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    Nmero 9 de 2014 Comunicao e Cincias EmpresariaisRostos do Facebook - a formao da identidade nas redes sociais

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    Comunicao e Cincias Empresariais

    #2.=2. 62 R0D9N22S < 0 /2830ML2 60469:=46069 :0. 8969. .2D404.

    Gil Baptista Ferreira

    Escola Superior de Educao do Instituto Politcnico de

    Coimbra; Labcom - Laboratrio de Comunicao e Contedos

    Online

    [email protected]

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    Resumo

    O objetivo deste artigo procurar compreender o modo como as redes sociais esto desenhadas

    para criar e manter vnculos com outros, e como este enfoque na sociabilidade faz delas um espao

    privilegiado para a representao do eu em ambientes digitais. Para esse fim, recorre a alguns

    elementos do pensamento goffmaniano, em dilogo com a literatura recente sobre as questes

    identitrias e a Internet, para analisar de um modo especial uma das redes sociais mais populares, o

    Facebook.

    A partir de uma reviso da literatura, verifica que o processo de apresentao do eu surge como

    um ciclo contnuo atravs do qual a identidade apresentada, comparada, ajustada ou defendida

    contra uma constelao de realidades de diversa ordem. Considera que nas redes sociais, como nasinteraes do quotidiano, as identidades encontram-se entrelaadas nas identidades de outros, em

    funo das quais so concebidas estrategicamente, e de cuja aceitao so devedoras. Os outros

    contribuem para a cristalizao de um conjunto de informaes sobre ns, disponvel online,

    fornecendo identidade consistncia e nveis de permanncia.

    Palavras-chave: Identidade; interacionismo; redes sociais; cibercultura

    Abstract

    The purpose of this essay is to try to understand how social networks are designed to create and

    maintain links to others, and how this focus on sociability makes them a privileged space to representthe "I" in digital environments. To this purpose, it uses some elements of the Goffmanian thought in

    dialogue with recent literature concerning identity issues and the Internet, to analyze one of the most

    popular social networks, Facebook.

    From a literature review, it founds that the process of presenting the "I" emerges as a continuous

    cycle through which identity is displayed, compared, adjusted or defended against a constellation of

    realities of different kinds. It considers that on social networks, as in everyday interactions, identities

    are interlaced in the identities of "others" against which are strategically designed, and from whose

    acceptance they are debtor. The "other" contributes to the crystallization of a set of information about

    "us", available online, supplying identity with consistency and levels of permanence.

    Keywords: Identity; interacionism; social networks; cyberculture.

    Introduo

    Este artigo insere-se num esforo mais amplo que, nos seus traos gerais, procura compreender

    qual o papel das novas formas de comunicao, tecnologicamente mediadas, nas nossas sociedades

    e, concretamente, nos indivduos.

    Se bem que a comunicao uma questo bastante antiga da humanidade uma realidade

    antropolgica fundamental, no cerne de toda e qualquer experincia individual e social - a explosotecnolgica das ltimas dcadas alterou consideravelmente o seu estatuto. sabido que todas as

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    formas de comunicao, e particularmente as que possuem uma dimenso tecnologicamente mais

    acentuada, so to potentes psicologicamente que no apenas modificam o que fazemos, mas

    tambm conduzem a ajustamentos sucessivos daquilo que somos. Constatamos facilmente que acomunicao tornou-se cada vez mais eficaz, medida que passmos do telefone rdio, da

    televiso informtica e, hoje em dia, aos media digitais. De igual modo, devido grande proliferao

    de dispositivos mveis com acesso internet, existe hoje uma perceo clara de que os meios de

    comunicao, sempre presentes e ubquos, so componentes invasivos da vida quotidiana moderna.

    Na expresso de Rainie e Wellman (2012), os indivduos encontram-se hoje interligados atravs de

    um novo sistema operativo social.

    Onde quer que se esteja, seja a que horas for, um vasto nmero de dispositivos de comunicao

    permite que os indivduos tenham conhecimento de eventos exteriores ao seu meio social imediato,

    ou facilmente interajam com indivduos distantes no espao. A consolidao da noo de ciberespao

    enquanto espao comunicativo quotidiano tornou manifesta a necessidade de rever a dicotomia entremundo real e mundo virtual (Papacharissi, 2005). De forma abrupta, a dimenso tecnolgica da

    comunicao sobreps-se s dimenses humana e social, contribuindo de modo significativo para a

    complexidade dos processos de comunicao e de interao num mundo moderno j de si incerto.

    A importncia crescente da Internet enquanto espao de comunicao e interaco deve-se em

    grande medida denominada Web 2.0, que se caracteriza por uma maior interatividade, participao

    e colaborao por parte dos seus utilizadores, a nveis sem precedentes nas etapas anteriores das

    redes de comunicao. Se o uso anterior da Internet consistia em aceder a informao publicada por

    outros, atravs de sistemas mais ou menos rudimentares de pesquisa, nesta fase compartilha-se

    informao com outros utilizadores, publicam-se contedos prprios, valorizam-se e recomendam-se

    contedos de terceiros, coopera-se distncia e, por fim, apoderamo-nos da tecnologia para aconverter em parte da nossa vida (Orihuela, 2008).

    Neste contexto, este texto pretende delinear um quadro que permita entender as relaes mtuas

    entre as tecnologias de comunicao e a identidade, explorando alguns dos temas maiores presentes

    na retrica sobre os media digitais e as conexes interpessoais. Designadamente, em que medida os

    media digitais se constituem numa nova modalidade de gora em que reinventamos a nossa

    actividade social mais natural: a relacional. Deste modo, se pretendermos compreender as

    transformaes que tm lugar nas sociedades modernas teremos de reconhecer o papel central que

    os designados novos media desempenham, e de ter conscincia do impacto que possuem. sob

    este enquadramento que o presente artigo ir traar uma questo muito simples e precisa: como

    que se desenvolve o trabalho de construo da identidade nas plataformas online de interacosocial? Noutros termos: como que as pessoas se ligam nas sociedades contemporneas e como

    que esse modo de ligao produz efeitos sobre si prprias e sobre a sua identidade pessoal? Em que

    medida o pano de fundo que referimos (as redes sociais) favorece o jogo de construo da(s)

    identidade(s)? E f-lo de um modo neutro ou, ao invs, condiciona esse jogo, definindo os termos

    que em que ele pode ser jogado?

    Portais da identidade

    Comeamos assim por olhar o modo como as redes sociais esto desenhadas para criar e manter

    vnculos com outros, e como este enfoque na sociabilidade faz delas um espao privilegiado para arepresentao do eu em ambientes digitais.

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    Sabemos que nunca como hoje houve tamanha omnipresena da tecnologia na vida das pessoas.

    E esta omnipresena promove comportamentos distintos, e novas formas de relacionamentos sociais.

    Como escreve a psicloga norte-americana Sherry Turkle (2011), estamos a criar formas deinteraco em que estamos ss, estando juntos. Noutros termos, as pessoas oscilam de forma fluida

    entre uma dimenso pblica e uma dimenso privada, entre estar com outros num espao e num

    tempo, mas estar tambm noutro lugar, ligadas a outros distantes. Os media eletrnicos

    caracterizam-se pela sua capacidade de remover, ou pelo menos reorganizar, os limites entre espao

    pblico e privado, afetando as nossas vidas no tanto pelo seu contedo mas sobretudo mudando a

    geografia situacional da vida social (Meyrowitz, 1986: 6). A tecnologia apresenta hoje novos espaos,

    em que um indivduo pode situar-se e participar, de forma mais ou menos ativa, e aparentemente de

    um modo mais autocontrolado. como se as pessoas pudessem entrar e sair dos lugares onde esto

    fisicamente e virtualmente, gerindo e controlando a sua ateno e uma determinada forma de

    presena em cada um desses lugares. Nem muito perto, nem muito longe, mas a uma distncia certa(Turkle, 2011).

    Um dos factos sociais mais representativos da ligao estreita entre os ambientes online e offine

    o uso generalizado das redes sociais. No obstante a sua diversidade, por razes de operatividade, e

    tendo em conta os objetivos deste artigo, consideramos as redes sociais ambientes online onde as

    pessoas criam perfis auto-descritivos, a partir dos quais estabelecem ligaes com outras pessoas,

    dentro do mesmo espao, estabelecendo uma rede de ligaes pessoais. Os participantes nas redes

    sociais so habitualmente identificados pelos seus verdadeiros nomes e com frequncia incluem

    fotografias de si prprios. Como resultado, o seu perfil, a sua rede de ligaes, e a interaco que

    produzem nessa rede constituem-se como um quadro importante para a apresentao do eu online

    (Donath e Boyd, 2004). O impacto destas prticas implicar, assim, um novo entendimento dasnoes de pblico e de privado, na medida em que as fronteiras clssicas que definiam estes

    conceitos se tornaram vagas e imprecisas (West, Lewis, e Currie: 2009).

    Aparentemente, tudo se torna social, ao mesmo tempo que a prpria definio de rede social se

    torna mais complexa. Quanto abrangncia, as redes sociais online possibilitam tanto consolidar

    relaes j estabelecidas no mundo offline como construir novos vnculos. No conjunto que formam

    com outras pginas online, configuram-se como portais da identidade, sob a forma de exibies

    pblicas de ligaes(public displays of connection) nas quais os indivduos constroem e expressam o

    seu eu. Distinguem-se, contudo, de outras formas de ligao nas redes: enquanto nas comunidades

    virtuais os laos surgem de um interesse comum em alguma temtica ou prtica (desde comunidades

    de fans a comunidades que partilham desafios comuns), as redes sociais digitais centram-se noindivduo e nas suas relaes, estabelecendo uma rede egocntrica desenhada a partir de cada

    sujeito (Boyd e Ellison, 2007).

    Como conhecido a partir de toda uma vasta tradio epistemolgica, desde o interacionismo

    simblico prpria filosofia da linguagem, a interaco social essencial para nos formarmos a ns

    prprios. Como se encontra igualmente descrito, o eu tambm se revela nas interaes sociais que

    se produzem no meio digital, ainda que condicionado ou potenciado pelas particularidades das

    novas formas de mediatizao (Turkle, 1997; Papacharissi, 2010).

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    Ferramentas para a construo do eu

    Se certo que o fenmeno da expresso da identidade nos ecrs obriga, em boa medida, a novas

    aproximaes tericas e metodolgicas, no devem ser descartados, por isso, contributos

    importantes provenientes da bibliografia clssica sobre a comunicao interpessoal e a identidade.

    Neste sentido, consideramos que o modelo dramatrgico proposto por Erving Goffman se mostra,

    mais que sugestivo, especialmente adequado para investigar como se constri e manifesta a

    identidade em contextos tecnologicamente mediados. Muito antes do aparecimento da comunicao

    online, Goffman escrevia sobre a apresentao do eu enquanto representao (performance);

    contudo, a conscincia de uma identidade mltipla, composta ou flexvel adquiriu uma importncia

    acrescida a partir do momento em que a comunicao se transferiu, de um modo generalizado, para

    os espaos digitais.

    Tambm neste texto procuraremos analisar as redes sociais, e entre elas a que neste momentoser a mais popular o Facebook a partir de alguns elementos do pensamento goffmaniano, em

    dilogo com a literatura recente sobre as questes identitrias e a Internet. Desde os primeiros anos

    da generalizao do uso da Internet que as ideias do socilogo canadiano so aplicadas questo da

    identidade sob o prisma da interaco social neste meio (Miller, 1995). Alguns dos seus postulados

    tericos tm servido de enquadramento ao estudo das pginas pessoais, da blogosfera, dos espaos

    de debate e, mais recentemente, das redes sociais.

    So diversos os fins para os quais se utilizam as redes sociais, e assim como so relevantes as

    suas caractersticas distintivas. Encontra-se descrito como, ao longo dos anos, os indivduos tm

    vindo a adaptar as suas estratgias de utilizao destas plataformas e, aqui, no que nos importa, as

    suas estratgias de apresentao do eu online. Ao mesmo tempo, tambm as plataformas mudaramas suas funcionalidades, de forma progressiva mas muito consistente.

    Sob a perspectiva dos indivduos que as utilizam, desde uma fase inicial em que plataformas como

    o Facebook eram consideradas com um espao para a expresso prpria de pontos de vista pessoais

    e para estabelecer ligaes entre amigos, gradualmente os utilizadores comearam a perceber a

    arte da apresentao online do eu, e a eficcia das redes sociais enquanto ferramentas para a

    promoo de si mesmos (quer num plano pessoal quer profissional). Paralelamente, verificou-se uma

    renovao generalizada nas infraestruturas tecnolgicas em que as redes sociais funcionam.

    Podemos considerar que na primeira etapa do seu desenvolvimento, entre 2002 e 2008, estes

    espaos eram geralmente concebidos como espaos de comunidade, pensados e desenhados para

    facilitar a ligao entre pessoas. Contudo, aps 2008 a maioria das corporaes proprietrias destesespaos desviou o enfoque: de plataformas orientadas para a comunidade a ateno foi dirigida para

    a dimenso econmica da conectividade, no sentido da rentabilizao lucrativa da informao

    proveniente do trfego entre pessoas, ideias e objetos. E, assim, integrada nesta viragem, assistiu-se

    a uma progressiva mutao das arquiteturas das plataformas. No que aos objetivos deste trabalho diz

    respeito, a consequncia chave esta: mais que base de dados de informao pessoal, a rede social

    Facebook, sobre a qual detemos um olhar especfico, tornou-se um conjunto de ferramentas para a

    construo de guies e narrativas para a apresentao da identidade social (Dijck, 2013).

    Ora, chegados a este ponto, podemos considerar que as mudanas estruturais acima referidas

    formam o pano de fundo e o enquadramento necessrios para a formulao de algumas questes

    crticas sobre a apresentao do eu nos espaos online. Designadamente: como ganham forma ese desenvolvem as identidades atravs destas plataformas? Em que medida os recursos existentes

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    potenciam ou limitam o desenvolvimento consistente e com densidade de uma identidade

    pessoal? Que consequncias, em termos de desenvolvimento do eu e de aprofundamento da

    interaco comunicativa, impem as dimenses de conectividade s formas de sociabilidade online?

    Interao simblica na rede

    Erving Goffman unanimemente considerado um dos socilogos mais importantes e originais da

    segunda metade do sculo XX, sendo um dos fundadores da chamada microssociologia e um dos

    tericos incontornveis do interacionismo simblico. No essencial, a sua investigao centrou-se na

    anlise do que ocorre quando pelo menos dois indivduos se encontram em presena um do outro:

    mais concretamente, a natureza e as formas que ganham essas interaes, as regras a que

    respondem e os papis que nelas desempenham as pessoas implicadas, em estreita ligao com as

    questes da identidade.

    No mbito deste texto, importa-nos destacar uma perspectiva especfica e central do seu trabalho:

    a de que na interaco com o outro, assumindo cada um o seu papel, que nasce a identidade

    social. no mbito da interaco social, nas situaes da vida quotidiana, que surge o conceito que o

    indivduo possui de si mesmo, um eu, que constri e articula em funo de cada contexto perante os

    outros. Significa isto que a interaco no apenas uma descoberta do outro, uma comunicao

    com um outro distinto de si, mas tambm um processo em que o sujeito adquire capacidade reflexiva

    para se ver a si mesmo e para dar sentido realidade social que o rodeia.

    conhecido que, na obra The Presentation of Self in Everyday Life (1959), Goffman recorre

    analogia das interaes sociais com o modelo da representao teatral. De forma sucinta, Goffman

    pe em relevo a importncia do ambiente em que se movem os atores, da mscara que utilizam edo papel que desempenham, com a inteno de controlar as impresses que originam no seu

    pblico. Muito embora este modelo tenha sido desenhado para analisar situaes de interaco

    presencial, de coexistncia fsica, uma boa parte das suas consideraes tm sido recuperadas,

    enquanto inspirao terica e, ao mesmo tempo, como instrumento de anlise, para o estudo das

    interaes digitais. Tal como nas interaes face a face ou mediadas por outras formas de

    comunicao, as pessoas procuram controlar a apresentao de si nesta dimenso online do

    quotidiano.

    Uma abordagem concebida a partir destes pressupostos considera, assim, que tambm nas redes

    sociais o indivduo, ao apresentar-se a si mesmo, escolhe uma mscara que se ajusta ao contexto

    da interaco e s impresses que pretende causar. Na verdade, as particularidades do meio digitalpermitiro ainda que a construo da mscara seja mais rpida e mais fcil, e permite mesmo a

    construo de mscaras distintas, em diferentes espaos de interaco, nem sempre coerentes

    entre si (Arcila, 2011; Davis, 2012). Este controlo da apresentao do eu pode envolver

    ocultamento, transparncia ou equilbrios estratgicos de partilha de informao, tal como permite a

    prpria distoro dessa informao. No essencial, a nossa capacidade para construir uma identidade

    online, seja autntica, parcial ou manipuladora, pode ser potenciada pelos recursos comunicativos

    que as plataformas disponibilizam, e pelas competncias individuais para as operar.

    Destaquemos quatro elementos chave do modelo de interaco social de Erving Goffman que

    permitem dar forma a um quadro de anlise das interaes digitais, e de forma mais especfica, s

    interaes que ocorrem na generalidade das redes sociais. Assim, temos: 1. A dicotomia entre asexpresses controladas e as expresses involuntrias que o ator projeta durante a sua apresentao

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    perante os outros; 2. A tendncia habitual que o ator possui para apresentar uma verso idealizada

    do seu eu; 3. A dupla dimenso espacial que ocorre durante a atuao (cenrios e bastidores); e 4.

    Os desvios ou a produo de situaes especficas (dramatizao ou mistificao) que arepresentao pode adotar (Serrano-Puche, 2013).

    O ponto de partida pode, assim, ser definido a partir de uma ideia chave: os indivduos procuram

    individualizar-se, pela diferena ou pela semelhana, em relao aos restantes participantes. Os

    diversos tipos de plataformas de redes sociais oferecem formas especficas para alcanar esse fim

    (arquiteturas de espao, adereos, cores, funes); com maior ou menor criatividade, todas as redes

    sociais disponibilizam um leque de opes para a apresentao do eu. A partir dessas plataformas,

    o indivduo ir reproduzir, agora na Rede, todo um conjunto de exerccios de sociabilidade que

    interiorizou na vida social, aplicadas a este meio. Do mesmo modo que consideramos toda a ao

    humana como uma representao cnica contnua por parte de um ator individual, que representa

    uma personagem isto , representa um papel perante uma audincia, a qual reage com aprovaoou desaprovao -, consideramos os mesmos princpios gerais vlidos nestas novas formas de

    interaco desenvolvidas nas redes sociais. Nestas plataformas, o indivduo encontra espaos onde

    pode visualizar e gerir tanto a sua rede de contatos como a sua presena pblica perante audincias

    especficas. A identidade assim configurada nase pelassuas redes de pertena, atravs de uma

    negociao contnua entre o eu individual e as suas diferentes audincias, frente s quais tende a

    adotar papis sociais especficos, de acordo com o modelo dramatrgico da interaco social de

    Goffman. No como mero produtodas ligaes de pertena, amizades e comunidades de interesse,

    mas ainda com um sentido claro de si, a partir do qual se geraram os crculos sociais e as ligaes

    necessrias presena online. Como escreve Cavanagh (2007: 123), a autoapresentao no se

    segue associao, mas a associao autoapresentao

    Caraterizao da face digital

    Nas redes sociais digitais, grande parte das informaes emitidas so conscientes: a seleo da

    informao que aparecer a definir o indivduo, a imagem que representa melhor as impresses que

    pretende despertar, os pblicos a que pretende vincular-se em cada plataforma, entre outros

    elementos. O acesso s redes sociais iniciado pela construo de um perfil individual de membro,

    com o qual, de seguida, cada indivduo se poder ligar a outros indivduos, visualizando os seus

    perfis e ligaes. Dentro do amplo e variado conjunto de redes sociais, o elemento comum o facto

    de em todas o indivduo dispor de um perfil, que proporciona informao textual e visual e que

    permite a sua identificao. A sua relevncia decorre tanto de permitir uma apresentao do eurelativamente estvel (o perfil), como um eu em construo a rede de ligaes que iro localizar o

    eu em termos de estrutura social online.

    Detenhamo-nos nos dados que compem o perfil.

    Sendo um campo mais ou menos rico em termos de quantidade e qualidade de informao,

    (dependendo do tipo de rede social), o prprio indivduo que decide que dados sobre si fornece aos

    outros utilizadores isto , de que modo se apresenta perante a sua audincia. Os elementos de

    perfil possuem uma relevncia assinalvel no processo de apresentao do eu nas redes sociais.

    Com efeito, o nome pessoal talvez o mais importante sinal identitrio. Se muitas redes sociais

    permitem que os utilizadores escolham qualquer nome, de um ponto de vista normativo o Facebookrequer nomes com uma relao estreita com a realidade. Um estudo com 4540 perfis de estudantes

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    da Carnegie Mellon University (2005) identificou 89% de nomes aparentemente reais, para 8%

    claramente falsos e 5% parcialmente reais, tendo ainda sido verificado um valor de 80% de

    fotografias identificveis. Porm, conhecida a pouca fiabilidade do sistema de reconhecimento deautenticidade do Facebook, comprovada pelos mltiplos perfis de celebridades, algumas no

    contemporneas.

    Mas igualmente as imagens associadas ao perfil, incluindo as do prprio indivduo, so

    marcadores identitrios importantes. Especialmente relevante a fotografia que o indivduo escolhe

    como fotografia de perfil, desde logo porque entre todas as marcas de identidade, o corpo a mais

    definidora, a que nos sinaliza como indivduos irrepetveis e histricos (Mendelson e Papacharissi,

    2010). Mas, num outro plano, a imagem de perfil tem importncia ainda por dois motivos, interligados:

    primeiro, por sinalizar o modo como o indivduo pretende ser percebido pelos outros; e depois, ao

    enquadrar esta questo sob a perspectiva do reconhecimento intersubjetivo, deixando entrever um

    eu que procura no olhar do outro a confirmao da prpria existncia.

    Retomando Goffman, por vezes o indivduo atua de forma completamente calculista, expressando-

    se de determinada maneira unicamente com a inteno de produzir nos outros uma impresso que

    resultar num efeito pretendido por si. Os outros, por seu lado, podero ser impressionados do modo

    pretendido pelo indivduo, ou interpretar de forma diferente a situao, e chegar a concluses

    diferentes das intencionadas pelo indivduo. Ora, cremos que tambm nas redes sociais tal como

    nas situaes da vida quotidiana, em presena a comunicao desenvolve-se em torno de um

    processo de gesto das impresses. Recuperando um dos pioneiros do interacionismo simblico,

    Georg-Herbert Mead, particularmente nas redes sociais ser vlida a tese de que a projeco de si

    mesmo que o indivduo oferece tem associada, frequentemente, uma tenso latente entre uma

    imagem percebida e uma imagem idealizada do eu.

    O desempenho associado apresentao do eu pode ser designado, seguindo a terminologia

    goffmaniana, como rosto (face), possuindo os indivduos diversos rostos, de acordo com os

    contextos situacionais em que se encontram em cada momento. Ainda dentro da terminologia

    proposta por Goffman, um desempenho estruturado em torno da apresentao de um rosto pode ser

    entendido como um jogo de informao, isto , um ciclo potencialmente infinito de ocultao,

    descoberta, falsas revelaes e redescobertas (Goffman, 1959: 13).

    No Facebook (tal como na generalidade das redes sociais), o rosto apresentado em articulao

    com um painel de amigos. Como vimos acima, as estruturas de interaco organizam-se em torno

    de uma exposio pblica de ligaes. Para este fim, encontra-se disponvel um conjunto de opesde arquitetura que permitem organizar os amigos em listas, que tm, cada uma, permisses de

    acesso diferentes s informaes de perfil. Ao manipularem os botes de controlo, os indivduos

    orientam de forma estratgica as suas informaes, no sentido de as tornarem acessveis a crculos

    especficos de pblicos, desde grupos restritos ao pblico em geral. nestes crculos de associaes

    que o rosto se estabelece e confirmado pelos membros que os constituem. Uma das

    caractersticas das redes sociais precisamente o facto de disponibilizarem as ligaes de cada um a

    pelo menos alguns outros. Como escrevem Donath e Boyd, colocar algum no contexto de

    determinadas ligaes transmite a quem v informao sobre si. Estatuto social, crenas polticas,

    gostos musicais, etc. podem ser inferidos das companhias que se tm. De um modo muito concreto,

    uma exibio pblica de ligaes ajudar qualquer um a determinar que eles so tu (2004: 76). Mas

    tanto a composio como o prprio nmero de ligaes que cada um possui pode ser um marcador

    de estatuto. Num estudo desenvolvido a partir de mais de 30 000 perfis de Facebook, Lampe, Ellison

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    e Steinfield (2007) detetaram uma relao direta entre quantidade da informao disponvel nos perfis

    dos utilizadores e nmero de contactos associados a cada um deles.

    O perfil permite, assim, tanto a apresentao do eu como as suas ligaes sociais; noutros

    termos: atualiza uma representao da identidade e introdu-la num processo reflexivo de associao

    fluida com crculos sociais. Com efeito, junto com a informao dada inicialmente, quando cria o seu

    perfil na rede social, o indivduo continua, a partir desse momento e agora de forma acrescida, a

    expressar a sua identidade atravs da atividade que desenvolve online. Oferece sua audincia toda

    uma vasta performance, composta pelos seus gostos e preferncias, pelas suas atualizaes de

    estado (com comentrios originais, frases clebres, videoclips, anncios, etc.), por recomendaes

    de ligaes e pela incluso de novas fotografias pessoais, entre outros elementos.

    No entanto, apesar da liberdade associada ao indivduo na conduo e na gesto do processo de

    construo da sua identidade online, tomando em considerao todo o vasto reportrio de impresses

    que pretende gerar nos outros, tal no impede que no conjunto da sua identidade digital no

    intervenham esses outros. Com efeito, a representao da identidade afetada de forma transversal

    pelas ligaes que estabelece, sendo por elas ajustada de um modo contnuo, agregado e imparvel:

    desde as fotografias que os outros publicam do indivduo e onde o identificam, os contedos que os

    contactos do indivduo publicam no seu espao pessoal ou mesmo o grau de prestgio (social,

    simblico ou outro) que estes possuam, um vasto conjunto de elementos tm influncia significativa

    sobre o modo como o indivduo percebido pelos outros (Walther et al., 2008).

    Resulta daqui que, neste processo de definio da identidade diante dos outros, em que a

    alteridade parte da rede expandida do sujeito, seja importante destacar o facto de esta rede se

    constituir em mecanismo de validao dessa mesma identidade. Para Papacharissi (2010), devido

    estrutura e arquitetura das redes sociais digitais, entre o sujeito e a sua rede de contactos verifica-

    se uma convergncia de tal magnitude que define os contornos da prpria representao do eu.

    Prope-nos, por isso, uma noo de identidade distribuda pela rede, a que corresponde um eu

    conectado. Como explica, esta representao organiza-se em torno de listas pblicas de contactos

    sociais e de amigos, que so utilizadas para autenticar e introduzir o eu num processo reflexivo de

    associao gil com crculos sociais. Assim, a identidade individual e a coletiva apresentam-se e

    potenciam-se simultaneamente (Papacharissi, 2010: 304-305).

    Concluso

    O processo de apresentao do eu surge, deste modo, como um ciclo contnuo atravs do qual aidentidade apresentada, comparada, ajustada ou defendida contra uma constelao de realidades

    sociais, culturais, econmicas ou polticas. Assim entendido, o Facebook apresenta-se como espao

    que torna possvel o exerccio de representaes do eu, na medida em que tanto a sua estrutura

    como o seu desenho de interaco se prestam a novas e diversas formas de de sociabilidade, desde

    a simples criao e manuteno de vnculos com outros indivduos ou formas de manifestao

    pblica complexas e potentes do eu.

    Como vimos, os modos de expresso e de relao com os outros propostos pelas redes sociais

    (do Facebook a outras de perfil semelhante) convidam o sujeito a uma exposio incessante, que

    coloca sob novas perspectivas as fronteiras do pblico e do privado e que modifica a natureza da

    intimidade mediada at a converter numa realidade nova. Uma das marcas identificadas nestesmodos de expresso a abundncia de comportamentos narcisistas na conceo e representao da

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    Nmero 9 de 2014 Comunicao e Cincias EmpresariaisRostos do Facebook - a formao da identidade nas redes sociais

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    identidade (Turkle, 2011). Buffardi e Campbell (2008) detetaram que pessoas narcisistas possuem

    maior atividade social nestes espaos, ao mesmo tempo que partilham mais contedos de

    autopromoo relativos a quaisquer mbitos da sua vida. Tambm Mendelson e Papacharissi (2010)identificaram este tipo de condutas, a partir da anlise os materiais fotogrficos partilhados pelos

    utilizadores do Facebook, sustentando como este exerccio de narcisismo implica uma negociao

    contnua das margens entre o pblico, o privado e o ntimo.

    Algumas anlises desenvolvidas sobre esta matria caracterizam as identidades online como

    fluidas, consistindo a utilizao dos recursos disponveis parte de uma estratgia de pura reinveno

    de um eu lquido, sem densidade ou estruturao consistente. O contexto fluido sobre o qual as

    performances do eu so encenadas proporciona narrativas pessoais em torno de si mesmo,

    representativas do que alguns socilogos descreveram como um estado de modernidade lquida

    (Bauman, 2005). Consideramos, contudo, que nas redes sociais como nas interaes do quotidiano,

    longe de flurem, as identidades encontram-se entrelaadas nas identidades de outros, em funodas quais so concebidas estrategicamente, e de cuja aceitao so devedoras. Assim, a prpria

    rede que requer identidades estveis de modo a ser operativa, tanto por razes de ordem tcnica

    como estrutural. Desde logo, porque a conscincia de que existe uma audincia impe critrios

    estruturantes como a confiana e uma identidade que permanece: o eu que apresentamos online

    deve ser inteligvel para essa audincia, e isso requer uma certa coerncia. Essencialmente, para

    adquirir visibilidade online devemos produzir-nos a ns prprios como uma marca de pessoa

    facilmente reconhecvel (Cavanagh, 2007: 122).

    Por fim, a utilizao das redes sociais digitais como espao e veculo para a expresso do eu

    perante a alteridade no incua: muito pelo contrrio, todo um conjunto de caractersticas, tanto do

    meio tecnolgico como de ordem sociolgica, aprofundam um fenmeno de objetivao do eu epropiciam a construo do sujeito enquanto representao, desenhado para responder a uma

    questo estruturante: como me vero os outros?. Daqui que, nesta medida, a interaco mediada

    por plataformas digitais como a frequentemente evocada (Facebook) favorea o desenvolvimento de

    uma identidade alter dirigida. Num sentido duplo: 1. porque o indivduo tende a traduzir-se nas

    impresses que pretende causar nos outros; 2) e porque a sua identidade , ou no , validada pelas

    aes dos seus contactos (Turkle, 2011).

    Podemos, pois, registar algumas percees que resumem alguns pontos claros de chegada.

    Desde logo: como todo o pensamento sociolgico bem sublinha, as redes sociais so extenses do

    nosso mundo social. Contudo, tal como todas as restantes tecnologias de comunicao, as redes

    podem, ao mesmo tempo, atuar como fronteiras desse mesmo mundo social. Por razes de ordemtcnica, de ordem estrutural, ou pela prpria ordem da interaco. A natureza dialgica da identidade,

    tal como enunciada pelo interacionismo simblico, supe uma procura constante do olhar dos outros

    para a confirmao da sua existncia e esta natureza, como verificmos, encontra-se bem presente

    no fenmeno das redes sociais. Tambm aqui, as identidades individuais encontram-se

    profundamente enredadas com outras identidades, individuais e sociais: online como offline,

    construmos representaes do eu, ligando-o a outros. Os outros, por sua vez, contribuem para a

    cristalizao de um conjunto de informaes sobre ns, disponvel online que fornece identidade

    alguma consistncia e o nvel necessrio de permanncia. Alm disso, a identificao e a pertena

    a grupos sociais (a redes, a comunidades), com concees partilhadas, que permite invocar o

    estatuto de membro (ou no) de cada um dos espaos online.

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    Se a procura do olhar dos outros nos parece uma atitude muito presente, a introspeo parece,

    contudo, perder peso a favor de uma maior extroverso e de uma ligao permanente e necessria.

    E, nesta medida, a solido, a busca de um espao prprio e de uma interioridade densa e rica serum projecto em processo de abandono, ou pelo menos marcado por um inquestionvel recuo. Ser

    este um dos fatores a tornar a falta de ligao um problema: no haver uma interioridade densa e rica

    onde o individuo se refugiar.

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