presbíteros e a suas es-

posas não se dão bem; 4) quase ninguém sabe para onde

vai o dinheiro da igreja; 5) a equipa de liderança nunca

muda ou sempre muda; 6) ninguém jamais é levado pela

igreja para o ministério pastoral ou é enviado da igreja ao

serviço missionário; 7) existe uma lentidão exacerbada na

tomada de decisões; 8) a pregação se torna errónea – ou

seja, perde-se a centralidade do evangelho; 9) Há proble-

mas que todos conhecem, mas ninguém conversa aberta-

mente a respeito deles.

Por outro lado, as nove marcas de uma igreja saudável

são: 1) pregação expositiva; 2) teologia bíblica; 3) o evan-

gelho entendido, pregado e vivenciado por todos os mem-

Igreja Doente– Igreja Saudável

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GRÃO DE TRIGO / IGREJA EVANGÉLICA LISBONENSE (PRESBITERIANA) / 03

«Também vocês hão-de dar testemunho de mim, porque estão comigo desde o princípio». (João 15:27)

bros; 4) conversão; 5) evangelismo; 6) membresia com-

prometida; 7) disciplina; 8) discipulado; 9) liderança com-

prometida e fiel ao Senhor.

Creio que diante destas «marcas», podemos e devemos

olhar para nossas igrejas e vermos se elas estão a preci-

sar de reforma. Não existe – pelo menos desse lado da

vida, enquanto o Senhor Jesus não vier buscar sua noiva

– igreja perfeita, por isso que com razão afirmaram: «se

encontrares uma igreja perfeita, não entres lá, pois nesta

ocasião, já não será mais perfeita». Entretanto, o lema

«Ecclesia Reformata et Semper Reformanda Est» conti-

nua a nos lembrar que assim como os apóstolos, os pais

da igreja e uma longa linha de vultos históricos, temos

responsabilidade de zelar pela noiva do Senhor, que é o

coluna e baluarte da verdade (1ª Timóteo 3:15). A Deus

seja dada Glória!

Filipe Francisco

Professor EBD na IELP

DEYOUNG, Kevin. Nove marcas de uma igreja doente.

São Paulo: Voltemos ao Evangelho. Consultado em

«https://voltemosaoevangelho.com/blog/2015/03/9-

marcas-de-uma-igreja-doente/» em 30 de outubro de

2018

DEVER, Mark. Nove marcas de uma igreja saudável.

São Paulo: Fiel, 2007.

Em 24 de Junho,comemoramos o 120º aniversário numa celebração e festa que reuniu mais de 100 pessoas.

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GRÃO DE TRIGO / IGREJA EVANGÉLICA LISBONENSE (PRESBITERIANA) / 04

economia e política é fácil de ver a sua influência. A difi-

culdade é saber porque é que a Reforma hoje encontra

uma barreira na cultura. temo dizer que a culpa passa

muito pela forma como nós cristalizamos a nossa fé,

deixando de sentir e chorar por uma cultura que se en-

contra nas nossas ruas. Como Igreja deixámos de levar

pessoas a Cristo, ficando satisfeitos com os números que

podemos apresentar. Isso é tudo aquilo pelo qual os refor-

madores nunca lutaram. Diferenciamos secular de profa-

no e depois não queremos que a cultura de hoje o faça de

igual modo. Basta que te perguntes. Como vives a tua fé

à segunda-feira?

Os Censos de 2010 diziam que há apenas 77.000 evan-

gélicos em Portugal e na Grande Lisboa esse número

ronda os 35.000. Há 1.600 milhões de católicos, sendo

que, segundo a universidade católica portuguesa, somen-

te 20% são praticantes, ou seja, na grande Lisboa há ape-

nas 350.000 cristãos comprometidos. Quando venho de

barco do Montijo e olho para Lisboa, compreendo que

podíamos fazer muito mais se compreendêssemos que a

reforma não é sinónimo de individualidade, seja de cons-

ciência ou de salvação, mas é sinónimo de vivência real

da fé em Cristo.

Teimamos em achar que a nossa salvação tem que ver

com a nossa moral e não compreendemos que é pura

graça de Deus.

Hoje as Igrejas preocupam-se muito com a sua identida-

de, mas esquecem-se de que a identidade principal do

cristão nasce da filiação ao Pai. Nós somos filhos de

Deus e a nossa missão não é ir pelo mundo e enfiarmo-

nos dentro de uma Igreja, é irmos pelo mundo, ensinando

e baptizando em nome do Pai, do Filho e do Espírito San-

to.

Quando passamos a estudar a Reforma meramente por

motivos históricos, passamos a olhar para o que se

passou no século XVI como um antiquário olha, por

exemplo, para uma cadeira. O antiquário não está interes-

sado em saber se ela é confortável, se dá para nos

sentarmos bem nela, se ela cumpre adequadamente a

função de cadeira. Basicamente a preocupação resume-

se à sua idade, ao seu estado de conservação e, princi-

palmente, a quem pertenceu. Isto determinará o valor da-

quele objeto para o antiquário e, consequentemente, o

seu estudo é motivado por

essa visão.

Esse é também o desafio de

hoje: uma coisa é olhar para

trás e louvar homens e

mulheres famosos, mas isso

pode ser pura hipocrisia se

não aceitamos, no presente,

aqueles que pregam a mensagem de Lutero, de Calvino

e de tantos outros. São as Igrejas protestantes de hoje

verdadeiras filhas da Reforma, honrando esses grandes

profetas de Deus?

Mas existe uma forma correta de relembrar o passado

que podemos retirar do que acabámos de dizer, que a

Bíblia em Hebreus 13.7-8, nos esclarece:

“Lembrai-vos dos vossos guias, os quais vos pregaram a

palavra de Deus; e, considerando atentamente o fim da

sua vida, imitai a fé que tiveram. Jesus Cristo, ontem e

hoje, é o mesmo e o será para sempre.”

A maneira correta de relembrar a Reforma é, portanto,

verificar a mensagem, a Palavra de Deus, como foi pro-

clamada, e isso não apenas por um interesse histórico de

"antiquário," mas para que possamos imitar a fé demons-

trada pelos reformadores. Devemos observar aqueles

eventos e aqueles homens, para que possamos aprender

deles e seguir o seu exemplo, discernindo a sua mensa-

gem e aplicando-a aos nossos dias.

Claro que pessoas como Wicliffe, Huss, Lutero, Calvino,

Zwinglio, Knox e tantos outros influenciaram fortemente a

mente dos protestantes, e também dos católicos roma-

nos, há que recordar que a resposta da Igreja católica ao

movimento reformador protestante foi a contra-reforma da

Igreja de Roma. Mas nada do que disseram teria sido pro-

pagado, ou sequer aceite, se estes homens não tivessem

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GRÃO DE TRIGO / IGREJA EVANGÉLICA LISBONENSE (PRESBITERIANA) / 05

vivido à luz daquilo que anunciavam. Eles criam e viviam

segundo a fé que proclamavam.

Já imaginaram quando as regras institucionais forem me-

nos importantes do que o desejo de intimidade com Je-

sus? Estarmos tão perto de Jesus que podemos sentir o

calor do seu corpo, o cuidado dos seus gestos, a correção

que nasce da sua preocupação. Já pegaram numa

criança ao colo e a abraçaram? Já imaginaram quando

nós nos sentirmos essas crianças nos braços de Jesus…

completamente amados, completamente aceites… Só

nesse momento poderemos crescer e nos tornarmos

adultos sem complexos ou desejos de impor a nossa

identidade ao próximo. A identidade que a Reforma nos

recorda que temos de expressar é a centralidade de

Jesus, fundada na graça imerecida de Deus que nos

sustenta e que nos leva a dar glória somente a Deus. Se-

jamos Presbiterianos, congregacionais, luteranos, meto-

distas, ortodoxos, católicos, assembleianos… antes disso

tudo, somos filhos de Deus.

Talvez seja bom recordar que Deus não nos criou para

sermos denominacionais, mas também não nos criou pa-

ra não o sermos. Romanos 8:29 recorda que “aqueles

que Deus de antemão conheceu também os predestinou

para serem semelhantes ao seu Filho”.

Wicliffe, Huss, Lutero, Calvino, Zwinglio, Knox e tantos

outros foram excelentes teólogos, como o foram, Mestre

Eckhart, Francisco de Assis, Tomás de Aquino, von

Balthasar; ou Gregório de Nissa, Policarpo de Esmirna,

Irineu de Lyon, Origenes, João Crisóstomo, Cipriano de

Cartago, entre tantos outros. Mas o que ele fizeram foi

viver segundo a fé que Deus lhe colocou no coração.

No dia em que procurarmos sermos semelhantes ao Filho

de Deus, tudo o demais se torna secundário.

O desafio é grande, mas somente assim poderemos ser

transformados e andar de fé em fé.

A Deus seja dada a honra e a glória, agora e para sem-

pre.

Luís de Matos

Pastor da Igreja Evangélica Lisbonense (Presbiteriana) Em 7 de Outubro, culto conjunto com o Harburger Kammerchor

(Coro de Câmara de Hamburgo)

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Quem são os arménios e a sua Igreja

Se algum povo existe que testemunhou com sangue e sofrimento o seu compromisso com Jesus Cristo é, sem dúvida o

povo Arménio!

Povo de origem lendária e remota, filhos de Hayak, de

língua e cultura indo-europeia, habitaram e habitam a re-

gisão da Ásia Menor, ou Anatólia Oriental, junto aos Mon-

tes do Cáucaso. O Monte Ararat, com mais de cinco mil

metros, localizado hoje em território turco, constitui o sím-

bolo nacional dos arménios.

A região acima referida foi lugar de cruzamento de civili-

zações e povos de culturas diferentes e oponentes: gre-

gos, persas, árabes e turcos, estes últimos vindos das

estepas da Ásia Central. Perante todos eles, os arménios

resistiram à assimilação e ao aniquilamento, mantendo

tenazmente a sua cultura e identidade religiosa.

Originariamente pagãos, adoradores de deuses aparenta-

dos à mitologia iraniana, nomeadamente àquela que está

relacionada com o Deus iraniano Ahura-Mazda, pai de

todos os deuses, cirador do Céu e da Terra, e que era

adorado sob o nome de Aramzad.

Muito mais tarde, e segundo a lenda e tradição arménia, o

Evangelho começou a ser pregado por Tadeu, no sul do

país, e pelo apóstolo Bartolomeu na sua região norte. Por

essa razão eles são considerados os primeiros iluminado-

res dos textos antigos da Arménia. O numero de converti-

dos cresceu consideravelmente entre os séculos II e III

após Cristo. Tertuliano, grande teólogo cristão, afirma

nos seus escritos que os arménios estavam representa-

dos em Jerusalém no dia do Pentecostes. Foram muito

perseguidos inicialmente e depois a partir do ano 277

d.C.. sob o reinado de Trdat (N.R. Tiridates III).. Mas foi

durante o seu reinado que o cristianismo finalmente triun-

fa. Trdat é convertido ao cristianismo por Gregório, o Ilu-

minador, o segundo iluminador da Arménia, atribuindo-se

-lhe um milagre durante o processo de conversão. Entre

os anos 301-314 d.C. o cristianismo tornou-se religião

oficial da Arménia, antes de Constantino declarar o cristi-

anismo como religião oficial de Roma. Pode dizer-se, as-

sim, que a Arménia é o primeiro pais e Estado a declarar

o cristianismo como religião nacional e oficial.

No sec. V (405) aparece o alfabeto arménio, lindíssimo,

que ainda hoje é utilizado pelos arménios em todo o mun-

do. Milhares de manuscritos estão guardados em Yere-

vam, capital da Arménia. Mais tarde, em virtude do Concí-

lio da Calcedónia (451 d.C.), e do errado entendimento da

tradição arménia pelos Igrejas Católica e Ortodoxa, os

arménios foram considerados monofisitas – aquelas que

acreditam numa só natureza de Jesus Cristo, a Divina!

Juntaram-se à Igreja Arménia a Igreja Copta do Egipto e a

Igreja da Etiópia. Até aos dias de hoje o equivoco mante-

ve-se, apesar de um muitos aspectos estar ultrapassado

face ao movimento ecuménico e à melhor compreensão

doutrinal.

A Igreja Arménia denomina-se oficialmente como Igreja

Apostólica Ortodoxa Arménia, e tem como líder a figura

do Catholikos, que vive em Etchimiadzin, cidade da Repú-

blica Arménia. A Igreja da Arménia faz parte, juntamente

com a nossa Igreja, do Conselho Mundial de Igrejas, e é

muito considerada e respeitada no mundo cristão. Tam-

bém há entre os cidadãos arménios alguns protestantes e

católicos.

Nos tempos mais recentes, os arménios foram objecto de

genocídio e de extermínio cultural por parte dos turcos,

primeiro em 1890-1900, depois entre 1915-1916. Durante

esse período foram mortos mais de um milhão de armé-

nios. Este facto faz-nos pensar e duvidarda pretensa tole-

rância religiosa por parte dos muçulmanos e do Islão.

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“Porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está

escrito: Mas o justo viverá pela fé.” Romanos 1:17

Hoje, e após o desaparecimento da União Soviética, a

Arménia é um pais independente com 29800 km2 e

3500.000 de habitantes e uma forte e poderosa comuni-

dade emigrada pelo quatro cantos do mundo.

Terminado este artigo cito uma curiosidade que muitos

portugueses talvez não saibam: Calouste Gulbenkian,

figura importante para a história moderna de Portugal

através da sua Fundação, era arménio.

NOTA: Quem queira conhecer melhor a civilização armé-

nia e o seu povo sugiro que leia o livro “Os Arménios” de

Sirarpie Der Nersessian, publicado pela editora Verbo, em

português.

Miguel Ângelo Jardim

Artigo publicado no Grão de Trigo de Abril de 1999

Cronologia de Martinho Lutero

• 10 de Novembro de 1483

Nasce na localidade ale-

mã de Eisleben (Saxónia)

• 1515-1516

Escreve um comentário da

Epistola de Romanos

• 31 de Outubro de 1517

Afixa as 95 teses na porta

da Igreja do Castelo de

Wittenberg

• 1518

Reafirma as suas opiniões

em Roma

• Junho de 1519

Debate público em Leip-

zig com o dominicano

Johann von Eck

• 1520

Redige o manifesto à no-

breza alemã. O cativeiro na

Babilónia e a liberdade do

cristão

• 3 de Janeiro de 1521

É excomungado

• 1521-22

Esconde-se no Castelo de

Wartburg e traduz o Novo

Testamento

• 1525

Casamento com Catarina

de Bora

• 1530

Aprovação da Confissão de

Augsburgo

• 1534

Publicação da Bíblia em

Alemão

• 18 de Fevereiro de 1546

Morre em, Eisleben

Qualquer ensinamento que não se enquadre nas escrituras

deve ser rejeitado, mesmo que faça chover milagres todos

os dias” - LUTERO

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Serviços

Domingo - 11:00h

Culto

Escola Dominical - crianças

Domingo - 12:30h

Escola Dominical - jovens e adultos

4ª feira - 17:30h

Reunião de oração

GRÃO DE TRIGO / IGREJA EVANGÉLICA LISBONENSE (PRESBITERIANA) / 08

FICHA TÉCNICA: Igreja Evangélica Lisbonense (Presbiteriana) Rua Febo Moniz, 17-19, Anjos, 1150-152 Lisboa; Tel. 21 314 99 75; ge-

[email protected]; www.igrejalisbonense.org; www.facebook.com/igrejaevangelicaisbonense

Como chegar: Metro Linha Verde (Anjos) * Carris 208, 708, 712, 726, 730

EQUIPA: Coordenação: Conselho Presbiteral; COLABORADORES: David Valente, Filipe Francisco, Jaime Fernandes, Luís de Matos, Miguel

Ângelo Jardim, Sónia Valente

Atividades

Mateus, nasceu a 14 de Julho,

filho do pastor Luís de Matos e de

sua esposa Alexandra de Matos.

Que Deus abençoe esta família e

especialmente o novo membro.

FESTA DE NATAL

BAZAR

9 de Dezembro

Celebração e partilha!

Notícias

Em 15 de Julho, agradecimento pela licenciatura da Ir. Deborah

Costa

Em 22 de Julho, encerramento da Escola Bíblica Dominical Em 21de Julho, picnic e ida ao teatro (encerramento da EBD)