ROTEIRO PARA OFICINAS DE RESILIÊNCIA

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[Ano] Edileuza Maria Lima Belmont Mestranda Ierecê Barbosa Monteiro Orientadora

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[Ano]

Edileuza Maria Lima Belmont Mestranda

Ierecê Barbosa Monteiro Orientadora

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Roteiro para Oficinas de Resiliência

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ROTEIRO PARA OFICINAS DE RESILIÊNCIA:

Possibilidades para conhecer e

discutir o sentido, o significado,

os Fatores Constitutivos

da Resiliência, identificar

e promover a

capacidade resiliente em

Professores e Alunos-

Professores no processo

de Formação Continuada em

Ensino de Ciências na Amazônia

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Roteiro para Oficinas de Resiliência

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SUMÁRIO

PREFÁCIO ........................................................................................................................... 7

Oficina n.◦ 1 ......................................................................................................................... 9

Tema ............................................................................................................................... 9

Objetivos ......................................................................................................................... 9

Metodologia e tempo ...................................................................................................... 9

Materiais e recursos ........................................................................................................ 9

Acolhimento ................................................................................................................... 10

Dinâmica 1: Apresentação inicial .................................................................................. 10

Primeiro passo ................................................................................................................ 10

Segundo passo ................................................................................................................ 10

1ª etapa ............................................................................................................................ 10

Primeiro passo: Introdução do tema ............................................................................... 11

Dinâmica 2: Formação dos pequenos grupos ................................................................ 11

Segundo passo: Trabalho em pequenos grupos ............................................................. 11

Terceiro passo: Plenário ................................................................................................. 11

Intervalo (momento livre, coffee break) ......................................................................... 12

2ª etapa ............................................................................................................................ 14

Quarto passo: Apresentação dos conceitos ligados à Resiliência .................................. 14

Quinto passo: Trabalho em pequenos grupos ................................................................ 14

Sexto passo: Plenário....................................................................................................... 16

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Roteiro para Oficinas de Resiliência

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Sétimo passo: Avaliação ................................................................................................. 16

Oficina n.◦ 2 ......................................................................................................................... 17

Tema ............................................................................................................................... 17

Objetivos ......................................................................................................................... 17

Metodologia e tempo ...................................................................................................... 17

Materiais e recursos ........................................................................................................ 17

Acolhimento ................................................................................................................... 18

Dinâmica 1 ...................................................................................................................... 18

Primeiro passo: Introdução do tema ............................................................................... 18

Dinâmica 2 ...................................................................................................................... 18

Segundo passo: Trabalho em pequenos grupos ............................................................. 19

Terceiro passo: Entrega do material para estudo ............................................................ 19

Quarto passo: Trabalho em pequenos grupos ................................................................ 22

Quinto passo: Plenário .................................................................................................... 22

Intervalo: (momento livre, coffee break) ........................................................................ 22

Sexto passo: Organograma conceitual ............................................................................ 22

Sétimo passo: Avaliação.................................................................................................. 23

Considerações Finais ...................................................................................................... 23

Atividades pós-oficinas .................................................................................................. 24

TEXTOS PARA LEITURA E REFLEXÃO ........................................................................ 25

Texto 1: Significados de Resiliência (BELMONT, 2009) ............................................. 25

Texto 2: Resiliência (COELHO, 2005) .......................................................................... 28

Texto 3: Resiliência (VASCONCELOS, 2008) ............................................................. 31

Texto 4: Os conceitos/significados de vulnerabilidade, adversidade e fatores de risco

(BELMONT, 2009) ..............................................................................................................

33

4.1 Vulnerabilidade .............................................................................................. 33

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Roteiro para Oficinas de Resiliência

5

4.2 Adversidade .................................................................................................... 34

4.3 Fatores de risco ............................................................................................... 35

Texto 5: A escola possível (VEJA, 2009) ...................................................................... 37

Texto 6: Mudanças! Quem é o seu autor? (SARAIVA; SOUZA, 2006) ....................... 38

Texto 7: A constituição da Resiliência ........................................................................... 39

Texto 8: Os fatores que constituem a Resiliência .......................................................... 40

Texto 9: O menino que domou o vento .......................................................................... 42

REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 48

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Roteiro para Oficinas de Resiliência

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“A resiliência é um chamado a centrar-se em cada indivíduo como alguém único, a enfatizar

as potencialidades e os recursos pessoais que permitem enfrentar situações adversas e sair

fortalecido, apesar de estar exposto a fatores de risco” (MUNIST, 1998).

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Roteiro para Oficinas de Resiliência

7

PREFÁCIO

O presente roteiro se apresenta como um instrumento para orientar o estudo da

Resiliência em cursos de Formação Continuada para Professores, utilizando a técnica de

oficinas enquanto “espaço de reflexão, desconstrução ou construção da ação profissional a

partir da relação teoria-pesquisa-prática” (GHEDIN, 2005), para a discussão dos significados

e conceitos que envolvem a Resiliência e seus atributos a partir das seguintes interrogações:

O que significa Resiliência?

O que sabemos a respeita da Resiliência?

Quais fatores constituem a Resiliência?

Como trabalhar para desenvolver e fortalecer os fatores de Resiliência?

Que aspectos da Resiliência devem ser fomentados no processo de formação docente

em Ensino de Ciências na Amazônia?

Este roteiro se dirige, em princípio, aos professores e professoras envolvidos com a

prática docente em Ensino de Ciências na Amazônia, porém, esta fronteira é flexível e

passível de expansão à medida que professores e professoras de outras áreas do ensino

sentirem a necessidade desse tipo de intervenção.

As oficinas, utilizando-se de técnicas e dinâmicas sugeridas por Oliveira; Meireles

(2007) e Saraiva; Souza (2006), oferecem oportunidades para que o professor/professora faça

uma avaliação de seu desempenho profissional diante dos desafios e situações adversas de sua

prática docente, procurando reconhecer suas vulnerabilidades e, desta forma, identificar os

fatores de resiliência que precisarão ser fortalecidos como condição de enfrentamento das

situações desfavoráveis do seu dia-a-dia com maior possibilidade de êxito profissional e

pessoal consequentemente.

Portanto, nesta proposta de Oficinas de Resiliência buscamos atender ao princípio da

indissociabilidade teoria-prática, tendo como tema operador nesse processo a Resiliência que

se apresenta como teoria orientadora de uma prática inovadora que pode oferecer aos sujeitos,

professores e professoras em Ensino de Ciências na Amazônia, um conjunto de qualidades

favorável à sua formação pessoal e profissional para viver e vencer, apesar do estresse ou das

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Roteiro para Oficinas de Resiliência

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adversidades que comportam riscos de saídas negativas em seu espaço de atuação

profissional.

Queremos enfatizar que este não é um produto acabado, pois se trata de uma

estrategia de intervenção aberta a contribuições e enriquecimentos à medida que for aplicada e

avaliada, tanto pelos participantes quanto pelos articuladores e facilitadores das oficinas.

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Roteiro para Oficinas de Resiliência

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Oficina n.◦ 1

Tema:

A Resiliência e conceitos afins.

Objetivos:

Conhecer o significado de Resiliência relacionado às Ciências Humanas e Sociais e o

conceito de vulnerabilidade, adversidade e fatores de risco.

Discutir qual a relação da Resiliência, da adversidade e dos fatores de risco com a

atividade docente em Ensino de Ciências na Amazônia.

Identificar as próprias vulnerabilidades que podem implicar na prática docente.

Metodologia e tempo:

1. Acolhimento, 20 minutos.

2. Apresentação do tema, 20

3. Trabalho em pequenos grupos, 20 minutos.

4. Exposição planária, 30

5. Intervalo, 20 minutos.

6. Continuação do tema, 20

7. Trabalho em pequenos grupos, 20

8. Exposição plenária, 30 minutos

9. Avaliação da oficina, 20 minutos

Materiais e recursos:

TV, DVD, vídeo, filmes, micro system, CD, textos, pinceis atômicos, giz de cera,

cartolinas, papel sulfite, cola, revistas, canetas, quadro de giz, fichas de papel cartão com os

nomes dos participantes, fichas com a sequência numérica (repetida) conforme a quantidade

de participantes, fita dupla face, caixinha de papelão, ou de madeira e espaço físico (sala com

mesas e cadeira ou carteiras).

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Roteiro para Oficinas de Resiliência

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Acolhimento:

Momento de acolhida, de aconchego. Abrir um espaço de diálogo em torno do tema

em tela, dos objetivos da oficina e das expectativas dos participantes.

Recebem-se os participantes dando-lhes as boas vindas. O (a) facilitador (a) expõe os

objetivos da oficina, evidenciando as possibilidades de conhecimento que a oficina deseja

construir. Faz-se necessário enfatizar a importância do comprometimento e empenho de todos

os participantes para que o processo alcance êxito. Para facilitar o conhecimento entre os

integrantes e gerar um ambiente de confiança e interação realiza-se a primeira dinâmica.

Dinâmica 1: Apresentação inicial

A dinâmica da apresentação inicial tem como finalidade descontrair e eliminar a

tensão, aproximar e integrar os participantes.

Primeiro passo:

Cada participante é convidado a retirar de uma caixinha uma ficha numerada.

Divide-se o grupão em duplas pela numeração. Ex.: Formam-se duplas com o número 1, com

o número 2 e assim sucessivamente. Cada dupla procura saber o nome de seu parceiro ou sua

parceira e uma característica. A característica será escrita em uma tarjeta de papel cartão. Ao

retornar ao grupão cada um fala o nome e aquela característica marcante de seu parceiro ou

de sua parceira. Ao final todas as tarjetas são entregues ao (à) facilitador (a).

Segundo passo:

Em uma ficha, cada participante escreve, em segredo, a impressão que teve daquele

seu parceiro. Esta ficha deve ser guardada, pois será retomada em outro momento da oficina.

1ª etapa

Nesta primeira etapa conheceremos as várias definições dadas à resiliência por

diferentes autores (as).

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Roteiro para Oficinas de Resiliência

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Primeiro passo: Introdução do tema

A palavra RESILIÊNCIA será colocada em destaque no centro do quadro de giz ou

quadro branco. Inicia-se a atividade de apresentação do tema com a pergunta: O que é

Resiliência?

O (a) facilitador (a) pedirá a participação de todos nesse momento com suas

concepções sobre a resiliência e irá escrevendo no quadro as resposta. Quando todos tiverem

opinado o (a) facilitador (a) convocará o grupão a formar pequenos grupos utilizando a

seguinte dinâmica:

Dinâmica 2: Formação dos pequenos grupos

O (a) facilitador (a) apresenta uma caixa com pétalas de papel dobradas com cores

variadas. Ex.: 5 pétalas azuis, 5 brancas, 5 vermelhas e 5 rosas. Se o grupão for de 20

membros. Cada um pega a cor de sua preferência. Os pequenos grupos, de 5 membros, serão

formados pelas cores das pétalas.

Segundo passo: Trabalho em pequenos grupos

Quando todos estiverem acomodados será entregue a cada grupo o primeiro texto

que é composto de uma relação com várias definições de Resiliência, segundo diferentes

autores (as). (Ver texto 1). A cada grupo será solicitado que leia e escolha aquela definição

que considera de maior significado para a vida pessoa e profissional dos membros do grupo.

Após discussão escolhe-se um relator para explanar as conclusões do grupo no plenário.

Terceiro passo: Plenário

Cada relator (a) expõe ao grupão o conceito escolhido e comenta as razões da

escolha. – Os grupos podem escolher formas diversificadas para apresentar o resultado de

suas reflexões. Ao término de cada exposição o (a) facilitador (a), com a ajuda de todos os

participantes, irá traçando paralelos entre os conceitos comentados e aquelas concepções

iniciais dadas à pergunta feita na introdução do tema: O que é Resiliência?

O (a) facilitador (a) complementa a exposição com uma breve apresentação sobre o

desenvolvimento do estudo do conceito e aplicação da Resiliência nas Ciências Humanas.

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Roteiro para Oficinas de Resiliência

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Para encerrar esta primeira parte da oficina convida-se um participante para ler o texto 2 ou o

texto 3: Resiliência.

Intervalo (momento livre, coffee break)

Este momento pode ser um espaço privilegiado para que o (a) facilitador (a) comece

a observar o comportamento dos participantes, como estratégia avaliativa da ação

interventiva.

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Roteiro para Oficinas de Resiliência

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“Penso que todos temos a semente da resiliência; de como seja regada dependerá seu bom

crescimento”1

____________ 1Palavras de um adolescente de Nova York. In.: Laura J. Hilton, A voz dos jovens, Vol. 5, n◦. 3/1994. Genebra,

Suíça

Foto: Araquém Alcântara

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Roteiro para Oficinas de Resiliência

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2 ª etapa

Apresentação dos conceitos de Vulnerabilidade, Adversidade e Fatores de Risco e

suas relações com o desenvolvimento da Resiliência.

Quarto passo: apresentação dos conceitos ligados à resiliência

O (a) facilitador (a) afixará abaixo da palavra Resiliência os vocábulos

vulnerabilidade, adversidade e fatores de risco, como no diagrama abaixo:

Serão formuladas aos participantes as seguintes perguntas: O que cada um, aqui

presente, imagina quando escuta a palavra vulnerabilidade? Em seguida solicita que cada um

responda sucintamente à pergunta. O (a) facilitador (a) irá escrevendo abaixo do termo

vulnerabilidade as respostas dos participantes. Na continuação, pergunta-se: Levando-se em

conta o contexto da prática docente em Ensino de Ciências, o que vem a ser adversidade? As

respostas serão escritas abaixo da palavra adversidade. Por fim, pergunta-se o que significa

fatores de risco relacionado ao contexto da profissão de professores (as). As respostas a esta

última questão serão registradas abaixo da expressão fatores de risco.

Quinto passo: Trabalho em pequenos grupos

Os conceitos de Vulnerabilidade, Adversidade e Fatores de Risco serão apresentados

aos participantes, em fichas, conforme quadro a seguir. Uma relação com as concepções dos

sujeitos colaboradores da pesquisa que gerou nossa dissertação de mestrado, Professores e

Alunos-Professores do Curso de Mestrado Profissional em Ensino de Ciências na Amazônia,

sobre esses fatores, será entregue aos pequenos grupos para auxiliar o estudo, conforme texto

4 (quatro).

RESILIÊNCIA

VULNERABILIDADE ADVERSIDADE FATORES DE RISCO

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Roteiro para Oficinas de Resiliência

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VULNERABILIDADE ADVERSIDADE FATORES DE RISCO

Vulnerabilidade é a

predisposição a desordem

ou suscetibilidade

psicológica que impede o

indivíduo responder, de

forma satisfatória, quando

submetido à situações de

risco ou eventos estressores

(YUNES; SZYMANSKI,

2002).

Contrariedade ou oposição

à condução normal da vida

ou das atividades

desenvolvidas pelos seres

humanos (INFANTE,

2005).

São fatores que se

relacionam com toda sorte

de eventos negativos de

vida e que, quando

presentes, aumentam a

probabilidade de o

indivíduo apresentar

problemas físicos, sociais

ou emocionais (YUNES;

SZYMANSKI, 2002).

Fonte: Elaborado pela autora.

Outras fichas, conforme formato abaixo, serão entregues aos participantes para que,

tendo como orientação os conceitos de vulnerabilidade, adversidade e fatores de risco,

discutam e relacionem as situações de sua estrutura emocional e prática docente em que esses

conceitos estão concretamente inseridos, observados, constatados. Ex.: Na coluna

vulnerabilidade registra-se uma vulnerabilidade pessoal que dificulta alguns aspectos da ação

docente. Na coluna adversidade registra-se aquela situação adversa que é encontrada no

espaço no ambiente de atuação profissional e que se relaciona com a vulnerabilidade

reconhecida pelo (a) professor (a). Da mesma forma, identifica-se um fator de risco presente

no espaço da prática docente e que se apresenta como um desafio a ser enfrentado e que irá

exigir a superação da vulnerabilidade que o docente considera possuir. E assim, cada membro

dos pequenos grupos dará sua contribuição completando o quadro.

VULNERABILIDADE ADVERSIDADE FATORES DE RISCO

Professor (a) Ambiente de trabalho Ambiente de trabalho

Fonte: Elaborado pela autora.

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Roteiro para Oficinas de Resiliência

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Sexto passo: plenário

Os pequenos grupos serão convidados a formarem novamente o grupão e

socializarem seus resultados. Juntamente com o facilitador retomarão as respostas dadas às

perguntas formuladas no quarto passo para que se proceda a análise comparativa, como

recurso para consolidar o conhecimento sobre os termos em tela.

Ao final desta exposição será distribuído aos participantes o texto 5 (cinco),

intitulado “A escola possível” (VEJA, 2009), que propõe uma reflexão sobre a ação docente

na Amazônia e o quanto de vulnerabilidade, adversidade, fatores de risco estão envolvidos

nesse processo e exigem do professor e da professora um grande esforço de superação e

adaptação positiva, ou seja, do desenvolvimento/promoção dos fatores de resiliência que serão

conhecidos e discutidos na próxima oficina. O texto será lido silenciosamente por cada

participante enquanto se ouve a música “Embalando a rede” (BRAGA, 2005).

Sétimo passo: Avaliação

A avaliação, ao final desta oficina, é muito importante porque permitirá ter um

retorno do trabalho realizado e, desta forma, evitar a repetição de erros e oferecer espaço para

opiniões que não foram dadas durante o desenvolvimento da oficina.

Aspectos a serem avaliados:

1. Os resultados esperados foram alcançados?

2. Os objetivos foram cumpridos?

3. O que mais gostou e o que menos gostou na oficina?

4. Quais as maiores dificuldades durante a oficina?

5. O que concorda ou discorda com relação aos conceitos abordados?

6. O tema e conceitos abordados serviram para ampliar seus conhecimentos?

7. A estrutura oferecida para o desenvolvimento das atividades foi adequada?

8. A exposição dos conteúdos e objetivos foi encaminhada com clareza?

9. O tempo estabelecido para cada atividade foi suficiente?

10. Que proveito esta oficina trouxe para sua vida pessoal e profissional?

11. Outras observações.

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Roteiro para Oficinas de Resiliência

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Oficina n.◦ 2

Tema:

A constituição da Resiliência

Objetivos:

Conhecer a constituição da Resiliência segundo a concepção de diferentes autores.

Refletir sobre os fatores de resiliência: Administração das emoções, Alcançar pessoas,

Otimismo, Análise do ambiente, Empatia, Autoeficácia, Controle dos impulsos e

Humor procurando identificar estas capacidades em sua conduta pessoal e

profissional.

Relacionar os oito fatores de resiliência estudados com as possibilidades de superação

das adversidades e fatores de risco presentes no cotidiano da prática docente em

Ensino de Ciências na Amazônia.

Metodologia e tempo:

1. Acolhimento, 20 minutos.

2. Apresentação do tema, 20

3. Trabalho em pequenos grupos, 30 minutos.

4. Exposição plenária, 30.

5. Intervalo, 30

6. Apresentação do organograma conceitual, 20

7. Considerações finais, 20 minutos

8. Avaliação da oficina, 20 minutos

Materiais e recursos:

TV, DVD, vídeo, filmes, micro system, CD, textos, pinceis atômicos, giz de cera,

cartolinas, papel sulfite, cola, revistas, canetas, quadro de giz, fichas de papel cartão, fita

dupla face, bexigas (balões), caixinha de papelão, ou de madeira e espaço físico (sala com

mesas e cadeira ou carteiras).

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Roteiro para Oficinas de Resiliência

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Acolhimento:

Nesta oficina iremos estudar as concepções de alguns autores sobre a constituição da

Resiliência humana e construir, de acordo com nossas experiências e formação profissional,

um conhecimento novo sobre como orientar nossas ações diárias na prática docente. Para

começar nossa primeira atividade teremos um momento de relaxamento.

Dinâmica 1: Relaxamento: “Mudanças! Quem é o seu autor?”

De posse do texto n.◦ 6 (seis), ao som suave da música “Águas sagradas”

(CAUCHIOLI, 2002), o (a) facilitador (a) inicia a leitura do texto.

Primeiro passo: Introdução do tema “A constituição da Resiliência”

O (a) facilitador (a) retoma, resumidamente, o tema da primeira oficina e apresenta o

que será estudado e discutido na segunda oficina, assim como os objetivos a serem

alcançados.

Dinâmica 2:

Os participantes receberão balões inflados para que sejam estourados. Cada balão

contém um fator de resiliência tirado do quadro “A constituição da Resiliência”, texto 7(sete).

Em seus lugares (no grupão) cada participante estoura seu balão e lê em voz alta o que está

escrito no papel que estava no interior de seu balão.

O (a) facilitador (a) explica que estes são fatores que constituem a resiliência

conforme a concepção de diferentes autores. Neste momento apresenta um quadro, igual ao

elaborado no texto 7 (sete), que pode ser em papel 40 quilos, cartolina ou em data show, se

houver.

Porém, nesta oficina discutiremos apenas oito fatores constitutivos da Resiliência.

Sete deles porque, conforme Barbosa (2006), são de fácil mensuração e o oitavo, o humor, foi

acrescentado em nossa pesquisa no curso de Mestrado Profissional em Ensino de Ciências na

Amazônia após observamos que a maioria dos teóricos/autores/pesquisadores que estudamos

mencionam, habitualmente, entre os fatores que compõem a resiliência o humor, na qualidade

de indicador de resiliência.

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Roteiro para Oficinas de Resiliência

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Segundo passo: Trabalho em pequenos grupos

Os pequenos grupos podem ser mantidos, conforme formação na primeira oficina ou

refeitos, segundo acordo com os participantes.

Terceiro passo: Entrega do material para estudo

Os oito fatores de Resiliência e seus respectivos significados serão distribuídos da

seguinte forma: cada pequeno grupo receberá dois fatores de resiliência com seus respectivos

significados (ver texto 8).

Grupo Azul:

Fatores de Resiliência Significado

Administração das emoções

É a habilidade de se manter calmo sob pressão. Para utilizar

essa habilidade, as pessoas costumam aglutinar um conjunto de

aptidões, conseguindo com isso obter a auto-regulação. Quando

a presença desta capacidade é rudimentar, as pessoas percebem

dificuldades em manter relacionamentos e, com freqüência,

desgastam emocionalmente os que convivem com elas e se

tornam pessoas difíceis no ambiente profissional.

Controle dos impulsos

É compreendido como a habilidade de não agir

impulsivamente. Pessoas que têm um quociente de resiliência

elevado neste fator são propensas a ter um alto quociente de

resiliência em Administração das Emoções. Ambas as

habilidades são vistas como estruturadas a partir de sistemas de

crenças parecidos na pessoa, gerando nelas a conexão entre si.

Fonte: Elaborado pela autora

Grupo Branco:

Fatores de Resiliência Significado

Otimismo

É a habilidade de ter a firme convicção de que a situação irá mudar

para melhor quando envolvida em adversidade e manter a esperança

de um futuro promissor, por se acreditar em ter a capacidade para

gerenciar a adversidade que venha surgir no amanhã. O Otimismo,

quando real e contextualizado, tende a ser uma vantagem quando

relacionado à Autoeficácia, uma vez que provê motivação para a

busca de soluções e recuperação.

Autoeficácia

É a convicção de ser eficaz nas ações. Sinaliza a crença de poder

encontrar soluções para os problemas que por ventura vier a surgir

com a certeza de se sobressair. Fonte: Elaborado pela autora

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Roteiro para Oficinas de Resiliência

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Grupo Vermelho:

Fatores de Resiliência Significado

Análise do ambiente

Descreve a habilidade de identificar precisamente as

causas dos problemas e das adversidades. Quando

incrementamos em nós a capacidade de lermos de maneira

correta o ambiente que nos cerca, com o qual estamos

envolvidos, passamos a entender melhor o processo que

está ao nosso redor e muito maior será nossa condição de

responder bem o que nos está sendo proposto.

Empatia

É a habilidade de ler os estados emocionais e psicológicos

de outras pessoas. Uma habilidade para decodificar a

comunicação não verbal e organizar atitudes a partir dessa

leitura. É a capacidade de compreender os sentimentos e

preocupações, as dificuldades do outro procurando se

colocar no lugar da outra pessoa. Fonte: Elaborado pela autora

Grupo Rosa:

Fatores de Resiliência Significado

Alcançar Pessoas

É a habilidade de se conectar a outras pessoas para viabilizar

soluções para intempéries da vida. Trata-se de não alimentar o

medo de se expor ao fracasso e ao ridículo em público e não

superestimar que as probabilidades de tentativas fracassadas

levam a finais catastróficos.

Humor

Significa a capacidade de expressar em palavras, gestos ou

atitudes corporais os elementos cômicos, incongruentes ou

hilariantes de uma situação, obtendo um efeito tranqüilizador e

prazeroso, facilitando um certo distanciamento do problema e

favorecendo a tomada de decisão para resolvê-lo com respostas

originais e soluções inovadoras mesmo em meio à crise. Fonte: Elaborado pela autora

Page 21: ROTEIRO PARA OFICINAS DE RESILIÊNCIA

Roteiro para Oficinas de Resiliência

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“Olhando as coisas com humor, abrimos espaço para tolerar as dificuldades e calamidades e

lidar com elas” (MILLER, 2006).

Page 22: ROTEIRO PARA OFICINAS DE RESILIÊNCIA

Roteiro para Oficinas de Resiliência

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Quarto passo: Trabalho em pequenos grupos

Os pequenos grupos serão orientados a fazer a leitura dos fatores de resiliência e seus

significados conforme ficha recebida e procurar responder as seguintes perguntas que serão

entregues digitadas em papel A4:

1) Tenho estas características resilientes?

2) Como estes fatores de resiliência são exigidos em minha prática docente?

3) Quais ações podem fortalecer estas minhas qualidades para melhor responder às

solicitações da minha profissão?

O facilitador entregará a cada grupo o texto 9 (nove): “O menino que domou o

vento” (SANTOS, [s/d]) e solicitará que cada grupo analise e procure identificar os fatores de

resiliência, que estudaram e discutiram, na história que o texto apresenta.

As respostas serão escritas pelo relator do grupo e serão entregues ao facilitador da

oficina pós a seção plenária.

Quinto passo: Plenário

De volta ao grupão, cada pequeno grupo apresentará suas respostas. (A forma de

apresentação é espontânea de forma a valorizar a criatividade dos participantes).

Intervalo (momento livre, coffee break)

Enquanto os participantes cumprem o intervalo, o (a) facilitador (a) termina de

montar o quadro que começou a ser elaborado na primeira oficina.

Sexto passo: Organograma Conceitual

Nesse momento o (a) facilitador (a) apresenta o quadro com um organograma dos

conceitos sistematizados apresentados nos textos distribuídos e as contribuições dos

participantes resultantes de suas discussões nos pequenos grupos e no grupão.

Page 23: ROTEIRO PARA OFICINAS DE RESILIÊNCIA

Roteiro para Oficinas de Resiliência

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Sétimo Passo: Avaliação

A avaliação, ao final desta oficina, permitirá ter um retorno do trabalho realizado e

tomar conhecimento das falhas e, também, dar espaço para opiniões que não foram

compartilhadas durante o desenvolvimento da oficina, além de possibilitar a melhoria de

futuros eventos.

Aspectos a serem avaliados:

1. Os resultados esperados foram alcançados?

2. Os objetivos foram cumpridos?

3. O que mais gostou e o que menos gostou na oficina?

4. Quais as maiores dificuldades durante a oficina?

5. O que concorda ou discorda com relação aos conceitos abordados?

6. O tema e conceitos abordados serviram para ampliar seus conhecimentos?

7. A estrutura oferecida para o desenvolvimento das atividades foi adequada?

8. A exposição dos conteúdos e objetivos foi encaminhada com clareza?

9. O tempo estabelecido para cada atividade foi suficiente?

10. Que proveito esta oficina trouxe para sua vida pessoal e profissional?

11. Outras observações.

Considerações finais

A resiliência, tema trabalhado nestas oficinas, foi discutida enquanto possibilidade na

realidade concreta, nos temas e problemas do cotidiano da prática docente. Por meio desta

técnica procuramos conhecer os significados de resiliência e os conceitos de vulnerabilidade,

adversidade e fatores de risco que envolve a necessidade do desenvolvimento e fortalecimento

das características resilientes, redimensionando sua prática em defesa da qualidade e do

respeito ao exercício profissional e da integridade pessoal do (a) professor (a) em Ensino de

Ciências na Amazônia.

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Roteiro para Oficinas de Resiliência

24

Por meio destas oficinas tivemos a possibilidade de conhecer e construir uma nova

forma de ser e estar no mundo mais flexível, com capacidade para identificar os fatores de

risco, reconhecer nossas vulnerabilidades e conviver com as adversidades do ambiente de

trabalho, podendo superá-las e sair fortalecidos a partir da operacionalização da resiliência.

Atividades pós-oficinas

Propõe-se que ao buscar desenvolver ou fortalecer os fatores de resiliência em sua

estrutura pessoal e operacionalizar a resiliência em suas práticas docentes, os professores e

professoras procurem registrar suas vitórias e, também, suas dificuldades e dúvidas e as

enviem aos promotores das Oficinas ou ao Laboratório de Resiliência Vinculado ao Curso de

Mestrado em Educação e Ensino de Ciências na Amazônia – UEA (em fase de estruturação)

ou, ainda, aos centros de estudo da resiliência, como a Sociedade Brasileira de Resiliência –

SOBRARE, por exemplo. Bastando para isso que se associem por meio do site:

www.sobrare.com.br.

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Roteiro para Oficinas de Resiliência

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TEXTOS PARA LEITURA E REFLEXÃO

Texto 1: Significados de Resiliência (BELMONT, 2009)

“É o termo que escolhi para descrever as forças psicológicas e biológicas exigidas para

atravessarmos com sucesso as mudanças em nossas vidas” (FLACH, 1991, p.11).

“Capacidade de proteger sua integridade sob fortes pressões; a capacidade de se

construir, criar uma vida digna de ser vivida a despeito das circunstâncias adversas”

(VANISTENDAEL; LECOMTE, 2000).

“Um conjunto de qualidades que favorecem o processo de adaptação criativa e

transformação a despeito dos riscos e adversidades” (POLETTI; DOBBS, 2007, p.13).

“Capacidade de vencer, viver, desenvolver-se positivamente, de maneira socialmente

aceitável, apesar do estresse ou de uma adversidade que normalmente comportam o

grave risco de uma saída negativa” (VANISTENDAEL; LECOMTE, 2000).

“Uma resposta global em que estão em jogo os mecanismos de proteção, entendendo

por estes não a valência contrária aos fatores de risco, mas aquela dinâmica que

permite ao indivíduo sair fortalecido da adversidade, em cada situação específica,

respeitando as características pessoais” Rutter (apud INFANTE, 2005, p. 25).

“Um processo dinâmico em que as influências do ambiente e do indivíduo interatuam

em uma relação recíproca, que permite à pessoa se adaptar, apesar da adversidade”

(LUTHAR; CICCHETTI; BECKER, 2000).

“Um processo dinâmico que tem como resultado a adaptação positiva em contextos de

grande adversidade” Luthar et al. (apud INFANTE, 2005, p. 26).

“O fenômeno chamado de resiliência é entendido como a capacidade do ser humano

de enfrentar as adversidades da vida, superá-las e ser transformado positivamente por

elas” Munist et al. (apud MELILLO et al., 2005, p. 60).

“Habilidade para sair da adversidade, adaptar-se, recuperar-se e ter acesso a uma vida

significativa e produtiva” (KOTLIARENCO, 1997).

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Roteiro para Oficinas de Resiliência

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“História de adaptações exitosas no indivíduo exposto a fatores biológicos de risco ou

a eventos de vida estressantes; além disso, implica a expectativa de continuar com

baixa suscetibilidade a futuros fatores de estresse” Luthar e Zingler; Masten e

Garmezy; Werner e Smith (apud KOTLIARENCO, 1997).

“Capacidade humana universal de enfrentar as adversidades da vida, superá-las ou até

ser transformado por elas. A resiliência é parte do processo evolutivo e deve ser

promovida desde a infância” Grotberg (apud MELILLO et al., 2005, p. 61).

“A capacidade humana para enfrentar, vencer e ser fortalecido ou transformado por

experiências de adversidade” (GROTBERG, 2005, p. 15).

“A resiliência distingue dois componentes: a resistência diante da destruição – a

capacidade de proteger a própria integridade sob pressão – e, além da resistência, a

capacidade de construir um condutismo vital positivo, apesar das circunstâncias

difíceis” Vanistendael (apud MELILLO et al., 2005, p. 61).

“Capacidade de uma pessoa ou sistema social enfrentar adequadamente as

dificuldades, de forma socialmente aceitável” Vanistendael (apud MELILLO et al.,

2005, p. 61).

“A resiliência caracteriza-se como um conjunto de processos sociais e intrapsíquicos

que possibilita ter uma vida sadia, mesmo vivendo em um meio insano” Rutter (apud

KOTLIARENCO, 1997).

“A resiliência remete a uma combinação de fatores que permitem a uma criança, a um

ser humano enfrentar e superar os problemas e as adversidades da vida” Suárez Ojeda

(apud MELILLO et al., 2005, p. 61).

“Conceito genérico que se refere à ampla gama de fatores de risco e aos resultados de

competência. Pode ser produto de uma conjunção entre os fatores ambientais, o

temperamento e um tipo de habilidade cognitiva que têm as crianças, quando são

muito pequenas” Osborn (apud KOTLIARENCO, 1997).

“Habilidade de superar as adversidades” Werner (apud YUNES; SZYMANSKI, 2002,

p. 19).

“Uma qualidade de resistência e perseverança da pessoa humana face às dificuldades

que encontra” (TAVARES, 2002, p. 44).

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Roteiro para Oficinas de Resiliência

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“Resiliência é o resultado do desenvolvimento de certas capacidades ao nível do

próprio self, da identidade de permanecer e evoluir no fluxo e refluxo livre, dialógico,

dialético e triádico da inter, intra e transpersonalidade” (TAVARES, 2002, p. 57).

“A resiliência é uma capacidade universal que permite ao indivíduo, grupo ou

comunidade, prevenir, minimizar ou ultrapassar as marcas ou efeitos da adversidade”

Grotberg (apud PEREIRA, 2002, p. 86).

“A resiliência traduzir-se-ia, por conseguinte, numa capacidade pessoal para enfrentar

a adversidade, de modo não só a resistir-lhe ou a ultrapassá-la com êxito, mas a extrair

daí uma maior resistência a condições negativas subseqüentes” (PEREIRA, 2002, p.

96).

“Resiliência é aquela área da ciência que trabalha com o estudo, a análise de quanto

uma pessoa tem potencial, tem reservas para superar um trauma, uma adversidade, um

fracasso, um sofrimento ou uma condição desfavorável” (BARBOSA, 2009).

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Roteiro para Oficinas de Resiliência

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Texto 2: Resiliência (COELHO, 2005)

“O problema não é o problema.

O problema é sua atitude com relação ao problema.”

(Kelly Young)

Hoje a tristeza me visitou. Tocou a campainha, subiu as escadas, bateu à porta e

entrou. Não ofereci resistência. Houve um tempo em que eu fazia o impossível para evitá-la

adentrar os meus domínios. E quando isso acontecia, discutíamos demoradamente. Era uma

experiência desgastante. Aprendi que o melhor a fazer é deixá-la seguir seu curso. Agora,

sequer dialogamos. Ela entra, senta-se na sala de estar, sirvo-lhe uma bebida qualquer,

apresento-lhe a televisão e a esqueço! Quando me dou por conta, o recinto está vazio. Ela

partiu, sem arroubos e sem deixar rastros. Cumpriu sua missão sem afetar minha vida.

Hoje a doença também me visitou. Mas esta tem outros métodos. E outros

propósitos. Chegou sem pedir licença, invadindo o ambiente. Instalou-se em minha garganta e

foi ter com minhas amígdalas. A prescrição é sempre a mesma: amoxicilina e paracetamol.

Faço uso destes medicamentos e sinto-me absolutamente prostrado. Acho que é por isso que

os chamam de antibióticos. Porque são contra a vida. Não apenas a vida de bactérias e vírus,

mas toda e qualquer vida...

Hoje problemas do passado também me visitaram. Não vieram pelo telefone porque

palavras pronunciadas ativam as emoções apenas no momento e depois perdem-se difusas,

levadas pela brisa. Vieram pelo correio, impressos em papel e letras de baixa qualidade,

anunciando sua perenidade, sua condição de fantasmas eternos até que sejam exorcizados.

Diante deste quadro, não há como deixar de sentir-se apequenado nestes momentos.

O mundo ao redor parece conspirar contra o bem, a estabilidade e o equilíbrio que tanto se

persegue. O desânimo comparece estampado em ombros arqueados e olhos sem brilho, que

pedem para derramar lágrimas de alívio. Então, choro. E o faço porque Maurice Druon

ensinou-me, através de seu inocente Tistu, que se você não chora, as lágrimas endurecem no

peito e o coração fica duro.

Limão e Limonada

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Roteiro para Oficinas de Resiliência

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As Ciências Humanas estão sempre tomando emprestado das Exatas, termos e

conceitos. A última novidade vem da Física e atende pelo nome de resiliência. Significa

resistência ao choque ou a propriedade pela qual a energia potencial armazenada em um corpo

deformado é devolvida quando cessa a tensão incidente sobre o mesmo.

Em Humanas, a resiliência passou a designar a capacidade de se resistir

flexivelmente à adversidade, utilizando-a para o desenvolvimento pessoal, profissional e

social. Traduzindo isso através de um dito popular, é fazer de cada limão, ou seja, de cada

contrariedade que a vida nos apresenta, uma limonada, saborosa, refrescante e agradável.

Aprendi que não adianta brigar com problemas. É preciso enfrentá-los para não ser

destruído por eles, resolvendo-os. E rapidamente, de maneira certa ou errada. Problemas são

como bebês, só crescem se forem alimentados. Muitos deles resolvem-se por si mesmos. Mas

quando você os soluciona de forma inadequada eles voltam, dão-lhe uma rasteira e, aí sim,

você os anula corretamente. A felicidade, pontuou Michael Jansen, não é a ausência de

problemas. A ausência de problemas é o tédio. A felicidade são grandes problemas bem

administrados.

Aprendi a combater as doenças. As do corpo e as da mente. Percebê-las, identificá-

las, respeitá-las e aniquilá-las. Muitas decorrem não do que nos falta, mas do mal uso que

fazemos do que temos. E a velocidade é tudo neste combate. Agir rápido é a palavra de

ordem. Melhor do que ser preventivo é ser preditivo

Aprendi a aceitar a tristeza. Não o ano todo, mas apenas um dia, à luz dos

ensinamentos de Victor Hugo. O poeta dizia que “tristeza não tem fim, felicidade sim”.

Porém, discordo. Penso que os dois são finitos. E cíclicos. O segredo é contemplar as

pequenas alegrias ao invés de aguardar a grande felicidade. Uma alegria destrói cem

tristezas...

Modismo ou não, tornei-me resiliente. A palavra em si pode cair no ostracismo, mas

terá servido para ilustrar minha atitude cultivada ao longo dos anos diante das dificuldades,

impostas ou auto-impostas, que enfrentei pelo caminho, transformando desânimo em

persistência, descrédito em esperança, obstáculos em oportunidades, tristeza em alegria.

Nós apreciamos o calor porque já sentimos o frio. Apreciamos a luz porque já

estivemos no escuro. Apreciamos a saúde porque já fomos enfermos. Podemos, pois,

experimentar a felicidade porque já conhecemos a tristeza.

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Roteiro para Oficinas de Resiliência

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Olhe para o céu, agora! Se é dia, o sol brilha e aquece. Se é noite, a lua ilumina e

abraça. E assim será novamente amanhã. E assim é feita a vida.

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Roteiro para Oficinas de Resiliência

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Texto 3: Resiliência (VASCONCELOS, 2008)

Há mais de quarenta anos, a ciência tem-se interrogado sobre o fato de que certas

pessoas têm a capacidade de superar as piores situações, enquanto outras ficam presas nas

malhas da infelicidade e da angústia que se abateram sobre elas como numa rede engodada.

Por que certos indivíduos são capazes de se levantar após um grande trauma e outros

permanecem no chamado fundo do poço, incapazes de, mesmo sabendo não ter mais forças

para cavar, subir tomando como apoio as paredes desse poço e continuar seu caminho?

As experiências e estudos feitos têm mostrado algumas explicações científicas sobre

esse fato. A Biologia defende o ponto de vista de que cada ser humano é dotado de um

potencial genético que o faz ser mais resistente que outros. A Psicologia, por sua vez, dá

realce e importância nas relações familiares, sobretudo na infância, que construirá nesse

indivíduo a capacidade de suportar certas crises e de superá-las. A Sociologia vai fazer

referência à influência do entorno, da cultura, das tradições como construtores dessa

capacidade do indivíduo de suplantar as adversidades. A Teologia traz um aporte diferente

pela própria subjetividade transcendente, uma visão outra da condição humana e da

necessidade do sofrimento como fator de evolução espiritual: o célebre “dar a outra face”.

Mas foi o cotidiano das pessoas que passam por traumas, que realmente atravessam o

vale das sombras, o que realmente atraiu a curiosidade de cientistas do mundo inteiro. Não

personagem de ficção que se erguem após a grande queda; são homens, mulheres, crianças,

velhos, o indivíduo comum do mundo que retoma sua vida após a morte de um filho, a perda

de uma parte de seu corpo, a perda do emprego, doenças graves, físicas ou psicológicas, em si

mesmo ou em alguém da família, razões suficientes para levar um indivíduo ao caos. Esses

que são capazes de continuar uma vida de qualidade, sem autopunições, sem resignação

destruidora, que renascem dos escombros, esses são seres resilientes.

A resiliência é um termo oriundo da física. Trata-se da capacidade dos materiais de

resistirem aos choques. Esse termo passou por um deslizamento em direção às ciências

humanas e hoje representa a capacidade de um ser humano de sobreviver a um trauma, a

resistência do indivíduo face às adversidades, não somente guiada por uma resistência física,

mas pela visão positiva de reconstruir sua vida, a despeito de um entorno negativo, do

estresse, das contribuições sociais, que influenciam negativamente para seu retorno à vida.

Assim, um dos fatores de resiliência é a capacidade do indivíduo de garantir sua integridade,

mesmo nos momentos mais críticos etc.

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Roteiro para Oficinas de Resiliência

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Não se é resiliente sozinho, embora a resiliência seja íntima e pessoal. Um dos

fatores de maior importância é o apoio e o acolhimento, feito em geral por um outro

indivíduo, essencial para o salto de qualidade que se dá. Alguns autores nomearam essas

pessoas: Flach chamou de mentor de resiliência; Cyrulnik chamou de tutor de resiliência;

muito antes Bolwby chamou de figura de apego. Denominações a parte, a resiliência ganha

hoje seu espaço na pesquisa em ciências humanas, médicas, sociais, administrativas etc. (grifo

nosso).

Mas não se forma um mentor/tutor/figura de apego. Não se pode dizer que alguém

vai ser a partir de agora esse indivíduo que vai chegar para operar o milagre. A resiliência é,

na verdade, o resultado de intervenções de apoio, de otimismo, de dedicação e amor, idéias e

conceitos que entram sorrateiramente nas ciências como causa e efeito, intervenção e

resultado, hipóteses e tese de que as relações intra e inter-humanas são relações que

ultrapassam o rigor do empirismo para encontrar o acaso.

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Roteiro para Oficinas de Resiliência

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Texto 4. Os conceitos/significados de vulnerabilidade, adversidade e fatores de risco

(BELMONT, 2009).

Abaixo relacionamos as respostas dos sujeitos colaboradores da nossa pesquisa sobre

suas concepções conceituais a respeito de vulnerabilidade, adversidade e fatores de risco,

como segue.

4.1 Vulnerabilidade

“Atitude capaz de levar o indivíduo a ser suscetível em demasia, nas questões problemas do

cotidiano”

“Relação à instabilidade”

“Acredito que seja a condição uma de fragilidade, abertura para se deixar abater por

alguma circunstancia da vida”

“Toda a sorte de atos negativos de vida que poderão contribuir para que os indivíduos

corram o risco de ter ou aumentar problemas físicos, sociais ou emocionais”

“Acredito que vulnerabilidade está relacionada a iminência, está propensa a algo, a

qualquer momento pode ocorrer”

“É quando algo específico consegue me atingir, deixando-me vulnerável, com a sensação de

insegurança, de estar desprotegida”

“Estar passivo ou em situação de risco numa determinada situação-problema”

“No meu entender significa não estar preparada para lidar com uma situação”

“Geralmente se diz quando o indivíduo está mais frágil, mais exposto a determinada situação

ou doença”

“A palavra vulnerabilidade possui a utilização variada do conceito. De forma geral podemos

dizer em relação a um ser humano que seria um estado, ou um processo, desencadeado por

fatores determinados ou indeterminados e que levaria a uma instabilidade ou uma

estabilidade provisória”

“É a possibilidade de sermos atingidos nos aspectos físico, profissional, emocional,

psicológico; enfim, de sermos sensibilizados negativamente de maneira a nos prejudicar ou

magoar”

“É a situação que demonstra a falta de proteção que pode ter uma pessoa ou processo físico,

o que pode levar a uma diminuição das possibilidades de sucesso em qualquer esfera do

conhecimento científico”

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Roteiro para Oficinas de Resiliência

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“É ser fraco, frágil”

4.2 Adversidade

“Posição adversa, ou contrária, a determinadas situações que fogem de um padrão, ou plano

comum”

“Adversidade são as situações que surgem em nosso dia-a-dia sem que estivessem em nossos

planos, podendo nos atingir positiva ou negativamente”

“Situações desagradáveis, infortúnios, etc.”

“Problemas a serem enfrentados”

“Problemas ou dificuldades perante situações”

“Conflitos, dificuldades”

“Situações que fogem ao normal”

“Situações não satisfatórias”

“Dificuldade circunstancial a ser enfrentada”

“Aquilo que se apresenta como contrário ou em oposição ao nosso cotidiano”

“É o encontro com as diferenças de pontos de vista”

“Contrariedade”

“É o conjunto de fatores ou barreiras que a pessoa tem que enfrentar no processo de ensino-

aprendizagem, para conseguir uma assimilação consciente do conteúdo de estudo de

qualquer disciplina em Ciências Naturais, as mesmas podem constituir níveis para alcançar

a superação auto individual ou pessoal”

“Dificuldade na compreensão ou execução de determinado processo teórico e prático”

“Problemas de relacionamento com alunos e colegas de trabalho, falta de estimulo dos

alunos pela matéria, não ter uma metodologia adequada pra ministrar determinada

disciplina”

“Nós temos que ultrapassar o paradigma cartesiano, que para ele o erro era algo negativo,

um caminho a não ser tomado ou perseguido, aprendemos que na vida é inevitável nos

depararmos com adversidade, mas temos que aprender com elas, assim na educação o erro

deve ser tido como mecanismo de advertência, para observar como está o processo de

ensino-aprendizagem. Eu acho algo positivo, algo que devemos aprender a conviver”

“Adversidade é tudo que se constitui em obstáculo para o processo ensino-aprendizagem,

então a maneira como está organizado o ensino de ciências, salário e condições de trabalho

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Roteiro para Oficinas de Resiliência

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do professor, formação do professor, paradigma predominante do ensino de ciências,

acredito que são situações adversas ao que buscamos para o ensino de ciências”

“Relação professor-aluno e entre os próprios pares”

“É o que não dá certo, imprevistos sobre os quais geralmente não se tem controle, por

exemplo; uma programação que não ocorreu como previsto, a impossibilidade (material) de

que uma atividade planejada se realize, o descaso de muitos estudantes em relação aos

próprios estudos, etc. Nossa profissão está cheia de adversidades”

“Para mim é impedimento, uma situação contrária ao que se quer fazer e muitas vezes, as

condições objetivas não permitem. Exemplo: as condições sociais, salas superlotadas, um

currículo com poucas horas para o Ensino de Ciência nos anos iniciais do Ensino

Fundamental”

“Existem problemas que se colocam como adversidades dentro de um determinado processo,

isto pode ocorrer dentro da escola, no trabalho ou ate mesmo em nossa casa. As

adversidades existem na relação sujeito-objeto, ou seja na relação do sujeito com o real a

sua frente e podem ser de cunho epistemológico positivo ou negativo. O real e as relações

sociais produzidas pelos sujeitos são produtor e produto de múltiplas adversidades que

precisam ser abordadas pelos sujeitos. Penso que muitas adversidades são explicitas e outras

são ocultas, simbólicas, porém acredito que devemos tentar refletir, analisar o máximo

possível de adversidades para que ações possam ser tomadas em prol de soluções”

4.3 Fatores de Risco

“São indicadores que delimitam o grau de ameaça que pode ter para o desenvolvimento

positivo do processo de ensino aprendizagem, a tomada de decisões erradas ou a falta de

fornecimentos logísticos”

“Sala de aula inadequada, carência de materiais para o ensino, Professor sem domínio de

conteúdo, baixos salários dos professores”

“Incompetência técnica, cultura enciclopedista, distorção cognitiva etc.”

“Stress, cansaço, cobrança por melhores resultados”

“Formação de professore e materiais de ensino”

“Falta de conhecimento teórico/prático sobre a matéria e falta de domínio em uma

metodologia adequada para garantir os resultados de acordo com objetivos propostos”

“Falta de conhecimento e preparo para o processo de ensino, falta de domínio sobre o

conteúdo, falta de didática”

“Os fatores de risco são a falta de vivacidade e dinâmica que devemos dar para os conteúdos

curriculares, ou seja, pontes entre a teoria e prática; desmotivação; mau sistema de

avaliação; mau planejamento; má metodologia etc.”

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Roteiro para Oficinas de Resiliência

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“Não estar aberto à discussão coletiva. Negar as mudanças no ambiente e sua

responsabilidade pessoal quanto a isso. Estar desatualizado”

“De modo geral creio que sejam as impropriedades da prática pedagógica e o pouco

interesse da maior parte dos estudantes”

“Um professor não estar preparado ou capacitado para exercer essa atividade e utilizar

aulas repetitivas, baseadas só em memorização e desenvolver no aluno uma aversão a

Ciência”

“São fatores ou situações que irão interferir no processo de ensino-aprendizagem. Ex.:

relação professor-aluno, problemas familiares, etc.”

“Bem, a falta de cuidados em manusear material para experimentações, por exemplo,

problemas causados pelo excesso de trabalho, ansiedade etc.”

“Ensino embasado na memorização”

“Aulas que insistem em privilegiar a memorização”

“Podemos dizer que sejam fenômenos físicos ou não, aquilo que pela interação ou não com

outros fatores, pode provocar uma situação ou estado com probabilidade maior de acontecer

dentro do processo de ensino-aprendizagem”

“Essa expressão “fatores de risco” entendo como desafios ao processo ensino-aprendizagem

principalmente relacionado à formação de professores que podem ou não desenvolver

práticas de ensino que realmente contribua para a aprendizagem”

“Pensar que Ciência só se faz dentro de laboratórios equipados. Ter uma visão de Ciência

como algo que só pode ser feito por cientistas. Permitir que os poucos laboratórios e espaços

da escola e fora dela não sejam utilizados para o Ensino de Ciências”

“Dificuldades no aprendizado dos alunos; Ausência de recursos didático-pedagógicos

básicos nas escolas, como laboratórios, livros, material concreto, jogos; Despreparo dos

professores em relação aos conhecimentos da área; Inexistência de uma política nacional de

formação contínua de professores; Inexistência de uma política salarial nacional para os

profissionais da educação”

“Fator de risco, é quando a escola não consegue mobilizar articular e implementar na sua

proposta pedagógica o ensino de valores, atitudes, habilidades e conhecimentos, em ciências

principalmente, pois a aprendizagem de conceitos descontextualizado desmotiva os alunos.

Acredito que os professores também estão expostos a fatores de riscos quando são

desvalorizados, desmotivados e sobrecarregados com problemas de toda ordem, não é a toa

que pesquisas comprovam que muitos professores adoecem por causa do exercício do

magistério”

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Roteiro para Oficinas de Resiliência

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Texto 5: A escola possível (VEJA, 2009).

O H O M E M D A A M A Z Ô N I A

A ESCOLA POSSÍVEL Desde 1989, a professora Yolanda Santiago, de 42 anos, dá aulas em comunidades ribeirinhas do Rio Negro. Atualmente ela trabalha em uma delas, com doze famílias, a cerca de duas horas de barco do município de Novo Airão, no Amazonas. Como só há um professor para dividir com ela a tarefa de ensinar 36 alunos, com idade que varia de 3 a 43 anos e que cursam da pré-escola ao final do ensino fundamental, o jeito é improvisar. Alunos de diferentes turmas – do 1◦ ao 4◦ ano, por exemplo – dividem espaço numa mesma sala. “Procuro separá-los por grupinhos, para não embaralhar a cabeça deles. Mas é complicado trabalhar assim, porque os conteúdos são diferentes”, diz. Outra dificuldade é a energia elétrica, fornecida por um gerador a diesel, que atende a comunidade apenas à noite, das 18 às 22 horas.

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Roteiro para Oficinas de Resiliência

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Texto 6: Mudanças! Quem é o seu autor? (SARAIVA; SOUZA, 2006).

Respire... procure uma posição confortável para permanecer em sintonia com seus

pensamentos. Inicie o processo de respiração colocando suas mãos sobre o abdômen; sinta o

ar inflar seu diafragma e lentamente se esvaziar.

Respire lentamente e sinta seu corpo acalmar-se; vá fechando seus olhos lentamente;

inicie sua viagem pela verdade escutando o som das ondas, da água límpida e clara; comece a

perceber o mundo e as possibilidades que a água pode lhe oferecer.

Você é muito parecido com as ondas que se formam no mar ou na pororoca, às vezes

calmo, às vezes sereno, em momentos seguintes muito agitado, capaz de banhar e lentamente

moldar a natureza. Você, como a água, é capaz de realizar mudanças, às vezes mais rápidas,

de forma suave ou violenta. Você é o autor de transformações, e essas podem se dar em várias

situações.

Respire... pense na pureza. De ser solidário, de compartilhar o crescimento por um

mundo melhor. Pense com otimismo na força que há em você para transformar coisas,

pessoas, lugares, histórias e rotinas; pense na sua responsabilidade com você e com o outro;

com você e com o mundo. Respire e reflita sobre o poder do amor em transformar, ou melhor,

mudar as verdades absolutas por uma verdade social, pense nas mudanças que é capaz de

fazer com a educação; pense no seu compromisso, como as ondas do mar têm que diariamente

banhar as areias da praia com leveza e nobreza nas manhãs e no entardecer.

Pense nessas ondas que possuem humildade suficiente para estar em todos os lugares

do mundo, levando alegria e não escolhendo situação econômica ou social para realizar seu

eterno prazer de amar a terra.

Respire... Pense em você, pense que você se converte em inúmeras possibilidades,

que antes de tudo é necessário fluir algo de dentro para fora, é preciso coragem de ousar para

promover mudanças. E essa iniciou aqui, nesse momento com você. Parabéns! Respire,

porque você é água, é ar, é terra, é vida, é gente, é pessoa criativa e capaz de amar. Eu vou

contar até dez e, ao término, lembre-se de que o ser humano não é perfeito, mas é dotado de

capacidade para continuar fazendo o melhor que puder, transformando problemas em

possibilidades. Vá lentamente retornando ao nosso ambiente de acordo com os números.

Respire. 1... 2... 3... 4... 5... 6... 7... 8... 9... 10.

Page 39: ROTEIRO PARA OFICINAS DE RESILIÊNCIA

Roteiro para Oficinas de Resiliência

39

Texto 7: A constituição da Resiliência

A CONSTITUIÇÃO DA RESILIÊNCIA

ELEMENTOS

FACILITADO-

RES DA

RESILIÊNCIA

ELEMENTOS

DA

RESILIÊNCIA

ATRIBUTOS/

PILARES DA

RESILIÊNCIA

QUALIDADES

DA

RESILIÊNCIA

FATORES

CONSTITUTI-

VOS DA

RESILIÊNCIA

ASPECTOS

DA RESILIÊN-

CIA

Flach (1991)

Vanistendael

(2000)

Suárez Ojeda

apud Melillo

(2005)

Miller (2006)

Reivich; Shatté

apud Barbosa

(2006)

Steven e Wolin

apud Poletti;

Dobbs (2007)

Aceitação

Aceitação

incondicional da

pessoa

Introspecção

Vulnerabilidade

Administração das

emoções

Tomada de

consciência

Sentido de

comunidade

Sentido de vida

Capacidade de se

relacionar

Conexão

Alcançar pessoas

Capacidade de se

relacionar

Respeito

Autocontrole

Iniciativa

Partes

Otimismo

Criatividade

Reconhecimento

Autoestima

Criatividade

Necessidades

Análise do

ambiente

Iniciativa

Garantia de

privacidade

Senso de Humor

Humor

Humor

Empatia

Humor

Tolerância às

mudanças

Moralidade

Limites e

fronteiras

Autoeficácia

Independência

Estruturas

coerentes mais

flexíveis

Autoestima

Perdão

Controle dos

impulsos

Ética

Limites de

comportamento

definidos

Independência

Dons e talentos

Comunicação

aberta

Persistência

Receptividade a

novas ideias

Sofrimento

Tolerância aos

conflitos

Sentido de vida

Busca de

reconciliação

Interdependência

Humor

Valores humanos

construtivos

Empatia

Esperança

Fonte: Elaborado pela autora

Faz-se necessário levar em conta a advertência de Osborne em seu artigo

“Resiliência e estratégias de intervenção” citada por Rodriguez (2005) que nunca será

possível detalhar numa lista todos os fatores que aumentam a possibilidade de ser resiliente,

porque dependerá sempre do risco, da adversidade ou do fator de vulnerabilidade particular.

Page 40: ROTEIRO PARA OFICINAS DE RESILIÊNCIA

Roteiro para Oficinas de Resiliência

40

Texto 8: Os fatores que constituem a resiliência

Sustentados na abordagem Cognitiva, Reivich; Shatté (apud BARBOSA, 2006, p.

45), reconheceram que a resiliência é constituída por sete fatores, que são: Administração das

Emoções, Controle dos Impulsos, Empatia, Otimismo, Análise do Ambiente, Autoeficácia e

Alcançar Pessoas, que foram selecionados por serem concretos, possíveis de serem

mensurados, ensinados e melhorados.

O Humor é um fator de resiliência que tem sua importância defendida por Flach

(1991), Vanistendael (2000), Suarez Ojeda (2005), Rodriguez (2005), Miller (2006) e Poletti;

Dobbs (2007). Por isso consideramos relevante seu estudo em nossa pesquisa.

1) A Administração das Emoções é descrita como a habilidade de se manter calmo sob

pressão. Para utilizar essa habilidade, as pessoas costumam aglutinar um conjunto de

aptidões, conseguindo com isso obter a autoregulação. Quando a presença desta

capacidade é rudimentar, as pessoas percebem dificuldades em manter

relacionamentos e, com freqüência, desgastam emocionalmente os que convivem com

elas e se tornam pessoas difíceis no ambiente profissional.

2) O Controle dos Impulsos é compreendido como a habilidade de não agir

impulsivamente. Pessoas que têm um quociente de resiliência elevado neste fator são

propensas a ter um alto quociente de resiliência em Administração das Emoções.

Ambas as habilidades são vistas como estruturadas a partir de sistemas de crenças

parecidos na pessoa, gerando nelas a conexão entre si.

3) O Otimismo é a habilidade de ter a firme convicção de que a situação irá mudar para

melhor quando envolvida em adversidade e manter a esperança de um futuro

promissor, por se acreditar em ter a capacidade para gerenciar a adversidade que

venha surgir no amanhã. O Otimismo, quando real e contextualizado, tende a ser uma

vantagem quando relacionado à Autoeficácia, uma vez que provê motivação para a

busca de soluções e recuperação.

4) A Análise do Ambiente descreve a habilidade de identificar precisamente as causas dos

problemas e das adversidades. Quando incrementamos em nós a capacidade de lermos

de maneira correta o ambiente que nos cerca, com o qual estamos envolvidos

passamos a entender melhor o processo que está ao nosso redor e muito maior será

nossa condição de responder bem o que nos está sendo proposto.

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Roteiro para Oficinas de Resiliência

41

5) A Empatia revela a habilidade de ler os estados emocionais e psicológicos de outras

pessoas. Uma habilidade para decodificar a comunicação não verbal e organizar

atitudes a partir dessa leitura. É a capacidade de compreender os sentimentos e

preocupações, as dificuldades do outro procurando se colocar no lugar da outra pessoa.

6) A Autoeficácia é a convicção de ser eficaz nas ações. Sinaliza a crença de poder

encontrar soluções para os problemas que por ventura vier a surgir com a certeza de se

sobressair.

7) Alcançar Pessoas é a habilidade de se conectar a outras pessoas para viabilizar

soluções para intempéries da vida. Trata-se de não alimentar o medo de se expor ao

fracasso e ao ridículo em público e não superestimar que as probabilidades de

tentativas fracassadas levam a finais catastróficos.

8) O Humor significa a capacidade de expressar em palavras, gestos ou atitudes corporais

os elementos cômicos, incongruentes ou hilariantes de uma situação, obtendo um

efeito tranquilizador e prazeroso, facilitando um certo distanciamento do problema e

favorecendo a tomada de decisão para resolvê-lo com respostas originais e soluções

inovadoras mesmo em meio à crise.

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Roteiro para Oficinas de Resiliência

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Texto 9: O menino que domou o vento (SANTOS, [s/d])

Com dois livros de física elementar, um monte de lixo e a energia eólica, jovem abastece

lâmpadas e celulares em sua vila no interior da África.

FORÇA AÉREA:

William Kamkwamba mostra a instalação que carrega celulares e acende luzes em Malauí, na África.

Escondido entre Zâmbia,Tanzânia e Moçambique, o Malauí é um país rural com 15 milhões de

habitantes. A três horas de carro da capital Lilongwe, a vila de Wimbe vê um garoto de 14 anos

juntando entulho e madeira perto de casa. Até aí, novidade nenhuma para os moradores. A

aparente brincadeira fica séria quando, dois meses depois, o menino ergue uma torre de cinco

metros de altura. Roda de bicicleta, peças de trator e canos de plástico se conectam no alto da

estrutura e, de repente, o vento gira as pás. Ele conecta um fio, e uma lâmpada é acesa. O

menino acaba de criar eletricidade.

O menino e a importância de suas descobertas cresceram. William Kamkwamba, agora com 22

anos, já foi convidado para talk shows, deu palestras no Fórum Econômico Mundial, tem site

oficial, uma autobiografia - The Boy Who Harnessed the Wind (O Menino que Domou o Vento,

ainda inédito no Brasil) - e um documentário a caminho. O pontapé de tamanho sucesso se deve

a uma junção de miséria, dedicação, senso de oportunidade e uma oferta generosa de lixo.

EM TERMOS DE GERAÇÃO e consumo de energia elétrica, o Malauí é o 138º país do mundo

Uma seca terrível no ano 2000 deixou grande parte da população do Malauí em situação

desesperadora. Com as colheitas reduzidas drasticamente, as pessoas começaram a passar fome.

"Meus familiares e vizinhos foram forçados a cavar o chão para achar raízes, cascas de banana

ou qualquer outra coisa pra forrar o estômago", diz Kamkwamba. A miséria o impediu de

continuar na escola, que exigia a taxa anual de US$ 80. Se seguisse a lógica que vitima muitos

rapazes na mesma situação, o destino dele estava definido: "Se você não está na escola, vai virar

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Roteiro para Oficinas de Resiliência

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um fazendeiro. E um fazendeiro não controla a própria vida; ele depende do sol e da chuva, do

preço da semente e do fertilizante”, diz Kamkwamba.

Para escapar dessa sentença, começou a frequentar uma biblioteca comunitária a 2 km de sua

casa. No meio de três estantes com livros doados pelo Reino Unido, EUA, Zâmbia e Zimbábue,

Kamkwamba encontrou obras de ciências. Em particular, duas de física. A primeira explicava

como funcionam motores e geradores. "Eu não entendia inglês muito bem, então associava

palavras e imagens e aprendi física básica." O outro livro se chamava Usando Energia, tinha

moinhos na capa e afirmava que eles podiam bombear água e gerar eletricidade. "Bombear um

poço significava irrigar, e meu pai podia ter duas colheitas por ano. Nunca mais passaríamos

fome! Então decidi construir um daqueles moinhos."

Você está fumando muita maconha. Tá ficando

maluco." Era isso que Kamkwamba ouvia enquanto

carregava sucata e canos para seu projeto. "Não

consegui encontrar todas as peças para uma bomba

d'água, então passei a produzir um moinho que gerasse

eletricidade. " Seu primo Geoffrey e seu amigo Gilbert

o ajudaram, e após dois meses as pás giravam. O

gerador era um dínamo de bicicleta que produzia 12

volts, suficientes para acender uma lâmpada. As pessoas

próximas a ele só acreditaram em sua conquista quando

ele ligou um rádio, que na hora tocou reggae nacional.

"Fiquei muito feliz. Finalmente as pessoas

reconheceram que eu não estava louco."

"Conseguimos energia para quatro lâmpadas, e as

pessoas começaram a vir carregar seus celulares", diz.

No Malauí, a companhia telefônica se recusou a

fornecer infraestrutura para as vilas, e as empresas de

celulares chegaram com torres de transmissão e

baratearam os aparelhos. Por isso, hoje há mais de um

milhão de aparelhos celulares no país, uma média de

oito para cada cem habitantes.

NOVAS MEDIDAS: O primeiro

moinho ganhou altura (12 metros) e

potência.

"Bombear um poço significava irrigar. meu pai podia ter duas colheitas por ano. Nunca mais

passaríamos fome! Então decidi construir um daqueles moinhos."

A história chegou aos ouvidos do diretor da ONG que mantinha a biblioteca. Ele trouxe a

imprensa, e o menino foi destaque no jornal local. E daí alcançou o diretor do programa

TEDGlobal, uma organização que divulga ideias criativas e inovadoras que convidou

Kamkwamba para uma conferência na Tanzânia. O jovem aumentou o primeiro moinho para 12

metros de altura e construiu outro que bombeia água para irrigação. "Agora posso ler à noite, e

minha família pode irrigar a plantação", diz.

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Roteiro para Oficinas de Resiliência

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Depois de cinco anos, com ajuda daqueles que descobriram sua história, Kamkwamba voltou à

escola. Passou por duas instituições no Malauí, estudou durante as férias no Reino Unido e agora

cursa o segundo ano da African Leadership Academy, instituição em Johannesburgo que reúne

estudantes de 42 países com o intuito de formar a próxima leva de líderes da África.

Apesar de não ter mudado em nada a sua humildade, o sucesso e as oportunidades de estudo

tornaram mais ambiciosos os planos de Kamkuamba: "Quero voltar ao Malauí e botar energia

barata e renovável nas vilas. E implementar bombas d'água em todas as cidades. Em vez de

esperar o governo trazer a eletricidade, vamos construir moinhos de vento e fazê-la nós

mesmos".

Escrito por William Kamkwamba em conjunto com o jornalista Bryan

Mealer, The Boy Who Harnessed the Wind foi lançado em 29 de setembro

nos EUA e ficou entre os dez mais da livraria virtual Amazon.

ENTREVISTA

Conversamos com William Kamkwamba, o menino africano que construiu um moinho

com lixo e dois livros de física.

Ricardo Santos//Foto: Tom Rielly

* Conte-me um pouco sobre você, William. Quando você nasceu, onde foi, como é sua

família?

Nasci em 5 de agosto de 1987 em Dowa, no Malauí. Moro com seis irmãs, meu pai e minha

mãe. Em uma família de garotas, você pode imaginar os problemas por que passei. Na escola,

os garotos sempre implicavam comigo porque eu não tinha um irmão mais velho que me

protegesse. De qualquer jeito, sobrevivi.

* Como é sua vida na vila onde mora, como são as condições de água, eletricidade ?

Moro na vila de Wimbe. É um lugar pequeno com uma grande estrada empoeirada e algumas

lojas. Chamamos de Centro de Comércio. Há o barbeiro, o soldador, vários armazéns que

vendem roupas e uma loja Farmer’s World, onde meu pai compra milho para plantar e

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Roteiro para Oficinas de Resiliência

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fertilizante. Seguindo essa estrada, há a minha vizinhança, Masitala. A cidade grande mais

próxima é Kasungu, com muitos habitantes, um grande supermercado e várias lojas. Para

chegar até lá, tem que ir de carona, espremido por uma hora na caçamba de um caminhão. Só

2% da população rural do Malauí tem eletricidade e isso é um grande problema. E antes de eu

conseguir perfurar um poço e providenciar água limpa para minha família, não havia água

corrente por quase 100 km.

* Em 2000, o Malauí passou por uma seca terrível. Foi por isso que você teve de deixar a

escola em 2002?

Sim. Essa seca fez faltar alimento em todo o país. Ninguém conseguia plantar o suficiente para

comer. As pessoas começaram a passar fome. Muitos moradores aqui perto de Wimbe

morreram de inanição. Causou a morte de mais de 10 mil malauianos. Meus vizinhos e minha

família fomos forçados a cavar o solo para achar raízes e cascas de banana, qualquer coisa

para forrar o estômago. A taxa para minha escola era 80 dólares por ano. Por causa da

situação, meu pai não conseguia pagar, tive que parar de estudar com 14 anos.

*Como você se sentiu por estar fora da escola?

Era bem ruim. Se você não está estudando, quer dizer que vai ser fazendeiro. Eles não

controlam a própria vida; dependem do sol, da chuva, do preço das sementes e do fertilizante.

Quando saí da escola, olhei meu pai, aqueles campos ressecados e vi o resto de minha vida. Era

um futuro que não podia aceitar.

*Foi aí que você começou a frequentar uma biblioteca perto da sua casa?

Sim. Era um lugar bem pequeno dentro de minha escola primária, a uns dois km de casa. Eu

geralmente caminhava, ou ia de bicicleta. A biblioteca tinha três estantes cheias de livros

doados pelos EUA, Reino Unido, Zâmbia e Zimbábue. Fui com a esperança de estudar por

conta própria, para ficar no mesmo nível dos amigos que continuaram na escola. Comecei a ler

livros de ciência, e isso mudou minha vida.

* Você construiu um moinho de vento a partir das explicações de um livro, sem nunca ter

visto um. Como foi isso, e para que você queria um moinho?

No livro, “Explaining Physics”, entendi como funcionavam motores e geradores. Não lia inglês

muito bem. Usei diagramas e fotos para associar as palavras, e assim aprender física básica. O

outro livro que li chamava-se “Using energy”, tinha uma foto de um moinho de vento na capa.

Dizia que moinhos podem bombear água e gerar eletricidade. Meu pai poderia irrigar a

plantação, aumentar a colheita e nós nunca mais passaríamos fome! Por isso decidi construir

um moinho. Não havia instruções, mas sabia que se um homem havia construído no livro, eu

também conseguiria.

* Como você fez para arranjar as peças? Quanto tempo levou?

Fui a um ferro-velho perto de casa e encontrei vários pedaços de metal e uns canos de plástico.

Mas vi que não tinha todas as peças para uma bomba d’água, então procurei fazer um moinho

que gerasse eletricidade. Quando me viam carregando os ferros, as pessoas achavam que eu

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estava louco. Me provocavam e diziam que eu estava fumando maconha. Mas não deixei que

isso me incomodasse. Continuei. Meu primo, Geoffrey, e outro amigo, Gilbert, me ajudaram a

construir. Ficou pronto em dois meses. Quando o vi funcionando, fiquei muito feliz. Finalmente

as pessoas sabiam que eu não estava louco.

* Quanta energia gerava o moinho?

O gerador do moinho era um dínamo de bicicleta, produzia 12 volts. Era suficiente para

acender uma lâmpada. Mais tarde, meu primo achou uma bateria de carro na estrada. Demos

uma carga nela, e conseguimos energia para manter quatro lâmpadas e dois rádios. As pessoas

faziam fila para carregar seus celulares. Os celulares estão em todo o lugar na África porque

são baratos. Há poucos lugares onde a eletricidade chega - geralmente nos arredores das

empresas estatais de tabaco – e algumas lojas cobram para as pessoas carregarem os celulares.

Comigo era grátis.

* Depois que sua história se espalhou, você voltou a estudar. Como estão seus estudos?

Depois que eu fui à conferência do TED [organização sem fins lucrativos que promove

conferências anuais para divulgar boas idéias] em Arusha, na Tanzânia, algumas pessoas se

aproximaram e me ofereceram ajuda para voltar à escola. Primeiro frequentei um colégio

cristão na capital. Agora estudo em Johannesburgo, na África do Sul, na African Leadership

Academy, uma escola que pretende treinar a próxima geração de líderes do continente. Há 200

estudantes de 42 países diferentes da África.

* Agora que você viu que seu moinho não só ajudou sua família, mas gerou esperança em

cima de energia elétrica e renovável, quais são seus próximos planos?

Depois de fazer faculdade, talvez nos EUA, quero voltar ao Malauí e descobrir maneiras de

produzir energia barata e renovável nas vilas. Quero construir bombas d’água de baixo custo e

que possam ser operadas facilmente. E também colocar um moinho de vento em cada cidade do

Malauí. Quando a companhia estatal de telefones se recusou a atender às vilas, as empresas

particulares de telefonia celular chegaram com torres e agora todos têm celulares. Nós

simplesmente passamos por cima dessas companhias ineficientes. Espero fazer o mesmo com a

energia no Malauí. Em vez de esperar o governo levar eletricidade até as vilas por linhas de

força, vamos construir moinhos de vento e gerá-la nós mesmo.

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Roteiro para Oficinas de Resiliência

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“Quando você ajuda alguém a atravessar o rio transportando-o em seu barco, você também

chega à outra margem” autor desconhecido (apud POLETTI; DOBBS, 2007).

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Roteiro para Oficinas de Resiliência

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