Revista imprensa cobertura das eleições nas tvs ago 2012

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84 IMPRENSA | AGOSTO 2012 VOTO EM CENA PARCERIA ENTRE TVS, JORNAIS E PORTAIS BUSCA SOMAR CREDIBILIDADE E AMPLIAR ALCANCE DAS SABATINAS E DEBATES POLÍTICOS; MENOS ENGESSADOS, JORNAIS IMPRESSOS FALAM SOBRE COMO GARANTIR COBERTURA EQUILIBRADA POR GUILHERME SARDAS* DA REPORTAGEM ELEIÇÕES N o dia 7 de outubro, o eleitor brasi- leiro vai às urnas para escolher os prefeitos, vice-prefeitos e vereado- res de seus municípios. Em caso de segundo turno, a votação acontece- rá no dia 28, sendo restrita às cidades com mais de 200 mil habitantes. Em meio à corrida da propagan- da eleitoral na TV e na imprensa escrita – delimi- tada entre 6 de julho e 5 de outubro –, os partidos sentam-se com os principais grupos de mídia do país para alinhavar detalhes de um instrumento cada vez mais importante para a consolidação da demo- cracia, e para eles mesmos: os debates televisivos. Como uma das partes fundamentais do jogo, jornalistas e veículos buscam garantir um con- fronto legítimo de propostas e esgotar, ao máximo, os discursos evasivos e decorados dos candidatos. O duelo não é ameno. “Pela importância que tem um debate hoje, os partidos fazem o possível para engessá-lo, de modo a não estimular o controle e a discussão das ideias. O principal trabalho de qual- quer emissora ou jornal é justamente na hora de discutir o regulamento do debate”, explica Celso Kinjô, diretor de jornalismo da TV Cultura. De biênio a biênio, já é possível sentir os efeitos do esforço da mídia e do amadurecimento do pró- Lourival Ribeiro

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Reportagem sobre as estratégias de cobertura e formatação dos debates televisivos, pela principais emissoras do país, para as eleições municipais de 2012.

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VOTOEM CENAPARCERIA ENTRE TVS, JORNAIS E PORTAIS BUSCA SOMAR CREDIBILIDADE E AMPLIAR

ALCANCE DAS SABATINAS E DEBATES POLÍTICOS; MENOS ENGESSADOS, JORNAIS IMPRESSOS FALAM SOBRE COMO GARANTIR

COBERTURA EQUILIBRADA

POR GUILHERME SARDAS*DA REPORTAGEM

E L E I Ç Õ E S

No dia 7 de outubro, o eleitor brasi-leiro vai às urnas para escolher os prefeitos, vice-prefeitos e vereado-res de seus municípios. Em caso de segundo turno, a votação acontece-

rá no dia 28, sendo restrita às cidades com mais de 200 mil habitantes. Em meio à corrida da propagan-da eleitoral na TV e na imprensa escrita – delimi-tada entre 6 de julho e 5 de outubro –, os partidos sentam-se com os principais grupos de mídia do país para alinhavar detalhes de um instrumento cada vez mais importante para a consolidação da demo-cracia, e para eles mesmos: os debates televisivos.

Como uma das partes fundamentais do jogo, jornalistas e veículos buscam garantir um con-fronto legítimo de propostas e esgotar, ao máximo, os discursos evasivos e decorados dos candidatos. O duelo não é ameno. “Pela importância que tem um debate hoje, os partidos fazem o possível para engessá-lo, de modo a não estimular o controle e a discussão das ideias. O principal trabalho de qual-quer emissora ou jornal é justamente na hora de discutir o regulamento do debate”, explica Celso Kinjô, diretor de jornalismo da TV Cultura.

De biênio a biênio, já é possível sentir os efeitos do esforço da mídia e do amadurecimento do pró-

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prio eleitor neste cabo de guerra. Em 1985, na pri-meira eleição municipal em São Paulo pós-ditadura, Jânio Quadros ausentou-se do debate da TV Globo; ganhou mesmo assim. Lula e FHC seguiram cami-nho similar, mesmo elegendo-se. Para Fernando Mitre, diretor de jornalismo da Band, nos últimos pleitos, a estratégia tem rareado. “Os candidatos não estão mais fugindo do debate, perceberam que é um péssimo negócio para eles”, argumenta.

As intensas trocas de farpas e acusações entre os concorrentes, como se cada qual tivesse que demonstrar, a custo da vitória, ser o mais comba-tivo e agressivo, também já começa a fazer parte

da memória da TV brasileira. “A performance dos candidatos mudou demais nos debates, porque o eleitorado mudou o modo de ver esses confron-tos. Quem era mais agressivo, mais irônico, mais intransigente, geralmente, dominava. Hoje, ele pode perder voto, ao invés de ganhar. O eleitora-do quer saber de conteúdo”, diz Mitre.

UNINDO FORÇASEm 2010, a Folha de S.Paulo fechou parceria iné-

dita no país entre um jornal e uma emissora, a Rede TV!, para transmitir os debates eleitorais, acordo que se repete este ano, em São Paulo, Rio de

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Desde que chegou à Rede Bandeirantes, em 1988, Fernando Mitre produziu 31 debates e consagrou a tradição da emissora na cober-

tura de eleições. O jornalista fala sobre a organização e as limitações do formato na TV brasileira.

IMPRENSA – ATÉ QUE PONTO O DEBATE REALIZADO NO BRASIL FOI INFLUENCIADO POR MODELOS ESTRANGEIROS?Fernando Mitre – O debate entre Kennedy e Nixon nas eleições ameri-canas de 1960 me impressionou muito. Fiquei com a ideia na cabeça de fazer o mesmo aqui, mas a Band já produzia debates antes de eu chegar. Eu organizei o primeiro para presidenciáveis.

QUAL SERÁ O DIFERENCIAL DO DEBATE DA BAND ESTE ANO? Este ano foi iniciar a cobertura política com o “Band Eleições”, progra-ma onde entrevistamos pré-candidatos e especialistas muito antes da campanha, tornando-a mais analítica e propondo a discussão sobre os principais problemas da cidade.

DE QUE FORMA O SISTEMA ELEITORAL INFLUENCIA O DEBATE E A COBERTURA DAS ELEIÇÕES NO BRASIL? Nossa legislação exige que sejam convidados todos os candidatos que tenham representação no Congresso para o debate do primeiro turno. Durante a cobertura, a partir do dia 1° de julho, quando você entrevista o candidato que mais pontua nas pesquisas, deve entrevistar também todos os outros. Muitas vezes, deixamos de produzir matérias por isso.

QUAL DEVE SER A RELAÇÃO ENTRE CANDIDATO E JORNALISTA EM AMBIENTE DE DEBATE ELEITORAL? Deve ser inteiramente objetiva e jornalística, levando em consideração o interesse público puro e simples. O jornalista nesse momento expressa o sentido de buscar no debate, assim como na possibilidade de entrevis-tar os candidatos, a melhor informação para os telespectadores.

MANTENDO A TRADIÇÃO

Janeiro, Belo Horizonte, Fortaleza e Recife [veja boxe com calendário dos debates na pág. 87]. “Além de gostarmos muito do produto Folha, temos excelentes relações com o jornal. Eu traba-lhei lá, o Kennedy [Alencar, mediador dos debates] também, além de manter coluna política até hoje. A parceria dá credibilidade e plataformas importantes para os dois lados”, comenta Américo Martins, diretor de esportes e jornalismo da Rede TV!

Segundo Vinícius Mota, secretário de redação do jornal, a ideia partiu da emissora e foi bem recebida “por se tratar de um veículo que estava investindo em jornalismo”. Estritatemente edi-torial, a união conta com organização conjunta e participação exclusiva de jornalistas das empre-sas durante os debates. Para Martins, o grande diferencial é o fato de a parceria trazer uma “cobertura moderna, sem um ranço antigo de cobertura”. Mota ressalta a intenção de, neste ano, “ampliar ao máximo a intervenção dos jor-nalistas, para que os programas fujam dos rotei-ros predeterminados pelos marqueteiros”.

Outra parceria firmada, esta restrita às eleições paulistanas, é da TV Cultura com o jornal O Estado de S. Paulo e o YouTube. Nos seis blocos previstos, a ideia é variar as modalidades, com perguntas diretas de eleitores aos candidatos (primeiro bloco), de jornalistas de ambos os veículos (segundo ao quarto bloco) – questões, estas, que serão sortea-das – e o debate direto entre candidatos (quinto bloco). O sexto se limitará às considerações finais.

Além de transmissão ao vivo na TV aberta e nos portais do jornal e da emissora, a plataforma do You Tube permitirá a interatividade com o inter-nauta. “Esta ferramenta, até onde eu sei, é exclusi-va. O eleitor poderá gravar uma pergunta e mandar essa pergunta para eles, que mandarão para nós”, explica Kinjô. O evento terá mediação do atual titular do “Roda Viva”, Mario Sergio Conti. Caso haja segundo turno, novo debate já está previsto.

A ideia de expandir a cobertura para a web foi abraçada também pelo SBT, que concluiu uma série de sabatinas com os então pré-candidatos à prefeitura de São Paulo e de Porto Alegre, transmitida entre abril e maio, em parceria com o Portal Terra. “O Terra foi importante pela sua base de usuários, atingindo audiência do portal muito mais robusta. Além disso, os internautas participam mais e podem ter acesso ao conteúdo a qualquer tempo”, afirma Marcelo Parada, dire-tor de jornalismo da emissora.

Já a TV Globo mantém seu debate tradicional, com cinco blocos, alternando dois – um com

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FERNANDO MITRE

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temas determinados e outro com temas livres – e o último para considerações finais. O portal G1 entra com transmissão ao vivo para os debates do Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Recife. Entre maio e julho, o portal R7 transmitiu ao vivo sabatinas com pré-candidatos e candidatos, além de debate entre vices, com reprise na Record News – mais uma série de sabatinas está previs-ta para final de agosto. Os debates da TV Record, que teve a segunda melhor audiência de debates em 2010, acontecem nos dias 1° e 22 de outubro, em todas as capitais e principais cidades do inte-rior do país. A Band mantém a tradição de fazer o primeiro debate do primeiro turno [veja boxe].

DEBATE NO PRELOSe as regras dos debates são elaboradas para

garantir condições iguais de disputa para todos os concorrentes – contando com o crivo necessário dos próprios partidos sobre as regras –, uma cobertura isonômica de jornais acaba exigindo dos profissionais envolvidos não apenas observância à legislação eleitoral, como no caso de registro e divulgação de pesquisas, como uma boa parcela de sensibilidade para evitar favorecimentos.

Para Ricardo Balthazar, editor de Poder da Folha de S.Paulo, o jornal segue a mesma linha editorial que guia a cobertura política em período não elei-toral, “com espaço para pontos de vista divergen-tes e destaque para a defesa de pessoas acusadas de cometer irregularidades”. Apesar da busca cons-tante por equilíbrio, defende, porém, que o jornal não tem a obrigação de assegurar a todos o mesmo espaço, já que os candidatos não são iguais.

“O critério será sempre o interesse jornalísti-co, de acordo com vários fatores, incluindo a biografia dos candidatos, sua posição nas pes-quisas e a força eleitoral de suas coligações. Procuramos garantir o equilíbrio, quando diz respeito à apresentação das atividades dos prin-cipais candidatos e de suas propostas”, salienta.

Para Cida Damasco, editora-chefe do Estadão, as pesquisas são importantes, mas não o único guia. “Um exemplo é o candidato Fernando Haddad [PT-SP], que até o momento está esta-cionado nas pesquisas eleitorais, mas tem desta-que [na cobertura] por ter sido uma escolha direta de Lula, com a missão explícita de tirar o PSDB do poder em São Paulo.”

Segundo Ricardo Mendes, editor-chefe do jornal baiano A Tarde, nenhum candidato deve ter um destaque maior garantido antes do início da cober-tura. “O maior destaque deve ser dado às dúvidas

dos eleitores, aos problemas da cidade e às propos-tas de soluções. O que vai determinar o espaço do candidato são os fatos gerados na corrida eleito-ral”, afirma. Opinião próxima à do editor de polí-tica do Correio Braziliense, Leonardo Cavalcanti. “Você tem que largar todos os dias com o objetivo de ser igualitário, mas não se preocupar se você mencionou um candidato com notícias mais difí-ceis, porque no outro dia outro candidato natural-mente terá notícias imperfeitas”, resume.

*Com Luiz Vassalo.

FOLHA/REDE TV!*São Paulo – 3 set. – 21 out.Rio de Janeiro – 5 set. – 12 out.Belo Horizonte – 7 set. – 19 out. Recife – 10 set. – 17 out.Fortaleza – 12 set. – 15 out.

ESTADÃO/TV CULTURA/YOUTUBE**São Paulo – 17 set. (primeiro turno)

SBT/TERRASão Paulo – concluído entre 25 abr. e 23 maio (sabatinas)

GLOBO**122 cidades (todas as capitais) – 4 out.

RECORDSão Paulo – 27 a 30 ago. (sabatinas, apenas no portal R7 e na Record News)São Paulo – 1º e 22 out. (debates, em todas as capitais e nas principais cidades do interior)

BAND*São Paulo – 2 ago. – 11 ou 15 out.

*Datas do primeiro e do segundo turno.**Segundo turno sem data definida.

CALENDÁRIO DOS DEBATES