“Se Pudesse Voltar Atrás, Não Recorreria Ao Mercado”
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Jornal Valor --- Página 6 da edição "19/07/2013 1a CAD B" ---- Impressa por ivsilva às 18/07/2013@21:26:19
B6 | Valor | Sexta-feira e fim de semana, 19, 20 e 21 de julho de 2013
Enxerto
Jornal Valor Econômico - CAD B - EMPRESAS - 19/7/2013 (21:26) - Página 6- Cor: BLACKCYANMAGENTAYELLOW
Empresas | I n d ú st r i a
“Se pudesse voltar atrás, não recorreria ao mercado”ArtigoEike BatistaPara o Valor
Ao longo dos últimos meses,decidi que não me pronunciariasobre a avalanche que se abateusobre minha vida privada e prin-cipalmente sobre meus negó-cios. Mudei de ideia nos últimosdias diante da grande insistênciade amigos próximos e alguns demeus executivos. Venho a públi-co então submeter à reflexão as-pectos que têm passado embranco quando se analisa minhatrajetória empresarial.
Eu me tornei um empreende-dor ainda no início dos anos 80,quando me aventurei no garim-po da Amazônia. Aprendi bas-tante em regiões de fronteira,ambientes hostis à atividadeprodutiva, enormes dificuldadesde toda ordem para transportarequipamentos, surtos de malá-ria que me obrigaram a substi-tuir equipes inteiras da noite pa-ra o dia, o desafio de extrair mi-nério em locais quase inacessí-veis e meu próprio questiona-mento em torno das possibilida-des de êxito diante das adversi-dades que se apresentavam. Aca-bei por me tornar proprietáriode minas em diversos países edecidi estabelecer-me em defini-tivo no Brasil e me desfazer dasparticipações que detinha naárea de mineração.
Muitas vezes as pessoas imagi-nam que surgi do nada, em meioa uma febre desenfreada de aber-turas de capital, e que surfei naonda de um mercado em altaque, sem qualquer razão aparen-te, me ofereceu um cheque embranco com algumas dezenas debilhões para que eu pudessebrincar de empreender. Nestesúltimos anos aprendi muito, er-rei e acertei em diversos projetoscontribuindo para geração de ri-queza para terceiros, para mim eprincipalmente para investido-res. Se algum dia mereci a con-fiança do mercado, foi porquehavia uma trajetória de mais de30 anos de muito trabalho, desa-fios superados, sucesso e uma ca-pacidade comprovada de cum-prir compromissos.
Como entendo que a OGX es -tá na origem da crise de credibi-lidade que se abateu sobre meunome e que acabou por turvar asrealizações e conquistas de em-presas como MPX, MMX e LLX,começo por ela.
O que aconteceu desde que fi-cou claro que a OGX não estariaapta a apresentar os resultadosque um dia pareceu possível al-cançar? Eu me tornei de repenteum aventureiro inconsequenteque arregimenta recursos paraseu próprio benefício e não seimporta se entregará o que ha-via anunciado? Hoje é difícillembrar, mas a OGX foi cons-truída por algumas das cabeçascoroadas por décadas de servi-ços prestados a empresas de re-nome. Eu não investi na indús-tria do petróleo sem me cercardaqueles que eu e o mercado en-tendíamos estar entre os mais
capacitados profissionais comque se podia contar. Ao arrema-tar os campos que arrematou, aexpectativa em torno da OGXera altíssima. Esta mesma expec-tativa parecia uma irrelevânciadiante dos prognósticos que re-cebi de diversas empresas inde-pendentes no mercado do pe-tróleo. Uma delas foi a DeGolyer& MacNaughton (D&M). Deacordo com um relatório divul-gado em 2011, auditado porempresas independentes de re-nome internacional, a OGX pos-suiria recursos aproximados de10,8 bilhões de barris de petró-leo equivalente (incluídos recur-sos contingenciais e prospecti-vos). Meu corpo técnico me rea-firmava, dia após dia, a mesmacoisa. Minhas empresas eramauditadas por três das maioresagências de risco do mundo, enunca uma delas veio a mim oua público alertar que não erabem assim.
Evidentemente, eu estava exta-siado com as informações queme chegavam. Podia tê-las guar-dado para mim? Não, eu era ocontrolador de uma companhiade capital aberto e o que fiz foicompartilhar todo aquele es-plendor e respectivos desafioscom o mercado, além dos riscosenvolvidos e chances de sucessoneste negócio de tão alto risco.
Tive ofertas para vender fatiasexpressivas ou mesmo o controleda OGX a partir de um valuationde 30 bilhões de dólares. Há doisanos, coloquei mais um bilhãode dólares do meu bolso na com-panhia. Eu perdi e venho perden-do bilhões de dólares com a OGX.Alguém que deseja iludir o pró-ximo faz isso a um custo de bi-lhões de dólares? Se eu quisesse,poderia ter realizado uma vendaprogramada de 100 milhões dedólares por semestre ao longo de5 anos. Eu teria embolsado 5 bi-lhões de dólares e ainda assimpermaneceria no controle daOGX. Mas não o fiz. Quem maisperdeu com a derrocada no valorda OGX foi um acionista: Eike Ba-tista. Ninguém perdeu tantoquanto eu, e é justo que assim se-ja. Eu investi em um negócio derisco. É injusto e inaceitável, poroutro lado, ouvir que induzi deli-beradamente alguém a acreditarnum sonho ou numa fantasia.Quem mais acreditou na OGX fuieu. Continuo acreditando e porisso estamos, nestes últimos me-ses, reinventando a companhia.Não desistirei deste desafio.
A OGX tem sido alvo de todo ti-po de movimento especulativo,com vendas a descoberto no mer-cado e vazamentos de informa-ções (falsas ou verdadeiras) nu-ma escala sem precedentes e to-talmente irresponsável. Muitagente ganhou dinheiro com aOGX por conta de toda esta exces-siva especulação. Muitos tambémtêm perdido dinheiro assim.
Sou solidário com os investido-res que acreditaram na OGX emsua origem e que me honraramcom sua confiança naquele mo-mento ou mesmo depois, quan-do parecia que a companhia en-tregaria resultados de grande
magnitude. O que posso dizer aessas pessoas é que acreditei nes-te cenário tanto quanto elas. In-vesti e continuo investindo quasetodo meu patrimônio, tempo ededicação na OGX e nas demaisempresas X. E lamento profunda-mente não ver confirmados osprognósticos de consultorias derenome, auditados por agênciasde idêntico renome e referenda-dos por executivos de renome.
Sou um otimista incorrigívelem relação a meu país, a meus ne-gócios e às pessoas que me cer-cam. Ao longo de minha ativida-de empresarial, os êxitos e con-quistas superaram largamentefracassos e erros. Mas os fracassosaconteceram e eu nunca os es-condi. Tive experiências mal suce-didas com a fabricação de jipes,com uma empresa concebida pa-ra concorrer com os Correios,com algumas minas fora do Brasildas quais tive de abrir mão por fa-tores diversos. Mas eu nunca dei-xei de ser transparente, pagarninguém e nem de honrar meuscompromissos. Sempre mirei ati-vidades de alto risco com possibi-lidades de elevados retornos paraparceiros e acionistas. Mineraçãoé uma atividade de risco. Extraçãode petróleo é uma atividade de al-to risco. As promessas de retornosão elevadas, num caso e noutro,mas o risco é grande. Isso jamaisfoi escondido, faço questão depontuar novamente.
Mais do que ninguém, mepergunto onde errei. O que de-veria ter feito de diferente? Umaprimeira questão talvez esteja li-gada ao modelo de financia-mento que escolhi para as em-presas. Hoje, se pudesse voltarno tempo, não teria recorrido aomercado de ações. Eu teria es-truturado um private equity queme permitisse criar do zero e de-senvolver ao longo de pelo me-
nos 10 anos cada companhia. Etodas permaneceriam fechadasaté que eu estivesse seguro deque havia chegado o momentode abrir o capital. Nos projetosque concebi, o tempo se reveloufator de estresse vital para a re-versão de expectativas sobrecompanhias que ostentam re-sultados amplamente satisfató-rios e possuem ativos valiosos.
Nos casos de MPX, MMX e LLX, adepreciação do valor de mercado éclaramente incompatível com oque têm a oferecer. Estes últimosinvestimentos que efetuei tiveramcomo importante motivação con-tribuir para um Brasil mais compe-titivo, estruturado logisticamentee capaz de proporcionar um futu-ro melhor para o conjunto de suapopulação. A MPX possui a maiorcarteira de projetos licenciados dopaís. Ela se tornou modelo no con-ceito de térmicas ao longo da costae gera hoje 2 mil megawatts, o sufi-ciente para alimentar a cidade doRio de Janeiro. Em pleno cenáriode crise energética, foi dito publi-camente por um membro da Ane-el que, graças à MPX, não haveriaapagão ou racionamento de ener-gia. A MMX já produz 7 milhões detoneladas anuais de minério deferro e conta com um ativo de im-portância estratégica vital, o Portodo Sudeste. Graças a ele será possí-vel extrair minério de ferro de Mi-nas Gerais e exportar a partir doquadrilátero ferrífero com amplarepercussão para a logística e paraa balança comercial. A LLX contacom o Porto do Açu, polo indus-trial para os setores de petróleo epara o transporte de cargas em ge-ral e a granel. É um porto-indústriaque revela, em escala crescente,sua capacidade de atrair novasparceiras para sua retroárea deaproximadamente 90 km2. Dentreas empresas que já se instalaramou estão se instalando no Açu, es-
tão Te c h n i p, National Oilwell Var-co (NOV), B P, GE, Wa r t s i l a e Vallou -rec, todas grandes corporações in-ternacionais que acreditam nosmeus negócios e no Brasil.
As pessoas ainda comentamque sou o cara do papel, dopower point. Por que não visitamo Porto do Açu? Por que não visi-tam o Porto do Sudeste? Por quenão visitam as plantas da MPX? Éjustamente o oposto do que setem falado: sou o cara da econo-mia real, que, mesmo com mui-tos obstáculos, coloca as coisasde pé. No pico das obras de meusempreendimentos, 30 mil pes-soas estavam empregadas tor-nando concreto o que até entãoeram apenas sonhos. Isso é pa-pel? Trinta mil pessoas em ativi-dade? Eu realmente gostaria quetodos os que duvidam de minhacapacidade de entregar pudes-sem visitar o Porto do Sudeste e oPorto do Açu e as térmicas daMPX já em operação. É um convi-te que gostaria de fazer a todos.São empreendimentos para oBrasil, para o futuro do país. Meusentimento é de que, em poucotempo, as pessoas vão olhar paratrás e pensar que pude oferecerminha contribuição ao desenvol-vimento do sistema logísticobrasileiro. Coloquei 2 bilhões dedólares do meu bolso na constru-ção de um estaleiro por acreditarnas encomendas da OGX. No to-tal, investi mais de 4 bilhões dedólares em recursos próprios nasempresas X.
Tomei a decisão de reestrutu-rar o controle das companhias.Faço isso com a certeza de que te-nho um legado a deixar ao país, enão abrirei mão de colaborar nacondição de acionista relevanteem cada companhia. Honrareitodos os meus compromissos.Não deixarei de pagar um únicocentavo de cada dívida que con-traí. Acredito no meu país e nun-ca desistirei de investir recursospróprios em ativos que contri-buem para toda a sociedade.
Eu me enxergo e continuarei ame enxergar como um parceirodo Brasil. Acho que cumpri essepapel ao conceber e entregarprojetos que terão uma impor-tância crucial nas próximas dé-cadas. Falhei e decepcionei mui-tas pessoas, em especial por con-ta da reversão de expectativas daOGX. Esta reversão contaminoutodo o Grupo X e acarretou umdéficit de credibilidade com oqual nunca me deparei em mi-nha trajetória. Mas o fato é quefui tão surpreendido quanto ca-da um de meus investidores, co-laboradores e todo o mercado.Esta é a verdade. Hoje me sintofrustrado por não ter sido capazde entregar o que eu mesmo es-perava nos casos da OGX e daOSX, esta última concebida emparte para oferecer suporte àprimeira em suas atividades.Mas acredito que a OGX reestru-turada se tornará um player re-levante no setor em que atua, as-sim como confio numa OSX re-dimensionada a partir de umnovo cenário.
Sempre agi de boa-fé e sempreo farei. Acho que era isso o que
mais gostaria de dizer e que, as-sim espero, sintetiza meu percur-so empresarial nos últimos cincoanos. Com minha estrutura de ca-pital equacionada, continuarei aempreender e tenho convicção deque ainda vou gerar riqueza nova-mente e deixar um país melhorcom estes ativos que criei do zero.Eu talvez faça isso agora sem omesmo peito aberto de antes. Tal-vez tenha confiado demais empessoas que não mereciam estaconfiança, ainda que no final aresponsabilidade seja toda mi-nha. Com certeza eu também nãome submeteria à exposição públi-ca excessiva de tempos recentes,da qual me arrependo sobretudopor haver exposto igualmente mi-nha família e meus amigos a umacuriosidade indesejada.
O orgulho de erguer do nadatantas empresas em tempo tãocurto me colocou no centro dopalco e eu me vi como o porta-voz de um novo empreendedor,que não tem vergonha de exporsuas conquistas e mostrar que épossível gerar riqueza e ao mes-mo tempo contribuir com o de-senvolvimento do país. Tenhoconsciência de que fui um sím-bolo para as pessoas, a represen-tação de um Brasil que prospera,que dá certo e está preparadopara desempenhar um papel depreponderância global. A des-truição de valor dos meus negó-cios colocou por terra talvez osonho de muita gente que acre-ditou na possibilidade de partirdo zero e se tornar um empreen-dedor de sucesso. Espero queelas procurem enxergar o quedeu certo em minha trajetória epeço que esperem alguns anospara uma avaliação mais defini-tiva do que terei sido capaz deconstruir com o apoio dos queacreditaram e dos que aindaacreditam em mim. Houve mui-tos acertos e eles ficarão maisevidentes em tempo não tão lon-go. Não me refiro apenas aos ne-gócios propriamente ditos. Nes-tes últimos cinco anos, apoieicausas de naturezas diversas, queme levaram a investir centenasde milhões de reais próprios emprojetos de interesse público esocial ou mesmo de caráter hu-manitário, principalmente na Ci-dade do Rio de Janeiro, o que ho-je é esquecido por muitos. Issoeu faria e farei novamente se es-tiver a meu alcance.
Nos últimos meses, meu obi-tuário empresarial tem ocupadoas páginas de blogs, jornais e re-vistas. Só posso dizer que me vejomuito longe deste Eike aposenta-do. Tenho 57 anos e muita ener-gia para arregaçar mangas e tirardo papel novos projetos. Sou umempreendedor brasileiro, acre-dito no que faço, amo meu país.A cada dia, minha cabeça fervilhacom ideias novas, que nascem donada e tomam forma aos poucos.Eu me alimento desta capacida-de de sonhar e de realizar. Em-preender está no meu sangue, nomeu DNA. É minha fonte inesgo-tável de energia e de vida.
O empresário Eike Batista é presiden-te e controlador do grupo EBX
PATRICK FALLON/BLOOMBERG
Eike: “Continuo acreditando na OGX e estamos reinventando a companhia”
EBX pede mais prazo ao BNDES para dívidas da OSXClaudia Schüffner eAlessandra SaraivaDo Rio
O grupo EBX já pediu ao BN -DES a prorrogação do pagamentode parcela de dívida da OSX, em-presa de construção naval e afre-tamento de plataformas, que ven-ce em agosto. O Va l o r apurou queo pedido está em análise, mas ain-da não foi aprovado pela diretoriada instituição. Procurado, o BN-
DES não confirmou a informação.Segundo balanços das compa-
nhias do grupo, o próximo venci-mento é uma parcela de R$ 491milhões (incluindo juros), em 15de agosto. Ainda de acordo comos balanços, essa parcela se referea empréstimo-ponte de R$ 427,6milhões obtido pela OSX em2011 para implantar o estaleiroem São João da Barra (RJ), ondeestá sendo erguido o Porto doAçu. Segundo a OSX, o prazo de
pagamento dessa dívida é de 18meses (vencimento em 15 deagosto de 2013), sendo principale juros “pagos ao final do períodoou no primeiro desembolso doempréstimo de longo prazo doFundo de Marinha Mercante.”
Em 15 de setembro vence em-préstimo da LLX com o banco defomento, no valor de R$ 536,51milhões, incluindo juros. No iní-cio do mês, a instituição divul-gou nota informando que o valor
total das operações contratadascom o grupo EBX é de R$ 10,4 bi-lhões. No mesmo comunicado, obanco detalhou que, do volumetotal contratado, nem tudo foi li-berado, já que os desembolsos,de acordo com a praxe em proje-tos apoiados pelo BNDES, ocor-rem ao longo do período de exe-cução dos empreendimentos. Noinforme, o banco afirmou aindaque sua exposição direta atual aoGrupo EBX é de uma parcela
muito pequena do PatrimônioLíquido de Referência do BNDES– sem mencionar, contudo, dequanto seria essa parcela.
O total contratado pela OSXcom BNDES soma R$ 1,34 bilhão.Desse valor, R$ 400 milhões fo-ram creditados à companhia namodalidade “p o n t e”. Esse perfilpermite que uma empresa peguefinanciamento junto ao bancocom o objetivo de agilizar a reali-zação de investimentos para pro-
jeto específico — sendo que essevalor, mais tarde, será estrutura-do como parte de uma operaçãode longo prazo, destinada a bene-ficiar o empreendimento. Na prá-tica, os recursos funcionam comouma espécie de adiantamentopara a empresa do valor total docrédito de longo prazo, a seraprovado pelo banco. De todas asoperações contratadas pelas em-presas “X” junto ao banco, a refe-rente à OSX é a de maior volume.
G ove r n a n ç a “Quem mais perdeu com a derrocada no valor da OGX foi um acionista; Eike Batista”