Revista subversa vol 4 nº9 maio2016

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SUBVERSA PAULO ARCE | EBER S. CHAVES CRISTINA SANTOS | MILTON REZENDE PILAR BU | EDSON DUARTE EDSON AMARO | RAFAEL LINDEN HELENA BARBAGELATA | WAGNER SCHADECK Vol. 4 | n.º 09 | maio de 2016 ISSN 2359-5817 Ilustração | LILA BITTEN

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Subversa das naus perdidas

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SUBVERSA

PAULO ARCE | EBER S. CHAVES

CRISTINA SANTOS | MILTON REZENDE

PILAR BU | EDSON DUARTE

EDSON AMARO | RAFAEL LINDEN

HELENA BARBAGELATA | WAGNER SCHADECK

Vol. 4 | n.º 09 | maio de 2016 ISSN 2359-5817

Ilustração | LILA BITTEN

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Subversa | literatura luso-brasileira |

V. 4 | n.º 09

© originalmente publicado em 15 de maio de 2016 sob o título de

Subversa ©

Edição e Revisão:

Morgana Rech e Tânia Ardito

Ilustrações

LILA BITTEN| INSTAGRAM | [email protected]

Os colaboradores preservam seu direito de serem identificados e citados

como autores desta obra.

Esta é uma obra de criação coletiva. Os personagens e situações citados nos

textos ficcionais são fruto da livre criação artística e não se comprometem

com a realidade.

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CRISTINA SANTOS | EM MEMÓRIA DE MINHAS RUÍNAS | 6

EBER S. CHAVES | CANA-DE-AÇÚCAR | 9

EDSON AMARO DE SOUZA | GREVE E ENCHENTE | 11

EDSON COSTA DUARTE | FIM DA LINHA | 14

HELENA BARBAGELATA | AS NAUS INSONHADAS | 18

MILTON REZENDE | ENCHENTE | 24

PAULO ARCE | UM CACHORRO | 26

PILAR BU | ESGANADA| 28

RAFAEL LINDEN | SUSAN | 30

WAGNER SCHADECK | QUATRO INVENÇÕES DA CIDADE | 38

SOBRE LILA BITTEN | 47

SUBVERSA

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EDITORIAL

Dai-me uma fúria grande e sonorosa,

E não de agreste avena ou frauta ruda,

Mas de tuba canora e belicosa,

Que o peito acende e a cor ao gesto muda;

Dai-me igual canto aos feitos da famosa

Gente vossa, que Marte tanto ajuda;

Que se espalhe e se cante no universo,

Se tão sublime preço em verso.

Luís de Camões “Os Lusíadas” Canto I. Estância 5

Lusíadas, a obra que é considerada a maior de língua poturguesa, trata da

expansão marítima e em seus versos são cantados os feitos gloriosos daqueles que

buscaram a expansão de seu mundo. Ora, o que é a literatura senão a expansão de

mundo (s)? E mais ainda, o que é trabalhar a literatura senão uma travessia oceânica,

cheia de perigos, mistérios, dores e amores? Camões invoca as musas por inspiração

para cantar a glória portuguesa. E o escritor contemporâneo a quem invoca?

Dizem que lutar pela literatura é uma aventura, é enfretar o gigante Adamastor

e outros que se agigantam. Parece um arrastar de naus que, volta e meia, destroi todo

o avanço conseguido pelo mar tenebroso. Mas os marinheiros literários não desistem e

sempre aparecem mais alguns para se juntarem à aventura.

Recentemente apresentamos os nossos novos colunistas: Daniel Bomqueiroz

(Brasil) e Pedro Belo Clara (Portugal). O primeiro nascido feito bergamota, de sangue

crítico e ácido; o segundo um lírico que escreve sobre o mais subversivo dos

sentimentos: o amor.

Alguns acreditam que não vale a pena enfrentar monstros e gigantes pela

expansão de mundos através da literatura, que não vale a pena a dor de enfrentar

acordos e desacordos, assim como muitos acreditavam que as naus não chegariam

ao destino almejado, mas se não houver marinheiros subversivos a atravessar oceanos,

quem o fará?

Desejamos a todos uma boa viagem.

As editoras.

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CRISTINA SANTOS | São Paulo, SP.

primeiro movimento:

Quando se faz algo errado, basta repetir três mil vezes de que foi a

decisão certa e você conseguirá conviver com seus erros.

Dia nublado, depois de amanhã do ano seguinte. Uma mulher fala.

Não me desconstrua, por favor, não me desconstrua, não quebre a

sequência que virá. Não me quebre pela minha pele. Não quebre

EM MEMÓRIA DE MINHAS RUÍNAS

“Trinômio”, ilustração de Lila Bitten

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minha voz que é única. Este momento não tem volta. É como o vômito

... que quando começa não é possível parar.

Ouça, ouça, ouça minhas memórias presentes ficcionalizadas ... as

costuro em meu corpo para não perdê-las nas quedas. E para não mais

cair, corro, corro, corro sem sair do lugar e descubro que apocalipse

significa revelação e nessa revelação muitos me perseguem. Pois estou

no campo de visão daqueles cujas memórias já não mais existem.

Cuidado. Cuidado. Eu peço tenha cuidado onde pisa, pois você está

sozinha nas ruínas de todos os pés. E elas, as ruínas, pedem que as

celebremos! Porque elas são o único vestígio do que somos.

As memórias teimam em sair pela costura do meu corpo e as sopro,

sopro, sopro, mas não com doçura e sim, como o gosto amargo da

poeira que mora dentro de mim. Desculpa, é que é muito pesado

carregar os restos de todos e não posso esconder o alívio que é soprá-

las.

Essa repetição cansa. É cansativo soprar e costurar, costurar e soprar,

soprar e costurar.

Pausa para o chá? ....... Os três ursos me perguntam. ....... Não, por

enquanto não. ....... Tudo bem então. ....... Mas para mudar essa

imagem pare de se costurar e aceite de presente essa faca para cortar

sua pele.

Corto minha epiderme, chego à derme, me aprofundo na hipoderme e

me encontro nas vísceras. Encontro Três. Nós Três. Triângulo. Pai, Filho,

Espírito Santo. Começo, Meio, Fim. Brahma, Vishnu, Shiva. Passado,

Presente, Futuro. Não, Talvez, Sim. Descubro que sempre ressuscito no

terceiro dia e que em mim, reinam ruínas organizadas que teimam e

persistem. Existem e Resistem. Renascem e Nascem forte como a Maria.

Maria ... aquela chamada de sem vergonha, que tem todas as cores e

que da em qualquer lugar.

Até mesmo aqui, ....... nas ruínas de todas as memórias.

Respiro e paro.

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Afinal, uma suspensão é necessária para tomar chá comigo, ruína

organizada que aqui habita.

Pausa. ....... Olho para cima. ....... Três dragões sobrevoam as ruínas.

segundo movimento:

Respiro.

Este momento é como o vômito, que quando começa não é possível

parar.

Minhas memórias presentes ficcionalizadas, para não perdê-las, as

costuro em meu corpo.

Respiro.

Corto minha epiderme, chego à derme, me aprofundo na hipoderme e

me encontro nas vísceras. Nós Três. Triângulo. Pai, Filho, Espírito Santo.

Começo, Meio, Fim. Brahma, Vishnu, Shiva. Passado, Presente, Futuro.

Não, Talvez, Sim.

Respiro.

Afinal, uma suspensão é necessária para tomar chá comigo, ruína

organizada que aqui habita.

Pausa. Olho para cima. Três dragões sobrevoam as ruínas.

terceiro movimento:

em memória de minhas ruínas, os três dragões bebem chá.

CRISTINA SANTOS é paulistana, vegetariana, pisciana, com ascendente em

libra e lua em escorpião, é atriz, diretora e escritora. Em junho de 2001 formou-

se em atuação no Colégio William Shakespeare – Emílio Fontana. Em

dezembro de 2015 se formou em dramaturgia pela SP Escola de Teatro –

Centro de Formação das Artes do Palco. E desde janeiro de 2014 integra o

Coletivo de Dramaturgia: Malditos Dramaturgos!. |

[email protected]

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EBER S. CHAVES | Vitória da Conquista, BA.

CANA-DE-AÇÚCAR

“Prisão”, ilustração de Lila Bitten

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Houve um tempo em que a morte nos consolou do trabalho e do

cansaço de nossas mãos suportando a terra que todos os deuses

amaldiçoaram.

A preparação da terra, o plantio, a colheita e o corte; A cana-de-

açúcar sendo transportada para a casa da moenda, e depois moída e

prensada; O caldo cozido na casa das fornalhas...

E o doce da cana-de-açúcar não adoçava vida amarga do

homem-escravo importado da África...

E da cana saía o açúcar, e dos engenhos e plantações saíam

homens e mulheres açoitados e mutilados.

A sádica mão da Coroa portuguesa acionou a engrenagem do

lucrativo empreendimento colonial sob as benções de todos os santos.

E a cana-de-açúcar crescia sem nunca atingir a altura de uma

árvore; Erguendo-se em calamos de sete a oito pés, com uma

polegada de espessura.

Árvore esponjosa, suculenta e cheia de um miolo doce e branco.

Folhas dois côvados de comprimento e flor filamentosa irrigadas

com o suor do rosto.

Raiz macia e pouco lenhosa crescendo sob a terra esperança

manchada pela poça de sangue ancestral.

Há quinze gerações o sonho de homens livre-arbítrio à espera de

uma nova safra se renova.

EBER S. CHAVES nasceu em 1979, em Itaquara, Bahia. Atualmente, reside em

Vitória da Conquista/BA. Graduado em Administração, é blogueiro,

apreciador de psicanálise, filosofia, poesia, literatura fantástica, filmes de

ficção e fantasia, rock’n’roll, cervejas especiais e feijoada. |

[email protected]

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EDSON AMARO DE SOUZA | São Gonçalo, RJ.

GREVE E ENCHENTE

Ilustração de A. Mimura

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Para Dayse Gomes, Vera Nepomuceno, Charles Pimenta e Vanessa

Figueiredo

Tem greve na escola

E enchente no bairro –

Cancelam-se as aulas

Em ambos os casos,

Mas diz a tevê

Que a greve é do mal

Pois deixa os alunos

Dois meses sem aulas.

E culpa os docentes.

Não diz que a enchente

Impede mil aulas

Pois tantas famílias

Se alojam na escola.

E culpa São Pedro

Que não se defende,

Processos não move,

Não grita que a culpa

Ao mau gestor cabe,

Pois sabe que as chuvas

De Março virão

E nada faz útil

Com pública verba

Abrindo caminhos

Pra chuva correr

Pros braços do mar.

São Pedro se cala

Mas os mestres gritam

E o mau gestor paga

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Notícias compradas

Que culpam São Pedro

E os mestres que gritam.

(1º de abril de 2016)

EDSON AMARO DE SOUZA é professor de Língua Portuguesa na rede pública

estadual do Rio de Janeiro, ator, poeta e tradutor. Participou da primeira

montagem da peça “Um Não Sei Quê Que Nasce Não Sei Onde”, de Maria

Jacintha em 2014, e em 2015 publicou, pela editora Buriti, sua tradução do

romance “Valperga”, de Mary Shelley | [email protected]

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EDSON COSTA DUARTE| Campinas, SP / Dublin, Irlanda.

FIM DA LINHA

“Caminhos”, ilustração de Lila Bitten

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“Dai”1 mais de cem vezes escrita na areia

voltei cansado

desisti de morrer.

Takuboku Ishikawa

Seria preciso, por enquanto, que eu rasgasse aquele 6 de setembro

estampado no bilhete de ônibus que ainda guardo comigo. Datas

fixam geografias em nossa mente, e daí, o tempo em círculo, retorna

sempre sempre. Seria preciso rasgar esta data e com ela tantas outras,

telefonemas, conluios, segredos ouvidos atrás das portas, enganos e

mentiras que sempre fingimos ser outra coisa que não são.

Depois. Depois viriam as fotos, os presentes dados, aquela camisa azul que

não esqueço, toda surpresa e espanto. Os motéis anônimos, como nós,

fugitivos de alguma coisa, culpados, ou você culpado e eu cúmplice,

cúmplice sempre, respondendo a pedidos de que eu fosse a teu encontro,

pedidos feitos, com voz de um desejo inventado que, por conveniência,

sempre acreditei, pois essa era uma possibilidade possível de invenção da

vida.

Seria preciso não responder mais as minhas perguntas, tantas, dos

porquês, não telefonar mais para você, sumir-me, evacuar-me de mim

mesmo, descer pelo ralo feito coisa imprópria para o uso, já digerida,

matéria que agora só presta para estercar a terra. Depois, exausto, seria

preciso descansar da lida. Vômitos. Afasias. Abulias. Lágrimas

inventadas. Que patéticas são as vítimas.

Contadas todas as coisas, fim de festa, fim de jogo, fim de linha, dar

um tempo pra mim mesmo. Feitas as contas, fecharia para balanço e

teria sido preciso não esquecer mais nada para o dia seguinte.

Mas o dia seguinte volta, assim como os outros, e eu haveria de lembrar

alguma coisa escondida, alguma poeira num livro mal limpo, algum cisco no

olho, mínimo, mas ali, insistindo em existir à minha revelia. Mas desaguar, daqui

1 “Daí”, em japonês, significa: tema, assunto, título.

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por diante, seria mais fácil, porque muito eu já teria feito. Seria preciso rasgar,

novamente, memória confusa do trânsito do tempo, rasgar tudo datas lugares

imagens que não se cansam de voltar à minha mente.

Que vício isso de ser um assíduo cliente do suplício. Que vício isso de

ser vítima, presa fácil de mim mesmo. Que indelicadeza com a carne

esse constante refazer as feridas. Que coisa mais inútil a pele que só

serve a sevícias do pensamento.

Teria sido preciso, aos poucos, mas forte, austero, crescer, vencer o

tempo, tornar-me homem, não mais essa coisa adolescente cansativa e

patética que sempre volta ao mesmo lugar depois da lida. Teria sido

preciso crescer-me em mim, fazer minha própria comida, lavar as

roupas, arrumar a casa. Traçar uma rota precisa e possível. E assim,

dono de mim mesmo, nunca mais precisar escapar de meu eu, meu

maior inimigo.

Seria preciso rasgar, dilacerar, macerar tudo, mas com a delicadeza do

instante, fugidio, fugaz, frugal manhã e eu nascendo outro, sem tantos vitimais

discursos, animal assim, sim, animal de fome e vício, animal de víscera aberta,

ofegante, no limite, mas lutando contra a vida, e assim me refazendo menos

coisa morta, menos vítima.

E se assim o fosse, lembraria hoje não destes estranhos sentimentos

desaguando em mim, de paisagens áridas, toscas, sem lume; se assim o

fosse o tempo seria de colheita e frutos, fáceis ácidos tolerantes. Se

assim o fosse haveria na memória não vagos motéis, gestos anônimos,

voz dissimulada e nenhuma presença de coisas que nunca existiram.

Se assim o fosse, seria outra a geografia da mente, lembraria não de

fatos, lustres de cristal, aquários sem peixes, nem do partido das coisas

que insistem em não ser; se assim o fosse lembraria do vasto e do

efêmero, tudo cabendo exato límpido cristalino, cristal partido que seja,

mas tudo ali perfeitamente intacto e eleito.

Seria preciso descansar mais um pouco agora, voltar ao tempo, revisitar,

recordar, tocar as cordas do coração com menos resistência, com mais

alento, rememorar pouco por pouco o pouco que me sobra, e tocar com a

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mão virgem cada nova imagem, fala ou fato. Depois, depois mais uma vez o

tempo, viria por fim líquido escorrendo menos espesso e lento, e o banhar-me

nessa água, agora nova, fonte de onde saio inteiro outro.

Passar na memória o filme que não revi, fazer outra montagem

possível. Executar, guilhotinar, cortar pedaço por pedaço o tempo e

construi-lo enquanto coisa informe e menos máscara, menos espelho

dessa estranha coisa que escorre em mim.

Teria sido preciso tanto tempo. E o tempo é tão curto pra tão longa

vida. Seria preciso não rasgar mais nada, memória e sentimento,

estranho legado de carregar consigo tanta coisa inútil. Seria preciso

queimar urgentemente tudo que me queima a mente e depois nunca

mais retomar o fio da meada, nunca mais ouvir o eco dessas coisas

gastas.

Sempre volto ao mesmo lugar. Círculo de medo quando encaro a

vida.

Antes de tudo, seria preciso ver-me, inteiro e austero, amoroso e

indolente, seria preciso, antes de tudo, ver-me com olhos limpos do

passado, e, enfim, reviver-me.

EDSON COSTA DUARTE nasceu numa pequena cidade de Minas Gerais,

Pratápolis e mudou-se muito cedo para Campinas/ SP. Estudou Letras na

Unicamp, onde também fez mestrado sobre a obra de Clarice Lispector. Entre

os anos de 1992 a 1996, organizou o acervo documental da escritora Hilda

Hilst, que foi negociado em duas partes com o Centro de Documentação

Cultural “Alexandre Eulálio”, Instituto de Estudos da Linguagem, Unicamp, em

1995 e em 2002. Em 2002, mudou-se para Florianópolis para fazer seu

doutorado, na UFSC, sobre a poesia de Hilda Hilst. Desde 2006 voltou a morar

em Campinas. Entre 2007 e 2009, fez um pós-doutorado sobre a prosa de Hilst,

sob supervisão do professor Dr. Jorge Coli, do Instituto de Filosofia e Ciências

Humanas, Unicamp. Atualmente, mora em Dublin, Irlanda.|

[email protected]

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HELENA BARBAGELATA | Lisboa, Portugal.

I. Baixa-Mar

A linha azul do mar, a linha espargida

que mergulha interminavelmente sobre léguas

invisíveis, a linha marinheira que arpoa

AS NAUS INSONHADAS

“Naus Perdidas”, ilustração de Lila Bitten

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a tingidura ao céu e a melancolia aos

olhares densos de sal e ausência, a linha

que não é linha, mas vagar de ideia

consolo pobre a que a canalha

arroja batéis de fuga; a linha que não

é linha e tão pouco azul, anelante mar

infinito;

Mulheres estendem vagarosamente a humidade

branca dos lençóis nocturnos, desgrenhados

como velas tristes, despedindo caravelas e

trirremes ao vento; sarandeiam vestígios

adormecidos de estrelas, a desabitada máscara

do sonho, o calor desmaiado da carne,

escorrendo, por veias de água até à terra;

A linha loura da terra, a linha espargida

que recai interminavelmente sobre caminhos

invisíveis, a linha ceifadora que colhe

a tingidura ao sol e a firmeza aos olhares

hirtos de ressuo e olvido, a linha que

não é linha mas vagar de ideia, consolo

pobre a que os anciãos atracam

batéis de fome; a linha que não é

linha e tão pouco loura, desejosa terra

infinita;

II. Salaminia

Numa nau na rota do embigo, entramos

com os quatro pés ilícitos com os quatro

braços, teratismos proscritos do

paraíso dos deuses, mas não

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do nosso,

Não está ninguém à espera na orla

de areia, arramada aos teares e às

lágrimas, não esposámos a morte,

em véus de carpideira, com os lábios

exsicados de Penélope e a beleza

ciosa das gaiolas de Hefesto,

Nesta barcaça, só dois remeiros,

se desembarcarmos, talvez sejam

as praias do mar, a amortalhar-nos

em médões de água, que gasta

está a terra dos homens, em grãos

de cadáveres, dessepultaremos

as vozes que restam, acobertadas

pelas funduras e sem

sentença.

III. Ammonias

Poderia ter sido em qualquer

ínsua, bastaria que a torneasse

um abismo de nostalgias, há

quem lhe chame mar, além

ou em nenhuma parte, nesse

indefinido, onde se afundou a

barca, as suas corolas de flores

pálidas, do templo de Zeus, todos

os barcos são de papel para as

vísceras do mar,

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Lembrava, o vulto do seu filho,

lá dentro o seu filho, poderia ter

sido qualquer outro, em terra

mantos de veludo negro, chorincos

de sanfonas e cordas, as mesmas

que estalavam alegres, no panegírico

folguedo do verão, que modulavam

as danças nos calcanhares trigueiros,

solevando o saibro das tardes.

De olhos pelágicos e cabelos

brancos, traçando as pernas num

transe demorado, recurvado

à gravidade do chão, os mortos

clamando pelo seu corpo abandonado,

ao sopor dionisíaco da dança,

com as tavernas barroteadas

de mágoas e lumieiras vermelhas.

Lembrava, o nome dela era prazer,

aldeagava descalça pelos outeiros

de sal e peixe, a pouca doçura que tinha

encerrava-a toda no nome, como

uma roseira encerra a sua essência;

quando o quimão da noite embrulhava

a sua carne quente e tamarina,

saciava a fome ao chamamento

temulento dos marujos; ele não era

um Ulisses, só um pescador de sargos,

que não tinha nas aljafras mais que

alma para lhe dar, e ela sorrira-lhe.

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De olhos pelágicos e cabelos

brancos, baloiçando com a tristeza

em passos de sombra, com a

sofreguidão suada das palmas, até

que os concertos de pés lhe azoassem

a memória, até que os braços estendessem

asas, e que não fosse ele, nem ela,

nem a morte, apenas

música.

IV. São Nicolau

A Alexis G.

Alexandre vinha inerme, não levantava

na lomba do seu nome, uma armada

de mil espadas, as mãos abriam-se, descamisadas

como leques de asfódelo à passagem

das asas do vento; Alexandre vinha

escudado, soerguia no seu peito

uma guarnição de homens sem nome,

que outro desarme, têm os palmos rentes

da liberdade, adamados pelo estro do sol,

outra que não tentear as estrelas, tocá-las

com a ponta crestada e ícara de

todos os desejos.

Os vivos conhecem a morte, o hemerológio

desformado do tempo, o tricentésimo

quadragésimo dia do ano, o sexto dia da

primeira semana do último mês, estemas

azuis sobre os barcos, bandeiras, as crianças

ávidas de doces e tesouros; nas abadias,

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os púlpitos enfumaçados da cânfora

roubada aos cabelos de Artemísia; Alexandre

e eu, na mesma noite, poderia ser qualquer

outra noite, chorávamos por um só

respiro, e as névoas de coros, cantando

por Nicolau, numa nave de pesca, boleado

pelos mares túrcicos; não viria dobrar-lhes,

as gachas aos carrascos, como desatara os

prisioneiros da tirania de Eustácio.

Mas os mortos nada conhecem, não

lhes resta qualquer recompensa, nem

que em Mira lhes pintassem delicadamente

o rosto, para um túmulo aluviado de rios;

fossem antes lembrança profana dos deuses,

esférulas doridas no sobrolho branco de Artemísia,

que a carne baleada e crística, ao olvido

das calçadas quebradas da meia-noite.

HELENA BARBAGELATA nasceu em Lisboa a 6 de Dezembro de 1991 e vive em

Atenas. É uma artista multidisciplinar, dedicada às artes plásticas, música e

letras. Participa em revistas e antologias literárias em Portugal, Brasil e Itália,

tendo sido laureada em diversos concursos internacionais. Foi a mais jovem

vencedora do “Prémio Poesia e Ficção de Almada” (Edição de 2012), com a

obra “O Mar de Todos os Deuses”, atribuído por unanimidade pela Associação

Portuguesa de Escritores, Sociedade de Língua Portuguesa e pela Câmara

Municipal de Almada. Tem publicada a obra Soliloquia (Apenas-Livros, 2013). |

[email protected]

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MILTON REZENDE| Ervália, MG.

ENCHENTE

Ilustração de A. Mimura

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A chuva lá fora

inunda aqui

dentro.

As janelas

abertas e um grande

esgotamento.

Esse silêncio

e o mármore do tempo

pinta de branco os cabelos.

Não sei o que acontece

comigo, mas nunca pude

aceitar o fim de nada.

A vida passa e eu não sei

lidar com o envelhecimento.

O Jardim Simultâneo

MILTON REZENDE, mineiro de Ervália, possui nove livros publicados. |

[email protected]

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PAULO ARCE | Campinas, SP.

UM CACHORRO

“Dualidade”, ilustração de Lila Bitten

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daqui de cima deste prédio

vejo aquele cachorro lá embaixo

comendo merda e comendo lixo

corre pela avenida esganiçado

faminto, revira a lixeira

encontra o que busca, o que mata a fome

vai atrás de uma fêmea:

quem há de censurá-lo?

é livre e pode fazer o que bem entender

daqui de cima deste prédio

percebo que na realidade

aquela avenida é toda dele

e tenho a impressão de que

de lá debaixo ele me late dizendo:

“seu otário, esse rabo aqui é só meu”

daqui de cima deste prédio

fico louco quando percebo que estou preso

a um computador e a umas pessoas

vejo aquele cachorro se coçar, trepar e comer merda

e invejo aquele animal

PAULO ARCE é professor universitário e funcionário público. Escreve poesias e

contos para rebater a monotonia sufocante dos dias. Vencedor do "I Concurso

Literário Era uma vez" (2015) da IMA (Informática dos Municípios Associados de

Campinas), na categoria de contos. Publica contos no site entrelinhas.org. |

[email protected]

Page 28: Revista subversa vol 4 nº9 maio2016

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PILAR BU | Goiânia, GO.

“Me transbordo”, ilustração de Lila Bitten

ESGANADA

Page 29: Revista subversa vol 4 nº9 maio2016

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então eram

os lábios, os músculos

as terminações

nervosas

e empáticas

depois o abismo

no prato inteiro

de uma só vez

sorveu as palavras

e as sílabas

estalavam entre dentes

engolia sem mastigar

enquanto som

e ritmo

escorriam pelo queixo

os olhos vidrados

atropelavam parágrafos

a cada gota escorrida

ficava mais líquida

saltou-lhe a jugular

tinha metáforas demais

PILAR BU nasceu no Rio de Janeiro, 1983, mas acredita que a estrada é grande

demais pra se fixar e por isso vez por outra se muda e se joga por aí. Mestranda

em literatura, é triplo-fogo do zodíaco, feminista e assumidamente viciada em

carnaval. Vive em Goiânia, na Toca dos Vampiros, com seus gatos e seu

companheiro. Escritora e poeta, obcecada pelas palavras, tem procurado

viver disso: escrever, ler e viajar (em todos os sentidos). Já foi publicada em

algumas revistas eletrônicas e seu primeiro livro de poemas, Ultraviolenta, tem

previsão de publicação ainda para 2016. | [email protected]

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RAFAEL LINDEN | Rio de Janeiro, RJ.

Meu nome é Priya. É sânscrito para “amada”. E eu quase fui feliz.

***

SUSAN

“Conecte”, ilustração de Lila Bitten

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Uma generosa bolsa de estudos trouxe-me da Índia para a Universidade

de Oxford. Apaixonei-me por David. Agora, passados três anos, minha tese foi

aprovada e recebi uma excelente oferta de emprego.

Eu nunca saíra de perto de minha mãe. Tinha dois anos de idade

quando ela enviuvou. Depois, negou-se a aceitar um novo casamento, que

lhe tentavam arranjar conforme a tradição. Ela era triste, e mais triste ficou

quando deixei Bangalore para continuar meus estudos.

Adiei a viagem até o último momento. Ouvi, resignada, as ponderações

dos mais velhos. Ignorei os apelos e a indignação de meus tios e tias, que não

viam motivo para deixar minha cidade natal. Caçoei das histórias de terror e

as insinuações maliciosas de minhas primas e primos. Acima de tudo, resisti ao

silêncio dolorido de minha mãe. Inédito em minha família de comerciantes, o

prestigioso doutorado, bem como a formação cultural oferecida na Inglaterra

seriam meu passaporte para uma vida mais interessante e confortável quando

voltasse para casa.

Cheguei a Oxford justo a tempo de descansar por uma única noite, e

apresentar-me para o início do curso. A bolsa de estudos financiou a

residência em um College próximo ao departamento de Física. A princípio me

vi soterrada no tanto que precisava estudar para esboçar meu projeto de

pesquisa. Ao fim da segunda semana fui, pela primeira vez, ao centro da

cidade. Visitei o museu, a nova biblioteca, o teatro, admirei os prédios antigos

da Universidade, passeei por ruas estreitas nas quais, ao longo de novecentos

anos, andaram grandes vultos da história britânica. Na volta, parei em frente

ao antigo prédio do Instituto de Estudos Indianos, cansada e com sede. Do

outro lado da rua fica o King’s Arms, um “pub” frequentado por estudantes e

professores e do qual meus colegas diziam, jocosamente, que era o bar com o

mais alto Q.I. por metro quadrado do planeta...

***

Quando Priya entrou, esbarrou nela uma moça ruiva, estabanada, de

rosto delicado e pele muito clara, andando de costas e acenando para um

rapaz louro que estava do outro lado do bar.

- Oh, desculpe-me, sou uma tonta mesmo. Meu nome é Susan Waynflete.

E o seu?

- Priya Jayaraman.

Page 32: Revista subversa vol 4 nº9 maio2016

32

- Puxa, seus olhos são tão bonitos! Você nasceu na Índia mesmo?

- Nasci, toda minha família mora lá. Estou aqui para fazer doutorado em

Física.

- Física? Uau! Qual é o seu College?

- Linacre. E você, está na Universidade?

- Estou graduando e vou fazer doutorado em Ciências Políticas. Ei, David,

venha conhecer a Priya! David é meu amigo e colega no Magdalen College.

- Eu não sabia que o Magdalen aceitava estudantes do sexo feminino.

- Somos poucas e boas! Mas - piscou o olho –, meu sobrenome ajuda.

David, venha, quero lhe apresentar a Priya.

- Muito prazer. Você é nova aqui?

- Acabei de chegar da Índia, é a primeira vez que entro num pub.

- Susan, vou pegar mais cerveja para nós. Priya, você nos acompanha?

- Não, obrigada. Vou tomar uma soda.

***

A amizade de Priya com Susan foi instantânea. Conversavam sobre tudo,

de sapatos a intimidades. Emprestavam-se roupas. Convidavam-se para jantar

nos respectivos Colleges. O Linacre é moderno e descontraído. Fica ao lado

do parque e próximo ao rio que corta a cidade. Já o Magdalen, fundado há

cinco séculos e meio, é um dos mais tradicionais. Lá estudaram celebridades

como Lawrence da Arábia, o escritor Oscar Wilde e vários ganhadores do

Prêmio Nobel.

Priya estranhava o contraste entre a leveza dos rituais no Linacre e o

formalismo afetado do Magdalen. Já Susan seduzia, em poucos minutos,

quaisquer vizinhos da grande mesa de jantar. A charmosa inglesinha logo

deixava de ser Miss Waynflete, para ser a Suzy que todos adoravam.

Ela morava no próprio College, mas David, que também fazia

doutorado, ocupava uma água-furtada num prédio na rua vizinha. O edifício,

ultramoderno, era ladeado por um muro construído há mais de sete séculos.

***

- É verdade, Priya, a Susan é uma celebridade. Também, ostenta o

sobrenome do bispo...

- Bispo?

Page 33: Revista subversa vol 4 nº9 maio2016

33

- Quem fundou o Magdalen foi um bispo chamado William Waynflete.

Mas ele não deixou descendentes, só os tolos acreditam que ela é, de fato, de

família histórica.

- E você, também é uma falsa celebridade?

- Nem isso. Sou filho único de um motorista de táxi de Londres. Ele

trabalhou dezoito horas por dia para bancar minha educação. Conseguiu-me

uma boa escola e estudei dia e noite para ter notas excelentes e ser admitido

num College chique. Eu sou simplesmente Smith.

- Gostei, a partir de agora vou chamá-lo de “Simplesmente Smith”.

- Você é muito engraçadinha, Jayaraman. Acho que um banho na

água gelada lhe faria bem...

Já estou em Oxford há seis meses e é a primeira vez que nos vemos

sozinhos. Estamos num barquinho de fundo chato e proa quadrada, que David

impulsiona com uma vara comprida de alumínio pressionada contra o leito do

rio. Ele me prometera uma pequena aventura...

- Então é isso que chamam de punt. O rio está cheio desses barquinhos.

- Isso mesmo, é mais uma de nossas tradições.

- Você é um proletário tão apegado a tradições quanto um aristocrata,

meu caro David Smith.

- Na verdade, não. Mas a cidade tem tanta história que nos encanta

este modo de vida.

- Pois eu sou muito ciosa de minhas origens e das tradições do meu povo.

Aliás, o contraste entre prédios modernos e os antigos, conservados com tanto

cuidado por aqui, me lembra do quanto desejo preservar minha cultura,

apesar de odiar a estratificação da sociedade indiana e o hábito de

promover casamentos arranjados pelas famílias.

- O que eu chamo de “meu povo” não se limita aos meus antepassados.

São todos os que cruzam minha vida. Você já faz parte do meu povo, Priya. E

eu já sou parte do seu.

Algo no tom de voz de David, eu não sabia bem o que era, parecia

bom.

***

Nos meses seguintes, Priya se envolveu cada vez mais com sua pesquisa.

Susan foi aceita no doutorado. David trabalhava muito, mas com frequência

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34

se perdia em devaneios. A amiga percebeu e, um dia, perguntou à queima-

roupa:

- Quando você vai falar com a Priya?

David estremeceu e desconversou.

- Falar o que, Suzy, e a propósito, você tem visto a Priya? Ela anda

ocupada com a tese.

Com ar de mofa, Susan olhou para o rapaz mas, desta vez, resolveu

poupá-lo.

- Não, ela não aparece há duas semanas e, ao telefone, só diz que não

tem tempo para nada.

***

- Hoje eu vou ensiná-la a guiar o punt.

- E isso é tarefa de mulher?

- Ora essa, você faz Física Nuclear! Não pode fazer um bote deslizar num

riozinho manso como esse? Olhe como eu faço: deixe a vara de alumínio

chegar ao fundo e empurre para trás. Quando o bote deslizar, puxe a vara de

volta, alternando as mãos. Assim, viu?... Mais uma vez, isso!... Está indo muito

bem, agora sozinha.

- Veja, David, estou no comando!

Ele sorriu, embevecido.

- Mas atenção, se a vara não soltar do fundo, largue-a imediatamente.

Há um remo aqui e voltaremos para pegá-la...não, assim não! Cuidado, você

vai cair!

...

- Meu herói!

David enlaçara Priya pela cintura para evitar sua queda na água.

Olharam-se intensamente, em silêncio, enquanto o bote deslizava

mansamente na direção da margem. Tinham de voltar para pegar a vara de

alumínio. Mas não havia mais nada no universo.

***

- Susan, estou apaixonado! Priya é um presente dos céus, uma benção. É

doce, carinhosa, sensual e é forte, decidida, brilhante...

A inglesinha o interrompeu, com certa rispidez.

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- Já entendi, David. Eu adoro a Priya, somos grandes amigas e estou feliz

por vocês.

O rapaz só tinha olhos e ouvidos para uma pessoa no mundo. Sequer

percebeu a expressão do rosto e no tom de voz de Susan

***

Depois de meses tentando minha mãe aprendeu, finalmente, a usar o

correio eletrônico sozinha. Assim temos mais liberdade para trocar mensagens.

Ela está ansiosa por minha volta. O resto da família sossegou e, segundo

mamãe, pergunta sempre como estão meus estudos, se conheço os indianos

que estão em Oxford. Ela lhes diz que sim, sim...

Conto-lhe sobre David. Ela demonstra alegria e tristeza. Que mãe não se

regozijaria com uma filha apaixonada? Ao mesmo tempo, antevê a ruptura

com a família. De fato, meus tios fizeram de tudo para convencer-me a

terminar o namoro. Era, diziam, um insulto à memória de meu pai. Outra vez

resisti. O apego a minha identidade se esvaía nas palavras de David: “nosso

povo é aquele que cruza nossas vidas”.

***

- Ele anda preocupado, inseguro.

- Eu também, Suzy. Mas estou concorrendo a um emprego em Londres e

quero ficar na Inglaterra. Não conte nada para o David. Receio não conseguir

e desapontá-lo. Dentro de duas semanas vou defender a tese e logo haverá a

entrevista decisiva para este emprego.

- Sua mãe vai morrer de tristeza, Priya.

- Não fale assim, se tudo der certo vou traze-la para cá. Seja como for,

eu também tenho direito à felicidade. Não suportaria viver de novo naquele

ambiente opressor.

- Ora, você faz doutorado na Inglaterra e namora um inglês. O que resta

para convencer seus tios de que você é um espírito livre, que não se submete

a tradições anacrônicas?

- Lá é diferente, Susan. Não quero passar a vida esgrimindo com minha

família. Quero ser feliz sem sobressaltos.

- Hmm...

***

Page 36: Revista subversa vol 4 nº9 maio2016

36

- Vocês já conversaram sobre o que será depois que ela defender a

tese?

- Tenho medo de falar sobre isso, Suzy. E acho que ela também.

- David, querido. Só vou lhe contar isso porque me preocupo com você.

Ela não disse diretamente, mas deu a entender que em breve voltará para

casa.

- Eu poderia ir com ela para a Índia...

- Você sabe que eu só lhe desejo o melhor. Não quero desencorajá-lo,

mas ela me garantiu que os tios são inflexíveis, e que não pretende passar a

vida esgrimindo com a família. As tradições são fortes demais e, você sabe,

ela sempre colocou a carreira em primeiro lugar.

- Susan, eu amo Priya. Não sei mais viver sem ela. Você é minha melhor

amiga. Preciso de você, de seu apoio.

Ela sorriu, consternada.

- Sinto muito, David.

***

No dia em que eu recebi o título de doutora, sob uma chuva de

elogios, disse a David que precisava fazer uma viagem imediata para resolver

assuntos particulares, mas que voltaria logo. Ele quis saber para onde, por quê.

Pedi-lhe que confiasse em mim. Fomos para a estação. Quando tomei o trem,

notei que David estava cabisbaixo. Susan parecia distraída.

Havia dezenas de candidatos e apenas uma vaga. O processo de

escolha durou quase duas semanas. No entanto, os entrevistadores ficaram

impressionados com meu conhecimento, minhas habilidades e o vigor com

que enfrentei questionamentos pessoais. Foi-me oferecido o emprego.

Tomei o trem de volta para Oxford transbordando de felicidade,

esquecida até de que deveria comunicar a decisão à minha mãe e enfrentar

as críticas dos familiares. Mas nada disso interessava. Tudo o que eu queria era

contar a David que ficaríamos juntos.

Subi correndo as escadas do edifício, cheguei ofegante ao último andar.

Tomei fôlego, abri a porta do apartamento e encontrei David de bruços no

chão, ao lado de um porta-retrato com nossa foto, os dois sorridentes, num

bote de fundo chato e proa quadrada, parado na beira do rio.

Sobre a cômoda, dois frascos vazios.

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37

RAFAEL LINDEN é Professor do Instituto de Biofísica da UFRJ e autor de mais de

150 publicações entre artigos, capítulos e livros científicos. Publicou o livro de

divulgação “Genes contra doenças”, pela editora Vieira & Lent. Em 2012, seu

conto “Retrospecto” venceu o concurso da editora Guemanisse, em 2013 seu

conto “Nada mais que a verdade” foi 3o lugar no Concurso da Prefeitura de

Nova Friburgo, RJ, e em 2014 seu texto “A catedral” foi classificado em 8o lugar

no Concuro Nacional de Contos José Cândido de Carvalho, da Prefeitura de

Campos dos Goytacazes, RJ. Publica regularmente crônicas e contos no blog

“Um cientista no telhado” |[email protected]

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38

WAGNER SCHADECK | Curitiba, PR.

Embora a edição da sua obra lírica, Toda a Poesia, tenha se

tornado um fenômeno de vendas, o ponto mais alto da poética de

Paulo Leminski (1944 -1989) está no “romance experimental” Catatau

(1975), onde o poeta apresenta a origem do pensamento utópico no

Brasil e o conflito ideológico na poesia.

“Cidade de poesia”, ilustração de Lila Bitten

QUATRO INVENÇÕES DA CIDADE

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39

O romance é na verdade um desenvolvimento do conto

Descartes sem lentes (1966). Tendo como fonte o livro de Gaspar Barléu

(1584-1648), segundo o qual a língua latina (língua da civilização)

marcava a confiabilidade das relações entre portugueses e holandeses

durante as invasões holandesas,2 Leminski imaginou a vinda do filósofo

racionalista francês René Descartes (1596-1650) para o Brasil.

Assim como o demônio surge no redemoinho, no Grande Sertão:

Veredas, de Guimarães Rosa (1908 -1967), no texto de Leminski, Occam

(alegorização da lógica de Guilherme de Ockham) atormenta a

linguagem. Renatus Cartesius (nome latino do filósofo) inala cannabis e

passa a enxergar a realidade brasileira ampliada. A alegoria das

“lentes” e do “binóculo” é, ao mesmo tempo, o cachimbo e o método

cartesiano. A perplexidade do filósofo francês está em não conseguir

reduzir a realidade complexa em seu método.

O racionalismo cartesiano embasa o pensamento revolucionário.

O método ideológico separa o “eu” da estrutura da realidade,

simplificando a complexidade do mundo. Ao contrário de Santo

Agostinho, para quem a estrutura da realidade e o “eu” só existem por

graça de Deus, René Descartes cria um “eu pensante” (“Cogito ego

sum”: Penso logo existo, ou no trocadilho de Leminski “ergo”: logo). A

partir disso, através da redução da estrutura da realidade (a Navalha

de Occam) ao método científico, muitos filósofos acreditarão poder

aperfeiçoar o mundo.

Occam deixou uma história de mistérios peripérsicos onde

aconstrece isso monstro. Occam, acaba lá com isso, não

consigo entender o que digo, por mais que persigo.3

2 Cf. BARLÉU, Gaspar. O Brasil holandês sob o Conde João Maurício de Nassau: história dos feitos

recentemente praticados durante oito anos no Brasil e noutras partes sob o governo do Ilustríssimo

João Maurício Conde de Nassau, etc. tradução e notas de Cláudio Brandão. – Brasília : Senado Federal,

Conselho Editorial, 2005.

3 LEMINSKI. Paulo. Catatau. Curitiba: Travessa dos editores, 2004, p. 24.

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Embora Leminski negue-lhe existência “real”, esse monstro é a

própria confusão racional. Em nível simbólico, o Descartes leminskiano

diz que a Occam (ideologia) está na linguagem, enquanto Artyczwsky

(Arte, artifício, artimanha) só surge quando embriagado. Esta lógica

reducionista embasou o fascismo, o nazismo e o marxismo. Talvez esta

sombra que perturbara Descartes fosse à mesma que incomodava

Leminski, de estudante beneditino a marxista, ansioso em compactuar

do prestígio do grupo concretista. Talvez o fantasma que passou a

perturbar a poesia brasileira, sob os nomes de poesia participativa,

engajada e alternativa.

A poesia é o contrário da ideologia. Na lógica de Occam a

complexa estrutura é reduzida ao método, seja sociológico, histórico ou

político. Como diria um ideólogo, embora belo poeta, como Octavio

Paz, na poesia: "As plumas são pedras, sem deixar de ser plumas."4

Em grande parte Leminski estava certo em dizer que a poesia fácil

estaria retornando às formas essências. Afora epígonos do próprio

Leminski, eternamente reproduzindo o mestre, à primeira década deste

século surge uma poesia já mais diversificada, embora mantenha

alguns lugares da modernidade. Os lugares principais são o sentimento

de urbanização, ou cosmopolitismo; a metapoesia; o belo grotesco e os

paraísos artificiais, experiências oníricas induzidas por alucinógenos. As

poéticas mais comuns ainda são uma diluição do surrealismo, da poesia

beat, dos cancioneiros de ritmo cabralino e o ludismo.

Paulo Leminski também acertou sobre a presença ideológica no

Brasil, tanto no âmbito político, com a democracia, quanto como

elemento conturbador da poesia. A poesia de Ricardo Pozzo está

carregada de elementos ideológicos, o que funciona com uma ótica

periclitante. Aproveitando a teoria da modernidade em Baudelaire de

Walter Benjamim, o eu-lírico de Pozzo é um homem devorado pela

cidade. Há uma espécie de cisão entre um suposto homem selvagem e

4 PAZ, Octavio. Signos em Rotação. São Paulo. Ed. Perspectiva, 1976. p. 49.

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o homem civilizado. A falta de empatia entre o eu-lírico e a cidade

parece ser um dos sintomas da modernidade. Outro estaria na

sensação de controle ideológico, algo provindo de distopias como

1984, de George Orwell, e Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley,

mas sobretudo da crítica social de A Sociedade do Espetáculo, de Guy

Debord, e Simulacros e Simulações, de Jean Baudrilard. Trata-se de uma

concepção de que a realidade (a cidade, no caso de Pozzo) é falsa;

fora falsificada primeiramente pelo Leviatã (o Capital), com as

refutações de Mises, Hayek, Voegelin entre outros, e na prática com a

dissolução da URSS e a queda do muro de Berlim, após 1968 a teoria

ressurge acusando a opressão midiática. Não se trata de um

pensamento logicamente refutável; antes é uma cultura quase

hegemônica nas universidades, entre os grupos de intelectuais, artistas,

políticos e formadores de opinião; como o positivismo de outrora, mas

em proporções homéricas.

Como na caverna platônica, a cidade de Alvéolos de Petit Patê

(Patuá, 2015) é uma espécie de urbe sitiada, onde nem mesmo os

habitantes conhecem a própria miséria. É a cidade do Occam

leminskiano. No entanto, tal perspectiva é periclitante. O demônio da

ideologia leva ao niilismo e ao suicídio. Essa concepção política da

realidade serve como o imperativo de Antonio Gramsci (1891 - 1937)

segundo o qual tudo é política. Tal discurso deseja apenas saber quem

são os aliados, quem são os inimigos.

Graças ao olhar apurado de fotógrafo, Pozzo consegue

vislumbrar no cortinado do cotidiano a singularidade da cidade. O

poema mais alto do livro é A Barca5.

A nervosa barca trafega em modo sinistro

Rastreando inocências embrulhadas

Em papelotes intoxicados de soda cáustica

5 POZZO, Ricardo. Alvéolos de Petit Pavê. São Paulo: Patuá, 2015, p. 34.

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Serão cães hidrófobos

Em semáforos vertiginosos?

Recolherei as tampinhas de garrafa

Que condecoram os cadáveres calejados

Com projéteis de fumaça.

Como em um noturno, aliás uma constante no livro, o poeta

descreve, sem maiores perturbações de Occam, uma ronda policial. De

um modo sintético, com poucos traços, o poeta retrata a viatura com

giroflex e os cadáveres ao relento. O detalhe das cápsulas de projéteis

é admirável.

Uma leitura que não considerasse os “cães hidrófobos” como

policiais, mas como testemunhas do assassínio, traria mais leituras

possíveis. A barca poderia ser o carro de IML, numa metáfora que

evocaria também a personagem central do livro de Homero Gomes,

Solidão de Caronte (Patuá, 2013).

A poesia de Gomes é herdeira do surrealismo, reproduzindo aliás

um dos clichês da escola de Breton: o Anjo. Por outro lado, o fôlego

onírico reabilita para a contemporaneidade dois mitos clássicos: Sísifo e

Prometeu. A concepção deste último ainda mantém resquícios

românticos e gnósticos, numa leitura que relaciona o ladrão do fogo

com Lúcifer. O Sísifo de Homero Gomes, entretanto, é o homem

carregando a pedra das palavras que o esmagam, possível alegoria da

condenação do homem civilizado versus homem natural que agradaria

a Ricardo Pozzo, talvez numa condenação ideológica... Num dos

momentos altos do livro, principalmente pela rima toante marcando os

versos, recurso este infelizmente pouco explorado, no poema O Silêncio

dos Tambores que se relaciona com o longo Sísifo:

Lutou o homem contra si mesmo.

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Contra seus nervos partidos,

Contra a palma dos pés e o firmamento.

Lutou o homem contra seus medos.

Contra seus sonhos de menino,

Contra os cílios e as lágrimas na face.6

A lírica de Rodrigo Madeira é a grande promessa curitibana. A

concepção do livro pássaro ruim (Medusa, 2009) é a metamorfose do

inseto (o gafanhoto) que é nefasto, sendo, no entanto, o alimento dos

profetas. Assim como em Pozzo, a poesia de Madeira é urbana. Em

comum a ambos, encontramos a entrada nos Paraísos Artificiais, como

em “balada da cruz machado”7.

uma rua à queima-roupa

curta, brilhante, sem fôlego

( puta nova mas ancestral)

rua-faca, rua-vício

a cruz machado termina

nos pés de uma catedral.

alguém além de deus e

da polícia e taxistas

e putas e vigaristas

cafetões e travestis

sabe que depois das 20

nas calçadas do acinte

beijam latas os guris?

que se agridem por farelos?

que se juram por centavos?

filhos do sangue e do escarro

talhando derrota para

o horror de bicho caçado

6 GOMES, Homero. Solidão de Caronte. São Paulo: Patuá, 2013. p. 51.

7 MADEIRA, Rodrigo. pássaro ruim. Curitiba: Medusa, 2009, p. 15.

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que, de manhã, tresnoitara...

para as gargantas gastarem

para os alvéolos gritarem

nesta imunda forja da

convulsão respiratória

este pão da falta de ar

na mesma lama ofertória

a ninguém ou coisa alguma

que a raiva de mendigar

que a fissura que verruma:

pedra pedra pedra pedra

quem dentre vós estiver

sem pecado

que fume a primeira pedra.

[...]

No entanto, em sua lírica a perturbação ideológica, em menor

ocorrência em Homero Gomes e em maior em Ricardo Pozzo, quase

não é notada. O eu-lírico de Madeira é o catador e reciclador da

“cultura materialista”; é o próprio “poeta sórdido” de Manuel Bandeira,

“Aquele que se suja com a vida”. Herdeiro de Lorca e Cabral, em

Madeira a experiência é mais forte que o rigor, embora em momentos

menos felizes decline para certos maneirismos concretistas.

Também senhor das poéticas, mas muito mais abusivo em relação

a elas, está a poesia de Ivan Justem Santana. Em 64 peças (Dezoito zero

um, 2015), o poeta reúne sua produção publicada em blogue. A

concepção do livro é o jogo de xadrez. Ao contrário dos outros três

poetas, embora herdeiro de Leminski e Marcos Prado (1961 – 1996, de

quem foi amigo e com quem chegou a compor), na poesia de Ivan

não há presença ideológica. Como seus mestres, seus poemas estão

cheios de gírias, trocadilhos, neologismos e palavras-valise (como

“sexoporífero”, o sono post coitum, ou em “vampirilâmpada” etc.) Há

evidente brincadeira num verso como: “Chove uns pingos mas não

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tremas”, ou em troças linguísticas como em “Um Thor [tour de force, do

francês: prodígio], um Lóki [gíria regional: néscio, estúpido], não-do-

mal”, com perda de sentido devido a gírias e regionalismos. Em muitos

momentos, entretanto, a irreverência soa forçada...

Os poemas de Justen são plenos de referências, principalmente a

William Blake, Augusto dos Anjos, Edgar Allan Poe (de quem emula a

poética de O corvo para o poema “Outro Pássaro”), Jorge Luis Borges e

o amigo Marcos Prado (1961 -1996), numa dupla referência a Carlos

Drummond de Andrade e a Dante Alighieri, em “Marcos Prado desce

aos infernos.”

Outro aspecto é uma tendência ao cultismo barroco, com

emulações de Gregório de Matos, no soneto Nesta Vida

Nesta vida já escutei Violeta Parra;

Sei também que bom cabrito é o que não berra,

Mesmo quando adoram métrica que erra

Ou se a rima assim me agarra e sai na marra...

Mas eu próprio me peço: não force a barra

Na volúpia veludosa que te encerra -

Pois por mais que suba ou desça a pé a serra

Fico sempre bem carente em qualquer farra...

Eu termino este soneto então por birra:

Rimo todas as vogais até que morra

E que enfim chorem por mim um hip, hip, hurra!

Não me tragam no velório incenso e mirra,

Nem se espantem da loucura dessa porra

Já que eu nunca cultivei surra nem curra.8

8 SANTANA, Ivan Justen. 64 peças. Dezoito zero um: Curitiba, 2015, p. 50.

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Não é uma lírica mundana, como a de Rodrigo Madeira;

desvestida de ideologia, no entanto, é uma poesia mais cerebral,

amiúde metapoética, menos feliz ainda quando se utiliza da cultura de

massa, como no trocadilho do soneto erótico que evoca Emiliano

Perneta, troçando com o “canguru”, piada esta captada apenas por

espectadores de programas de humor televisivo... Nestes casos, toda a

habilidade poética de Ivan parece com uma cigarra abandonada

pelo espírito do canto: é uma casca de silêncio.

Embora compartilhem em maior ou menor grau de poéticas, de

formas fixas ao poema em prosa, da lírica à anedota, do verso livre à

ironia, estes poetas representam uma promissora geração da poesia

curitibana. Fiéis à sua liberdade interior, entretanto, eles só serão maiores

quando contemplarem a complexidade da existência sem as lentes da

ideologia.

WAGNER SCHADECK (Curitiba, 1983) possui graduação em Letras Português e

Inglês e especialização em Desenvolvimento Editorial, pela PUC-PR. É poeta,

editor e tradutor. Colabora com os periódicos: Revista Poesia Sempre, Revista

Brasileira, Jornal Cândido e Jornal Rascunho. Como editor organizou uma

reedição de A peregrinação de Childe Harold, de Lord Byron, em 2015, pela

Editora Anticítera. Atualmente, além de livro autoral ainda sem nome, prepara

um livro de traduções de Virgílio, Dante, Goethe, Baudelaire, Rimbaud, Rollinat,

Rilke, Benn, entre outros. | www.editoraanticitera.wordpress.com

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INSTAGRAM | E-MAIL: [email protected]

Lila Bitten tem 18 anos e estuda design na UFSC. Se

interessa pelo desenho desde a infância e associa a ligação

com as artes à sua formação escolar de método Waldorf.

A artista utiliza principalmente a caneta nanquim,

misturando diversas técnicas e traços e privilegiando a

experimentação de outros materiais como a aquarela, o

grafite e a esferográfica.

Lila garante que continuará treinando e aprendendo

novas técnicas para cada vez mais conseguir passar pela sua

arte as sensações, sentimentos e pensamentos que lhe

inspiram.

SOBRE LILA BITTEN (Florianópolis, SC, Brasil)

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PARCEIROS:

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Edição e Revisão:

Morgana Rech e Tânia Ardito

Recepção de originais:

[email protected]