“Se Pudesse Voltar Atrás, Não Recorreria Ao Mercado”

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B6 | Valor | Sexta-feira e fim de semana, 19, 20 e 21 de julho de 2013 Empresas | Indústria “Se pudesse voltar atrás, não recorreria ao mercado” Artigo Eike Batista Para o Valor Ao longo dos últimos meses, decidi que não me pronunciaria sobre a avalanche que se abateu sobre minha vida privada e prin- cipalmente sobre meus negó- cios. Mudei de ideia nos últimos dias diante da grande insistência de amigos próximos e alguns de meus executivos. Venho a públi- co então submeter à reflexão as- pectos que têm passado em branco quando se analisa minha trajetória empresarial. Eu me tornei um empreende- dor ainda no início dos anos 80, quando me aventurei no garim- po da Amazônia. Aprendi bas- tante em regiões de fronteira, ambientes hostis à atividade produtiva, enormes dificuldades de toda ordem para transportar equipamentos, surtos de malá- ria que me obrigaram a substi- tuir equipes inteiras da noite pa- ra o dia, o desafio de extrair mi- nério em locais quase inacessí- veis e meu próprio questiona- mento em torno das possibilida- des de êxito diante das adversi- dades que se apresentavam. Aca- bei por me tornar proprietário de minas em diversos países e decidi estabelecer-me em defini- tivo no Brasil e me desfazer das participações que detinha na área de mineração. Muitas vezes as pessoas imagi- nam que surgi do nada, em meio a uma febre desenfreada de aber- turas de capital, e que surfei na onda de um mercado em alta que, sem qualquer razão aparen- te, me ofereceu um cheque em branco com algumas dezenas de bilhões para que eu pudesse brincar de empreender. Nestes últimos anos aprendi muito, er- rei e acertei em diversos projetos contribuindo para geração de ri- queza para terceiros, para mim e principalmente para investido- res. Se algum dia mereci a con- fiança do mercado, foi porque havia uma trajetória de mais de 30 anos de muito trabalho, desa- fios superados, sucesso e uma ca- pacidade comprovada de cum- prir compromissos. Como entendo que a OGX es- tá na origem da crise de credibi- lidade que se abateu sobre meu nome e que acabou por turvar as realizações e conquistas de em- presas como MPX, MMX e LLX, começo por ela. O que aconteceu desde que fi- cou claro que a OGX não estaria apta a apresentar os resultados que um dia pareceu possível al- cançar? Eu me tornei de repente um aventureiro inconsequente que arregimenta recursos para seu próprio benefício e não se importa se entregará o que ha- via anunciado? Hoje é difícil lembrar, mas a OGX foi cons- truída por algumas das cabeças coroadas por décadas de servi- ços prestados a empresas de re- nome. Eu não investi na indús- tria do petróleo sem me cercar daqueles que eu e o mercado en- tendíamos estar entre os mais capacitados profissionais com que se podia contar. Ao arrema- tar os campos que arrematou, a expectativa em torno da OGX era altíssima. Esta mesma expec- tativa parecia uma irrelevância diante dos prognósticos que re- cebi de diversas empresas inde- pendentes no mercado do pe- tróleo. Uma delas foi a DeGolyer & MacNaughton (D&M). De acordo com um relatório divul- gado em 2011, auditado por empresas independentes de re- nome internacional, a OGX pos- suiria recursos aproximados de 10,8 bilhões de barris de petró- leo equivalente (incluídos recur- sos contingenciais e prospecti- vos). Meu corpo técnico me rea- firmava, dia após dia, a mesma coisa. Minhas empresas eram auditadas por três das maiores agências de risco do mundo, e nunca uma delas veio a mim ou a público alertar que não era bem assim. Evidentemente, eu estava exta- siado com as informações que me chegavam. Podia tê-las guar- dado para mim? Não, eu era o controlador de uma companhia de capital aberto e o que fiz foi compartilhar todo aquele es- plendor e respectivos desafios com o mercado, além dos riscos envolvidos e chances de sucesso neste negócio de tão alto risco. Tive ofertas para vender fatias expressivas ou mesmo o controle da OGX a partir de um valuation de 30 bilhões de dólares. Há dois anos, coloquei mais um bilhão de dólares do meu bolso na com- panhia. Eu perdi e venho perden- do bilhões de dólares com a OGX. Alguém que deseja iludir o pró- ximo faz isso a um custo de bi- lhões de dólares? Se eu quisesse, poderia ter realizado uma venda programada de 100 milhões de dólares por semestre ao longo de 5 anos. Eu teria embolsado 5 bi- lhões de dólares e ainda assim permaneceria no controle da OGX. Mas não o fiz. Quem mais perdeu com a derrocada no valor da OGX foi um acionista: Eike Ba- tista. Ninguém perdeu tanto quanto eu, e é justo que assim se- ja. Eu investi em um negócio de risco. É injusto e inaceitável, por outro lado, ouvir que induzi deli- beradamente alguém a acreditar num sonho ou numa fantasia. Quem mais acreditou na OGX fui eu. Continuo acreditando e por isso estamos, nestes últimos me- ses, reinventando a companhia. Não desistirei deste desafio. A OGX tem sido alvo de todo ti- po de movimento especulativo, com vendas a descoberto no mer- cado e vazamentos de informa- ções (falsas ou verdadeiras) nu- ma escala sem precedentes e to- talmente irresponsável. Muita gente ganhou dinheiro com a OGX por conta de toda esta exces- siva especulação. Muitos também têm perdido dinheiro assim. Sou solidário com os investido- res que acreditaram na OGX em sua origem e que me honraram com sua confiança naquele mo- mento ou mesmo depois, quan- do parecia que a companhia en- tregaria resultados de grande magnitude. O que posso dizer a essas pessoas é que acreditei nes- te cenário tanto quanto elas. In- vesti e continuo investindo quase todo meu patrimônio, tempo e dedicação na OGX e nas demais empresas X. E lamento profunda- mente não ver confirmados os prognósticos de consultorias de renome, auditados por agências de idêntico renome e referenda- dos por executivos de renome. Sou um otimista incorrigível em relação a meu país, a meus ne- gócios e às pessoas que me cer- cam. Ao longo de minha ativida- de empresarial, os êxitos e con- quistas superaram largamente fracassos e erros. Mas os fracassos aconteceram e eu nunca os es- condi. Tive experiências mal suce- didas com a fabricação de jipes, com uma empresa concebida pa- ra concorrer com os Correios, com algumas minas fora do Brasil das quais tive de abrir mão por fa- tores diversos. Mas eu nunca dei- xei de ser transparente, pagar ninguém e nem de honrar meus compromissos. Sempre mirei ati- vidades de alto risco com possibi- lidades de elevados retornos para parceiros e acionistas. Mineração é uma atividade de risco. Extração de petróleo é uma atividade de al- to risco. As promessas de retorno são elevadas, num caso e noutro, mas o risco é grande. Isso jamais foi escondido, faço questão de pontuar novamente. Mais do que ninguém, me pergunto onde errei. O que de- veria ter feito de diferente? Uma primeira questão talvez esteja li- gada ao modelo de financia- mento que escolhi para as em- presas. Hoje, se pudesse voltar no tempo, não teria recorrido ao mercado de ações. Eu teria es- truturado um private equity que me permitisse criar do zero e de- senvolver ao longo de pelo me- nos 10 anos cada companhia. E todas permaneceriam fechadas até que eu estivesse seguro de que havia chegado o momento de abrir o capital. Nos projetos que concebi, o tempo se revelou fator de estresse vital para a re- versão de expectativas sobre companhias que ostentam re- sultados amplamente satisfató- rios e possuem ativos valiosos. Nos casos de MPX, MMX e LLX, a depreciação do valor de mercado é claramente incompatível com o que têm a oferecer. Estes últimos investimentos que efetuei tiveram como importante motivação con- tribuir para um Brasil mais compe- titivo, estruturado logisticamente e capaz de proporcionar um futu- ro melhor para o conjunto de sua população. A MPX possui a maior carteira de projetos licenciados do país. Ela se tornou modelo no con- ceito de térmicas ao longo da costa e gera hoje 2 mil megawatts, o sufi- ciente para alimentar a cidade do Rio de Janeiro. Em pleno cenário de crise energética, foi dito publi- camente por um membro da Ane- el que, graças à MPX, não haveria apagão ou racionamento de ener- gia. A MMX já produz 7 milhões de toneladas anuais de minério de ferro e conta com um ativo de im- portância estratégica vital, o Porto do Sudeste. Graças a ele será possí- vel extrair minério de ferro de Mi- nas Gerais e exportar a partir do quadrilátero ferrífero com ampla repercussão para a logística e para a balança comercial. A LLX conta com o Porto do Açu, polo indus- trial para os setores de petróleo e para o transporte de cargas em ge- ral e a granel. É um porto-indústria que revela, em escala crescente, sua capacidade de atrair novas parceiras para sua retroárea de aproximadamente 90 km 2 . Dentre as empresas que já se instalaram ou estão se instalando no Açu, es- tão Technip, National Oilwell Var- co (NOV), BP, GE, Wartsila e Vallou- rec, todas grandes corporações in- ternacionais que acreditam nos meus negócios e no Brasil. As pessoas ainda comentam que sou o cara do papel, do power point. Por que não visitam o Porto do Açu? Por que não visi- tam o Porto do Sudeste? Por que não visitam as plantas da MPX? É justamente o oposto do que se tem falado: sou o cara da econo- mia real, que, mesmo com mui- tos obstáculos, coloca as coisas de pé. No pico das obras de meus empreendimentos, 30 mil pes- soas estavam empregadas tor- nando concreto o que até então eram apenas sonhos. Isso é pa- pel? Trinta mil pessoas em ativi- dade? Eu realmente gostaria que todos os que duvidam de minha capacidade de entregar pudes- sem visitar o Porto do Sudeste e o Porto do Açu e as térmicas da MPX já em operação. É um convi- te que gostaria de fazer a todos. São empreendimentos para o Brasil, para o futuro do país. Meu sentimento é de que, em pouco tempo, as pessoas vão olhar para trás e pensar que pude oferecer minha contribuição ao desenvol- vimento do sistema logístico brasileiro. Coloquei 2 bilhões de dólares do meu bolso na constru- ção de um estaleiro por acreditar nas encomendas da OGX. No to- tal, investi mais de 4 bilhões de dólares em recursos próprios nas empresas X. Tomei a decisão de reestrutu- rar o controle das companhias. Faço isso com a certeza de que te- nho um legado a deixar ao país, e não abrirei mão de colaborar na condição de acionista relevante em cada companhia. Honrarei todos os meus compromissos. Não deixarei de pagar um único centavo de cada dívida que con- traí. Acredito no meu país e nun- ca desistirei de investir recursos próprios em ativos que contri- buem para toda a sociedade. Eu me enxergo e continuarei a me enxergar como um parceiro do Brasil. Acho que cumpri esse papel ao conceber e entregar projetos que terão uma impor- tância crucial nas próximas dé- cadas. Falhei e decepcionei mui- tas pessoas, em especial por con- ta da reversão de expectativas da OGX. Esta reversão contaminou todo o Grupo X e acarretou um déficit de credibilidade com o qual nunca me deparei em mi- nha trajetória. Mas o fato é que fui tão surpreendido quanto ca- da um de meus investidores, co- laboradores e todo o mercado. Esta é a verdade. Hoje me sinto frustrado por não ter sido capaz de entregar o que eu mesmo es- perava nos casos da OGX e da OSX, esta última concebida em parte para oferecer suporte à primeira em suas atividades. Mas acredito que a OGX reestru- turada se tornará um player re- levante no setor em que atua, as- sim como confio numa OSX re- dimensionada a partir de um novo cenário. Sempre agi de boa-fé e sempre o farei. Acho que era isso o que mais gostaria de dizer e que, as- sim espero, sintetiza meu percur- so empresarial nos últimos cinco anos. Com minha estrutura de ca- pital equacionada, continuarei a empreender e tenho convicção de que ainda vou gerar riqueza nova- mente e deixar um país melhor com estes ativos que criei do zero. Eu talvez faça isso agora sem o mesmo peito aberto de antes. Tal- vez tenha confiado demais em pessoas que não mereciam esta confiança, ainda que no final a responsabilidade seja toda mi- nha. Com certeza eu também não me submeteria à exposição públi- ca excessiva de tempos recentes, da qual me arrependo sobretudo por haver exposto igualmente mi- nha família e meus amigos a uma curiosidade indesejada. O orgulho de erguer do nada tantas empresas em tempo tão curto me colocou no centro do palco e eu me vi como o porta- voz de um novo empreendedor, que não tem vergonha de expor suas conquistas e mostrar que é possível gerar riqueza e ao mes- mo tempo contribuir com o de- senvolvimento do país. Tenho consciência de que fui um sím- bolo para as pessoas, a represen- tação de um Brasil que prospera, que dá certo e está preparado para desempenhar um papel de preponderância global. A des- truição de valor dos meus negó- cios colocou por terra talvez o sonho de muita gente que acre- ditou na possibilidade de partir do zero e se tornar um empreen- dedor de sucesso. Espero que elas procurem enxergar o que deu certo em minha trajetória e peço que esperem alguns anos para uma avaliação mais defini- tiva do que terei sido capaz de construir com o apoio dos que acreditaram e dos que ainda acreditam em mim. Houve mui- tos acertos e eles ficarão mais evidentes em tempo não tão lon- go. Não me refiro apenas aos ne- gócios propriamente ditos. Nes- tes últimos cinco anos, apoiei causas de naturezas diversas, que me levaram a investir centenas de milhões de reais próprios em projetos de interesse público e social ou mesmo de caráter hu- manitário, principalmente na Ci- dade do Rio de Janeiro, o que ho- je é esquecido por muitos. Isso eu faria e farei novamente se es- tiver a meu alcance. Nos últimos meses, meu obi- tuário empresarial tem ocupado as páginas de blogs, jornais e re- vistas. Só posso dizer que me vejo muito longe deste Eike aposenta- do. Tenho 57 anos e muita ener- gia para arregaçar mangas e tirar do papel novos projetos. Sou um empreendedor brasileiro, acre- dito no que faço, amo meu país. A cada dia, minha cabeça fervilha com ideias novas, que nascem do nada e tomam forma aos poucos. Eu me alimento desta capacida- de de sonhar e de realizar. Em- preender está no meu sangue, no meu DNA. É minha fonte inesgo- tável de energia e de vida. O empresário Eike Batista é presiden- te e controlador do grupo EBX PATRICK FALLON/BLOOMBERG Eike: “Continuo acreditando na OGX e estamos reinventando a companhia” EBX pede mais prazo ao BNDES para dívidas da OSX Claudia Schüffner e Alessandra Saraiva Do Rio O grupo EBX já pediu ao BN- DES a prorrogação do pagamento de parcela de dívida da OSX, em- presa de construção naval e afre- tamento de plataformas, que ven- ce em agosto. O Valor apurou que o pedido está em análise, mas ain- da não foi aprovado pela diretoria da instituição. Procurado, o BN- DES não confirmou a informação. Segundo balanços das compa- nhias do grupo, o próximo venci- mento é uma parcela de R$ 491 milhões (incluindo juros), em 15 de agosto. Ainda de acordo com os balanços, essa parcela se refere a empréstimo-ponte de R$ 427,6 milhões obtido pela OSX em 2011 para implantar o estaleiro em São João da Barra (RJ), onde está sendo erguido o Porto do Açu. Segundo a OSX, o prazo de pagamento dessa dívida é de 18 meses (vencimento em 15 de agosto de 2013), sendo principal e juros “pagos ao final do período ou no primeiro desembolso do empréstimo de longo prazo do Fundo de Marinha Mercante.” Em 15 de setembro vence em- préstimo da LLX com o banco de fomento, no valor de R$ 536,51 milhões, incluindo juros. No iní- cio do mês, a instituição divul- gou nota informando que o valor total das operações contratadas com o grupo EBX é de R$ 10,4 bi- lhões. No mesmo comunicado, o banco detalhou que, do volume total contratado, nem tudo foi li- berado, já que os desembolsos, de acordo com a praxe em proje- tos apoiados pelo BNDES, ocor- rem ao longo do período de exe- cução dos empreendimentos. No informe, o banco afirmou ainda que sua exposição direta atual ao Grupo EBX é de uma parcela muito pequena do Patrimônio Líquido de Referência do BNDES – sem mencionar, contudo, de quanto seria essa parcela. O total contratado pela OSX com BNDES soma R$ 1,34 bilhão. Desse valor, R$ 400 milhões fo- ram creditados à companhia na modalidade “ponte”. Esse perfil permite que uma empresa pegue financiamento junto ao banco com o objetivo de agilizar a reali- zação de investimentos para pro- jeto específico — sendo que esse valor, mais tarde, será estrutura- do como parte de uma operação de longo prazo, destinada a bene- ficiar o empreendimento. Na prá- tica, os recursos funcionam como uma espécie de adiantamento para a empresa do valor total do crédito de longo prazo, a ser aprovado pelo banco. De todas as operações contratadas pelas em- presas “X” junto ao banco, a refe- rente à OSX é a de maior volume. Governança “Quem mais perdeu com a derrocada no valor da OGX foi um acionista; Eike Batista”

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Se Pudesse Voltar Atrás, Não Recorreria Ao Mercado

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Jornal Valor --- Página 6 da edição "19/07/2013 1a CAD B" ---- Impressa por ivsilva às 18/07/2013@21:26:19

B6 | Valor | Sexta-feira e fim de semana, 19, 20 e 21 de julho de 2013

Enxerto

Jornal Valor Econômico - CAD B - EMPRESAS - 19/7/2013 (21:26) - Página 6- Cor: BLACKCYANMAGENTAYELLOW

Empresas | I n d ú st r i a

“Se pudesse voltar atrás, não recorreria ao mercado”ArtigoEike BatistaPara o Valor

Ao longo dos últimos meses,decidi que não me pronunciariasobre a avalanche que se abateusobre minha vida privada e prin-cipalmente sobre meus negó-cios. Mudei de ideia nos últimosdias diante da grande insistênciade amigos próximos e alguns demeus executivos. Venho a públi-co então submeter à reflexão as-pectos que têm passado embranco quando se analisa minhatrajetória empresarial.

Eu me tornei um empreende-dor ainda no início dos anos 80,quando me aventurei no garim-po da Amazônia. Aprendi bas-tante em regiões de fronteira,ambientes hostis à atividadeprodutiva, enormes dificuldadesde toda ordem para transportarequipamentos, surtos de malá-ria que me obrigaram a substi-tuir equipes inteiras da noite pa-ra o dia, o desafio de extrair mi-nério em locais quase inacessí-veis e meu próprio questiona-mento em torno das possibilida-des de êxito diante das adversi-dades que se apresentavam. Aca-bei por me tornar proprietáriode minas em diversos países edecidi estabelecer-me em defini-tivo no Brasil e me desfazer dasparticipações que detinha naárea de mineração.

Muitas vezes as pessoas imagi-nam que surgi do nada, em meioa uma febre desenfreada de aber-turas de capital, e que surfei naonda de um mercado em altaque, sem qualquer razão aparen-te, me ofereceu um cheque embranco com algumas dezenas debilhões para que eu pudessebrincar de empreender. Nestesúltimos anos aprendi muito, er-rei e acertei em diversos projetoscontribuindo para geração de ri-queza para terceiros, para mim eprincipalmente para investido-res. Se algum dia mereci a con-fiança do mercado, foi porquehavia uma trajetória de mais de30 anos de muito trabalho, desa-fios superados, sucesso e uma ca-pacidade comprovada de cum-prir compromissos.

Como entendo que a OGX es -tá na origem da crise de credibi-lidade que se abateu sobre meunome e que acabou por turvar asrealizações e conquistas de em-presas como MPX, MMX e LLX,começo por ela.

O que aconteceu desde que fi-cou claro que a OGX não estariaapta a apresentar os resultadosque um dia pareceu possível al-cançar? Eu me tornei de repenteum aventureiro inconsequenteque arregimenta recursos paraseu próprio benefício e não seimporta se entregará o que ha-via anunciado? Hoje é difícillembrar, mas a OGX foi cons-truída por algumas das cabeçascoroadas por décadas de servi-ços prestados a empresas de re-nome. Eu não investi na indús-tria do petróleo sem me cercardaqueles que eu e o mercado en-tendíamos estar entre os mais

capacitados profissionais comque se podia contar. Ao arrema-tar os campos que arrematou, aexpectativa em torno da OGXera altíssima. Esta mesma expec-tativa parecia uma irrelevânciadiante dos prognósticos que re-cebi de diversas empresas inde-pendentes no mercado do pe-tróleo. Uma delas foi a DeGolyer& MacNaughton (D&M). Deacordo com um relatório divul-gado em 2011, auditado porempresas independentes de re-nome internacional, a OGX pos-suiria recursos aproximados de10,8 bilhões de barris de petró-leo equivalente (incluídos recur-sos contingenciais e prospecti-vos). Meu corpo técnico me rea-firmava, dia após dia, a mesmacoisa. Minhas empresas eramauditadas por três das maioresagências de risco do mundo, enunca uma delas veio a mim oua público alertar que não erabem assim.

Evidentemente, eu estava exta-siado com as informações queme chegavam. Podia tê-las guar-dado para mim? Não, eu era ocontrolador de uma companhiade capital aberto e o que fiz foicompartilhar todo aquele es-plendor e respectivos desafioscom o mercado, além dos riscosenvolvidos e chances de sucessoneste negócio de tão alto risco.

Tive ofertas para vender fatiasexpressivas ou mesmo o controleda OGX a partir de um valuationde 30 bilhões de dólares. Há doisanos, coloquei mais um bilhãode dólares do meu bolso na com-panhia. Eu perdi e venho perden-do bilhões de dólares com a OGX.Alguém que deseja iludir o pró-ximo faz isso a um custo de bi-lhões de dólares? Se eu quisesse,poderia ter realizado uma vendaprogramada de 100 milhões dedólares por semestre ao longo de5 anos. Eu teria embolsado 5 bi-lhões de dólares e ainda assimpermaneceria no controle daOGX. Mas não o fiz. Quem maisperdeu com a derrocada no valorda OGX foi um acionista: Eike Ba-tista. Ninguém perdeu tantoquanto eu, e é justo que assim se-ja. Eu investi em um negócio derisco. É injusto e inaceitável, poroutro lado, ouvir que induzi deli-beradamente alguém a acreditarnum sonho ou numa fantasia.Quem mais acreditou na OGX fuieu. Continuo acreditando e porisso estamos, nestes últimos me-ses, reinventando a companhia.Não desistirei deste desafio.

A OGX tem sido alvo de todo ti-po de movimento especulativo,com vendas a descoberto no mer-cado e vazamentos de informa-ções (falsas ou verdadeiras) nu-ma escala sem precedentes e to-talmente irresponsável. Muitagente ganhou dinheiro com aOGX por conta de toda esta exces-siva especulação. Muitos tambémtêm perdido dinheiro assim.

Sou solidário com os investido-res que acreditaram na OGX emsua origem e que me honraramcom sua confiança naquele mo-mento ou mesmo depois, quan-do parecia que a companhia en-tregaria resultados de grande

magnitude. O que posso dizer aessas pessoas é que acreditei nes-te cenário tanto quanto elas. In-vesti e continuo investindo quasetodo meu patrimônio, tempo ededicação na OGX e nas demaisempresas X. E lamento profunda-mente não ver confirmados osprognósticos de consultorias derenome, auditados por agênciasde idêntico renome e referenda-dos por executivos de renome.

Sou um otimista incorrigívelem relação a meu país, a meus ne-gócios e às pessoas que me cer-cam. Ao longo de minha ativida-de empresarial, os êxitos e con-quistas superaram largamentefracassos e erros. Mas os fracassosaconteceram e eu nunca os es-condi. Tive experiências mal suce-didas com a fabricação de jipes,com uma empresa concebida pa-ra concorrer com os Correios,com algumas minas fora do Brasildas quais tive de abrir mão por fa-tores diversos. Mas eu nunca dei-xei de ser transparente, pagarninguém e nem de honrar meuscompromissos. Sempre mirei ati-vidades de alto risco com possibi-lidades de elevados retornos paraparceiros e acionistas. Mineraçãoé uma atividade de risco. Extraçãode petróleo é uma atividade de al-to risco. As promessas de retornosão elevadas, num caso e noutro,mas o risco é grande. Isso jamaisfoi escondido, faço questão depontuar novamente.

Mais do que ninguém, mepergunto onde errei. O que de-veria ter feito de diferente? Umaprimeira questão talvez esteja li-gada ao modelo de financia-mento que escolhi para as em-presas. Hoje, se pudesse voltarno tempo, não teria recorrido aomercado de ações. Eu teria es-truturado um private equity queme permitisse criar do zero e de-senvolver ao longo de pelo me-

nos 10 anos cada companhia. Etodas permaneceriam fechadasaté que eu estivesse seguro deque havia chegado o momentode abrir o capital. Nos projetosque concebi, o tempo se reveloufator de estresse vital para a re-versão de expectativas sobrecompanhias que ostentam re-sultados amplamente satisfató-rios e possuem ativos valiosos.

Nos casos de MPX, MMX e LLX, adepreciação do valor de mercado éclaramente incompatível com oque têm a oferecer. Estes últimosinvestimentos que efetuei tiveramcomo importante motivação con-tribuir para um Brasil mais compe-titivo, estruturado logisticamentee capaz de proporcionar um futu-ro melhor para o conjunto de suapopulação. A MPX possui a maiorcarteira de projetos licenciados dopaís. Ela se tornou modelo no con-ceito de térmicas ao longo da costae gera hoje 2 mil megawatts, o sufi-ciente para alimentar a cidade doRio de Janeiro. Em pleno cenáriode crise energética, foi dito publi-camente por um membro da Ane-el que, graças à MPX, não haveriaapagão ou racionamento de ener-gia. A MMX já produz 7 milhões detoneladas anuais de minério deferro e conta com um ativo de im-portância estratégica vital, o Portodo Sudeste. Graças a ele será possí-vel extrair minério de ferro de Mi-nas Gerais e exportar a partir doquadrilátero ferrífero com amplarepercussão para a logística e paraa balança comercial. A LLX contacom o Porto do Açu, polo indus-trial para os setores de petróleo epara o transporte de cargas em ge-ral e a granel. É um porto-indústriaque revela, em escala crescente,sua capacidade de atrair novasparceiras para sua retroárea deaproximadamente 90 km2. Dentreas empresas que já se instalaramou estão se instalando no Açu, es-

tão Te c h n i p, National Oilwell Var-co (NOV), B P, GE, Wa r t s i l a e Vallou -rec, todas grandes corporações in-ternacionais que acreditam nosmeus negócios e no Brasil.

As pessoas ainda comentamque sou o cara do papel, dopower point. Por que não visitamo Porto do Açu? Por que não visi-tam o Porto do Sudeste? Por quenão visitam as plantas da MPX? Éjustamente o oposto do que setem falado: sou o cara da econo-mia real, que, mesmo com mui-tos obstáculos, coloca as coisasde pé. No pico das obras de meusempreendimentos, 30 mil pes-soas estavam empregadas tor-nando concreto o que até entãoeram apenas sonhos. Isso é pa-pel? Trinta mil pessoas em ativi-dade? Eu realmente gostaria quetodos os que duvidam de minhacapacidade de entregar pudes-sem visitar o Porto do Sudeste e oPorto do Açu e as térmicas daMPX já em operação. É um convi-te que gostaria de fazer a todos.São empreendimentos para oBrasil, para o futuro do país. Meusentimento é de que, em poucotempo, as pessoas vão olhar paratrás e pensar que pude oferecerminha contribuição ao desenvol-vimento do sistema logísticobrasileiro. Coloquei 2 bilhões dedólares do meu bolso na constru-ção de um estaleiro por acreditarnas encomendas da OGX. No to-tal, investi mais de 4 bilhões dedólares em recursos próprios nasempresas X.

Tomei a decisão de reestrutu-rar o controle das companhias.Faço isso com a certeza de que te-nho um legado a deixar ao país, enão abrirei mão de colaborar nacondição de acionista relevanteem cada companhia. Honrareitodos os meus compromissos.Não deixarei de pagar um únicocentavo de cada dívida que con-traí. Acredito no meu país e nun-ca desistirei de investir recursospróprios em ativos que contri-buem para toda a sociedade.

Eu me enxergo e continuarei ame enxergar como um parceirodo Brasil. Acho que cumpri essepapel ao conceber e entregarprojetos que terão uma impor-tância crucial nas próximas dé-cadas. Falhei e decepcionei mui-tas pessoas, em especial por con-ta da reversão de expectativas daOGX. Esta reversão contaminoutodo o Grupo X e acarretou umdéficit de credibilidade com oqual nunca me deparei em mi-nha trajetória. Mas o fato é quefui tão surpreendido quanto ca-da um de meus investidores, co-laboradores e todo o mercado.Esta é a verdade. Hoje me sintofrustrado por não ter sido capazde entregar o que eu mesmo es-perava nos casos da OGX e daOSX, esta última concebida emparte para oferecer suporte àprimeira em suas atividades.Mas acredito que a OGX reestru-turada se tornará um player re-levante no setor em que atua, as-sim como confio numa OSX re-dimensionada a partir de umnovo cenário.

Sempre agi de boa-fé e sempreo farei. Acho que era isso o que

mais gostaria de dizer e que, as-sim espero, sintetiza meu percur-so empresarial nos últimos cincoanos. Com minha estrutura de ca-pital equacionada, continuarei aempreender e tenho convicção deque ainda vou gerar riqueza nova-mente e deixar um país melhorcom estes ativos que criei do zero.Eu talvez faça isso agora sem omesmo peito aberto de antes. Tal-vez tenha confiado demais empessoas que não mereciam estaconfiança, ainda que no final aresponsabilidade seja toda mi-nha. Com certeza eu também nãome submeteria à exposição públi-ca excessiva de tempos recentes,da qual me arrependo sobretudopor haver exposto igualmente mi-nha família e meus amigos a umacuriosidade indesejada.

O orgulho de erguer do nadatantas empresas em tempo tãocurto me colocou no centro dopalco e eu me vi como o porta-voz de um novo empreendedor,que não tem vergonha de exporsuas conquistas e mostrar que épossível gerar riqueza e ao mes-mo tempo contribuir com o de-senvolvimento do país. Tenhoconsciência de que fui um sím-bolo para as pessoas, a represen-tação de um Brasil que prospera,que dá certo e está preparadopara desempenhar um papel depreponderância global. A des-truição de valor dos meus negó-cios colocou por terra talvez osonho de muita gente que acre-ditou na possibilidade de partirdo zero e se tornar um empreen-dedor de sucesso. Espero queelas procurem enxergar o quedeu certo em minha trajetória epeço que esperem alguns anospara uma avaliação mais defini-tiva do que terei sido capaz deconstruir com o apoio dos queacreditaram e dos que aindaacreditam em mim. Houve mui-tos acertos e eles ficarão maisevidentes em tempo não tão lon-go. Não me refiro apenas aos ne-gócios propriamente ditos. Nes-tes últimos cinco anos, apoieicausas de naturezas diversas, queme levaram a investir centenasde milhões de reais próprios emprojetos de interesse público esocial ou mesmo de caráter hu-manitário, principalmente na Ci-dade do Rio de Janeiro, o que ho-je é esquecido por muitos. Issoeu faria e farei novamente se es-tiver a meu alcance.

Nos últimos meses, meu obi-tuário empresarial tem ocupadoas páginas de blogs, jornais e re-vistas. Só posso dizer que me vejomuito longe deste Eike aposenta-do. Tenho 57 anos e muita ener-gia para arregaçar mangas e tirardo papel novos projetos. Sou umempreendedor brasileiro, acre-dito no que faço, amo meu país.A cada dia, minha cabeça fervilhacom ideias novas, que nascem donada e tomam forma aos poucos.Eu me alimento desta capacida-de de sonhar e de realizar. Em-preender está no meu sangue, nomeu DNA. É minha fonte inesgo-tável de energia e de vida.

O empresário Eike Batista é presiden-te e controlador do grupo EBX

PATRICK FALLON/BLOOMBERG

Eike: “Continuo acreditando na OGX e estamos reinventando a companhia”

EBX pede mais prazo ao BNDES para dívidas da OSXClaudia Schüffner eAlessandra SaraivaDo Rio

O grupo EBX já pediu ao BN -DES a prorrogação do pagamentode parcela de dívida da OSX, em-presa de construção naval e afre-tamento de plataformas, que ven-ce em agosto. O Va l o r apurou queo pedido está em análise, mas ain-da não foi aprovado pela diretoriada instituição. Procurado, o BN-

DES não confirmou a informação.Segundo balanços das compa-

nhias do grupo, o próximo venci-mento é uma parcela de R$ 491milhões (incluindo juros), em 15de agosto. Ainda de acordo comos balanços, essa parcela se referea empréstimo-ponte de R$ 427,6milhões obtido pela OSX em2011 para implantar o estaleiroem São João da Barra (RJ), ondeestá sendo erguido o Porto doAçu. Segundo a OSX, o prazo de

pagamento dessa dívida é de 18meses (vencimento em 15 deagosto de 2013), sendo principale juros “pagos ao final do períodoou no primeiro desembolso doempréstimo de longo prazo doFundo de Marinha Mercante.”

Em 15 de setembro vence em-préstimo da LLX com o banco defomento, no valor de R$ 536,51milhões, incluindo juros. No iní-cio do mês, a instituição divul-gou nota informando que o valor

total das operações contratadascom o grupo EBX é de R$ 10,4 bi-lhões. No mesmo comunicado, obanco detalhou que, do volumetotal contratado, nem tudo foi li-berado, já que os desembolsos,de acordo com a praxe em proje-tos apoiados pelo BNDES, ocor-rem ao longo do período de exe-cução dos empreendimentos. Noinforme, o banco afirmou aindaque sua exposição direta atual aoGrupo EBX é de uma parcela

muito pequena do PatrimônioLíquido de Referência do BNDES– sem mencionar, contudo, dequanto seria essa parcela.

O total contratado pela OSXcom BNDES soma R$ 1,34 bilhão.Desse valor, R$ 400 milhões fo-ram creditados à companhia namodalidade “p o n t e”. Esse perfilpermite que uma empresa peguefinanciamento junto ao bancocom o objetivo de agilizar a reali-zação de investimentos para pro-

jeto específico — sendo que essevalor, mais tarde, será estrutura-do como parte de uma operaçãode longo prazo, destinada a bene-ficiar o empreendimento. Na prá-tica, os recursos funcionam comouma espécie de adiantamentopara a empresa do valor total docrédito de longo prazo, a seraprovado pelo banco. De todas asoperações contratadas pelas em-presas “X” junto ao banco, a refe-rente à OSX é a de maior volume.

G ove r n a n ç a “Quem mais perdeu com a derrocada no valor da OGX foi um acionista; Eike Batista”

Leonel
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