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HISTÓRIA|vestenem
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REVOLUÇÕES INGLESAS
Após a instauração do anglicanismo
no reino da Inglaterra, por Henrique VIII, e a
usurpação dos bens do clero, o país entrou
progressivamente num processo de
desenvolvimento econômico: ao passo que
a aristocracia tradicional, majoritariamente
católica, seguia com seu poder, surgiu um
novo setor de proprietários, a gentry
(pequena nobreza proprietária) e a
burguesia, em sua maioria calvinista,
também adquiriu propriedades e até
camponeses se tornaram proprietários
(yeomanry). No reinado de Elisabeth I
(1558-1603), filha mais nova de Henrique
VIII, o reino encontrava em franca
expansão. A rainha desenvolveu a cultura
(Shakespeare viveu nesta época),
manobrou as classes e perseguiu inimigos.
Quando mandou decapitar sua prima, Mary
Stuart, provocou a ira de Felipe de
Espanha, que a apoiava. A invencível
armada espanhola, a grande marinha da
época, tentou invadir a Inglaterra e foi
derrotada pela esquadra inglesa. A rainha
saía da guerra mais poderosa que nunca:
desenvolveu-se o comércio, a produção de
carvão, as manufaturas têxteis,
intensificou-se a ação dos corsários e
dinamizou-se a construção naval. Os
enclosures acts (atos de cercamento)
despojaram uma massa de camponeses da
zona rural, que engrossaram as fileiras das
zonas marginalizadas urbanas. Quando a
rainha faleceu, em 1603, não deixou
herdeiros, tendo assumido, então, Jaime VI
da Escócia, primo distante da rainha, da
dinastia Stuart. O rei Jaime I teve de
enfrentar uma miríade de dificuldades:
primeiro, a dificuldade de substituir a
grandiosa Elisabeth; segundo, a população
pobre urbana crescia cada vez mais;
terceiro, os debates religiosos tomavam
conta da cena política inglesa; e, por último,
uma crise estatal lentamente surgia devido
aos gastos da nobreza.
O rei Jaime I tentou impedir os
enclosures acts, mas acabou não obtendo
êxito e somente ganhando ódio da nobreza
e dos proprietários em geral. Tentou,
também, implantar uma monarquia de
direito divino, impondo o anglicanismo e
perseguindo católicos e calvinistas,
provocando rebeliões e imigrações em
massa, sobretudo de puritanos, para as
colônias, como os EUA. Procurou adquirir o
monopólio do comercio dos tecidos e
terminou rompendo com a burguesia.
O seu sucessor, Carlos I impôs uma
serie de impostos contra a burguesia, como
o Ship Money (1625), que recaía sobre o
comércio marítimo, exatamente a grande
fonte de renda da burguesia calvinista. O
Parlamento, nas duas câmaras,
empreendeu uma campanha política de
representação dos interesses populares e
começou a atacar o rei. tendo acabado a
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contenda numa negociação: o rei aprovava
a Petição de Direitos (1628), permitindo os
impostos, mas dando a convocação do
exército e o controle da política financeira
para o Parlamento, que deveria ser
convocado regularmente. Em 1638, o rei
impôs o anglicanismo na Escócia
presbiteriana (calvinista) e os escoceses
revidaram invadindo a Inglaterra. A Guerra
Anglo-Escocesa exigiu que o rei
convocasse o Parlamento em 1640 (Long
Parliament). O Parlamento tentou limitar os
poderes do rei, executar seus conselheiros
e possuir controle sobre a política religiosa.
O rei dissolveu o Parlamento,
majoritariamente puritano, em 1642 e a
Revolução Puritana estourou. Começava a
Guerra Civil.
A Guerra Civil (1642-9) colocou as
tropas do rei, os cavaliers (cavaleiros),
apoiados pela aristocracia realista, contra
os roundheads (cabeças redondas),
comandados por Oliver Cromwell, e com
apoio dos puritanos, do Parlamento, da
burguesia, da gentry e dos setores
populares. Os irlandeses católicos
rebelaram-se contra a Inglaterra também.
Em 1645, na Batalha de Naseby, as tropas
do rei foram derrotadas, mas o rei foge em
1647. Em 1648, Cromwell vence os
escoceses, e, em 1649, o rei é capturado e
condenado à morte. Cromwell proclama o
fim da Monarquia, dissolve o Parlamento
(Short Parliament) e proclama a República
na Inglaterra.
República de Cromwell: 1649-58
Na República de Cromwell (1649-
58), o Lorde Protetor, a burguesia obteve
representação.
Cromwell fechou o Parlamento,
impôs o puritanismo na Irlanda e na
Escócia e confiscou bens dos irlandeses
católicos. Perseguiu e executou os radicais
puritanos: os levellers (niveladores)
reclamavam a abertura do Parlamento às
classes populares e os diggers
(escavadores), que propunham espécie de
reforma agrária, com distribuição de terras
para pequenos proprietários. A Ditadura
também se efetivou na política externa: em
1651, decretou os Atos de Navegação,
proibindo a circulação de navios mercantes
que não fossem de bandeira inglesa,
tentando atacar o crescente comercio
holandês. Terminou desencadeando duas
guerras, as Guerras Anglo-Holandesas
(1651-54) e a Guerra contra a Espanha
(1654-59), sendo as duas vencidas por
Cromwell, de forma que na última chegou a
ganhar a colônia Jamaica e região de
Dunquerque. Quando Cromwell morreu em
1658, assumiu seu filho Richard Cromwell
que logo abdicou. A monarquia foi
restaurada e a dinastia Stuart
reempossada.
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Restauração Stuart: 1660-1688
O rei Carlos II (1660-85), através do
Ato de Uniformidade, em 1662
restabeleceu o anglicanismo e reiniciou as
perseguições religiosas. Uma praga tomou
conta da Inglaterra e Londres pegou fogo
em 1666. Enfrentou nova guerra contra os
holandeses, que terminou com a troca de
Nova Iorque pelo Suriname, adquirindo
desprestígio popular. No Parlamento, dois
partidos políticos disputavam a cena
política: o whig (burguês e progressista) e o
tory (aristocrata e conservador).
O rei Jaime II (1685-88) tentou
restabelecer o catolicismo. Só que o rei era
casado com um parente direto de Luís XIV,
rei da França e também católico. A ameaça
de que os católicos, e mesmo a França,
tomassem a Inglaterra tornou-se iminente.
Os partidos parlamentares uniram-se e
derrubaram o rei na Revolução Gloriosa de
1688. A coroa foi dada a Guilherme de
Orange, protestante de uma dinastia
holandesa e casado com a filha do rei
Jaime II, Mary Stuart. O Parlamento impôs-
lhe o Bill of Rights, que proclamava a
monarquia constitucional na Inglaterra; o
rei reina, mas não governa, sendo o
Parlamento o órgão máximo do reino. O
ponto mais importante para a história
mundial no documento é a definição de que
o poder do povo deve ser representado no
governo, conceito chave para o Iluminismo
do século XVIII.
Foram três as Revoluções mais
expressivas, na Burguesia: a Revolução
Inglesa, a Revolução Americana e a
Revolução Francesa.
A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
A Revolução Industrial (XVIII)
A Inglaterra conheceu um desenvolvimento
econômico singular ao longo da Idade
Moderna. Também interessados em metais
preciosos, característica central do
mercantilismo, os ingleses não
encontraram ouro in natura nas suas
colônias, o que lhes exigiu outras
estratégias de aquisição. Uma destas
estratégias consistia na formação de uma
grandiosa marinha mercantil para fazer o
comércio de mercadorias que, sob o
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princípio da Balança Comercial Favorável –
comprar barato e vender caro – ofereceria
indiretamente o metal precioso para o
reino.
Além da atividade mercantil, a Inglaterra
possuía outra peculiaridade: no século XVI,
quando de sua ruptura com a Igreja
Católica (formação da Igreja Anglicana), os
bens do clero foram usurpados e vendidos.
O grande efeito foi a capitalização da terra
(incomum no sistema feudal) e a formação
de toda uma camada de pequenos nobres e
burgueses proprietários. A grande
atividade produtiva que interessava a estes
novos proprietários era a ovinocultura,
sobretudo porque o reino investia na
produção de tecidos manufaturados. Para
organizar os rebanhos era necessário
cercar as propriedades: os atos de
cercamento (enclosures acts), realizados,
sobretudo, no reinado de Elisabeth I,
provocaram a expulsão de milhares de
camponeses que estariam supostamente
em terras alheias. Obviamente, estes
camponeses migraram para as zonas
urbanas onde as manufaturas ofereciam
algumas possibilidades de emprego.
Desta forma, estamos falando de
uma economia que se dinamizava, criava
um mercado interno consistente, capaz de
abarcar sua produção, atrelada a uma
atividade mercantil de âmbito mundial (os
ingleses comerciavam até o extremo
oriente). Estes fatores só aumentavam:
após as Guerras Anglo-Holandesas, a
marinha mercantil britânica tornou-se a
mais importante do mundo.
Progressivamente, a Inglaterra
tornava-se uma potencia capaz de
submeter outras a sua economia; algo que
fica evidente no caso de Portugal, onde o
Tratado de Methuen (ou de Panos e Vinhos,
1703) oferecia à Inglaterra uma
oportunidade de aquisição do ouro
brasileiro através da venda de tecidos para
Portugal. Mais, o governo inglês, após a
Revolução Gloriosa de 1688, possuía um
caráter burguês e estimulava
ferrenhamente a livre iniciativa no reino.
Enquanto o campo adquiria avanços
técnicos e oferecia matérias primas, a
atividade manufatureira crescia
velozmente. Como se não bastasse, as
matérias primas para a futura indústria,
como carvão e ferro, eram abundantes no
reino. Este lento processo de intensificação
da atividade manufatureira gerou
transformações tecnológicas na produção.
A grande intenção dos britânicos era a
produção de tecidos de algodão, até então
privilégio dos indianos, com quem eles
travavam intenso comércio. À medida que a
tecnologia permitia, as manufaturas
mesclavam os fios de algodão e lã para a
fabricação de tecidos mais finos. A
primeira grande inovação tecnológica foi a
máquina a vapor, criada por Thomas
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Newcomen em 1712 e aperfeiçoada por
James Watt em 1765. Ela possibilitava o
trabalho de uma máquina, sem
interferência direta da mão-de-obra
humana e com maior capacidade de
trabalho.
A máquina era incorporada ao
processo produtivo, e novas máquinas
surgiram: a máquina de fiar de Hargreaves,
em 1767; o tear hidráulico, de 1768, de
Richard Arkwright; e o tear mecânico, de
Edmund Cartwright, inventado em 1785. As
máquinas ofereciam, primeiramente, maior
produtividade; em segundo lugar, a
padronização da produção; e por último, a
diminuição dos custos da produção.
Paralelamente à inovação na indústria
têxtil, a indústria do carvão e do ferro
lentamente ganhava espaço. Na década de
1780, todos estes setores produtivos
estavam desenvolvidos e as máquinas
dominavam a cena nas principais cidades
industrializadas como Manchester. As
cidades tiveram um surto populacional
gerado pelo êxodo rural (Londres chegou a
um milhão de habitantes) e esta massa de
trabalhadores vivia sob precárias
condições nas zonas urbanas, sendo, pela
abundancia, exacerbadamente, explorada
pelos proprietários industriais. A Revolução
Industrial chegava para ficar. Abaixo, a
máquina a vapor:
Impactos Sociais
Um dos pontos mais importantes,
principalmente do ponto de vista social,
para a compreensão da Revolução
industrial consiste no impacto da inserção
da máquina no processo produtivo: a
substituição da mão de obra humana pela
máquina, gerando o que chamamos de
desemprego estrutural; e, em segundo
lugar, o que Marx chamaria,
posteriormente, de alienação do
trabalhador: o operário executa somente
uma parte do processo produtivo estando
alienado da completude da produção da
mercadoria.
Além destas questões, as condições
de trabalho nas fábricas eram precárias:
15 a 16 horas diárias, sem descanso nos
fins de semana, férias ou direitos
trabalhistas; emprego de mulheres e
crianças indiscriminadamente; falta de
condições de higiene e baixos salários.
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Algumas manifestações
começaram a ocorrer: em Nothingham e
Lancashire surgiu um movimento chamado
Ludismo (1811-1818). Ned Ludd era um
operário que estava discutindo com seu
chefe e quebrou uma máquina a
marteladas no meio da discussão e
terminou dando nome a um movimento
conhecido como o “quebra máquinas”.
Milhares de trabalhadores dirigiam-se até
as fábricas, a invadiam, e quebravam todas
as máquinas lá presentes, tomando por
pressuposto a ideia de que as máquinas
eram responsáveis por sua situação de
penúria.
A ingenuidade do movimento
resultou em resultados nulos. Os
trabalhadores organizaram-se num novo
movimento, o cartismo, e redigiram um
documento, a Carta do Povo (1828), e a
enviaram para o Parlamento Britânico,
onde exigiam direitos trabalhistas: sufrágio
universal masculino, proibição do trabalho
infantil, representação no legislativo,
jornada de trabalho de oito horas e
descanso semanal. Inicialmente, o cartismo
não obteve resultados, mas logo viria uma
crise estrutural do capitalismo em 1830, e
a burguesia pressionada pelos recém
criados sindicatos (trade unions) cederia e
ofereceria os primeiros direitos
trabalhistas.
ILUMINISMO E
DESPOTISMO ESCLARECIDO
O século XVIII assistiu a bruscas
transformações: o sistema colonial
implantado pelos países europeus na
América entrava em crise, provocando
dificuldades financeiras nas monarquias
absolutistas, ao passo que, na Inglaterra, os
processos produtivos nas manufaturas
incrementavam-se com novas ferramentas
e com a inserção das primeiras maquinas.
Concomitantemente a este processo,
fatores geopolíticos do século anterior
fizeram pender a balança para novas
nações: a Guerra dos Trinta Anos, com a
instalação da monarquia de Luis XIV e da
era francesa, e as Revoluções Inglesas, que
colocaram a burguesia no poder da ilha.
Como efeito, os sistemas de
pensamento, desde a filosofia, passando
pela política, até a concepção de economia,
revelou que, cada vez mais, o mundo se
transformava. Este conjunto de idéias
novas, de críticas ao Antigo Regime no
âmbito político – o absolutismo – e
econômico – o mercantilismo – trouxeram
novas luzes aos europeus, sendo
denominadas pelo filosofo prussiano,
Immanuel Kant, de Iluminismo.
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O Iluminismo caracterizou-se pelo
deslumbramento dos europeus com os
frutos da ciência edo progresso. A intensa
atividade investigativa que se seguiu ao
Renascimento formou as bases da
metodologia científica: instalou-se o debate
entre empirismo (baseadoem Francis
Bacon - 1561-1626 e sua proposta de que a
verdade só pode ser demonstrada pela
experimentação) e racionalismo (baseado
nas idéias de René Descartes - 1596-1650
-, que definira o cogito ergo sum – Penso
logoexisto). A figura mais admirada pelos
iluministas foi Isaac Newton (1642-1727),
formulador dos princípios da Física na sua
obra Princípios de Matemática Natural,
supondo que o mundo funcionava como
uma engrenagem. Este afã, por explicar o
mundo e a realidade como um todo sob o
prisma cientifico, consumou-se na
escritura da Enciclopédia, coordenadas
pelo matemático Jean d'Alembert (1717-
1783) e o filósofo Denis Diderot (1713-
1784).
A coleção de livros (mais de 100
colaboradores em 35 volumes) procurava
tratar temas que iam da gravitação ao
conceito de liberdade, sintetizando a visão
cientifica do mundo. Apesar deste viés
cientificista, e da critica constante à Igreja e
do postulado da razão como contraponto à
fé, os Iluministas não eram ateus:
acreditavam que o mundo era obra de
Deus, mas que era cabível explicá-lo
pelaracionalidade.
A crítica econômica
O cenário econômico do século XVIII
apresentavaa crise financeira de países
eminentemente colonialistas e metalistas,
como Portugal e Espanha, e a emergência
da França. Exatamente aí, surgiram
teóricos críticos do mercantilismo: Quesnay
eTurgot, principalmente, apontavam as
fragilidades do sistema vigente e
propunham alternativas.
Segundo estes autores, o comercio,
sustentáculo do mercantilismo, apesar de
superficialmente rentável, somente efetua
a troca de mercadorias já existentes. Ou
seja, não tem capacidade criativa. Para a
economia da época, pré-industrial, restava
como alternativa somente a produção
primaria. A agricultura possui capacidade
de criar produtos, por exemplo, de
sementes uma plantação, que,
posteriormente, podem ser
comercializados. Tais ideias, por
privilegiarem a agricultura como a base da
economia,receberam o nome de
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fisiocracia(do grego, physis: natureza;
krátos: poder).
Do outro lado do canal da mancha,
a Inglaterra, também não privilegiada com
metais coloniais, desenvolvera
manufaturas de artigos básicos, têxteis,
para dinamizar sua economia. Manufaturas
que, lentamente, especializaram seus
processos produtivos, com autilização de
maquinas e com a divisão de trabalho.
Assistindo a este processo, o
pensador britânico Adam Smith admirava-
se com a capacidade produtiva destas
manufaturas têxteis. No primeiro capitulo
de sua obra mestra, Investigação sobre a
causa e as origens da riqueza das nações,
Smith vislumbra as possibilidades de
desenvolvimento social, financeiro e
tecnológico do capitalismo: à abertura de
empresas, se seguiria a geração de
empregos, obviamente assalariados, que,
por sua vez, criariam um mercado
consumidor das mercadorias das
empresas, gerando lucros que, por fim,
convertidos em capital de investimento,
formariam novas empresas e recomeçaria
o processo.
Ou seja, vislumbrando somente os
benefícios do capitalismo, Adam Smith
demonstra como a livre iniciativa
capitalista poderia provocar o
desenvolvimento da sociedade: estava
fundamentada a teoria da economia
política ou do liberalismo: “laissezfaire,
laissezpasser, et le monde va de luimême”.
A crítica política
No âmbito da crítica política, os
iluministas, em nome da liberdade, da
igualdade e da fraternidade, foram
ferrenhos críticos do absolutismo,
emprestando-lhe a alcunha pejorativa de
Antigo Regime. O crítico mais audazd este
sistema foi François Marie Arouet,
conhecido como Voltaire, autor de obras
filosóficas, peças e romances queatacavam
os fundamentos e as classes privilegiadas
do absolutismo, no caso, o Clero e a
Nobreza: O dia mais feliz da minha vida
será aquele em que o último rei for
enforcado nas tripas do último padre, é sua
frase mais famosa. Voltaire escreveu
tratados demetafísica e atacou a Igreja
agudamente: seu anticlericalismo
disseminou-se pela França, onde travou
relações com reis e intelectuais.
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Com um pensamento mais sistemático,
Montesquieu(1689-1755), em sua obra O
espírito das Leis, muito influenciado por
John Locke, apresentou aimportância das
leis para o funcionamento social e a
arbitrariedade da concentração de poderes
reais no absolutismo.
Posto isto, o pensador efetuou uma
proposta radical: a divisão dos três poderes
entre Executivo (administrativo), Legislativo
(criação das leis) e Judiciário (aplicação das
leis), independentes entre si.
No entanto, os mais geniais
iluministas foram os contratualistas: Locke
(1632-1704) e Rousseau (1712-1778) que
cunharam um sistema político onde o povo
estabelece um contrato com o governo que
o deve representar. Locke assistiu à
Revolução Gloriosa Inglesa e um ano após
o evento apresentou suas teses: o filósofo
ficou muito admirado com a capacidade de
organização popular para derrotar um
governo arbitrário. Partindo de um ponto
de vista diferente, Locke, no primeiro e no
segundo Tratado sobre o Governo Civil,
propõe: as disposições naturais do homem
são o exercício da razão e da liberdade. De
forma que a possibilidade do estado de
guerra só se coloca na medida em que um
ou mais sujeitos procuram beneficiar
somente a si mesmos.
Assim, poderia ser decidido pelos
cidadãos que alguém poderia governá-los
para garantir o exercício dos seus direitos.
Retoma-se assim a idéia de
contrato, mas sob um novo prisma: já que o
pacto ocorre entre os cidadãos, e eles
decidem a melhor forma de governá-los, e
este governo, por sua vez, estabelece-se
para garantir o pleno exercício dos direitos
naturais do homem – a liberdade e a
prosperidade – chega-se a outras
conclusões. Se este estado não os garante,
o pacto pode ser revogável. Aí temos uma
distinção crucial de Locke em relação ao
sistema hobbesiano: para este, não havia
direito de rebelião dos súditos contra o
soberano sob hipótese alguma, mas para o
primeiro, o direito existe caso o estado
ataque o povo: não à toa Locke servirá
como fundamentação e legitimação para
alguns movimentos revolucionários –
sobretudo, a Independência Americana.
Jean-Jacques Rousseau construiu
o mais famoso dos sistemas filosóficos
contratualistas. Já inserido numoutro
contexto político (a França desgastada do
final doséculo XVIII) Rousseau fez uma
critica da desigualdade que assistia e das
ações dos estados diante dos
problemaspolíticos. Na sua investigação
sobre a origem dadesigualdade entre os
homens, Rousseau postulou radicalmente
que a origem da desigualdade era a
situaçãoem que alguém diz:
- Isto é meu!
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Quer dizer, diferentemente de
muitos de seus contemporâneos, como
Smith, Rousseau fazia a primeira crítica à
propriedade privada na historia,
estimulando e fundamentando os
radicalismos franceses do período e
provocando até em Marx, um elogio,
quando afirmara que com Rousseau uma
nova era se anuncia. Diferentemente
devários outros autores da época, o filosofo
supunha que naturalmente o homem era
bom, o que ele chamou de o bom selvagem,
mas que a sociedade ensinava as
corrupções e criava desigualdades
posteriormente.
Posto isto, como fazer para a
natureza boa dos sujeitos imperar sobre as
desigualdades geradas pela corrupção
social? E como funcionaria este contrato?
“A questão é encontrar uma forma de
associação que defenderá e protegerá o
todo comum (...) no qual cada sujeito unido
consigo mesmo com todos (...) deve
permanecer tão livre quanto antes.” “As
cláusulas deste contrato (...) propriamente
entendido, devem ser reduzidas a uma – a
total alienação de cada associado, junto
com todos os seus direitos, ao todo da
comunidade; e posto que, cada um doa
absolutamente, as condições. A primeira e
mais importante dedução dos princípios
que nós temos que colocar é que a vontade
geral sozinha dirige o estado de acordo
com o objeto para o qual foi criado, isto é, o
bem comum. Se nos perguntamos o que
precisamente consiste o maior bem de
todos, que seria o objetivo de todo sistema
de legislação, nós o encontraremos
reduzidos a dois objetos centrais –
liberdade e igualdade. Liberdade, porque
toda dependência particular significa força
tomada do corpo do estado; e igualdade,
porque liberdade não pode existir sem ela.
À época do Iluminismo, existiu uma
série de reis absolutistas, principalmente
no Leste Europeu, que efetuaram reforma
em nome do Iluminismo: em virtude do
anacronismo evidente, receberam o título
de despotismo esclarecido ou ilustrado.
Frederico da Prússia, José II da Áustria,
Catarina da Rússia , Gustavo III da Suécia e
Marquês de Pombal em Portugal. Frederico
da Prússia era amigo pessoal de Voltaire
(assim como Catarina da Rússia), escritor
defensor da liberdade, promotor das artes,
das letras e das ciências echegou a
elaborar um código civil que separava o
judiciário do executivo. José II aboliu a
servidão, ofereceu a liberdade religiosa na
Áustria e reformas públicas.
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A Independência das Treze
Colônias
Uma característica peculiar da
administração inglesa das colônias, a
saber, seu aparente desinteresse em
relação a elas, explica-se pelo
enriquecimento do reino da Inglaterra no
século XVI, oriundo da venda de terras
perpetrada por Henrique VIII. Enquanto os
outros reinos europeus, como Espanha e
Portugal, focavam nas colônias latino-
americanas, o estado inglês enriqueceu
tomando as propriedades do clero e
vendendo-as a particulares, deforma que o
empreendimento colonial, suficientemente
custoso, foi deixado de lado. Não à toa, não
temos grandes empreendimentos coloniais
da Inglaterra ao longo do século
elisabetano (destaca-se a expedição de
1585 à Virgínia), mas somente a atividade
de piratas britânicos em busca do ouro
trazido pela Espanha do México e do
Caribe.Esta disputa levou ao estrondoso
confronto entre a “Invencível Armada”
espanhola e a marinha britânica em 1588,
com a surpreendente vitória desta última.
Apesar do enriquecimento e das
bem sucedidas atividades dos corsários, os
ingleses entraram no século XVII em séria
crise financeira. Como é possível? No curto
prazo, a venda das terras enriqueceu o
estado e endividou os particulares; mas,
em longo prazo, estes últimos, quando bem
sucedidos, enriqueceram, e o estado, não
tendo forte taxação sobre as terras, não via
mais fonte de renda – o que se agravava
com o luxo da corte elisabetana que foi
intensificado ao longo do tempo. Não
suficiente, ao problema econômico, somou-
se uma disputa sucessória no trono: a
rainha Elisabeth não deixou herdeiros e a
coroa foi passada para a família escocesa
dos Stuart em 1603. A primeira ideia de
Jaime II foi óbvia: taxação sobre as terras e
empreendimento colonial.
É por tal razão que na primeira
metade do século XVII temos a chegada em
massa de colonizadores na América
Inglesa e a divisão da região em treze
colônias:algumas regiões foram doadas
pelo governo a particulares
(como a região cedida a William Penn,
futuramente Pensilvânia), outras à
companhias de comércio (como as
Carolinas), ou vendidas à holandesas (como
Manhattan) e algumas foram alvo de ações
isoladas de pequenos grupos(como
Massachussets).
A geografia da América Inglesa foi
suficientemente determinante para a
colonização: o norte, de terras
montanhosas, muito frio e infértil, não
apresentou as características tradicionais
para o estabelecimento de um sistema de
plantation, tampouco ofereceu o tão busca
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do ouro; o sul, em oposição, oferecia as
típicas condições tropicais de exploração
agrário-escravista. Não suficiente,os
franceses estavam no Canadá, o que
poderia intensificara rivalidade já existente
entre estes e o reino da Inglaterra.
Novamente, temos que estabelecer uma
relação temporal:a curto prazo, esta
disparidade geográfica foi benéfica para o
sul, mas a longo prazo será para o norte.
Qual a razão?Adiantemos: inicialmente, o
sul será o alvo da grande colonização, ou
seja, receberá atenção dos
ingleses,dinheiro para a construção de
fazendas e latifúndios,grande afluxo de
escravos e estará em constante atividade
mercantil com a metrópole, donde virão os
produtos manufaturados e mais
especializados.
O norte será desdenhado pela
coroa como empreendimento robusto e
ficará nas mãos de pequenos grupos que
abandonam a Inglaterra (majoritariamente
por questões político-religiosas devido às
revoluções do século XVII) e para lá vão
construir uma nova vida. A longo
prazo,qual o impacto disso no norte?
Primeiro, há uma diferença de caráter na
cultura nortista: as pessoas não se
estabelecem somente para explorar um
lugar estranho(colônia) e retornar ao seu
país de origem (metrópole), mas desejam
ali viver. Segundo, não tendo apoio
estatal,tampouco negociações constantes
com o reino inglês, a sobrevivência das
pessoas no norte dependerá muito mais de
sua iniciativa individual: a gama de
produtos necessários à vida – desde o
vestuário até a mobília das casas – terá de
ser produzida ali mesmo. Estas duas
condições levam a dois efeitos importantes:
a) um lento, porém maior desenvolvimento
da atividade especializada (leia-se
secundária); e b) a formação de um espírito
de maior independência em relação à
metrópole, o que, num possível momento
de enfrentamento, facilitará a tomada de
decisão por este povo.
O caso de Massachussets ilustra
perfeitamente o dito acima, pois vem de lá
o que chamamos o “mito de fundação” dos
EUA: em 1620, 102 puritanos, fugindo das
perseguições religiosas no reino da
Inglaterra, embarcam no navio Mayflower,
e descem na região, a qual nomearam de
New Plymouth. Ao chegarem naquela terra
inóspita e gélida, temerosos, fizeram um
acordo entre si, o Mayflower Compact, no
qual definiam que deveriam lutar pela sua
sobrevivência.As dificuldades realmente
surgiram e a primeira colheita foi
devastada e os puritanos quase morreram
de fome. Foram salvos por uma tribo
indígena, que vivia próximo dali, e que lhes
ofertou seu estoque de trigo, bem como
algumas aves,para comer. Em
agradecimento aos índios, os puritanos
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fizeram uma ceia, o thanksgiving, que até
hoje é o principal feriado nacional nos EUA.
Os puritanos sobreviveram e
estabeleceram uma sociedade muito
organizada e, quiçá, até muito rígida. Em
poucos anos, escolas, assembleias
administrativas, hospitais e até
universidades (Harvard está lá e data de
1684) foram erguidas, criando um mundo
totalmente diverso do habitual nas colônias
“de exploração”.Estes homens e mulheres
foram chamados,posteriormente, de “os
pais peregrinos”(PilgrimFathers) e são
aqueles personagens com os quais o
americano típico do nordeste identifica sua
tradição “whiteanglo-saxonprotestant”.
Em oposição a tal, o sul
desenvolveu uma intensa atividade de
plantation, dedicada especialmente ao
tabaco e, posteriormente, ao algodão. Outra
atividade desenvolvida na América Inglesa
era de extrema valia:conhecido como
Comércio Triangular, oferecia capacidade
de ganhos em todas as suas etapas. Os
colonos compravam a cana-de-açúcar
mais barata nas Antilhas(existiam Antilhas
colonizadas pela Inglaterra,
Espanha,França e Holanda), levavam à
América, produziam o melaço, que, por sua
vez, era trocado na África por escravos que,
para finalizar eram trocados ou vendidos
nas Antilhas,onde iniciava todo o processo
novamente.
As possibilidades suficientemente
autônomas de rendimento dos colonos
americanos começaram a ser ameaçada
quando os ingleses venceram a Guerra dos
Sete Anos (também conhecida como
Guerra dos Franceses e Índios, 1756-63).
Conflito complexo, envolveu diversas
nações da Europa em conflito por
diferentes interesses,desde sucessões
monárquicas no velho continente até
disputas territoriais nas colônias. Na
realidade, tratava-sede uma disputa de
poder entre a França de Luís XV (ainda
ancorada no sonho da era Versalhes a de
Luís XIV) e a Inglaterra ascendente de
George III (em desenvolvimento industrial
privado). Vencedora, esta última ganhou o
Canadá e a região do vale do Ohio (famosa
pelo comércio de peles) da França e não
tinha mais potências no seu caminho para
a exploração livre da América (a Espanha
estava em franca decadência).
Desejosa de lucrar com as colônias,
somente um ano após a vitória, a Inglaterra
começou a intervir diretamente na vida dos
americanos: uma série de taxações e
pequenas interferências – às vezes
simbólicas –dariam início aos confrontos
entre britânicos e americanos. A primeira
taxação incidiu, obviamente, sobre o
comércio triangular: a Lei do Açúcar (1764)
octuplicava o imposto de importação da
cana-de-açúcar não-britânica, isto é, o
ponto de partida do sistema, vigente há
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anos, era impedido. Não era mais possível
comprar a cana mais barata, pois se fosse
comprada em alguma Antilha inglesa seria
oito vezes mais cara. Conjuntamente,
desejosos de resguardar a região
militarmente, a Lei do Aquartelamento
obrigou os americanos a abrigarem em
suas próprias casas militares
britânicos (mais de 15000).
No ano seguinte, a Lei do Selo(
StampAct) obrigou todas as
correspondências a passarem pelo sistema
de fiscalização inglês (ratificadas pelo selo
inglês) e a Lei da Moeda proibia a colônia
de utilizar moeda própria (os americanos
utilizavam cartas de crédito e outras
estratégias monetárias). Não suficiente, as
terras mais para o interior da América
foram declaradas reserva indígena e as
terras da região centro-norte passaram
para jurisdição de Quebec. O objetivo:
manter os colonos na zona litorânea,
facilitando a fiscalização.
Como era de se esperar, os americanos
iniciaram formas de resistência ao
intervencionismo britânico.Localizado em
Boston (região portuária), John e Sam
Adams (conhecidos depois como “os
Adams”) criaram a organização “Filhos da
Liberdade”, que estimulava boicotes aos
ingleses e manifestações pacíficas. A
agitação provocada pelas novas medidas
derrubou o ministro George Grenville e um
novo ministro, Charles
Townshend,assumiu.
O novo ministro atacou as medidas,
mas,desafiado, impôs a Lei do Chá (1767),
que fazia do comércio do chá – muito
efetuado pelos colonos americanos –
monopólio da Companhia de Comércio das
Índias Orientais Britânicas. Os filhos da
liberdade organizaram protestos nas sedes
administrativas
metropolitanas. Numa destas
manifestações, numa fria noite de neve em
Boston, os guardas britânicos e mataram
alguns protestantes, no evento conhecido
como Massacre de Boston (1770). Com o
aumento da tensão, três anos depois, os
manifestantes de Boston, disfarçados de
indígenas, tomaram de assalto um barco
da Companhia das Índias Orientais que
recém atracara no porto, renderam os
tripulantes e jogaram o carregamento de
chá no oceano Atlântico. Os jornais
coloniais noticiavam: o dia em que o oceano
virou uma chaleira... A provocação foi
demais. Os ingleses promulgaram um
conjunto de leis que ficou conhecido como
Leis Intoleráveis (1774): o porto de Boston
foi interditado, os colonos foram proibidos
de terem assembléias próprias, na colônia
de Massachussets foi imposto estado de
sítio e os direitos civis passaram
totalmente para julgamento
metropolitano.As colônias reuniram-se –
não todas, somente nove das treze,
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majoritariamente nortistas, pois as
sulistas,dependentes, estavam reticentes –
no Congresso da Filadélfia e formularam e
enviaram ao parlamento britânico uma
petição pedindo direitos iguais e
representantes no legislativo inglês. A
resposta do parlamento foi um ataque de
risos; seguida de alguns ataques militares
em cidades isoladas nas colônias.
Com os ânimos exaltados, muitos
começaram a clamar pela independência. A
proposta se coadunava com as ideias que
circulavam no mundo àquela época,
inclusive algumas vindas da própria
Inglaterra, como as ideias de John Locke,
escritor do fim do século XVII.Locke, no
primeiro e no segundo Tratado sobre o
Governo Civil, propõe: as disposições
naturais do homem são o exercício da
razão e da liberdade. De forma que a
possibilidade do estado de guerra só se
coloca na medida em que um ou mais
sujeitos procuram beneficiar somente a si
mesmos. Assim, poderia ser decidido pelos
cidadãos que alguém poderia governá-los
para garantir o exercício dos seus direitos.
Retoma-se assim a idéia de contrato, mas
sob um novo prisma: já que o pacto ocorre
entre os cidadãos, e eles decidem a melhor
forma de governá-los, e este governo, por
sua vez, estabelece-se para garantir o
pleno exercício dos direitos naturais do
homem – a liberdade e a prosperidade –
chega-se a outras conclusões. Se este
estado não os garante, o pacto pode ser
revogável. Aí temos uma distinção crucial
de Locke em relação ao sistema
hobbesiano: para este, não havia direito de
rebelião dos súditos contra o soberano sob
hipótese alguma, mas para o primeiro, o
direito existe caso o estado ataque o povo:
não à toa Locke servirá como
fundamentação e legitimação para um
colono americano, chamado Thomas Paine.
Paine lançou em 1776, sem
declarar autoria, um panfleto (de cerca de
50 páginas em formato atual), intitulado
“Common Sense”, no qual defendia as
teses de Locke e convocava o povo
americano a se emancipar da Inglaterra.
O texto foi lançado antes da
segunda reunião das colônias ,o Segundo
Congresso Continental da Filadélfia (1776)
reuniu todas as treze colônias e restou
somente a independência. O diplomata
Benjamin Franklin, antigo e respeitável
embaixador na França, coordenou os
trabalhos presididos por John Hancock, e
nomeou o responsável pela escriturada
declaração de independência: Thomas
Jefferson, um intelectual de meia idade,
suficientemente conhecido na América. O
texto da declaração, além de selar para
sempre a história dos EUA com seu destino
democrático, também marca a história da
civilização como o primeiro texto a asserir,
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com força, os direitos individuais à
liberdade e à felicidade.
Por Texto da Independência
A declaração foi recebida como
declaração de guerra na Inglaterra. No sul,
as colônias dependentes econômica, social
e culturalmente da Inglaterra temeram a
independência, e somente a Virgínia aliou-
se com força contra os britânicos, ficando o
foco da resistência no norte. As tropas
foram controladas e organizadas no forte
treinamento e disciplina de Goerge
Washington, um fazendeiro do interior do
país. Ele organizou os minutemen, os
homens armados em suas próprias casas e
prontos a entrar em guerra em um minuto.
O alistamento oficial durava um
ano, e, aos soldados americanos, juntaram-
se os soldados das potências que ficaram
contra a Inglaterra: a França revanchista
da Guerra dos Sete Anos e a Espanha,
velha aliada desta.
A guerra de Independência durou
até 1783, embora a vitória definitiva já
tivesse ocorrido dois anos antes em
Yorktown. Derrotada, a coroa britânica
assinou o Tratado de Paris (1763)
reconhecendo a independência das treze
colônias.
Iniciava o difícil trabalho de organização da
nova nação: monarquia ou república?
Unitarismo ou federalismo?
Jefferson defendeu a autonomia regional e
Alexander Hamilton liderou o grupo dos
centralizadores. A Constituição foi redigida
somente em 1787 e contemplou ideias das
duas correntes: as treze colônias
tornaram-se a República dos Estados
Unidos da América, uma nação
administrada por três poderes
independentes entre si; o Executivo, onde o
presidente, eleito a cada quatro anos (com
direito a uma reeleição) é responsável pela
defesa, política tributária e economia; o
legislativo, dividido em Câmara de
Representantes (proporcionalmente à
população nos estados) e Senado (dois por
estado); e Judiciário, responsável pela
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execução da Justiça. A eleição é indireta e
censitária (excluíam-se, à época, as
mulheres e escravos). Esta constituição é a
constituição vigente nos EUA até os dias de
hoje, obviamente adicionada de emendas
que modificaram pontos cruciais referentes
aos direitos das mulheres e dos negros.
“Mas se alguém disser: Deverá
sempre o povo permanecer exposto à
verdade e furor da tirania? Deverá ver
devastadas suas cidades pela fome, o ferro
e as chamas, e suas esposas e filhos
expostos à luxúria e ludibriedade do tirano?
E a si mesmo e suas famílias reduzidas por
seu rei à ruína e a todas as misérias da
necessidade e opressão? E, com tudo isto,
permanecer parados? Estará vedado só
aos homens o comum privilégio de opor
força à forca que a natureza tão livremente
concede a todos as demais criaturas para
sua preservação frente o dano? Respondo
que a defesa própria, parte é da lei de da
natureza; e não poderá ser negada à
comunidade nem contra o próprio rei, mas
vingar-se dele, de modo algum será
permitido, por não ser, a tal lei, conforme.
Assim, se o rei mostrar ódio não só a
alguns particulares, mas empenhando-se
contra o corpo da comunidade política, da
qual é cabeça, e com maus tratos
intoleráveis tiranizar cruelmente a todas,
ou parte considerável de sua gente, em tal
caso terá, o povo, direito de resistência e de
defender-se do dano, mas terá de ser com
a caução de que tão somente defendam a si
mesmos, mas a seu príncipe não ataquem.
Podem reparar os danos sofridos, mas não
deverão, sob provocação alguma, exceder
os limites da devida reverencia e respeito.
Rechaçar poderão o atual intento, mas não
vingar violências passadas. Porque é
natural defendermos vida e membros; mas
um subordinado castigar um superior é
contra a natureza. (...)O corpo popular pode,
com reverencia, fazer oposição a tirania
intolerável...” (Par. 231)
A REVOLUÇÃO FRANCESA:
1789-1848
O Estado Absolutista Francês
terminou a Guerra dos Trinta Anos (1618-
48) como a maior potencia da Europa. Luís
XIV, o futuro rei-sol, ainda não havia sido
empossado pela tenra idade, e só
assumiria em 1661. O século XVIII seria o
século francês: a corte do rei-sol seria
copiada por todo o continente, assim como
a arquitetura do recém criado palácio de
Versalhes, os costumes e a cultura da
aristocracia francesa. Maior potencia
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econômica e país mais populoso da Europa,
a França dos Bourbons começaria a se
desgastar a partir da metade do século
XVIII.
Já Luís XV, além de seus gastos
exacerbados com o luxo, envolveu-se em
uma guerra com os ingleses, relacionada
com a disputa de territórios coloniais na
fronteira atual dos EUA com o Canadá. A
Guerra dos Sete Anos (1756-63) terminou
com a vitória inglesa e o revanchismo
francês. Com a ascensão de Luís XVI, em
1774, o país entraria num período maior
ainda de desgaste: os gastos do reino
excediam em 20% as rendas, e os ingleses
lentamente desenvolviam sua economia,
dando os primeiros passos para a
revolução industrial.
Neste ínterim, as treze colônias
principiam seu processo de independização
da metrópole inglesa, oferecendo aos
franceses uma oportunidade de retaliação
aos britânicos.
Eis que o reino da França intervém na
Guerra de Independência Americana,
oferecendo dinheiro, armas e até soldados.
Findada a guerra em 1783, os franceses
gastaram mais do que deveriam e a
abertura do mercado americano não
oferecia prebendas suficientes para
compensar as perdas financeiras. Como se
não bastasse, a década de 1780 foi uma
época de más colheitas, provocando
carestia e inflação das mercadorias.
Foi neste ponto que o rei Luís XVI, a
partir do seu ministro Callone, convocou o
II Estado para negociar, na Assembleia dos
Notáveis (1787). Posto que a nobreza não
pagava impostos, nada mais óbvio que,
num momento de crise do estado que a
representa, ela auxiliasse as contas do
Estado. Pelo contrário, a nobreza,
percebendo a fragilidade do rei, procurou
recapturar o poder dos parlements – que
haviam sido retirados por Luís XIV -,
retirando poder do rei. Naturalmente, o rei
demitiu o ministro e empossou Brienne que
sugeriu ao rei fechar a Assembleia dos
Notáveis. Os nobres então receberam o
apoio do povo, que começou a atacar as
tropas reais nas ruas, atirando-lhes
pedaços de telhados de casas quebrados,
no episódio conhecido como jornada das
Telhas. Novamente, um ministro era
demitido. Luís XVI empossa Necker e
propõe a convocação da Assembleia dos
Estados Gerais para o ano seguinte.
Esta Assembleia consiste numa
reunião de representantes dos três estados
do reino onde decide-se alguma questão
importante à França, no entanto, o sistema
de votação é peculiar: os votos não são por
cabeça, mas por ordem, o que significa que
a tendência da votação pende para o lado
dos dois primeiros estados a quem o
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estado representa e legitima. O terceiro
estado pressionou para duplicar os seus
representantes e conseguiu, o que na
prática não significa nenhuma grande
transformação, mas oferece a possibilidade
de representantes de diferentes estratos
sociais serem representados no Terceiro
Estado.
A Assembleia dos Estados Gerais
abriu a sessão em maio de 1789, e a
representação numérica dos estados era a
seguinte: I Estado, 291; II Estado 270; III
Estado 578. Inicialmente, votaram-se
diferentes propostas de modificação da
carga tributária: já que o terceiro estado
era o único pagador de tributos, todas as
propostas recaíam em alguma espécie de
tributação para os dois primeiros estratos.
Como era de se esperar, as votações não
passaram. Eis que propuseram então, a
modificação da votação para voto por
cabeça, ao invés de por ordem. Mas a
votação foi por ordem!!! Quando novamente
derrotados, os membros do Terceiro
Estado se retiraram do salão central do
Palácio de Versalhes e se dirigiram para a
sala do Jogo de Péla (um jogo típico da
nobreza francesa da época) em protesto.
Fizeram então um juramento de que
enfrentariam a nobreza na conquista de
seus objetivos até o fim, e que estavam lá
reunidos para redigir uma Constituição
para o reino da França. Ao que o rei
respondeu:
- então, eles que se danem, que fiquem aí...
Começava a Revolução Francesa.
Assembleia Nacional
Constituinte: jul1789 - set 1791
A guarda real tentou expulsar os
representantes do terceiro estado, mas
além eles beiravam os seiscentos, visto
que alguns membros do baixo clero e
alguns liberais entre a nobreza juntaram-
se a eles. O ministro foi novamente
demitido, e o povo se rebelou.
Necker representava o ministro que
tentou negociar com o terceiro estado, e
sua demissão foi vista como mais um ato
arbitrário do rei. Muito importante frisar
que nesta época na França todas as teses
iluministas eram amplamente divulgadas, o
que servia como uma ferramenta de ação
revolucionária contra o absolutismo
monárquico. Foi assim que o povo foi às
ruas apoiando seus representantes.
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Um dia após a demissão de Necker
milhares de pessoas invadiram o Hôpital
dês Invalides e capturaram as armas da
guarda real. Contudo, a munição estava
guardada em outro lugar, numa velha
prisão, símbolo do absolutismo real, para
onde iam todos os críticos do estado, a
Bastilha. Programou-se então a invasão da
Bastilha para o dia seguinte. Cinquenta mil
pessoas dirigiram-se, no dia 14 de julho de
1789, à Bastilha e foram impedidos pelo
guarda real Visconde de Launay. Então se
procedeu a invasão. Em alguns minutos, a
cabeça de Launay era empunhada numa
lança no meio dos revoltosos, agora
armados.
No mês seguinte, na zona rural, os
camponeses, já cansados da carestia
oriunda das más colheitas, começaram um
intenso período de invasões de
propriedades e ataques aos nobres
conhecido como o “Grande Medo”.
No mesmo mês, os representantes
do povo tomam duas resoluções cruciais:
no dia 4, proclamam a abolição dos
privilégios feudais e no dia 26 a Declaração
dos Direitos do Homem e do Cidadão. Os
momentos seguintes são tensos,
apresentando diversas tendências na
política, e o rei, retirado no Palácio de
Versalhes é convocado por uma passeata
somente de mulheres a retornar a Paris,
em outubro. Em novembro, os bens do
clero são secularizados, e em fevereiro de
1790, proclama-se a Constituição Civil do
Clero, que submetia a Igreja e o Estado.
No ano de 1791, a família real
começa a pôr em prática um plano escuso:
o rei é preso, na região de Varennes,
tentando fugir da França, sendo
reconduzido a Paris, onde fica sob
observação dos revolucionários. Neste
momento, a Constituição fica pronta,
possuindo caráter censitário de votação e
eleição, e o rei presta juramento a ela, em
setembro do mesmo ano. Agora a França
possuía uma monarquia constitucional,
onde o rei seria auxiliado pela Assembléia
Legislativa.
Assembleia Legislativa: out 1791-
set 1792
Dentro da Assembleia Legislativa,
constituíram-se diferentes grupos com
diferentes propostas. Os partidários do rei,
feuillants, propunham uma reforma
moderada, aceitando, com razoável
relutância, a nova constituição. Na posição
centrista, os independentes, não
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demonstravam clareza na posição e
votavam de acordo com a direção dos
ventos. Em contrapartida, à esquerda, os
montanheses eram todos republicanos,
favoráveis ao fim da monarquia, e à
radicalização do processo revolucionário,
possuindo, dentro do próprio grupo, os
moderados, oriundos da Planície da
Gironda (girondinos) e os mais
exacerbados, que se reuniam no Convento
de Saint Jacques (jacobinos).
Grupo Republicanos
(montanheses)
Classes Média e pequena
burguesia, populares e
sans-culottes
Ideias Jacobinas
(radicais)
Girondinos
(moderados)
Protagonistas Robespierre
Danton
Brissot
Roland
Grupo Independente
s (Planície ou
Pântano)
Feulliants
Classes Burgueses
Liberais
Nobreza
Liberal e
Alta
Burguesia
Ideias Constituciona
is
Monarquist
as
Protagonist
as
Abade Sieyés La Fayette
Neste período, todos os grupos políticos
rivalizavam entre si: o Segundo Estado
contra o Terceiro Estado, dentro do
Terceiro Estado, a burguesia moderada
contra os Sans-Culottes e camponeses
radicais e, como se não bastasse,
principiava a surgir, desde fora, ameaças à
Revolução.
O Império Austro-hungaro,
conjuntamente com o reino da Prússia,
comunicava à França que o processo de
transformação social deveria acabar sob
risco de intervenção imperial. Sendo uma
revolução contra o Antigo Regime,
podemos compreender porque a Revolução
Francesa assustava tanto o mais
importante império da época. Como nem
uma ponta do processo estancou, os
Impérios declararam guerra. O povo
francês solicitou ao rei a declaração de
guerra e ele vetou. Na realidade, Luís XVI
esperava que o ataque imperial acabasse
com a centelha revolucionária e a França
retornasse à normalidade. Mas, diante da
recusa de guerra, o rei é considerado
traidor da pátria, Robespierre, líder
jacobino, anuncia que a “pátria está em
perigo”, cria a Comuna Insurrecional de
Paris (uma organização militar para
defender a França) que carregava um grito
de guerra (A Marselhesa, futuro hino da
França) e a guerra principia. Duas vitórias
dos revolucionários: primeiro, o Palácio das
Tulherias é tomado, e o rei preso; segundo,
na região de Valmy, os revoltosos derrotam
as primeiras tropas imperiais. Estava
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assim decretado o fim da Monarquia
francesa e a instalação de um novo sistema
político, uma República, governada pelos
montanheses, através da Convenção
Nacional.
Convenção Nacional: set 1792-
out 1795
Agora, sob novo governo, mesmo os
montanheses se dividiram em várias
correntes de acordo com a radicalização da
proposta.
Jacobinos ou montanheses
Esquerda Centro Direita
Enragès Cordeliers Robespierristas Indulgentes
Jacques
Roux
Marat e
Hebért
Robespierre
e Saint-Just
Danton
Convenção Girondina: set 1792-
jun 1793
Num primeiro momento, os
girondinos, moderados, assumiram o
poder. Procederam imediatamente ao
guilhotinamento do rei Luís XVI e
organizaram o exército para lutar contra a
coalizão europeia contrária à Revolução.
Sofreram um revés quando um dos
generais dos revoltosos, Dumouriez, traiu a
Revolução e assinou a paz com os
austríacos. No Comitê de Salvação Pública,
Robespierre anunciava a traição dos
girondinos e propunha a radicalização
contra o grupo. Na região de Vendéia,
fronteira da França, uma batalha contra as
tropas imperiais parecia não ter fim:
milhares de pessoas morriam, a produção
caíra, com todos os efeitos
socioeconômicos que isso pode causar. Os
Jacobinos, então dão um golpe e assumem
o governo em junho de 1793.
Convenção Jacobina: jun 1793 –
jul 1794
A primeira medida jacobina foi a
proclamação de uma nova Constituição, a
Constituição do Ano II, a mais radical, com
sufrágio universal e proposta de reforma
agrária e abolição da propriedade privada.
Uma ofensiva anti-radicalização tomou
conta da França, e um dos líderes dos
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jacobinos, Marat foi encontrado morto na
banheira de sua casa. Robespierre toma a
frente da Revolução e assume como
presidente do Comitê de Salvação Pública.
Impõe a Lei dos Suspeitos, onde todos
aqueles supostamente contra-
revolucionários deveriam ser delatados e
julgados no tribunal Revolucionário, e, além
disto, criou o Exército Revolucionário,
convocando a população a lutar em nome
da Revolução. Para contornar o problema
da carestia e da inflação, proclamou o
maximum (lei do Preço Máximo) para todos
os produtos, facilitando o acesso dos
populares aos produtos básicos. O
calendário foi modificado: os meses
trocaram de nome (brumário, vendimiário,
nivoso, frutoso, termidor) e os anos
passaram a ser contados a partir da
proclamação da república. A cultura
iluminista foi estimulada e promoveu-se
discussões e publicações revolucionárias.
Uma nova tábua de pesos e
medidas foi estipulada e até a linguagem
sofreu alterações: as pessoas não podiam
mais se chamar de vous (estilo formal),
somente de tu (estilo coloquial).
Com o guilhotinamento de Maria Antonieta,
iniciava o período do terror, quatro meses
de fevereiro a julho de 1794, onde milhares
de pessoas eram guilhotinadas por
suspeita de contra-revolução: radicais de
esquerda, moderados de esquerda, e
membros da direita. Tudo em nome da
igualdade, da liberdade e da fraternidade...
Rapidamente, formou-se um contragolpe
moderado, disposto a derrotar Robespierre.
No dia 9 do Termidor, os girondinos
prenderam Robespierre e seus aliados e os
guilhotinaram no outro dia, dando início a
um novo período da Revolução.
Convenção Termidoriana:
jul 1794- out 1795
A primeira intenção dos girondinos
foi extirpar o ímpeto radical. Impôs-se o
terror branco: robespierristas, hebertianos,
enragés em geral, foram guilhotinados ou
condenados à prisão. Em meio à crise
generalizada, o governo assinou tratados
de paz com as potencias estrangeiras e
organizou um novo governo: o Diretório.
Diretório: out 1795 – nov 1799
Planície Gironda
Moderada Conservadora
Sieyés Brissot, Roland e
Dumouriez
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O Diretório tinha um caráter
moderado até em sua estrutura político-
administrativa: os cinco membros que
compunham o Diretório eram auxiliados
pelo Conselho dos Anciãos e dos
Quinhentos, que possuíam um caráter
suficientemente aristocrático. Foi um
governo inapto para lidar com a crise
econômico-produtivo e corrupto para lidar
com as finanças e anseios populares.
Alguns jacobinos ressurgiram, como foi o
caso de Gracous Babeuf, um radical que
propôs a coletivização da terra, numa
organização conhecida como Conjuração
dos Iguais, mas foi guilhotinado.
Aproveitando a moderação da
Revolução, os realistas tentaram retornar o
poder, mas não conseguiram. Enquanto a
França encontrava-se arrasada
internamente, nas campanhas externas,
um general oriundo da Córsega lograva
algumas vitórias nas conquistas da Itália e
do Egito. Napoleão Bonaparte rapidamente
se tornaria conhecido dentro da França por
seus êxitos militares, e, diante, da ameaça
de uma nova coalizão europeia contra a
franca, o jovem general armou,
conjuntamente seu irmão, membro do
conselho dos 500, um golpe. O irmão de
Napoleão sugeriria seu nome para o
Diretório e caso fosse recusado – o que era
esperado por eles – Napoleão, estacionado
com suas tropas a cinco minutos do
Conselho, invadiria, perpetrando o golpe.
Conforme o esperado, seu nome foi negado,
e Napoleão invadiu o Conselho. Era o golpe
do 18 de Brumário, o fim da Revolução
Francesa, e o inicio da era Napoleônica.
ERA NAPOLEÔNICA: 1799-
1815
O golpe do 18 do Brumário
promoveu a ascensão de Napoleão
Bonaparte como primeiro cônsul da
França, auxiliado pelos outros dois
cônsules, Roger Ducos e Abade
Sieyés.
Consulado: 1799-1804
As primeiras medidas de Napoleão
eram dirigidas à organização da França
após anos de revolução, seja na
reconstrução da infra-estrutura do país ou
na consolidação das conquistas legais.
Napoleão organizou a burocracia tal como
a conhecemos:
ü Judiciário: estabelecimento das Cortes
de Cassação para execução das leis;
ü Ensino: estabelecimento do ensino nos
liceus;
ü Administrativo: criação das prefeituras,
nomeação de ministros e de executores
de política econômica;
ü Legislativo: o Senado cria as leis, o
Tribunado opina, o Corpo Legislativo
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vota e o Conselho de Estado emite um
parecer;
ü Exército: organização das forças
armadas, com o alistamento militar;
Além das medidas de política interna,
Napoleão assinou uma concordata com o
papa, adquirindo prestígio com o Clero que
se via ameaçado desde a Revolução e
firmou tratados de paz com as potencias
estrangeiras (Paz de Amiens com a
Inglaterra).
Em 1802, Napoleão propôs o
Consulado Vitalício para si mesmo, e, dois
anos depois, promulgou o Código Civil
(1804), onde consolidava as conquistas
burguesas, legitimando a propriedade
privada e a igualdade de todos perante a
lei. Obviamente, os sonhos radicais
jacobinos ficaram de fora do projeto
napoleônico.
Tendo centralizado o poder,
organizado a política francesa e adquirido
prestígio com quase todos os estratos
sociais, Napoleão coroou a si mesmo, visto
que retirou a coroa das mãos do papa,
imperador da França, no dia 2 de dezembro
de 1804.
Napoleão
Império: 1804-1815
Os planos de Napoleão eram
ambiciosos para o Império: a guarda
imperial passou de 7 mil homens para 100
mil homens; a imprensa passou a ser
censurada e as assembleias foram
fechadas. Ao mesmo tempo, a economia
francesa somente prosperava, com a
organização produtiva interna e com a
abertura de mercados aos franceses. Foi
neste ponto que os ingleses organizaram,
conjuntamente com o Império Russo,
Império Austro-Hungaro e Suécia, a
Terceira Coalizão contra a França e
decretaram um bloqueio internacional ao
comércio francês. A guerra era inevitável,
mas Napoleão superestimou sua marinha.
Na Batalha de Trafalgar (1805) os
ingleses derrotaram os franceses, mas na
Europa Central, Napoleão obteve maciça
vitória contra os austríacos na Batalha de
Austerlitz (dezembro de 1805), tendo
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assinado, na paz de Presburg, a
incorporação de regiões da península
itálica e decretado o fim do Sacro
Império Romano Germânico. Na Batalha de
Friedland (Prússia), os franceses
derrotaram os prussianos e russos. Além
destas estratégias, Napoleão Bonaparte
utilizou sua influencia para, a partir de uma
política nepotista, controlar também
Holanda e Espanha.
Mas a Inglaterra ainda não havia
sido vencida. Já que Napoleão não podia
vencê-la militarmente resolveu atacá-la
economicamente. Com o Decreto de Berlim
(1806), Napoleão impunha o Bloqueio
Continental, proibindo os países europeus
de comercializarem com a Inglaterra sob
pena de invasão pelo exercito francês.
Alguns países, devido à intensa atividade
mercantil com os ingleses não poderiam
aderir ao Bloqueio. Era o caso de Portugal:
o rei Dom João VI negou-se a participar do
bloqueio e sofreu a invasão francesa. O
mais curioso é que o rei fugiu do país,
conjuntamente com milhares de sua corte,
dirigindo-se à colônia, no caso, o Brasil,
entregando o povo português à sua própria
sorte.
A Espanha também se negou e
sofreu a invasão francesa: derrotada pelas
tropas napoleônicas, viu o imperador
francês empossar o próprio irmão no lugar
de Fernando VII, num processo que
provocaria revoltas nas colônias
espanholas, dando inicio ao processo de
independência. Apesar destes percalços, a
França logrou bons resultados econômicos,
sobretudo porque adquirira territórios,
abertura comercial para seus produtos de
luxo e taxas favoráveis.
Na década de 1810, os ventos
mudariam para os franceses: os conflitos
alfandegários com os ingleses
aumentaram, a produção britânica, de
melhor qualidade, ganhava dos produtos
franceses, e, lentamente, uma crise
econômica parecia se apossar do país.
Napoleão novamente procurou resolver os
problemas com guerras e anexações.
Diante do explicito comercio entre russos e
britânicos, o imperador convocou 500 mil
homens para uma grande invasão à
Rússia. A estratégia de terra queimada do
tzar Alexandre consistia na fuga da
população e na destruição de toda infra-
estrutura da região, o que significava
avanço francês, mas impossibilidade de
alimentação, abrigo e sobrevivência para o
exército, num frio de – 20 °C. Quando chega
a Moscou, em setembro de 1812, Napoleão
só mantinha 95 mil homens, e encontra
uma cidade desabitada e em chamas e é
forçado a retornar à França.
Neste retorno, os países europeus
unem-se contra os franceses
desencadeando a Batalha de Leipzig
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(1813), em que o exército é derrotado, mas
Napoleão consegue escapar. Quando os
aliados entram em Paris (1814), Napoleão é
forçado a abdicar e é exilado na Ilha de
Elba. Napoleão conseguiu escapar da ilha
de Elba e, apoiado no exército, retorna ao
poder na França para o governo dos Cem
Dias (1815).
Apesar do esforço napoleônico para
resgatar a grandeza das forças armadas,
os aliados foram superiores e, na Batalha
de Waterloo, foi definitivamente derrotado.
Napoleão foi à ilha de Santa Helena, no
Atlântico Sul, onde morreria em 1821.
Expansão Napoleônica
IDEOLOGIAS DO SÉCULO XIX
Liberalismo
Revelou-se como um conjunto de princípios
e ideias que orientou e organizou os
procedimentos político-econômicos, na
perspectiva da ordem burguesa. A
liberdade individual no campo político e
econômico caracterizou-se como sendo o
seu principal fundamento. A religião da
liberdade.
No Campo Material:
ü Livre empresa;
ü Abstenção do Estado;
ü Eliminação dos entraves e barreiras à
livre circulação de mercadorias;
ü Proíbe os sindicatos;
ü Liberdade de contrato entre patrões e
empregados;
ü Abolir entrave ao desenvolvimento
capitalista; Daí o gosto da burguesia
pelo Liberalismo.
No Plano Político:
ü Liberdade é fundamental ao individuo;
ü Constituição;
ü Três Poderes livres e divididos;
ü Representação aos “Ativos”
proprietários, empresários e indivíduos
com renda alta;
ü Monarquia Constitucional;
ü República e Sufrágio Universal são
ameaças, que colocam em xeque a
Propriedade e a Segurança.
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Nacionalismo
“As Nações como os indivíduos, tem
direito a ser livres e gozar da
autodeterminação, desse modo, as Nações
divididas em vários Estados devem
unificar-se, enquanto as que se encontram
submetidas a um Estado devem libertar-se
e constituir-se em unidades políticas
autônomas.”
Falcon Moura
Três Ondas Revolucionárias
Por Eric Hobsbawn:
ü 1820-1824: ocorreram Revoluções
burguesas na Espanha, Nápoles e
Grécia; duramente reprimidas.
ü 1829-1834: Bélgica X Holanda; Polônia
X Rússia e Prússia; Alemanha e Itália
emanciparam-se; Irlanda Católica X
Grã-Bretanha;
ü 1848: Movimentos Liberais na França e
Nacionalistas na Alemanha, Itália e
Império Austríaco.
ü A massa iletrada estava contra o
domínio estrangeiro;
Os intelectuais pensavam um
Estado Nacional Forte e
Unificado,
Socialismo Utópico
Os primeiros socialistas eram
majoritariamente franceses, Saint-Simon e
Charles Fourier, tendo juntado-se a eles a
figura de Robert Owen. O ponto de partida
do socialismo utópico era a crítica do
sistema capitalista, sobretudo no que ele
provocava de injustiça social. Seguramente,
o capitalismo transformava a sociedade e
terminava por submeter algumas pessoas
a outras, num processo de exploração.
Ainda mais, o capitalismo findava com os
laços sociais tradicionais, jogando as
pessoas num mundo competitivo, onde a
colaboração social e o senso de
comunidade restavam em segundo plano.
Desta forma, para construirmos
uma sociedade igualitária, despida destas
mazelas, bastava atacar o pressuposto
básico do sistema que assim o fazia
funcionar: a propriedade privada. Desta
forma, os socialistas utópicos propunham
então a criação de comunidades
igualitárias, baseadas na propriedade e
produção coletivas: segundo estes autores,
as pessoas deveriam trabalhar
cooperativamente, de acordo com as
necessidades da comunidade, e, cada uma,
de acordo com suas vontades,
possibilidades e vocação. Fourier chegou a
sonhar com pequenas comunidades, que
ele chamou de falanstérios, (de no máximo,
duas mil pessoas) onde não haveria
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distinção social, e todos trabalhariam pelo
bem comum. Robert Owen chegou a
instalar profundas transformações: direitos
trabalhistas, fez melhorias nas condições
de trabalho e construiu escolas.
Quando residiu nos EUA, criou uma
comunidade chamada New Harmony onde
as pessoas trabalhavam e recebiam uma
quantia de mercadorias de acordo com seu
trabalho numa economia desmonetarizada.
Socialismo Científico
Karl Marx e Friedrich Engels
tornaram-se os socialistas mais famosos,
sobretudo porque suas formulações foram
aplicadas ao longo do século XX em
diferentes lugares, provocando distúrbios
políticos de grandes proporções.
Concordavam com o pressuposto
básico de crítica ao capitalismo dos
socialistas utópicos, mas discordavam,
principalmente, da ingenuidade de suas
formulações (foi Marx quem os denominou
utópicos).
A proposta marxista,
fenomenalmente apresentada no seu livro
O Capital, era a formulação científica de um
caminho para uma sociedade mais
igualitária, daí o marxismo ser conhecido
como socialismo científico. Para tal, Marx
elaborou uma teoria da História.
Analisando as etapas que a
sociedade passou, o filósofo vislumbrou
uma constante: patrícios X plebeus, nobres
X servos, nobres X burgueses, ou seja, a
história é a história da luta de classes. Isto
significava que, em cada época,
especificamente, em cada modo de
produção (asiático, feudal, capitalista) havia
uma classe dominante (detentora dos
meios de produção) e uma classe
dominada (força de trabalho), e que o que
relaciona as classes, e as situa em cada
posição, é a propriedade privada. Assim
Marx também atacava a propriedade
privada, mas sob um prisma mais
complexo.
Contudo, especialmente no sistema
capitalista, Marx enxergava algumas
transformações radicais. Primeiro, a
introdução das máquinas, provocando
alienação do trabalhador no processo
produtivo, por não dominar todas as etapas
da produção e, por seu efeito principal, o
desemprego estrutural. Segundo, o sistema
capitalista, ao comercializar os seus
produtos, o faz com um valor acima do seu
custo real de produção, o que Marx chamou
de mais-valia. Ora, é esta a taxa que
oferece o lucro ao burguês.
Até aqui, poderíamos supor que
Marx efetua somente uma defesa dos
operários diante da exploração burguesa.
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Mas o fato é que, se seguirmos o
raciocínio, descobriremos que a tendência
do capitalismo é aumentar
progressivamente a sua produção, mas não
os salários dos trabalhadores. Só que os
trabalhadores são o mercado consumidor
dos produtos industriais, logo poderia
haver um ponto onde há um desacordo
entre oferta e procura.
Karl Marx
Assim, o filósofo capta, a partir da
lei fundamental da economia, a lei da oferta
e da procura, uma provável contradição
interna do capitalismo que ele chamou de
crise de superprodução. É exatamente aí
que o sistema deixaria de render lucros
também para os burgueses e entraria em
colapso. A proposta marxista então era a
instalação de uma
ditadura do proletariado neste momento.
Esta tese apareceu no seu livro Manifesto
Comunista (1848). Os operários usurpariam
o poder e aboliriam a propriedade privada,
repassando-a completamente para o
estado.
As fábricas e os campos seriam
coletivizados e o Estado organizaria uma
sociedade distributiva de acordo com o
trabalho de cada um: é a etapa do
socialismo. Todavia, a proposta do
socialismo científico não pára aí. Deveria
haver, sob o socialismo, um lento trabalho
de conscientização de classe, que
promoveria, progressivamente, uma
diminuição do Estado até a implantação do
comunismo. Nesta etapa, o Estado seria
desnecessário e as comunidades coletivas
seriam auto-sustentadas, distribuindo a
produção de acordo com a necessidade de
cada um.
O anarquismo ou Socialismo
Libertário
Os anarquistas são um conjunto de
autores que atacaram o sistema capitalista
de forma mais radical. Proudhom escreveu
um texto: O que é propriedade privada?
Onde utilizava o seguinte argumento:
a) todos os objetos do mundo não tem
dono;
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b) mas muitas pessoas afirmam e utilizam
alguns objetos – como a terra – como
propriedade privada;
c) quando alguém utiliza algum objeto
como propriedade sua e não do outro
também, está retirando do outro; logo
d) a propriedade privada é um roubo.
O argumento convocou muitos operários a
aderirem às teses radicais do anarquismo,
que planejavam a abolição de toda e
qualquer propriedade privada.
Além disto, os anarquistas
achavam que o Estado representava
interesses classistas e burgueses e
terminava por legitimar a desigualdade de
classes. Desta forma, deveríamos abolir
imediatamente também qualquer forma de
Estado, ou instituição que o representasse
ou representasse hierarquia. Eis o lema
anarquista: sem fé, sem rei, sem lei; ou
seja, sem sistemas representativos,
governos e autoridades e, tampouco,
religião.
Bakunin, um anarquista russo,
chegou a dizer que se Deus realmente
existisse, seria necessário fazê-lo
desaparecer. Os anarquistas, por incrível
que pareça à primeira vista, se digladiaram
com os socialistas científicos, visto que
divergiam quanto às formas de se chegar à
sociedade igualitária. Os anarquistas não
toleravam o estágio “necessário” da
Ditadura do Proletariado, proposto pelos
marxistas, e convocavam à completa
abolição do estado.
Estes debates entre os socialistas
foram calorosos nos encontros
internacionais conhecidos como as
Internacionais Socialistas.
A Primeira Internacional (1864-76):
marcada pela discussão entre Bakunin
(anarquista) e Marx (socialista científico),
sobre os estágios da Revolução Operária. A
Segunda Internacional (1891-1914):
marcada pela ascensão de socialistas
moderados (social-democratas) e pela
convocação de Lênin e Rosa Luxemburgo
para a Revolução Proletária Marxista.
Socialismo Cristão ou Doutrina
Social da Igreja
A crescente onda de levantes
sociais e agitações políticas exigiram um
posicionamento da Igreja Católica. Foi
então que o papa Leão XIII publicou a bula
rerum novarum, onde convocava os
empresários do mundo inteiro a
implantarem uma política de melhoria das
condições de trabalho, através de um apelo
ao espírito cristão da fraternidade e da
dignidade. Obviamente, a bula condenava
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as propostas revolucionarias do marxismo,
principalmente porque Marx atacara
profundamente a religião chegando a dizer
que a “religião é o ópio do povo”. Assim, o
papa propunha a humanização do
capitalismo, a colaboração entre as classes
sociais, mas, tudo isso, negociado
diretamente entre trabalhadores e patrões,
sem a intermediação do Estado.
REVOLUÇÕES DE 1830 E
1848
O Século XIX
O Congresso de Viena (1815) reuniu
as grandes potencias europeias (Inglaterra,
Áustria, Prússia e Rússia), com o objetivo
de reorganizarem a política do continente
após as agitações revolucionárias
francesas, e, sobretudo, o período
napoleônico. Metternich, chanceler
austríaco, propôs a reconfiguração do
mapa europeu, de acordo com as fronteiras
anteriores às invasões napoleônicas,
enquanto Talleyrand propôs o Principio da
Legitimidade que restaurava as
monarquias no poder. Desta forma, no
trono espanhol, Fernando VII foi
reempossado; em Portugal, uma situação
inusitada: o rei estava na colônia e elevou o
Brasil à condição de reino unido a Portugal;
na França, os Bourbons retornaram ao
poder na figura de Luís XVIII. Por iniciativa
do tzar russo, Alexandre I, os três grandes
impérios, o russo, o austro-hungaro e o
prussiano, reuniram-se numa aliança
político-militar, a Santa Aliança, visando
resguardar a restauração absolutista. A
Santa Aliança interviria em qualquer país
caso novos ventos revolucionários
soprassem. Algumas intervenções de baixo
impacto realmente foram feitas, mas a
Santa Aliança logo entrou em decadência,
sobretudo pelo fato de que a Inglaterra não
participou e os EUA negaram-se a intervir
no problema europeu. O que os EUA tinham
em mente era a política conhecida como
Doutrina Monroe: não intervimos na
Europa, e a Europa não intervém na
América: a América para os americanos.
As quatro principais revoluções
burguesas foram: a Revolução do Porto,
que ocorreu em Portugal, e exigiu que a
família real retornasse do Brasil, em 1821;
a Revolução na Bélgica e na Grécia, que
com apoio da Inglaterra e da França, se
libertam da Holanda e do Império Turco-
Otomano, em 1830; a Revolução na França,
na qual se restringe o poder político da
burguesia, em 1830; e a Primavera dos
Povos, que toda a Europa é sacudida pela
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força do proletariado, imbuídos pelo
Manifesto Comunista de Karl Marx e F.
Engels. Todas estas revoluções tiveram em
comum, a propagação do liberalismo e
nacionalismo, como ideologia, a
subprodução agrícola e o subconsumo
industrial, o descontentamento do
proletariado urbano e o descontentamento
com a burguesia.
A França entre revoluções (1815
a 1848)
Luís XVIII assumiu o governo num
período conturbado. Apesar do sucesso da
contra-revolução após anos de agitação
social, os anseios burgueses e populares
eram latentes. Por exemplo, o rei não pode
retornar ao absolutismo propriamente dito,
tendo que, ainda que outorgada, redigir
uma Constituição. A constituição
consagrava princípios burgueses – como a
igualdade perante a lei -, tranquilizava os
nobres – resguardando as propriedades -,
organizava a administração – o Rei
compunha o Conselho dos Pares e o
Conselho dos Deputados era eleito pelo
“povo” -, mas, para demonstrar a fraqueza
do espírito revolucionário, a constituição
possuía um caráter censitário, tornando
eleitores, somente cem mil dos trinta e três
milhões de franceses. No entanto, ainda
havia divergências políticas graves: os
ultra-realistas, liderados pelo Conde de
Artois, irmão do rei chocavam-se
constantemente com os republicanos e
bonapartistas que desejavam depô-lo. Os
ânimos se exaltaram quando da morte de
Luís XVIII, em 1824. Assumindo com o titulo
de Carlos X, o rei era tido como um
reacionário e a contestação ao seu reinado,
exigiu que ele realmente agisse desta
maneira.
Censurou a imprensa, prendeu
agitadores políticos, reprimiu os críticos do
Clero e, ainda, indenizou a nobreza que
havia perdido seus bens sob a Revolução
de 1789. Como se não bastasse, o rei
decretou as Ordenações de Julho de 1830,
restringindo ainda mais os critérios de
eleição no reino, impondo a censura total à
imprensa e dissolvendo a Câmara dos
Deputados. Mais, devemos recordar que
neste ano iniciava o ciclo de crise
econômica na Europa e o povo francês
sofria com seus efeitos. Neste momento, o
povo saiu às ruas. Em três dias, conhecidos
como os dias gloriosos (27, 28 e 29 de
julho) a agitação popular tomou conta da
França e o rei foi deposto.
Era a primeira das Revoluções
Liberais de 1830, que rapidamente
provocou efeitos na Europa inteira: a
Bélgica revoltou-se contra a Holanda e
surgiu como nação; na Itália, Polônia e
Alemanha, os liberais e nacionalistas
revoltaram-se contra os governos
aristocráticos e impérios estrangeiros e a
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Grécia rebelou-se contra o Império Turco
Otomano. A Revolução na França recebeu a
alcunha liberal porque o governo que
assumiu, na figura de Luís Filipe de
Orléans, propunha representar a burguesia
francesa. O novo governo, conhecido como
Monarquia de Julho, manteve a o sistema
real – apesar de muitos de seus adeptos
serem republicanos -, mas promulgou uma
nova carta constitucional, ainda com
critérios censitários. Obviamente, os
radicalismos rondavam a França:
republicanos e bonapartistas (partidários
do sobrinho de Napoleão, Luís Napoleão)
exigiam reformas igualitárias; os
socialistas surgiam propondo revoluções
sociais; os burgueses solicitavam apoio do
governo para o desenvolvimento industrial.
E o governo respondia com censura e
repressão.
A Guarda Nacional, criada no
período, tinha como função reprimir –
muitas vezes, violentamente – todos os
opositores do regime. Mas, apesar da
agitação política, a França logrou razoável
desenvolvimento econômico industrial.
Mas, a partir de 1845, uma grave crise
econômica tomou conta da Europa. Um
lento processo de crise estrutural industrial
encaminhava-se desde 1830 na Inglaterra,
e os últimos anos tinham sido de péssimas
colheitas. As condições dos trabalhadores
eram péssimas no campo (carestia) e nas
cidades com o desemprego e os baixos
salários. Em virtude da repressão e da
necessidade de disfarçar a organização
política, os trabalhadores começaram a
reunir-se em festas para organizar a
oposição ao governo, o que ficou conhecido
como a Campanha dos Banquetes. Sabedor
desta estratégia dos operários, o ministro
Guizot, em 1847, proibiu os banquetes e o
povo respondeu como nova Revolução.
Novamente, a França serviria de
exemplo para a Europa e dezenas de
golpes seguir-se-iam ao francês em
diferentes regiões da Europa: Itália,
Alemanha, Bélgica, e no Império Austríaco,
o governo de Metternich e do imperador
Fernando I foi deposto. Era a Primavera
dos Povos (1848): reivindicações
nacionalistas contra os impérios invasores,
liberais contra as aristocracias retrógradas
e socialistas utópicas contra as
desigualdades sociais, Na França, um
governo de coalizão efetuou um golpe em
1848 na Monarquia de Julho e implantou
um governo provisório, de caráter
republicano: Lamartine, um poeta, Ledru-
Rolin, advogado e Louis Blanc, um
socialista, assumiram o governo tentando
conciliar a miríade de reivindicações
populares.
Por exemplo, para agradar à
burguesia o governo convocou Assembleia
Nacional Constituinte (sendo os
representantes eleitos por sufrágio
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universal masculino); e para agradar aos
operários, criaram-se as Oficinas
Nacionais, instituições que defenderiam os
interesses proletários.
No entanto, após eleita, a
Assembleia Nacional, majoritariamente
burguesa, promulgou, mais uma vez, uma
constituição censitária. O povo rebelou-se:
o ministro Cavagnac, o carniceiro, dizimou
dez mil agitadores e exilou, nas colônias
francesas, mais quinze mil rebeldes. Foi
neste momento que as eleições se
realizaram para presidente. Cavagnac
candidatou-se num clima de exacerbada
rivalidade popular a ele, e Luís Napoleão
ofereceu-se como representante popular.
Mais uma vez, o ímpeto revolucionário se
extinguiria durante alguns anos na França.