roteiro republicano de lisboa (relatório de leitura)
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Faculdade de Letras da Universidade do Porto
RELATÓRIO DE LEITURA
Professor Doutor: Pedro Clementino Vilas Boas Tavares
Disciplina: Cultura Portuguesa Contemporânea
Aluna: Fabiana de Oliveira e Sousa
DADOS DA OBRA
Título: Lisboa, Roteiros Republicanos
Autor: Maria Calado (coord.)
Editora: QuidNovi Local de publicação: Matosinhos Ano de publicação: 2010
BIOGRAFIA DO AUTOR
Maria Calado (Portugal,1948) é licenciada em História pela Universidade de Lisboa, tem
pós-graduação em Museologia (Diploma de Conservador de Museus e Palácios) e doutoramento em
Arquitetura, na Universidade Técnica de Lisboa.
Integra o “Grupo de Investigação FORMA URBIS Lab.” da FAUTL e é investigadora do
Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Realiza investigação nos domínios da
arquitetura e urbanismo, museologia, história e património cultural. Colaborou em obras
distinguidas com prémios nacionais e internacionais, entre os quais se destaca o Prémio José de
Figueiredo 2008, conferido pela Academia Nacional de Belas Artes e o Prémio Internacional Inácio
de Lecea 2007/2008, conferido pelo Public Art and Urban Design Observatory da Universitat de
Barcelona.
(http://www.ces.uc.pt/investigadores/index.phpaction=bio&id_investigador=681&id_lingua=1)
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INTRODUÇÃO
Este relatório de leitura foi realizado no âmbito da disciplina de Cultura Portuguesa,
lecionada pelo Professor Doutor Pedro Clementino Vilas Boas Tavares. Uma vez que um dos
principais objetos de estudo desta disciplina é a I República, analisei o roteiro de Lisboa da coleção
“Roteiros Republicanos”, promovida pela Comissão Nacional para as Comemorações do
Centenário da República, no âmbito do Programa das Comemorações do Centenário da República.
A coordenadora Maria calado contou, na elaboração dos textos, com a participação de Ana M.
Homem de Melo, Eunice Relvas, Helena G. Pinto, João Oliveira, Manuela Rego e Michel
Toussaint.
O compêndio em questão teve como principal objetivo suscitar novos olhares sobre a cidade
lisboeta, aprofundar conhecimentos e enaltecer a importância da I República. O roteiro pretende
fazer uma leitura de Lisboa, tendo como base temas relacionados com a cidade no tempo da
República, dando também a conhecer ideias republicanas ainda nos últimos anos da monarquia.
Este roteiro temático é composto por 10 grandes temas que abordam pontos como a história
social e política – educação e cidadania, cultura e civismo, a imprensa republicana e figuras
relevantes; e a história cultural e urbana – arquitetura, saúde pública, proteção social, desporto, lazer
e turismo, toponímia. Faz ainda parte da história cultural e urbana um percurso evocativo: desde
edifícios públicos, espaços urbanos, espaços culturais, educativos e associativos, espaços de lazer,
monumentos, até simples lugares de reunião, tertúlia e residência.
O presente documento contempla, após esta pequena introdução, uma epítome dos
conteúdos apresentados neste roteiro republicano, assim como, no final, é apresentada uma
conclusão com uma componente crítica.
CONTEÚDO
I – Lisboa Liberal e Republicana
Neste capítulo faz-se a caracterização da Lisboa Liberal e Republicana apresentando os
acontecimentos, sob a forma de cronologia. Pode considerar-se uma introdução aos temas seguintes.
São datadas inovações culturais e acontecimentos políticos, tendo como ponto de partida 1870, com
a fundação do jornal A República, por Antero de Quental e Oliveira Martins e, no mesmo ano, a
inauguração do monumento a D. Pedro IV, pela sua luta pelo liberalismo contra o absolutismo, já
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com muitas conotações republicanas.
Todos os acontecimentos apresentados neste capítulo têm a sua importância para a História
e, por esse motivo, apresenta-se abaixo a cronologia presente na obra.
Cronologia
1870 – Lançamento do jornal A República / Inauguração do monumento a D. Pedro IV no Rossio
1873 – Fundação do Centro Republicano Federal de Lisboa
1875 – Criação do Partido Operário Socialista / Fundação da Sociedade de Geografia de Lisboa
1876 – Criação do Partido Republicano
1880 – Comemorações do 3º centenário da morte de Camões / Inauguração do Teatro Luís de
Camões na Ajuda
1883 – Primeiras bibliotecas municipais de Lisboa / Criação a Sociedade Voz do operário
1889 – Caminho de ferro entre Belém e Cascais / Primeiras vilas operárias na Graça
1890 – Manifestos contra o Ultimato Inglês / Alfredo Keil compõe A Portuguesa / Jornal O Mundo
1892 – Academia e Instrução Popular de Campo de Ourique
1902 – Sociedade dos Arquitetos Portuguesa
1903 – Luz elétrica no Chiado
1905 – Escola Oficina nº1: sob inspiração maçónica (republicana e anarquista)
1907 – Academia das ciências
1908 – Regicídio / Primeira vereação republicana
1910 – Vitória eleitoral dos republicanos a 28 de julho / Plano definitivo para a revolução para a
madrugada de 4 de outubro / Revolução republicana (3-5 outubro) / Proclamação da República nos
Paços do Concelho (5 outubro) / Decretos sobre encerramentos dos conventos e expulsão dos
jesuítas
1911 – Constituição da República / Legislação republicana/ Universidade de Lisboa/ Instituto
Superior Técnico / Museu Nacional de Arte Contemporânea
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1912 – Assaltos aos jornais monárquicos / Eleições da constituinte e inauguração dos trabalhos na
assembleia / Eleições do Presidente da República e do Senado / I Governo Constitucional da
República / Dia 10 de junho passa a ser feriado municipal / Participação nos Jogos Olímpicos de
Estocolmo / Universidade Livre para a Educação Popular
1914 – A imprensa anuncia o início da Guerra
1915 - “Ditadura” de Pimenta de Castro / Revolução contra a ditadura de Pimenta de Castro,
chefiada por Alfredo Sá Cardoso, que levou a anos de fome com o aumento do preço do pão /
Alfredo Sá Cardoso refunda a República.
1916 - Alemanha declara guerra a Portugal / Comício de apoio à participação de Portugal na
Guerra / Revolta encabeçada por Machado Santos
1917 – Partida do primeiro contingente militar para a frente de Batalha em França / Junta
revolucionária presidida por Sidónio Pais
1918 – Tentativa de revolta contra Sidónio Pais / Proclamação de Sidónio Pais como Presidente da
República / Sidónio Pais assassinado na estação do Rossio
1919 – Revolta monárquica de Monsanto / Greves e tumultos
1921 – Revolta militar na capital / Conflitos armados e atentados / Junta Revolucionária impõe um
governo de “salvação publica” / Machado Santos, fundador da República, António Granjo e Carlos
da Maia são assassinados
1922 – Agitação social / Greves/ Parque Mayer
1923 – 1925 – Instabilidade social, crise económica, conflitos políticos
1926 – Comício contra o fascismo organizado pela Seara Nova / Golpe militar comandado pelo
general Gomes da Costa e dissolução do Congresso da República
II – Educação e cidadania
Relativamente à educação, os republicanos associavam-na à formação do “novo homem” e
ao exercício da cidadania. Uma vez que os republicanos eram maioritariamente positivistas,
defendiam que o ensino devia ser primado pela ciência e pelo laicismo na instrução, pois seria
assim que se construiria um “novo homem”, o homem republicano e, consequentemente uma
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sociedade mais justa. Na reforma republicana da instrução primária podia ler-se “O homem vale,
sobretudo, pela educação que possui”. Mas não só a instrução oficial foi um dos grandes focos dos
republicanos, como também a educação popular. A laicização da educação concretizou-se através da
proibição da doutrina religiosa nas escolas. Foi ainda durante a Monarquia que os republicanos
tomaram a iniciativa de criar escolas primárias não só para crianças, como para adultos, nos centros
republicanos existentes na capital.
Quando os republicanos assumiram o poder, encontraram uma taxa de analfabetismo na
ordem dos 75%, estando acima da maioria dos países europeus. Todavia, em Lisboa a taxa de
analfabetismo pouco superava os 30%.
A instrução primária oficial era gratuita e passou de 3 para 5 anos (3 anos obrigatórios e dois
anos facultativos) aos que se seguiam mais 3 anos primários superiores também optativos. Em 1919
os cinco primeiros anos passaram a ser obrigatórios. Mais tarde esta política revelou-se pouco
viável, pois o trabalho infantil predominava nas primeiras décadas do século XX. Durante a I
República notou-se um avanço no número de escolas e de alunos, aumentando também o número
médio de professores por escola. No entanto, considerava-se que as escolas não tinham condições.
Quanto ao número de adultos lisboetas analfabetos, no final da I República anotou-se uma
baixa na ordem dos 3%, resultado que ficou aquém das expectativas.
Foi o desejo da descentralização que levou à criação do Pelouro da Instrução na câmara
Municipal de Lisboa, permitindo o desenvolvimento da política educativa do Município.
Em outubro de 1910 havia em Lisboa três liceus centrais e o primeiro liceu feminino de
Portugal, o Liceu Maria Pia, todos reservados apenas a jovens da média e alta burguesia urbanas.
No final da I República, o número de liceus aumentou para cinco. O ensino feminino viu
progressos, o papel da mulher na sociedade foi mais valorizado e o número de alunas no ensino
superior subiu. A 22 de Março de 1911, fundou-se a Universidade de Lisboa, com as suas diversas
faculdades, institutos e escolas superiores.
Relativamente à Educação Popular, fundou-se a Universidade Livre para a Educação
Popular, em 1912, e a Universidade Popular Portuguesa, em 1919, com o objetivo de promover a
educação geral dos cidadãos, apostando na sua valorização e diminuição da sua distância às elites
intelectuais.
A introdução da primeira Biblioteca Popular Municipal, em Abril de 1981, deveu-se ao
político republicano Elias Garcia. Durante a I República existiram 4 bibliotecas municipais e 13
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públicas (mais 3 do que em 1910), para além das existentes em faculdades, liceus e escolas técnicas.
Algumas destas bibliotecas funcionaram em edifícios escolares.
Também os museus eram considerados espaços de cultura e um meio de instrução. Existiam
17 museus em 1910 e 19 no fim da I República. Um dos museus inaugurados na I República foi o
Museu da Revolução, assaltado por monárquicos num movimento revolucionário monárquico. Este
museu tinha por objetivo a preservação da memória da revolução do 5 de outubro.
III – Cultura e participação cívica
Durante a I República faziam-se festas que assinalavam determinados acontecimentos ou
homenageavam personalidades. Estas festas, do ponto de vista republicano, tinham uma função
cívica e, sendo assim, a participação popular era muito importante. Ainda no regime monárquico foi
instituída uma festa escolar. Com a implantação do novo regime efetuaram-se festas, sem datas
precisas, mas, a partir de 1916, iniciou-se a sua progressiva decadência.
O Dia da Bandeira Nacional foi a primeira grande festa feita em Lisboa após a implantação
da República, no feriado de 1 de Dezembro de 1910. As bandas tocavam os hinos “A Portuguesa”,
“Restauração” e “Maria da Fonte”, dando-se vivas ao governo, ao regime e à pátria.
O decreto de 12 de outubro de 1910 estipulou que os municípios deveriam escolher o seu
feriado municipal e estipulou feriados nacionais: 1 de janeiro (consagrado À fraternidade universal),
31 de janeiro (dedicado aos mártires da República), 5 de outubro (dedicado aos heróis da
República.), 1 de Dezembro (dedicado à autonomia e bandeira) e 25 de Dezembro (dedicado à
família). A 12 de Maio de 1912 acrescentou-se um novo feriado: dia 3 de maio (data do aniversario
da descoberta do Brasil). A Câmara de Lisboa estipulou o feriado de Lisboa o dia 10 de Junho,
homenageando Camões. Posteriormente, quando este foi consagrado feriado nacional, o dia do
município foi alterado para 13 de maio (nascimento de Marquês de Pombal) e, mais tarde, a
vereação propôs como feriado municipal o dia de Santo António, a 13 de junho. Comemoravam-se
assim, as Festas dos Santos Populares.
Os festejos oficiais tiveram sempre sede em Lisboa. Exaltavam-se nestas comemorações o
patriotismo nacional, os seus heróis e os acontecimentos vitoriosos da República, como na
comemoração do Primeiro Aniversário da República ou o dia da assinatura do Armistício.
A República preocupava-se com a evocação da sua exemplaridade e a consagração e adesão
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aos novos valores laicos e republicanos, bem como em criar um sentimento coletivo. Procurava
ainda substituir alguns cultos ligados à religião (como as procissões).
Perante a necessidade de convívio social e cultural, começaram a surgir clubes, academias,
associações e bandas, dedicados ao recreio e ocupação dos tempo livres. Estes grupos
desempenharam, para além de uma função recreativa, um papel importante na cultura e educação
cívica daqueles que os incorporavam.
Já na monarquia, muitas das bandas eram republicanas. A banda civil mais emblemática
desta época era a da Associação Musical 24 de Agosto, fundada em 19 de outubro de 1885, perante
a necessidade de existência de uma banda que tocasse os hinos revolucionários com entusiasmo. A
banda supracitada ficou conhecida como Banda da República e, claramente, era odiada pelos
monárquicos.
Nos diversos bairros da capital, estas estruturas associativas eram verdadeiras redes de
cultura e locais de participação cívica, desempenhando um papel civilizador cultural.
Do ponto de vista cultural do país, Lisboa ocupava uma posição de destaque.
IV – Saúde pública e proteção social
Após a implantação da República, seguiram-se progressos na medicina, começando pela
delineação de um novo sistema de assistência pública. No que diz respeito a este assunto,
discutiam-se as questões mais urgentes acerca da reforma dos Hospitais Civis de Lisboa. O grande
objetivo era a adoção de ações preventivas no combate a epidemias e outras doenças, as quais foram
um tormento para a sociedade portuguesa, posto que levou ao falecimento de pessoas de todas as
classes sociais. Foi, então, criada uma rede de sanatórios e hospitais especializados no combate
tuberculose, dos quais o Sanatório Marítimo do Outão, inaugurado em 1900, e o Sanatório de
Sant'Ana, com o financiamento do Estado e de privados, que também financiavam a construção de
equipamentos de saúde. Pelo país foram surgindo também centros para férias balneares,
direcionados a curas helioterápicas, hidroterápicas e crenoterápicas.
A medicina moderna passou a instalar-se nos consultórios médicos particulares dos centros
urbanos, promovidos pela imprensa e, com o novo regime político, foi entregue à Direção-Geral de
Saúde a responsabilidade de fiscalizar os hospitais, sanatórios, maternidades, dispensários...
Havia eficácia no apoio maternal de crianças e mães. Reduzir a mortalidade infantil foi um
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![Page 8: roteiro republicano de lisboa (relatório de leitura)](https://reader036.fdocumentos.tips/reader036/viewer/2022081803/55cf990a550346d0339b3316/html5/thumbnails/8.jpg)
dos grandes objetivos da nova política social. Os estabelecimentos de assistência eram distribuídos
por asilos, institutos, internatos e tutorias que acolhiam crianças, as quais educavam e tratavam,
proporcionando-lhes ensino escolar básico e oficinas de formação para várias industrias (no caso
dos rapazes) e preparação doméstica e treino para tarefas de criada-de-servir (no caso das
raparigas).
Um outro objetivo era o combate à pobreza, bem saliente nesta época. Queria-se realmente
encontrar soluções e, para tal, foram fundadas instituições que doavam alimento (as chamadas
Cozinhas Económicas). Sem embargo, a iniciativa viveu sempre com muitas dificuldades
financeiras, agravadas com a I Guerra Mundial. O que permitiu a sobrevivência destas instituições
foi o trabalho de voluntários e dos mecenas. Destaca-se, entre todas as obras de solidariedade, a
ação do jornal O Século, que publicava nas suas páginas os casos de miséria da população,
conseguindo angariar fundos (também com a ajuda das paroquias e juntas de freguesia) para criar e
financiar novas iniciativas de distribuição de alimento. É igualmente de pôr em relevo a Santa Casa
da Misericórdia de Lisboa, com as suas inúmeras obras de beneficência.
Quanto à higiene, dificultada pela dificuldade em aceder aos balneários públicos,
desenvolveram-se-se práticas gradualmente regulamentadas.
Entretanto o intenso debate em torno da reforma hospitalar ganhava maior expressão,
levando à aceitação de propostas para melhorar estes estabelecimentos, de modo a se elaborar uma
estratégia para a sua renovação e modernização. Apesar deste começo, nos hospitais somente se iam
realizando pequenos melhoramentos.
V– Lisboa e a Arquitetura no Tempo da I República
Lisboa mantinha-se ainda muito semelhante ao que era no final do século XVIII. Tentava
pôr-se em prática um Plano Geral de Melhoramento da cidade, que só foi posto em marcha nos anos
30, com Duarte Pacheco, em plena Ditadura. Os caminhos de ferro já estavam implantados. Devido
ao elevado número de conventos abandonados pelos religiosos (em virtude da nacionalização dos
bens da Igreja Católica a partir de 1834) e aos palácios abandonados (aquando do empobrecimento
das cortes), poucos tinham sido os edifícios públicos que foram construídos de raiz, pois desde
escolas, a industrias, hospitais, instituições públicas até ao Parlamento, se fixaram nestas estruturas
que ficaram ao abandono. No entanto, como o número de habitantes aumentava, foram-se
substituindo edifícios e a fisionomia da capital ia-se alterando.
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Foi, em 1879, elaborado um plano para a Avenida da Liberdade, visando a criação um
espaço extenso para os citadinos, essencialmente ocupado por espécies vegetais, no entanto o
parque só viria a ser completado já na I República. Registam-se vários jardins espalhados pela
cidade antiga. Outras ideias mais ou menos grandiosas foram surgindo, porém o maior problema de
Lisboa era o da habitação dos menos privilegiados.
Como se tem apresentado, Lisboa era “presenteada” com muitos problemas sociais, aos
quais se acrescentava a falta de alojamento e a consequente concentração da população, uma vez
que o aumento da população era uma realidade. Vivia-se com grandes dificuldades económicas.
Para uma perceção mais real, temos os seguintes números: em 1890 a população era constituída por
cerca de 301.000 indivíduos e em 1925 já alcançava os 530.000.
Em Lisboa, a I República apenas conseguiu iniciar dois bairros sociais: Bairro Social da
Ajuda (1937) e o Bairro do Arco do Cego, este último terminado sob o Estado Novo (ocorrência
que serviu de propaganda para denegrir a I República). Havia o objetivo de melhorar os Bairros,
mas a falta de verbas não o permitia. Em contraste, nas Avenidas Novas construíam-se palacetes e
prédios de luxo para famílias abastadas. Um arquiteto que projetou várias habitações para as
Avenidas Novas foi Ventura Terra, um dos mais destacados arquitetos do seu tempo. Raul Lino é
outra personalidade que merece destaque nesta área, pois, apesar de só ter sido reconhecido como
arquiteto em 1926, projetou casas para as Avenidas Novas, bem como a casa de António Sérgio, em
1904 – este é um acontecimento curioso, uma vez que Raul Lino tinha simpatia pelo regime
monárquico e António Sérgio foi um grande republicano.
No campo da educação a cidade acolheu os três primeiros edifícios para liceus que se
construiram no país, fruto das reformas de Jaime Moniz e Eduardo José Coelho. O liceu Camões,
por exemplo, inaugurado em 1909, serviu como referência para os liceus que viriam a ser
construidos no Porto. Por sua vez, Ventura Terra iniciou o projeto de um liceu feminino. Se nas
escolas primárias não há nada a assinalar, no ensino pré-escolar destacam-se duas projeções de Raul
Lino: o museu e a escola João de Deus. Cabe ainda lembrar os pequenos edifícios de apoio à mãe e
à criança, já referidos. Também no ensino superior pouco se fez, pois as escolas superiores e a
Universidade de Lisboa instalaram-se a edifícios pré-existentes.
Quanto a hospitais, alguns foram feitos de raiz (Júlio de Matos), outros acolheram-se em
conventos abandonados.
No que concerne à cultura, na I República construiram-se pelo menos 3 teatros, edifícios
dedicados ao cinema e museus (estes em edifícios já existentes). Como a divulgação do ato de ir ao
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![Page 10: roteiro republicano de lisboa (relatório de leitura)](https://reader036.fdocumentos.tips/reader036/viewer/2022081803/55cf990a550346d0339b3316/html5/thumbnails/10.jpg)
cinema foi rápida, em 1924 inaugurou-se o Tivoli.
No referente às industrias, motores da modernidade da transição do século XX para o XXI, a
maioria localizava-se em conventos, enquanto que outras desenvolveram projetos cuidadosos para
obterem edifícios mais adequados.
Relativamente ao comércio e serviços, também foram motores da modernidade. Em Lisboa,
a Baixa Pombalina, o Chiado e o Bairro Alto foram deixando de ser residenciais à medida que
empresas e escritórios, redações de jornais e tipografias lá se instalavam. Alguns Bancos acabaram
por mudar as suas sedes para a Baixa. Assim, a Baixa e o Chiado eram enriquecidos com novas
lojas, cafés, pastelarias...
A evolução da cidade permitiu o aumento do número de arquitetos, assim como conduziu
ao turismo e ao consequente aumento de hotéis. Posto isto, pode afirmar-se que os arquitetos se
afirmaram como grupo profissional na I República e que, em articulação com outros profissionais,
foram contribuindo para o desenvolvimento da Lisboa republicana.
VI– Desporto, Lazer e Turismo
Uma outra crença dos republicanos era a do desporto como essencial na formação do
cidadão português. Por este motivo, a educação física foi implementada nas escolas primárias,
liceus, escola militar e colégios privados e, em 1923, chegaram mesmo realizar, em Lisboa, as
Festas Nacionais de Educação Física.
O Desporto ocupava os tempos livres e já não era reservado às elites sociais, mas a toda a
população. Os desportos mais frequentes da época eram o automobilismo, desportos náuticos,
esgrima, hipismo, ginástica, natação, tiro, ciclismo e, claro, o futebol. O automobilismo era um dos
desportos reservados às elites, tal como o era o ténis. Também os desportos náuticos eram populares
entre as classes privilegiadas, do mesmo modo que os torneios de esgrima e o hipismo. Um
desporto muito popular e democrático era o ciclismo, pois era de baixo investimento. Ainda na
monarquia tinha-se organizado o primeiro campeonato de futebol e em 1910 esta era uma
modalidade muito apreciada. Em 1926 o número de clubes de futebol rondava os 75 só na capital.
No final da República o futebol já tinha muitíssimos adeptos, tendo um lugar de destaque
comparativamente a outras modalidades.
É de destacar o atleta amador Francisco Lázaro que integrou os jogos Olímpicos de
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Estocolmo em 1912, representando a nação portuguesa. Portugal foi uma segunda vez representado,
durante a I República, em 1920, na Antuérpia. Dado que os Jogos Olímpicos constituíam uma
referência e eram ansiados, chegou-se mesmo a fazer anualmente em Lisboa, a partir de 1910, os
Jogos Olímpicos Nacionais.
A legislação nacional sobre o horário de trabalho, com determinação de um dia de descanso
semanal, aprovada em 1911, criou condições para novas formas de lazer, levando à prática de
desporto.
A imprensa desportiva da capital teve um papel significativo a nível da informação
disponibilizada da organização de eventos.
O entretenimento fora de casa desenvolveu-se a partir da implantação do regime
republicano, no entanto sociedade endinheirada preferia o divertimento doméstico: recitavam,
jogavam jogos de tabuleiro, tocavam piano, ou ouviam discos. Para a diversão fora de casa existiam
teatros – como o de S.Carlos e o D. Maria – onde se ouviam óperas, se representavam dramas,
comédias e revistas. Outro espetáculo eram as corridas de touros, na Praça de Touros do Campo
Pequeno e surgiram, após a implantação do novo regime, a novidade dos parques de diversão, como
o Paraíso de Lisboa ou o Parque Mayer. A partir da I Guerra emergiu a diversão noturna: os night-
clubs. Graças ao investimento em jardins, estes constituíam também um lugar de divertimento, onde
tocavam bandas aos domingos e nos quais se faziam piqueniques. E não se podia deixar de citar o
Jardim Zoológico de Lisboa e as praias da capital. Faziam-se também feiras tradicionais, o Carnaval
e os festejos dos Santos Populares, entre outras iniciativas.
O divertimento, aliado aos factos arquitetónicos já citados, permitiam que o turismo se
organizasse como atividade, devendo sublinhar-se a importância que a Sociedade de Propaganda de
Portugal teve no desenvolvimento do setor. Deste modo, funcionavam na capital roteiros e guias
turísticos que permitiam aos visitantes orientarem-se. O Guia de Portugal, coordenado por Raul
Proença, englobava um capitulo dedicado a Lisboa, e tornou-se uma referencia, abordando aspetos
geográficos, históricos e culturais.
VII – A Imprensa Republicana
A imprensa teve uma ação de mérito na propaganda dos ideais republicanos. Destes jornais, os mais
antigos foram publicados em 1842 na capital, entre os quais: A Alvorada, A Fraternidade, O
Regenerador: jornal do povo; A República: jornal do povo; O Republicano; e O Século: jornal
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philosophico e litterario. Tinham um discurso que tinha por objetivo denegrir a imagem monárquica
“A rainha de Portugal [D. Maria II] é uma mulher estúpida e sanguinária.”; “Queremos a
Republica, porque só ela nos pode salvar” - afirmações escritas no número 1 do jornal O
Republicano. Passaram-se depois vários anos sem nenhuma edição de periódicos republicanos, até
que, em 1869, João Bonança publica a folha semanal A República Federal, com a colaboração de
Guilherme Braga e Alves Veiga. O O Republicano: folha do povo data-se do mesmo ano. Um dos
artigos deste último, intitulava-se “A República” e tinha o seguinte excerto, que passo a citar do
roteiro “A República não é anarquia, não é a confusão e a desordem, como dizem os monarquistas.;
A República […] é a consagração do direito máximo; é o Páctolo da instrução universal” […] “é o
grito de morte contra todos os feudismos”.
Em 1870, surgem mais três títulos: A Alvorada; A Luz do Povo; e A República: jornal da
democracia portuguesa, dirigido por Antero de Quental e Oliveira Martins e editado por José
Fontana e com a colaboração de Eça, Batalha Reis e António Enes. Continuava-se a valorizar o
povo e a república, com o intuito de que os cidadãos se apercebessem das injustiças da monarquia e
da importância da mudança de regime, pois “A República é a verdadeira luz do povo; porque a
República é a grande lei do progresso social; é a liberdade; é a fraternidade; é a salvação pública”
- editorial número 1 de A Luz do Povo.
Muitos eram os diários e jornais intitulados de “A República”. Merece aqui ser destacado o
fundado e dirigido por António José Almeida, em 1911. No seu cabeçalho podia ler-se “Depois do
pão, a educação é a primeira necessidade do povo”.
A 4 de Janeiro de 1881 surge O Século, cujos fundadores foram Sebastião Magalhães Lima,
Leão de Oliveira, Anselmo Xavier e Trigueiros de Martel e cujo administrador foi José Joaquim da
Silva Graça. Este jornal torna-se em pouco tempo o mais lido do país. Inicialmente, foi um jornal
com orientação radical, revolucionária, com o apoio de Teófilo Braga, Augusto Rocha, Alexandre
da Conceição, Emídio de Oliveira, Trigueiros de Martel, Barbosa de Magalhães e Sampaio Bruno,
Teixeira Bastos e Gomes Leal. A direção deste jornal será assumida por diferentes personalidades
ao longo do tempo.
Em todos os jornais republicanos, oferecia-se uma enorme quantidade de informação sobre
o movimento republicano, desde reuniões partidárias e comícios, até artigos e notícias sobre a vida
e política portuguesas, propaganda, etc. Havia um grande número de artigos sobre instrução, direito
de voto das mulheres, divórcio, laicidade do Estado, etc.
Após o fracasso da Revolta do Porto, o Partido Republicano é constantemente perseguido, o
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que levou à redução da quantidade de textos republicanos publicados pela imprensa. No entanto,
alguns jornalistas continuam a combater a monarquia: Alves Correia, Magalhães Lima, Alves de
Veiga e João Chagas. Alves Correia e Magalhães Lima criam A Vanguarda. Magalhães Lima funda
ainda O País, em 1895. A Marselhesa é uma outra publicação, desta vez criada por João Chagas,
sendo apreendido pelos seus títulos alusivos a uma revolução. A Lanterna e A Pátria foram outros
periódicos criados por Chagas, no entanto são também impedidos de circular. Quatro dias após a
apreensão dos referidos jornais, França Borges cria um dos com maior projeção e influência: O
Mundo, que apoia o Partido Democrático de Afonso Costa.
Com a ditadura de Franco, os republicanos tomam posições mais radicais e as publicações
dos jornais tornam-se mais violentas. Em 1907 surge a “lei contra a imprensa” levando ao aumento
dos jornalistas e jornais suspensos. Em alguns jornais, como no Vanguarda e no O País, publicam-
se textos que revelam a insatisfação perante esta nova lei e alguns chegam mesmo a apelar a que se
faça a Revolução para a Implantação da República.
A 1 de fevereiro de 1908 dá-se o regicídio, ocorrido na Praça do Comércio, do qual resultou
a morte do Rei D. Carlos e do seu filho e herdeiro, o Príncipe Real D. Luís Filipe, marcando o fim
da última tentativa séria de reforma da Monarquia Constitucional. Assim que chega o 5 de outubro
de 1910, O Século faz várias edições noticiando o assassinato de Miguel Bombarda e anunciando a
“Revolução em Lisboa”. Na imprensa lêem-se vivas à república, à pátria, à liberdade.
Após a implantação deste novo regime, surgem, ainda no mesmo ano, novos títulos: O
Intransigente, A Pátria Livre, A República Portuguesa e ainda A Revolta e A Capital e, como estes,
muitos mais. Muitos são os jornais fundados e muitos são os que terminam.
É importante referir também que, tanto antes como após a implantação do novo regime,
existiam jornais académicos de matriz republicana. Também foram sendo lançadas revistas e
publicavam-se almanaques.
Neste tema de propaganda, não se poderia deixar de citar os jornais de Rafael Bordalo
Pinheiro, que influenciaram também a propaganda republicana pelo modo como a Monarquia era
caricaturada. É de referir que foi ele o autor da representação popular Zé Povinho, que
posteriormente se veio a tornar no símbolo do povo português.
Concluindo este tema, entre 1948 e 1926 publicaram-se em Lisboa cerca de 236 jornais.
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VIII – Toponímia da I República
Ao longo de todos os tempos, lavrar uma inscrição numa placa constituiu o reflexo da
história, considerada, no momento, digna de ser perpetuada. Nesse âmbito, a partir da segunda
metade do século XIX, a toponímia foi alvo predileto dessas intenções. A implantação da República
pediu, pois, a rejeição do passado e a exaltação dos novos heróis e das novas datas simbólicas – que
até hoje perduram na toponímia urbana por todo o País.
Atualmente podemos ver na capital cerca de duas centenas de topónimos atribuídos durante
os anos da I Republica. Podemos encontrar os seguintes conjuntos temáticos:
Figuras da I república: Avenida de Miguel Bombarda; Avenida do Almirante Reis; Avenida
Elias Garcia; Rua do Presidente Arriaga; Rua de Barros Queirós; Rua de Tomás Cabreira; Rua de
Sebastião Saraiva Lima, etc.
Ruas que evidenciam factos reverenciadores da República: Rua de Artilharia 1; Rua de
Infantaria 16; Praça da Armada; Avenida dos Defensores de Chaves; Largo dos Defensores da
Republica; Rua Da Voz do Operário.
Factos referenciadores de valores associados a figuras relacionadas com a 1ª guerra mundial:
Rua de Edith Cavel; Rua do General Leman; Rua dos Heróis de Quionga; Rua da Enfermeiras da
Grande Guerra; Rua de Carvalho Araújo.
Datas relativas a acontecimentos passados ou recentes: Rua de 1º de Maio; Rua do Cinco de
Abril; Rua 1º de Dezembro
Figuras históricas nacionais: Praça de Afonso de Albuquerque, Rua Bartolomeu Dias, Rua
do Prior do Crato, Rua da Maria da Fonte
Figuras populares e atividades tradicionais de Lisboa; Domingos Tendeiro (comerciante
figura da zona ribeirinha no séc XVIII); Rua das Taipas (por ser assim vulgarmente designada)
Intelectuais e figuras da vida cultural do país e da sua capital (cerca de 60 dos 200
topónimos atribuídos): João Rosa e Augusto Rosa (teatro); Luísa Todi, Marcos Portugal , Maestro
António Taborda, Joaquim Casimiro, Santos Pinto, Guilherme Cossoul, Marques Lésbio (música);
Rodrigues de Freitas, António Pereira Carrilho (economia); Rafael Bordalo Pinheiro; Vieira
Portuense (artes plásticas). Os intelectuais da área das letras, muitos deles com atividade na área
política republicana, têm o seu nome destacado na denominação de jardins: Teófilo Braga, Guerra
Junqueiro, António Nobre, Cesário Verde, Marcelino Mesquita, Fialho de Almeida, França Borges,
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António Feijó, Braamcamp Freire e João Chagas.
Designações geográficas; Avenida dos Estados Unidos da América, Avenida de Berra, Praça
Rio de Janeiro, Praça do Brasil, Rua Ponta Delgada, Rua Ilha do Faial.
Referencia ao desporto: Rua Francisco Lázaro. Como referido anteriormente foi o 1º atleta
português a participar nos Jogos Olímpicos. Durante a sua participação o maratonista morreu e a
emoção que causou na população levou à adoção do seu nome para denominar uma rua da capital.
Como as sugestões eram inúmeras, Loureiro Nunes faz a proposta de que as designações
tenham de atender a certos parâmetros, proposta esta que é aceite. Logo a 6 de Outubro de 1910 L.
Nunes propõe que se enalteça o feito de Implantação da República e, assim, a Avenida Ressano
Garcia passou a chamar-se Avenida da República e a Rua António Maria de Avelar passou a
Avenida 5 de Outubro. A todas as ruas que se dirigiam à família real, às que homenageavam figuras
régias e às de origem religiosa, foram atribuídos topónimos republicanos. A maior parte dos
topónimos tinham importância a nível nacional, embora alguns tivessem também um ligação com a
história da cidade. Porém, na altura do Estado Novo, muitos dos nomes originais foram repostos.
Há topónimos atribuídos e depois retirados, tal como há alguns aprovados e nunca atribuídos.
IX – Figuras referenciais da ação republicana
Ao longo dos anos, muitos foram aqueles que marcaram a história do republicanismo pela sua ação
a favor da causa republicana. Torna-se injusto escolher os nomes a citar, não obstante menciona-se
neste documento alguns deles, cada um com o seu papel, cada um com a sua importância particular,
mas todos com a mesmo propósito: implantar o regime republicano em Portugal.
Abel Botelho; Guerra Junqueiro; Afonso Costa; Alexandre Braga; Alfredo Keil; Ana de
Castro Osório; França Borges; António José de Almeida; Machado Santos; António Sérgio; Correia
Barreto; Adães Bermudes; Sacadura Cabral; Bernardino Machado; Cândido Reis; Gago Coutinho;
Columbano Bordalo Pinheiro; José Fontana; João de Barros; João Chagas; Teófilo de Braga; Afonso
Palla; Carlos da Maia; Elias Garcia; José Relvas; Manuel de Arriaga; Brito Camacho; Miguel
Bombarda; Ventura Terra; Raúl Proença; Magalhães Lima; Sidónio Pais.
X – Percursos evocativos e lugares de memória
No último capítulo no Roteiro Republicano de Lisboa, apresentam-se lugares que remetem
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para os anos em que o nosso país vivia o regime republicano. Edifícios públicos como a Assembleia
da República, o Palácio da Independência, o Quartel de Campo de Ourique e a Estação do Rossio;
espaços urbanos, de que são exemplo Avenida da Liberdade, Bairro Alto, os Campos dos Mártires
da Pátria, o Chiado e Largo de Camões; espaços culturais, educativos e associativos, como a
Biblioteca Municipal de S. Lázaro; o Centro Cultural Dr. Magalhães Lemos, o Centro Escolar
Republicano Almirante Reis e o Museu Arqueológico do Carmo; espaços de sociabilidade e lazer,
como diversos cafés, o Coliseu dos Recreios, o Jardim Zoológico, os teatros e o Parque Mayer;
monumentos evocativos, de que são exemplo os monumentos feitos em memória dos heróis da
pátria (monumentos a Afonso Costa, a França Borges; a Luís de Camões; a Maria da Fonte; a
Marquês de Pombal); como locais de conhecimentos encontram-se academias (Academia das
Ciências de Lisboa; Academia Nacional de Belas Artes...), arquivos (Arquivo Histórico da Marinha;
Arquivo Fotográfico...), bibliotecas ( Biblioteca Municipal Central; Biblioteca Museu da República
e Residência; Biblioteca Nacional de Lisboa...), a casa de António Sérgio, museus, etc; e
encontram-se também espaços de reunião e vivência.
CONCLUSÃO
Os Roteiros Republicanos desta coleção, oferecem ao leitor a possibilidade de conhecer e
valorizar a história de cada parte do país, perpetuando a história da nação. Vão ao encontro do
interesse público, oferecendo uma descrição detalhada dos acontecimentos antes, durante e após a
proclamação da República. O Roteiro de Lisboa é uma obra bastante abrangente, que aborda os
acontecimentos sociais, económicos e políticos que se sucederam nesta época.
Com esta obra foi possível revisitar os valores da história associada aos ideais republicanos,
antes e depois da Revolução de 5 de Outubro de 1910. A imprensa ocupou um lugar crucial desde
os anos antecedentes até aos anos pós implantação do regime republicano, como tão bem se
apresenta na obra em questão.
O princípio republicano ensina-nos que o nascimento não é determinante do cargo, posição
ou direito pessoal que cada um adquire e mantém. Que o mérito, o engenho e o reconhecimento dos
cidadãos, sim, deve determinar a função de cada um no país. Isto contrapõe-se a todas as demais
alternativas de regime, em que o mérito e o prestígio são institucionalmente herdados e não
alcançados por merecimento pessoal. Foi com base neste ideal que os republicanos partiram para a
reforma do ensino, para a criação de liceus e bibliotecas, para a instrução de adultos. A reforma
republicana do ensino superior foi inovadora e interessada no futuro do país. Algumas das
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bibliotecas funcionaram, inclusive, em edifícios escolares, enquadrando-se na conceção republicana
de complementaridade da instrução e da educação cívica, numa visão iluminista.
Do ponto de vista cultural do país, Lisboa ocupava uma posição de destaque. Para a
formação de bons cidadãos é necessário que estes tenham cultura. E foi esta ideia que permitiu que
se inaugurassem espaços de cultura.
O desporto nacional, ainda restrito e confinado à elite, fomentou campanhas de propaganda
ao desporto, tentando promover uma «regeneração» do «novo homem» português, o qual deveria
surgir com a República. E após a subida ao poder, investiu-se também neste campo.
No que respeita à saúde, após a interpretação dos dados apresentados pela Doutora Maria
Calado, temos de relevar o papel das organizações de caráter beneficente e filantrópico, bem como
do Estado. No entanto, é de notar que os efeitos práticos ficaram aquém das propostas apresentadas.
Lisboa afirma-se como nenhuma outra cidade e torna-se o centro da vida política e
económica. Com o decorrer do tempo, a Baixa e o Chiado tornam o centro da vida intelectual e
mundana da cidade. O desenvolvimento da capital, no que respeita ao objetivos aumentar o número
de turistas, reflete um valor importante para os republicanos: o cosmopolitismo e a amizade entre os
povos
Quanto à escolha de topónimos, pretende homenagear preservar a memória da I República
de uma forma eficaz: nas ruas, onde todos os dias passa o Homem.
O Roteiro ajudou-me a ver a cidade de Lisboa de um modo diferente, com um olhar
direcionado para locais que são herdeiros do republicanismo. Fez-me entender como é que que os
valores republicanos foram sendo aplicados na prática, estes valores que, afinal, são ainda bem
atuais.
Esta é uma obra de leitura acessível e está bem organizada. Os temas abordados são de tal
importância que se tornou difícil a seleção de informação para apresentar no presente relatório. Há
riqueza na informação oferecida, que é complementada por imagens, documentos reais e artigos de
jornais regionais. É uma boa leitura para todos os que anseiem por aprofundar os seus
conhecimentos acerca da I República.
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