roteiro republicano de lisboa (relatório de leitura)

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Faculdade de Letras da Universidade do Porto RELATÓRIO DE LEITURA Professor Doutor: Pedro Clementino Vilas Boas Tavares Disciplina: Cultura Portuguesa Contemporânea Aluna: Fabiana de Oliveira e Sousa DADOS DA OBRA Título: Lisboa, Roteiros Republicanos Autor: Maria Calado (coord.) Editora: QuidNovi Local de publicação: Matosinhos Ano de publicação: 2010 BIOGRAFIA DO AUTOR Maria Calado (Portugal,1948) é licenciada em História pela Universidade de Lisboa, tem pós-graduação em Museologia (Diploma de Conservador de Museus e Palácios) e doutoramento em Arquitetura, na Universidade Técnica de Lisboa. Integra o “Grupo de Investigação FORMA URBIS Lab.” da FAUTL e é investigadora do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Realiza investigação nos domínios da arquitetura e urbanismo, museologia, história e património cultural. Colaborou em obras distinguidas com prémios nacionais e internacionais, entre os quais se destaca o Prémio José de Figueiredo 2008, conferido pela Academia Nacional de Belas Artes e o Prémio Internacional Inácio de Lecea 2007/2008, conferido pelo Public Art and Urban Design Observatory da Universitat de Barcelona. (http://www.ces.uc.pt/investigadores/index.phpaction=bio&id_investigador=681&id_lingua=1 ) 1

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Um relatório de leitura do Roteiro Republicano de Lisboa. Pode conter alguns erros ortográficos, mesmo tendo sido feita uma revisão.

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Faculdade de Letras da Universidade do Porto

RELATÓRIO DE LEITURA

Professor Doutor: Pedro Clementino Vilas Boas Tavares

Disciplina: Cultura Portuguesa Contemporânea

Aluna: Fabiana de Oliveira e Sousa

DADOS DA OBRA

Título: Lisboa, Roteiros Republicanos

Autor: Maria Calado (coord.)

Editora: QuidNovi Local de publicação: Matosinhos Ano de publicação: 2010

BIOGRAFIA DO AUTOR

Maria Calado (Portugal,1948) é licenciada em História pela Universidade de Lisboa, tem

pós-graduação em Museologia (Diploma de Conservador de Museus e Palácios) e doutoramento em

Arquitetura, na Universidade Técnica de Lisboa.

Integra o “Grupo de Investigação FORMA URBIS Lab.” da FAUTL e é investigadora do

Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Realiza investigação nos domínios da

arquitetura e urbanismo, museologia, história e património cultural. Colaborou em obras

distinguidas com prémios nacionais e internacionais, entre os quais se destaca o Prémio José de

Figueiredo 2008, conferido pela Academia Nacional de Belas Artes e o Prémio Internacional Inácio

de Lecea 2007/2008, conferido pelo Public Art and Urban Design Observatory da Universitat de

Barcelona.

(http://www.ces.uc.pt/investigadores/index.phpaction=bio&id_investigador=681&id_lingua=1)

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INTRODUÇÃO

Este relatório de leitura foi realizado no âmbito da disciplina de Cultura Portuguesa,

lecionada pelo Professor Doutor Pedro Clementino Vilas Boas Tavares. Uma vez que um dos

principais objetos de estudo desta disciplina é a I República, analisei o roteiro de Lisboa da coleção

“Roteiros Republicanos”, promovida pela Comissão Nacional para as Comemorações do

Centenário da República, no âmbito do Programa das Comemorações do Centenário da República.

A coordenadora Maria calado contou, na elaboração dos textos, com a participação de Ana M.

Homem de Melo, Eunice Relvas, Helena G. Pinto, João Oliveira, Manuela Rego e Michel

Toussaint.

O compêndio em questão teve como principal objetivo suscitar novos olhares sobre a cidade

lisboeta, aprofundar conhecimentos e enaltecer a importância da I República. O roteiro pretende

fazer uma leitura de Lisboa, tendo como base temas relacionados com a cidade no tempo da

República, dando também a conhecer ideias republicanas ainda nos últimos anos da monarquia.

Este roteiro temático é composto por 10 grandes temas que abordam pontos como a história

social e política – educação e cidadania, cultura e civismo, a imprensa republicana e figuras

relevantes; e a história cultural e urbana – arquitetura, saúde pública, proteção social, desporto, lazer

e turismo, toponímia. Faz ainda parte da história cultural e urbana um percurso evocativo: desde

edifícios públicos, espaços urbanos, espaços culturais, educativos e associativos, espaços de lazer,

monumentos, até simples lugares de reunião, tertúlia e residência.

O presente documento contempla, após esta pequena introdução, uma epítome dos

conteúdos apresentados neste roteiro republicano, assim como, no final, é apresentada uma

conclusão com uma componente crítica.

CONTEÚDO

I – Lisboa Liberal e Republicana

Neste capítulo faz-se a caracterização da Lisboa Liberal e Republicana apresentando os

acontecimentos, sob a forma de cronologia. Pode considerar-se uma introdução aos temas seguintes.

São datadas inovações culturais e acontecimentos políticos, tendo como ponto de partida 1870, com

a fundação do jornal A República, por Antero de Quental e Oliveira Martins e, no mesmo ano, a

inauguração do monumento a D. Pedro IV, pela sua luta pelo liberalismo contra o absolutismo, já

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com muitas conotações republicanas.

Todos os acontecimentos apresentados neste capítulo têm a sua importância para a História

e, por esse motivo, apresenta-se abaixo a cronologia presente na obra.

Cronologia

1870 – Lançamento do jornal A República / Inauguração do monumento a D. Pedro IV no Rossio

1873 – Fundação do Centro Republicano Federal de Lisboa

1875 – Criação do Partido Operário Socialista / Fundação da Sociedade de Geografia de Lisboa

1876 – Criação do Partido Republicano

1880 – Comemorações do 3º centenário da morte de Camões / Inauguração do Teatro Luís de

Camões na Ajuda

1883 – Primeiras bibliotecas municipais de Lisboa / Criação a Sociedade Voz do operário

1889 – Caminho de ferro entre Belém e Cascais / Primeiras vilas operárias na Graça

1890 – Manifestos contra o Ultimato Inglês / Alfredo Keil compõe A Portuguesa / Jornal O Mundo

1892 – Academia e Instrução Popular de Campo de Ourique

1902 – Sociedade dos Arquitetos Portuguesa

1903 – Luz elétrica no Chiado

1905 – Escola Oficina nº1: sob inspiração maçónica (republicana e anarquista)

1907 – Academia das ciências

1908 – Regicídio / Primeira vereação republicana

1910 – Vitória eleitoral dos republicanos a 28 de julho / Plano definitivo para a revolução para a

madrugada de 4 de outubro / Revolução republicana (3-5 outubro) / Proclamação da República nos

Paços do Concelho (5 outubro) / Decretos sobre encerramentos dos conventos e expulsão dos

jesuítas

1911 – Constituição da República / Legislação republicana/ Universidade de Lisboa/ Instituto

Superior Técnico / Museu Nacional de Arte Contemporânea

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1912 – Assaltos aos jornais monárquicos / Eleições da constituinte e inauguração dos trabalhos na

assembleia / Eleições do Presidente da República e do Senado / I Governo Constitucional da

República / Dia 10 de junho passa a ser feriado municipal / Participação nos Jogos Olímpicos de

Estocolmo / Universidade Livre para a Educação Popular

1914 – A imprensa anuncia o início da Guerra

1915 - “Ditadura” de Pimenta de Castro / Revolução contra a ditadura de Pimenta de Castro,

chefiada por Alfredo Sá Cardoso, que levou a anos de fome com o aumento do preço do pão /

Alfredo Sá Cardoso refunda a República.

1916 - Alemanha declara guerra a Portugal / Comício de apoio à participação de Portugal na

Guerra / Revolta encabeçada por Machado Santos

1917 – Partida do primeiro contingente militar para a frente de Batalha em França / Junta

revolucionária presidida por Sidónio Pais

1918 – Tentativa de revolta contra Sidónio Pais / Proclamação de Sidónio Pais como Presidente da

República / Sidónio Pais assassinado na estação do Rossio

1919 – Revolta monárquica de Monsanto / Greves e tumultos

1921 – Revolta militar na capital / Conflitos armados e atentados / Junta Revolucionária impõe um

governo de “salvação publica” / Machado Santos, fundador da República, António Granjo e Carlos

da Maia são assassinados

1922 – Agitação social / Greves/ Parque Mayer

1923 – 1925 – Instabilidade social, crise económica, conflitos políticos

1926 – Comício contra o fascismo organizado pela Seara Nova / Golpe militar comandado pelo

general Gomes da Costa e dissolução do Congresso da República

II – Educação e cidadania

Relativamente à educação, os republicanos associavam-na à formação do “novo homem” e

ao exercício da cidadania. Uma vez que os republicanos eram maioritariamente positivistas,

defendiam que o ensino devia ser primado pela ciência e pelo laicismo na instrução, pois seria

assim que se construiria um “novo homem”, o homem republicano e, consequentemente uma

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sociedade mais justa. Na reforma republicana da instrução primária podia ler-se “O homem vale,

sobretudo, pela educação que possui”. Mas não só a instrução oficial foi um dos grandes focos dos

republicanos, como também a educação popular. A laicização da educação concretizou-se através da

proibição da doutrina religiosa nas escolas. Foi ainda durante a Monarquia que os republicanos

tomaram a iniciativa de criar escolas primárias não só para crianças, como para adultos, nos centros

republicanos existentes na capital.

Quando os republicanos assumiram o poder, encontraram uma taxa de analfabetismo na

ordem dos 75%, estando acima da maioria dos países europeus. Todavia, em Lisboa a taxa de

analfabetismo pouco superava os 30%.

A instrução primária oficial era gratuita e passou de 3 para 5 anos (3 anos obrigatórios e dois

anos facultativos) aos que se seguiam mais 3 anos primários superiores também optativos. Em 1919

os cinco primeiros anos passaram a ser obrigatórios. Mais tarde esta política revelou-se pouco

viável, pois o trabalho infantil predominava nas primeiras décadas do século XX. Durante a I

República notou-se um avanço no número de escolas e de alunos, aumentando também o número

médio de professores por escola. No entanto, considerava-se que as escolas não tinham condições.

Quanto ao número de adultos lisboetas analfabetos, no final da I República anotou-se uma

baixa na ordem dos 3%, resultado que ficou aquém das expectativas.

Foi o desejo da descentralização que levou à criação do Pelouro da Instrução na câmara

Municipal de Lisboa, permitindo o desenvolvimento da política educativa do Município.

Em outubro de 1910 havia em Lisboa três liceus centrais e o primeiro liceu feminino de

Portugal, o Liceu Maria Pia, todos reservados apenas a jovens da média e alta burguesia urbanas.

No final da I República, o número de liceus aumentou para cinco. O ensino feminino viu

progressos, o papel da mulher na sociedade foi mais valorizado e o número de alunas no ensino

superior subiu. A 22 de Março de 1911, fundou-se a Universidade de Lisboa, com as suas diversas

faculdades, institutos e escolas superiores.

Relativamente à Educação Popular, fundou-se a Universidade Livre para a Educação

Popular, em 1912, e a Universidade Popular Portuguesa, em 1919, com o objetivo de promover a

educação geral dos cidadãos, apostando na sua valorização e diminuição da sua distância às elites

intelectuais.

A introdução da primeira Biblioteca Popular Municipal, em Abril de 1981, deveu-se ao

político republicano Elias Garcia. Durante a I República existiram 4 bibliotecas municipais e 13

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públicas (mais 3 do que em 1910), para além das existentes em faculdades, liceus e escolas técnicas.

Algumas destas bibliotecas funcionaram em edifícios escolares.

Também os museus eram considerados espaços de cultura e um meio de instrução. Existiam

17 museus em 1910 e 19 no fim da I República. Um dos museus inaugurados na I República foi o

Museu da Revolução, assaltado por monárquicos num movimento revolucionário monárquico. Este

museu tinha por objetivo a preservação da memória da revolução do 5 de outubro.

III – Cultura e participação cívica

Durante a I República faziam-se festas que assinalavam determinados acontecimentos ou

homenageavam personalidades. Estas festas, do ponto de vista republicano, tinham uma função

cívica e, sendo assim, a participação popular era muito importante. Ainda no regime monárquico foi

instituída uma festa escolar. Com a implantação do novo regime efetuaram-se festas, sem datas

precisas, mas, a partir de 1916, iniciou-se a sua progressiva decadência.

O Dia da Bandeira Nacional foi a primeira grande festa feita em Lisboa após a implantação

da República, no feriado de 1 de Dezembro de 1910. As bandas tocavam os hinos “A Portuguesa”,

“Restauração” e “Maria da Fonte”, dando-se vivas ao governo, ao regime e à pátria.

O decreto de 12 de outubro de 1910 estipulou que os municípios deveriam escolher o seu

feriado municipal e estipulou feriados nacionais: 1 de janeiro (consagrado À fraternidade universal),

31 de janeiro (dedicado aos mártires da República), 5 de outubro (dedicado aos heróis da

República.), 1 de Dezembro (dedicado à autonomia e bandeira) e 25 de Dezembro (dedicado à

família). A 12 de Maio de 1912 acrescentou-se um novo feriado: dia 3 de maio (data do aniversario

da descoberta do Brasil). A Câmara de Lisboa estipulou o feriado de Lisboa o dia 10 de Junho,

homenageando Camões. Posteriormente, quando este foi consagrado feriado nacional, o dia do

município foi alterado para 13 de maio (nascimento de Marquês de Pombal) e, mais tarde, a

vereação propôs como feriado municipal o dia de Santo António, a 13 de junho. Comemoravam-se

assim, as Festas dos Santos Populares.

Os festejos oficiais tiveram sempre sede em Lisboa. Exaltavam-se nestas comemorações o

patriotismo nacional, os seus heróis e os acontecimentos vitoriosos da República, como na

comemoração do Primeiro Aniversário da República ou o dia da assinatura do Armistício.

A República preocupava-se com a evocação da sua exemplaridade e a consagração e adesão

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aos novos valores laicos e republicanos, bem como em criar um sentimento coletivo. Procurava

ainda substituir alguns cultos ligados à religião (como as procissões).

Perante a necessidade de convívio social e cultural, começaram a surgir clubes, academias,

associações e bandas, dedicados ao recreio e ocupação dos tempo livres. Estes grupos

desempenharam, para além de uma função recreativa, um papel importante na cultura e educação

cívica daqueles que os incorporavam.

Já na monarquia, muitas das bandas eram republicanas. A banda civil mais emblemática

desta época era a da Associação Musical 24 de Agosto, fundada em 19 de outubro de 1885, perante

a necessidade de existência de uma banda que tocasse os hinos revolucionários com entusiasmo. A

banda supracitada ficou conhecida como Banda da República e, claramente, era odiada pelos

monárquicos.

Nos diversos bairros da capital, estas estruturas associativas eram verdadeiras redes de

cultura e locais de participação cívica, desempenhando um papel civilizador cultural.

Do ponto de vista cultural do país, Lisboa ocupava uma posição de destaque.

IV – Saúde pública e proteção social

Após a implantação da República, seguiram-se progressos na medicina, começando pela

delineação de um novo sistema de assistência pública. No que diz respeito a este assunto,

discutiam-se as questões mais urgentes acerca da reforma dos Hospitais Civis de Lisboa. O grande

objetivo era a adoção de ações preventivas no combate a epidemias e outras doenças, as quais foram

um tormento para a sociedade portuguesa, posto que levou ao falecimento de pessoas de todas as

classes sociais. Foi, então, criada uma rede de sanatórios e hospitais especializados no combate

tuberculose, dos quais o Sanatório Marítimo do Outão, inaugurado em 1900, e o Sanatório de

Sant'Ana, com o financiamento do Estado e de privados, que também financiavam a construção de

equipamentos de saúde. Pelo país foram surgindo também centros para férias balneares,

direcionados a curas helioterápicas, hidroterápicas e crenoterápicas.

A medicina moderna passou a instalar-se nos consultórios médicos particulares dos centros

urbanos, promovidos pela imprensa e, com o novo regime político, foi entregue à Direção-Geral de

Saúde a responsabilidade de fiscalizar os hospitais, sanatórios, maternidades, dispensários...

Havia eficácia no apoio maternal de crianças e mães. Reduzir a mortalidade infantil foi um

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dos grandes objetivos da nova política social. Os estabelecimentos de assistência eram distribuídos

por asilos, institutos, internatos e tutorias que acolhiam crianças, as quais educavam e tratavam,

proporcionando-lhes ensino escolar básico e oficinas de formação para várias industrias (no caso

dos rapazes) e preparação doméstica e treino para tarefas de criada-de-servir (no caso das

raparigas).

Um outro objetivo era o combate à pobreza, bem saliente nesta época. Queria-se realmente

encontrar soluções e, para tal, foram fundadas instituições que doavam alimento (as chamadas

Cozinhas Económicas). Sem embargo, a iniciativa viveu sempre com muitas dificuldades

financeiras, agravadas com a I Guerra Mundial. O que permitiu a sobrevivência destas instituições

foi o trabalho de voluntários e dos mecenas. Destaca-se, entre todas as obras de solidariedade, a

ação do jornal O Século, que publicava nas suas páginas os casos de miséria da população,

conseguindo angariar fundos (também com a ajuda das paroquias e juntas de freguesia) para criar e

financiar novas iniciativas de distribuição de alimento. É igualmente de pôr em relevo a Santa Casa

da Misericórdia de Lisboa, com as suas inúmeras obras de beneficência.

Quanto à higiene, dificultada pela dificuldade em aceder aos balneários públicos,

desenvolveram-se-se práticas gradualmente regulamentadas.

Entretanto o intenso debate em torno da reforma hospitalar ganhava maior expressão,

levando à aceitação de propostas para melhorar estes estabelecimentos, de modo a se elaborar uma

estratégia para a sua renovação e modernização. Apesar deste começo, nos hospitais somente se iam

realizando pequenos melhoramentos.

V– Lisboa e a Arquitetura no Tempo da I República

Lisboa mantinha-se ainda muito semelhante ao que era no final do século XVIII. Tentava

pôr-se em prática um Plano Geral de Melhoramento da cidade, que só foi posto em marcha nos anos

30, com Duarte Pacheco, em plena Ditadura. Os caminhos de ferro já estavam implantados. Devido

ao elevado número de conventos abandonados pelos religiosos (em virtude da nacionalização dos

bens da Igreja Católica a partir de 1834) e aos palácios abandonados (aquando do empobrecimento

das cortes), poucos tinham sido os edifícios públicos que foram construídos de raiz, pois desde

escolas, a industrias, hospitais, instituições públicas até ao Parlamento, se fixaram nestas estruturas

que ficaram ao abandono. No entanto, como o número de habitantes aumentava, foram-se

substituindo edifícios e a fisionomia da capital ia-se alterando.

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Foi, em 1879, elaborado um plano para a Avenida da Liberdade, visando a criação um

espaço extenso para os citadinos, essencialmente ocupado por espécies vegetais, no entanto o

parque só viria a ser completado já na I República. Registam-se vários jardins espalhados pela

cidade antiga. Outras ideias mais ou menos grandiosas foram surgindo, porém o maior problema de

Lisboa era o da habitação dos menos privilegiados.

Como se tem apresentado, Lisboa era “presenteada” com muitos problemas sociais, aos

quais se acrescentava a falta de alojamento e a consequente concentração da população, uma vez

que o aumento da população era uma realidade. Vivia-se com grandes dificuldades económicas.

Para uma perceção mais real, temos os seguintes números: em 1890 a população era constituída por

cerca de 301.000 indivíduos e em 1925 já alcançava os 530.000.

Em Lisboa, a I República apenas conseguiu iniciar dois bairros sociais: Bairro Social da

Ajuda (1937) e o Bairro do Arco do Cego, este último terminado sob o Estado Novo (ocorrência

que serviu de propaganda para denegrir a I República). Havia o objetivo de melhorar os Bairros,

mas a falta de verbas não o permitia. Em contraste, nas Avenidas Novas construíam-se palacetes e

prédios de luxo para famílias abastadas. Um arquiteto que projetou várias habitações para as

Avenidas Novas foi Ventura Terra, um dos mais destacados arquitetos do seu tempo. Raul Lino é

outra personalidade que merece destaque nesta área, pois, apesar de só ter sido reconhecido como

arquiteto em 1926, projetou casas para as Avenidas Novas, bem como a casa de António Sérgio, em

1904 – este é um acontecimento curioso, uma vez que Raul Lino tinha simpatia pelo regime

monárquico e António Sérgio foi um grande republicano.

No campo da educação a cidade acolheu os três primeiros edifícios para liceus que se

construiram no país, fruto das reformas de Jaime Moniz e Eduardo José Coelho. O liceu Camões,

por exemplo, inaugurado em 1909, serviu como referência para os liceus que viriam a ser

construidos no Porto. Por sua vez, Ventura Terra iniciou o projeto de um liceu feminino. Se nas

escolas primárias não há nada a assinalar, no ensino pré-escolar destacam-se duas projeções de Raul

Lino: o museu e a escola João de Deus. Cabe ainda lembrar os pequenos edifícios de apoio à mãe e

à criança, já referidos. Também no ensino superior pouco se fez, pois as escolas superiores e a

Universidade de Lisboa instalaram-se a edifícios pré-existentes.

Quanto a hospitais, alguns foram feitos de raiz (Júlio de Matos), outros acolheram-se em

conventos abandonados.

No que concerne à cultura, na I República construiram-se pelo menos 3 teatros, edifícios

dedicados ao cinema e museus (estes em edifícios já existentes). Como a divulgação do ato de ir ao

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cinema foi rápida, em 1924 inaugurou-se o Tivoli.

No referente às industrias, motores da modernidade da transição do século XX para o XXI, a

maioria localizava-se em conventos, enquanto que outras desenvolveram projetos cuidadosos para

obterem edifícios mais adequados.

Relativamente ao comércio e serviços, também foram motores da modernidade. Em Lisboa,

a Baixa Pombalina, o Chiado e o Bairro Alto foram deixando de ser residenciais à medida que

empresas e escritórios, redações de jornais e tipografias lá se instalavam. Alguns Bancos acabaram

por mudar as suas sedes para a Baixa. Assim, a Baixa e o Chiado eram enriquecidos com novas

lojas, cafés, pastelarias...

A evolução da cidade permitiu o aumento do número de arquitetos, assim como conduziu

ao turismo e ao consequente aumento de hotéis. Posto isto, pode afirmar-se que os arquitetos se

afirmaram como grupo profissional na I República e que, em articulação com outros profissionais,

foram contribuindo para o desenvolvimento da Lisboa republicana.

VI– Desporto, Lazer e Turismo

Uma outra crença dos republicanos era a do desporto como essencial na formação do

cidadão português. Por este motivo, a educação física foi implementada nas escolas primárias,

liceus, escola militar e colégios privados e, em 1923, chegaram mesmo realizar, em Lisboa, as

Festas Nacionais de Educação Física.

O Desporto ocupava os tempos livres e já não era reservado às elites sociais, mas a toda a

população. Os desportos mais frequentes da época eram o automobilismo, desportos náuticos,

esgrima, hipismo, ginástica, natação, tiro, ciclismo e, claro, o futebol. O automobilismo era um dos

desportos reservados às elites, tal como o era o ténis. Também os desportos náuticos eram populares

entre as classes privilegiadas, do mesmo modo que os torneios de esgrima e o hipismo. Um

desporto muito popular e democrático era o ciclismo, pois era de baixo investimento. Ainda na

monarquia tinha-se organizado o primeiro campeonato de futebol e em 1910 esta era uma

modalidade muito apreciada. Em 1926 o número de clubes de futebol rondava os 75 só na capital.

No final da República o futebol já tinha muitíssimos adeptos, tendo um lugar de destaque

comparativamente a outras modalidades.

É de destacar o atleta amador Francisco Lázaro que integrou os jogos Olímpicos de

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Estocolmo em 1912, representando a nação portuguesa. Portugal foi uma segunda vez representado,

durante a I República, em 1920, na Antuérpia. Dado que os Jogos Olímpicos constituíam uma

referência e eram ansiados, chegou-se mesmo a fazer anualmente em Lisboa, a partir de 1910, os

Jogos Olímpicos Nacionais.

A legislação nacional sobre o horário de trabalho, com determinação de um dia de descanso

semanal, aprovada em 1911, criou condições para novas formas de lazer, levando à prática de

desporto.

A imprensa desportiva da capital teve um papel significativo a nível da informação

disponibilizada da organização de eventos.

O entretenimento fora de casa desenvolveu-se a partir da implantação do regime

republicano, no entanto sociedade endinheirada preferia o divertimento doméstico: recitavam,

jogavam jogos de tabuleiro, tocavam piano, ou ouviam discos. Para a diversão fora de casa existiam

teatros – como o de S.Carlos e o D. Maria – onde se ouviam óperas, se representavam dramas,

comédias e revistas. Outro espetáculo eram as corridas de touros, na Praça de Touros do Campo

Pequeno e surgiram, após a implantação do novo regime, a novidade dos parques de diversão, como

o Paraíso de Lisboa ou o Parque Mayer. A partir da I Guerra emergiu a diversão noturna: os night-

clubs. Graças ao investimento em jardins, estes constituíam também um lugar de divertimento, onde

tocavam bandas aos domingos e nos quais se faziam piqueniques. E não se podia deixar de citar o

Jardim Zoológico de Lisboa e as praias da capital. Faziam-se também feiras tradicionais, o Carnaval

e os festejos dos Santos Populares, entre outras iniciativas.

O divertimento, aliado aos factos arquitetónicos já citados, permitiam que o turismo se

organizasse como atividade, devendo sublinhar-se a importância que a Sociedade de Propaganda de

Portugal teve no desenvolvimento do setor. Deste modo, funcionavam na capital roteiros e guias

turísticos que permitiam aos visitantes orientarem-se. O Guia de Portugal, coordenado por Raul

Proença, englobava um capitulo dedicado a Lisboa, e tornou-se uma referencia, abordando aspetos

geográficos, históricos e culturais.

VII – A Imprensa Republicana

A imprensa teve uma ação de mérito na propaganda dos ideais republicanos. Destes jornais, os mais

antigos foram publicados em 1842 na capital, entre os quais: A Alvorada, A Fraternidade, O

Regenerador: jornal do povo; A República: jornal do povo; O Republicano; e O Século: jornal

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philosophico e litterario. Tinham um discurso que tinha por objetivo denegrir a imagem monárquica

“A rainha de Portugal [D. Maria II] é uma mulher estúpida e sanguinária.”; “Queremos a

Republica, porque só ela nos pode salvar” - afirmações escritas no número 1 do jornal O

Republicano. Passaram-se depois vários anos sem nenhuma edição de periódicos republicanos, até

que, em 1869, João Bonança publica a folha semanal A República Federal, com a colaboração de

Guilherme Braga e Alves Veiga. O O Republicano: folha do povo data-se do mesmo ano. Um dos

artigos deste último, intitulava-se “A República” e tinha o seguinte excerto, que passo a citar do

roteiro “A República não é anarquia, não é a confusão e a desordem, como dizem os monarquistas.;

A República […] é a consagração do direito máximo; é o Páctolo da instrução universal” […] “é o

grito de morte contra todos os feudismos”.

Em 1870, surgem mais três títulos: A Alvorada; A Luz do Povo; e A República: jornal da

democracia portuguesa, dirigido por Antero de Quental e Oliveira Martins e editado por José

Fontana e com a colaboração de Eça, Batalha Reis e António Enes. Continuava-se a valorizar o

povo e a república, com o intuito de que os cidadãos se apercebessem das injustiças da monarquia e

da importância da mudança de regime, pois “A República é a verdadeira luz do povo; porque a

República é a grande lei do progresso social; é a liberdade; é a fraternidade; é a salvação pública”

- editorial número 1 de A Luz do Povo.

Muitos eram os diários e jornais intitulados de “A República”. Merece aqui ser destacado o

fundado e dirigido por António José Almeida, em 1911. No seu cabeçalho podia ler-se “Depois do

pão, a educação é a primeira necessidade do povo”.

A 4 de Janeiro de 1881 surge O Século, cujos fundadores foram Sebastião Magalhães Lima,

Leão de Oliveira, Anselmo Xavier e Trigueiros de Martel e cujo administrador foi José Joaquim da

Silva Graça. Este jornal torna-se em pouco tempo o mais lido do país. Inicialmente, foi um jornal

com orientação radical, revolucionária, com o apoio de Teófilo Braga, Augusto Rocha, Alexandre

da Conceição, Emídio de Oliveira, Trigueiros de Martel, Barbosa de Magalhães e Sampaio Bruno,

Teixeira Bastos e Gomes Leal. A direção deste jornal será assumida por diferentes personalidades

ao longo do tempo.

Em todos os jornais republicanos, oferecia-se uma enorme quantidade de informação sobre

o movimento republicano, desde reuniões partidárias e comícios, até artigos e notícias sobre a vida

e política portuguesas, propaganda, etc. Havia um grande número de artigos sobre instrução, direito

de voto das mulheres, divórcio, laicidade do Estado, etc.

Após o fracasso da Revolta do Porto, o Partido Republicano é constantemente perseguido, o

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que levou à redução da quantidade de textos republicanos publicados pela imprensa. No entanto,

alguns jornalistas continuam a combater a monarquia: Alves Correia, Magalhães Lima, Alves de

Veiga e João Chagas. Alves Correia e Magalhães Lima criam A Vanguarda. Magalhães Lima funda

ainda O País, em 1895. A Marselhesa é uma outra publicação, desta vez criada por João Chagas,

sendo apreendido pelos seus títulos alusivos a uma revolução. A Lanterna e A Pátria foram outros

periódicos criados por Chagas, no entanto são também impedidos de circular. Quatro dias após a

apreensão dos referidos jornais, França Borges cria um dos com maior projeção e influência: O

Mundo, que apoia o Partido Democrático de Afonso Costa.

Com a ditadura de Franco, os republicanos tomam posições mais radicais e as publicações

dos jornais tornam-se mais violentas. Em 1907 surge a “lei contra a imprensa” levando ao aumento

dos jornalistas e jornais suspensos. Em alguns jornais, como no Vanguarda e no O País, publicam-

se textos que revelam a insatisfação perante esta nova lei e alguns chegam mesmo a apelar a que se

faça a Revolução para a Implantação da República.

A 1 de fevereiro de 1908 dá-se o regicídio, ocorrido na Praça do Comércio, do qual resultou

a morte do Rei D. Carlos e do seu filho e herdeiro, o Príncipe Real D. Luís Filipe, marcando o fim

da última tentativa séria de reforma da Monarquia Constitucional. Assim que chega o 5 de outubro

de 1910, O Século faz várias edições noticiando o assassinato de Miguel Bombarda e anunciando a

“Revolução em Lisboa”. Na imprensa lêem-se vivas à república, à pátria, à liberdade.

Após a implantação deste novo regime, surgem, ainda no mesmo ano, novos títulos: O

Intransigente, A Pátria Livre, A República Portuguesa e ainda A Revolta e A Capital e, como estes,

muitos mais. Muitos são os jornais fundados e muitos são os que terminam.

É importante referir também que, tanto antes como após a implantação do novo regime,

existiam jornais académicos de matriz republicana. Também foram sendo lançadas revistas e

publicavam-se almanaques.

Neste tema de propaganda, não se poderia deixar de citar os jornais de Rafael Bordalo

Pinheiro, que influenciaram também a propaganda republicana pelo modo como a Monarquia era

caricaturada. É de referir que foi ele o autor da representação popular Zé Povinho, que

posteriormente se veio a tornar no símbolo do povo português.

Concluindo este tema, entre 1948 e 1926 publicaram-se em Lisboa cerca de 236 jornais.

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VIII – Toponímia da I República

Ao longo de todos os tempos, lavrar uma inscrição numa placa constituiu o reflexo da

história, considerada, no momento, digna de ser perpetuada. Nesse âmbito, a partir da segunda

metade do século XIX, a toponímia foi alvo predileto dessas intenções. A implantação da República

pediu, pois, a rejeição do passado e a exaltação dos novos heróis e das novas datas simbólicas – que

até hoje perduram na toponímia urbana por todo o País.

Atualmente podemos ver na capital cerca de duas centenas de topónimos atribuídos durante

os anos da I Republica. Podemos encontrar os seguintes conjuntos temáticos:

Figuras da I república: Avenida de Miguel Bombarda; Avenida do Almirante Reis; Avenida

Elias Garcia; Rua do Presidente Arriaga; Rua de Barros Queirós; Rua de Tomás Cabreira; Rua de

Sebastião Saraiva Lima, etc.

Ruas que evidenciam factos reverenciadores da República: Rua de Artilharia 1; Rua de

Infantaria 16; Praça da Armada; Avenida dos Defensores de Chaves; Largo dos Defensores da

Republica; Rua Da Voz do Operário.

Factos referenciadores de valores associados a figuras relacionadas com a 1ª guerra mundial:

Rua de Edith Cavel; Rua do General Leman; Rua dos Heróis de Quionga; Rua da Enfermeiras da

Grande Guerra; Rua de Carvalho Araújo.

Datas relativas a acontecimentos passados ou recentes: Rua de 1º de Maio; Rua do Cinco de

Abril; Rua 1º de Dezembro

Figuras históricas nacionais: Praça de Afonso de Albuquerque, Rua Bartolomeu Dias, Rua

do Prior do Crato, Rua da Maria da Fonte

Figuras populares e atividades tradicionais de Lisboa; Domingos Tendeiro (comerciante

figura da zona ribeirinha no séc XVIII); Rua das Taipas (por ser assim vulgarmente designada)

Intelectuais e figuras da vida cultural do país e da sua capital (cerca de 60 dos 200

topónimos atribuídos): João Rosa e Augusto Rosa (teatro); Luísa Todi, Marcos Portugal , Maestro

António Taborda, Joaquim Casimiro, Santos Pinto, Guilherme Cossoul, Marques Lésbio (música);

Rodrigues de Freitas, António Pereira Carrilho (economia); Rafael Bordalo Pinheiro; Vieira

Portuense (artes plásticas). Os intelectuais da área das letras, muitos deles com atividade na área

política republicana, têm o seu nome destacado na denominação de jardins: Teófilo Braga, Guerra

Junqueiro, António Nobre, Cesário Verde, Marcelino Mesquita, Fialho de Almeida, França Borges,

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António Feijó, Braamcamp Freire e João Chagas.

Designações geográficas; Avenida dos Estados Unidos da América, Avenida de Berra, Praça

Rio de Janeiro, Praça do Brasil, Rua Ponta Delgada, Rua Ilha do Faial.

Referencia ao desporto: Rua Francisco Lázaro. Como referido anteriormente foi o 1º atleta

português a participar nos Jogos Olímpicos. Durante a sua participação o maratonista morreu e a

emoção que causou na população levou à adoção do seu nome para denominar uma rua da capital.

Como as sugestões eram inúmeras, Loureiro Nunes faz a proposta de que as designações

tenham de atender a certos parâmetros, proposta esta que é aceite. Logo a 6 de Outubro de 1910 L.

Nunes propõe que se enalteça o feito de Implantação da República e, assim, a Avenida Ressano

Garcia passou a chamar-se Avenida da República e a Rua António Maria de Avelar passou a

Avenida 5 de Outubro. A todas as ruas que se dirigiam à família real, às que homenageavam figuras

régias e às de origem religiosa, foram atribuídos topónimos republicanos. A maior parte dos

topónimos tinham importância a nível nacional, embora alguns tivessem também um ligação com a

história da cidade. Porém, na altura do Estado Novo, muitos dos nomes originais foram repostos.

Há topónimos atribuídos e depois retirados, tal como há alguns aprovados e nunca atribuídos.

IX – Figuras referenciais da ação republicana

Ao longo dos anos, muitos foram aqueles que marcaram a história do republicanismo pela sua ação

a favor da causa republicana. Torna-se injusto escolher os nomes a citar, não obstante menciona-se

neste documento alguns deles, cada um com o seu papel, cada um com a sua importância particular,

mas todos com a mesmo propósito: implantar o regime republicano em Portugal.

Abel Botelho; Guerra Junqueiro; Afonso Costa; Alexandre Braga; Alfredo Keil; Ana de

Castro Osório; França Borges; António José de Almeida; Machado Santos; António Sérgio; Correia

Barreto; Adães Bermudes; Sacadura Cabral; Bernardino Machado; Cândido Reis; Gago Coutinho;

Columbano Bordalo Pinheiro; José Fontana; João de Barros; João Chagas; Teófilo de Braga; Afonso

Palla; Carlos da Maia; Elias Garcia; José Relvas; Manuel de Arriaga; Brito Camacho; Miguel

Bombarda; Ventura Terra; Raúl Proença; Magalhães Lima; Sidónio Pais.

X – Percursos evocativos e lugares de memória

No último capítulo no Roteiro Republicano de Lisboa, apresentam-se lugares que remetem

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para os anos em que o nosso país vivia o regime republicano. Edifícios públicos como a Assembleia

da República, o Palácio da Independência, o Quartel de Campo de Ourique e a Estação do Rossio;

espaços urbanos, de que são exemplo Avenida da Liberdade, Bairro Alto, os Campos dos Mártires

da Pátria, o Chiado e Largo de Camões; espaços culturais, educativos e associativos, como a

Biblioteca Municipal de S. Lázaro; o Centro Cultural Dr. Magalhães Lemos, o Centro Escolar

Republicano Almirante Reis e o Museu Arqueológico do Carmo; espaços de sociabilidade e lazer,

como diversos cafés, o Coliseu dos Recreios, o Jardim Zoológico, os teatros e o Parque Mayer;

monumentos evocativos, de que são exemplo os monumentos feitos em memória dos heróis da

pátria (monumentos a Afonso Costa, a França Borges; a Luís de Camões; a Maria da Fonte; a

Marquês de Pombal); como locais de conhecimentos encontram-se academias (Academia das

Ciências de Lisboa; Academia Nacional de Belas Artes...), arquivos (Arquivo Histórico da Marinha;

Arquivo Fotográfico...), bibliotecas ( Biblioteca Municipal Central; Biblioteca Museu da República

e Residência; Biblioteca Nacional de Lisboa...), a casa de António Sérgio, museus, etc; e

encontram-se também espaços de reunião e vivência.

CONCLUSÃO

Os Roteiros Republicanos desta coleção, oferecem ao leitor a possibilidade de conhecer e

valorizar a história de cada parte do país, perpetuando a história da nação. Vão ao encontro do

interesse público, oferecendo uma descrição detalhada dos acontecimentos antes, durante e após a

proclamação da República. O Roteiro de Lisboa é uma obra bastante abrangente, que aborda os

acontecimentos sociais, económicos e políticos que se sucederam nesta época.

Com esta obra foi possível revisitar os valores da história associada aos ideais republicanos,

antes e depois da Revolução de 5 de Outubro de 1910. A imprensa ocupou um lugar crucial desde

os anos antecedentes até aos anos pós implantação do regime republicano, como tão bem se

apresenta na obra em questão.

O princípio republicano ensina-nos que o nascimento não é determinante do cargo, posição

ou direito pessoal que cada um adquire e mantém. Que o mérito, o engenho e o reconhecimento dos

cidadãos, sim, deve determinar a função de cada um no país. Isto contrapõe-se a todas as demais

alternativas de regime, em que o mérito e o prestígio são institucionalmente herdados e não

alcançados por merecimento pessoal. Foi com base neste ideal que os republicanos partiram para a

reforma do ensino, para a criação de liceus e bibliotecas, para a instrução de adultos. A reforma

republicana do ensino superior foi inovadora e interessada no futuro do país. Algumas das

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bibliotecas funcionaram, inclusive, em edifícios escolares, enquadrando-se na conceção republicana

de complementaridade da instrução e da educação cívica, numa visão iluminista.

Do ponto de vista cultural do país, Lisboa ocupava uma posição de destaque. Para a

formação de bons cidadãos é necessário que estes tenham cultura. E foi esta ideia que permitiu que

se inaugurassem espaços de cultura.

O desporto nacional, ainda restrito e confinado à elite, fomentou campanhas de propaganda

ao desporto, tentando promover uma «regeneração» do «novo homem» português, o qual deveria

surgir com a República. E após a subida ao poder, investiu-se também neste campo.

No que respeita à saúde, após a interpretação dos dados apresentados pela Doutora Maria

Calado, temos de relevar o papel das organizações de caráter beneficente e filantrópico, bem como

do Estado. No entanto, é de notar que os efeitos práticos ficaram aquém das propostas apresentadas.

Lisboa afirma-se como nenhuma outra cidade e torna-se o centro da vida política e

económica. Com o decorrer do tempo, a Baixa e o Chiado tornam o centro da vida intelectual e

mundana da cidade. O desenvolvimento da capital, no que respeita ao objetivos aumentar o número

de turistas, reflete um valor importante para os republicanos: o cosmopolitismo e a amizade entre os

povos

Quanto à escolha de topónimos, pretende homenagear preservar a memória da I República

de uma forma eficaz: nas ruas, onde todos os dias passa o Homem.

O Roteiro ajudou-me a ver a cidade de Lisboa de um modo diferente, com um olhar

direcionado para locais que são herdeiros do republicanismo. Fez-me entender como é que que os

valores republicanos foram sendo aplicados na prática, estes valores que, afinal, são ainda bem

atuais.

Esta é uma obra de leitura acessível e está bem organizada. Os temas abordados são de tal

importância que se tornou difícil a seleção de informação para apresentar no presente relatório. Há

riqueza na informação oferecida, que é complementada por imagens, documentos reais e artigos de

jornais regionais. É uma boa leitura para todos os que anseiem por aprofundar os seus

conhecimentos acerca da I República.

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