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TERESINA - PI, MARÇO DE 2009 • Nº 19 • ANO V ISSN - 1809-0915 A qualificação profissional e a pesquisa científica se consolidam no Piauí Páginas 4, 5, 12 e 14 Pesquisa alerta para o uso indiscriminado do óleo da copaíba Páginas 6 e 7 Jovens criam nova linguagem e fazem revelações pessoais através de diários virtuais Páginas 15 e 16 Dos diários íntimos aos diários virtuais

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Qualificação Profissional

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TERESINA - PI, MARÇO DE 2009 • Nº 19 • ANO V

ISSN - 1809-0915

A qualificação profissional e a pesquisacientífica se consolidam no Piauí

Páginas 4, 5, 12 e 14

Pesquisa alerta para o uso indiscriminado do óleo da copaíbaPáginas 6 e 7

Jovens criam nova linguagem e fazem revelações pessoais

através de diários virtuaisPáginas 15 e 16

Dos diários íntimos aos diários virtuais

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TERESINA - PI, MARÇO DE 2009

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ISSN - 1809-0915

Informativo produzido pela Fundação de Amparo à Pesquisa do

Estado do Piauí - FAPEPI Fone: (86) 3216-6090 Fax: (86) 3216-6092

Diretor EditorialAcácio Salvador Véras e Silva

Conselho EditorialAcácio Salvador Véras e Silva Francisco Laerte J. Magalhães

Welington Lage

EditoraMárcia Cristina

Reportagens e fotosMárcia Cristina (Mtb-1060) Roberta Rocha (Mtb-1856)

Revisão de texto

Assunção de Maria S. e Silva

Projeto Gráfico e Editoração Eletrônica

Invista Publicidade(86) 88 44.0215

ImpressãoGráfica e Editora Halley SA

Tiragem 6 mil exemplares

Publicação Trimestral

Críticas, sugestões e contatos

[email protected] [email protected]

www.fapepi.pi.gov.br

Nº 19* Ano V* Março de 2009

Governador do EstadoWellington Dias

Presidente Acácio Salvador Véras e Silva

EDIT

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Marx e a democraciaO pensamen-

to filosófi-co-político

de Karl Marx, nascido em 1818, n a P r o v í n c i a alemã do Reno, é cons ide rado f i e l f o n t e inspiradora dos

“regimes políticos comunistas” que

foram constituídos e, em grande parte, desestruturados ao longo do século XX. Tais regimes, qualificados por muitos intelectuais historiadores, filósofos, sociólogos etc. como “experiências totalitaristas”, seriam exemplos concretos de que Marx é defensor de uma sociedade antidemocrática. Sendo isso verdadeiro, estaria explicado o porquê do pensamento desse filósofo ter caído em descrédito, a ponto de muitos “intelectuais” anunciarem a morte do seu pensamento. Convém, contudo, aos filósofos e homens da ciência investigar para afirmar ou negar tão grave acusação e condenação contra o pensamento do Renano.

Afinal de contas, podemos, legitimamente, adjetivar Marx como inimigo da democracia? A Revolução russa de 1917 é o fato histórico inicial mais relevante associado às ideias de Marx. Um dos líderes dessa revolução, Lênin, havia lido parte dos escritos de Marx e, tendo assumido o poder político do Estado russo, julgou-se apto a realizar as condições para o advento de uma nova forma de organização da sociedade, a comunista. É imprescindível dizer que Lênin, contudo, uma vez no poder, e diante da falta de respostas concretas, no pensamento de Marx, sobre como seria o funcionamento de uma sociedade comunista, escreveu tentando responder para todos sobre o “que fazer?”. Daí em diante, as “ideias e práticas comunistas” foram cada vez mais

constituídas sem nexo com o ideário ético e político de Marx, cujo objetivo é a defesa do que ele denominou de “emancipação humana universal”. Não obstante, o nome de Marx continuou intrinsecamente ligado a tudo o que se praticava nos chamados “Estados comunistas” onde, certamente, inúmeras atrocidades foram cometidas em defesa de ideias supostamente defendidas por Marx. Com a fragilização econômica do chamado “bloco comunista”, porém, as “cortinas” que blindavam os “países comunistas” deixaram à mostra os abusos políticos e contra a liberdade humana naquelas nações. Assim, por exemplo, no final dos anos 80 e início dos 90 do século anterior, época da perestroika (abertura) iniciada pelo então presidente da extinta URSS, Mikhail Gorbatchov, seguida pela queda do “muro de Berlim”, pôde-se conhecer e constatar o quanto a “prática comunista” desses paises se distanciou da teoria do socialismo/comunismo sustentada por Karl Marx.

Em virtude de tudo isso que foi exposto, cabe retomar a questão que apresentamos há pouco: a de sabermos se Marx é, ou não, contrário à democracia. Para responder, como princípio fundamental, deve-se distinguir o pensamento de Marx (marxiano) do pensamento dos intitulados marxistas (do marxismo). Estes últimos englobam um conjunto de pensadores, das mais diversas áreas do conhecimento (filosofia, sociologia, economia, história, educação etc.), quase sempre em desacordo entre si e, no entanto, cada um se julga o fiel entendedor das teorias de Marx. O que na maioria das vezes eles são, porém, meros intérpretes do pensamento de Marx, ou, o que é mais grave, indivíduos que sequer leram o que Marx escreveu e apenas se limitam a repetir comentários sobre suas teorias. Assumido esse princípio, o que resta é a tarefa de retornar ao puro pensamento de Marx, à leitura do que

efetivamente disse esse filósofo para, então, emitirmos um justo parecer sobre seu pensamento.

Em recente pesquisa de mestrado, seguindo esse método e objetivo, podemos concluir que, no período de 1843-48, Marx concebe um conjunto de argumentos, teses, teorias, de tal modo que forma um ideário filosófico-político em defesa da democracia que o acompanha até o final de sua vida, em 1883. É neste sentido que ele, em 1843, na obra Crítica da Filosofia do Direito de Hegel, posiciona-se contra a ideia do filósofo Friedrich Hegel, de que se deve entregar a soberania do Estado a um monarca, retirando do povo o direito de poder participar das decisões dos rumos do Estado. É igualmente nesta direção que Marx se manifesta contra o Estado burguês, fruto da Revolução francesa, acusando-o de só possibilitar a democracia formal-abstrata, isto é, a existência da democracia — da liberdade, da igualdade social — tão-somente na forma de leis que jamais são cumpridas. Em 1848, no Manifesto do Partido Comunista, Marx assevera que o objetivo da revolução social, a ser empreendida pela classe proletária contra o domínio político e econômico da classe burguesa, é a “conquista da democracia”. Do conjunto dos argumentos de Marx, enfim, podemos inferir que ele advoga a democracia direta, que ele denomina de “verdadeira”, “radical”, por tomar o ideal da conquista da autonomia pelos homens como princípio, meio e fim da revolução. Ora, levando em conta estas posições de Marx, que são mantidas até em seus últimos escritos, concluímos não ser legítima a tese de que ele seja “inimigo da sociedade aberta” ou democrática, como assevera o filósofo Karl Popper.

Professor da UESPI e do ISEAF. [email protected]

Antônio Francisco L. Dias

Os p r o g r a m a s d e p ó s -graduação são o foco desta edição, como abordamos

em outros momentos. Nos últimos anos, a universidade pública tem-se revigorado com o surgimento de novos campi e a ampliação dos já existentes com o consequente aumento de oferta de novos cursos e vagas, assim, tem-se ampliado, também, os cursos de pós-graduação: especialização, mestrado e doutorado.

O Sapiência, tendo como foco a popularização da ciência, vem abrindo espaço para que a produção de professores pesquisadores desta nova realidade brasileira e, acima de tudo, nordestina, seja conhecida do grande público. Por se constituir numa publicação de caráter jornalístico, não conflita e nem dispensa as publicações de caráter eminentemente científico produzidas pelos próprios programas de pós-graduação.

É do interesse deste periódico dar visibilidade à pesquisa que os professores/pesquisadores e alunos têm feito, e que por isto mesmo, tem servido para refletir acerca da prática que adotamos em certos setores do

cotidiano como procedimento empírico. Neste sentido, a variedade desta pesquisa e dos focos em cada área do conhecimento vai possibilitar que o pesquisador cruze interesses diferentes o que, ao final, acaba por favorecer a compreensão e a própria pragmática das relações cotidianas em lugares onde antes não havia tal preocupação.

É neste sentido que se apresenta, neste número, questões relativas à nossa história, apresentando dados novos de pesquisadores locais, que se voltam para a sua realidade, acrescentando importância a ação de gente que antes sequer era vista como agente histórico.

Assim, também, Programas como os de Química e Letras. Cada um destes programas, apesar de centrar-se teoricamente em matrizes universais de conhecimento, volta-se igualmente para questões localizadas no Piauí, e pelo trabalho incansável de pesquisador(a)s revela-se a existência de dados até então desconhecidos e a sua importância para a produção de novos conhecimentos locais de interesse global.

N ã o t e m n i s t o n e n h u m a preocupação bairrista ou regionalista, apenas a percepção de que no avesso

destes aspectos obscurantistas, há muito que se observar até como integração de uma parte importante do país e do mundo sem o que continuaria sempre uma falta lastimável.

Certamente, a imensidão do mundo acolhe microuniversos ainda ignorados e que merecem ser integrados ao conhecimento pela compreensão dos aspectos diversos que explicam seu isolamento, mas não justificam que permaneçam isolados. À ciência e aos cientistas cabem modificar o estado de coisas para trazer à luz novos modos de olhar o mundo a partir de pontos esquecidos, de forma que a descoberta de tais pontos possa modificar visões mais gerais, a partir da clareza de que a produção de conhecimento se faz em permanente processo de descoberta e construção.

O Sapiência, então, localiza-se como um espaço de visibilidade do que se tem feito no Piauí em ciência tomando, entre outros aspectos, os programas de pós-graduação como fonte do que publica.

Laerte Magalhães

Pensar global e agir local

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A crescente demanda p o r

f inanciamento d e p esquisas , n o B r a s i l , tem levado ao estabelecimento de critérios mais exigentes para a v a l i a ç ã o d e pesquisadores e

instituições. Anteriormente, a excelência de um pesquisador era avaliada pelo número de publicações, ou seja, a quantidade era mais importante do que a qualidade. Atualmente, a qualidade, medida pelo Fator de Impacto das publicações, está sendo objetivada por parte dos órgãos de fomentos. O exemplo disso é que a maioria dos Comitês de Assessoramento do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) utiliza o Fator de Impacto como critério de avaliação.

O fator de impacto (FI) é um sistema que determina a quantidade de

vezes que uma publicação é citada em certo período de tempo, dividida pelo número de artigos publicados nesse mesmo período. O FI é indexado ao Insitute for Scientif Information (ISI) sendo, anualmente, publicado pelo Journal of Citation Reports (JCR). O ISI possui mais de 8600 revistas internacionais nas áreas de ciências biológicas e exatas, sociais e humanas incluídas em três bases de dados: Arts and Humanities Citation Index (A&HCI), Science Citation Index (SCI) e Social Sciences Citation Index (SSCI). Somente os periódicos indexados no ISI são considerados para o cálculo do fator de impacto internacional.

Para que um periódico seja contemplado a ingressar nesta base de dados, ele deve reunir requisitos como pontualidade de publicação, cumprimento das normas internacionais de editoração e processo de revisão por pares ou peer review. O ISI tem compromisso de oferecer cobertura comple ta dos pe r iód icos ma i s

importantes e influentes do mundo, objetivando sempre a qualidade.

O FI passará a ser um critério utilizado na classificação dos periódicos pelo Qualis, que é um dos indicadores utilizados e aceitos, no Brasil, pela maioria dos pesquisadores, instituições de ensino e pesquisa e os órgãos de fomento e pós-graduação. Estes indicadores foram criados pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) no sentido de classificar os periódicos utilizados pelos programas de pós-graduação.

Atualmente, o Qualis está dividido em: Internacional e Nacional e subdividido em categorias indicativas de qualidade, A (alta), B (média) e C (baixa). Entretanto, a partir de 2010, a nova classificação, baseada no FI, será: A1, A2, B1, B2, B3, B4, B5 e C. Por exemplo, nas Ciências Agrárias, há a proposta de classificar as revistas em: A1 (FI > 1,500), A2 (FI entre 0,750 e 1,499), B1 (FI entre 0,001 e 0,749), B2 (indexado em 04 bases de dados), B3, (indexado em

* Prof. Dr. do Centro de Ciências Agrárias - CCA da [email protected]

03 bases de dados), B4 (indexado em 02 bases de dados), B5 (indexado em 01 base de dados) e C (não relevante). Esta nova classificação apresentará uma grande repercussão na qualidade dos periódicos, principalmente no Brasil. Consideremos que, em 2006, uma determinada revista X (com FI = 0,300) está classificada como Qualis A internacional. Nos próximos anos, esta revista X será rebaixada para Qualis B1, entretanto, os valores para classificação dos periódicos serão diferenciados de acordo com as grandes áreas do conhecimento.

Certamente, a busca da excelência científica, tanto dos pesquisadores quanto das revistas, será um novo e grande desafio e o novo Qualis vem contribuir para que os periódicos brasileiros aumentem sua qualidade e repercussão diante da ciência globalizada.

O fator de impacto do ISI e o desafio do novo Qualis

Estatística Multivariada na PesquisaA denomina-

ç ã o “Análise

M u l t i v a r i a d a ” corresponde a um grande número de métodos e técnicas q u e u t i l i z a m simultaneamente todas as variáveis

na interpretação teórica do conjunto de dados obtidos. Distingue-se da estatística tradicional que analisa cada variável ou cada amostra separadamente (Análise Univariada).

Para que não haja qualquer mistificação dos métodos de análise multivariada, convém lembrar que estes métodos padecem dos mesmos problemas de toda a estatística. As escolhas inadequadas das variáveis e das amostras afetam a interpretação dos resultados e, portanto, o conhecimento gerado a partir da interpretação estatística.

A estatística tem uma quasi-circularidade pouco explorada nos textos: pesquisamos para dizer algo significativo sobre o universo que selecionamos, porém a pesquisa só será significativa se conhecermos suficientemente o universo selecionado para escolhermos adequadamente as variáveis e as condições de amostragem.

A objetividade da pesquisa científica começa depois da escolha das variáveis e dos métodos de análise, antes

disto ela é completamente subjetiva. Obviamente, o resultado de toda pesquisa científica está contaminado por este viés de nossa subjetividade. Para entender melhor, vamos exemplificar com a análise da água de um rio.

O pesquisador não tem motivos para analisar mercúrio nos rios Poti ou Parnaíba, pois não há atividade de garimpo nas proximidades destes rios. Não havendo registro conhecido de curtume ou de outra atividade industrial específica, muitos dos íons metálicos não serão pesquisados. A matéria orgânica será determinada de forma global e não se investiga substâncias específicas, a não ser que haja indícios de alguma contaminação por agrotóxicos, por exemplo.

Considerando que aquilo que não se investiga jamais será descoberto, entende-se a subjetividade de um resultado de uma análise de água pelo que se deixou de dizer e a sua objetividade pelo que foi dito no laudo técnico de análise. Daí nasce a anedota sobre estatística: (...) o que as estatísticas revelam é sugestivo, mas o que elas escondem é essencial.

O mesmo acontece com as pesquisas de opinião que pretendem medir tendências do público diante de determinadas questões. A escolha das variáveis, especificadas através das perguntas, é inteiramente subjetiva e irá influenciar as possibilidades de análise dos resultados.

Quando o interesse primeiro é transformar as informações colhidas em conhecimento sobre o sistema em estudo, é possível minimizar alguns aspectos subjetivos da questão. Ou seja, há metodologias estatísticas que devem ser seguidas criteriosamente.

Nenhuma pesquisa se faz sem expectativas provenientes do senso comum, da formação teórica do pesquisador e de sua visão de mundo. Portanto, estão embutidos também, os próprios preconceitos do pesquisador. Contudo, uma pesquisa é feita de modo a confirmar ou negar tais expectativas. Daí o papel primordial da análise estatística.

A realidade que nos cerca é complexa e multivariada, necessitando de uma abordagem estatística adequada. A estatística multivariada permite uma visão global das variáveis e amostras analisadas, sendo um instrumento valioso numa pesquisa complexa.

Exis tem d iversos pacotes computacionais que trazem implementadas rotinas de análise multivariada. O mais poderoso deles por sua abrangência e tempo no mercado é o SPSS (Statistical Package for the Social Sciences). Apesar do nome, o SPSS é utilizado em todas as áreas do conhecimento.

Para os interessados em conhecer as aplicações, aponto alguns artigos que colaborei utilizando estatística multivariada, em diversas áreas do conhecimento: Determinação de

benzeno, tolueno, etilbenzeno e xilenos em gasolina comercializada nos postos do estado do Piauí. Química Nova, v. 32, 2009; Estudo quimiométrico qualitativo da polimerização de resina composta. Revista Gaúcha de Odontologia, v. 56, 2008; The application of hierarchical clusters analysis to the study of the composition of foods. Food Chemistry, Amsterdam, v. 99, n. 3, 2006; Estudo multivariado de solos urbanos da cidade de Teresina. Química Nova, São Paulo, v. 29, n. 3, 2006 e Polimorfismo do sistema HLA em uma amostra de mestiços da população de Teresina, Piauí. Revista da Associação Médica Brasileira, v. 50, n. 4, 2004. Uma visão didática sobre a estatística multivariada aplicada à pesquisa pode ser encontrada no endereço http://criticanarede.com/cien_estatística.html. Este texto publicado em maio de 2004, tem sido citado e copiado em diversos trabalhos acadêmicos, e registrado milhares de visitas.

Sugiro ainda o artigo “Uma Introdução à Análise Exploratória de Dados Multivariados”, publicado na revista Química Nova, v. 21, n. 4, 1998, para um aprofundamento nos dois métodos mais conhecidos de análise multivariada: análise de componentes principais e análise de agrupamento hierárquico.

Prof. Dr. em Química na [email protected]

José Machado Moita Neto*

Ademir Sérgio Ferreira de Araújo*

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Mestrado de Química trabalha com vistas à implantação do Doutorado

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O P r o g r a m a d e P ó s -Graduação em Química da UFPI, único formador

de mestres na área no Piauí, está prestes a completar 10 anos e busca a implantação do doutorado. Sonho que depende de diversos fatores, sobretudo, do empenho do próprio programa. A entrada de recursos financeiros para tal é uma das barreiras. O coordenador do programa, Prof. Dr. José Ribeiro dos Santos Júnior, informou que o curso depende essencialmente da parte experimental, ou seja, de suporte laboratorial e os investimentos são altos.

O Mestrado, implantado em 1999, tem conceito três na avaliação da CAPES e atua nas áreas de concentração Química Anal í t i ca , F í s ico-Química , Química Orgânica e Química Inorgânica. Dentro dessas áreas desenvolvem-se trabalhos nas seguintes linhas de pesquisa: biodiesel, ciências dos materiais, nanociência, nanotecnologia, química teórica, produtos naturais, química ambiental, estudo de biomarcadores em petróleo, eletroquímica, espectroanlalítica, química analítica de derivados de petróleo, arqueometria, análise térmica, quimiometria, ensino de química e síntese inorgânica, voltadas para o desenvolvimento soc ioeconômico da r eg ião Nordeste.

Atualmente, o programa tem cadastrados quinze professores

doutores, sendo doze professores do corpo permanente e três colaboradores, e ainda conta com quatro bolsistas DCR (Programa de Desenvolvimento Científico Regional) da parceria do CNPq e FAPEPI, um bolsista-pesquisador CAPES e um bolsista PROSET/CNPq (Programa de Estímulo à Fixação de Recursos Humanos de interesse dos Fundos Setoriais). O Programa já titulou sessenta e um mestres nesses quase dez anos e atualmente conta com cinquenta e um alunos regularmente matriculados. Possui laboratórios exclusivos para os alunos do programa, nas áreas de Química Orgânica de Produtos Naturais e

de Química Analítica.As dissertações defendidas

são de caráter teórico-prático e podem servir de exemplos de aplicação da Química para o bem da sociedade. Entre essas pesquisas, há estudo químico-farmacológico de produtos naturais da flora piauiense, análise de cerâmicas arqueológica, pesquisas com óleos isolantes utilizados em transformadores, análise de alumínio em águas e alimentos, estudo da distribuição de metais em solo urbano de Teresina, análise das águas do rio Poti e Parnaíba, técnicas de preparação de biodiesel e tantos outros temas de pesquisa de interesse acadêmico

e tecnológico de Química.P a r a o b t e r c o n c e i t o

de excelência na avaliação da CAPES, no caso conceito sete, um mestrado requer que todos os professores tenham pós-doutorado, convênios com universidades nacionais e internacionais e projetos de pesquisa, individuais e temáticos aprovados por órgãos de financiamento, entre eles a CAPES, CNPq e com as FAPs (Fundações de Amparo à Pesquisa).

Visando ao crescimento e melhoramento do nível do mestrado, para posteriormente a implantação do curso de Doutorado no Departamento de Química, faz-se necessário o aperfeiçoamento do quadro docente. Neste sentido, o Departamento de Química tem elaborado um Plano Anual de Qualificação de Docente, onde os seus pesquisadores poderão fazer um pós-doutoramento em centros de excelência em pesquisa no exterior. A Profa. Carla Verônica Rodarte de Moura é uma das contempladas. Ela encontra-se nos Estados Unidos, fazendo um estágio na “Texas A&M University”, onde desenvolve pesquisas com novos catalizadores e biocombustívies. Dos quinze professores, o único com pós-doutorado é o Dr. José Machado Moita Neto. “Nossa meta é passar para conceito quatro da CAPES, na avaliação deste ano, e fazer a proposta do doutorado em 2011”, enfatizou José Ribeiro dos Santos Júnior.

Coordenador Dr. José Ribeiro no Laboratório de Química Orgânica da UFPI

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Mestrado de Química trabalha com vistas à implantação do Doutorado

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Para subir no conceito, que é a meta de todos os programas de pós-graduação, o Mestrado de Química da UFPI já começou a trabalhar. A infraestrutura tem sido melhorada a cada ano. Está em fase de instalação um equipamento d e R e s s o n â n c i a M a g n é t i c a Nuclear (RMN) que custou quase um milhão de reais. O aparelho

Melhoramento da infraestrutura eleva qualidade das pesquisas

Dra. Carla Verônica (penúltima da esquerda para a direita) entre pesquisadores de outros países na Texas A&M University

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serve para determinar a estrutura molecular. Também foi adquirido um aparelho de infravermelho e um de Cromatografia Gasosa. Será instalado outro equipamento adquirido: o Difratômetro de Raio X, para análise de cerâmica. Foi aprovada a aquisição do equ ipamento Po tenc ios ta to /Galvanostato que será utilizado

para estudos em eletroquímica e eletroanalítica e ainda dois aparelhos de UV-visível.

O Programa está incluído no Projeto GERATEC, cujo objetivo é desenvolver pesquisas sobre a cadeia do babaçu. Também fazem parte desse projeto docentes e estudantes da UESPI e do IFET. O projeto foi aprovado em

A Profª. Drª. Carla Verônica Rodarte de Moura realiza seu pós-doutorado na Texas A&M University, quando concluirá em julho deste ano. Por e-mail ela informa que: “O trabalho que estou desenvolvendo aqui é na área de polímeros com aplicação industrial. Os polímeros (plástico) são do tipo utilizado para confeccionar, por exemplo, capa de CD. Mas, no meu caso especial, existe uma possível aplicação médica, pois estou desenvolvendo polímeros derivados do glicerol, que é um subproduto da glicerina e pode ser utilizado na área médica, pois pode apresentar biodegradabilidade”.

Além dos pós -doc , a pesquisadora também orienta alunos da iniciação científica e

do mestrado e garante que não é fácil ser orientadora à distância. “Mas meus alunos têm um co-orientador aí na UFPI, que são os professores Dr. José Machado

Moita Neto e Dr. Edmilson Moura. Mantemos permanente contato com eles através da internet e, além disso, eles enviam amostras para mim, e aqui realizamos

alguns experimentos”, justificou a professora que, no momento, orienta quatro alunos de mestrado e dois de Iniciação Científica.

Carla Verônica avalia que falta aumentar a produção científica dos orientadores, pois os currículos ainda não alcançaram o patamar exigido pela CAPES. “Nós temos alguns professores com bons currículos, mas no conjunto, não alcançamos a nota exigida. Mas eu acredito que dentro de poucos anos, uns três anos, para ser otimista, conseguiremos ter nosso doutorado implementado”.

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Laboratório de pesquisa do mestrado em química da UFPI

novembro de 2008 e terá recursos na ordem de R$ 6 milhões, sendo mais de 1 (hum) milhão de reais advindos do governo do Estado do Piauí, através da FAPEPI e Superintendência de Ciência e Tecnologia . Além disso , o Programa conta com bolsistas de iniciação científica financiadas pela FAPEPI.

Prof. Dr. José Ribeiro

Coordenador do Mestrado em Química

[email protected]

Pesquisadora faz pós-doutorado na Universidade do Texas

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As copaibeiras são árvores comuns na América Latina, em especial no sudeste brasileiro e na região Amazônica. Pertencentes ao gênero Copaifera, contam com mais de sessenta espécies catalogadas. Há aproximadamente dezesseis espécies endêmicas do Brasil, no entanto ainda há confusões e dificuldades para a identificação botânica das copaibeiras, especialmente identificações de campo (Figura 1).

Dessas árvores da família das leguminosas-Caesalpiniaceas é extraído, através de furo produzido no tronco, um óleo-resina (Figura 2) chamado óleo de copaíba usado, há séculos, na medicina popular. Na farmacopeia britânica, há referência do ano de 1677 e na farmacopeia americana, em 1820. Seu óleo é popularmente usado como estimulante, diurético, laxativo, expectorante, cicatrizante, antitetânico, anti-hemorrágico, antirreumático, anti-

inflamatório, antiulcerogênico, antissífilis, anticatarros, entre outros. É também muito aplicado na indústria química (cosmética), farmacêutica e até como substituto do diesel pelas comunidades indígenas. Pelas propriedades químicas e medicinais, o óleo de copaíba é bastante procurado nos mercados regional, nacional e internacional.

Como em outras regiões, em Teresina-PI, a garrafada da casca está

sendo utilizada como substituto do óleo de copaíba, visto que cada vez mais é difícil encontrar este óleo. No mercado local, a casca entra na composição de lambedores ou xaropes para tosse.

Pela sua floração de beleza deslumbrante, algumas espécies têm sido cultivadas em parques e praças de muitas cidades do país (Figura 3). No Parque da cidade, em Teresina – PI, há pelo menos duas espécies dessa planta ainda não identificadas botanicamente. As espécies C. confertiflora, C. langsdorfii e C. luetzelburgii são as mais comuns no Piauí. A C. langsdorffii, amplamente distribuída em quase todos os estados do Brasil, chega a tingir entre 10-15 m de altura e apresentar tronco de 50-80 cm de diâmetro e tem sido bastante estudada por diferentes pesquisadores no país.

De acordo com a literatura (Carrara e Meirelles, 1996), no século XVII, os primeiros médicos do Brasil contornavam parcialmente a escassez de remédios, cujo suprimento à Colônia era irregular, recorrendo às drogas indígenas. Os viajantes se abasteciam dessas drogas, “comprovadamente eficazes”, antes de se aventurarem por lugares desconhecidos, o óleo das copaibeiras era uma das que desfrutava de maior prestígio entre eles.

A história desse óleo não é feita só de virtudes. Apesar das várias aplicações populares que lhe são atribuídas e dos inúmeros preparados à base de copaíba que estão sendo comercializados, ainda é reduzido o número de estudos que comprovem de fato seus diversos usos. Há muitos estudos, mas apenas em caráter laboratorial. A origem dos óleos não é muitas vezes descrita nos fitomedicamentos, nos fitocosméticos e nem mesmo nos frascos de óleo vendidos nas centenas de farmácias de manipulação do País. Muitas vezes óleos de Copaíba podem estar adulterados com óleos vegetais (principalmente o de soja) e até mesmo por hidrocarbonetos derivados do petróleo devido à falta de controle de qualidade na manipulação e no transporte do produto. Essa falta de controle tem prejudicado até mesmo a exportação do óleo para a indústria de perfumes,

cosméticos, vernizes e outros. A pesquisa com plantas do gênero

Copaifera na UFPI não é recente. Em 1986, o Prof. Rozeverter Moreno defendeu dissertação de mestrado com o título “Contribuição para o conhecimento do efeito anti-inflamatório e analgésico do bálsamo de copaíba e alguns de seus constituintes químicos”. Atualmente o grupo de pesquisadores é liderado pelo professor do departamento de Química, Dr. Sidney Gonçalo de Lima (Figura 4). As pesquisas abrangem desde a identificação botânica, identificação química, controle de qualidade e comprovação de seu uso medicinal até efeitos citotóxicos e genotóxicos. O grupo de pesquisa tem ultimamente concentrado esforços com extratos das folhas e cascas do caule da espécie C. luetzelburgii, bastante comum na comunidade Quilombola dos Macacos – São Miguel do Tapuio - mas ainda não estudada do ponto de visto químico ou biofarmacológico.

“Temos, atualmente, vários alunos de iniciação científica e uma aluna de doutorado (sob orientação do Prof. Dr. Rozeverter Moreno Fernandes - CCA) pesquisando, além da toxicidade aguda, a atividade anti-inflamatória, analgésica e antioxidante, com essa espécie. No campo, ensinamos o processo de coleta do óleo e voltamos nosso estudo para outras partes da planta, visando à preservação da espécie”, diz o pesquisador (Figura 5).

A caracterização dos constituintes químicos é feita por uma das técnicas mais avançadas de análises, a Cromatografia Gasosa Acoplada a Espectrometria de Massas (CG-EM), Figura 4, um instrumento capaz de detectar quantidades ínfimas de um constituinte específico em uma mistura altamente complexa e,

Óleo de copaíba é objeto de pesquisa na UFPI

Figura 2: Processo de coleta do óleo de Copaíba

Figura 1: Copaífera existente no Parque da Cidade, em Teresina

Figura 3. Imagem das flores da Copaifera langsdorffi

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ainda, detectar qualquer contaminante orgânico presente nesses óleos. O perfil cromatográfico é uma verdadeira impressão digital desses óleos.

Apesar de centenas de trabalhos publicados em diversos países, ainda há equívocos sobre a composição química, identificação botânica e atividade farmacológica do óleo de copaíba. Como resultado das pesquisas realizadas na UFPI, o Prof. Sidney Lima e colaboradores (Associação Brasileira de Química, Natal – RN, 2007) demonstraram que, em geral, o óleo é rico em componentes fenólicos, ácidos graxos livres, sesquiterpenos e diterpenos (aproximadamente 60%) e ácidos diterpenóicos. Além da composição química de óleos de diferentes origens, o grupo tem avaliado sua atividade antiinflamatória, anticolinesterásica e sua toxicidade.

Segundo o Prof. Sidney, o óleo bruto tem demonstrado muitas atividades biológicas, mas falta ainda relacionar seus efeitos a um constituinte específico ou estudar mais intensamente seu efeito sinérgico em que várias substâncias químicas atuam no organismo levando a uma reação contra outros males. Esse efeito sinérgico, presentes em muitos extratos de plantas, pode explicar o fato de um determinado chá aliviar vários sintomas. Nesse trabalho, os autores mostraram em ensaios preliminares, in vitro, que o óleo bruto da espécie C. multijuga e Copaifera sp tem potencial efeito antitumoral e até como um dos candidatos a inibidores d i r e t o d a e n z i m a Acet i lcol ines terase (AChE), responsável p e l a d o e n ç a d e

EEM

Alzheimer. Segundo o Prof.

Sidney, o óleo é uma fonte riquíssima de constituintes com potencial atividade medicinal. Há na literatura alguns estudos sobre a a t iv idade de a lguns constituintes isolados, mas há mais de 100 substâncias no óleo de copaíba. Sabe-se, por exemplo, que alguns sesquiterpenos ta i s a -curcumeno e b-bisaboleno apresentam propriedades tais como a n t i u l c e r o - g ê n i c o , antiviral e antirretro-vírus. O b-bisaboleno também apresenta propriedades abortivas. O bisabolol é conhecido por conferir as propriedades anti-inflamatórias e analgésicas à camomila. O b-elemeno é descrito como anticâncer cérvico e o cariofileno e d-cadineno como anticariogênicos, sendo este último também bactericida. Alguns ácidos diterpenóicos isolados de Copaifera, tais como ácido copálico (19), ácido (+) hardwíckico (20), ácido Kauren-10-óico (21) e ácido enantio agático (22) serão avaliados quanto à atividade biológica em colaboração com o Laboratório de Genética Toxicológica da UFPI.

O Instituto Nacional de Câncer (Inca), do Rio de Janeiro, já comprovou o poder antitumoral desse óleo em tubos de ensaio e em testes com animais. Na UFRJ, há estudos também em andamento para criação de um creme vaginal destinado a combater os vírus do HPV, causadores do c a r c i n o m a do colo do útero (um p r o b l e m a que atinge cerca de 30% das mulheres brasileiras).

N ã o s e

Óleo de copaíba é objeto de pesquisa na UFPI

Figura 4: Prof. Dr. Sidney Lima fazendo análise para identificação dos constituintes químicos no extrato da planta

conhece registro de intoxicações com o óleo de copaíba em seres humanos, mas em geral os óleos essenciais são produtos de extração de uma espécie vegetal e, portanto mais concentrados, apresentando toxicidade mais elevada que a da planta de origem. O uso abusivo e sem orientação não é aconselhado. A toxicidade pode ser aguda ou crônica e ainda pode existir também a interação medicamentosa entre os inúmeros componentes do óleo com certos medicamentos utilizados pelo

indivíduo. O grupo alerta que testes preliminares com óleo de Copaifera sp, indicaram citotoxicidade e genotoxidade em sangue periférico e medula óssea, quando administrado em altas concentrações a camundongos.

No caso do óleo da Copaíba, muitos estudos farmacológicos mostram que o uso do óleo pelos índios e outras

comunidades é

plenamente justificado. Entretanto, muitas propriedades precisam ser comprovadas in vivo no ser humano. Pode ser que a maioria das supostas propriedades farmacológicas anunciadas pelo seu vizinho não tenha validade científica, por não ter sido investigada, ou por não ter tido suas ações farmacológicas comprovadas em testes científicos pré-clínicos ou clínicos, e, portanto deve ser vista com desconfiança.

Figura 5: Prof. Dr. Rozeverter Moreno em Laboratório de Pesquisa do CCA

Figura 3. Imagem das flores da Copaifera langsdorffi

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Prof. Dr. Sidney Gonçalo de LimaDepartamento de Química - [email protected]

Prof. Dr. Rozeverter Moreno FernandesCentro de Ciências Agrárias - [email protected]

TERESINA - PI, MARÇO DE 2009

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Sapiência – Como a sra. avalia a contribuição do Programa de Mestrado em Letras da UFPI para a educação do Estado do Piauí?

Maria Auxiliadora – O Mestrado tem exercido um papel importante na educação do Estado do Piauí por contribuir na formação de docentes e pesquisadores da área de Letras (linguagem e literatura) do Piauí e do Maranhão (neste último, temos um maior índice de alunos da cidade de Caxias). A maioria dos mestrandos e mestres oriundos do programa são professores da rede pública e exercem suas atividades no ensino básico e alguns atuam no ensino superior. O Programa já formou cinquenta e dois mestres e no primeiro semestre de 2009 formará mais treze. Em 2010, está prevista a titulação de quatroze mestres e em 2011 mais vinte e três mestrandos receberão o título. Esses números indicam que o Programa vem atendendo a demanda reprimida existente no Estado nas áreas de Literatura e Lingüística. Outro aspecto a considerar é a inserção de mestrandos e mestres na pesquisa. Muitos deles participam dos grupos de pesquisa de seus orientadores. O Programa está gradativamente construindo um espaço acadêmico para discussões, troca de experiências, apresentação de pesquisas, produções científicas acerca das inter-relações entre literatura, Cultura e Sociedade e das inter-relações entre Linguagem e Discurso.A partir de 2006, esse espaço adquiriu uma maior visibilidade com instituição do EnMEL (Encontro Linguístico e Literário do Mestrado em Letras.

Sapiência – Quais as estratégias que a coordenação do Programa vem executando para que o mesmo atinja

melhor conceito junto à CAPES?M a r i a A u x i l i a d o r a – A

Coordenação, juntamente com o corpo docente, vem trabalhando para que o Programa mude sua pontuação junto à CAPES. Nossa meta é atingirmos nota quatro na próxima avaliação trienal. Para isso, temos consciência de que o Programa precisa estabelecer uma política de publicação mais austera. Em 2009, o Programa deve trabalhar no sentido de que haja um maior número de publicações de seu quadro docente em revista QUALIS. O Programa tem uma política de incentivo à participação de alunos e professores com apresentação de trabalhos, em eventos de natureza científica para posterior publicação.

Sapiência – O intercâmbio com docentes de outras instituições de ensino e pesquisa é fundamental para toda pós-graduação. Quais as parcerias em andamento?

Maria Auxiliadora – Temos as seguintes parcerias: o DINTER (doutorado interinstitucional) com a UFMG; o PROCAD na área de Estudos Literários em parceria com a universidade Federal de Santa Catarina e a Universidade estadual de Londrina, estando na UFPI sob a coordenação do prof. Saulo Brandão. E ainda o PROCAD/Novas Fronteiras, na área de Estudos de Linguagem, será desenvolvido em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde professores do Mestrado (UFPI) irão fazer o pós-doutorado e professores da UFMG participarão de atividades do Mestrado, ministrando disciplinas e desenvolvendo pesquisa vinculada ao projeto. O intercâmbio com outras

instituições se estabelece também através da participação de professores em núcleos de pesquisa de outras universidades. Temos, por exemplo, o NUPLID (Núcleo de pesquisa em Literatura Digitalizada) que desenvolve pesquisa em conjunto com os grupos de pesquisa NUPILL da UFSC e NUPILL da UEL. Temos também, participação com o grupo de pesquisa ProTexto da UFC.

Sapiência – A infraestrutura e o número de docentes, especialmente daqueles com tempo integral na instituição, são suficiente para dar sustentação às atividades do Programa? A sra. poderia citar alguns projetos ou linha de pesquisa que mais despertaram interesse dos mestrandos?

Maria Auxiliadora – O Programa vem melhorando sua infraestrutura, através de projetos como CT-Infra. Atualmente, o Programa dispõe de uma sala de pesquisa para os mestrandos, professores receberam computadores para seus grupos de pesquisa. Com recursos do PROF, temos adquiridos livros para a Biblioteca. Este ano já entregamos à biblioteca cerca de cento e setenta livros distribuídos entre as duas áreas do Programa. O mestrado conta atualmente com dezessete professores, sendo quatorze do quadro permanente. A tendência é que esse número cresça com o ingresso de novos doutores no Departamento de Letras e com o retorno de professores que saíram para fazer doutorado. Temos também o DINTER (doutorado Interinstitucional na área de Lingüística com a UFMG), que está qualificando quatro professores do Departamento de Letras e dois professores do campus de Picos.

Quanto a segunda parte da pergunta,

uma boa parte das dissertações, sobretudo as concluídas a partir de 2007, estão vinculadas a projetos de pesquisas dos orientadores e ou a suas respectivas linhas de orientação. Assim, na área de Estudos de Linguagem, as dissertações inserem-se nas linhas de orientação: a) Discurso, mídia e política; b) Texto, gêneros de discurso e dialogismo; c) Descrição do português em uma perspectiva enunciativa d) Dimensão social da linguagem e ensino de língua materna.

Sapiência – Como avalia sua experiência no Programa de Mestrado em Letras, já que em breve deixará o cargo?

Maria Auxiliadora – Foi minha primeira experiência na coordenação de um programa de pós-graduação stricto sensu e foi bastante significativa. Fiz parte, em 2003, da equipe responsável pela elaboração do projeto para implantação do Programa com duas áreas de concentração. Acredito que tenha dado minha contribuição ao Programa juntamente com a colaboração do Prof. Dr. Francisco Alves, subcoordenador, e de um conjunto de docentes. Entretanto, tenho consciência de que é preciso avançar mais.

Sapiência – Como a sra avalia o novo acordo ortográfico?

Maria Auxiliadora – Esse acordo não afeta o sistema gramatical do português e também não tem como objetivo universalizar a língua portuguesa, mas de unificar dois sistemas ortográficos: o português e o brasileiro por questões políticas e econômicas. Trata-se de um acordo pendente há várias décadas e que finalmente foi efetivado.

A professora Doutora Maria Auxiliadora Ferreira Lima possui vasta experiência na área de Linguística, com ênfase em Teoria

e Análise Linguística e ensino de língua portuguesa. Graduada em Licenciatura Plena em Letras pela Universidade Federal do Ceará, tem mestrado pela Universidade Federal de Santa Catarina e doutorado em Linguística e Língua Portuguesa pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. É professora associada da UFPI e atualmente tem se dedicado à descrição da gramática do português falado em uma perspectiva enunciativa e à abordagem gramatical em livros didáticos.

Professores qualificados melhoram a educação no Piauí

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Sapiência - Que importância tem o mestrado de História para o Piauí?

Nascimento - Em primeiro lugar devo informar que o projeto montado por professores que fizeram ou fazem parte do Programa atualmente possuía entre os seus objetivos revisitar a historiografia do Norte e Nordeste, apoiar a produção historiográfica sobre as mesmas regiões e permitir que professores destas regiões tivessem condições de fazer uma pós-graduação em História, sem ter que se deslocar para Recife ou Salvador aqui no Nordeste ou então ter que deslocar-se para as regiões Sul e Sudeste. Temos recebido alunos do Maranhão (São Luís), do interior do Ceará e até de Pernambuco.

Sapiência - Que contribuição o

mestrado pode oferecer aos docentes, em geral?

Nascimento - Penso que a UFPI tem permitido que cada vez mais novos cursos de pós-graduação sejam instalados. (Veja o nosso crescimento nessa área na página da Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação no site da instituição). A UFPI na área de História possui poucos professores sem o mestrado e estamos caminhando e

trabalhando para que a maioria possua doutorado. Trabalhando numa pós-graduação, o professor contribui para a formação de jovens mestres - sejam como professores, sejam como pesquisadores. Assim, avalio que o Programa atua na melhoria da qualidade do ensino, além de contribuir para a formação de novos pesquisadores que estão produzindo belos trabalhos sobre a História do Piauí e do Norte e Nordeste.

Sapiência - O mestrado é importante também para o surgimento de pesquisas que regatam a nossa história, costumes e tradições. O sr. considera que o piauiense conhece e/ou valoriza pouco a sua história?

Nascimento - Não tenho dúvidas sobre o papel do Programa na nova historiografia piauiense. Creio que você teve a oportunidade de folhear algumas delas. Duas ou três já foram publicadas na forma de livro e deste modo alcançam um público mais amplo. Nós historiadores não resgatamos nada, produzimos a partir de inquietações que nos afetam no presente. Existe uma expressão ‘manjada’, mas que considero que serve para esta oportunidade. “Não se ama aquilo que não se conhece”. É preciso que a produção historiográfica

que sai das universidades chegue ao grande público, mas é preciso que a população adquira o hábito de ler. Mas esta é outra questão.

Sapiência - Pelo que me

informei, o mestrado conta com nove doutores do próprio curso de História e três de outras áreas. Ao todo, doze professores. Já foram defendidas quarenta dissertações e a previsão para este ano é que saiam mais doze a quinze mestres. Como o sr. analisa a possibilidade do curso melhorar seu conceito frente à CAPES?

N a s c i m e n t o - É d i f í c i l responder a pergunta proposta por você. Trabalhamos durante todo o triênio focando a mudança do conceito três para quatro da CAPES. Sendo realista, o nosso quadro de professores permanente é pequeno e a nossa publicação em revistas nacionais e internacionais ainda deixa a desejar. Esta mesma produção fica concentrada em um número pequeno de professores e penso que isto também é levado em conta. Por outro lado, a produção dos estudantes é muito boa, a nossa inserção social é ótima: temos ex-alunos como professores da Universidade Federal

do Piauí, da UESPI, do CEFET de Teresina e de Picos. Alunos nossos já estão fazendo doutorado. Neste último final de ano, dois ex-alunos foram selecionados para o doutorado em Uberlândia e Recife. Temos alguns índices bons e outros nem tanto.

Sapiência - A meta no futuro é que o Departamento possa trazer o Doutorado em História. O que é preciso para se chegar lá?

Nascimento - Essa meta não deve ser apenas do Departamento e não é. Se a UFPI quer ser grande e deve querer, então a meta deve ser da UFPI como um todo. Nós que fazemos o Programa de Pós-Graduação em História da UFPI temos consciência de que devemos ser determinados. Estamos nos preparando. Estão abertas as inscrições para concurso de professor com título de doutor, são duas vagas. Ainda este ano esperamos receber os primeiros doutores do nosso DINTER, realizado com a UFF. No começo de 2010, estarão chegando outros. Esperamos, até meados do próximo ano, ter um número de doutores que nos dê suporte para a proposição do nosso doutorado institucional.

F rancisco Alcides do Nascimento, doutor em História pela Universidade Federal de Pernambuco, é professor associado da UFPI e o novo coordenador do Programa de Pós-Graduação em

História do Brasil da UFPI. Já publicou vinte e sete artigos, treze trabalhos em anais de eventos, seis livros e quatro capítulos, possui sessenta e três itens de produção técnica e várias orientações de alunos de mestrado. Nascimento atua na área de história, com ênfase em história do Brasil República; em suas atividades profissionais tem coautorias com treze colaboradores em trabalhos científicos.

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Programa eleva a produção historiográfica no Nordeste

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LIVROS

Organizadoras: Shara Jane Holanda Costa Adad, Ana Cristina Meneses de Sousa Brandim e Maria do Socorro RangelR$ 20,00224 pá[email protected] e [email protected]

Este livro é uma coletânea de textos que versam sobre recentes teorias, metodologias e fontes de pesquisa com relação à linguagem. A leitura dos seus artigos deverá ajudar aqueles que desejam aprofundar suas reflexões sobre questões que se levantam em torno do sujeito e de seu relacionamento com a linguagem e com as múltiplas formas de representar este encontro. Nesta condição, a leitura de Entre Línguas abre ao leitor possibilidades para o movimento e a mistura de saberes.

Práticas Pedagógicas em Ciências Naturais: Abordagens na Escola Fundamental

Autor: José Augusto de Carvalho Mendes SobrinhoR$ 20,00205 pá[email protected]

Este livro traz resultados de pesquisas na área do ensino de Ciências Naturais com foco na educação básica, abrangendo aspectos históricos da educação científica no ensino Fundamental, formação de professores, escola multisseriada, experimentação e os saberes docentes. São produções de membros do Núcleo de Pesquisa sobre Formação de Professores e do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre o Ensino e a Formação de Professores de Ciências Naturais da Universidade Federal do Piauí (UFPI) / Centro de Ciências da Educação.

Reflexões sobre a Fenomenologia do Espírito de Hegel

Organizadores: Eduardo Ferreira Chagas, Marcos Fábio A. Nicolau e Renato Almeida de Oliveira185 páginasR$ 21,[email protected]

A obra trata de uma reflexão sobre o livro ‘Fenomenologia do Espírito’, que completou 200 anos em 2007, de autoria do pensador Friedrich Hegel, considerada umas das produções mais importantes e famosas da filosofia. Trata-se de uma análise da obra do filósofo, abordando pontos positivos e negativos. Dos artigos constituídos, destaca-se o produzido pelo Prof. MS. Antonio Francisco Lopes Dias, da Universidade Estadual do Piauí.

O Que é Programação

Autor: Agenor MartinsR$ 17,00102 pá[email protected]

A programação de computadores é uma das profissões que mais se expande com a informatização de nossa sociedade. Neste livro, o autor desconstrói com o mito da técnica inacessível, expondo princípios claros que valem para todas as linguagens de programação.

Ensaios Reunidos: coletânea do Mestrado em Letras/UFPI

Orgs. Saulo Cunha de Serpa Brandão e Maria Auxiliadora Ferreira LimaR$ 10,00223 pá[email protected]

Essa coletânea de textos foi elaborada com o objetivo de divulgar os projetos apresentados no Mestrado em Letras/UFPI, com ensaios escritos pelos professores do curso e tendo como intenção informar melhor o público por onde caminham as pesquisas desenvolvidas.

Entre Línguas: movimento e mistura de saberes

Phoros estudos lingüísticos e literários

Orgs. Maria Auxiliadora Ferreira Lima e Wander Nunes FrotaR$ 15,00318 pá[email protected]

A obra reúne produção científica de docentes e alunos do Mestrado de Letras/UFPI, na área de Estudos da Linguagem. Os ensaios focalizam horizontes de leituras (jornais, capas de CDs), falácias da linguagem, processos de referenciação, homonímia e polissemia, No campo dos Estudos Literários, os textos giram em torno de crítica literária, feminismo, retórica, construção de identidades e instalação do samba no cenário urbano.

A propositura fundamental é a reivindicação de uma nova categoria, a proformalidade, a fim de reconfigurar as classes. A reordenação contempla quatro macroclasses

de palavras: nomes (substantivos, adjetivos, numerais); verbos; advérbios; elementos relacionais (preposicionais e conjuncionais). O cabedal teórico é constituído do confronto de modelos epistemológicos, com a opção por um amálgama de teses aristotélicas e prototipistas; da exposição da natureza dos processos de gramaticalização, com a admissão de que léxico e gramática diferenciam-se pelo estatuto de gramaticalidade; da admissão da hipótese evolucionária para explicar os movimentos de gramaticalização de codificações de maior concretude referencial e/ou funções exofóricas para funções estritamente intralinguísticas. Esta proposta de classificação gradua as macroclasses de palavras em dois macrogrupos, denominados de pleriformas e proformas, que se discrepam com base na manifestação mais ou menos acentuada de proformalidade. Essa categoria responde pela fusão de conceitos cognitivo-pragmáticos e linguísticos para explicar a prototipicidade de formas de classes, subclasses e morfemas intralexicais como itens exemplares de seus respectivos paradigmas. Os processos de variação e mudança linguística, em especial a gramaticalização, respondem pela fluidez categorial e fundamentam a constituição de escalas de continua dentro das diversas macroclasses pleri- e proformais, com vistas a exemplificar o trânsito interclasse e intraclasse com diferentes graus de gramaticalidade (observando-se para a avaliação do estatuto de gramaticalidade, fatores de ordem mórfica, sintática e semântica). As disputas, portanto, entre léxico e gramática, condicionadas por fatores cognitivos e pragmáticos, ocorrem entre as classes, as subclasses e os morfemas intralexicais codificadores de propriedades categoriais. Por fim, a tese presta um tributo à tradição por ter chamado atenção para a propensão de os sistemas linguísticos apresentarem uma contraparte genérica de cada macroclasse, subclasse e morfemas intralexicais. Contudo, esse entendimento se resumiu à classe pronominal. Justifica-se, assim, a consideração dos pronomes como os protótipos das proformas, ou seja, como seus exemplares típicos ou melhores representantes.

O estatuto conceitual e funcional das proformas. Pronome: o protótipo das proformas

Kilpatrick Müller Bernardo CampeloProfessor da Universidade Federal do PiauíDefesa: Universidade Federal do Ceará, 2007 [email protected]

Este trabalho tem como principais objetivos analisar a participação do empresariado na educação no Brasil e na Argentina, a partir das reformas dos anos de 1990,

especificamente, nas estratégias e ações político-educacionais que se materializam por meio das organizações empresariais; compreender os motivos pelos quais os empresários se interessam pela educação pública e de que forma isso ocorre; identificar as relações estabelecidas entre o poder público e o empresariado nas políticas educacionais. A questão central que permeia este estudo é: os empresários são, no Brasil e na Argentina, atores de governo educacionais? Partimos do pressuposto de que as reformas educacionais transcorreram num processo dinâmico de mudanças no modo de regulação social, que deu lugar à redefinição tanto do papel do Estado como do setor privado. Elegemos como foco de análise as organizações, e não os empresários em si, justamente por ser por meio delas que os empresários se inserem como atores de governo na educação pública. A definição de alguns critérios permitiu-nos trabalhar com seis organizações dos dois países. Utilizamos como instrumentos de pesquisa entrevistas realizadas nos dois países com diretores(as) das organizações e com gestores(as) públicos(as), além de documentos, legislação, estatutos, publicações das organizações e matérias de jornais de circulação de massa. A metodologia utilizada na pesquisa é a comparação, priorizando o enfoque histórico-sociológico como referência de investigação. Os marcos conceituais de análise estão relacionados às abordagens de autores contemporâneos das áreas de educação e ciências sociais sobre a reforma do Estado e sobre as estratégias e as ações utilizadas pelo poder público para incorporar os múltiplos atores sociais na gestão das políticas sociais, particularmente das políticas educacionais. Os resultados das nossas análises confirmam nossas premissas iniciais de que os empresários são, no Brasil e na Argentina, atores de governo educacionais. Muito embora não sejam novos atores, apresentam-se de forma distinta no governo da educação , pela maneira como seus espaços de atuação foram redefinidos e readaptados no processo das reformas recentes, em que o Estado pluraliza os meios de governar, sem deixar de agir como ator central

Participação do Empresariado na Educação no Brasil e na Argentina

Liliene Xavier LuzProfessora da Universidade Estadual do PiauíDefesa: Universidade Estadual de Campinas, [email protected]

Os estudos sobre os modos como se constroem as práticas de ensino-aprendizagem dos gêneros textuais em contexto escolar têm sido objeto de vários

questionamentos. Neste estudo, investigamos a apropriação do gênero textual carta de reclamação, por alunos dos 3º e 4º blocos da Educação de Jovens e Adultos, participantes e não-participantes de uma sequência didática, matriculados em duas escolas públicas municipais de Teresina-PI, com o objetivo de verificar quais elementos do gênero textual em estudo os alunos aprendem por meio de atividades estruturadas para este fim. Foi objetivo nosso também investigar a influência que os eventos de letramento exercem sobre a apropriação da escrita. As turmas selecionadas funcionaram como grupo controle e experimental. No primeiro, a produção escrita aconteceu como uma das atividades feitas pelo professor da turma, ou seja, foi seguido o planejamento da escola. No segundo grupo, atuamos também com a função de professora e desenvolvemos uma sequência didática. Após as análises quantitativas e qualitativas dos textos de ambos os grupos, verificamos que o desenvolvimento do tema, a continuidade tópica, os articuladores discursivo-argumentativos, as relações discursivas e as modalizações tiveram sua aprendizagem facilitada e contribuíram para a construção do sentido nas produções dos alunos do grupo experimental. Tais aspectos não foram constatados nos textos produzidos pelos alunos do grupo controle. Sobre a relação entre os eventos de letramento de que os sujeitos participam e a apropriação da escrita constatamos que, quanto mais significativa a participação dos sujeitos em eventos de letramento nas suas variadas rotinas comunicativas, mais fluência eles demonstraram na construção do gênero textual em estudo. Do ponto vista mais propriamente teórico, o trabalho buscou conjugar contribuições dos estudos aplicados voltados para questões de ordem didático-pedagógica com estudos enunciativo-discursivos, fundados em uma concepção dialógica da linguagem tal qual proposta no pensamento bakhtiniano.

Letramento e apropriação do gênero textual carta de reclamação no contexto da educação de jovens e adultos

Bárbara Olímpia Ramos de MeloProfessora da Universidade Estadual do Piauí Defesa: Universidade Federal do Ceará, 2009 [email protected]

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TERESINA - PI, MARÇO DE 2009

11EEM

Piauí tem sua primeira defesa de doutoradoNo último dia 27 de março,

foi realizada a primeira defesa de tese de doutorado institucional do Piauí, através do Programa de Pós-graduação em Ciência Animal. Intitulada “Potencial Reprodutivo de Caprinos com Escroto Bipartido: Avaliação do Processo Espermatogênico em Animais criados no Estado do Piauí e no Brasil”, a tese do professor Antônio Augusto do Nascimento Machado Júnior, docente da Universidade Federal do Piauí (UFPI) no Campus Profª Cinobelina Elvas, município de Bom Jesus, foi apresentada no auditório do Núcleo de Pós-Graduação do Centro de Ciências Agrárias (CCA) da UFPI.

Além da orientadora da tese, a Professora Doutora Maria Acelina Mar t ins de Carva lho , a banca examinadora foi composta pela Profª Drª Maria Angélica Miglino, da USP, Profª Drª Alana Lisléia de Sousa, da UEMA, Prof. Dr. Antônio Chaves de Assis Neto, da UNESP e Prof. Dr. Ney Rômulo de Oliveira Paula da UFPI.

Nasc imen to f az pa r t e do Doutorado em Ciência Animal, que iniciou no ano de 2006 e conta ainda com 41 estudantes. Com a apresentação de sua tese, concluída em apenas três anos, ele é o primeiro doutor formado em um doutorado institucional no Piauí. A rápida conclusão do curso deve-se a continuidade na mesma linha de pesquisa na qual havia desenvolvido sua dissertação no mestrado. Seu trabalho de pesquisa abordou aspectos ligados à termorregulação, biometria escroto-testicular e comportamento sexual de caprinos com escroto bipartido e não

bipartido.Segundo o pesquisador, desde

2001, a UFPI possui o grupo de pesquisa “Morfologia de animais de produção” que realiza estudos em caprinos com escroto bipartido, nativos do Estado do Piauí e no qual iniciou seus trabalhos.

Para tanto, o grupo de pesquisa contou com recursos também da FAPEPI. O Dr. Antônio Augusto ressalta a importância de investimentos a pesquisa, sendo esta a mola mestra do desenvolvimento. “A pesquisa é a principal forma de captação de recursos para as instituições e sua

função é propiciar a qualificação dos seus professores/

p e s q u i s a d o r e s e f o r n e c e r espaço físico para

aqueles que foram qualificados possam, por meio de projetos

submetidos aos mais diversos órgãos de fomento, equipá-los”, destacou.

De acordo com Antônio Augus to o

trabalho acadêmico se propôs a confirmar,

de maneira

morfológica, uma superioridade reprodutiva presente em caprinos adaptados ao clima piauiense. Pelos resultados obtidos pode-se inferir que, dentre os caprinos adaptados às condições climáticas do Nordeste do Brasil, aqueles que possuem a característica de bipartição escrotal tendem a se sobressair reprodutivamente quando comparados com os caprinos que não apresentam o escroto bipartido.

“A tese vem somar as várias outras pesquisas que, em conjunto, tem a finalidade de confirmar que os caprinos com escroto bipartido são melhores, sob ponto de vista reprodutivo, que os caprinos que não apresentam o escroto bipartido”, explicou Augusto. Na prática, através da pesquisa é possível transferir informações concretas para os criadores de caprinos de modo que eles tenham mais um parâmetro confiável para a seleção de reprodutores para o seu plantel de animais.

Para o Prof. Dr. Antônio Augusto, a UFPI consolida-se no cenário nacional como instituição que investe na área de pós-graduação, destacando-se aí o CCA. “Este centro se mostra como um dos mais produtivos e o reflexo dessa produção culminou com a criação do primeiro e único doutorado institucional existente na UFPI. Essa conquista é fruto exclusivo da dedicação e compromisso que os professores têm com o desenvolvimento científico da Piauí”, afirma.

Antônio Augusto, primeiro doutor formado no Piauí, no momento da defesa de sua tese

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Pesquisador no momento de coleta de dados para sua tese

Prof. Dr. Antônio Augusto N. Machado JrProf. da UFPI - Campus de Bom Jesusemail: [email protected]

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Programa de Pós-Graduação em História conta com Doutorado Interinstitucional

EEM

O Programa de Pós-Graduação em História do Brasil da UFPI busca, em médio prazo, a implantação do curso de doutorado. Apesar de ainda contar com o conceito três (a nota máxima é sete), concedido pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), a coordenação do Programa persegue o crescimento. Nele, já foram defendidas quarenta dissertações e, até o final de 2009, cerca de dez alunos deverão fazer suas defesas.

De acordo com o professor e ex-coordenador do curso, Prof. Dr. Pedro Vilarinho, que deixou o cargo para assumir a direção do Centro de Ciências Humanas e Letras (CCHL)

da UFPI, o mestrado em História conta com doze professores,

sendo nove doutores do próprio curso, dois da área

de História da Educação e um de Arquitetura.

Entre 2010 e 2011, o curso terá o retorno

de dez professores que estão fazendo

doutorado fora do Piauí e tem

a p r e v i s ã o d e a b r i r

c o n c u r s o com mais vagas para

professores-doutores . “Sem

dúvida, com a chegada desses docentes e

com essas contratações, estaremos mais reforçados e o curso poderá abrir maior número de vagas, que atualmente, não passa de quinze”, disse Vilarinho.

Uma das exigências para se obter um bom conceito da CAPES, que avalia anualmente os programas de pós-graduação stritu sensu, é a produtividade dos docentes do programa. “Estamos buscando ser cada vez mais criteriosos com a entrada de professores produtivos no mestrado. A exigência é que eles dêem aulas no mestrado e também na graduação, que orientem projetos de pesquisa de iniciação científica e como professores do mestrado tenham projetos de pesquisa pessoais ou conjuntos cadastrados, além disso, que continuem a fazer publicações, como os artigos científicos, resultados dessas pesquisas”, argumentou Vilarinho.

O ponto forte do Programa de Pós-Graduação em História do Brasil da UFPI é o Doutorado Interinstitucional, o chamado Dinter, implantado em 2006, que tem por objetivo qualificar professores da própria UFPI, da UESPI, do IFET e da comunidade. O Dinter em História é realizado graças à parceria entre a UFPI e a UFF - Universidade Federal Fluminense, do Rio de Janeiro. Atualmente, o doutorado conta com quinze alunos matriculados.

Fotos de Teresina tiradas em décadas passadas

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Prof. Dr. Pedro VilarinhoDiretor do CCHL/UFPIEx-coord. do Mestrado em Histó[email protected]

Prof. Dr. Pedro Vilarinho

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Teresina: dos ‘anos dourados’ aos ‘anos de chumbo’

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Teresina e seu passado são temas de estudo no Programa de Pós-Graduação em História do Brasil da UFPI. Um dos trabalhos sobre o assunto é o projeto de pesquisa de iniciação científica desenvolvido através do PIBIC-CNPq, sob a orientação do Prof. Dr. Francisco Alcides do Nascimento, do Departamento de História e Geografia. O projeto foi concluído este ano, após cinco anos de pesquisa, tendo a participação de bolsistas de graduação em História.

O o b j e t i v o d o p r o j e t o é compreender o processo de intervenção do Estado autoritário, a partir do discurso progressista de desenvolver o Piauí e modernizar sua capital, tendo como base o “modelo desenvolvimentista”, que intervieram na produção de uma nova paisagem e no reordenamento dos espaços urbanos, afastando as camadas populares para a periferia, oriundas em sua maioria do campo, pessoas que migraram para a cidade grande em busca de melhores oportunidades.

O p r o f e s s o r d o u t o r Alcides Nascimento explicou os procedimentos e a metodologia desse trabalho, que resgata um pouco do passado da jovem Teresina, de apenas 156 anos. “O primeiro passo diz respeito ao levantamento, leitura e da bibliografia referente ao tema e ao recorte temporal, para uma maior compreensão do objeto e do período em estudo. Em seguida, passamos à pesquisa hemerográfica, realizada no Arquivo Público do Piauí – Casa Anísio Brito, na qual foram localizados e analisados nove periódicos entre diários e semanários (O Dia, Jornal do Piauí, Folha da Manhã, Estado do Piauí, Correio do

Povo, O Estado, A Hora, A Tribuna, O Liberal), que circularam em Teresina entre os anos 1950, 1960 e 1970”, informou.

Para o pesquisador, esse projeto foi fundamental para analisar o cotidiano da cidade, suas transformações espaciais e os discursos elaborados pelas elites a fim de modernizá-la, bem como a catalogação das mensagens governamentais, fundamentais no mapeamento dos projetos direcionados à cidade e análise do contexto político. “Essas pesquisas foram a base para a utilização da história oral como um viés necessário e fecundo de informações não

evidenciadas nas outras etapas acima citadas”, descreveu.

Teoricamente, a pesquisa apontou para alguns resultados. “A política posta em prática pelo poder público tinha como foco central desenvolver o Estado e dotar os centros urbanos de infraestruturas modernas, como a implantação de vias de tráfego, reformas em prédios públicos e logradouros, oferecendo facilidades para a inserção de um modelo industrial, que de fato só ficou no papel. Entretanto, o progresso anunciado na imprensa, chamou a atenção principalmente da população empobrecida do campo, historicamente explorada.

A cidade de Teresina representava para essas pessoas a possibilidade de uma vida melhor. Em busca de oportunidades nessa cidade moderna e empreendedora, essas pessoas projetaram seus sonhos e realizações e passaram por muitas dificuldades, frustrações e lutas”, acrescentou o titular da pesquisa. Alcides Nascimento observou ainda que a intervenção do poder público deu-se de forma autoritária e excludente para com as camadas menos favorecidas.

Foto da década de 70, destacando a Avenida Maranhão, a recém-inaugurada Praça Da Costa e Silva, a sede da Cepisa (edifício redondo ao fundo) e o Rio Parnaíba

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Fotos de Teresina tiradas em décadas passadas

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Mestrado em História do [email protected](86)3215-5973

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Mestrado de Letras qualifica docentes impulsiona a pesquisa no campo da linguagem e da literatura

Criado em 2003, o Programa de Mestrado Acadêmico em Letras é vinculado ao Centro de Ciências Humanas e Letras da Universidade Federal do Piauí. Em fevereiro de 2004, foi recomendado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES de acordo com as normas vigentes, recebendo conceito três (nota máxima é sete). De caráter interdisciplinar e interdepartamental, o Mestrado é mantido basicamente por professores do Departamento de Letras, contando com o reforço docente de professores oriundos de outros departamentos do Centro de Ciências Humanas e Letras – CCHL e do Centro de Ciências da Educação – CCE, vinculados ao Departamento de Comunicação Social.

Para a coordenadora do programa, profª. drª. Maria Auxiliadora Ferreira Lima, a implantação do Mestrado veio atender a demanda de um curso de pós-graduação stricto sensu na área de Letras nos estados do Piauí e Maranhão, contribuindo para o processo de qualificação do professor do ensino básico e superior e na atividade de pesquisa.

O Mestrado em Letras/UFPI é constituído por duas áreas de concentração e por duas linhas de pesquisa assim distribuídas: área de concentração em Estudos Literários, com linha de pesquisa em Literatura, Cultura e Sociedade, na qual se busca o estudo dos fenômenos literários, compreendidos como processos inseridos em contextos culturais e sociais; e área de concentração em Estudos de Linguagem, com linha de pesquisa em Linguagem e Discurso: Análise e Variação, na qual procura descrever o funcionamento da gramática da língua portuguesa nas dimensões da sintaxe, da semântica e da pragmática e o estudo da linguagem sob a perspectiva da construção textual, discursiva e filosófica.

O Programa real izou em abril de 2004 sua primeira seleção, ofertando dez vagas para cada área de concentração, tendo sido aprovados dezoito alunos: dez em Estudos de Linguagem e oito em Estudos Literários. Atualmente, o programa tem cinquenta alunos matriculados e já formou cinquenta e quatro

mestres. De acordo com a doutora Maria Auxiliadora, as dissertações concluídas, em sua maioria, estão vinculadas a projetos de pesquisa dos orientadores: “Salientamos que dentre as dissertações defendidas algumas se destacaram pelo mérito acadêmico, pelo rigor formal bem como pela originalidade. As defesas contam ainda com a participação de professores de outras IES do país”.

Maria Auxiliadora acredita que hoje, com um quadro docente constituído de quinze professores doutores e dois pós-doutores, o Programa tende a evoluir em seu propósito de qualificar docentes e de construir uma base sólida de formação de pesquisadores. “O Programa está preparando também essa base na graduação, através da Iniciação Científica, em que estudantes de Letras são inseridos em projetos de pesquisas, vinculados aos projetos dos docentes do Mestrado, além disso, tem procurado estabelecer um diálogo com a comunidade, através de palestras, de cursos de extensão, de publicações, de eventos, a exemplo do EnMEl

O P r o g r a m a d e P ó s -Graduação em Letras vem realizando, desde 2006, o Encontro Lingüístico e Literário do Mestrado em Letras da UFPI – EnMEL com o objetivo de construir um espaço acadêmico que congregue pesquisadores, professores e estudantes de diferentes níveis para troca de experiências, divulgação de pesquisas, construção de saberes, referentes a objetos de estudos da Literatura e da Linguística.

D e a c o r d o c o m a Professora Maria Auxiliadora, em sua terceira edição, o evento demonstrou que seu objetivo vem sendo atingido de forma bastante satisfatória como espaço de discussão sobre temas atuais da linguística e literatura debatidos nesse fórum, sob diferentes perspectivas. “Importantes nomes da pesquisa lingüística e literária em âmbito nacional, regional

e local debatem temas atuais e relevantes, alunos de graduação e de pós-graduação apresentam o estágio de suas pesquisas e

Encontro Linguístico e Literário

(Encontro Lingüístico e Literário do Mestrado em Letras) e de colóquios promovidos por professores do Programa, como também tem contribuído para o crescimento do Programa, a participação de professores em editais de Programas de apoio a Pós-Graduação”, ressalta a professora.

O Programa foi beneficiado com três projetos: um na área de Estudos Literários, o PRODOC - Programa de Apoio a Projetos Institucionais com a participação de três recém-doutores, os quais dois deles foram efetivados na UFPI e que se encontra em seu estágio final, com uma publicação em 2008 e mais três livros para serem publicados; e dois, o PROCAD, na área de Estudos Literários (UFSC/UFPI/UEL) - Programa Nacional de Cooperação Acadêmica e o PROCAD/Novas Fronteiras (UFPI-UFMG), na área de estudos de linguagem. Esses dois últimos trarão benefícios ao Programa de Mestrado em termos de qualificação discente e docente, intercâmbio interinsti tucional, desenvolvimento de pesquisas e publicações.

Encontro realizado pelo Mestrado em Letras – EnMEL que já reuniu mais de 500 participantes da área

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professores podem dialogar com os pesquisadores de modo a vislumbrar novas possibilidades para suas práticas de ensino-

aprendizagem. Para se ter uma ideia, no primeiro ano estiveram inscritos cerca de duzentas e vinte pessoas, já em 2008, foram quinhentas inscrições, desta forma, conseguimos estabelecer o contato com a comunidade, atingindo outro público fora da universidade”, ou seja, professores do ensino Fundamental e Médio”.

Dentro da programação d o E n M E L a c o n t e c e conferências, mesas redondas, sessões coordenadas, sessões de pôsteres, comunicações individuais, lançamento de livros e programação cultural. Maria Auxiliadora declara, ainda, que o EnMel é um evento que tem congregado participantes do estado do Piauí, do Maranhão e do Ceará e contado com a colaboração de importantes pesquisadores de diversas IES do país.

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Estrangeirismo usado pelos jovens na Internetprejudica nossa língua?

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A professora de inglês da AESPI, Márlia Socorro Lima Riedel, mestre em Letras pela UFPI, realizou um estudo motivado pelo Projeto de Lei (PL) n.º 1676/99, de autoria do deputado Aldo Rebelo, que visa a restringir o uso de palavras estrangeiras no Brasil e obriga o uso da língua portuguesa por todos os brasileiros e estrangeiros que aqui residem há mais de um ano.

O PL, se aprovado, regerá o uso da língua portuguesa no ensino e aprendizagem, no trabalho, nas relações jurídicas, nas expressões orais, escritas, audiovisuais e eletrônicas oficiais e nos eventos públicos nacionais, bem como nos meios de comunicação de massa, na publicidade de bens, produtos e serviços com o objetivo de defender, proteger e promover a língua portuguesa no Brasil. Tal projeto propõe, inclusive, sansões administrativos para quem descumprir qualquer disposição da referida lei. O projeto tornou-se objeto de polêmica entre o seu autor e alguns linguistas.

Com base neste PL, o objeto de estudo da pesquisadora foi mostrar a contribuição dos ‘empréstimos’ para a língua portuguesa e analisar o léxico inglês (anglicanismos) usado na linguagem cotidiana dos adolescentes, além de tecer críticas ao PL. Em torno da delicada questão da proteção da língua da pátria contra o perigo supostamente representado pela invasão dos chamados “estrangeirismos”, Márlia Riedel afirma que o PL “cheira” a antidemocracia e acrescenta que o inglês tem adentrado, cada vez mais, na vida dos brasileiros e isto não ocasiona nenhum prejuízo à língua portuguesa.

O estudo, intitulado “Os anglicanismos usados na linguagem dos adolescentes em salas de bate-papo na internet” foi realizado com alunos de escolas públicas e privadas, utilizando questionários e visualização de conversas, nas salas de bate-papo, pela internet. Desta forma, a pesquisadora constatou que não havia diferenciação entre os alunos, todos os jovens utilizavam a mesma linguagem, sem gerar prejuízos a nossa língua, fato considerado como modismo,

mas também como processo natural, além disso, a professora constatou que muitas dessas palavras já estão em desuso e outras novas surgindo.

Através da pesquisa, pode-se verificar que os jovens que frequentam salas de bate-papo na internet se comunicam usando anglicanismo. Constatou-se que dos 115 anglicanismos e n c o n t r a d o s n a s conversas, 36 são de uso técnico, 18 são de áreas específicas, como comércio, esporte, moda e música, e 31 são de uso comum. Apenas 30 deles estão mais diretamente ligados à linguagem dos adolescentes a exemplo de look, baby, bye, big, news, friends, love, dentre outras.

Márlia Riedel v e r i f i c o u q u e o s angl icanismos são u s a d o s , d e m o d o mais freqüente e em maior número, pelos

adolescentes das classes média e alta e acredita que isso seja devido ao acesso mais fácil à informação e ao computador. A pesquisadora ainda comenta que os jovens são motivados a usar anglicanismos, pois para eles, usar inglês “está na moda”; além disso, alguns desses anglicanismos coletados concorrem com seus termos

correspondentes em português. “A língua é influenciada pelos modismos que fazem parte da cultura de uma sociedade em determinado momento de sua história”. Ela acrescenta que “o processo de incorporação de empréstimos na língua é contínuo, confirmando a busca de renovação e integração de uma sociedade, pois nunca existiu e nunca existirá uma língua homogênea que jamais tenha recebido contribuições de outras línguas”.

Por outro lado, a pesquisadora, que está fazendo doutorado em Educação em Assunção, no Paraguai pelo Mercosul, chama atenção para linguagem utilizada no meio virtual, em que as palavras foram abreviadas até o ponto de se transformarem em uma única expressão, com duas ou no máximo três letras, havendo o uso restrito de caracteres e desrespeito às normas gramaticais. E alerta “é uma realidade que ultrapassou as fronteiras da internet. Agora, a preocupação é como a escrita está sendo usada e até que ponto pode influenciar no aprendizado e na comunicação entre as pessoas. “Trata-se da linguagem conhecida como internetês, que surgiu entre os usuários de bate papo e está sendo levada para o cotidiano das pessoas”, pontuou Márlia.

Professora Márlia Socorro Lima Riedel

Profª. da Associação de Ensino Superior do Piauí - AESPI [email protected]

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Jovens revelam segredos pessoais através de blogs

Se antes os diários eram trancados a sete chaves, hoje estão disponíveis para todo mundo ler. A mudança é resultado do desenvolvimento do mundo tecnológico, particularmente na área das comunicações que vem fazendo surgir a todo instante novos gêneros de discurso, como os blogs ou diários virtuais. Aqueles caderninhos rascunhados no silêncio e na solidão dos ambientes privados de antigamente, muitas vezes sob a luz de velas, e envolvidos no mais respeitável segredo, serviam para que seus autores tentassem se compreender, ajudando-os a criar seu próprio eu no papel. Nas últimas déca das, os diários pessoais passaram a dividir espaço com blogs.

Pensando nisso, a professora Rose Mary Furtado Baptista Passos desenvolveu uma pesquisa que reflete a linguagem utilizada nos diários e blogs, no seu Mestrado em Letras na UFPI. Em sua dissertação intitulada “A escrita de si nos diários e blogs juvenis: identidades reveladas”, sob a orientação do Prof. Dr. Laerte Magalhães, aprovada com nota máxima, constatou que os dois gêneros estudados apresentavam semelhanças por pertencerem a uma mesma formação discursiva. Para chegar a essa e a outras conclusões realizou análises comparativas dos discursos selecionados, todos de jovens do sexo feminino na faixa etária de 12 a 20 anos, e observou a forma como os sujeitos dialogam, como é constituída a alteridade (concepção que parte do pressuposto básico de que todo o homem social interage e interdepende de outros indivíduos), que linguagens são utilizadas em um e no outro, e como

as jovens se manifestam em relação aos valores ideológicos vigentes.

“Como sempre trabalhei com adolescentes, observei que os blogs estavam virando moda; procurei, então, comparar suas semelhanças com as agendas-diários e que novidades trazem, analisando 7(sete) blogs e 9 (nove) agendas-diários. A partir daí, procurei

adequar as análises às teorias da enunciação e dos gêneros de discurso e verificar que tipo de escrita focaliza o sujeito sobre seu próprio eu”, destaca Rose Mary.

P a r a a p e s q u i s a d o r a , n a constituição dos sujeitos dos diários, em tese, verifica-se um cuidado em não deixar a informação vazar, ou seja, em não direcionar a escrita para alguém ou direcioná-la a alguém fictício, no caso o próprio diário, como se este fosse um ser, como por exemplo, “querido diário” ou outras denominações. A escrita da agenda, dessa forma, é dirigida a uma pessoa idealizada, virtual, a quem as diaristas confidenciam seus segredos com toda a segurança. Os textos são aparentemente privados, introspectivos e secretos, permitindo o mergulho na própria interioridade. Já os blogs são verdadeiras cartas abertas, dirigidas ao público em geral. Neles, observa-se a necessidade de a blogueira divulgar sua própria imagem, embora só a idealizada, aquela pela qual gostaria de ser conhecida, bem como suas idéias e informações sobre assuntos que lhe interessam. Além disso, os blogs possibilitam a interatividade entre internautas e ainda buscam conquistar a visibilidade.

De acordo com a pesquisadora, seu trabalho visava a examinar os posicionamentos dos jovens em seus diários e blogs, levando em conta as

condições em que foram produzidos nas últimas três décadas. Diários e blogs apresentaram semelhanças, pois são escritos na primeira pessoa e não temem o pecado da subjetividade, fazendo desta a sua grande bandeira. A ideia dos blogs é original devido à própria característica de escrita diarística, apresentando-se como autoral e individual, nada impedindo, no entanto, que alguns segredos sejam revelados, ainda que a maioria fique subentendida, porque estão expostos na Internet para qualquer pessoa acessar.

A exemplo dos diários, os blogs são organizados no dia a dia em que são postados e isso também os torna semelhantes às agendas diárias e pessoais, sendo inclusive transferido o modo de escrever, a criatividade e a estética da apresentação, porém com dinamismo maior em função do próprio meio em que são produzidos, a Internet.

Rose Mary ressalta que, hoje, os blogs já estão sendo deixados de lado pelas adolescentes, abrindo espaço para os sites de relacionamento, como o Orkut, o que demonstra uma tendência rápida de mudanças e mostra como os jovens idealizam sua imagem.

Profª. Rose Mary Furtado Baptista Passos

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Profª. da Associação de Ensino Superior do Piauí - [email protected]

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