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Renorbio propõe revolução na produção científica e tecnológica do Nordeste Páginas 7, 8 e 9 Anabolizantes: pesquisa busca nova técnica para identificação Páginas 15 e 16 DROGAS: RESPONSABILIDADE DE TODOS Fumo e Álcool: necessidade de políticas públicas permanentes Páginas 4, 5, 6, 10, 11, 12 e 13 TERESINA - PI, JUNHO DE 2009 • Nº 20 • ANO V ISSN - 1809-0915

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Drogas

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Renorbio propõe revolução na produção científi ca e tecnológica do Nordeste

Páginas 7, 8 e 9

Anabolizantes: pesquisa busca nova técnica para

identifi caçãoPáginas 15 e 16

DROGAS: RESPONSABILIDADE DE TODOSFumo e Álcool: necessidade de políticas públicas permanentes

Páginas 4, 5, 6, 10, 11, 12 e 13

TERESINA - PI, JUNHO DE 2009 • Nº 20 • ANO V

ISSN - 1809-0915

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TERESINA - PI, JUNHO DE 2009

ISSN - 1809-0915

Informativo produzido pela Fundação de Amparo à Pesquisa do

Estado do Piauí - FAPEPI Fone: (86) 3216-6090 Fax: (86) 3216-6092

Diretor EditorialAcácio Salvador Véras e Silva

Conselho EditorialAcácio Salvador Véras e Silva Francisco Laerte J. Magalhães

Welington Lage

EditoraMárcia Cristina

Reportagens e fotosMárcia Cristina (Mtb-1060) Roberta Rocha (Mtb-1856)

Revisão de texto

Assunção de Maria S. e Silva

Projeto Gráfico e Editoração Eletrônica

Invista Publicidade(86) 8844.0215

ImpressãoGráfica e Editora Halley SA

Tiragem 6 mil exemplares

Publicação Trimestral

Críticas, sugestões e contatos

[email protected] [email protected]

www.fapepi.pi.gov.br

Nº 20 • Ano V • Junho de 2009

Governador do EstadoWellington Dias

Presidente Acácio Salvador Véras e Silva

EDIT

OR

IAL

Tabagismo e CâncerAp r o v e i -

t a n d o o D i a

M u n d i a l S e m T a b a c o , q u e transcorreu no dia 31 de maio, como um sério alerta aos fumantes , a S o c i e d a d e B r a s i l e i r a d e

Oncologia Clínica (SBOC), que reúne os especialistas no tratamento não c i rúrgico dessa doença, empenha-se no cumprimento da recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) para 2009: “Mostre a verdade. Advertências Sanitárias salvam vidas”. E a verdade, no caso do Brasil, é dura para os fumantes ativos ou passivos.

Apesar de estar diminuindo no Brasil, a incidência do uso do tabaco ainda é bastante alta. Entre 1989 e 2001, a prevalência de fumantes caiu de 30% para 21%, segundo levantamento realizado pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA). Os resultados dessas pesquisas mostraram, porém, que a concentração do tabagismo é maior na população de baixa renda e de escassa escolaridade, certamente pelo menor acesso a informação, a educação e a assistência a saúde nas

classes sociais menos favorecidas. Essas defi ciências são potencializadas por estratégias de mercado que estimulam o consumo ao mesmo tempo em que facilitam o acesso dessas populações aos produtos de tabaco, sobretudo os cigarros. Apesar da redução percentual da incidência do tabagismo ao longo do tempo, é penoso constatar ainda a ocorrência de 90% dos casos de câncer no pulmão (entre os 10% restantes, um terço é de fumantes passivos) e de 30% das mortes decorrentes de outros tipos de câncer (de boca, laringe, faringe, esôfago, pâncreas, rim, bexiga e colo de útero).

O controle do tabagismo no Brasil poderia reduzir em um quase terço (8.181 casos) os cânceres de pulmão, que atingem 27.270 por ano, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca) relativos a 2008. Quando a doença ataca a cabeça e o pescoço (14.160 casos anuais) sem o uso do tabaco existiriam 4.248 doentes a menos. Também haveria menos 3.165 casos entre os 10.550 vitimados por cânceres de esôfago e 5.604 casos de câncer no colo do útero do total atual de 18.680 vítimas anuais, como também 2.160 cânceres de pâncreas, entre os 7.200 atuais. Com a exceção de alguns casos iniciais dos tumores de cabeça e pescoço e do colo do útero que têm

um prognóstico favorável, a maioria das demais neoplasias associadas ao uso do tabaco é de prognóstico muito grave, pois apresenta evolução silenciosa e quando estes pacientes são diagnosticados, já se encontram em fase avançada da doença sendo praticamente inviável a cura.

Deve-se assinalar que a principal substância cancerígena presente no tabaco é o alcatrão - composto de mais de 40 substâncias comprovadamente cancerígenas, formadas a partir da combustão dos derivados do tabaco. Entre elas, o arsênio, níquel, benzopireno, cádmio; resíduos de agrotóxicos, substâncias radioativas, como o Polônio 210, acetona, naftalina e até fósforo P4/P6, substâncias usadas para fabricação de veneno de rato. O alcatrão, aliado à nicotina substância psicoativa com grande potencial de causar dependência física e também, com acentuado efeito tóxico para o organismo humano - forma à bomba-relógio de efeito retardado que com o decorrer dos anos, irá ceifar a população muitas vezes ingênua, que quando se inicia no uso do tabaco, não faz a menor idéia do que lhe espera com o decorrer dos anos.

* Médico da Fundação Mário Penna em Belo Horizonte- [email protected]

O termo droga vem sendo usado desde a idade média, mas sua origem é controversa, serve

para designar toda substância ou matéria da qual se extrai ou com a qual se prepara um medicamento ou mesmo um veneno, pois existe um estreito limite para um medicamento se tornar um veneno e causar sérios danos a saúde de quem os consome, o que os difere é apenas a dose.

As drogas são capazes de provocar profundas modifi cações fi siológicas ou comportamentais nos indivíduos, seu uso, sem a devida orientação, oferece sérios riscos aos seus consumidores.Explorar o universo das drogas representa um amplo espectro de ações, passa por dramas sociais vividos por famílias de viciados até descobrimento de medicamentos que aliviam sofrimentos ou mesmo curam doenças avassaladoras.

Neste número, o Sapiência buscou explorar produções científi cas nesta área e encontrou impor tantes produções nas instituições piauiense.

Talvez as duas drogas que mais causam danos à sociedade, nas suas mais diversas vertentes, sejam o

álcool e o fumo, a matéria das páginas 14, 15 e 16 demonstra um pouco esta cruel realidade com trabalho e dados epidemiológicos aqui em Teresina, no Brasil e no mundo. Neste tema, a Fapepi tem investido recursos fi nanceiros em pesquisas que procuram contribuir para a solução deste terrível problema de saúde da sociedade brasileira, especialmente a piauiense. A Dra. Lúcia Rosa, da UFPI, realizou uma importante pesquisa para o Piauí que teve como objetivo identifi car os fatores de risco para o uso de álcool e outras drogas na adolescência, nela a pesquisadora chega a diversas conclusões muito interessantes, que podem ser conferidas nas páginas 10, 11 e 12.

Em busca de resultados, além dos limites normais humanos, os atletas auxiliados por profi ssionais das áreas de saúde buscam superar recordes utilizando recursos artifi ciais como os anabolizantes; além disso, cidadãos comuns perseguem, na busca de corpos mais belos, se submetem ao uso destas drogas, ignorando os seus efeitos deletérios. A ciência busca, através de testes, identifi car a droga nos usuários de forma cada vez mais fi dedigna, objetivando intimidar ou

mesmo inviabilizar o seu uso. Este tema está muito bem abordado no trabalho do doutorando Marco Antônio Pereira dos Santos, nas páginas 15 e 16. O aluno é vinculado ao doutorado da Rede Nordestina de Biotecnologia (RENORBIO), programa de doutorado, aprovado pela Capes, que integra todos os estados do Nordeste numa rede virtual de ações, objetivando, essencialmente, formar recursos humanos altamente qualificados para promover desenvolvimento sócioeconômico, através da Ciência e Tecnologia (Página 7). A Fapepi é integrante desta Rede e garante bolsas de doutorado para todos os alunos que desenvolvem pesquisas aqui no Piauí e que preenche o perfi l de bolsista.

O entrevistado nesta edição do Sapiência é o médico Carlos Henrique Nery Costa, que possui doutorado em Harvard (EUA) e há três anos coordena a Renorbio (páginas 8 e 9). Nesta excelente entrevista, ele comenta como se originou a rede, os principais desafi os, as ações executadas e as difi culdades enfrentadas.

Acácio Véras

Drogas: uso inevitável, mas não abuse!

Luiz Adelmo Lodi*

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Pa r a categori-zação da

relação entre processo edu-cacional e de-senvolvimento c o g n i t i v o em Educação

a Distância (EaD) via web, a priori, é essencial a identifi cação de elementos teóricos sobre os processos de ensino e aprendizagem, em busca de enquadramento das questões relacionadas entre si que pressupõem adequação de elementos mediadores de interesse pedagógico aos conceitos que cercam a noção de usabilidade dos sistemas computacionais utilizados.

Sob este ponto de vista, o que se discorre está na abordagem de L. S. Vygotsky, ou simplesmente, a b o r d a g e m v y g o t s k y a n a o u s o c i o c o n s t r u t i v i s m o , principalmente, no contexto da mediação simbólica e da Zona de Desenvolvimento Proximal

(ZDP), perspectiva promissora e sustentabilidade teórica para a consecução do objetivo central enunciado no título deste artigo: Educação a Distância: Teoria e Prática.

Confi gura-se como tentativa de focalização do socioconstrutivismo com a prática educativa, com o intento de produzir informações sobre aspectos de implicações educacionais atualizadas, que contribuam com o estudo e a comparação de elementos mediadores do uso de interfaces computacionais. Por exemplo, enquanto o termo mediação, ganha, em Vygotsky, diferentes denominações, como: interação social, símbolo, signo, instrumento, unidade, formação de conceitos etc., nesta pesquisa, corresponde à funcionalidade, à usabilidade, à interatividade, ao ícone computacinal entre outros, o que permite traçar certa correlação, buscando explorar elementos teóricos capazes de fortalecer a prática concreta dos processos de ensino e aprendizagem em

atividades de uso e de aplicação das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC).

A prática se concretiza com as funções benfazejas do professor conteudista e do tutor na dinâmica das interações interpessoais e na ação recíproca entre os alunos, os agentes de EaD que são usuários da internet com os objetos de produção de novos conhecimentos, para identificar elementos que, de certa forma, estão diretamente relacionados e complementam as recomendações de ergonomia para Interface Humano Computador (IHC) quer seja no texto ou no monitor de vídeo.

A prática deste docente, no programa de EaD da Universidade Federal do Piauí, começa com um bom texto para cada disciplina dos respectivos cursos, escrito próprio para internet, que pode ser considerado apropriado se contiver no mínimo os elementos mediadores q u e s e g u e m : A l i n h a m e n t o ; Continuidade, Contraste, Harmonia,

* Prof. Dr. do Depto. de Informática e Estatística da [email protected]

Pregnância, Proximidade entre partes relacionadas, Repetição para identifi cação do contexto, Simetria e/ou assimetria e Tamanho.

O texto não é um parque de diversão. O seu computador é ótimo, mas nem todos têm a sua confi guração com o seu kit Multimídia; é preciso usar a imaginação. Quase todos usam o mesmo tipo de letra, no caso, o mais comum, o tipo Times News Roman, não é o mais adequado, recomenda-se a Arial. Às vezes as letras são tão pequenas e confusas que irritam a visão depois de meia hora de leitura. Maiores informações sobre a teoria e prática de EaD consulte a Tese de Doutorado - Ergonomia Pedagógica da Interface Humano-Computador: A Interface de Ambientes Virtuais de Educação (AVE) do autor deste texto.

Educação à distância: teoria e prática

Um admirável Cérebro Novo?

O a t u a l d e b a t e sobre o

doping cerebral ganhou força recentemente após a publicação de uma matéria na revista Nature de Dezembro de

2008, ampliando assim a discussão sobre a liberação de diversos medicamentos que atualmente são consumidos por estudantes e profissionais de alta demanda cognitiva, como plantonistas, executivos, e também cientistas.

O procedimento consiste em tentar aperfeiçoar, por meio do uso de medicamentos prescritos em algumas doenças neuropsiquiátricas, o potencial do cérebro de pessoas saudáveis. No entanto, estes remédios só podem ser vendidos sob prescrição médica e nunca devem ser usados na ausência de sintomas. Assim, o mercado negro tem crescido muito, principalmente através de compras via Internet.

As drogas mais comuns são rivastigmina, modafi nil, metilfenideto e donezepil, prescritas para doença de Alzheimer, transtorno de défi cit de atenção e hiperatividade ou transtornos do sono.

Os relatos anedóticos e impressões pessoais de usuários referem aumento da capacidade de atenção, reflexo, diminuição da distração e maior velocidade na associação de idéias, chegando eventualmente a uma resposta mais rápida para diversas tarefas. Há uma chance real de os indivíduos que usam alguns destes medicamentos aprenderem mais rápido ou com menos esforço do que outros, mas ainda faltam estudos controlados.

O doping intelectual pode parecer um tema chocante, mas o curioso é que todos fazemos ou já fi zemos uso de algum item cuja promessa é exatamente aumentar a performance mental, tal como guaraná em pó, Gingko biloba, refrigerantes à base de cola, igualmente ricos em cafeína, além das anfetaminas, e os mais diversos

“energét icos” que prometem prolongar as noitadas do século XXI.

Nossa posição em relação a este tema foi publicada na edição de 29 de janeiro de 2009, juntamente com colegas da França, EUA e Inglaterra, incluindo um relato anônimo de um pesquisador que revelava fazer uso deste cognitive enhancers e que defendia seu uso para um melhor desempenho de suas atividades.

Mas a segurança é a maior preocupação neste momento, visto que o uso indiscriminado de tais medicamentos pode desencadear quadros de insônia, ansiedade, depressão ou mesmo psicose, além dos efeitos colaterais inerentes a cada uma destas drogas.

Empresas como a Helicon Therapeut ics , Cephalon and Memory Pharmaceuticals estão desenvolvendo e testando novas drogas especifi camente para estes fi ns, em indivíduos saudáveis e que teoricamente não apresentariam os efeitos colaterais comuns aos

medicamentos atualmente usados. A boa notícia é que esta busca certamente vai repercutir no tratamento de casos patológicos, como nas demências.

Estamos já vivendo uma nova realidade que se apresenta com uma miríade de questões legais, éticas e científicas, provavelmente sem respostas defi nitivas ou prontas.

Além disso, há também uma boa chance que a expectativa de alguns e o medo de outros em relação a estas drogas não se concretizem. Estudos com crianças superdotadas mostram que outras habilidades cognitivas são igualmente importantes ou até mais que a tão valorizada “inteligência” para um futuro bem sucedido, tais como a disposição para se superar, o estabelecimento de metas desafi adoras, tenacidade nos objetivos, autoconfi ança, iniciativa e também resistência à frustração.

* Prof. Pós-Doutor da Universidade Federal de [email protected]

João Ricardo Mendes de Oliveira*

Gildásio Guedes Fernandes*

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Álcool e fumo: população ainda desconhece os efeitos maléfi cos

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A prevenção primária sobre o uso e efeito das drogas ainda não faz parte da

cultura das famílias e das escolas, apesar das drogas se confi gurarem como um dos grandes males sociais. O médico e mestre em fisiologia humana, Francisco Teixeira Andrade é professor de Fisiologia da Universidade Federal do Piauí estuda e trabalha com prevenção primária há pelo menos 25 anos. Ele entende que o melhor caminho para evitar que pelo menos mais pessoas se tornem usuários das mais diversas substâncias psicotrópicas é a conscientização.

Para o professor, o caminho que ele escolheu para alertar a sociedade sobre os riscos inerentes das drogas são por meio de palestras, especialmente voltadas para diretores e professores de escolas públicas e particulares. “São os educadores que podem e devem informar, alertar e observar os seus alunos quanto ao uso e ao perigo que levam essas substâncias que podem fatalmente levar o indivíduo à dependência e até à morte”, disse.

Francisco Teixeira enfatiza em suas palestras os efeitos destruidores de todo o conjunto de psicotrópicos, que agem no Sistema Nervoso Central (SNC), produzindo alterações de comportamento, humor e cognição. Portanto, são substâncias que têm a ação de aproximar, desenvolvendo várias alterações no SNC, como a de estimular, causar depressão e perturbação no cérebro, dependendo do tipo de droga a ser consumida, da quantidade, do tempo e da frequência do uso. No entanto, todo o conjunto de substâncias psicotrópicas existentes pode causar uma ou mais dessas reações no cérebro.

O professor Francisco Teixeira tem uma preocupação em especial com o uso indiscriminado de dois tipos de drogas na sociedade, que geralmente nem os próprios profissionais de saúde, nem os pais e nem o governo consideram como tais: o álcool e o

tabaco. “Para a farmacologia, todas são drogas. Não se pode excluir álcool e o cigarro do grupo das drogas; são legais para maiores de idade, apesar de que a criança compra qualquer uma delas. Separar álcool e fumo das demais drogas foi uma convenção social, porém ambas estão incluídas no grupo das Substâncias Psicotrópicas causadoras de Adição”. Segundo o pesquisador, as drogas, além de produzirem efeitos básicos: estimulador, depressor e perturbador, também causam adição, do ponto de vista biológico, ou seja, o indivíduo que usa droga pode adquirir dependência química, sensibilização, compulsão, perda do controle executivo (deturpação de comportamento) e recaída (permanente busca). A adição é uma síndrome que abrange um leque de distúrbios, um dado preocupante é que a adição possui componentes irreversíveis, uma vez que o cérebro guarda sensações para sempre causadas pelo uso das drogas, segundo a opinião de alguns autores. “A droga dá uma sensação de agradabilidade fora do comum, tem um contexto de afetividade positivo, a princípio, que

o cérebro grava e perpetua”.Francisco Teixeira explica, no

entanto, que é possível o resgate de funções perdidas pelo SNC, entre elas o controle executivo, por meio do tratamento adequado, o que não é possível é apagar determinadas memórias. “No caso da perda do controle executivo, significa a incapacidade de evitar o uso, de controlar doses e a frequência das administrações. A recaída pode ser exemplifi cada no caso da jovem que fi cou famosa com o seu livro

“Christiane F. 15 anos drogada e prostituída”, que, recentemente, depois de 30 anos, voltou a usar drogas, ou como o ex-alcoólico diz para si: “Não posso tomar o primeiro gole”. Esses exemplos resumem o eterno risco de recaída, mostrando o exercício do controle executivo ou do autocontrole”.

“Pa ra r de usa r droga não é um fenômeno s imp ló r io” , a l e r t a o professor. Ele explica que o tratamento é efi caz quando há um equilíbrio entre fatores de risco e fatores de proteção. Para ele, em primeiro lugar o dependente precisa conhecer o seu problema

para promover uma mudança, que deve acontecer com uma equipe gabaritada, que inclui o psicólogo, psiquiatra, terapeuta, educador físico, a família e a sociedade. Uma mãe usuária de medicamento psicotrópico ou um pai usuário de álcool estão criando futuros fi lhos usuários de drogas. Este é apenas um fator de risco, o doméstico. “Existem muitos outros fatores e eles estão em todos os setores da vida social”.

Professor Francisco Teixeira trabalha com prevenção primária

Êxtase está entre o grupo de drogas avaliadas na pesquisa

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Álcool e fumo: população ainda desconhece os efeitos maléfi cos

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Um levantamento preliminar realizado no ano de 2008, sobre o reconhecimento e

uso de psicotrópicos, voltados para pais e professores de escolas públicas e particulares de Teresina, revela números alarmantes. A pesquisa por amostragem, coordenada pelo professor Francisco Teixeira Andrade com ajuda de alunos da UFPI, tem servido como fonte e reforço de prevenção primária em suas palestras. Ao todo, foram entrevistadas 901 pessoas: 444 pais e 457 professores. Entre os psicotrópicos da pesquisa estavam o álcool, tabaco, solventes ou inalantes, maconha, cocaína, esteróides anabolizantes, hipnóticos mais sedativos e estimulantes.

D o p e r c e n t u a l d e experimentadores (não revela se são usuários ou não), aproximadamente 88% de pais e 74% de mães afirmaram terem experimentado bebidas alcoólicas. Quanto aos professores, 88% do sexo masculino e 67% do sexo feminino também já haviam experimentado.

Em re l ação ao t abaco , afirmaram já ter experimentado aproximadamente 50% de pais e 24% das mães e entre os professores 38% do sexo masculino e 23% do sexo feminino. Quanto às demais drogas mais experimentadas por pais/mães e professores/professoras, em média, foram: hipnóticos e sedativos 20% e 19%; solventes ou inalantes 12% e 10%; maconha de 10% e 7% e cocaína 8% e 6% respectivamente.

Quanto ao percentual de pais/mães e professores/professoras que reconhecem estas drogas citadas na pesquisa como psicotrópico ou entorpecente, o resultado também é surpreendente e preocupante, pois são percentuais muito baixos, vejam os números:

Pais e Professores: quase 80% já experimentaram álcool e fumo e menos de 40% os reconhecem como psicotrópicos

para o álcool 34% e 37%; para o tabaco 37% e 34%; para a cocaína foi de 57% e 54% e para maconha 56% e 52% respectivamente. Baseado nestes dados, o mestre em fi siologia Francisco Teixeira concluiu: “O álcool e o tabaco são as drogas menos reconhecidas como psicotrópicas. São também as mais consumidas. Óbvio que este não é o único motivo para tanto consumo, mas é possível que grande parte dos entrevistados imagine, equivocadamente, que somente drogas ilícitas sejam psicotrópicas”.

Os dados epidemiológicos são importantes para se criar a cultura da prevenção e da conscientização quanto ao uso das drogas. Estima-se que, nos Estados Unidos, gastam-s e a p r o x i m a d a m e n t e

500 bilhões de dólares com os problemas sociais e de saúde

decorrentes do uso de drogas, com um total de 500 mil mortes por ano. Dados da OMS de 2003 revelaram que no mundo inteiro 400 milhões de pessoas sofreram distúrbios neurológicos ou mentais e problemas psicossociais que decorrem do uso de álcool e outras drogas; no mesmo ano, 4 a 5 milhões de pessoas morreram em todo mundo decorrentes de doenças geradas pelo tabagismo; no Brasil, foram 200 mil mortes. A OMS e o Banco Mundial estimam que os gastos com saúde pública por causa do tabagismo são de 200 bilhões de dólares/ano no mundo.

ou inalantes 12% e 10%; maconha de 10% e 7% e cocaína 8% e 6%

Quanto ao percentual de pais/mães e professores/professoras que reconhecem estas drogas citadas

foi de 57% e 54% e para maconha 56% e 52% respectivamente. Baseado nestes dados, o mestre em fi siologia Francisco Teixeira concluiu: “O álcool e o tabaco são as drogas menos reconhecidas como psicotrópicas. São também as mais consumidas. Óbvio que este não é o único motivo para tanto consumo, mas é possível que grande parte dos entrevistados imagine, equivocadamente, que somente drogas ilícitas sejam

Os dados epidemiológicos são importantes para se criar são importantes para se criar a cultura da prevenção e da conscientização quanto ao uso das drogas. Estima-se que, nos Estados Unidos, gastam-s e a p r o x i m a d a m e n t e

por ano. Dados da OMS de 2003 revelaram que no mundo inteiro 400 milhões de pessoas sofreram distúrbios neurológicos ou mentais e problemas psicossociais que decorrem do uso de álcool e outras drogas; no mesmo ano, 4 a 5 milhões de pessoas morreram em todo mundo decorrentes de doenças geradas pelo tabagismo; no Brasil, foram 200 mil mortes. A OMS e o Banco Mundial estimam que os gastos com saúde pública por causa do tabagismo são de 200 bilhões de dólares/ano no mundo. mundo.

CLASSIFICAÇÃO DAS DROGAS

Francisco Teixeira AndradeProf. Ms. de Biofísica e Fisiologia da UFPI e doutorando em Ciência Animal no CCA da [email protected]

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sobrevida de outras neoplasias, como o câncer de cólon, de mama e de próstata.A mortalidade por câncer de pulmão correspondeu a aprox imadamente 12% da mortalidade geral por neoplasias no Brasil durante o período. A tendência foi de aumento em ambos os sexos e em todas as regiões, exceto na população masculina do sudeste, cujas taxas se mantiveram estáveis entre 1979 e 2004. As maiores taxas foram observadas no sul e no sudeste. Entretanto, a região nordeste foi a que apresentou o maior aumento, seguida pelo centro-oeste e o norte. Em todas as regiões, o incremento nas taxas de mortalidade foi maior entre as mulheres.

O estudo concluiu que o aumento na mortalidade por câncer de pulmão no Brasil entre 1979 e 2004 exige medidas públicas que minimizem a exposição aos fatores de risco, sobretudo ao tabaco e permitam maior acesso aos serviços de saúde para diagnóstico e tratamento.

Piauí tem alto índice de fumantes

Câncer de pulmão mata na mesma proporção em que é adquirido

A dependência à nicotina é c l a s s i f i c a d a p e l a Organização Mundial da

Saúde como grupo de Transtornos Mentais e de Comportamento, que expõe os fumantes a cerca de 4.720 substâncias tóxicas. O tabagismo é visto como um grande problema de saúde pública, responsável por cerca de cinco milhões de mortes em todo o mundo. O fumo é responsável por 90% dos casos de câncer de pulmão e está ligado à origem de tumores

malignos em oito órgãos (boca, laringe, pâncreas, rins e bexiga, além do pulmão, colo do útero e esôfago).

Um estudo realizado pelo Departamento de Saúde Pública da Universidade Federal de Santa Catarina – UNFSC – Florianópolis (SC), com apoio do Ministério da Saúde e INCA aponta que o câncer de pulmão está entre os mais freqüentes tipos de neoplasias, tanto em países industrializados quanto em

países em desenvolvimento. Apenas no ano 2000, surgiu aproximadamente 1,2 milhão de casos novos da doença no mundo, sendo 3/4 deles entre os homens. No mesmo ano, cerca de um milhão de pessoas morreram por câncer de pulmão. De todos esses óbitos, 45% ocorreram em países menos desenvolvidos. No Brasil, o INCA estimou, para 2006, o surgimento de mais de vinte e sete mil novos casos de câncer de pulmão,

sendo 17.850 entre os homens e 9.320 entre as mulheres. Esses valores correspondem a um risco estimado de 19 casos novos a cada 100 mil homens e 10 casos novos a cada 100 mil mulheres.

Além de a l t a s t axas de incidência e de mortalidade, o câncer de pulmão apresenta elevada letalidade. A taxa de sobrevida de cinco anos de pacientes com a doença é relativamente pequena, com médias inferiores às taxas de

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No Brasil, ocorrem em mé-dia 200 mil mortes/ano em conseqüência do tabagismo

e estima-se que haja 25 milhões de fumantes no nosso país. De acordo com a pesquisa do Ministério da Saúde no país, de 2006, denomina-da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL), dos estados do Nordeste, o Piauí foi o que apresentou o maior número de fumantes adultos (18,3%). A boa notícia é que esse percen-tual diminuiu para 14,8% em 2007 e para 12,6% em 2008. De fato, as pesquisas revelam que o consumo de cigarros entre os jovens caiu à metade nos últimos 20 anos. O es-

tudo VIGITEL mostra que 14,8% dos jovens entre 18 e 24 anos têm o hábito de fumar. Em 1989, os jov-ens fumantes eram 29%.A incidência da dependência à nico-

tina é de 70% a 90% entre os fuman-tes regulares. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), cerca de 80% dos fumantes querem parar de fumar, porém, somente 3% con-

seguem a cada ano. De acordo com a coordenação da área de doenças e agravos não transmissíveis do Min-istério da Saúde, um dos fatores mais importantes no controle do tabagismo é evitar o início do ví-cio entre adolescentes e jovens. A Pesquisa Nacional de Saúde e Nu-trição, realizada há 20 anos, mos-trou que 35% da população adulta no Brasil eram fumantes. Segundo o Vigitel 2008, esse índice caiu para 15%. Apesar de o Brasil estar entre os países com menor incidência de tabagismo do mundo, o objetivo é reduzir esse número, em especial entre os jovens e mulheres fuman-tes. Em 20 anos, metade dos fuman-tes abandonou o tabagismo.

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RENORBIO Agente de desenvolvimento para o Nordeste

O Programa de Pós-graduação da Rede Nordeste de Biote-cnologia – RENORBIO

constitui-se como um processo de pós-graduação revolucionário, pioneiro e único no Brasil. Trata-se de um consórcio entre 30 instituições do Nordeste (NE) e do Espírito Santo, que disponibilizam recursos humanos altamente qualifi cados e infraestrutura para a formação de doutores em Biotecnologia. Aprovado pela CAPES em 2006, com conceito 5, o curso teve início em setembro de 2006, com 04 áreas de concentração e 07 linhas de pesquisa, além disso, conta com cerca de 160 docentes dos 10 Estados envolvidos em temas relacionados à Agropecuária, à Saúde, à Biotecnologia Industrial e aos Recursos Naturais de interesse e importância para a Região NE. O objetivo da RENORBIO é contribuir para o aumento da qualidade e da relevância da produção científi ca e tecnológica em áreas relacionadas à Biotecnologia, com vistas à inovação e ao interesse socioeconômico do País, em geral, e da região NE, de forma a promover a transformação do sistema de Ciência e Tecnologia (C&T) em um sistema efi ciente para a inovação.

O processo de seleção de projetos a serem fi nanciados, via de regra, é feito na modalidade de Editais, com chamadas para submissão de propostas que objetivem a realização de atividades de Pesquisa,

Desenvolvimento e Inovação (PD&I) nos temas relacionados acima e que gerem impactos socioeconômicos positivos para a Região Nordeste, com refl exos na

melhoria da qualidade de vida da população.

Essa estratégia visa a integrar os esforços de desenvolvimento científi co e tecnológico aos de formação de recursos humanos, visando, como efeito multiplicador, a contribuir para o desenvolvimento da região NE, ampliando os níveis de investimentos aplicados à PD&I em Biotecnologia.

No Brasil, a Biotecnologia

é uma área de forte aplicação industrial em setores que representam parte considerável das exportações nacionais e integram, de forma relevante,

a base produtiva da economia do País. Competitividade em Biotecnologia depende da inovação tecnológica que ocorre nas empresas. Entretanto, diferentemente dos países desenvolvidos, a maior parte do contingente de cientistas brasileiros atua em instituições públicas de pesquisa e não em empresas. O que resulta deste contexto, é que ainda que se tenha, com recursos

predominantemente públicos, relativo sucesso científi co, pouca conseqüência é obtida em termos de desenvolvimento tecnológico e seus impactos no

aumento na competitividade ou no desenvolvimento social.

O Brasil é um dos maiores detentores da biodiversidade. A Região NE possui 42% da sua área constituída pelo semi-árido; uma região com clima e biodiversidade únicos em todo o mundo. Essas e outras características tornam o cenário para a Biotecnologia muito promissor.

No Piauí, o cenário da RENORBIO conta com 14 docentes, sendo 06 permanentes e 08 colaboradores e de 36 alunos divididos em 03 das 04 áreas de concentração da Rede: Biotecnologia em Saúde, Biotecnologia em Agropecuária, Biotecnologia em Recursos Naturais e Biotecnologia Industrial. Vale ressaltar que nenhum dos alunos do Piauí concluiu ainda o Programa de Pós-graduação, pois se encontram no terceiro ano de curso.

Apesar do seu enorme sucesso inicial, pode-se observar algumas fragilidades na RENORBIO: carência de reconhecimento pelas lideranças políticas regionais; carência de fl uxo contínuo de recursos para administração da rede e projetos; falta de uma política econômica para o setor biotecnologia no NE a fi m de aproveitar os

ganhos com os investimentos em c o n h e c i m e n t o , mão-de-obra e geração de um pólo e de um ciclo econômico, entre outros. Estas fragilidades e outros aspectos da RENORBIO são

abordados pelo Dr. Carlos Henrique Nery Costa, Coordenador Executivo da Rede Nordeste de Biotecnologia, em entrevista ao Sapiência nesta edição.

projetos a serem fi nanciados, via

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Renorbio pode encontrar soluções para os TERESINA - PI, JUNHO DE 2009

8 ENTREVISTA: CARLOS NERY COSTA

SAPIÊNCIA - De onde veio a idéia de se criar a Renorbio?

Dr. Carlos Nery - A Renorbio foi criada por um visionário. Percebendo as difi culdades de desenvolvimento do Nordeste, o agrônomo carioca de origens nordestinas, Luiz Antônio Barreto de Castro, secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento, do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), imaginou que a Biologia poderia oferecer as chaves para a superação da pobreza da Região. Este brilhante lampejo, que teve a sua origem na longa experiência do pesquisador na Califórnia, resultou na criação da Renorbio, por meio de uma portaria, em 2004, do então ministro do MCT, Eduardo Campos, atual governador de Pernambuco.

SAPIÊNCIA - Como ele agiu para conseguir esta enorme rede, lá de um escritório em Brasília?

Dr. Carlos Nery - Luiz ABC, como é conhecido, mobilizou-se

e conseguiu dos Fundos Setoriais do MCT signifi cativos recursos para o apoio a projetos de pesquisa em Biotecnologia no Nordeste. Para dar consistência à estratégia de redes, os projetos foram feitos em consórcios regionais. Num lance de mágica, enviou e-mails para os pesquisadores da Região, convidando-os para a tarefa inédita de criação de um doutorado em rede. A resposta entusiasmada dos pró-reitores e de pesquisadores, os pioneiros da Renorbio, resultou no maior programa de doutorado do Brasil e, se não também o maior, um dos maiores em Biotecnologia do mundo. Hoje, existem mais de 380 alunos matriculados, assistindo a aulas em salas de vídeo-conferência ou deslocando-se para os laboratórios do Nordeste. A primeira tese foi recentemente defendida.

SAPIÊNCIA - Como esta

rede pode realmente benefi ciar o

Nordeste?Dr. Carlos Nery - As

duas primeiras portas para o desenvolvimento da Biotecnologia no Nordeste foram criadas: o fomento ao desenvolvimento das idéias criativas e a formação de pesquisadores locais. A partir dessas sementes, a Biotecnologia poderá dar os seus primeiros frutos: soluções inteligentes para desafi os regionais.

SAPIÊNCIA - Pode especifi car mais que soluções e desafi os são estes?

Dr. Carlos Nery - A superação das restrições ao desenvolvimento do Nordeste é possível através da Biotecnologia e da Renorbio. Bons exemplos são a adaptação de espécies regionais aos extremos ambientais e o aumento da produtividade por técnicas de engenharia genética. Outros exemplos são a descoberta de produtos naturais típicos da

biodiversidade regional e com elevado valor comercial, a invenção de vacinas e de técnicas para o diagnóstico das doenças que acometem a Região e o desenvolvimento da indústria em Biotecnologia.

SAPIÊNCIA - Mas, muitos acham que a pobreza do Nordeste depende essencialmente das relações sócioeconômicas e não de razões passíveis de intervenção tecnológica...

Dr. Carlos Nery - O principal elemento que restringe as economias nordestinas é o regime pluviométrico insufi ciente e irregular, cortejado por terras pouco férteis e pela persistência de uma estrutura agrária ultrapassada e opressora. Com este sistema, a economia nordestina entrou em colapso. Assim, as chuvas incertas são o principal estrangulador, mas não o único da agricultura familiar que, por sua vez, se constitui no principal fundamento da economia da região. Quando consorciada com um sistema agrário dominado pelo latifúndio e em um regime de parceria de remuneração com os parcos produtos das colheitas miseráveis, o resultado é este: trágico colapso econômico e ecológico. A baixa produtividade dos solos carentes de água não permite o acúmulo de capital e, na ausência de excedentes no setor primário, não permite os investimentos e o desenvolvimento da indústria. Assim, há um nítido excesso de mão-de-obra rural que migra para as cidades devido à baixa produtividade e que vem se acentuando ao longo da história. E o resultado é este que vemos: fome, carências de expectativas econômicas no campo, seguidas pela emigração, miséria e violência

Dr. Carlos Nery Costa: Renorbio encontrará soluções para muitos dos problemas do Nordeste

Renorbio pode encontrar soluções para os Renorbio pode encontrar soluções para os Renorbio pode encontrar soluções para os Renorbio pode encontrar soluções para os Renorbio pode encontrar soluções para os C arlos Henrique Nery Costa, coordenador executivo do Programa de Pós-

Graduação da Rede Nordeste de Biotecnologia - RENORBIO, é Doutor em Ciências pela Universidade Harvard, em Boston, nos Estados Unidos;

Mestre em Doenças Tropicais pela Universidade de Brasília, onde se graduou. Tem mais de 30 trabalhos científi cos publicados e mais de 170 comunicações em congressos científi cos. Coordena a Residência Médica em Infectologia. é professor na graduação, orienta alunos de iniciação científi ca, mestrado e doutorado na UFPI, onde é professor associado. Fora da academia, Carlos Costa ocupa o cargo de diretor geral do Instituto de Doenças Tropicais Natan Portella; é pesquisador colaborador do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa (Portugal), é coordenador da Comissão de Implantação de Unidade da Fiocruz no Piauí – Fiocruz do Sertão, consultor do Ministério da Saúde, pesquisador do CNPq e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical.

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9ENTREVISTA: CARLOS NERY COSTA

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Fatores de risco são cruciais para levarem os adolescentes a usarem álcool e outras drogas

Um estudo aprofundado sobre as drogas no Piauí, do ponto de vista

social, foi publicado em 2008, sob a coordenação da professora doutora em Serviço Social pela UFRJ, Lúcia Cristina dos Santos Rosa, na Universidade Federal do Piauí. A pesquisa foi publicada em livro, intitulada “Uso de álcool e outras drogas na adolescência em Teresina/Piauí”, com a participação de Maria Lila Castro Lopes de Carvalho, Manoel Valente Figueiredo Neto, Alynne Patrício de Almeida, Liana Cronemberger Pereira, Denise Costa de Carvalho e Christianne Grazielle Rosa Belfort.

O objetivo do estudo foi identifi car os fatores de risco para o uso de álcool e outras drogas na adolescência e foi fi nanciado pelo Programa Projetos e Pesquisas

para o Sistema Único de Saúde – PPSUS, desenvolvido no Piauí com recursos do CNPq, Ministério da Saúde (MS) e da FAPEPI. Uma das conclusões do estudo é que o consumo de álcool e outras drogas entre os jovens independe de classe social. Outro aspecto é que os jovens atingidos pelas drogas não contam com um aparato estatal, preparado com medidas sócioeducativas e com atendimento especializado. Os sujeitos da pesquisa foram os coordenadores dos serviços de atenção vinculados à área de saúde e assistência social de Teresina, cuja ação se centrava na atenção ao dependente químico e também as próprias pessoas dependentes em tratamento ou em cumprimento de medidas sócioeducativas, vinculadas, portanto, às políticas de saúde ou assistência social.

Quanto ao perfi l dos dependentes químicos na pesquisa, 96% são do sexo masculino; com relação à idade, 59% têm até 20 anos; 59% do universo são naturais de Teresina; 64,% pararam os estudos no ensino fundamental, apenas 9% completaram o ensino fundamental e 6% são analfabetos; 52% afi rmaram estarem desempregados; 70% são solteiros, 18% casados e 12% separados. Quanto à família, 40% têm por base a família conjugal (desses 28% morando com os pais e 12% coabitando com a esposa e fi lhos) e 32,3% são de famílias monoparentais, chefi adas pela mulher, no geral a mãe. “O que ocorre, em nível de Brasil, e também no Piauí, é que somente há poucos anos, a partir, principalmente, dos anos 80, é que o Estado passou a ver o usuário não apenas como um infrator, mas como um ser que precisa de tratamento em diversas áreas, diferenciando trafi cante, dependente e usuário eventual. Então, historicamente, a questão não foi tratada com medidas sócioeducativas adequadas”, explicou Lúcia Rosa.

O estudo mostrou que, a partir da década de 1980 até os dias atuais, as políticas públicas no Piauí têm se mostrado tímidas. A maioria dos serviços para atendimentos aos usuários de álcool e outras drogas psicotrópicas é de iniciativa não-

g o v e r n a m e n t a l voltada para

o s

públicos adulto e masculino concentrando-se na capital e com pouco envolvimento da família.

Os objetivos específi cos da pesquisa foram identifi car a natureza dos fatores de risco implicados no uso de álcool e outras drogas na adolescência; contribuir na proposição de políticas públicas para minimizar os fatores de risco presentes na instalação da dependência química entre os adolescentes de Teresina e traçar um perfi l da rede de serviços de atenção a usuários de álcool e outras drogas na capital piauiense. Para a Profª. Drª. Lúcia Rosa, entre os fatores de risco relacionados com o problema, principalmente do álcool, estão as amizades, os meios de comunicação, problemas familiares, entre outros.

A pesquisa começou no ano de 2005, com a aprovação do edital do programa PPSUS e foi concluída em 2007. A partir dos dados coletados, os coordenadores de serviços de atenção aos adolescentes, envolvidos na pesquisa, criaram o Fórum Estadual sobre Drogas, em dezembro de 2006, coordenado pela Secretaria de Assistência Social (SASC) e pela Comunidade Terapêutica Fazenda da Paz, entidade não governamental que atua no atendimento de usuários e dependentes químicos do sexo masculino. O fórum teve como meta a criação de uma lei estadual sobre drogas, a Lei n° 5.775, a primeira do Estado. “Com essa lei, duas ações foram implementadas – a criação da Coordenação Estadual sobre

Drogas e também criação de orçamento específi co

para o combate, t r a t a m e n t o ,

p e s q u i s a s

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PERFIL DEPENDENTES QUÍMICOS RELATADOS NA PESQUISA

64%

Perfi l dos dependentes químicos relatados na pesquisa

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Fatores de risco são cruciais para levarem os adolescentes a usarem álcool e outras drogasTERESINA - PI, JUNHO DE 2009

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feitas de forma que as árvores dão pouca sombra e não possuem brinquedos, por isso são mal aproveitadas”. Outro fator de risco apontado na pesquisa é a própria escola. “Os jovens que usam drogas abandonam a escola. Mas eles não se interessam porque a escola não tem sido atrativa. Ela precisa ser um ambiente alegre, onde o conhecimento precisa ser passado de maneira prazerosa; os professores trabalham desestimulados. A escola está formando para o vestibular e não para a vida. Temos que educar para habilidades sociais. A escola não desafi a o aluno a se superar. Então se ele não tem a informação certa por meio da mídia, se ele não tem o lazer fácil, interativo, e nem a escola, o adolescente tem aí vários fatores de risco que facilitarão o acesso fácil ao álcool e às demais drogas”, explica Lúcia Rosa.

O uso de álcool entre os adolescentes em Teresina geralmente começa a partir dos 12 anos ou até antes. Os efeitos deletérios são muitos porque o adolescente está em fase de desenvolvimento psíquico, em processo de amadurecimento.

A família aparece na pesquisa, como um fator de risco, uma vez que está perdendo a autoridade e a ausência da figura masculina nos lares dificulta cada vez mais o processo educacional. Na pesquisa, dos 198 usuários de drogas entrevistados, 44% disseram ter um bom relacionamento com o pai e 29% afirmaram que o pai havia falecido, ou não tinha contato ou abandonou a família; 18% afirmaram ter relacionamento ruim com a figura paterna. Com relação à mãe, 44% disseram ter um bom relacionamento e 37% disseram ter um ótimo relacionamento, sendo que apenas 7% disseram ter um relacionamento ruim com a mãe e 12% afirmaram que a mãe ou faleceu ou não têm contato ou a mesma abandonou o lar.

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fi lantrópicas (ONGs), sobretudo as ligadas à Igreja, que têm atuado para atender e tratar usuários de drogas. “As igrejas ainda são fatores de proteção; as crianças e adolescentes que estão ligadas a grupos de jovens estão mais afastadas das drogas”, informa a pesquisadora.

Lúcia Rosa afi rma que órgãos como o CEBRID (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas), da UNIFESP, divulgam números que indicam cada vez mais a precocidade dos jovens consumidores de álcool e outras drogas, mas ainda que o álcool é a principal substância causadora de dano a este contingente, talvez pela separação que se faz entre o álcool e outras drogas. “A separação se dá primeiro porque é uma droga lícita e de fácil acesso. Depois, porque o apelo ao consumo de álcool é forte. Nas novelas, nos fi lmes, se a pessoa está estressada, toma logo um drink. Beba com moderação, mas beba. A bebida é associada à festa, alegria,

mu lhe r

e prevenção, muito embora esses recursos ainda não estejam sendo disponibilizados a contento”, destacou Lúcia Rosa.

Para se ter uma idéia da carência de ações governamentais, seja na esfera estadual ou municipal, capazes de enfrentar o problema, numa perspectiva de saúde pública, somente em 2003 foi criada a Coordenação de Atenção a Dependentes Químicos, vinculada à Secretaria de Assistência Social e Cidadania do Piauí – SASC, que atende adolescentes e jovens e suas famílias, encaminhando os primeiros para os devidos tratamentos. Em 2002, o Ministério da Saúde mudou o conceito e passou a pensar em políticas para o enfrentamento do problema. “Até então, o uso de álcool e outras drogas entre adolescentes era uma questão mais ligada à segurança pública, então essas pessoas fi cavam invisíveis”, completa a pesquisadora.

Historicamente, no Piauí e no Brasil são as instituições

bonita. Numa festa de criança, os adultos bebem, senão acham chato. Vivemos numa sociedade narcotizada e numa cultura do analgésico. A indústria dos

medicamentos coloca: “se você está estressada, não mude seu estilo de vida, tome um medicamento.”.

O perfi l da população em situação de risco apresenta características como: insatisfação com a qualidade de vida; saúde defi ciente; fácil acesso ao álcool e outras drogas e a precária rede de relações sociais na comunidade de origem.

Uma saída encontrada, segundo a pesquisadora,

são políticas públicas que estimulem crianças, adolescentes e jovens ao

lazer saudável. “Por exemplo, percebo

que os governos p o d e r i a m aproveitar de forma correta espaços dos p a r q u e s p ú b l i c o s ; os nossos rios são mal aproveitados, não oferecendo n e n h u m a a t i v i d a d e de lazer e e d u c a t i v a , como passeios; as praças públicas são

A bebida é associada à festa, alegria, mulher bonita.

Vivemos numa sociedade marcotizada e numa cultura do analgésico. A indústria dos medicamentos coloca:

“se você está estressada, não muder seu estilo de vida, tome

um medicamento”, declara Lúcia Rosa.

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Cobrança da masculinidade é um fator de risco

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A Professora Dra. Lúcia Rosa afi rma no livro “Uso de álcool e outras drogas na

adolescência em Teresina/Piauí” que o desenraizamento cultural e a cultura machista, também, são fatores de risco, no conjunto multidimensional do uso de drogas entre os adolescentes. Isso se explica pelo fato de o adolescente está na transição da fase infantil para a fase adulta e viver uma fase de incertezas que culminam numa série de problemas quando há uma desestruturação social ao seu redor.

O que ocorre nos dias atuais é uma crise da masculinidade hegemônica e são várias masculinidades hoje. O metrosexual teme assumir sua sensibilidade, o homossexual teme expressar seus sentimentos. A pesquisadora afi rma que ainda domina o modelo patriarcal, aquele em que o homem não pode demonstrar emoções. “Ainda é cobrado desse homem que seja ‘durão’, competitivo, que tenha poder. Então, esses meninos

acabam tendo como modelos fi guras já bastante comprometidas com o tráfi co de drogas, que denotam poder, sucesso e a fi gura com a arma na mão. Então, em muitos casos a fi gura masculina de referência, com a ausência do pai ou do pai e mãe, acaba sendo esta”, disse.

Na pesquisa, Lúcia Rosa destaca a questão do gênero como um fator de risco para aproximar os adolescentes em formação das drogas. “As famílias, principalmente as mais carentes, são multiproblemáticas e não têm a fi gura do pai. Na minha avaliação, a mãe, sozinha, não consegue dar esse referencial masculino. O homem quando fala com o fi lho, este escuta diferente. Autoridade e limite são as referências masculinas. Nem sempre a mulher consegue exercer a fi gura paterna, até porque historicamente a mulher não é reconhecida como fi gura de autoridade”, considera.

Outra conclusão, baseada em estudos de outros autores sobre gênero, é que a mulher avançou muito e o homem fi cou perdido dentro da família. As mulheres já não precisam, exclusivamente, do homem como provedor econômico único e a visão do homem que sustenta a família e a mulher que cuida do lar está meio estagnada. “Em famílias chefi adas pela mulher, as drogas em geral são mais usadas

entre o público masculino; as meninas ainda são minoria,

muito embora o consumo entre elas esteja

a u m e n t a n d o ” , concluiu.

A p e s q u i s a revela que

a sociedade quanto mais se urbaniza, mais as

r e l a ç õ e s f i c a m i m p e s -s o a i s , m a i s a n ô n i -m a s , gerando

um isolamento social, uma ideologia individualista. “O adolescente numa

Lúcia Cristina dos Santos RozaProfª Drª do Depto. de Serviço Social da Universidade Federal do Piauí [email protected]

família sem moldes de educação e sem referenciais está, sem dúvida, propenso às drogas. A personalidade do próprio indivíduo, a autoestima, a pressão e o medo são fatores de risco no plano psíquico e espiritual que podem inseri-lo às drogas” afi rma a pesquisadora. “O que vemos como forma de minimizar esses problemas vem de grupos da sociedade civil, como os grupos de hip-hop, atividade de percussão na umbanda, no esporte, entre outras ações. Outra forma de prevenção é a profi ssionalização...” sugere Dra. Lúcia Rosa.

O Governo do Estado tem projeto de criar comunidades terapêuticas com atividades profi ssionalizantes. Para Lúcia Rosa essa é uma política positiva. “Falta tornar a família mais forte. A família sente-se impotente e vulnerável frente à problemática das drogas entre os adolescentes. O Estado precisa dar uma retaguarda para a família, especialmente à mãe, que tem que trabalhar fora de casa e educar os fi lhos. Precisa investir ainda na perspectiva de discussão da masculinidade. O que é ser homem hoje? Para ser homem é preciso beber?”, questiona.

Um estigma com relação ao adolescente usuário de droga é com relação a ser bandido. “Deixa de ser visto como adolescente e passa a ser visto como a escória da sociedade. Como ele não é respeitado, acaba provocando o medo. Através do medo, ele consegue o respeito, entre aspas. No entanto, ele precisa ser resgatado, porque ele foi excluído e é vítima. Precisa-se mostrar a ele que tem chance. Enquanto o adolescente tiver esse estigma de que ele é um marginal, ele vai levar isso para o resto da vida. O medo é o equivalente físico, real, do que o respeito seria simbolicamente” fi naliza.

De repressão à política pública

No Brasil, a política de drogas, primeiramente foi materializada na Lei n°

6.368, de 1976, dispondo sobre medidas de prevenção e repressão ao tráfi co ilícito e uso indevido de substâncias entorpecentes. Todas as ações estavam até os anos de 1990, exclusivamente, vinculada às pastas do Ministério da Justiça, sob a égide de uma lógica repressiva. O uso indevido de álcool tinha relação periférica no Ministério da Saúde, em função do tratamento da dependência química, preponderantemente, em hospitais psiquiátricos, fato que estigmatizava o dependente. Os CAPSAD (Centros de Atenção Psicossocial aos Usuários de Álcool e outras Drogas) foram criados em 2001 no Piauí, primeiro em Teresina; depois implantado um em Parnaíba e outro em Picos. São dispositivos da esfera administrativa, ligados às prefeituras, da política setorial de saúde. A lógica de atenção dos CAPSAD está centrada na reabilitação psicossocial, integração e inclusão social. Em Teresina, funciona no bairro Monte Castelo.

O Hospital Psiquiátrico Areolino de Abreu, único público do Estado, e o Sanatório Meduna, serviço particular conveniado ao SUS, também prestam serviço ambulatorial aos dependentes químicos. Embora haja restrições à atenção ao dependente de álcool e outras drogas em hospitais psiquiátricos, não são raras pessoas internadas no Areolino de Abreu com este diagnóstico.

A rede de atendimento e tratamento aos dependentes é majoritariamente de entidades não-governamentais. Em Teresina, as existentes são o Grupo dos Alcoólicos Anônimos (AA), Amor Exigente (voltada para a família), o Proerd (do grupo de policiais militares que fazem trabalho de prevenção nas escolas) e os Narcóticos Anônimos. Dentre as comunidades terapêuticas estão o Sítio Reviver (para mulheres usuárias de drogas), da Igreja Católica, a Ofi cina da Vida, a Comunidade Fazenda da Paz (usuários masculinos), a Comunidade Esperança e o Sítio Betesda (da Igreja Evangélica).

muito e o homem fi cou perdido dentro da família. As mulheres já não precisam, exclusivamente, do homem como provedor econômico único e a visão do homem que sustenta a família e a mulher que cuida do lar está meio estagnada. “Em famílias chefi adas pela mulher, as drogas em geral são mais usadas

entre o público masculino; as meninas ainda são minoria,

muito embora o consumo entre elas esteja

a u m e n t a n d o ” , concluiu.

A p e s q u i s a revela que

a sociedade quanto mais se urbaniza, mais as

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um isolamento social, uma ideologia individualista. “O adolescente numa

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Políticas em saúde pública contribuem para o êxito do tratamento de usuários de álcool e outras drogas no Piauí

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Claudete Ferreira de Souza MonteiroProfª. Drª. Do Depto de Enfermagem da Universidade Federal do Piauí[email protected]

Po r s e r u m p r o b l e m a multidisciplinar, que envolve várias áreas do conhecimento,

seja social, de justiça e de saúde pública é que vários estudos já foram publicados nacionalmente, visando a encontrar respostas que possam atingir êxito junto à problemática do uso de álcool e outras drogas. Sob a coordenação da Profª Drª em Enfermagem da UFPI Claudete Ferreira de Souza Monteiro e sub-coordenação da Profª. Drª. Telma Maria Evangelista de Araújo, que realizaram em 2008 a pesquisa “Estudo de prevalência sobre o uso de álcool e drogas e co-morbidades associais entre usuários dos CAPSAD no Piauí”, focalizada nos três Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas - CAPSAD do Piauí: em Teresina e nos municípios de Parnaíba e de Picos.

O Ministério da Saúde criou os CAPSAD, através do Programa Nacional de Atenção Comunitária Integrada aos Usuários de Álcool e outras Drogas, com o objetivo de criar uma rede de assistência com ênfase na reabilitação e reinserção social, voltado para ações de promoção, prevenção, proteção à saúde e educação, estabelecendo estratégias de serviços extra-hospitalares para essas pessoas.

Em decorrência do uso

de álcool e de outras drogas, o indivíduo pode adquirir uma série de doenças, originárias do uso ou associadas a ele, como HIV/Aids, Hepatite C e Cirrose Hepática. Na pesquisa, foram utilizadas amostras de exames clínicos e laboratoriais de 56 usuários dos CAPSAD, no período de maio a outubro de 2008, quando foram coletadas amostras de sangue para testes de Hepatite B e C e provas da função hepática: taxas de aminotransferases (alanino e asparato – ALT e AST), bilirrubinas total, direta e indireta e albumina, além da sorologia para HIV/Aids, sob supervisão dos pesquisadores responsáveis pelo estudo.

As autoras do estudo atestam que os dados da pesquisa são importantes para orientar ações em saúde na rede de atenção básica a fi m de prevenir a morbimortalidade e o sofrimento individual e familiar associados ao uso de substâncias psicotrópicas.

Como resultados, a pesquisa apontou que 84% eram do sexo masculino, idade entre 30 e 49 anos, destes 55% eram solteiros; 80% tinham renda familiar menor que três salários mínimos com histórico familiar de consumo de álcool e uso de tabaco; com menos de oito anos de escolaridade. O álcool liderou entre as substâncias mais consumidas, com 54% dos

consumidores, seguido pelo uso concomitante de álcool e outras drogas, com 36% e o uso exclusivo de drogas foi identifi cado 11% dos usuários. Para o uso de álcool, a maior parcela foi de usuários atendidos no CAPSAD de Picos (40%); seguido de Parnaíba e Teresina com 30% cada. O tipo de bebida alcoólica mais utilizada foi cachaça (82%) s e g u i d a d a cerveja (45%), r un (32%) e vodka (27%). Em relação ao vinho e uísque, estes apresentaram p e r c e n t u a i s iguais de 16%. Para outro tipo de droga, a maconha aparece em primeiro lugar, com 39%, seguida de craque (36%) e cocaína (21%). Cola e solventes apresentam percentuais iguais (20%).

Com relação aos achados relacionados aos testes usados para avaliação de lesão hepatocelular, que dizem respeito às taxas de aminotransferases (AST e ALT) e enzimas hepáticas. Grande parte dos usuários (30%) apresentou aumento considerável de ALT, sendo que em 40% destes, a razão AST/ALT foi maior que 2, o que sugere lesão por álcool. Nos demais usuários, os níveis de ambas tiveram aumentos equivalentes, o que na prática clínica também sugere a prevalência de afecção hepática, especialmente hepatopatia alcoólica ou medicamentosa. Nos demais usuários, os níveis de ambas tiveram aumentos equivalentes, o que na prática clínica também sugere a prevalência de afecção hepática, especialmente hepatopatia alcoólica ou medicamentosa.

As bilirrubinas diretas foram mais alteradas que as indiretas com 12% e 10%, respectivamente. Consideram-se alterações o aumento, a partir de 20% acima dos valores normais, podendo acima desse índice alguns órgãos

serem afetados por doenças como o Hepatice e a Cirrose.

Com relação ao consumo crônico e/ou excessivo de álcool, detectado pelos resultados dos exames laboratoriais, pode causar uma variedade de problemas hepáticos. Aproximadamente de

15 a 20% dos alcoólatras vão d e s e n v o l v e r hepatite, ou seja, um em cada cinco alcoólatras vai ter problemas de saúde graves relacionados ao álcool, incluindo e s t e a t o s e , hepatite alcoólica

e cirrose, ao passo que pacientes com cirrose têm maior chance de desenvolver diabetes, problemas renais, úlceras no estômago e duodeno e infecções bacterianas severas.

As Dras. Claudete Monteiro e Telma Evangelista concluíram em sua pesquisa que os CAPSad, hoje constituídos como referência no tratamento de álcool e drogas, vêm desde a sua implantação no Estado do Piauí, contribuindo para diminuir o estigma voltado as pessoas com problemas decorrentes do uso dessas substâncias, antes encaminhados aos hospitais psiquiátricos. Entretanto, o seu sucesso depende da sua articulação com a rede de atenção básica, uma vez que os serviços prestados devem ir além do tratamento da dependência química, e de atividades dirigidas para a mudança de comportamento, devendo voltar-se também para intervenção das complicações clínicas e surgimento de patologias associadas e/ou decorrentes, como Hepatite B e C, Cirrose Hepática e outras, a fi m de diminuir a morbidade e mortalidade nesse grupo de risco.

A pesquisa é importante paraorientar ações em saúde na rede de atenção básica a fi m

de prevenir a morbirdade e o sofrimento individual e

familiar associados ao uso de substâncias psicotrópicas.

Profª. Drª. Telma Evangelista e Profª. Drª. Claudete Monteiro

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TESES E LIVROSTERESINA - PI, JUNHO DE 2009

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O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), segundo Instrução Normativa nº 13 de 29/06/2005 estabelece níveis máximos permitidos para

vários contaminantes orgânicos e inorgânicos em aguardente de cana e cachaça. Para os contaminantes inorgânicos, esses teores foram defi nidos em 0,1; 5,0 e 0,2 mg L-1 para arsênio (As), cobre (Cu) e chumbo (Pb), respectivamente. Baseado nessa Instrução Normativa, métodos analíticos foram desenvolvidos para a determinação direta e simultânea de As, Cu e Pb em 36 amostras de cachaça por espectrometria de absorção atômica em forno de grafi te (GF AAS) para fi ns de controle de qualidade. Um estudo sistemático avaliando o desempenho de seis modifi cadores foi realizado com o intuito de obter uma melhor compreensão da interação dos analitos com o modifi cador para as análises. Os modifi cadores tungstênio (W) e irídio (Ir) ambos com co-injeção de paládio (Pd) e magnésio (Mg) foram selecionados como os melhores modifi cadores. O modifi cador permanente Ir com co-injeção de Pd+Mg mostrou-se mais efi ciente no prolongamento da vida útil do tubo de grafi te. Esse benefício foi signifi cativo, pois o tubo de grafi te é o item que mais encarece os custos de uma análise química por GF AAS. Porém, a calibração por ajuste de matriz para este modifi cador mostrou-se mais complexa (cachaça diluída 1+1, v/v) que para o modifi cador W com co-injeção de Pd+Mg cuja calibração é feita através de uma solução de 10% (v/v) de etanol contendo 5,0 mg L-1 Ca, K, Mg e Na, uma solução de fácil preparo e contendo reagentes de ampla disponibilidade que permite calibrar o sistema de modo mais repetitivo. Bismuto (Bi) e antimônio (Sb) foram utilizados como padrões internos para os analitos. A avaliação da infl uência da matriz de cachaça na absorbância de As, Bi, Cu, Pb e Sb revelou que a padronização interna associada ao modifi cador W com co-injeção de Pd+Mg minimizou as interferências de matriz, melhorou a precisão e a exatidão dos resultados demonstrando ser uma estratégia efi ciente na análise direta de cachaça por GF AAS. Das 36 amostras analisadas três excederam os teores máximos permitidos para Cu e Pb estabelecidos pela Instrução Normativa, sendo uma para ambos os elementos, uma para o Cu e outra para o Pb.

Naise Mary CaldasPesquisador PNPD/CapesDefesa: Universidade Estadual Paulista, [email protected]

Objetivou-se avaliar a espermatogênese por meio da análise morfológica, histométrica e ultraestrutural do testículo, comparando-a entre os caprinos

com escroto bipartido e não bipartido. Foram utilizados 18 caprinos divididos em três grupos (n=6) segundo a configuração escrotal: G I, caprinos com escroto não bipartido; G II, caprinos com escroto bipartido em até 50 % do comprimento testicular; G III, caprinos com bipartição escrotal superior a 50 % do comprimento testicular. Os testículos foram processados com técnica histológica para microscopia de luz e microscopia eletrônica de varredura. No epitélio seminífero foram caracterizados os estádios do ciclo do epitélio seminífero, a freqüência relativa desses estágios, a proporção volumétrica dos compartimentos tubular e intersticial, diâmetro dos túbulos seminíferos, altura do epitélio seminífero, número de células germinativas e de Sertoli por secção transversal de túbulos, número total de células de Sertoli e de Leydig e estimativa de produção espermática diária dos caprinos. Com a microscopia eletrônica de varredura foi realizado estudo dos processos das células de Sertoli nos grupos pesquisados. Foi feita análise de variância com teste SNK e calculo do coefi ciente de correlação de Pearson, ambos a 5 %. O número de células germinativas e de Sertoli foi superior nos caprinos com maior nível de bipartição escrotal e a razão entre essas células permitiu a determinação do rendimento geral da espermatogênese e do índice de células de Seroli que foram maiores nesse grupo de animais. Os valores da densidade de volume e altura do epitélio seminífero, comprimento total dos túbulos seminíferos, número de células de Sertoli e Leydig, e produção espermática diária foram superiores nos caprinos do G III quando comparados com os animais do G I e G II. Com relação à ultraestrutura das células de Sertoli, identifi cou-se que, independe do grupo de caprinos, os processos emergentes dessas células são de dois tipos, em forma de camadas e fi nas cordas. Os caprinos com escroto bipartido apresentam maior potencial reprodutivo frente aos caprinos sem bipartição escrotal, pois aspectos ligados à histometria e morfometria testicular direcionam para maior capacidade de produção espermática nesses animais.

Antônio Augusto Nascimento Machado JúniorProf. Adj. da Universidade Federal do Piauí em Bom JesusDefesa: Universidade Federal do Piauí, [email protected] / [email protected]

Os estudos sobre os modos como se constroem as práticas de ensino-aprendizagem dos gêneros textuais em contexto escolar têm sido objeto de vários

questionamentos. Neste estudo, investigamos a apropriação do gênero textual carta de reclamação, por alunos dos 3º e 4º blocos da Educação de Jovens e Adultos, participantes e não-participantes de uma sequência didática, matriculados em duas escolas públicas municipais de Teresina-PI, com o objetivo de verifi car quais elementos do gênero textual em estudo os alunos aprendem por meio de atividades estruturadas para este fi m. Foi objetivo nosso também investigar a infl uência que os eventos de letramento exercem sobre a apropriação da escrita. As turmas selecionadas funcionaram como grupo controle e experimental. No primeiro, a produção escrita aconteceu como uma das atividades feitas pelo professor da turma, ou seja, foi seguido o planejamento da escola. No segundo grupo, atuamos também com a função de professora e desenvolvemos uma sequência didática. Após as análises quantitativas e qualitativas dos textos de ambos os grupos, verifi camos que o desenvolvimento do tema, a continuidade tópica, os articuladores discursivo-argumentativos, as relações discursivas e as modalizações tiveram sua aprendizagem facilitada e contribuíram para a construção do sentido nas produções dos alunos do grupo experimental. Tais aspectos não foram constatados nos textos produzidos pelos alunos do grupo controle. Sobre a relação entre os eventos de letramento de que os sujeitos participam e a apropriação da escrita constatamos que, quanto mais signifi cativa a participação dos sujeitos em eventos de letramento nas suas variadas rotinas comunicativas, mais fl uência eles demonstraram na construção do gênero textual em estudo. Do ponto vista mais propriamente teórico, o trabalho buscou conjugar contribuições dos estudos aplicados voltados para questões de ordem didático-pedagógica com estudos enunciativo-discursivos, fundados em uma concepção dialógica da linguagem tal qual proposta no pensamento bakhtiniano.

Letramento e apropriação do gênero textual carta de reclamação no contexto da educação de jovens e adultos

Desenvolvimento de métodos analíticos para a determinação de As, Cu, Pb em cachaça por espectrometria de absorção atômica em forno de grafi te

Bárbara Olímpia Ramos de MeloProfessora da Universidade Estadual do Piauí Defesa: Universidade Federal do Ceará, 2009. [email protected]

Autor: Agenor MartinsR$ 17,00102 pá[email protected]

O computador está definitivamente integrado em nosso dia-a-dia. Empresas, profi ssionais, estudantes e a população em geral, todos já se familiarizaram com o uso e a manipulação dessa tecnologia. Mas, mesmo com a habilidade de manuseio e o conhecimento da potencialidade destes recursos, pouca gente se atreve a responder à pergunta: como funciona um computador? E é esta resposta que o autor, se propõe a oferecer, numa linguagem acessível ao grande público e tecnicamente correta.

Organizadores: Simone de Jesus Guimarães, Guiomar de Oliveira Passos e Inês Sampaio Nery161 páginasR$ 21,[email protected] e [email protected]

Tornar público os resultados de pesquisas desenvolvidas no Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas da UFPI é o objetivo dessa produção, que traz artigos e textos provenientes de dissertações ou teses defendidas no Programa. Os organizadores buscaram revelar objetos de estudos que se colocam na inquietude permanente dos saberes, práticas e vivências humanas e sociais.

Mulheres Escritoras

Autor: Saulo Cunha de Serpa BrandãoR$ 10,[email protected]

A obra “Mulheres Escritoras” transcrita de forma prática para a versão em DVD teve início em 2001 e concluída em 2008. No início, a proposta era levantar a existência de mulheres que escreviam em jornais na cidade de Teresina-PI na primeira metade do século XX. Os pesquisadores e bolsistas desse trabalho, que virou livro, ousaram e decidiram digitalizar todos os artigos de mulheres encontrados em jornais a partir de 1875 até 1926. A falta de qualidade dos jornais fez com que o grupo optasse por essa publicação em meio digital. O projeto foi fi nanciado por UFPI, FAPEPI e CNPq.

Poesia de Agudeza em Portugal

Autora Maria do Socorro Fernandes de CarvalhoR$ 40,00429 pá[email protected]

O livro é um estudo retórico da poesia lírica e satírica escrita em Portugal no século XVII e procura responder alguns questionamentos feitos pela autora com um conhecimento sério da literatura barroca, através de textos impressos e manuscritos.

Organização: Maria Auxiliadora F. Lima, Francisco Alves Filho e Maria do Socorro F. de CarvalhoR$20,00296 pá[email protected]

O livro reúne 14 artigos, em sua maioria, de professores e alunos do Mestrado em Letras, os quais resultam e dialogam com as pesquisas e estudos em andamento no Programa e dão conta de diferentes temáticas relativas aos estudos literários e lingüísticos.

O Que é Computador

Autora Maria das Graças TarginoR$ 30,00250 pá[email protected]

A obra apresenta a trajetória da imprensa no Brasil, desde o jornalismo literário até os dias atuais, com o webjornalismo e o jornalismo cidadão. Com base em textos divulgados nas páginas do Centro de Mídia Independente Brasil (CMI Brasil) via Internet, busca respostas para questões contemporâneas, como morte ou sobrevivência do autor; o fi m ou mutação do jornalismo; se a mídia convencional determina ou não a agenda dos meios alternativos, ou se estes intervêm no jornalismo tradicional, entre outros assuntos.

Caderno de Políticas PúblicasEstado, políticas públicas e práticas sociais

Olhos Espraiados linguagem e literatura ao sol

Jornalismo Cidadão Informa ou deforma ?

Potencial reprodutivo de caprinos com escroto bipartido: Avaliação do processo espermatogênico em animais criados no Estado do Piauí, Brasil

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prescrição e acompanhamento médico. Apesar disso, o uso indiscriminado e acima das doses terapêuticas de anabolizantes foi relatado, inicialmente, por atletas, buscando uma melhora do desempenho, e, posteriormente, por praticantes de atividades físicas, principalmente os praticantes de musculação, com o objetivo de aumentar a massa muscular e diminuir a quantidade de gordura do corpo com menor esforço e no menor tempo possível. A maioria das academias tem como atividade física principal a musculação. De acordo com o professor de Educação Física, André Luis, que possui mais de 06 anos de experiência na área, existe, por parte dos jovens, uma busca de um crescimento muscular rápido, e por isso há quem recorra a drogas para um ganho de massa muscular mais acelerado Ele ressalta que sempre esclarece os alunos mais jovens sobre os esteróides, pois são eles que mais procuram pela substância, além de confundirem anabolizantes com os suplementos. “Acredito que a maioria procura por imaturidade e por não terem a consciência dos males que os anabolizantes causam e que podem deixar sequelas irreversíveis para o resto da vida. Condicionamento físico e ganhos

estéticos sem esforço não existem e para isso é necessário muito treino e dedicação”, afi rmou André Luis. Existem os anabolizantes orais e os injetáveis. Como todo medicamento, principalmente os de venda controlada, os anabolizantes só devem ser utilizados quando prescritos pelos médicos, não devendo ultrapassar a dose máxima recomendada. Entretanto, as doses utilizadas pelos atletas podem variar de 10 a 200 vezes superiores às doses recomendadas com fi ns terapêuticos. O uso de altas doses de anabolizantes pode promover desde simples efeitos colaterais até doenças graves. Dependendo da dosagem, do indivíduo e do tempo de tratamento, as alterações podem ser irreversíveis e afetar diferentes tecidos. Os “anabolizantes naturais” também são conhecidos como suplementos alimentares. São compostos formados por diferentes substâncias, como: aminoácidos, vitaminas, minerais, creatina, albumina, dentre outras, que são vendidos sem o mínimo controle nas farmácias e nas lojas de produtos naturais. Essas substâncias possuem estrutura química e mecanismos de estimulação do crescimento muscular diferentes dos anabolizantes esteróides. Do mesmo modo, não devem ser

ingeridas sem prescrição e acompanhamento

de um nutricionista ou

de um médico, porque seus efeitos

em altas doses e por longos períodos

ainda não foram bem defi nidos. Além disso,

alguns estudos mostraram que muitos suplementos não

Anabolizantes: risco à saúde na busca pelo físico perfeito

TERESINA - PI, JUNHO DE 2009

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Vários fatores têm levado pessoas comuns a usarem o esporte e os anabolizantes

como meros instrumentos para crescerem e ganharem massa muscular: pressões sociais e psicológicas, por exemplo, busca cada vez mais veloz pelo “corpo perfeito”; desejo de ser aceito em uma sociedade onde o corpo virou mercadoria e sinal de status.

A prática esportiva em nome do prazer e da saúde fi ca em segundo plano. Atletas se dopam por recordes, prêmios e medalhas e nas academias a competição é por um corpo idealizado, associado ao sucesso. Os esteróides vendidos nas farmácias são moléculas sintetizadas em laboratório derivadas do hormônio testosterona, ou seja, têm a estrutura química muito semelhante à da testosterona, mas com algumas modifi cações que implicam em alterações nas respostas dessa substância no corpo. Desse modo, os anabolizantes sintéticos apresentam maior efeito anabólico (responsável pelo aumento da massa muscular) e menor efeito androgênico (responsável pelo desenvolvimento dos caracteres sexuais masculinos, como o engrossamento da voz e o crescimento de pêlos na face), quando comparados aos efeitos da testosterona. Os anabolizantes foram criados visando ao tratamento de doenças que apresentavam quadros severos de catabolismo. Assim como todos os medicamentos, estes só devem ser utilizados através de

a musculação. De acordo com o professor de Educação Física, André Luis, que possui mais de 06 anos de experiência na área, existe, por parte dos jovens, uma busca de um crescimento muscular rápido, e por isso há quem recorra a drogas para um ganho de massa muscular

Ele ressalta que sempre esclarece os alunos mais jovens sobre os esteróides, pois são eles que mais procuram pela substância, além de confundirem anabolizantes com os suplementos. “Acredito que a maioria procura por imaturidade e por não terem a

dos anabolizantes esteróides. Do mesmo modo, não devem ser

ingeridas sem prescrição e acompanhamento

de um nutricionista ou

de um médico, porque seus efeitos

em altas doses e por longos períodos

ainda não foram bem defi nidos. Além disso,

alguns estudos mostraram que muitos suplementos não

promovem benefícios ergogênicos (aumento do desempenho físico) nem anabólicos, é mais adequado substituí-los simplesmente por uma dieta balanceada. Tendo em vista os prejuízos dos anabolizantes, existe o Projeto de Lei do Senado nº 198, do ano de 1995, “que proíbe o uso de substâncias anabolizantes, naturais ou artifi ciais, com a fi nalidade de aumento de massa corporal em animais de abate” devido ao risco para a saúde humana. O instrutor físico de uma academia da cidade, Paulo Júnior lembra que as pessoas sedentárias devem começar aos poucos uma atividade física, mas mantendo uma sequência durante um grande tempo, assim conseguirão bons resultados e de forma saudável. Sem contar que é necessária uma avaliação médica e física para que a pessoa possa ser encaminhada à atividade adequada. O instrutor se posiciona totalmente contra o uso de qualquer tipo de anabolizantes e alerta: “Os jovens de hoje em dia procuram utilizar suplementos e anabolizantes para obterem resultados em curto prazo, mas o resultado traz muitos malefícios à saúde como câncer, infertilidade, calvície, impotência sexual entre outros”, conclui.

Prof. Dr. José Arimatéia Dantas e o orientando Marcos Antônio Perreira

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Em tempos de Olimpíadas, infelizmente, o doping é quase tão falado quanto às

conquistas douradas dos atletas. Visando a um melhor resultado, é cada vez mais frequente o uso de esteróides anabolizantes (EAs) em academias por parte de atletas para ganho de massa muscular e desempenho e por não atletas para aprimoramento da estética. Entretanto, tais recomendações são contraindicadas tendo em vista seus efeitos colaterais, tais como: atrofi a testicular, impotência sexual, desenvolvimento de mamas em homens, virilização em mulheres, aumento da incidência de câncer, diabetes, pressão alta, mortes súbitas e inúmeros outros.

Levando em conta esta temática, o Professor Marcos Antônio Pereira dos Santos, doutorando da Rede Nordeste em Biotecnologia (RENORBIO), iniciou uma pesquisa que tem como objetivo analisar com exatidão o uso desses esteróides no controle de dopagem no esporte. Utilizará como base substâncias em matrizes complexas e a técnica da cromatografi a bidimensional tradicional e compreensiva, de forma a aumentar a sensibilidade, seletividade e abrangência em termos de diversidade de substâncias.

Para Marcos Antônio, a

Nova técnica para detecção de anabolizantestécnica na qual ele propõe aumenta a exatidão nas medições, pois para ele, “a técnica utilizada atualmente, a CG/C/EMRI, é limitada pela contribuição da matriz à razão isotópica de substâncias de interesse (ou seja, são quase idênticas no comportamento químico, mas diferem na massa atômica ou número de massa e assim se c o m p o r t a m diferentemente no espectrógrafo de massa, nas transformações radioativas e nas p rop r i edades físicas). Já a utilização da cromatografia g a s o s a bidimensional com combustão acoplada à espectrometria de massas por razão isotópica (CG-CG/C/EMRI), pode aumentar a exatidão dessas medições. Essa técnica tem um grande caráter inovador no controle de dopagem no esporte que sofre com as limitações impostas pela técnica atual, a qual conduz a inúmeros falso-negativos”.

No país, são poucos os centros que desenvolvem pesquisa com antidoping, além de haver uma carência de laboratórios credenciados que examine, detecte

os EAs e apresente laudos. Através desta pesquisa, será possível criar um novo diagnóstico tendo como viés as ferramentas da biologia molecular e química analítica de forma a padronizar a aplicabilidade do uso dos esteróides anabolizantes para rastrear essas substâncias.

A inovação desta pesquisa demonstra que por meio da biologia

m o l e c u l a r , é possível detectar melhor o esteróide, pois o atleta que faz uso da substância em treinamentos é capaz de alterar o desempenho. Desta forma, a técnica

desenvolvida, a partir da pesquisa, ajudará de maneira efi caz a impedir a adulteração ou tentativa de adulterar qualquer parte do controle de doping do atleta.

Portanto, Marcos Antônio ressalta que a aplicabilidade desta pesquisa ocasionará um grande impacto na área de dopagem no esporte, pois será uma opção para as federações esportivas realizarem a análise de doping, além de orientar os profi ssionais da área de saúde, atletas e áreas afi ns do desporto para a preservação da integridade física e mental de nossos atletas e

Marcos Antônio Pereira dos SantosDoutorando da Renorbio [email protected]

praticantes de atividade física.A pesquisa já foi iniciada

e está sendo desenvolvida utilizando a infraestrutura física do departamento de química da UFPI. Serão analisados um grupo de indivíduos que faz uso de esteróides e outro que não faz uso da substância, avaliando a alteração da expressa genética para se chegar à diferença entre os grupos por meio de um parâmetro molecular. Além disso, com a técnica da cromatografi a bidimensional tradicional e compreensiva será possível verifi car a quantidade utilizada pelo atleta e se é um hormônio natural ou artifi cial. “Será analisado a expressão genética antes e depois da substância aplicada, pois o hormônio só irá expressar o gene anabólico”, explicou Marcos.

Para o orientador de Marcos, o professor Dr. José Arimatéia Dantas Lopes, o estudo que vem sendo realizado já se destaca por si só porque são poucas as pesquisas nesta área. “Através desta pesquisa, o Estado do Piauí se insere entre os grandes centros e coloca o nosso grupo de pesquisa entre os grupos de ponta no Brasil”, ressaltou Arimatéia.

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No Brasil, há uma carência de pesquisas e de laboratórios

para a realização de exame antidoping.

A nova técnica piauiensepode criar um diagnóstico por meio da biologia molecular e

da química analítica.