SARAIVA, A. J.- O Discurso Engenhoso

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    2. O PREGADOR,DEUSE SEUPOVONA BARIA EM 1640ESTUDODO SERMO"PELA VITRIA DE

    NOSSASARMAS CONTRAAS DOS HOLANDESES"

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    Em maio-junhode 1640,osholandesescercavamaBahia,capitaldo Brasil.Os portuguesesviam-se beirada catstrofeiminente.A esquadraenviadadeLisboaparacombatero inimigose dispersarano mare o quesobraratinhasidodesbaratadopelosholandeses..No haviaesperanade outrossocouose acidadeestavanaexpectativadeumasituaotopenosacomoa de1624,quandoosholandesesatinhamdominado,obrigandoos colonosa fugiremparaas fazendasdo interiorou paraoserto.Asigrejasforamentoprofanadaseospadres,amuitocus-to,conseguiramapenassalvarosobjetossagrados.No anoseguinte,osportuguesesreconquistaramaBahia,masaguerraprosseguiul.

    . Nessaguerra,defrontavam-secatlicose protestantes.Oqueestavaemcausaera,semdvida,o domniodo acar,maseratambmo destinoreligiosodessaimensaregiodaAmrica.

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    1. A histriadosacontecimentosde1624foi feitapeloprprioVieirana cartaanualdo Colgio'da Bahiaao Geraldos Jesutasde 1626,reproduzidaporL. d'Azevedo,nasCartasdeVieira,I.

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  • Do ladodosportugueseso clerotomouparteativanaluta,eobispodaBahiacomandoupessoalmenteasforasqueexpulsaramo invasor.Ospregadores,tendo frenteosjesutas,convocavamopovoparaumaespciedeguerrasanta. .

    Foi diantedessepovoangustiado,comprimidona IgrejadeNossaSenhoradaAjuda,eque,comonumnavionaufragan-do, s sabiarezare clamar:"Misericrdia,Senhor",queumjovemjesuta,de32 anos,AntnioVieira,pronunciouumser-moque ficou clebre,e quesobreviveuao desfechofeliz einesperadodosacontecimentosqueterminaramcomo levanta-

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    mentodo cerco.Estesermo,conhecidopelottulodeSermopela vitria das nossasarmascontra asdos holandeses,foi, segundoo PadreRaynal,o "discursomaisveementeeextraordirioquepossivelmentealgumavezseouviudeumplpitocristo"2.

    O extraordinriodestediscurso queo pregadornosedirigeaosfiis,mas,novoMoiss,aoprprioDeus,emnomedopovo.TomandQcomotemaumtextodo Salmo43,emqueoReiDavidiz:"Acordai,Senhor,porquedormis?",Vieiradeclara,logode incio,queno seupropsitoconverterospecadoresqueo ouvem,masao prprioDeus.Faz, pois,exatamenteoopostodo que eracostumeem taiscircunstncias:noquerlevaro povoao arrependimentocomoj o haviamtentadoospregadoresqueo antecederam,nempurificaracidadecompeni-tncias,paraatraira misericrdiadeDeus.QuerexigirdeDeusa proteo,a que,segundoele,o povotemdireito,apesardospecados,ou antespor causadessesmesmospecados."Queroeu,Senhor,converter-vosaVS"3,dizele.Duranteoxodo,Deusperdoouaoshebreuspecadosmuitomaisgraves,e, apesardetudo,osportuguesesnosotoherticoscomoosholandeses.O pecadoumarazoamaisparao perdodoqueparao cas-tigo.J dissea Deus:"Por quenoafastasos meuspecadosepesfimininhainiqidade?"E tambm:"Pequei,quemaispos-sofazercontrati?,,4ComoJ, osportugueses,pecando,davamaDeusumaocasioparademonstrarasuagrandeza,perdoando-os.Os ouvintesdeVieira,ouvindo-ofalardessamanei.ra,spodiampensarquecompetiaaDeus,enoaeles,fazeralgumacoisa.

    Vieiranofalavadiantedeumaacademiabarroca,sequio-sa de "conceitos"e paradoxos,masdiantede um povoem

    2. Raynal,GuillaumeThomas,Histoirephilosophiqueet politiquedesEtablissementset du CommercedesEuropensdansles deuxIndes,Gnova,1780,p. 381,citadoporCantei,Prophtismeet messianismedansl'oeuvreduPereAntonioVieira,Paris,1961,p.14.3. CitosegundoaediodeH.Cidade,ObrasescolhidasdeVieira,X, p.48.

    (4. Ibidem,pp.73-4.,I

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    pnico.Pertenciaelea umaordemreligiosaque,nessabatalha,estavaarneaadade perderum imprioflorescente.O quelheimportavanoerao brilhooratrio,maso resultadopalpvel:a retiradadosholandeses.E noencontraoutramaneiradeseJazerouvirporDeus.

    Joo Lcio d'Azevedo,o grandebigrafode Vieira,vnestaconstruoumartifcioliterrio,umaprosopopia,atravsda qual,todavia,seexprimiaum sentimentoreal:o amordoautor"por suaterrae por suaraa"s.Estecomentrio umexemplofrisantedoabismoqueseparaumburgusdosculoXXdeumreligiosoibricodosculoXVII. Parao primeiro,mesmoquenosedeclareateu,Deusno umapessoa,mas,quandomuito,umanootil em certonmerode raciocnios;ouentoumconceitoindispensvelparacompreenderardemdouniverso.Todapersonalizaoparece-lheefeitoderetrica.Maseleesqueceque,paraumjesutado sculoXVII, assimcomoparaosseusouvintes,Deuseraumarealidadetemvelouamvel,e jamaispoderiasertratadacomoosdeusesgregosdosliteratosdoRenascimento. .

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    Nosedeve,semdvida,menosprezaro ladoliterrioouartsticodestabelapeaoratria.Vieira,entreoutrascoisas,era um escritorde muitovalor,o queequivalea dizer:umcriadorde fices.No nossosermo,elefazsuaa situaodoRei Davino Salmo43. Acuado, beiradeumabismo,o reisevoltaparaDeus,masemvezdefazero meaculpa,espanta-secomo esquecimentoe a neglignciadeDeus,pede-Lheexplica-es,e lembra-Lhe,numprotestosolene,queEle seobrigouaprotegere ajudaro suplicante,nopor causada afliodumpovoangustiado,masparaquenofosseatingidaaglriadivina:propternomentuum.

    Vieira,apsevocarestasituaoemostrarqueastribula-es,descritasno textobblico,sonosasdopovodeDavi,mastambmasdosportuguesesdoBrasil,passaa representaropapeldeDavi,retoma,interpretae desenvolveaspalavrasdele.Trata.sede umjogo dramticoe node umasimplessplicaamplificada,isto, deumjogoondehumasituaoe perso-nagens,aindaqueo Outro;aquelea quemo nicoatorvisvelemcenasedirige,permaneainvisvel. '

    A evocaodeoutrassituaesbblicasreforao carterdramticodosermo.A deMoissquandoDeus,iradocontraos

    , hebreusqueadoravamo bezerrodeouro,quisdestruirseupovo.

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    5. L. d'Azevedo,HistriadeAntnio Vieira,I, 2!led;,p. 48.

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    Moisspediu-lheentoquepensassenoquediriamosegpcios:denadalhetinhaadiantadoretiraro seupovodoEgito,custadetantossofrimentos,sesedispunhaadeix-lomorrernodeser-to. Estapreocupaodo "quediro"fezDeusrecuare salvouos hebreus.Tambmaqui,o discursoda personagembblicano umamerasplica,masumaespciedemeiodepressopsicolgica.

    ~as o episdiobblico,que na minhaopiniomelhorexprimeestegneroderelaodramticaentreDeusesuacria-tura,o deJ, evocadovriasvezesporVieira..Talveznuncsetenhaexpressadodemaneiratoveementeaautononuaradical,gohomemdiantede Deus,seucriador.A atitudede J ,semdvida,de submisso,mastambmde dignidadepessoal.Na interpretao"deVieira,elechegaa altercarcomDeuse

    -nleSTiaamea-Io,quandodiz:"Dormireinope,amanh,seme chamares,j no estareiaqui"6.O livro de J , de fa-to, um dostextosmaisdramticosdetodaahistriadalitera-tura,namedId~~mquee.xprimea alteridadyi!1'~utveldedois.~reJ,umdosquaisreconhecea prpriaimpotnciae a onipo-tnciado outro.Eis porque.9..moj!logoe a interp~aoso~smaneirasdeexpressar-se,aooontrrio-daatitudemslicadedespersonalizao,deidentificaoentrea criaturae seuDeus,queconduzaorao.- Assumindoo papeldramticodeilllerlocutordeDeus,opregadorprocura,~Q!ly~nc-Io,.osargumentosmaiseficazes.Decerto,paratomara liberdadede tentar"converter"Deus,fundamenta-sena infinitamisericrdiadivina.E do prprioDeusquevai tiraros argumentoscontraDeus.Nodeixa,noentanto,porissodeassumirumaatitudederequerente:

    ! To presumidovenhode vossamisericrdia,Deusmeu,queaindaquenssomosos pecadoresVs haveisde sero arrependido.. . . . . . . . . .

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    -~ Osargumentosdoarrazoadointroduzidosporesteexrdio.\'nosode ordemintelectual,extradosdadefinioteolgica\ ' .v-6. ObrasEscolhidas,citoX, p. 61.7. Ibid., pp.47-8.

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    .~d.!y,!n~a_de.Comobomadvogado,Vieirasalientaosargumentos

    .~col.2gic.?se desenvolveill!la-tticaquelevaemconta,Q.uen-!Lmentos,e atmesmo,sequesepodedizerassim,asfraquezasdoJuiz,procurandoatingi-lonoredutodesuasubjetividade.

    ReIa,de incio, o amor-prpriode Deus.O pregadorretomao argumentodo"quevodizer",empregadocomgrandesucessoporMoissnoSinaLEisemresumoo quedizVieira: I

    Quediro,quedizemj dadestruiodosportuguesesdo/Brasilpelosherticos?QuediroosgentiosdoBrasil,osndiosbrbarose inconstantes,osnegrosquedafconhecemapenasaguado batismo?Vo, semdvida,tirarasconseqnciasdoqueveme concluirqueosverdadeiroscrentessoosholandeses.Foi paraisso,ento,queDeusfezosportuguesessaremdesuaptria,enfrentaremtempestadesemmaresdesconhecidos,lavra-

    , remnovasterraseconstrurem,commuitotrabalho,cidadesemclimasnovos?VodizerqueDeusquisquedesbravassemasterrasetrabalhassemembenefciodosinimigos?

    Deuscertamentepoderesponderquenoprecisadospor-tugueses,j que onipotentee podetransformarpedrasemfIlhosdeAbrao.O pregadorargumentarentoqueestanomaneirausualdeDeusagir.DesdeAdonofeznovoshomens,eaparboladoBanquete,noEvangelho,mostraquesrecorreuaospioresquandoosmelhoresfalharam:defato,somentedepoisda recusadosconvidadosqueEle mesmohaviaescolhidofoiqueo donodacasamandouentraroscegosealeijados.Oraos

    ,;. f convidad,.

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    somosns,que~ .J.D!)s.moJsc.olhestes\ ., ~'p!r~desJryJar"dessasterras.Porqueentochamaros,.!1gQe

    ~aleijados,isto , os herticos,quandonofaltamosao vosso;PlO?PorquerevogarcontransasleisporVsestabelecidas?

    ,. O pregadorparecequerertambmimpressionara Deus\ pelasconseqnciasqueteroos acontecimentos,sechegarem

    ato desfechoprevisvel.SeDeusquertiraroBrasildoscatlicosparad-Iode presenteaosherticos,queo faa,j queissodo subel-prazer.Queaniquilemesmotudoo quehdeportu-

    \ "gueseseespanhisnomundo.MasqueselembredaspalavrasdeJ: "Dormireino p e amanh,semechamares,j noestarei

    o aqui".Um dia,talvez,necessitareisdosportugueses,lhedizele,..)iI!. edosespanhis,masj noosencontrareis.O pregadortorna-se'\pi',("irnicoe quasesarcstico:emvezdeles,osholandesesseencar-IP regarodepregara doutrinacatlica,dedefendera IgrejaRoma-

    .rl na, de consagraros padres,de administraros sacramentos.De- IpoisVieiramudadetomrapidamentee evocaoutraespciedeconseqnciasquecomovemcommaisfacilidadeum corao~sensvel.O pregadorparecequererprotegerDeusdeaescujasconseqnciaso farosofrer.Quesaibabemquevaifazer,para

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    8. Ibid.,p.66.

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    9. Ibid.,p.69.

    sigomesmoqueficaremdvida,poisquesebeneficiara siprprioseperdoar'ospecadosaosportugueses.E nessepontoopregadorusaum argumentomuitovalioso:seDeuscastigarosportugueses,que provarcom isso?Destruiu-Ihesa esquadrapelovento,e que glrialhe advmde podero quepodeovento?ou mesmode expulsarumanaodassuasterrasparanelasimplantaroutra?PUnindoos homens,Deusse nivelascriaturas;sperdoandoquepodemedir-seconsigomesmo,.,llQ>~t!o_de~dm!!.l~r!lmajustaclera.

    Apesardetudoquehdeespantosonestesargumentos,aconclusodosermoconsegueaindanossurpreender.O pregadornose dirigemaisao Deusdo Sinai,masao filhodaVirgem.CristoestobrigadoaperdoarporsuaMe,padroeiradoReino,quelhe pedeisso.Por ter setornadohomem,estsujeitoaodeverde obedinciafilial. Cumpre-lhedar aoshomensbonsexemplos:deobedinciaedeperdo.Almdomais,argumentofinal e inesperado,estobrigadoa seguiro exemploqueosprprioshomenslhe do,quandoporamordeDeusperdoamas ofensas,submetendo-seao versculodo Pater:"perdoaiasnossasofensascomoperdoambsaquelesquenostmofendido".

    Seriapoucoafirmarque,comestaargumentaoperanteDeus,Vieiranosproporcionaum grandeespetculoe nosde-

    \monstrao seugniocomocriadorde fic~s.O autor~Q,l.J.l

  • . nhamo papeldocoro.Masencontram-setambmnoexterior:suasorte,a perdaou conservaodascasas,dosescravos,dosnegcios,dasigrejas,dependemdo desfechodestl\espciededuelo,entreo corifeue Deus,queelesacompanhamcomespe-ranae temor.

    , decertamaneira,o espetculoabsoluto,aambiose-cretadetodograndeartista,isto,espetculoemquenoexis-tematorese espectadores.O pblico.nopblicoporquepar-

    I ticipadapea:o protagonistarepresentacomosefosseumpapel

    \de atora paixoqueeleprpriosente;~spersonnaedramatis

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    n.o o so,pois objetivamenteconstituemo destinatrioe o

    1 \ emissordamensagem.Tudoespetculoounadao ,conformeI opontodevista. - ~-\ "-'-'-'-~Ser-fnesmoumespetculo,umafico? aquiquecabe. muitobemumareflexode FerliandoPessoa(quefoi, alis,\ graneadmiradordeVieira).J

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    o poeta.umfingidor:fingetocompletamentequechegaafingirquedoradorqued(./erassente.

    O sermoqueestamoscomentando umailustra~elo~qentedestepensamento.O Deusde quemVieira faz umapersonagemde teatro~o Deusem quemcr;os argumentosdedefesaqueimaginato engenhosamenteexprimemo seurela-cionamentocomestemesmoDeus;.Q...P:w.~Lquerepresentana

    I' peaimitaartisticamentea aoqueo pregadordesempenha" I navida.Todoestesermo uma"simulao"dossentimentos

    ~ queelee seusouvintesexperimentamrealmente.E o papeldra-mticodesempenhadopor Deus uma"simulao"dassuas

    relaesreaiscom os homens,segundoa cr~~arelig!osad~ OVieiraedaquelesqueoouviam.(f ;J!r

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    orIexprimisseumsentimeptQ,peloqualseidentifJcavacomopov~,

    e quetalveznoseatreveriaamanifestardeumamaneiradireta., I

    O Deus-pessoade Vieira, o Deusdo Antigo Testamento;'\) '10)'

    quefalavaa Ado,Abrao,Moiss,J, orasobaformadequeh ",~tAdoera"imagemesemelhana",orasobasaparnciasdofog~\ fjoudatempestade.EraumaVoz,revestidadehumanidade. ISabemosquevamoscontraumacrenageneralizada,quan-do insistimosE.o carter,antropomrfJcodopells do AntigoTestamento,fundamentodafjUd.aif~.A imaterialidadedeJav,

    "TI cujoscontornossoim;ossveisdeapreendere querepresenta,'.; na opiniode Freud1, o triunfoda espiritualidadesobreos

    I1 :; sentidos,ope-seao cartercorporaldosdeusesgregos,consi-1,,) deradossuper-homens.Estaoposio,noentanto,temumsenti-i~ doquenotalvezo quelhe atribuemgeralmente.1'\ Os deusesdeHomerososeresdaNatureza,isto,obser-

    I ,1 vadosdefora,comomanifestaesdepoderesmgicos,e para'J sobreviverfisicament,~.cumpreao homemvenc-Iosou a eles':')acomodar-se.Vistost:descritosnaterceirapessoa,a pessoada'~epopia,so"objetivos",comextensoelugarbemdeterminados,,! numespaoordenadoe seusatossesituamnumacorrentede. causase efeitos.Portanto,limitadose relativos,aindaquepode-~ rosos.Em resumo,soa Natureza,concebida imagemdoho-; mem. '

    O Deusbblico,pelocontrrio,no observadodefora.Estdiantedens,comoo Outroquenosfala.NoumEle,

    ~ masum Tu ou um Vs.Portantono objetivo, a prpria! ~ubjetividade,transpostaemOutro.Eisporquenotemlimites,~ lugarno espao,'e ficaforadequalquercausalidade,comoto; bemexplicouo telogoBultmann15. percebidocomouma~ voz:"Abrao,AbJ:llo!- Eis-meaqui,Senhor!"O olharno~l'd~apreendero deusbblicocomoapreendeSdeusesde: Homero.Auerbachnosevidenciabemestadiferenaanalisando: exemplosdasduasespcies16.\ f ~M\O~~1>,~ Porm,esteTu,quemefaa,tambmconcebidoimagem

    ,;.i e semelhanadohomem,dequemfinalmenteapenaso Outro,

    I loque permiteentreo homemeEleumrelacionamentopessoal,

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    14. S. Fteud,MoiseetleMonothisme,trad.fr. nacoleo"Ides",1966.

    15. R. Bultmann,Le Christianismeprimiti[,trad.fr. nacoleo"PetiteBibliothequePayot",pp.24e 251.,)6. Al!erbach,Mimsis,trad.fr. Gallimard,1969,chap.I. [Trad.Bras.:Mimesis,SoPaulo,Perspectiva,1971,Estudos2.]

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    intersubjetivo.E comopodeserobservadodefora,comonoum Ele, masum Tu, no Natureza,masEsprito,e sendoEspritonopodeservistonemconcebidocomoobjeto. aimagemdohomem,masapenassuaimagempsquica,comexclu-sode todamaterialidade. umapessoa,enquantoos deusesde Homerosoindivduos.O relacionamentoentreo Deusb-blicoe os fiis pessoal,e os ritosrepresentamorao penhorde umaobedinciaftlial,oravnculosintercomunitrios.Pelocontrrio,asrelaesentreos deusesgregose aquelesquelhessosubmissostmexclusivamenteumanaturezamgica,sendoa magiaumconjuntodetcnicas"objetivas"e manipuladoras,que,espera-se,levaroosdeusesaagiremnumounoutrosentido.

    't ,.Esta.ll.aturezapsquicae subjetivado Deusbblicoper-I feitamentecompatvelcomo carterapaixonadoe instvelque

    o PentateucoeoutroslivrosdoAntigoTestamentolheatribuem. prpriodohomemestainveja,esteamor-prprio,estasincons-tnciasde humor,de queVieiraprocuratirarpartido;f.,Ol!sti.-~em,tantoquantodesvariose desobedinciasdeIsrael,o pr-'priotecidodahistriaqestepovo,comono-Iacontao AntigoTestamento. um dilogoentre..duasvontades,"oEu e o Tu,quecomeap~IpecadodeAdo.

    Semdvida(e tlvezsoba influnciadeoutrafontereli-giosamaisracionalizada)ostelogosjudeusextraramdestagan-ga,demasiadohumana,um deusuniversale inaltervelemsuaperfeio.Tambmo Cristianismo,aindaquefaaDeusbaixar terra,tendeparaestadepurao.No entanto,Deuscontinuou

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    sempreo Outro,"cadavezmaiseu queeu mesmo",o Deuspessoa,o Deusde Abrao,Isaace Jac,g>moo dissePascal,!etomandoumavelhafrmulajudaica.E aiconografiabizantina,emboraprocurandoapreenderpelo olharesteOutroqueeraapenasumavoz,nochegoua traira suaverdadeiranatureza,poisqueO apresentafrentea ns,fitando-nosnosolhos.Mas

    , Cristo,queeraumhomem,nascidodeumamulherecomumahistriantempoenoespao,foi, poucoapouco,naesculturagticae napinturado Quattrocentoreduzidopeloolharcon-diodeumaterceirapessoa,circunscrita,descrita,apresentadadeperm,objetivada,transformadaemheridenarrativa. entoquea iconografiacorrompeo sagradoecomea,provavelment~,alaicizaodacivilizaomoderna.

    O Deus,aquemsedirigeestesermodeVieira,aindaqueo pregadoracentuebemseucarterantropomrfico,, pois,oDeusdo AntigoTestamento,esseTu vivoa quemj setinhamdirigidoMoiss,DavieJ. Poroutrolado,aoDeusdeMoissopregadoracrescentatambmostraosdeCristo,ftlhodaVirgem.No rostoinapreensvelde Jav,queestnaorigemdo Paida

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  • I~ITrindadecrist,abrem-seos olhosqueveme quechoram.Eparaque se assemelheaindamaisaoshomenstemumamecarnal.Vieirarelembraissoparaconvid-Ioaaceitar"influnciashumanas"("Recebeiinflunciashumanasdequemrecebestesahumanidade")1'.Acentua-seassimaantropomorfizaodeDeus,muitoalmda apresentaoquenosdo AntigoTestamentoe deumamaneiraquepoderiaparecersacrlegaaumjudeu.Oqueproporcionaaodefensora possibilidadedeaumentarasuapressosobreo Juiz, pormeiodeargumentosdequenodispu-nhamDavi,MoissouJ.

    Apesardessestraoscristos,queseencontramnofimdosermoe foramquaseumaantropomorfizaofsicadeDeus,o quepredomina,semdvida,o DeusdoAntigoTestamento.Os traosdo Deuscristocompletamde certamaneiraos doDeusde Moiss.Antesdo Dilvio,elesentia,masnotendoolhosnopodiachorar;agoraquenasceramolhosnoseurosto,podeexprimirpor lgrimasa suador.Ostraosnovosestavam-

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    implcitosnosantigot"comonumretratoqueo artistacom- 'pletaeretocaapartirdeumprimeiroesboo. J

    H a o curiososentimentode umaprogressohistricade Deus,personagemnica,quenocoincidedemaneirarigo-rosacoma concepocristdo mistrioda Trindade.Nesta,DeusPai,que o DeusdeMoisspurificado,libertadodasuasubjetividadehumana,impessoal,invulnervel,infinitamenteper-feito,aparececomoumaentidadedistintadoCristohomem-deus,acessvelao sofrimento,pessoacomocadaum de ns.H aumaoposioquea teoriatrinitriaprocuraultrapassar.Nestesermo,porm,nosentimosestaoposio:o DeusdeMoissnosedistinguedoDeusfilhodaVirgem,sendoo primeiroto Iacessvel dor, to humanoe pessoalcomoo segundo.To-\' V'~mandoa formadeCristo,Javcompletaasuanatureza;torna-semaissemelhanteaoshomens,maiso Outroda subjetividade_)humana,maispresoaoshomensporlaospessoais.

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    Todavia"o DeusdeAbrao,deIsaace Jac" a quemsedirigeVieirano aquelequePascalopunhaaoDeuscartesiano,queapenascomum"peteleco"puseraemmovimentoa mec.nicado universo.Pascalqueriadesignarpor estaexpressoumrelacionamentointer-subjetivoe individualcomDeus.No sen-tido,porm,emqueo entendiamos JudeusdaBblia,o Deus

    17.Obrascit.,X, pp.78-9.

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    de Abraoeratambmo deusde suadescendnciaqueiria,multiplicar-secomoasestrelasdo cu,aquelequeabenoariaaosqueaabenoasseme maldiriaaosqueamaldissessem.EraoReusdaAliana,quefizeraumpactocomumaldentreasnaesda terra,daqualseconstituiuprotetor.Era,semdvida,umapessoa,masrelacionadaaumacomunidade,aumcorpopblico \Iconstitudo. \);..I)01!1ca-,~'-o# .J' ~~~\r'UI." ",n 11':1. ~~".

    ~I~~~~ Esta tambma maneuadeverde,Vieira,ape~Wsvo~t;adiferenadequeosportuguesesquedesempenhamo papeldepovodeDeus.EntreDeuse os portuguesesexisteumaalianaquefoi firmadanavsperadavitriadeOurique,obtidacontra ['os mourospeloprimeirorei de Portugal.Paraa historiografiaL\'do'SculoXVII, adatadestabatalhamarcaafundaodoreinq '~ Iportugus,porquantono seuteimo,acreditava-se,AfonsoHen-

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    riquesforaproclamadoreipelastropas.Deusapareceraaojovem" "guerreiro,a cujoreinoprometeradar,nasuamorada,aeterni. '"

    dade,declarandoexpressamente:Volo in te et in seminetuo "imperiummihi stabilire,queroem ti e emtuadescendnci 'estabelecerumreinoparamim. I

    Essas'palavras,atribudasaoprprioDeus,tinhamomesmo'valorsagradoquequalquertextob{blico.Representavamtanto

    i quantorepresentava,parao povojudeu,a promessafeitaporI DeusaAbraoeseusdescendentes.'I} ., "VI':~ '.1 E, paraqueasduassituaesseassemelhasse'inaindamais,if

    I ,.,/{osportugueses,napoca,eramumpovosemrei,oumelhor,v..~~

  • :r

    -y

    foi a mudanadamonarquia.'Nohaviadeserassimdizem,seviveraumD. Manuel,umD.Joo111ouafatadadedeumD.Sebastionosepul-taracomeleos reisportugueses.Mas mesmoProfetanomesmosalmonosdo desenganodestafalsaimaginao:Tu esipserexmeusetDeusmeus:qui mandassalutesJacob.O reinode Portugal,comoo mesmoDeusnosdeclarouemsuafundao,reinoseuenonosso.Valaenimin te et in seminetuaimperiummihistabilire;e comoDeus o rei:Tu esipserex meuset Deusmeus,e esterei o quemandae o quegoverna:qui mandassalutesJacob,elequenosemuda o quecausaestasdiferenas,enoosreisquesemudaram18.

    III o quequerdizerqueo verdadeirorei dePortugalnoFilipe IV, maso prprioDeus.A "mudanade monarquia",eufemismoqueexpressaasujeiodePortugalcoroaespanhola,nadapoderiacontrao fato providencial.ComoparaIsrael,Deus,pessoalmente,enquantosoberanodo povo,queestnaorigemdasglriasedasderrotasdestemesmopovo.

    Estaidiasugere,naturalmente,quePortugalse,consideranocomoEstado,mascomo"nao",isto,umapersonalidadetnica,definidapelos'''''1OSdesangue.Eraumaconcepoquearealidadeculturalportuguesajustificavaplenamentee quea si-tuaodosportuguesesno Brasil,napocadosFilipes,tornavaaindamaisevidente.Aindaquea metrpole,por direitoe porfato, estivessesubmetidaao governoespanhol,o Brasilficaraumaterraexclusivamenteportuguesa,ondeosportugueses,ten-do frenteum governadordaprprianacionaUdade,viviamvontade,e representavam,talvezmelhorqueos da Europa,asobrevivnciade Portugalcomonao.Vieira,queviveranoBrasildesdea infncia,sentiaisso,e aoexpressara pretensode queacimado povoportuguss haviaDeus,revelavaumanseio,experimentadonos por ele,maspor cadaum dosouvintes. .

    preciso,no...entanto,notar,especialmentenotrechoqueacabamosde citar,o destaquedadopelopregador frasedeDavi:Tu es ipserexmeuset Deusmeus:qui mandassa/utesJacob.Da a conclusodeque Deuspessoalmentequemgo-vernao povoporintermdiodeumreiocasional(=Jac)aquem\

    rdordens.NumestudoqueestamospreparandovamosmostrarqueVieiraseservirmaistardedestetextoparatentarprovarque Cristo foi verdadeiramente,por direitode herana,reitemporalde Israel,o queprenunciao reinodeCristonaterra,no somenteespiritual,mastambmtemporal.Empregaesteargumentocontraa interpretaodadageralmente palavrade

    \ Cristo:"Meureinonodestemundo",emquesefundamenta

    I1I1

    II

    III

    i 8. IPid..p.46. II J

    104)~

    a uTrinada-searaoentreo poderespirituale o te!!.lporal.J .Temosa umadasdiferenascapitaisenreo -uescristoe oDeusjudeude Moiss.Enquantoo primeiro,Deusdemuitosreise de muitosestados,s temum relacionamentomediato,comos acontecimentoscontraditrios,o segundoprometee'dumaterraaoshebreus;Eleadistribuientreastribos,determinaa ordemdemarchadosexrcitosnodeserto,indicao itinerrioquelevado Egito terraprometida,e regulaatmesmoama-neirade diagnosticara lepra.Dirige-seaochefedo povoparaIensinar-lhe! solu!o~.!legciQ~P.bli~9~'E estaidiaeraper- \feitamentecoerent~comaconcePxo~.eo_v

  • baseadanessaespciede atoinstitucionale jurdico que opacto da aliana.A experinciamsticalevaao aniquilamento

    , doprincipiumindividuationis:nofim,hunicamenteDeus.Neste

    \sermo,pelocontrrio,Vieira,emnomedo povo,seapresentadiantedeDeus,seurei,semnadaperderdaprpriaautonomia,

    \ fazendoatvalero quejulgaseremosseusdireitos. o qued,

    \conformejassinalamos,carterdramticoaotexto.Mastambmnosetrata'de umacognitioDei intellec-tualise deumaaceitaoracionalizadadaidiadeDeus.O rela-cionamento,comovimos, pessoal,supecertoconhecimento,certaexperinciapsicolgicadeDeus,e atcertafamiliaridadecomEle.Em certosentido, mesmoumacognitioDeiexperi-mentalis,masnumsentidodiferentedaqueleque se atribuigeralmentea estafrmula.No um conhecimentoporidenti-ficao,maspor aproximao,por coabitaoe familiaridade,se assimsepodedizer.O pregadore seusouvintesconhecembastantea Deuspessoa;lmenteparasabercomosedirigiraEleeesperamconvenc-Ionumaquestoqueinteressaatodoopovoe,segundoeles,ta:mbmao prprioDeus.,Entrea cognitioDeiexperimentalise a cognitioDei intellectualisseriaprecisoen-contrarumapalavraparaexpressaresseterceirogneroderela-esqueseestabelecementreumacomunidadetnicaeseuDeus--rei.

    * * *

    Vieiracomeao serm9lendoe traduzindolivremente,vers~ulopor versculo,o Salmo43.F-Iocomtalartequeno

    \ deixaumadvidasequer~noespritodosouvintes:~~)

    \a, com precisoe-mincias,a sortepassadae presentedos

    .

    portugu

    ..

    eses,suasgrandezase desventuras,e particularmenteasituaoatualdoBrasil.

    SoJernimo,seguidoporoutroscomentadores,informaVieira,ensinouqueestetextose referea qualquerreinoouprovnciacristdestrudaousaqueadaporinimigosdaF.Temosa umexemplosignificativodapolivalncia2.up.luri~signiQcao

    \

    doJpxt.obfbUcp,..DesdeSoPau1'; AntigoTestamentotinhapara. a-grejaumvalor"aI,eg()ric=o",eoseutexto,umasignificaouni-

    versl(f'intemporalqueultrapassaahistriaeageografiadopovohebreu2.~!taleiruntno,destri.0.sentidQ.Jlistri~Q.;ao~ci-

    20.Na realidadea exegese~llegricanofoi inventadaporSoPaulo.J erapraticadanamesmapocade~L.EilCLde-Alexandria,..u.mj.udP.1IhfJ.lenstico~que)!1~se-campo,tornou-seo principalmestretant~

    de judeus como de cristos."" ~ ' I" I~ \;' 'l.I.J" ~A'JVo.-r. , ,106 v ,VI'-

    \

    1I

    mentos,lugar.es,ee~on.a~el!stivera!!Jel'ist,IlC~real,m~~Q 11

    11

    1

    .1mesmotemposignosdo discursodivino.As coisase fatossoas palavrasde Deus,pertencema umacadeiafaladaquese

    Idesenvolveforadahistriae da natureza.Por outrolado,as I.prpriaspalavras,no sentidoestritamentegramatical,tmtam-

    I

    :

    bmumasignificaoindependentedocontextohistrico:~o

    ...

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    ..

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    ...

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    r' I

    pronunciadaspeloprprioDeusecontm,portanto,umensina-. '~I i'mentoque temvalorparaqualquerpocae lugar._Pormeio I!destadl!Pl!lleitoura,

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    os tatose

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    palav.ras,I.

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    eleito.torna-sefigymQ!!a iI!12~.lI!.da Igreja,queo subs!li.uV JInestepapelp!.ovid~!!I

    l'relacionamen~2..!!.njc2.fom1?eus. I,

    A primeiravista,Vieirapareceapenasseguira regraque, I

    elemesmoevoca,referindo-sea SoJernimo.A transE9~iO) III~o ~a!I!l-2...~a!.~a~t~a~od9.tP2.!1l!g1,Jeses_daBalli'aHIseria uma Q!icaodo m!.9.Q.Q_aleg

    o

    riQ2.:..Mas, observando-se.. !II

    .

    .

    I'Ime1Jif,Vrifica-sequeo pregadortomaO.textoapenasnosen-Io 11tido histrico,isto , enquantohistriado relacionamentodo 1II1povodeIsraelcomDeus.Portanto,quandonodesertodeSin~,J 11Moissconseguesusteracleradivinacontraosjudeusidlatras,\ ilparaVieira,isso apenasumfatohistrico,poiscompara,em 111]seguida,os pecadosde Israelcomos de Portugale pedeao~~J}I"'"'illmesmoDeusa aplicaodame~maregra.Tambmosportugue-" RII

    ~I

    sespecaram,masnochegaram,comoosjudeus,ataapostasia: '"- - .logo, se Deus o mesmo,naopoderfazermenos:perdoar. "I

    hojeauns;ol1!ooutrpraperdoouaoutros. !IiiI' ~ Muita'~otenhoeulogo,Deusmeu,deesperarquehaveisde 1

    1

    '!

    sairdesteserm[oarrependido,poissoiso mesmoquereis,enomenos} I'amigoagoraquenostempospassadosdevossonome21. ~A

    1'-.vY' 'I"Ateno para "sois o mes.mo21. Obrascit., X, p.53.

    107

    !IiIJ

  • E seVieiraextraideumfatoantigoumaconclusovaliosaparao presente,porqueDeus,pordefinio, o mesmo.A histrianospermiteconhecer-lheo carter,assimcomoumabiografiapossibilitao conhecimentodo carterde umapersonagem,e,considerandoqueestecartersejapermanente,tem-seo direito

    . deesperarqueEleprocederhojecomoprocedeuoutrora.Alis,/'.; \j paraoshomensdo sculoXVII, a histrianoera,comopara'

    ns,uma"evoluo",masumaYB[i3onaperman~:o Ho-

    \ meme os homenseramumaconstante,aindaqueoscilanteediversa.TambmDeus,comoo demonstraahistria,temcomo, traopermanentede carterumhumorvarivel.E o pregadort baseia-senestarealidadedecertomodoemprica.I Assinalemos,poroutrolado,quea estahistriadeDeus

    no seurelacionamentocomo povoacrescenta-seumaoutra,decertamaneiraparticularaDeus,umaprogressohistrica,dequej falamos,pelaqualo DeusdeMoisssetorno\}o fIlhodaVirgem. umtemaquemereceriaumestudoespecial,masquefogeao nossoobltivo. Basta-nossalientarqueestaoutrahistriatambmnodecorredomtodoalegrico~o!ltr-~-~\J'p'(),~1,!maleiturahist~ricadote.xtodaE~critura.

    evidenteque,nestaleitura,Israelno a figuraaleg-ricada Igreja.Nohumarelaoentre"figura"e "realidade"1ou entresignificantee significado.-Nestesermo,a cone)(oseI Jestabelecee

    ..

    lltre. duas situa.!'sJsiric.as e dO.

    iS povosq~teLrni'.

    \~ aele Portu~al,e nosepodedizerqueumseja"~imagem"do outro,poisam~Q.$se~ncol1tramno mesmoplano~liistri~(),-_rioflu;!(odo tempo~E almdo mais,considerandoquea palavradeDeustemvalorproftico,o salmocomentado,descreveprofeticamenteasituaodosportugueses: ,~~... em todas as clusulasdeleveremosretratadasas da nossafortuna~o que fomos e o que somos.

    . j

    Com tanta propriedadecomoisto descreveDavidnestesalmoas nossasdesgraas...22.

    Estasituaoemqueseencontramosportuguesestam-bma do reinodeDavi,assimcomoo relacionamentoprivile-giadoentreDeuse Israel,estabelecidopelaAliana, tambmo relacionamentoexistenteentreDeusePortugal.1)eparamo-nos-entocom umadassurpresasdestesermodesconcertante:apalavrade Deusse aplicato bemaosPortuguesescomoas'Hebre1l: '.

    Citamosum trechodo sermoem queo versculodo

    22. Ibid., pp.43e46.

    108

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    salmoseentremeiacomumad:SproposiesdadeclaraodeCristoa AfonsoHenriques,de tal maneiraque os doisfiosparecemconstituirum mesmotecido.O texto:Tu esipserexmeuset Deusmeusqui mandassalutesJacob,queexpressaovnculoespecialentreDeuse IsraelcombinacomaspalavrasdeCristoem,Ourique:Voloin te et in seminetuo imperiummi-hi stabi/ire,expressotambmdo mesmovnculoentreDeusePortugal,e justificaaconclusodequeacausadasortevariveldosportugueseso prprioDeus,enoamudanadedinastia.Temosa ilusodequenosodoispovos,masums,nosoduasalianas,masumanica.E achamosmuitonaturalqueopregadorretome,entreDeuseseupovo,aposio,noalegri-ca,mashistrica,assumidaoutroraporMoisseDavi.

    Semdvida, precisonoesquecero aspectoartsticodoresultadoassimconseguidoe lembrarqueVieira ummestredaexpressoequvoca.Poucosescritoresforam,aomesmotem-po, tolmpidose toilusrios.Usandoosversiculosdosalmo,dumadimensobblicaa umaatualidadeinfelizemesquinha.Os infelizesportuguesesdaBahia,ameaadosdeperderaspr-priascasas,sentiam-sepromovidos posiosuper-humanadeIsrael,assumindoo prpriopregadoradignidadesantadeMoiss.Os desgraadosnose defrontavammaiscomos exrcitosdeLichthardt,mascomDeus.A comdiaserepresentavaentreocu e a terra.Era uma"simulao",comovimos,masuma"simulaodoquesesentiarealmente",oupelomenosdaquiloqueo prpriopregadorexperimentavae procuravatransmitiraopblico.

    -' Eisporquee~aassimil~oel1tL~J~prt!lgale Isra~!!.mprocessooraiQ,ri9,nQp~c.~dJ:SPIovidade.sentido,embora'issonuncasejaditonotexto;Jantomaisquemuitosportugueses,e particularmenteos inquisidores,acreditavamentoqueo pa-pelprovidencialdesempenhadooutroraporIsrael,quesetornaradepoiso povo"deicida",foratransferidoparaPortugal,anaoquemaiscontriburaparadivulgaroCristianismoforadaEuropa.Pelo contrrio,nose encontrano textonenhumapassagem,\nenhumapalavrade quepudessemsevaleros Inquisidoreseseussequazes,preocupadosemnoperdersequerumaocasiode ~J!!.r ~sdesgraas.ptblicas persistnciado ju,.dasmo,

    Todavia,n~~rio do ~~!.o.!:nUo~mquesedes.prezao mtodoalegricoem,pJOYtodo mtodoHte~ale histrico,~lrnpQ!-se a lembranadasubs~ituiodeIsraelpor Por-tugalri papelqe povodeD.eus.T,camosassimnumassuntoprn-qaltalvez~ncontremosresp0staemoutrostextosdeVieira.

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    109)/

  • Todasaspartes~r. naan,li

    ,

    seprecedente,tentamosisolar,encaixam-semuitobe .1 Deus-pessoa,acessvels"influnciashumanas",estdeaco comaimagemdeDeusprotetore reide ulIk,l1vo,ligadoa elepor um pactode tipo patriarcalepesso0-k:stepactosupeo papelpriVilegiadoe'proVidencialdop6V=daaliana,que,nesteesquema,spodeserentendidoco-moumacomunidadetnica,comre~idadecarnal,independente-,menteda noojurdicadeEstad?Poroutrolado,a exegesehistrica,aplicadapor Vieiraaotxto da Escritura,leva-oaapreendero carterde Deusenquantopessoa,tal comosemanifestouno tempo,empiricamente,um resultadocontrrioaoqueseobteriapelainterpretaoalegrica,cujoobjetivo,jus-tamente,ultrapassaroutransformaroque,nanarrativabfblica,sechocacomumaconceporacionalizadadadivindade.O real-

    I

    e dadoao AntigoTestamentoemdetrimentodosEvai1geiilos

    "

    "" (evocadosraPidamente

    ,

    e Gomoremateno fimdosermo)segue, esteplano,pois naprimeiraenonasegundapartedaBblia

    " cristquesepodebas~iraimagemdeumDeustnico;aIgreja,.' fundadaporJesus, aefatouniversale estacimadasnaes.

    1. tambmnoAntigoTestamentoqueo pregadorprocurains-T pitaoparao papelqueassume,deibt.rpretee defensordoL povo,a exemplodeMoissou deDaV1'iporfim,a formadra-, ~mticado texto,pornatureza,aqueC6nvmaodilogoentre

    o Deus-reie seupovo,duaspessoasquese defrontamcadaumacomumasubjetividadeirredutfveldesdeo primeirocapf-tulodo Gnese.Estaformadramtic9~-g-9P-Qs.to.daexpressolricaquecorrespollifeexperIenciamfstica.

    E, pois,o DeusdoPentateucoqueressurgecomumvigorempolgantenapalavrado pregadorcatlicoejesuftaenocora-odosportuguesesqueo escutam.!! rneSrnasfrmulasp.9demgorresPOD:dera co..!!1edoscompletamentediferentes.VieiraeBossuetpertenceram mesmareligio,masno certoquetenhamomesmoDeus.

    '

    ~- Podem-seprop"or_

    ,

    'vriashipteses,paraexplicarestareapa-_riona BahiaemCl(l640110De.l!.sde M2!~~:Indicaremosduas

    ' ue,alis,sepodemcombinar. 'N A primeiraa prpria~trut~adacII!.unida.~eportugue:

    sa,posta provanessapocaporumperigomortalqueo obri-'gvaa ir buscara suaforaaoqueelaprpriatinhademaisfntimoeconsubstancial.Eraumpovodispersonomundo,rfii:-:

    ,do seupai,tendocomoprincipallaocomunitrioo sentimentodepertencer mesmaetnia.Noj umEstado,emaisoumenosqueumacivilizao. nosentidomaisforte(nosentido,porexemplo,emqueessapalavraeraaplicadaaosjudeus)uma"nao".O sentimentodaestrutura"nacional"eraprovavelmen-

    I .' n110 W' li' 'I' ,'~ r, (1.~I,.ft

    t.,

    Ite maisforteno Brasildo queemqualqueroutroterritriportugusdapoca.Nesteimensoespao,aoabrigodoEstadoespanhol,o sentimentode'comunidadetnicaerao nicolaoentreos aventureirosportuguesesdispersosdo Atlnticoaos

    '.,Andese da FlorestaAmaznicaaoRio daPrata,contandosIf cornosprpriosmeios,poismalpodiamapoiar-senumaautori-

    dadejurfdicademasiadolongfnqua.Eraa terradosalve-sequem

    ~ puder.Mesmodepoisdarestauraodacoroaportuguesa,espon-taneamentee pelassuasprpriasforas,continuarama guerracontraosholandeses,quandoo reidePortugalsepreparavaparafazera paz.Essesentimen!Q.~.tL~~m.9l!.Y!~anas_o_r!gen~~a!!!!ig,adepolfticae naextra.ordinriahOlDogeneidadeculturaldo

    ~aior territriodomundodepoisdaChina. '"Jf A segundahiptese a de umapenetraoprofundae

    "".\inconscientedo judafsmona populao.Nodeumjudafsmoculto,de umadoutrinateolgicaelaborada,mas,se assimse

    " podedizer,deumjudafsmoregressivo,queesqueceuo Talmud\' ~ >,eseagarraa

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    3. O DISCURSOENGENHOSONOSERMO DA SEXAGSIMA

    II

    O interessedeVieiracomoescritordecorredo fatodeterpraticadocomvirtuosidadeincomparvela artedapalavrano

    \estilo"conceptiw")- comoo denominamosmanuaisdelite-ratura- e de o terfeitocomobjetivosprticos,porqueparaelea palavraerainstrumentodeao.Emboraoshistoriadoresdeliteraturaportuguesaebrasileiraoconsideremexemplotpicode"barroco", Vieiraconseguiuserclaroeconvincente.Pormeiodasmesmaspalavrase do mesmotipo deconstruo,fazia-seentendertantoporhomensdacortecomopor colonosanalfa-betosdasaldeiasbrasileiras.Apesar-de"barroco",nadalheeramaisestranhodoqueoconceitoda"artepelaarte".

    o seguinteo problemaquea nsseapresenta:comoepor queumestiloliterrio,tidopelaopiniogeralcomopura-menteartstico,sacessvelaosiniciadose adequadoaogostode cortesrequintadase deacademiasliterrias,podeserusadonaprticacotidiana?Comoeporquepode~erfunci?nal?'

    Paran6s,ocidentaisdo sculoXX, umdiscursos fun-cionalsecorrespondescoisase leisdoquechamamosrealidadeobjetiva.O quesignificaqueaspalavrasdevemrepresentarde

    113

    II

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  • maneiraprecisaobjetosreaise parao seuempregoasregrasdevemcorresponderaprocessusqueexistamobjetivamente.

    nestaidiaquesebaseiaanossaconcepodelinguagem.Supomosquecadapalavracomoumsmbolo,correspondentea um conceito,quepor suavezrepresentauma"coisa".Poroutrolado,considera-sequeasoperaeslingsticasso,emsi,apenastraduesgramaticaisdasoperaeslgicas.

    A cincialingsticaconfirmaestacrenageneralizada.Suaidiafundamental o "signolingstico"constitudopordoiselementosindissociveis:o "significado",o conceito,e o"significante",seusmbolosensvel.Umnoexistesemooutro.O corpode umapalavra,por exemplo,suamatriavisvelouaudvel,noexistelingiUsticamentedesligadodo conceitoquerepresentapor si s,notemlugarnacadeiafalada.Mas,poroutrolado,a relaoentresignificanteesignificadopuramenteconvencional(Saussuredisse:"arbitrria"),o quequer.dizerqueos smbolosmateriaisnotmidentidadedenaturezacomosconceitosrepresentad~.Soinseparveis,masnuncaseencon-tram.Foradacorrentefalada,que a dossignos,h,paralela-mente,a correntedos"referentes"!,quesoasprpriascausasrepresentadasporsignos.

    No fundo, umaformaelaboradadeteoriadarepresen-tao,queadmiteimplicitamenteo postuladodacorrespondn-ciaentrepensamentoemundo,edominaamentalidadeocidentaldesdeacriaodacinciamodernanosculoXVII.

    Vieiraexpssuasidiassobrea artedapregaonoSer-moda Sexagsima,pronunciadoem 165~E um dosmaisclebres,escolhidopeloprprioautorparaabrira ediodosseussermeJ.Vamosprocurar

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    por eleutilizadosri,_E!"ticaaos pregador~do seutcm.PQ~Jla,;!pQlQg~-das,~uasprpriascbi1CeP~:.1#Comenta a parbolacfSemeador,tiradadoEvangelhode

    SoLucas.Conformea prprianarrativadeJesus,o Semeadordeixoucairumapartedosgrosnocaminho,outranosespinhos,umaterceiranaspedras.S a quartapartecaiuemterraboaepdefrutificar.Jesusexplicatambmo sentidodestanarrativa:o groapalavradeDeus- SemenestVerbumDei;asdiferentesterrassoasdiferel}tesespciesdeouvintes.Vieiratomacomo

    1. Noutroestudo(Messageet Littrature,in Potique,nJ17,1974),pro-pusemosa substituiodestetermo - Referente- por um outro -Referido. O esquemade signo seriaento o seguinte:[Referido] -+Significado-+ Significante.Na realidadeo significado(ou idia)refere,ou traduzintelectualmenteo Referido(a "coisa"a queserefereo signo),comoo significanteexprimesensorialmenteo significado.

    114

    1\

    ,

    I

    i:

    temaa fraseSemenestVerbumDei e faza seguintepergunta:por queospregadoresdonossotempo,queaparentementeensi-namapalavradeDeus,sototalmenteestreise noconseguemresultadoalgumdosouvintes?

    () '* Pararespondera ela,Vieira,deincio,estabelecequetrsfatoresouprincpiossoindispensveisparaaconversodeumaahria:o pregador,o ouvintee a graade Deus.Exemplificaestesistemacomumacomparao:paraqueo homempossaver-se precisoreunirtrscoisas:olhos,espelhoe luz.Sefaltaumadelas,noh imagem.A luz a graadeDeus,quenopodefaltar,conformeo ensinaa'IgrejaCatlica.A prova,alis,estnaprpriaparbola:Cristonomencionoua faltadechuvaou de sol comocausadaperdadasemeadura.Pelocontrrio,

    . emoutrotrechodaBblia,dizqueo soltantoiluminaosmauscomo,osbons.O sole a chuvasoasinfluncias"dapartedoCu",o qusignifica"a graadeDus".Quantoaosolhos,osprpriosouvintes quedevemsemirarno espelhoparapoderconheceros pecados.Na parbolado Semeadorestesouvintessoosdiferentesterrenosemquecaiuo gro.Naterracobertadeespinhoso grobrotou,masfoi abafado;napedra,tambmbrotou,masficouressecadoporfaltadeumidade.I~tosignificaque,sejamquaisforemos ouvintes,dapalavradeDeusnascesemprealgumacoisa.Masverificamosqueos sermesdehojenadafazembrotar,sototalmenteestreis.Ossermesemque'os pecadoresdevemexaminarospecadossorepresentadospeloespelho.Sea luz nopodefaltar,seosolhostambmno,de-duz-seforosamenteque o espelhoquefalta,isto,o ensina-mentodospregadores.

    ~ Chegamosento segundaparteda resposta,a queserefereaprpriapregao.Vieira,paratentare!,\contrarascausasdofracassodospregadores,enumeraas"circunstncias"oucon-diessupostamentenecessriasparaqualquerpregao.Soelas:a pessoado'pregador,o estilo,a matriado sermo,a cinciado pregadore suavoz. Ora, estascincocircunstnciasestono primeirovcrsculoda narrativa:Exiit qui seminatseminaresemensuum.Numapartedo sermoa quenonosreferimos,,eleexplicouo sentidodaprimeirapalavra,exiit,masemoutrocontexto.Vaiagoraestudarasquatropalavrasseguintes.

    -t-Consideremosprimeiroa pessoado pregador.No textorepresentadapelaexpressoquiseminat.Observemos,dizVieira,queCristonoempregouumnomeparadesignaro Semeador,masumaexpressoverbal','aquelequesemeia".Porqu?Porqueo queimportanosonomesou ttulos,masaese obras.,"Governador",porexemplo,no a mesmacoisaque"aquelequegoverna".Antigamente,ospregadoresensinavampeloexem-

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    pIo,hojeensinams por palavras.Tmnome,masnoao,depregador.Consideramosquetambmo semeadorsemeiacomas mos;e mosquerdizerao.H duasmaneirasdepregar:comaboca,pormeiodepalavras;comamo,pormeiodeaes.A primeiraatingeapenaso vento,sasegundatocaoscoraes.Poisasaesvem-seeaspalavrasouvem-se,eo queentrapelosolhosnosimpressionae nosobrigademodomuitomaiseficazqueoqueentrapelosouvidos.

    '* Passemosaoestilodopregador.No textodesignadopelapalavraseminare.A artedesemear muitosimplese natural:bastadeixarcairos gros. um processodanaturezaqueseopes regras,compassose medidasdasdiferentesartes.Estemovimentodequeda trsvezesevocad9no textolatinopelarepetioda palavracecidit,caiu.

    t-)stamente,existemna

    lnguaportuguesatr

    .

    s derivadosde C

    .

    dlre,cadaumdesignandoumamaneiradecair.Quedarefere-sdiz Vieira,a-"coisas":precisoqueno serm~oelascaiamn momentoenolugarcon-venientes;cadncia,harmoniadaspalavras,quenodevementraremchoque;caso(nosentidodolatimcasus)disposioe ao arranjodasmatrias,e precisoquenosejaviolentoeartificial.Vemosjustamenteo opostonospregadoresconsidera-dos "cultos"."J que falo dos estilosmodernos,acrescentaVieira,querobasear-meno estilodo maisantigopregadorquej houveno mundo.E quemfoi ele?O Cu".De fato,Davidiz em um dos salmos:CoelienarrantgloriamDei. Os Cuscontamou pregama glriadeDeus.As palavrassoasestrelas;ossermes,a ordem,a harmoniae o movimentodelas. umaordemnatural,comoa dassemeaduras,poiso cuest"semea-do" deestrelascomoaterra"semeada"degros.Justamenteocontrriodaordemseguidapelospregadores,queconstroemossermesfazendojgosdepalavras,comonumjogo dexadrez.

    Vem,emseguida,a circunstnciadaMatriaque,confor-meVieira,estindicadanaparbolapelapalavrasemen.Cristoempregou-ano singular,e nono plural,o quequerdizerqueo sermodeveterumanicamatria.Vieiracriticaentovee-mentementeos pregadoresquemultiplicamos assuntose emespecialo mtodode pregaoquedenominavam"apostilaroEvangelho".Segundo'a suaconvicoo sermo comoumarvorecujasrazesseriamos textosda Escritura;o tronco,amatrianica;os galhos,as diferentesdivisese as flores,aspalavras.

    Emquartolugar,temosdeconsideraracinciaouconheci-mentodo pregador.Alguns,incapazesdeumacomposiopr-pria,diziamdoplpitosermesdeoutros,decorados.Vieiracoma palavrasuum.atacavaecondenavaestecostumemuitogenera-

    116

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    lizadonapoca.O pregadordeveensinaro queelemesmosabee noa sabedoriadeoutroamontoadanasuamemria,poisoqueporelatransmitidonoatingeasalmas.

    Falta a Voz. Esta"circunstncia"noestindicadanoversculoqueVieiraacabadeacompanharpalavraporpalavra.Masnofimdaparbolao EvangelistadizqueCristohaecdicensclamabat,gritavadizendoestascoisas.s vezes,o pregadordevegritar,poisinfelizmenteaspessoassomaissensveisaosgritosque razo.No entanto,observaVieira,a vozdeMoissera

    - suavecomoo orvalhoquecai.Na.realidade,nemsempreosgritossoeficazes.O queentramansamentepeloouvidopene-tramaisnaalmadoqueaquiloquefereduramenteostmpanos.

    Passamosem revista~ cinco circunstnciasda pregaoIA anlisede cadaumacomeapor umainterrogaoe acabapor umanegao,poisexistemexemplose textosquecontra-dizem,emcadaumdospontos,asopiniespessoaisdeVieira.No fim destaanlise,eleconcluiquea ausnciadequalidadesconsideradasindispensveisparaumaboapregaonoexplicao fracassodos'pregadores,poisMoisstinhavozfraca,Salomomultiplicavae diversificavaos assuntos,Balaoeraumpecadore seuburronotinhasabedoria.Qualser,pois,acausaverda-deiradaesterilidadedapalavradeDeus,napoca?Chegamosterceirapartedosermoeconclusodaresposta.

    Cristodisseexplicandoaparbola:semenestverbumDei.O gro a palavradeDeus.OraaspalavrasdospregadoresnosoPalavrasdeDeus.Semdvida,servem-seelesdaspalavrasdaEscritura,mastambmo diaboinvocoua Escrituraparatentara Cristono deserto.ParaqueaspalavrasdaEscriturasejamapalavradeDeus precisocompreend-Iaseexplic-Ias,segundoo sentidoqueo prprioDeuslhesdeu.Ospregadoresprocuramexplicaesfantasistasparasurpreendero pblicoe sefazeremadmirarpelosespritosagudos.TomamaspalavrasdaEscritura"peloquesoamenopeloquesignificam"ecomelasestruturamconceitos,quetransformamossermesemcomdiasmundanas.

    Pode-seobjetarque istoqueosouvintesapreciam.Vieiravoltaao textodaparbolaquandoelaserefereaogropisadopelosquepassame asseguraqueo queprecisaserensinadojustamentea doutrinadesprezadae calcadapeloshomens.Apregaoqueproduzfrutosno aquedeleitaosouvintes,masa queos fazsofrer.E o pregadorterminao sermocomumaanedota.Doispregadoresdisputavamosfavoresdopblico;per-guntaramentoaumgrandeprofessordeuniversidadeaopinioquefaziadecadaume elerespondeu:"Quandoououm,ficomuitocontentecomo pregador,quandoouooutro,fico des-contentecomigomesmo"."Semeadoresdo Evangelho,exclama

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    Vieira,eisaquio quedevemospretendernosnossossermes:noquelhespareambemos nossosconceitos,masquelhespareammaltodosos seuspecados."

    Depoisdaanlisequeacabeidefazer,v-seque,paraVieira,os mauspregadoressosobretudoos quesepreocupammaiscomo sucessoliterrioemundanodoquecoma conversodasalmas. um sermocontraosliteratosparaquemo textosa-gradoeraapenasumalojaondeencontravampalavrasehistriaspor meiodasquaisconstruamessasfrmulassurpreendenteseinesperadasqueocastelhanodenominavaConceptos,oportugusConceitos,o italianoConcetti

    Na idiade Vieira,10Sermoda Sexagsimaera,semdvida,nos umaexposiodoutrinria,comotambmumexemplodeboapregao.Trata-se,defato,deumapeanotvelpelabelasimplicidade,pelaelegnciaausterae funcionalquecontrastacoma,multiplicaodeimagenssensuaise.brilhantes,masp.uramenteornamentais,caractersticasde numerososser-mesportuguesese 51panhisdemesmapoca.Justifica-seple-namenteaadmiraoqueoSermodaSexagsimasuscitouentreosadversriosdaartebarroca,taiscomooPadreIsla.

    No entanto,o quenosinteressa amaneiracomoVieiradesenvolveo discurso.Primeiro,temosaimpressodequeo seuprocessode demonstraoseprende anlisegramaticale se-mnticadaspalavrasdotextodaVulgata.Segueaprpriaordememqueaspalavrasestocolocadaseasexplicaparadeterminar-olheso sentido,servindo-sedemtodosetimolgicos,morfolgi:cos,sintticos,analgicos,etc..Assim,a pessoado pregadordefinidapelaexpressoqui..ff!!!ljnatqueno um nomemasumafraseverbl,o quesignificaqenemsempreottulocorres-ponde ~. No queserefere matria,prende-seao fatoda palavras~mJ:ll-estarno s~xclui-a-plur.a1idade..dosassuntos,etc.

    O processoempregadoporVieiraheranadospregadoresdaIdadeMdiae tinhaumnometcnico:claves.Encontram-se,no textoescolhidoparao sermo,asclavesoupalavras-chave,.cujaanlisepermitiacompreendero sentido,tirarensinamentoseestabelecerligaesentrediferentespassagensdaEscritura.

    primeiravista,dir-se-iaqueo pregadorprocuradeter-minaro sentidoa partirda forma,o significadoa partirdosignificante.Narealidade,oprocessooutro,comovamosver.

    A anlisedeumapalavra,enquantosignolingstico,com-preende,aomesmotempo,aanlisedaformaoumatria,isto,doseuaspectosignificante,edeseuconceito,aspectosignificado.Vieirano seudiscursoorausaum,oraoutro.Por exemplo:apalavraseminareIcontmo conceitode cair,poiso SemeadorII118

    deixoucairemterrao gro.Cair emlatim cadere,e sobopontodevistaetimolgicohtrspalavrasemportugus.- que-da,cadnciae caso- que,atravsdametfora,adquiriramumsentidoqueno se encontrana palavracadere,sinnimodecair.

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    , pois,-pelaanlisedosignificadoouconceitoqueVieirapassadeseminarea cadere;e pelado significantequepassadecadereaderivadosportugueses,quecontribuemcomnovoscon-ceitosparaodiscurso.

    tambmatravsdo significantequeo nossopregadorevocao gestodo Semeador,no cuestrelado:o cu,de fato,est"semeado"deestrelas.

    Analisando,portanto,a formada palavra,independente-mentedo conceito,Vieirachegaa novosconceitos;comotam-'bm,analisandoo conceitoda palavraindependentementedaforma,chegaa novasformas.Exemplodo primeirocaso:decadere,passa.ao conceitodecadnciartmica.Exemplodo se-gundo:do conceitode seminarepassaa cadere.Vai de umapalavraa outra,orapormeiodo significado,orapor meiodosignificante. .

    Issono ad'missvelno nossoconceitodeutilizaodalinguagem:noadmitimosa confusoentrea ordemdossigni-ficantese a dossignificados,nema possibilidadedesepara~osignificantedo significado.Ora,Vieirajustamentequebraani-dadedosignolingsticoepenomesmoplanoosdoispedaosdesmembrados.

    Ossignosparaelenosoo queestapalavrasignificanalingsticaatual.Soantesmanifestaesvisveisdeverdadesescondidas,e nohumamedidacomumentreaspalavrasda

    . Bfbliae a PalavradeDeus,cujosegredodeveserarrancadomatriaondeseesconde.Paraisso,cumpreobservaratentamen-te as palavrascomocoisas,quebr-Iasse necessrio,comosequebraa pdraparaencontraro modeouro.No fundo,noexisteumadiferenaqualitativaentreaspalavrase, porexem-plo, asestrelas;umaseoutrasso,igualmente,signose nosdoiscasosnoh relaoentreestasmanifestaesvisveisea reali-dadequetestemunham,que,por definio, infinita.O cucomoaspalavrastestemunhama presenadeDeus,masnoaabrangem.

    . As consideraesdeV.

    ieirasobreo cuestreladomerecemaindaoutraobservao.fJ Cua queserefereno somenteo cufsico,queosnossosolhospodemobservar,ouporassimdizer,o referentedapalavra"cu"nocdigolingstico. antesum cuenunciadono texto,Umcutornadopalavra,umcu,se assimse podedizer,"falado".O prpriocuexistenteno

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    textotorna-seem si mesmoum texto:contmum preceitorelativo arteda pregao, um modeloparaos pregadores.O cu"falado" tambm"falante".Vieiranodistingueentreocufsico,queosnossosolhoscontemplameocuqueopensa-mentoconheceatravsdapalavra.Este maisumexemplodaconfusoeequivalnciaentresignificadoesignificante.Mastam-bmo exemplodeuma,atitudedeespritoqueconsisteemolhartodaa realidadecomoPalavraoucomoTexto,doqualsepodemextrairpalavras.NasestrelasVieiraencontra,almdo quejsalientamos,duasoutrasexpresses:so"altas"e "claras".De-correda que os pregadoresdevemprocurara "altura"e a"clareza"deestilo.

    H aindanosermoumoutroaspectoa considerar:Vieiracensuranospregadoresumgnerodesermoquechama"estiloemxadrez".Descreve-onestecuriosotrecho:

    No fez Deuso cu~mxadrezdeestrelas,comoos pregadoresfa-zemo sermoemxadrezdepalavras.Sede umapartehdeestarbranco,deoutrahdeestarnoite;de umapartedizemluz, da outrahodedizersombra;se de umapartedizem"desceu"deoutraho dedizer"subiu".Bastaque no havemosde ver numsermoduaspalavrasempaz?Todashodeest~rsempreemfronteiracomo seucontrrio?

    Ora,nestetrechopolmico,Vieiradescreve,semse darconta,o seuprprioestilo.O SermiodaSexagsimaestquaseinteiramenteconstrudodeacordocomasleisdarepetio,dasimetriaedaoposio.Vimosqueosparesantnimostaiscomobocae mo,vere ouvir,caire subir,arteenatur~za,semeareladrilhar,soare significar,contentee descontente,etc.,encon-tram-serepetidamente.As frasessoconstrudasdemodoaprem evidnciaos doismembrosdestespares,colocando-os,svezes,atmesmoemoposiosimtrica.Tm,noraro,formade umdpticoemqueumadasfacesreproduzinversamenteaoutra.Porexemplo:"lonasdurante40 diaspregouumsassun-to, ensqueremospregarquarentaassuntosemumahora".

    Estegnerode construo muitousualna PennsulaIbricano sculoXVII e foi abundantementedescritaporBal-tasarGracinsobonome"proporcin".Sopequenosougrandesconjuntosorganizadosde maneiraa destacarpor analogia'ouoposioa correspondnciaentredoistermosquepoderiamserdenominadosextremos.

    evidentequea maneiracomoseusaapalavrafacilitaainvenode"propores"comovimosno SermiodaSexagsi-ma.Se o significante separadodo significado,multiplicam-seaspalavrasdisposiodoescritore,seospedaosdesmembra-dosseencaixamnumamesmacadeiafalada,podem-seestabelecer

    120

    ,Irelaesinconcebveis~umdiscursocomum;acrescentemosqueestamultiplicaodepalavrasdisponveis aindaelevadaaumgraumaisalto pelainterpretaoalegricada Escritura,con-formeos mtodosdaexegesetradicional,quepermiteatribuirquatrosentidosacadatexto.

    "EI artede ingenio"na teoriade Gracinreduz-sepro-vavelmentea duasoperaesprincipais:deumlado,descobrirpalavrasescondidasemoutraspalavras,emoutrasnarrativasemesmona natureza;de outro,escolhernestecabedallexicol-gicoos extremos,isto , os paresdepalavrasqueconstituemoposiesou analogias.NasduasprincipaislnguasdaPennsulaIbrica,a sutilezade espritocapazdediscernirextremosnaspalavrase nassituaesreaisdenominava-seagudeza.E nestesentidoagudeza(consideradanoj comoatributo,mascomoprodutodo esprito)erasinnimode"concepto".Em italianousava-seindiferentemente,no plural,accutezzeou concetti.Nagriadosliteratosibricosdo sculoXVII haviaaindaumaex-pressocuriosaparasignificaro trabalhodaquelequeconstruaconci~itos:a palavracastelhanae portuguesalevantar.

    Alis muitodifciltraduzirestevocabulrioparao fran-cs,porqueestpreso,aumgneronormaldapoesiae daprosaibrica,maspoucousualnaFrana.Certamenteencontra-setam-bmnaliteraturafrancesa"a agudeza",masapenasumenfeite,umornato;enquantonasliteraturasibricaso "concepto"cons-titua aA'rpriaalmado discurso,emtodasasespciesdetra-balho.;()escritororganizao conjuntodoseudiscursodeacordocomumsistemadeoposiese analogiasedispeasfrasescomoumasucessodepequenossistemasdo mesmognero,digamosassimcomocristais,cadaumconstituindoumtodocomumaleiestticadeestruturaprpria.

    Paraapreendermelhorasduasdiferentesespciesdedis-curso,denominemosaum"discursoclssico",aoutro"discursoengenhoso".A palavra"engenhoso"foi empregadanaFrana,no sculoXVII, peloPadreBouhourscomotraduodocaste-lhanoingenioso,numtrabalhoemqueele,alis,atacaveemen-tementeBaltasarGracine outrosescritores"engenhosos".Estatraduo,porm,correspondeexatamenteao sentidodapalavraespanhola,que um adjetivoderivadodo substantivo,ingenio.Gracincontrapeestapalavra11Juicio. O discursoclssico,o deDescartesou o deBossuet, resuJtadodeumjulgamento.

    , As palavrassoos signoslingsticosnosentidoquelhedamos)atualmente,e supe-sequesejustaponhamno discursosegundo

    :/' a ordemdo raciocnio.Notmautonomiaporquesoapenas)representantes.No discursoengenhoso,aocontrrio,aspalavrasnosorepresentantes,masseresautnomosquecomomatria 'II

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  • podemserrecortadosparaformaroutrose tmemsi relaesquelembrammuitomaisoselementosdacomposiomusicalougeomtricaqueosdo"bomsenso"cartesiano.

    intil dizerque nadasepodedemonstrarno campocientficoou mesmoracionalatravsdo encadeamentodo dis-cursoengenhoso. eVidentetambmques o discursoenge-nhoso,namedidaemquequebraaspalavraseseuencadeamentohabitual,possibilitaa expressode crenas,sonhos,intuiesquesesituamforada razo.

    Por outro lado,se o discursoengenhosonopretendeconvencerpeloraciocnio,o nicocapazdedespertara imagi-naoe condicionaro espritopelosmtodosdasurpresaedosvnculosintangveise incontrolveis,verdadeirosou falsos,queas palavrasestabelecementreconceitosdiferentes.Da serodiscursoe1!genhosoo Por queentoo PadreVieiraatacaos confradesqueela-boravamconceitose usavamestaespciedealquimiaverbaldequeosseusprpriosdiscursossoexemplomarcante?

    Bastaler o estudodeGracin,queVieiraprovavelmentenoconhecia,paracompreendero sentidodo SermiiodaSexa-gsima.Os doisjesutascontemporneostinhama mesmaidiada linguageme, especialmente,da palavra.ParaGracin,noentanto,a procuradassignificaesocultasdeviatercomoob-jetivoo Belo,independentementedoVerdadeiro.Nestesentido que faz distinoentreel Ingenioquealmejao Beloe elJuicio queprocurao Verdadeiro.A descobertadassignificaesocultastinha,portanto,paraele apenasuminteresseesttico.ApesardasinmerascitaesdosPadresdaIgrejae deoutrosescritorespiedosos,Agudezay ArtedeIngenio umtrabalhototalmenteprofano,de tal maneiraque numamesmafrasepe em planoigual- o planoesttico- SantoAmbrsio,SantoAgostinho,MarcialeHorcio.ParaVieira,pelocontrrio,a alquimiaverbale a construodeconceitoserammeiospa-ra persuadiro ouvintedeumaverdadeou paraconstrang-lo aumaao.

    Os processosdo discursoengenhosoibricotmrazesremotasno comentriobblico,comona pocadeJesusj ofaziamosjudeuse cristos.Umdosprincipaismestresdaexegesec'istfoi o judeu-helenizadoFilodeAlexandria,citadomuitasvezesporVieiraapropsitodepesquisassobreo sentidoocultodaspalavras.Paraos exegetase pregadoresdaIdadeMdia,a

    122j"

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    palavrade Deuseraa palavraabsoluta,emcujoseiotinhamnascidoa naturezae'a razo.OsvocbulosdeDeustmreali-dadepositiva,indiscutvel,anteriore exterioraoraciocniodoshomens.Erapreciso,pois,consider-Ioscomocoisaseestud-IospormJ!.Qdos_grama!icais,le~icol~gicoseanalgIOOs-:---

    Namedida,porm,emqueossentidosdapalavraabsolutasoinfinitosecadapalavrapodedizertudo,odiscursoengenhosolibertaa palavradadisciplinalgicae torna-adisponvelparaapuracriaoliterria.Sob a capade explicaode texto,osliteratospoderiamextrairdelaconceitosvariadosquenotinhamamenorrelaocomaFreligiosa.Foioquefizeramnumerosospregadores,procurandoseduzirum pblicoqueia ao sermocomoaumespetculo.Vieirasequeixadestesouvintes"agudos"quecomparaaosespinhospontudosdaparbolado Semeador.Bastaler o pregadormaiscitadoe admiradoporGracin,FreiHortensioFelix Paravicino,paraveratquepontoa pregaopodetornar-seumgneroexclusivamenteliterrio.Comaliber-dadeabsolutaquelhedo discursoliterrio,Paravicinodivagada palavraparaa coisa,da coisaparaa palavra,danarrativaparametfora,dametforaparaametforademetfora,tecen-do umaprosartmica,infinitamentefluente.Lembra-nos,porvezes,osurrealismo. '

    {: contraesta~ratuidadedodiscursoqueVieirareagenesteI sermo.Paraele,o discursoprecisatercontedo,transmitiruma

    mensagem.Noexamina,porm,aprprianaturezadodiscurso.Ao discursoengenhosoesvaziadodo contedosagradoorigin-

    ;; rio, opeestemesmodiscursoengenhosocomomtododede-t monstraoe de comunicaoda verdade.Ele aindasemovi-

    WI

    \mentadentrodaidiadaPalavrareveladae criadora,enquanto

    t paraGracine outros a Palavrae a Realidadecadavezseafas-tavammaisumadaoutra.

    Esyanha,apesardasexpressesporvezespatticasdamaisfiel ortodoxia,chegava,por suavez,aolimiarda idademodernalaicizadae burguesa.

    Isto,porm, outroassunto.O quepretendi,nestaexpo-sio,foi destacaro conceitode"discursoengenhoso"emopo-.sioao de"discursoclssico".Parao primeiro,aspalavrasnosorepresentantes,masseresabsolutos,nosquaisnosedistin-guesignificantedesignificadoequeexistemindependentementedarelaocomseusreferentes.O mtododo discursoconsisteem tirar de determinadapalavra~por meio-dnllselexicol-gicae gramatical,umnmeroindefinidodeoutraspalavras,quese organizamsegundoas leis de umacomposiodecorrentemaisdaestticageomtricaquedageometriadedutiva.

    Parece-meconsidervelaimportnciadesteconceitocomo

    j,

    123

    ---

  • instrumentodeanliseliterria.Dar-nos-apossibilidadedecom-preendertextosconsideradosbarrocose, talvez,tambmtrazeralgumacontribuio confusadiscussosobreo prpriocon-ceitodo barroco.

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    124

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    4. O "CONCEITO"SEGUNDOBALTAS;\RGRACIN EMATTEOPEREGRINIOU DUASCONCEPES

    SEISCENTISTASDO DISCURSO

    I. INTRODUO

    muitointeressantedescobrirque,entre1639e 1642,aparecemnaEspanhaenaItliadoislivros,cujoassuntoumaentidadepor queningumatentosetinhainteressadoexprofesso:

    Bolonhae Genova,1639,Delleacutezzechealtrimentispiriti,vivezzeeconcettivolgarmentesiappellano/ .../ trattatodi MatteoPeregrini,bolognese..

    Madri,1642,Arte de Ingenio,tratadode IaAgudezaenqueseexplicantodosIasmodosy diferenciasdeconceptos,porLorenoGracina.

    a. Trata-sedaprimeiraediodotratadoquenasegundaedio(Huesca,1648)seintituJou;Agudezay ArtedeIngenio.O verdadeironomedoautor Baltasar.

    125

  • ColeoDebatesDirigidapor J. Guinsburg

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    Equipede Realizao:Traduo:TerezadeArajoPenna;Produo:Plnio MartinsFilho

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