Revista Superinteressante - A Verdadeira História De Jesus

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file:///C|/Arquivos%20de%20programas/eMule/Incoming/Revista%20Superinteressante%20-%20A%20Verdadeira%20História%20De%20Jesus.txt A Verdadeira história de Jesus Revista superinteressante: *** INÍCIO UM PRESÉPIO DIFERENTE UM JUDEU POBRE DA GALILÉIA MESSIAS DE UM NOVO REINO MILAGRES SUBVERSIVOS DE JESUS A CRI STO JESUS ERA ESSÊ NIO? Ele não nasceu em Belém, teve vários irmãos e sua morte passou quase despercebida no Império Romano. A história e a arqueologia desencavam o Jesus histórico – um homem bem diferente daquele descrito nos evangelhos Foi um dia de trabalho como outro qualquer. Depois da festa da Páscoa do ano 3790 do calendário hebraico, a maioria dos camponeses seguia sua rotina normalmente, assim como os coletores de impostos, os pescadores, os soldados romanos, os carpinteiros, os sacerdotes e as prostitutas. Em Jerusalém, contudo, algumas pessoas deviam estar comentando o tumulto do dia anterior, que resultou na morte de um judeu. Nada que não estivessem acostumados a ouvir. Naquele tempo, a cidade já era palco de conflitos político-religiosos sangrentos e quase sempre algum agitador morria por incitar a rebelião contra os romanos, que governavam a região com o apoio da elite judaica do templo de Jerusalém. Dessa vez, o fuzuê foi causado por um judeu camponês chamado Yeshua, que foi aprisionado e condenado à morte por ter desafiado o poder romano e o templo de Jerusalém em plena Páscoa. "Se você quisesse file:///C|/Arquivos%20de%20programas/eMule/Incoming/...nte%20-%20A%20Verdadeira%20História%20De%20Jesus.txt (1 of 19)19/04/2007 10:26:47

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A Verdadeira história de Jesus

Revista superinteressante:***

INÍCIO UM PRESÉPIO DIFERENTE UM JUDEU POBRE DA GALILÉIAMESSIAS DE UM NOVO REINOMILAGRES SUBVERSIVOSDE JESUS A CRI STOJESUS ERA ESSÊ NIO?

Ele não nasceu em Belém, teve vários irmãose sua morte passou quase despercebida no Império Romano. Ahistória e a arqueologia desencavam o Jesus histórico –um homem bem diferente daquele descrito nos evangelhos

Foi um dia de trabalho como outro qualquer. Depoisda festa da Páscoa do ano 3790 do calendáriohebraico, a maioria dos camponeses seguia sua rotinanormalmente, assim como os coletores de impostos, ospescadores, os soldados romanos, os carpinteiros, ossacerdotes e as prostitutas. Em Jerusalém, contudo,algumas pessoas deviam estar comentando o tumulto dodia anterior, que resultou na morte de um judeu.Nada que não estivessem acostumados a ouvir. Naqueletempo, a cidade já era palco de conflitospolítico-religiosos sangrentos e quase sempre algumagitador morria por incitar a rebelião contra os romanos,que governavam a região com o apoio da elite judaicado templo de Jerusalém. Dessa vez, o fuzuê foi causado porum judeu camponês chamado Yeshua, que foi aprisionado econdenado à morte por ter desafiado o poder romano e otemplo de Jerusalém em plena Páscoa. "Se você quisesse

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chamar a atenção de multidões para as suas idéias, essa era adata ideal", afirma Richard Horsley, professor de Ciênciasda Religião na Universidade de Massachusetts e autordo livro Bandidos, Profetas e Messias – Movimentos Populares no Tempo deJesus . "A festa tinha um forte conteúdo político,já que comemorava a libertação dos hebreus do Egito,que agora estavam sob o domínio dos romanos." Nomeio da multidão (imagine a cidade paulista deAparecida do Norte em dia de peregrinação), poucagente deve ter se comovido com a prisão e morte demais um judeu agitador – a não ser um punhado deparentes e amigos pobres. Mas nem eles poderiam imaginar quea cruz em que Jesus pagou sua sentença (sim, Yeshuaé Jesus em hebraico) seria, no futuro, o símbolo maisvenerado do mundo. Da suntuosa Basílica de São Pedro, noVaticano, à pequena igrejinha da Assembléia de Deus,encravada no interior da Floresta Amazônica, a cruz setornou o símbolo de fé para mais de 2 bilhões de pessoas. Suamorte dividiu, literalmente, a história em antes e depoisdele. Mas, afinal, quem foi Jesus?

Pode parecer estranho, mas para os estudiosos hápelo menos dois Jesus. O primeiro, que dispensaapresentações, é o Cristo (o ungido, em grego), cujahistória contada pelos quatro evangelistas deixa claro queele é o enviado de Deus para salvar os homens com a suamorte. Os judeus costumavam sacrificar animais comocordeiros no templo para se purificarem. Ao morrerna cruz, Cristo torna-se o símbolo do cordeiroenviado por Deus para tirar o pecado do mundo.

O outro Jesus, já citado no início da matéria,é Yeshua, o homem que morreu sem chamar muita atenção doscidadãos do Império Romano. Além dos evangelhos – que não podem serconsiderados fontes imparciais de sua vida, já que foram escritos porseus seguidores – há apenas uma menção direta a elecitada pelo historiador judeu Flávio Josefo, queescreve sobre sua morte no livro Antiguidades Judaicas ,feito provavelmente no fim do século 1. Para os pesquisadores,essa falta de citações seria um indício da pouca repercussão queJesus teria tido para os cronistas da época. "Se existisseum grande jornal em Israel no tempo de Jesus, sua morte

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provavelmente seria noticiada no caderno de polícia, enão na primeira página", diz John Dominic Crossan,professor de Estudos Religiosos da Universidade DePaulo, em Chicago, Estados Unidos. Autor dos livrosO Jesus Histórico – A Vida de um Camponês Judeu noMediterrâneo e Excavating Jesus – Beneath TheStones, Behind The Texts ("Escavando Jesus – PorBaixo das Pedras, Por Trás dos Textos", inédito noBrasil), ele diz que a escassez de fontes diretas sobreJesus não significa que seja impossível recompor avida do homem de carne e osso que morreu em Jerusalém."A interpretação correta dos textos históricos e aarqueologia estão trazendo surpreendentes revelaçõessobre o Jesus histórico."

Uma dessas revelações pode estar contida numapequena caixa de pedra cor de areia encontrada emJerusalém com uma inscrição feita em língua ecaligrafia de 2 mil anos atrás. Ao lê-la em aramaico, dadireita para esquerda, como a maioria das línguas semitas, estáescrito inicialmente "Yaákov, bar Yosef", ou seja: Tiago, filho de José.E continua, mais desgastada, "akhui di..." irmão de"Yeshua", Jesus. Isso mesmo. Segundo André Lemaire,especialista em inscrições do período bíblicoda Universidade de Sorbonne, em Paris, há uma altaprobabilidade de que a caixa tenha sido usada como ossáriode Tiago (São Tiago, para os católicos), o mesmo doNovo Testamento, já que a possibilidade que a associaçãoentre esses três nomes seja uma referência a outraspessoas é estatisticamente baixa.

Apesar de não ter sido encontrada num sítioarqueológico (como foi comprada por um colecionadornum antiquário, as chances de fraude seriammaiores), ela poderá se tornar a primeira evidênciamaterial associada a Jesus. "Caso fique provado quea inscrição é verdadeira, a descoberta levantará uma série de novasquestões", diz Crossan. "Vamos ter que nosperguntar, por exemplo, se termos como irmão e paisignificam exatamente o mesmo que hoje: pai e irmãode sangue.

Apesar de o Evangelho de São Mateus, no capítulo 13,

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versículos 55-56, citar: "Porventura não é este o filho docarpinteiro? Não se chamava sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago, e José,e Simão, e Judas: e suas irmãs não vivem elas todasentre nós?", a Igreja sempre pregou aos fiéis queirmão e irmã, nesse caso, significavam apenas primosou um forte vínculo de amizade e companheirismoentre os que faziam parte de um grupo.

"Como esse é um campo cheio de fé e paixões,a busca do Jesus histórico sempre foi um desafio", diz AndréChevitarese, professor de História Antiga da Universidade Federal doRio de Janeiro e um dos maiores especialistas sobre o tema nopaís. "Enquanto um religioso conservador ressalta a dimensãoespiritual de Jesus, um teólogo da libertação vai buscar nelesua atuação como revolucionário político."

Mesmo que a diversidade de visões de Jesus sejaproporcional ao número de igrejas, correntes eseitas que existem em seu nome, historiadores earqueólogos estão conseguindo reconstituir como era omundo em que ele vivia: um retrato fascinante dapolítica, da religião, da economia, da arquitetura e doshábitos cotidianos que devem ter moldado a vida de umhomem bem diferente daquele retratado pelas imagensrenascentistas que povoam a imaginação da maioriados cristãos. A começar pela aparência. Baseados noestudo de crânios de judeus que viviam na região naépoca, os pesquisadores dizem que a fisionomia de Jesusdeveria ser mais próxima da de um árabe moderno, como naimagem que abre essa reportagem. "Em tempos turbulentoscomo o de hoje, ele provavelmente teria dificuldadesde passar pela alfândega de um aeroporto europeu ouamericano", diz Chevitarese.

UM PRESÉPIO DIFERENTEImagine que nesse Natal você pudesse entrar numamáquina do tempo para visitar Jesus recém-nascido(quem conhece o argumento da série Operação Cavalode T róia , do escritor J. J. Benítez, sabe que aidéia não é original). Se isso fosse possível, osarqueólogos garantem que você teria algumassurpresas. A primeira delas teria relação com a datada viagem. Ao programar a engenhoca para o ano zero,

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provavelmente você iria se deparar com um menino de quatroanos. É que Jesus deve ter nascido no ano 4 a.C. – ocalendário romano-cristão teria um erro de cerca dequatro anos. Tampouco adiantaria chegar em Belém nodia 25 de dezembro. Em primeiro lugar, porque ninguémsabe o dia e a data em que Jesus nasceu. O mês dedezembro foi fixado pela Igreja no ano 525 porque eraa mesma época das festas pagãs de Roma. E o segundoproblema, ainda mais grave, é que provavelmente Jesus nãonasceu em Belém. "Há quase um consenso entre os historiadores deque Jesus nasceu em Nazaré", diz o padre Jaldemir Vitório, do Centro deEstudos Superiores da Companhia de Jesus, em BeloHorizonte. Então por que o evangelho de Mateus dizque o nascimento foi em Belém? Vitório explica que otexto segue o gênero literário conhecido pormidrash. Basicamente, o midrash é um forma de contara história da vida de alguém usando como pano defundo a biografia de outras personalidadeshistóricas. No caso de Jesus, ele explica, a referênciaa Belém é feita para associá-lo ao rei Davi doAntigo Testamento – que, segundo a tradição, terianascido lá. Mas as associações não parariam por aí. Assim como onascimento em Belém, a terrível execuçãode recém-nascidos ordenada por Herodes e a fuga deMaria e José para o Egito também teriam sido uma"licença poética do texto", dessa vez para simbolizar que Jesus é onovo Moisés – já que essa narrativa é bem semelhante aoque se contava da vida do patriarca bíblico. "Issonão foi uma criação maquiavélica para glorificarJesus, era apenas o estilo literário da época", dizVitório. Até os simpáticos três reis magos estariamali para representar que Jesus foi reconhecido comomessias por povos do Oriente – e quase nenhumhistoriador defende que, de fato, eles tenham existido.(Apesar dos muitos fiéis que visitam todos os anos aCatedral de Colônia, na Alemanha, que acreditam queos restos mortais dos três estão lá.)

Mas se essas passagens são representações e nãofatos históricos, o que um viajante no tempoencontraria de semelhante às imagens estampadas noscartões de Natal? "Jesus deve ter nascido numa casade camponeses extremamente pobres, cercada de animais",

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diz Gabriele Cornelli, professor de Teologia e Filosofia daUniversidade Metodista de São Paulo. "Cresceu numadas regiões mais pobres e turbulentas da época."

UM JUDEU POBRE DA GA LILÉIAUm vilarejo de trabalhadores rurais numa encosta deserra com, no máximo, 400 habitantes. Segundo osarqueólogos, essa é a cidade de Nazaré no tempo emque Jesus nasceu. De tão pequena, a vila praticamente nãoé citada nos documentos da época. "As escavações arqueológicas nacidade não encontraram nenhuma sinagoga, fortificação, basílica, banhopúblico, ruas pavimentadas, enfim, nenhuma construçãoimportante que datasse do tempo de Jesus", diz o historiadorJohn Dominic Crossan. "Em compensação, foramencontradas pequenas prensas de azeitonas para a fabricaçãode azeite, prensas de uvas para vinho, cisternas de água,porões para armazenar grãos e outros indícios de umavida agrária de subsistência."

A casa em que Jesus cresceu devia ser como a de todocamponês pobre da época: chão de terra batida, tetode estrados de madeiras cobertos com palha e murosde pedras empilhadas com barro, lama ou até umamistura de esterco e palha para fazer o isolamento.Ao entrar na casa, talvez alguém lhe oferecesse águatirada de uma cisterna servida num dos muitosvasilhames de pedra e barro achados pelos arqueólogosna região – a água era preciosa, já que a chuva eraescassa. Para comer, a cesta básica era formada porpão, azeitona, azeite e vinho e um pouco de lentilhasrefogadas com alguns outros vegetais sazonais,servido às vezes no pão (que você deve conhecer como pão árabe).Com sorte, nozes, frutas, queijo e iogurte eram complementos bem-vindos,além de um peixe salgado vez ou outra. Segundo os arqueólogos, a carneera rara, reservada apenas para celebrações especiais. A maioria dosesqueletos encontrados na região mostra deficiência de ferro eproteínas e sinais de artrite grave. "A mortalidade infantil era altae a expectativa de vida girava em torno dos 30 anos", dizCrossan. "Só raros privilegiados alcançavam 50 ou 60anos de idade."

Para garantir o sustento, as famílias precisavam terum número razoável de filhos que ajudassem no duro

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trabalho no campo. "É pouco provável que Jesus tenha sido filhoúnico", diz o historiador Gabriele Cornelli. "Assim como um menino deroça que vive em comunidades pobres no interior, ele deve ter crescidocercado de irmãos." Mesmo pesquisadores católicos como o padreJohn P. Meier, autor dos quatro volumes da série Um Judeu Marginal ,sobre o Jesus histórico, dizem que é praticamenteinsustentável o argumento de que, no NovoTestamento, "irmão" poderia significar "primo". "Apalavra grega adelphos , usada para designar irmão,deve ter sido usada no sentido literal", diz Meier.Sua conclusão reforça ainda mais as chances de que o ossárioatribuído a São Tiago, irmão de Jesus, possa ser verdadeiro.

E quanto à profissão de Jesus? O historiadorGabriele Cornelli diz que, baseado nas parábolasatribuídas a ele, é muito provável que Jesus tenhasido um camponês. "Sua pregação está repleta deimagens detalhadas da vida agrícola", diz Cornelli. "Équase impossível que esse grau de detalhamento possater surgido de alguém que não lidava dia a dia nocampo." Mas José não era carpinteiro e seu filho nãoo teria seguido na profissão?

O professor de Ciências da Religião Pedro LimaVasconcellos, da PUC de São Paulo, diz que a palavracarpinteiro ( tekton ) usada no Novo Testamento podesignificar também "biscateiro", no sentido de umaclasse inferior que faz serviços manuais. "É o quechamamos atualmente do trabalhador pau-pra-toda-obra."Uma das hipóteses levantadas pelos arqueólogos é de queJesus pode ter trabalhado no campo e, eventualmente,atuado em algumas obras de construção civil. Os arqueólogosdescobriram que, a apenas 6 quilômetros de Nazaré, umasérie de novos edifícios em estilo greco-romano estava sendo construídana cidade de Séforis. "É possível que Jesustenha trabalhado lá", diz Vasconcellos. A construçãoera apenas uma das várias obras que estavam sendo erguidaspor Herodes Antipas, governante da Galiléia no tempode Jesus. Além das intervenções em Séforis, osedifícios construídos nas cidades de Tiberíades eCesaréia Marítima (nome dado em homenagem ao imperador JúlioCésar) tornavam a região cada vez mais parecida com as cidadesromanas. "O problema é que todas essas obras representavam um

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fardo a mais aos camponeses pobres, que já pagavam muitosimpostos", diz o historiador Richard Horsley. "Não é à toaque surgiram nesse período vários movimentospopulares de contestação ao poder romano, do qualJesus era mais um representante."

MESSIAS DE UM NOVO R EINOSe o rei Herodes Antipas precisasse se candidatarpara se manter no poder na Galiléia no tempo deJesus, seus assessores de marketing o venderiam comoo "realizador de grandes obras" e seu sloganprovavelmente seria "Herodes faz". No seu governo (4a.C. a 39 d.C.), enormes palácios foram construídosna Galiléia, muitos deles para abrigar a elite judaica quedominava a imensa massa de judeus pobres na região. Oesquema de poder na Galiléia, assim como em outrasregiões de Israel, funcionava num sistema declientela: para reinar, Herodes contava com o apoiodos romanos. Estes, por sua vez, exigiam em trocaque ele recolhesse impostos para Roma e se responsabilizassepela repressão de qualquer movimento de contestaçãoao poder imperial. Sob essas condições, Roma permitia que osjudeus cultuassem o seu Deus único, Javé, em vez de celebraremas várias divindades do panteão romano. Estando bom para ambas aspartes, o equilíbrio de poder era mantido. "O problema é que apenasos romanos e uma elite sacerdotal judaica eram beneficiados", diz oprofessor André Chevitarese. "A maioria dos judeus tinha que trabalharcada vez mais para sustentar essas duas classes."

Ninguém sabe ao certo até que ponto Jesus começou asua pregação motivado por esse sentimento deinjustiça social. Até mesmo porque a tentativa deretratá-lo como um revolucionário político (e não umlíder espiritual) parece fazer pouco sentido considerando-se a épocaem que ele viveu. "Essa distinção de uma consciência política separadada espiritualidade é uma invenção dos pensadoresocidentais modernos, como Maquiavel", dizChevitarese. "Para os movimentos apocalípticos deentão, o modelo de sociedade perfeita é o Reino deDeus, algo que para essas pessoas estava prestes a

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se concretizar."

Os estudiosos dizem que há uma dificuldade naturalde quem vive nas sociedades modernas de entender a verdadeiradimensão da palavra apocalipse na época de Jesus."Algumas pessoas hoje entendem o apocalipse como um futurodistante, o fim dos tempos que chegará somente quandotodos estiverem mortos", diz Paulo Nogueira, professorde Literatura do Cristianismo Primitivo da Universidade Metodistade São Paulo. "Na época de Jesus, os movimentosapocalípticos viam esse futuro como algo para daqui aalguns dias, quando o Reino dos Céus fosse se sobreporao Reino da Terra." Enfim, era preciso se preparar logo.

Para os judeus pobres, estava claro que o tal reinoterrestre prestes a ruir era aquele formado porRoma, pelos governantes locais e pela elite judaicarepresentada pelo suntuoso Templo de Jerusalém. E oque as pessoas deveriam fazer para se preparar parao advento do novo reino? Um bom começo era ouvir asprofecias de um dos mais conhecidos pregadores daépoca: João Batista. "Naquele tempo, a figura de JoãoBatista era mais importante do que a de Jesus, quesomente se tornou uma ameaça a Roma depois dacrucificação", diz o historiador John Dominic Crossan. Depois deouvir suas profecias, as pessoas podiam se prepararpara a chegada da nova era submetendo-se a um ritualde imersão na água: o famoso batismo de João Batista."Ao entrar e sair da água, as pessoas sentiam-se como seestivessem deixando para trás os pecados e renascendopurificadas para o novo reino de Deus", dizNogueira. (Não é à toa que algumas igrejas até hoje só batizam ofiel quando ele já é adulto – e tem consciência da forçado ato como marca da conversão.)

A maioria dos historiadores acredita que JoãoBatista, de fato, deve ter batizado Jesus adulto."Afinal, não deve ter sido fácil para osevangelistas explicar por que o messias foibatizado, já que, como enviado de Deus, ele é quedevia batizar os outros", diz o historiador AndréChevitarese. Mas ele explica que o evangelho logo "resolve"

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a polêmica ao narrar que, na hora do batismo, a pomba do EspíritoSanto aparece sobre Jesus e João Batista diz que ele é que deveriaser batizado.

"As fontes que estão nos ajudando a compreenderesses movimentos apocalípticos são os manuscritos domar Morto", diz Paulo Nogueira. Descobertos em 1947,os manuscritos foram encontrados no convento deQumran, uma espécie de condomínio de cavernashabitado pelos essênios, grupos de judeus que viviamcomo monges seguindo uma rígida disciplina de oraçõese uma dieta rigorosa ( leia a reportagem "A doutrinado deserto", na Super de agosto de 2000 ). "Apesarde os manuscritos não revelarem nada diretamente sobreJesus, eles mostram como os cultos apocalípticos jáestavam disseminados nessa época", diz Nogueira. Háaté quem defenda a hipótese de que Jesus tenha tido uma ligaçãodireta com os essênios (confira o link Jesus era essênio? ).

Do que os crentes e céticos parecem não ter dúvida éque o batismo de João Batista foi um divisor deáguas na vida de Jesus. A partir dali, ele teria seretirado para o deserto para depois dar início àtrajetória de sermões e milagres que o levaria àcondenação na cruz.

MILAGRES SUBVERSIVOSSe os historiadores e arqueólogos estão conseguindoreconstituir o ambiente físico em que Jesus viveu eaté têm bons palpites sobre a veracidade de certaspassagens da sua vida, tudo muda da água para o vinhoquando o assunto são os milagres. Afinal, como um pesquisadorpode estudar objetivamente feitos considerados sobrenaturais?

Uma moda no passado (que até hoje tem muitos adeptosnos Estados Unidos) foi a tentativa de explicar aorigem de alguns desses fenômenos como tendo causasnaturais. Você provavelmente conhece algumas dessasteses: a estrela de Davi no nascimento de Jesus erana verdade o cometa Halley, Lázaro foi ressuscitadopor Cristo porque estava em coma, não havia morridobiologicamente...

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"Explicações desse tipo conseguem às vezes ser maisabsurdas do que o próprio milagre", diz AndréChevitarese. Para ele, em vez de querer esclarecerracionalmente esses fenômenos, o historiador devemanter a mente aberta para entender como ascomunidades da época encaravam esses feitos,estudando, por exemplo, qual a noção que se tinha entãoda doença e da cura.

Os pesquisadores sabem que no tempo de Jesus adoença estava associada à impureza. "A grandepreocupação da lei judaica, já prevista em textoscomo o Levítico, era demarcar o que é puro e o quenão é puro", diz o professor Manuel Fernando Queiroz dosSantos Júnior, da Faculdade de Saúde Pública da USP. "Eas doenças de pele, as mais visíveis, logo eram associadas à impurezaespiritual." Especialista em hanseníase, o professordiz que o que a Bíblia chama de lepra servia paranomear, na verdade, todas as doenças de pele naépoca, de eczemas a micoses. "Traduzir a palavrasara’at na Bíblia para o termo lepra ou hanseníaseé errado", diz o professor. "Quem lê a Bíblia sematentar para esse detalhe tem a impressão errônea deque existia uma verdadeira epidemia da doença na época deJesus." O pior é que, graças a esse erro, osleprosos foram segregados por centenas de anos como portadores de umadoença impura.

Segundo os historiadores, essa associação perversaentre doença e impureza (ou pecado) terminavafavorecendo a elite judaica do Templo de Jerusalém."Afinal, para se curar, o doente tinha que pagar maistaxas e oferecer mais sacrifícios no templo", dizCrossan. "Isso gerava para o doente um ciclo interminávelde sofrimento e dívidas." O templo era comandado poruma casta sacerdotal que detinha o monopólio de conduziros fiéis aos rituais de purificação – que, na época,incluíam o sacrifício de animais como cordeiros (quem não tinhaposses para tanto, podia sacrificar uma pomba branca comprada nomercado do templo).

Imagine agora o mal-estar que os sacerdotes deviam

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sentir ao ouvir relatos de que, com um simplestoque, um judeu pobre da Galiléia andava curandodoentes, declarando, com esse gesto, que a pessoaestava livre dos pecados. "Hoje é difícil deentender como um ato desses era radicalmente subversivo",diz Richard Horsley. Ele diz que Jesus não estava só."Uma série de outros curandeiros também usavam esseritual para desafiar o poder do templo naquelaépoca", diz o historiador.

Como Jesus conseguia curar as pessoas? Poucospesquisadores se arriscam a dar palpites. O certo éque, ao se misturar com doentes, mendigos, gentis,prostitutas, enfim, toda classe de pessoasconsideradas impuras, Jesus conseguiu incomodar a maioriados grupos judaicos da época. Entre esses incomodados,se incluíam os fariseus, membros de uma escola religiosaque insistia na completa separação entre os judeus eos gentios (fariseu quer dizer "o que estáseparado"). Eram provavelmente hostis a Jesus e nãodeviam entender por que ele comia na mesma mesa dos"impuros" – se você leu os evangelhos, deve ter notado como osprimeiros cristãos retratam os fariseus de forma poucolisonjeira. Jesus provavelmente também não agradousaduceus, pequeno grupo judeu que não acreditava naimortalidade da alma nem nos anjos, muito menos nos milagres deJesus. "Seu estilo de ensinar e de viver desagradou muitosjudeus, que o colocaram à margem do judaísmopalestino", diz o padre e historiador John P. Meier, no seu livroUm Judeu Marginal . "Mesmo sendo um galileu rústicoque nunca freqüentou uma escola de escribas, ele ousoudesafiar as doutrinas da época", diz Meier.

A escolaridade é outro ponto polêmico sobre a vidade Jesus – já que, para muitos historiadores, eleprovavelmente era analfabeto. "Somente uma ínfimaparcela da população que trabalhava para os governantessabia ler e escrever", diz Richard Horsley. "Não acredito que elefizesse parte dessa parcela." Então, como explicar o trecho doevangelho que o retrata lendo numa sinagoga? "A palavra lerno evangelho pode significar recitar ", diz Horsley. "O fato de Jesusnão saber ler nem escrever não significa que ele nãoconhecesse os textos e as tradições judaicas." Juan

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Arias, correspondente do jornal El País no Brasil eautor do livro Jesus, Esse Grande Desconhecido ,discorda. "Apesar de ter vindo de uma família muitopobre, é difícil imaginar que as discussões polêmicas queele teve com seus contemporâneos relatadas nos evangelhos possamter sido feitas por um homem que não sabia ler", dizArias.

Mesmo que não tenha sido analfabeto, o judeu pobreda Galiléia não deve ter chamado a atenção da eliteintelectual da época. A não ser, talvez, pelos tumultos quedeve ter causado quando resolveu pregar diretamenteem Jerusalém, chegando a derrubar barracas dos mercadoresque comerciavam no templo. O resto da história vocêconhece: para os romanos, apenas mais um agitador crucificado,nada anormal em meio a centenas de outras crucificações.Para um punhado de seguidores, o símbolo de uma novafé que mudaria o rumo da humanidade.

DE JESUS A CRISTOImagine Nova York como o centro espiritual do mundomuçulmano. Ou mesmo a Basílica de São Pedro, noVaticano, transformada numa mesquita dedicada ao profetaMaomé. Improvável, não? "Foi algo dessas proporçõesque aconteceu com a expansão do cristianismo", diz André Chevitarese."Em cerca de três séculos, a crença de uns poucosseguidores se tornou a religião oficial do ImpérioRomano, o mesmo império que havia ordenado a suamorte."

Como isso ocorreu? Para os cristãos, a resposta ésimples: Jesus ressuscitou. Essa seria a evidência deque o homem crucificado não era, afinal, apenas um homeme sim Cristo, o messias esperado pelo povo judeu. Mas como entendero evento da ressurreição? "Nenhum outro tipo demilagre se choca mais com a mentalidade cética damoderna cultura ocidental", diz o padre John P. Meier.Para ele, ficar especulando sobre o que aconteceu com o corpode Jesus é, do ponto de vista da história, uma tarefainútil. "A essência da crença na ressurreição é que, ao morrer,Jesus ascendeu em sua humanidade à presença de Deus",

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diz Meier. "Descobrir qual a ligação dessa humanidadecom o seu corpo físico não é matéria dos historiadores."

Mas se a ressurreição é uma questão de fé e não dehistória, os estudiosos estão pelo menos conseguindoesclarecer detalhes sobre o terrível momento que ateria antecedido: a crucificação. Tudo começou em1968, quando foi descoberto na região de Giv’at há-Mivtar, nonordeste de Jerusalém, o único esqueleto de umcrucificado conhecido pela ciência. Depois que osossos foram analisados pelos pesquisadores do Departamento deAntiguidades de Israel e da Escola de Medicina Hadassah, daUniversidade Hebraica de Jerusalém, conclui-se que os braços nãoforam pregados, mas amarrados na travessa da cruz. Já as pernas docondenado foram colocadas em ambos os lados da base vertical de madeira,com pregos segurando o calcanhar em cada lado. Não havia evidências deque suas pernas haviam sido quebradas depois dacrucificação para apressar a sua morte. "O curioso éque uma revelação surpreendente sobre a morte nacruz não surgiu da descoberta de esqueletos, mas dafalta deles", diz Pedro Lima Vasconcellos, da PUC deSão Paulo. "Afinal, se centenas e até milhares de pessoasforam crucificadas na época, por que apenas um esqueletofoi encontrado?" O historiador John Dominic Crossandiz que há uma razão terrível para isso: "As trêspenas romanas supremas eram morrer na cruz, no fogo e entregue àsferas", diz Crossan. "O que as tornava supremas não era asua crueldade desumana ou sua desonra pública, mas o fato de que nãopodia restar nada para ser enterrado no final." Apesar de ser fácil deentender por que não sobraria nada de um cadáver consumido pelofogo ou devorado por leões, ele diz que a maioria daspessoas esquece que, no caso da crucificação, o corpoera exposto aos abutres e aos cães comedores decarniça. Como um ato de terrorismo de Estado, a extinçãodo cadáver também tinha como vantagem para asautoridades evitar que o túmulo do condenado se tornasselocal de culto e resistência.

Mesmo que ninguém saiba o que ocorreu após a mortede Jesus (alguns historiadores acham razoável que afamília e os amigos pudessem ter reivindicado o seucorpo), o fato é que seus seguidores passaram a relatar

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suas aparições. "Não se deve subestimar o poder dessasexperiências em nome do racionalismo", diz Paulo Nogueira,professor da Universidade Metodista de São Paulo. "Afinal,as pessoas tinham visões, entravam em transe. É uma simplificação,por exemplo, ficar tentando encontrar razões sociológicaspara explicar a experiência mística responsável pelaconversão de Paulo."

Nascido na cidade de Tarso, na atual Turquia, Paulo(São Paulo, para os católicos) talvez seja o homemque, sozinho, fez mais pela expansão do cristianismoque qualquer outro dos seguidores de Jesus. O curiosoé que, antes de se converter, ele era uma espécie deagente policial encarregado de perseguir oscristãos. "Sua conversão foi tão surpreendente naépoca como seria hoje ver um embaixador israelense seconverter à causa palestina", diz Monica Selvatici,doutoranda em História da Unicamp e especialista emPaulo. "Suas idéias terminaram afastando o cristianismodo judaísmo da época."

Ela explica que, depois da morte de Jesus, não haviauma distinção clara entre judeus e cristãos."Os seguidores de Jesus eram apenas judeus que defendiama tese de que ele era o messias, ao contrário daquelesque não o reconheciam como tal", diz Mônica. "Eram uma ala dojudaísmo, assim como o PT tem alas que não representam as idéiaspredominantes do partido." Como falava grego muito bem e foi um doscristãos que mais viajaram, ele discordava dos judeus-cristãosque defendiam a tese de que os gentios convertidos precisavamseguir rigorosamente a lei judaica, incluindo aí anecessidade da circuncisão – não vista com bons olhos pelosestrangeiros. Em suas cartas (epístolas), são famosas aspolêmicas travadas com Tiago (São Tiago, para os católicos),suposto irmão de Jesus, que teria sido um defensor de um cristianismomais fiel ao judaísmo.

Mas a idéia central de Paulo, resumida na frase deque "o verdadeiro cristão se justifica pela fé e nãopelos trabalhos da lei", prevaleceu. Os gentios podiamagora se converter sem tantos empecilhos e o cristianismoganhou novas fronteiras. "Paulo ajudou a tirar de Jesusa imagem de um messias para o povo hebreu, transformando-o

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num salvador de todos os povos", diz Mônica. "Jesusdeixou de ser um fenômeno regional para ganhar um caráteruniversal."

A influência de Paulo é tão grande, que háhistoriadores que chegam a dizer que o cristianismo como oconhecemos é, na verdade, um "paulismo". "Isso é um exagero", dizPaula Fredriksen, professora de estudos religiosos da Universidade deBoston e autora do livro From Jesus To Christ ("DeJesus a Cristo", inédito no Brasil). "Com ou semPaulo, já havia um movimento forte entre os judeuscristãos de que os gentios não precisavam seguirestritamente as leis para serem salvos", diz Paula.

Mas o que levaria um cidadão romano a trocar os seusdeuses para cultuar um judeu da Galiléia? (Lembrandoque, na época da morte de Jesus, um cidadão romanosabia tão pouco sobre as várias correntes do judaísmo como umocidental hoje sabe sobre as linhas do Islã.) "O cristianismotrouxe uma idéia de salvação da alma que não existia nareligião romana", diz Pedro Paulo Funari, professorde história e arqueologia da Unicamp. "A religiãoromana tinha um aspecto formal, público, pouco ligadoàs inquietações da vida depois da morte". Mas Funariexplica que, apesar do formalismo das crençasromanas, a idéia de salvação da alma já estava difundidana população pela influência de algumas religiões orientais, comoo culto a Íris e Osíris, do Egito. "Isso deve terfacilitado ainda mais a expansão do cristianismo emRoma", diz Funari.

O ápice dessa expansão se deu quando o imperadorromano Constantino converteu-se ao cristianismo, no século4. Ninguém sabe ao certo se ele foi motivado mais pordilemas espirituais do que razões políticas (afinal, ao seconverter, ele pôde contar com o apoio dos cristãos e com aestrutura de um Igreja já bem organizada.)

O certo é que alguns séculos depois, a cruz, imagembrutal da sua crucificação, foi usada para invocar aguerra e a paz entre os povos. E Yeshua, o judeu pobre quemorreu praticamente despercebido durante a Páscoa emJerusalém, já era conhecido por boa parte do mundo como o

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Cristo. O mesmo Cristo cujo nascimento passou a sercelebrado todos os anos, no mês de dezembro, no diade Natal.

DE JESUS A CRIST OJESUS ERA ESSÊNIO?

JESUS ERA ESSÊNIO?Quando os manuscritos do mar Morto foram encontradosnas cavernas da região de Qumran, no sul de Israel,em 1947, os pesquisadores descobriram como viviam osessênios – grupo de judeus que moravam emcomunidades isoladas, tinham hábitos simples, admitiama reencarnação, adotavam normas morais rígidas eeram vegetarianos.

A seita desapareceu por ocasião da diáspora judaica,a partir do ano 70. E como eles, assim como Jesus,também se opunham a outros grupos como os fariseus eos saduceus, a pergunta óbvia que se seguiu foi:Jesus era essênio?

Apesar de não existirem provas definitivas de queJesus professasse a seita essênia, haveria aindaoutras coincidências entre a doutrina e as práticascristãs e os ensinamentos e costumes daquele grupo."Os essênios foram os primeiros discípulos de Jesuse o aceitaram como o grande e último intérprete dalei, muito acima de Moisés", diz Fernando Travi, um doslíderes da Igreja Essênia brasileira. Segundo ele, o próprioCristo teria sido educado entre eles no monte Carmelo, nonorte de Israel.

Esse grupo, então conhecido como nazarenos, teria sediferenciado dos eremitas da região de Qumran – emcujas cavernas foram encontrados os polêmicos

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manuscritos do mar Morto –, por sua postura menos radicalem relação a uma série de preceitos dos essênios dosul.

Nos manuscritos de qumran não há nenhuma menção aJesus, mas o que impressiona, segundo o arqueólogoinglês Lankester Harding, é a coincidência depráticas e terminologia antes julgadas exclusivas do cristianismo.

Os essênios praticavam o batismo no estilo de JoãoBatista e se reuniam para uma ceia litúrgica, de pão evinho, como a que foi promovida por Jesus na vésperade sua prisão. Suas comunidades eram dirigidas por 12"homens de santidade", à semelhança dos 12 apóstolos cristãos, etodos os bens individuais eram compartilhados, como foi hábito nocristianismo primitivo. A identidade se repete em ensinamentoscomo o da não-violência e no costume de curar doentes,uma das principais práticas cristãs .

Chama também a atenção o fato de não existir, nosevangelhos, qualquer crítica aos essênios, ao contrário dosataques de Jesus aos fariseus e saduceus. Para algunsestudiosos, nada disso prova o vínculo essênio do Cristo."Não existe nenhum fato ou indício convincente", afirma o doutor emteologia e especialista em Novo Testamento, Archibald Mulford Woodruff,da Universidade Metodista de São Paulo. "Há apenas paralelos entre osmanuscritos do mar Morto e o evangelho, o que não chega aconfigurar uma influência essênia sobre Jesus."

O mais provável, segundo Woodruff, é que muitosessênios tenham aderido ao cristianismo depois que aDécima Legião romana arrasou a comunidade de Qumran.

Jomar Morais

PARA SABER MAIS

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NA LIVRARIA

O Jesus Histór icoJohn Dominic Crossan, Imago, 1994

Excavating Jes usJohn Dominic Crossan & Jonathan L. Reed,Harper San Francisco, 2001

Jesus, Uma Biografia RevolucionáriaJohn Dominic Crossan, Imago, 1995

Jesus As a Figure in HistoryMark Allan Powell, Westminster John KnoxPress, 1998

Um Judeu Margi nalJohn P. Meier, Imago,1993 (série em quatrovolumes)

Bandidos, Profetas e MessiasMovimentos Populares no Tempo de JesusRichar A. Horsley, John S. Hanson, Paulus,1995

Jesus – Esse Grande DesconhecidoJuan Arias, Objetiva, 2001

Cristo – Uma Crise na Vida de DeusJack Miles, Companhia das Letras, 2002

Os Homens da B íbliaAndré Chouraqui, Companhia das Letras, 1990

História da Vida Privada – Do Império Romanoao Ano MilPhilippe Ariès e Georges Duby (org.),Companhia das Letras, 1992

Bíblia de Jeru salémPaulus, 2002

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