Revista Historia Linguagens Final

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CENTRO UNIVERSITRIO BARO DE MAU

Programa de Ps-Graduao (Lato Sensu) em Histria, Cultura e Sociedade

Boletim de Histria e Linguagens

Ribeiro Preto

v.1, n.1

p.1-763

2011

Boletim de Histria e Linguagens2

CENTRO UNIVERSITRIO BARO DE MAUReitora Prof. Me. Maria Clia Pressinatto Pr-Reitoras de Ensino Prof. Dr. Dulce Maria Pamplona Guimares e Prof. Dr. Joyce Maria Worschech Gabrielli Diretores Sr. Jos Favaro Jnior Sr. Guilherme Pincerno Favaro Sra. Neusa Pincerno Teixeira Sr. Elizabeth M. Cristina Pincerno Favaro e Silva Sr. Carlos Csar Palma Spinelli COMISSO EDITORIAL Prof. Esp. Allan Nelson Yamaoka Melotti Prof. Esp. Alexandre Ferreira Mattioli Prof. Carlos Eduardo Biasoli Rodrigues Prof. Ddo. Carlo Guimares Monti Prof. Esp. Guilherme de Souza Zufelato Prof. Mestrando. Jorge Luiz de Frana Prof. Esp. Rogrio Carlos Fbio CONSELHO EDITORIAL Daniel Fonseca de Andrade, prof. Ddo. Dora Isabel Paiva da Costa, prof Dr Fbio Augusto Pacano, prof. Ms. Llio Luiz de Oliveira, prof. Dr. Marcos Cmara de Castro, prof. Dr. Nainra Maria Barbosa de Freitas, prof Dr Sr. Marco Aurlio Palma Spinelli Diretoria Executiva Departamento Didtico Pedaggico Profa. Esp. Dulce Aparecida Trindade do Val Prof. Ms. Geraldo Alencar Ribeiro Coordenador da Ps-Graduao em Histria, Cultura e Sociedade (Lato Sensu) Prof. Ddo. Carlo Guimares Monti

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Publicao Anual Publication Semester BOLETIM DE HISTRIA E LINGUAGENS Volume 1, Nmero 1, Junho de 2011 Rua Ramos de Azevedo, n.423, Jardim Paulista CEP: 14.090-180 Ribeiro Preto SP http://www.baraodemaua.br

B673Boletim de Histria e Linguagens: Revista do Programa de PsGraduao em Histria, Cultura e Sociedade / Centro Universitrio Baro de Mau. Unidade Ramos de Azevedo . Programa de PsGraduao em Histria, Cultura e Sociedade -- Ribeiro

Preto:CUBM ,2011 anual v.1,n.1,jun 2011 1.Histria - linguagens 2 Revista eletrnica I.Melotti ,AllanNelson Yamaoka II.Mattioli,Alexandre Ferreira III.Rodrigues Carlos Eduardo Biasoli IV.Monti,Carlo Guimares V.Zufelato, Guilherme de Souza VI.Frana,Jorge Luiz de VII.Fbio,Rogrio Carlos VIII.Ttulo

CDU 930:001.891Bibliotecria Responsvel: Vanda Lilian Lauande CRB 8 3365

ApresentaoO ano de 2011 marcou novos rumos significativos no apenas estrutura geral do Programa de Ps-Graduao (Lato Sensu) em Histria, Cultura e Sociedade do Centro Universitrio Baro de Mau, mas tambm, em conseqncia, sua prpria histria e daqueles que se formam ou ainda se formaro atravs do curso, assim obtendo o ttulo de Especialista, na rea de Histria Regional do Brasil. Isto porque neste ano o mais antigo curso de Ps-Graduao em Histria, da cidade de Ribeiro Preto-SP, trouxe uma grande e importante reformulao, com um novo conjunto de mdulos que visam ampliar ainda mais o leque de temas abordados, tendo em vista tambm acompanhar as mudanas que tm ocorrido no Ensino Superior. Ao todo, so dezenove novas reas temticas, divididas em oito mdulos. Digno de nota tambm o fato de que, desde 2002, o curso forma novas turmas, ano aps ano, assim possibilitando aos seus alunos, alm de uma preparao qualificada para o ingresso em mestrados, uma melhor colocao no mercado de trabalho, tanto em escolas pblicas e particulares como em faculdades da regio. No obstante, dentre os aspectos de maior relevncia trazidos baila pelo curso neste limiar da segunda dcada do sculo XXI est a publicao desta revista discente em ponto alto, tambm enquanto algo de uma renovao de horizontes, vinda a lume obstinadamente quebra simblica de fronteiras-limite - entre as mais diversas disciplinas - h muito re-conhecidas sabiamente como fronteiras inexistentes. A revista, intitulada Boletim de Histria e Linguagens, fora levada a cabo por conta da comemorao, no presente ano, dos dez anos de funcionamento do Programa de Ps-Graduao (Lato Sensu) em Histria, Cultura e Sociedade, a contar da data4

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Com alegria os membros da Comisso Editorial convidam a todos para que participem e usufruam desta conquista. Queremos enfim ser o instrumento da divulgao de saberes que consideram irrelevante o traado de certas fronteiras acadmicas e entende o conhecimento da histria e do campo relativo s linguagens no como um objetivo exclusivamente erudito e sim como uma preocupao fundamental para a vivncia cotidiana de seus cidados. Vida longa ao Boletim de Histria e Linguagens! Comisso Editorial

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SUMRIO/SUMMARYMONOGRAFIAS/MONOGRAPHS O DIRIO DE NOTCIAS - UMA VOZ DA IGREJA CATLICA EM RIBEIRO PRETO (1964-1969) The Daily News The voice of the Catholic Church in Ribeiro Preto (1964-1969) Adivaldo Sampaio de OLIVEIRA 09 A OLIGARQUIA RIBEIROPRETANA: POLTICAS DE COMPROMISSOS (1874-1891) The ribeiropretanas oligarchy: policy commitment (1874-1891) Ana Carolina Vendrusculo de SOUZA

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FORMAS DE AES E RESISTNCIA DOS CATIVOS DE RIBEIRO PRETO (1850 A 1888) Forms of shares and strength of captives of Ribeiro Preto (1850 a 1888) Antonio Carlos Soares FARIA 105 PETIT PARIS: RIBEIRO PRETO A CIDADE DO CONSUMO CONSPCUO (1889-1929) Petit Paris: Ribeiro Preto the city of conspicuous consumption (1889-1929) Christiane de Morais VEIGA

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USOS E RECUSAS DA MODERNIDADE: A MODA FEMININA NA RIBEIRO PRETO DA BELLE POQUE (1883/1940) Modernitys uses and refusals: fashion women in Ribeiro Preto Belle poque (1883/1940) Letcia Ricci Aparcio de CARVALHO 302 O PENSAMENTO MANICO EM RIBEIRO PRETO E A TRANSIO DO ENSINO RELIGIOSO PARA O ENSINO LAICO (1887-1911) The masonics thought in Ribeiro Preto and transition of religious education for secular education (1887-1911) Louise Bragana Bahia CASTRO 416 FOLCLORE E SEUS EMBATES TERICOS: UM ESTUDO SOBRE O FESTIVAL DE FOLCLORE DE OLMPIA (FEFOL) E A CULTURA POPULAR EM TRANSFORMAO Folklore and its theoretical clashes: a study of folklore festival of Olmpia (FEFOL) and popular culture in transformation Aline Martins VERDI 470 OS PRIMEIROS CEMITRIOS DE RIBEIRO PRETO: A MORTE E O MORRER NA CAPITAL DO CAF (1867-1893) The first cemetery in Ribeiro Preto: death and dying in the capital of coffee (1867-1893) Sandra Pereira ALF 562 NA TRILHA DO FEMINISMO: IMPRENSA FEMINISTA NA RIBEIRO PRETO DE 1918-1914 On the trail of feminism: the feminist press in Ribeiro Preto 1918-1914 Jorge Luiz de FRANA 6566

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DO CALDO DE CANA AO BAGAO HUMANO: O PAPEL DO TRABALHADOR RURAL NA IMPLANTAO DO PRO LCOOL REGIO DE RIBEIRO PRETO (1975-1984) Cane juice of the human marc: the role of rural workers in the deployment of alcohol pro the Ribeiro Preto region (1975-1984) Rodrigo de Andrade CALSANI 757 ndice de autores/Authors ndex Normas para apresentao de original 759 761

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MONOGRAFIAS / MONOGRAPHS

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CENTRO UNIVERSITRIO BARO DE MAUCURSO DE ESPECIALIZAO EM HISTRIA, CULTURA E SOCIEDADE

O DIRIO DE NOTCIAS Uma voz da Igreja Catlica em Ribeiro Preto (1964 1969)

Adivaldo Sampaio de Oliveira

Ribeiro Preto - SP 20059

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Adivaldo Sampaio de Oliveira

O DIRIO DE NOTCIAS Uma voz da Igreja Catlica em Ribeiro Preto (1964 1969)

Monografia para obteno do ttulo de Especialista em Histria, Cultura e Sociedade apresentada ao Centro Universitrio Baro de Mau.

Orientadora: Prof. MS. Lilian Rodrigues de Oliveira Rosa

Ribeiro Preto 2005

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OLIVEIRA, Adivaldo Sampaio de O Dirio de Notcias. Uma voz da Igreja Catlica em Ribeiro Preto (1964 1969) / Adivaldo Sampaio de Oliveira/ Monografia para obteno de ttulo de Especialista em Histria apresentada no Centro Universitrio Baro de Mau/ Ribeiro Preto. 2005. 1. Histria Poltica 2. Imprensa 3. Religio 4. Ribeiro Preto

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SUMRIO

Introduo..................................................................................................................................... 6 1 Uma herana histrica........................................................................................................... 10 1.1 Panorama nacional.................................................................................................................. 10 1.2 Panorama reginal...................................................................................................................... 16 2 A transformao na Igreja......................................................................................................... 20 3 O dirio de notcias....................................................................................................................28 Consideraes Finais..................................................................................................................... 40 Bibliografia..................................................................................................................................... 43 Fontes........................................................................................................................................... 45 Apndice......................................................................................................................................... 46 Anexos............................................................................................................................................. 48

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Dedico o presente trabalho aos meus pais, que sempre acreditaram em seus filhos e no pouparam esforos para realizao dos sonhos de cada um, e minha filha Lgia, no desejo de firmar a realizao deste trabalho, como uma definio do conceito de perseverana.

AgradecimentosAgradeo a todos os professores, mestres e doutores do curso de Especializao em Histria do Centro Universitrio Baro de Mau, em especial a minha orientadora, que compartilhou generosamente seus conhecimentos e experincias. Agradeo tambm, aos funcionrios do Arquivo Pblico e Histrico de Ribeiro Preto e da Biblioteca do Seminrio de Brodowsky que, sempre to atenciosos, foram de fundamental ajuda para a realizao deste trabalho. Agradeo especialmente a minha esposa pela pacincia, compreenso e estmulo durante estes dois ltimos anos.

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RESUMO O presente trabalho discute a participao poltica da imprensa Catlica ribeiropretana, representada pelo jornal Dirio de Notcias, durante os cinco primeiros anos da Ditadura Militar . Com base em uma anlise historiogrfica da sociedade ribeiropretana entre 1964 1969 e das publicaes do Dirio de Notcias nesse perodo, foi possvel identificar a trajetria de engajamento poltico dos religiosos da arquidiocese de Ribeiro Preto, e as transformaes do perfil do prprio jornal, frente aos acontecimentos polticos.

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Introduo

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Este trabalho trata do papel poltico exercido pelo jornal Dirio de Notcias na cidade de Ribeiro Preto no perodo de 1964 e 1969. O fato do Dirio de Notcias pertencer Arquidiocese de Ribeiro Preto neste perodo, foi determinante na escolha do tema, pois atravs do jornal consegue-se conhecer a postura poltica de uma determinada ala da Igreja Catlica (na classificao weberiana de Scott Mainwaring a ala Reformista).1 A escolha das balizas temporais definiu-se pelo momento poltico brasileiro nesse perodo. Em 31 de maro de 1964 foi deflagrado um golpe pelos militares que, apoiados por vrios seguimentos da sociedade, incluindo a parte da Igreja Catlica, derrubaram o ento Presidente Joo Goulart. Em 13 de dezembro de 1968 foi editado o Ato Institucional n. 5 (AI 5), que ps fim aos direitos constitucionais, dissolveu o Congresso Nacional, cassou mandatos e direitos polticos, instituiu a censura aos meios de comunicao, enfim, iniciou o perodo mais escuro da ditadura militar. Como o AI n. 5 foi editado no final de 1968, os reflexos de suas deliberaes foram mais claramente sentidos no ano seguinte, 1969. A escolha da cidade de Ribeiro Preto, alm do fato bvio de ser a cidade onde ficava a sede do jornal Dirio de Notcias, a sede da Arquidiocese, e ser a cidade, um grande centro econmico do Estado de So Paulo e do Brasil, foi feita por Ribeiro Preto ter sido palco, ao mesmo tempo, de acontecimentos comuns em relao s outras grandes cidades brasileiras, como tambm de acontecimentos nicos. Como em outros grandes centros houve em Ribeiro Preto aps o golpe de 1964, perseguies polticas, cassaes de mandatos e prises arbitrrias, porm foi tambm nessa cidade que ocorreram os dois nicos casos de excomunho de partidrios do regime militar, em funo de suas atuaes de represso, demonstrando nitidamente que parte da Igreja Catlica se opunha ao governo vigente. Portanto, o Brasil passou nesse perodo, de 64 69, por modificaes nas formas de dominao do Estado e na organizao social e partidria. Foi nesse intervalo de tempo que os militares definiram como iriam governar o pas, por quais meios e mtodos, fato interessante para ser analisado pelo prisma de um jornal local dominado pela Igreja Catlica. Em um primeiro momento, o presente trabalho analisou quais foram os processos que forjaram a sociedade dos anos 60, quem foram seus personagens e quais as foras polticas que atuavam na poca. Tendo como ponto de partida os anos 30 se relatou como a presena dos militares foi uma constante na vida poltica do Brasil; sobre a importncia dos movimentos populistas; sobre a atuao das esquerdas com seus rachas e dissidncias e como a classe mdia esteve sempre no centro dos acontecimentos. Entre as foras polticas que atuaram nos anos 60 destaca-se a Igreja Catlica. Esta pesquisa analisou como surgiu nas igrejas crists, principalmente da Amrica Latina, uma nova gerao de religiosos queMAINWARING, Scott. A Igreja Catlica e a Poltica no Brasil (1916 1985). Trad. Heloisa Braz de O. Prieto. So Paulo: Brasiliense, 1989, p. 11.. 161

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conciliavam suas prticas religiosas com uma militncia poltica. Este um ponto muito relevante para este trabalho, que prope uma anlise da participao poltica de membros da Igreja Catlica atravs do discurso presente no jornal Dirio de Notcias. Ao analisar as matrias do jornal Dirio de Notcias, destacou-se as seguintes colunas do peridico: matrias de capa, a coluna Nosso Comentrio e a coluna Lembrete. Estas colunas eram diretamente assinadas pelo redator do jornal ou representavam a opinio deste ou dos editores e diretores do Dirio de Notcias, fato importante para entender a tendncia do jornal nesse perodo. Sempre que citadas, as notcias do jornal foram transcritas literalmente como no original, respeitando a ortografia da poca. Apesar de trabalhar com elementos ligados a Igreja Catlica, entende-se que este trabalho esteja atrelado a Histria Poltica. No a tradicional Histria Poltica preocupada com o Estado e suas personalidades, mais a nova Histria Poltica que, nas palavras de Ren Rmond assim se define:

...a histria poltica e esta no a menor das contribuies que ela extraiu da convivncia com outras disciplinas aprendeu que, se o poltico tem caractersticas prprias que tornam inoperante toda anlise reducionista, ele tambm tem relaes com outros domnios: liga-se por mil vnculos, por toda espcie de laos, a todos os outros aspectos da vida coletiva. O poltico no constitui um setor separado: uma modalidade da prtica social. As pesquisas sobre o abstencionismo, os estudos sobre a sociabilidade, os trabalhos sobre a socializao, as investigaes sobre o fato associativo, as observaes sobre as correspondncias entre prtica religiosa e comportamento eleitoral contribuem para ressaltar tanto a variedade quanto a fora das interaes e interferncias entre todos esses fenmenos sociais. Se o poltico deve explicar-se antes de tudo pelo poltico, h tambm no poltico mais que o poltico. Em conseqncia, a histria poltica no poderia se fechar sobre si mesma, nem se comprazer na contemplao exclusiva de seu objeto prprio.2

Certamente nem tudo poltica, e isto fica claro quando se estuda um tema ligado a religio, porm o papel de alguns religiosos que utilizaram um jornal para tentar concretizar suas crenas em uma determinada sociedade, deve e pode ser estudado pelo vis poltico, e o intercmbio com outras cincias s contribui para um melhor entendimento do assunto. Uma outra caracterstica deste trabalho seu enfoque regional. A Histria Regional que desde os anos 70 vem ganhando espao na historiografia brasileira, tem ...a capacidade de apresentar o concreto e o cotidiano, o ser humano historicamente determinado, de fazer a ponte entre o individual e o social. 3, pois o municpio o local onde a populao esta mais prxima das instncias do poder. A Histria Regional caracteriza-se tambm por permitir a validao, ou no, de teorias elaboradas de forma universal. Contudo, preciso deixar claro que O regionalismo justifica-se como uma entre outras perspectivas possveis de anlise da economia, da sociedade e da poltica. No exclui e nem se ope aRMOND, Ren (org.). Por uma histria poltica. 2a ed. Rio de Janeiro: editora FGV, 2003, p 35/36. AMADO, Janana. Histria e regio: reconhecendo e construindo espaos. In: SILVA, Marcos A.(coord.). Repblica em migalhas. Histria regional e local. So Paulo: Marco Zero/CNPq, 1990, p. 13. 172 3

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outros enfoques de estudo. Nem melhor ou pior que outros mtodos de abordagem da Histria. 4, mas oferece recursos valiosos para o estudo comparativo da sociedade. Este trabalho pretende constituir-se em mais uma pea que compe o grande mosaico da histria de nosso pas; que atravs destas pginas se possa compreender um pouco melhor a histria poltica de Ribeiro Preto, do Brasil e da sociedade de ontem e de hoje.

SILVA, Vera Lucia Cardoso. Regionalismo: o Enfoque Metodolgico e a Concepo Histrica. In: SILVA, Marcos A.(coord.). Repblica em migalhas. Histria regional e local. So Paulo: Marco Zero/CNPq, 1990, p. 43. 184

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Captulo 1 Uma herana histrica

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1.1 Panorama nacional A dcada de 60 teve como principal caracterstica a polarizao de opinies e de idias. Mas, para se entender o desenrolar dos acontecimentos dessa poca to conturbada, tem-se que compreender o processo que foi desencadeado anos antes e que moldou a sociedade da dcada de 60, na qual a participao popular teve um papel destacado no cenrio poltico. Como o passado no estanque, mais sim, um processo histrico, esta anlise considerou o fim da Repblica Velha na dcada de 30, como ponto de partida para compreender as transformaes que moldaram a sociedade que viveu o golpe de 64. Neste contexto, este trabalho analisou 3 estruturas que atuaram direta ou indiretamente de forma determinante nos anos 60: a oligarquia agrria, a burguesia e o operariado e analisou como estas foras se organizaram de forma poltico-partidria. Durante toda a histria do Brasil, at a dcada de 1930, a oligarquia agrria deteve de forma absoluta o poder econmico e poltico no Brasil:

Apesar de suas diferenas regionais, dos diversos graus de desenvolvimento material, elas apresentam pontos comuns , que a definem como classe social una: entre outros, a posse da terra, seu domnio sobre a sociedade. Pouco importa se elas se voltam para a produo cafeeira ou acar, o que as caracteriza dominar os meios de produo, voltados essencialmente para a monocultura e o mercado externo e, consequentemente, manter hegemonia poltica e moldar a sociedade sua imagem.5

Contudo, no final dos anos 20 ocorreu o declnio do poder da oligarquia agrria que, segundo Thomaz Skidmore6, pode ser explicado por vrios fatores. Politicamente, uma ruptura interna no poder com o surgimento da Aliana Liberal, do Partido Libertador (1928) no Rio Grande do Sul e do Partido Democrtico (1926) em So Paulo, que colocaram em cheque a poltica caf-com-leite. Economicamente, a crise de 1929 afetou as organizaes polticas mundialmente, que aliada a crise de superproduo do caf fragilizou os alicerces econmicos que sustentavam o governo. Socialmente, o elevado ndice de crescimento populacional brasileiro que fez com que a populao nacional dobrasse em 30 anos (veja quadro abaixo), paralelamente a uma tambm crescente urbanizao, fez com que a influncia da oligarquia agrria fosse perdendo seu alcance.

CARONE, Edgar. A Quarta Repblica (1945-1964). SP-RJ, DIFEL. 1980, p.133. A respeito do declnio da oligarquia agraria ver SKIDMORE, Thomas. Brasil: de Getlio a Castelo. captulo I: Era de Vargas (1930-1945). 205 6

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A evoluo da populao brasileira7 Ano 1872 1890 1900 1920 1940 1950 1960 1970 1980 1991** Dados preliminares do Censo de 1991.

Populao 9.930.478 14.333.915 17.438.434 30.635.605 41.236.315 51.944.397 70.119.071 93.139.037 119.070.865 146.155.000

preciso porm, relativisar esta mudana, para no ficar a errnea impresso que o poder poltico tenha trocado de mos radicalmente. Primeiro, devido a prpria dimenso do Brasil, pois nos estados menos desenvolvidos a poltica do coronelismo, que tinha sua sustentao na posse de terras, ainda continuava a dominar; segundo, mesmo nos estados mais desenvolvidos como So Paulo e Rio de Janeiro, a elite agrria no abandonara o poder, o que ocorreu foi uma transformao desta elite e uma associao da mesma com a burguesia nacional que surgia. Concluindo, verifica-se que a elite agrria continuava no poder, mas no tendo na posse da terra sua nica fora, pois muitos latifundirios ampliaram seus investimentos, e no mais de forma hegemnica, passando a compartilhar o poder com a burguesia emergente.8 A burguesia nacional que desde o fim do sculo XIX vinha se formando, tinha como base parte da elite agrria, imigrantes que investiram no comrcio e no sistema financeiro, e imigrantes que investiram diretamente na industrializao. At o Estado Novo a burguesia ainda no possua organizao suficiente para se fazer ouvir enquanto classe autnoma, precisava filiar-se aos partidos das elites at ento dominantes, devido tambm a existncia de interesses comuns. O historiador Edgar Carone traa o seguinte comentrio a esse respeito:

preciso, em primeiro lugar, dizer que a luta de classes no tomou a forma clssica no Brasil, isto , aquela em que a burguesia, se desenvolve e derruba, pela fora revolucionria, a classe agrria. Na verdade, o surgimento dos seus diversos segmentos se d principalmente a partir da Segunda metade do sculo XIX: uma parte composta de importadores e exportadores de origem estrangeira; outra, de imigrantes que se dedicam aoAnurio estatstico do IBGE, 1990 apud ROSS, Jurandyr L. Sanches (org.). Geografia do Brasil. 4a ed. So Paulo: Edusp, 2003. p. 387. 8 Alm da j citada obra de Thomas Skidmore, os trabalhos de Edgar Carone so bastante esclarecedores sobre a ascenso da burguesia, principalmente A Repblica Liberal, Segunda Parte Classes Sociais: a) Classes Agrrias e Burguesia, p 133. 217

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comrcio e industria; finalmente, um porcentual menor de brasileiros oriundos da agricultura. A composio ajuda, inicialmente, a compreender a classe, que cresce continuamente, mas que, por sua vez, no tem condies de se antepor oligarquia, e nem tem importncia econmica e social para se defrontar contra ela.9

Destaque-se portanto, que a partir do incio do sculo XX h uma crescente participao da Burguesia Nacional na esfera poltica, provocada pelo aumento de sua participao econmica, que com um novo impulso na indstria nacional, principalmente aps a dcada de 30, aliou-se as indstrias de substituio de importados as indstrias de base como a Companhia Siderrgica Nacional (1939/46), a Companhia Vale do Rio Doce (1942), a criao da Petrobrs (1950) e a instalao de indstrias petroqumicas, a chegada das multinacionais, e a criao de entidades como a FIESP (1928) para defender os interesses da classe. 10 Paralelamente a industrializao, ocorreu o fortalecimento da classe operria que j estava em processo de organizao desde o incio do sculo XX. Com decisiva influncia de imigrantes europeus, formaram-se grupos da classe operria que transitavam da extrema direita (integralismo) extrema esquerda (comunistas/anarquistas). Contudo, a organizao da classe operria ainda atingia uma pequena frao dos trabalhadores que, aps a dcada de 50, foram influenciados por um outro fenmeno que marcou o panorama poltico nacional : o Populismo11. A organizao poltico partidria por sua vez, sofreu uma modificao significativa. Aps 1942, Getlio Vargas, na tentativa de minimizar a influncia de algumas lideranas regionais (Partido Democrtico Paulista, Partido Libertador do Rio Grande do Sul, etc.), imps que os partidos polticos deveriam se organizar nacionalmente para terem seu registros aceitos. Dentro desse novo panorama, as foras polticas partidrias ficaram assim divididas: os partidos de origem oligrquica, que foram formados tendo como base os antigos Partidos Republicanos: PSD, UDN, PSP e PR; e os novos partidos que tinham principalmente na classe mdia, nos profissionais liberais e estudantes sua origem: PTB e PSB, mais o PCB que retornou legalidade.12 Outra instituio que tambm merece destaque e que sofreu alteraes significativas no Brasil nesse perodo foi a Igreja Catlica. Desde o rompimento com o Estado estabelecido pela Constituio de 1891, a Igreja Catlica vinha tentando uma aproximao com as cpulas governantes, o que ocorreu de forma mais efetiva durante o governo de Getlio Vargas (1932 1945):

CARONE, Edgar. op.cit., p.139. Novamente aqui os ensinamentos de Edgar Carone so fundamentais, em especial A Repblica Liberal - Primeira Parte Economia: b) Industria, p. 49 e c) Planejamento Econmico, p. 73. 11 O trabalho de Francisco Weffort O Populismo na poltica brasileira sintetiza a questo do Populismo de forma clara e objetiva. 12 Para melhor compreenso sobre a formao dos partidos polticos consultar Apndice. 229 10

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A hierarquia nunca endossou Vargas de uma maneira oficial, mas a maioria dos bispos, padres e leigos militantes apoiava o governo. Um documento elaborado em 1942 por cinco arcebispos proeminentes, Disciplina e Obedincia ao Chefe do Governo, resumia de maneira sucinta a atitude da Igreja. A Igreja apoiava Getlio Vargas no s por causa dos privilgios que recebera, mas tambm devido afinidade poltica. A nfase que a Igreja atribua ordem, ao nacionalismo, ao patriotismo e ao anticomunismo coincidia com a orientao de Vargas. Clrigos destacados acreditavam que a legislao de Getlio realizava a doutrina social da Igreja e que o Estado Novo efetivamente conseguia superar os males do liberalismo e do comunismo.13

Se no governo Vargas a Igreja conseguiu recuperar alguns de seus privilgios na sociedade, a ameaa do crescimento das religies protestantes e do espiritismo fez com que a Igreja Catlica se preocupasse mais efetivamente com as camadas populares e os movimentos leigos. Foi criado nesse perodo os Crculos Operrios, a Juventude Universitria Catlica, a Liga Eleitoral Catlica, a Ao Catlica Brasileira e a Juventude Operria Catlica. Em 1952 foi criada a Conferncia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), entidade que tinha apoio dos reformistas da Igreja Catlica. Aps 1958, quando assume o papado Joo XXIII, as mudanas que muitos telogos, bispos e movimentos j trabalhavam, foram legitimadas pela cpula da Igreja, quando o Conclio Vaticano II ps definitivamente em cena o leigo. No Brasil, os grupos catlicos que antes tinham uma atuao moderada, chegando a ser at conservadores, aproximaram-se da esquerda e passaram a pautar suas aes na busca da justia social. 14 Concluindo, este era o quadro poltico nacional que chegou ao 1o de abril de 1964: uma direita dividida entre a antiga oligarquia rural e uma emergente burguesia nacional, que tiveram na atuao das Foras Armadas seu ponto de unio; personalidades populistas que muitas vezes roubavam a cena colocando-se acima dos partidos polticos; e uma esquerda fragmentada em vrias correntes ideolgicas, linhas de atuao e legendas partidrias. Temos tambm uma instituio poderosa, a Igreja Catlica, em profunda transformao com maior participao do leigo e uma aproximao ao discurso da esquerda. De posse destas informaes, a presente pesquisa analisou no prximo item a sociedade ribeiropretana dos anos 60. 1.2 Panorama regional Ribeiro Preto, a exemplo do que acontecia nacionalmente, tinha sua vida poltica bipolarizada. Alguns grupos polticos atuavam na cidade na dcada de 60 como por exemplo o MAD (Movimento Ativo Democrtico) de extrema direita, que atuava no estilo dos CCC (Comando de Caa aos Comunistas),

MAINWARING, Scott. op.cit. p. 47. A discuso sobre as transformaes da Igreja Catlica no Brasil no sculo XX podem ser encontradas no livro j cidato de MAINWARING, Scot. A Igreja Catlica e a Poltica no Brasil (1916 1985). 2313 14

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ou a FALN (Frente Armada de Libertao Nacional ) de extrema esquerda, que em 68 optou pela luta armada. A cidade, que possua uma economia agrria pujante, tinha no campo grandes conflitos. De um lado, os grandes latifundirios, e do outro, os trabalhadores que comeavam a se organizar em sindicatos rurais. Para esta organizao os trabalhadores rurais contavam com o apoio de dois aliados, o PCB e a parte progressista da Igreja Catlica.15 No se pode falar em organizao de trabalhadores rurais na regio de Ribeiro Preto nos anos 60 sem mencionar o nome do Pe. Celso Ibson Sylos. Esse padre foi incumbido pelo arcebispo Dom Luiz do Amaral Mousinho de organizar os trabalhadores rurais, e com este fim o Pe. Celso criou em meados de 62 a Frente Agrria. Esta Frente, que segundo seu criador teria vida efmera, pois assim que alcanasse seu objetivo deveria ser dissolvida, tinha como meta primeira organizar os trabalhadores rurais em sindicados, afim de obterem foras para reivindicarem seus direitos e lutarem pela reforma agrria. Em 64, aps o golpe militar, a Frente Agrria foi dissolvida pelos militares.16 No centro urbano, que tambm possua seus conflitos de classes, os embates poltico-sociais se manifestavam principalmente atravs da imprensa local. Novamente aqui a figura do Pe. Celso Ibson Sylos foi marcante. Nomeado em 1957 diretor do Jornal Dirio de Notcias, que pertencia ao bispado, Pe. Celso manteve uma linha comprometida com questes sociais nos editoriais e na edio do jornal. Problemas sociais e a luta pela reforma agrria apareciam diariamente nas pginas do jornal que, ao ser fechado em 1964, era o jornal municipal de maior circulao em Ribeiro Preto, contando com uma tiragem de aproximadamente 8.500 exemplares, enquanto seu concorrente mais prximo no alcanava o nmero de 5.000 exemplares. No plano poltico partidrio, as eleies municipais de 1963 marcaram uma ruptura no processo eleitoral municipal, pois o Cel. Alfredo Condeixa Filho, prefeito da poca, no conseguiu eleger seu sucessor. Foi eleito para prefeito Welson Gasparini, jovem vereador do Partido Democrata Cristo (PDC), que saiu candidato pelo Partido de Representao Popular (PRP) (partido fundado por Plnio Salgado que representava a extrema direita nacional), pois seu partido j possua candidato. Apesar de candidato pelo PRP que, em Ribeiro Preto, era um partido inexpressivo (s conseguiu eleger 2 cadeiras para Cmara de Vereadores), Gasparini contou com o apoio da esquerda municipal, de vrios sindicatos urbanos, da Frente Agrria e uma ala da Igreja Catlica representada pelo Pe. Celso I. Sylos.Trabalhando um perodo imediatamente anterior ao aqui estudado, a historiadora Lilian R. O. Rosa nos fornece dados sobre a organizao dos trabalhadores em Ribeiro Preto em seu livro Comunistas em Ribeiro Preto 1922 - 1947 no captulo Organizao Operria em Ribeiro Preto, p. 23. 16 As informaes sobre a Frente Agrria e a organizao dos trabalhadores rurais na regio de Ribeiro Preto foram extradas da entrevista cedida pelo Pe. Celso I. Sylos ao projeto Pr-memoria de Batatais do Departamento Municipal de Cultura do municpio de Batatais em 04 out. 1990. 2415

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A Cmara Municipal por sua vez , continuou a ser formada pelos velhos partidos da cidade, onde o conservadorismo era maioria. Vejamos abaixo um quadro com o nome dos vereadores eleitos e seus partidos:

Composio da Cmara Municipal de Ribeiro Preto Legislatura de 1964 196917 Vereador Aloizio Olaia Paschoal Faustino Jarruchi Antnio Vicente Golfeto Fade Hanna Barquet Miguel Jos Alves de Castro Celso Paschoal Jos Bompani Domingos Isaac Jos Delibo Jos Moretti Orlando Victaliano Jos Mortari Osrio Carlos do Nascimento Jos Velloni Paulo Abranches de Faria Pedro Augusto de Azevedo Marques Mario Span Wagner Antnio Waldo Adalberto Silveira Juventino Miguel Partido PTB PRT PTN PSP PR UDN PSP PSP PRP PTB PR PSP PTB PRP PTB PTN PSB PDC PSP PDC PR

Aps serem adiadas as eleies municipais e com a reforma partidria provocada pelo AI n. 2, em 1969, elegeu-se como prefeito Antnio Duarte Nogueira pela ARENA, em um claro movimento de continuidade do governo anterior, e a Cmara municipal ficou assim composta:

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LEGISLATURAS MUNICIPAIS disponvel em Acesso em 04 jan. 2005. 25

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Composio da Cmara Municipal de Ribeiro Preto Legislatura de 1969 197218 Vereador lvaro Dilermano de Faria Chaves Celso Ibson de Sylos Antnio de Carvalho Celso Paschoal Antnio Carlos Morandini Foaade Hanna Arthur Franklin de Almeida Joo Orlando da Cunha Barquet Miguel Jos Delibo Jos Galati Jnior Osrio Carlos do Nascimento Jos Velloni Vanir Stocch Marcelino Romano Machado Wilson Antnio Gasparini Mario Span Orlando Victaliano Partido MDB MDB MDB MDB ARENA MDB ARENA MDB ARENA ARENA ARENA ARENA ARENA ARENA ARENA ARENA ARENA MDB

Este foi o panorama poltico e social em Ribeiro Preto nos anos 60, uma cidade onde os conflitos entre esquerda e direita eram facilmente identificados, uma cidade que apesar de possuir uma elite poltica conservadora foi governada na segunda metade da dcada por partidrios da Social Democracia Crist; personagens e instituies que povoaram as pginas do Jornal Dirio de Notcias, o qual atuou como um dos porta vozes do Bispado. O que levou a parte da Igreja tomar posio frente a questes sociais e polticas nesta poca, o que esta monografia trata no prximo captulo.

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ibid 26

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Captulo 2 A transformao na Igreja

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A Igreja Catlica vem ao longo do tempo influenciando na poltica de governos e Estados. No sculo XX contudo, sua atuao apresenta uma caracterstica peculiar. Afora os cristos primitivos, ou seja, aps a Igreja Catlica ter-se consolidado como instituio regular na sociedade, sua atuao poltica esteve restrita a influncia, manipulao e controle direto de reis e governantes, aes exercidas nos mais diferentes tipos de governo e executadas pelo alto clero. Porm, como comentado anteriormente, no sculo XX, mais precisamente no ps guerra, ocorreu uma transformao no seio da Igreja Catlica que lhe proporcionou uma nova linha de atuao, no em substituio a sua atuao tradicional acima citada, mas somando-se a ela, apesar dessas atuaes serem muitas vezes contrrias. Esta nova postura consistia na ao de bispos e padres de uma ala progressista da Igreja Catlica junto as camadas populares e oprimidas, no s com o trabalho de evangelizao, mas de conscientizao poltica e social, procurando muitas vezes, de forma at mesmo revolucionria, a libertao material das classes oprimidas. Sobre este tema destacam-se duas correntes de pensamento histrico que procuram entender esse novo posicionamento da Igreja. Uma dessas correntes ligada a Histria Poltica Tradicional, procura centrar nas figuras do Papa Joo XXIII e do Papa Paulo VI a responsabilidade pelas transformaes. Para este seguimento, o ato de convocao do Conclio Vaticano II realizado pelo Papa Joo XXIII ( o Papa dos pobres) foi o estopim de todo processo de transformao da Igreja Catlica; com a morte deste e a ascenso do Papa Paulo VI e suas intervenes diretas nos trabalhos do Conclio, Paulo VI transforma-se na figura central e mais importante de todo processo de transformao. Na Amrica Latina, principal local onde as teorias transformaram-se em prticas, a anlise deste grupo de historiadores compreendem a Reunio dos Bispos em Medellin (1968) como o equivalente, no mbito da motivao das transformaes, ao Conclio Vaticano II. Pode-se dizer que este grupo de pensadores entendem que as transformaes ocorreram de forma gravitacional, ou seja, do alto para baixo, e teriam sido arquitetadas e executadas por indivduos. Esse grupo de historiadores tambm possuam um elo de ligao com a Igreja Catlica, pode-se citar como exemplo as obras de Michael Chinigo, Rudolf Fischer Wollpert, Daniel Rops e Mons. Francisco Bastos19 Uma outra corrente de pensamento que, apesar de no desmerecer a importncia das figuras dos Papas e de alguns bispos, compreendem o processo de forma diferente. Este grupo entende o Conclio Vaticano II e a Reunio dos Bispos em Medellin como instrumentos que serviram para legitimar e legalizar as transformaes que j estavam ocorrendo dentro da Igreja Catlica e das comunidadesA viso de primacia dos Papas no processo histrico relacionado ao Conclio Vaticano Ipodem ser encontradas em: ROPS, Daniel. Vaticano II. O conclio de Joo XXIII. Trad. Madalena de Castro. Porto: Livraria Tavares Martins, 1962; BASTOS, Mons. Francisco. Abusos e erros sobre a f sombra do Vaticano II. So Paulo: Edies Loyola, 1980; CHINIGO, Michael (Org.) Os ensinamentos de Joo XXIII. Trad. Pe. Jos Marins. So Paulo: Melhoramentos, 1965 e WOLLPERT, Rudolf Fischer. Lxico dos Papas. Trad. Antnio Estevo Allgayer. Petrpolis: Vozes, 1991. 2819

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crists a algum tempo. Inversamente ao grupo anterior, estes pensadores compreendem o processo como transformaes que ocorreram da base para o alto. necessrio analisar com um pouco mais de profundidade as idias deste segundo grupo , pois como foi anunciado na introduo, uma nova viso da Histria Poltica norteada pelos estudos de Ren Rmond e seu grupo o que se almeja. Para isto, este trabalho analisou as vises apresentadas por historiadores ligados ao CEHILA (Comisso de Estudos da Histria da Igreja na Amrica Latina) e uma obra do historiador Samuel Silva Gotay. Sobre as transformaes ocorridas na Igreja Catlica da Amrica Latina no sculo XX, encontra-se no grupo do CEHILA vises como dos historiadores Diego Irarrazaval, Maximiliano Salinas, Jos Oscar Beozzo, Pablo Richard e outros que, preocupados com a noo do coletivo, apresentam em seus textos posies diferenciadas, das quais pode-se destacar trs pontos cruciais: O primeiro, que pode ser considerado um consenso no meio historiogrfico, discorre sobre a utilizao que se fazia da religio para manuteno do status quo, primeiramente como instrumento de dominao europia durante a colonizao e, mais recentemente, como apoio a burguesia. Em seu trabalho Teologia catlica e pensamento burgus no Chile, 1880-1920, Maximiliano Salinas assim interpretou esta simbiose entre o Estado Chileno (o que pode jser ampliada para a Amrica Latina em geral) e a Igreja Catlica:

Por fim, muito importante tratar do estudo das convivncias e das conivncias concretas dos crculos da burguesia com elementos do alto clero. E descobrir-se-ia que por trs das lutas ideolgicas do tipo conservadorismo-laicismo existiu uma vontade constante de convivncia amistosa que levava, em momentos mais decisivos, participao fundamental de uma causa comum.20

O segundo ponto relevante a origem das transformaes. Pablo Richard esclarece a peculiaridade da Igreja Catlica Latino Americana, que possui grande influncia da cultura amerndia (a qual muitos classificam como a influncia dos vencidos), o que propiciou que as transformaes ocorressem a partir das camadas mais pobres da sociedade:

A histria da teologia latino-americana deve mergulhar suas razes na histria da teologia indo-americana ou amerndia, ou seja, a teologia dos povos indgenas anteriores conquista e a criao teolgica dos indgenas durante a colonizao.21

20 21

RICHARD, Pablo (org.). Razes da Teologia Latino-Americana. So Paulo: Paulinas, 1987, p.174. ibid. p.11. 29

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O terceiro ponto sobre a caracterstica libertaria que possui a teologia formulada na Amrica Latina no sculo XX, e que possui como base o pensamento do povo com todo uma concepo revolucionria, como se pode observar nas palavras de Irarrazaval:Da mesma forma que existe uma arte mais prpria do pobre, ou uma medicina popular (que costuma ser mais eficaz que as consultas mdicas), ou uma modalidade de trabalhar e de conviver caracterstica das massas populares e, ao mesmo tempo, contestadora com relao as formas vigentes, existe tambm uma sabedoria da f na histria dos oprimidos. Esta, e no o tipo de erudio da classe alta, tende a ser a atividade teolgica mais representativa da comunidade eclesial e mais fiel Palavra de Deus.22

Portanto, para os historiadores e pensadores do CEHILA, a religio no sculo XX se transformou de um instrumento de dominao em um instrumento de libertao, mas s conseguiu tal faanha devido a natureza popular que inspirou seus telogos. O trabalho do historiador Samuel Silva Gotay apresentar algumas modificaes tericas que somados as idias do grupo do CEHILA ajudam a compreender o porqu e como ocorreram as transformaes da Igreja. Segundo Gotay, a teologia tradicional estava fundamentada no idealismo greco-romano sendo embasada em uma concepo dualista da realidade e da histria, ou seja, o mundo estava dividido entre o bem e o mal, o corpo e a alma, o sagrado e o profano, e entre dois tipos de histria, uma histria natural e outra da salvao:...a viso platnica do mundo e da histria, que tanto influenciou a explicao teolgica da f nesta poca helenista de deteriorao intelectual e sincretismo ideolgico, de carter metafsico e idealista. Essa cosmoviso caracteriza-se pela espiritualizao da realidade material. O platonismo aponta a matria como a causa da quedo da alma. Esta pertence ao mundo das idias puras. Daqui que a matria e a histria sejam vistas num plano inferior e negativo. Nesse topos uranos ou mundo supercelestial das idias, encontra-se o ser real de todas as coisas, as essncias, gnese da realidade objetiva e histrica. Ale se encontra a verdade sobre tudo o que existe j predeterminado absolutamente em sua universalidade e eternidade de todas as suas possibilidades. A histria uma cpia corrupta da realidade celestial, uma sombra borrenta.23

Esta viso dualista da histria serviu durante muito tempo para justificar e acomodar as desigualdades sociais, pois s no plano celestial que todos teriam fartura e seriam iguais perante Deus. Esta idia que perpassou toda a trajetria das religies crists, apesar da tentativa dos tomistas introduzirem o materialismo essencialista de Aristteles com So Tomz de Aquino, o que esbarrou no dogma do predeterminismo de Deus sobre todas as coisas. Para Gotay, os militantes cristos que surgiram no sculo XX na Amrica Latina, fruto de um processo histrico especfico, passaram a enfrentar uma crise ideolgica: Como associar a militnciaibid. p.367. GOTAY, Samuel Silva. O pensamento cristo revolucionrio na Amrica Latina e no Caribe. Trad. Luiz Joo Gaio. So Paulo: Paulinas, 1985, p. 67/68.22 23

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revolucionria com a prtica religiosa? Diante de tal dilema alguns abandonaram de vez a religio, outros passaram a conviver com o conflito dividindo seus atos polticos de suas vidas religiosas, mas um terceiro grupo passou a questionar a teologia tradicional. A primeira tentativa recente de acomodar a doutrina religiosa com a prtica militante foi feita pelos Democratas Cristos, que procuraram amenizar as desigualdades provocadas pelo capitalismo. Nos anos 50 e 60, grupos da Ao Catlica (principalmente no Brasil e Chile) se radicalizaram e se aproximaram dos marxistas. Os bispos de Medellin incentivaram uma nova postura dos cristos, grupos j existentes como a JOC (Juventude Operria Catlica) a JUC (Juventude Universitria Catlica) aproximaram-se da esquerda, e nesta poca tambm estava nascendo a Teologia da Libertao. O telogo brasileiro Hugo Assmann fez a seguinte afirmao poca: No h outra histria!. Estava se rompendo com a Teologia Tradicional baseada na concepo greco-romana, e estava se reabilitando a teologia hebraica-crist:A resposta dos telogos latino-americanos que a salvao na religio bblica se refere a uma salvao que se verifica na nica histria que existe e no no alm da teologia de influncia platnica; que a salvao um processo histrico que se d na histria real, material e objetiva em que o homem reproduz sua vida material e espiritual mediante sua organizao econmica, social, poltica e ideolgica.24

E comentando a obra de Gustavo Gutirrez (telogo peruano), Gotaycomplementa:Gutirrez fundamenta sua posio da identidade entre os conceitos de criao e salvao (libertao) na exegese bblica. Faz anlise do Antigo Testamento onde verifica que a f bblica uma f num Deus que age na histria em atos salvficos que nunca se do fora da criao, e que como tais so atos sociopolticos. Usa especialmente o xodo, como,exemplo paradigmtico. Este acontecimento poltico de libertao de Israel da explorao e escravido egpcia constitui o evento em torno do qual se estrutura a f de Israel. Demonstra que no Antigo Testamento nada existe que possa ser considerado uma separao entre criao (na histria) e salvao (fora dela). Para o hebreu s existe uma vida, aquela que se d na histria. Criao e salvao do-se sempre como um mesmo conceito e so acontecimentos polticos e sociais libertadores nos quais o trabalho do homem essencial para a realizao do acontecimento.25

Esta mudana de paradigma, na qual passa a existir uma histria nica, transformou o significado de conceitos como pecado, f, salvao, poltica, tica, etc., permitindo ao militante cristo tornar-se revolucionrio. O conceito de pecado, por exemplo, passou a ter novo significado no qual a concepo essencialista do pecado original e da natureza pecaminosa das coisas perdeu o sentido, e comeou a se falar do pecado como fato, como uma situao social e histrica. O pecado deixa de ser de natureza individual (interior) para ser de natureza social; o pecado passa a ser associado a injustia.

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Ibid. p. 85. Ibid. p. 89. 31

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Passando o pecado a possuir uma nova concepo, claro que a idia de salvao, que o desejo dos que tentam evitar ou combater o pecado, tambm foi alterada. Segundo as novas concepes teolgicas, a salvao passou a ser associada a idia de libertao:A histria do processo de salvao se esclarece e toma fora quando proposta como libertao. O pecado, como atitude fundamental de injustia, que resulta das relaes humanas concretas que se do na histria, converte-se em raiz da injustia em nvel da conscincia (ou inconscincia) humana; isto se chama pecado, que d lugar a toda classe de explorao. A salvao, ento, tem que dar-se como processo de libertao da condio histrica que cria o pecado e o converte em raiz de toda injustia.26

Estas novas concepes tericas colocaram o homem como senhor do seu destino, e excluram a providncia divina da histria, pois a histria se desenvolve agora dialeticamente atravs da busca pela liberdade. O cristo militante utilizou esta nova viso de Histria, do Pecado e da Salvao para embasar eticamente sua conduta:Esta uma tica determinada pela anlise cientfica das condies objetivas na situao concreta e dirigida a fundamentar a conduta moral apropriada para criao de uma nova sociedade e um homem novo. Esta uma tica abertamente poltica. Constitui uma reflexo crtica sobre a fundamentao da conduta moral do militante cristo com relao ao fim da libertao social. Esta reflexo constitui uma leitura tica da ao poltica. Mas tica na medida em que analisa e fundamenta a conduta, no s em termos valorativos, como decises humanas em favor da libertao ltima do prximo como valor supremo.27

A Igreja Catlica, mais do que nunca, transformou-se numa instituio poltica, e todas estas transformaes permitiram que surgisse dentro de suas bases espritos combativos e atuantes que, em Ribeiro Preto, lutaram pela transformao da sociedade e tiveram no Jornal Dirio de Notcias um meio de propagar suas novas idias e ideais, principalmente na conturbada dcada de 60.

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ibid. p. 97. Ibid. p. 252. 32

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Captulo 3 O Dirio de Notcias

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O jornal Dirio de Notcias, pertencente arquidiocese Metropolitana de Ribeiro Preto, a partir da interferncia de seu arcebispo Dom Lus do Amaral Mousinho em 1956, assumiu a linha adotada pela Ao Catlica, ou seja, no era apenas um peridico religioso, mas tambm propunha engajamento na vida social e poltica.28

Com estas palavras em sua dissertao de mestrado, Milton Carneiro Jnior sintetizou a linha de atuao do Jornal Dirio de Notcias durante a primeira metade da dcada de 60. Cmplice da mesma viso, este trabalho analisou algumas matrias publicadas nesse peridico at o ano de 69, afim de observar as transformaes no posicionamento poltico do jornal na sociedade ribeiropretana, tendo sempre em mente a quem pertencia o Dirio de Notcias e a trajetria ideolgica percorrida pelos religiosos que o administravam. Pode-se dividir em trs fases as linhas de atuao do jornal: a primeira que foi de 1956 at o golpe militar em 1964; a segunda de 09 de maio de 1964 at o incio do ano de 1968 e uma terceira que compreende os anos de 1968 e 1969. Na primeira fase, o jornal Dirio de Notcias tinha a sua frente como diretor o Pe. Celso Ibson Sylos, que assumiu o jornal em 1956; esse padre e seu grupo eram claramente pertencentes a nova gerao de religiosos, que acreditavam ser misso de todos a atuao poltica. Pode-se confirmar claramente esta afirmao em diversas matrias publicada no jornal, como na coluna Lembrete 29 publicada na capa do jornal em 16/01/1964, que foi uma convocao de toda a sociedade para que tomassem partido num momento bastante delicado da histria nacional. Nessa tentativa de mobilizao e politizao da sociedade, o jornal tratou de temas polmicos como educao, reforma agrria, direitos constitucionais, comunismo, democracia, etc. A forma como estes temas eram tratados refletia a posio progressista dos membros do jornal. Os exemplos so muitos, como o publicado em 19/01/1964 na coluna Nosso Comentrio30 matria em defesa do mtodo de alfabetizao Paulo Freire, mtodo progressista adotado pelo Ministrio da Educao e que estava sendo atacado e taxado como subversivo pelo deputado federal Abel Rafael do PRP. O Pe. Celso I. Sylos, que alm de diretor do jornal era tambm coordenador da Pastoral da Terra, utilizava o Dirio de Notcias como veculo de divulgao dos conflitos no campo. Temas como explorao do trabalhador rural, condies de trabalho no campo e reforma agrria eram constantes nas pginas do jornal, em matria publicada em 12/01/1964 relativa a fome no campo destaca-se o seguinte trecho:

CARNEIRO JR, Milton. Sociedade e Poltica em Ribeiro Preto: Estratgias de Dominao (1960 1964). Dissertao de Mestrado apresentada na UNESP em 2002, p. 15. 29 Ver matria completa no Anexo 1. 30 Ver matria completa no Anexo 2. 3428

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A IMPRENSA paulistana comeou a focalizar a situao dos trabalhadores da roa, que, no tendo servios desde meados de dezembro passado, comearam a se movimentar dentro das cidades, acossados pela falta de recursos e meios de subsistncia. Muito bem colocou o problema um dos matutinos de So Paulo, ao dizer logo claramente que a questo de fome e no de mera agitao anarquizante; alis, ao apresentar assim o problema sse jornal estava se referindo a fatos ocorridos justamente na zona nordeste do Estado, aqui na regio de Ribeiro Preto.31

Com relao aos Direitos Constitucionais, como liberdade de expresso ou liberdade de imprensa, o jornal no se intimidou, mesmo sabendo que desagradaria no primeiro caso a setores da Igreja e no segundo caso a poderosos de Ribeiro Preto. As vsperas do golpe militar de 31 de maro de 1964 foi organizado um movimento de protesto contra o governo Joo Goulart, este movimento ficou conhecido como Marcha com Deus e a famlia pela liberdade e teve colaborao e apoio de setores da Igreja Catlica. A este respeito o Pe. Celso I. Sylos publica a seguinte matria, assinada pessoalmente por ele, na coluna Lembrete censurando os organizadores da manifestao:

Lembrete Esta programada para hoje, em So Paulo a marcha da famlia pela liberdade. Coisa muito bonita, aparentemente. Iniciativa que levou no engdo muita gente inocente e alheia das verdadeiras lutas que se processam no pas. Seria grave erro, condenar em bloco toda a multido de cidados e sobretudo cidados que estaro hoje percorrendo ruas paulistanas, inclusive com respeitvel esprito religioso, tomando posio contra o comunismo e os traidores da Ptria. Ningum pediu definio dos termos. O que no se pode aceitar como construtivo o maquiavelismo dos promotores da marcha, os quais, liderados pelo infeliz Governador do Estado, no sentem nenhum escrpulo em financiar com dinheiro do Povo uma iniciativa confusionista que afinal, contribui to somente para o terrorismo ideolgico e o atraso da libertao e da promoo do prprio Povo brasileiro. Respeitamos os que marcharo, lamentando-lhes a falta de politizao. Repudiamos a criminosa inteno dos promotores. P.C.I.Sylos32

Quanto a liberdade de imprensa houve um episdio vivenciado pelo Dirio de Notcias que exemplifica a bipolarizao poltica da sociedade de Ribeiro Preto, trata-se do enfrentamento entre o MAD (Movimento Ativo Democrtico) e o prprio jornal. O MAD distribuiu panfletos acusando o jornal Dirio de Notcias de atuao esquerdista e conclamando a sociedade a boicotar o peridico, o jornal, por sua vez, defendeu-se com a seguinte publicao:

Lembrete

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Ver mais detalhes da matria no Anexo 3. SYLOS Celso I. Dirio de Notcias, 19 mar. 1964. Seo Lembrete, capa. 35

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Grupo de senhores bem intencionados (?), reunidos em Movimento que se dedica ao combate sistemtico ao comunismo, est agindo na cidade. ..Como cristos, livres e democratas ns repudiamos o comunismo, porque materialista, ateu e ditador. ..Como cristos, livres e democratas condenamos tambm o capitalismo liberal, que se rotulando, muitas vzes de cristo, materialisma, ateu e ditador. ..Protestamos, pois, contra a maneira desleal, facista, de integrantes do grupo que esto visitando firmas comerciais, industriais, da cidade, com o pedido para que retirem seus anuncios de jornais ribeiropretanos por serem comunistas, incluindo, entre stes, o nosso. ..Queremos crer que stes senhores sejam honestos. Preferimos enquadra-los entre ignorantes em matria social crist. (Estamos dispostos a esclarecimentos e, mesmo, a debates pblicos a respeito do comunismo, capitalismo liberal e Doutrina Social da Igreja). ..A continuarem agindo desta forma stes senhores, ns nos veremos na contingncia de estudar melhor suas vidas, atividades e lucros, fazendo ampla exposio a respeito dos assuntos internos daqueles que, sem escrpulos e conhecimentos, se imiscuem na vida dos outros. O Redator de Planto33

Podemos observar neste caso, dois grupos bem definidos que compunham o cenrio de Ribeiro Preto nesse perodo, sendo que tal episdio mereceu ateno da Cmara Municipal, a qual possua partidrios de ambos os lados. Mas aconteceu o golpe militar e o jornal Dirio de Notcias foi fechado em 01 de abril de 1964. Em 09 de maio de 1964 o jornal reaparece, mas seu corpo diretivo havia sido modificado, assumindo a direo do jornal o prprio Arcebispo Dom Agnelo Rossi. Nesta nova fase, que a segunda na diviso proposta por este trabalho, o jornal Dirio de Notcias perde seu perfil combativo e procurou uma aproximao com o poder estatal. Em matria publicada em 02/06/1965 na coluna Nosso Comentrio com o significativo ttulo A Igreja e o Governo, o jornal Dirio de Notcia descreve, segundo sua tica, qual o papel das duas instituies perante a sociedade. Com outra percepo sobre o papel da Igreja na sociedade, a matria afirma A Igreja no tem, porm, a misso de realizar o bem temporal da sociedade humana. 34, retirando desta forma o compromisso com o bem estar material do homem e a necessidade de mudanas que a sociedade exigia, mantendo a Igreja afastada dentro do campo espiritual. Em outro trecho a matria continua: Em princpio, a Igreja e o Estado se devem no somente reconhecer a sua soberania e a sua independncia recproca, mas igualmente prestar-se auxlio e assistncia no cumprimento do seu fim respectivo.35 Nota-se enfim, que a Igreja atravs desta e de outras matria props uma trgua ao governo militar, manifestando publicamente seu desejo de ater-se aos assuntos celestiais e afirmando estar disposta a colaborar com o novo governo.

Dirio de Notcias, Ribeiro Preto, 15 mar. 1964, Seo Lembrete, capa. Ver mais datalhes da matria no Anexo 4. 35 Ibid.33 34

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Este esforo em agradar o novo governo j podia ser notado anteriormente, ao tratar do tema Reforma Agrria, tantas vezes trabalhado pelo Dirio de Notcias antes do golpe de 1964, o jornal na matria de 15/11/1964 enalteceu a atitude do novo governo em aprovar o Estatuto da Terra, chegando a fazer a seguinte afirmao: Mas, afinal era preciso comear (e talvez s um governo revolucionrio poderia faze-lo) era necessrio dar o primeiro passo.36 Apesar dos avanos que o Estatuto da Terra representava, no h como confundir a luta travada pelo jornal em busca da justia social no campo e a aprovao do Estatuto feita de forma nada democrtica, e claro que os representantes do jornal tinham esta conscincia. O jornal Dirio de Notcias, que antes do golpe posicionava-se como defensor dos direitos constitucionais, passou a aceitar certas medidas antidemocrticas como as cassaes promovidas pelo Ato Institucional n. 1 (AI 1) ou mesmo se regozijar ao publicar na capa do jornal de 06/02/1966 a seguinte manchete sobre a edio do Ato Institucional n. 3 (AI 3): Editado Ato Institucional n. 3 Revoluo no ser frustada37. Quanto as cassaes de mandatos e direitos polticos, necessrio recordar que no episdio da cassao do vereador Pedro Augusto de Azevedo Marques, o jornal no estava circulando, mas no seu retorno, o que ocorreu exatos 32 dias aps a cassao do vereador do PSB, nenhuma reportagem de destaque foi dada ao caso, pelo contrrio, a matria publicada em 16/06/64 elucida a nova posio do peridico naquele momento, que era de inteiro apoio ao governo militar, como demonstra o trecho reproduzido abaixo:

Cassaes TEIMAM alguns em pedir a nosso apoltico jornal sua posio frente cassaes de mandatos e suspenso de direitos polticos. No obstante nos colocarmos, nesta consideraes, em perspectiva longnqua do juzo dos dados que esto levando o Conselho de Segurana Nacional ao, acreditamos serem oportunas algumas consideraes sobre o momentoso assunto. No iremos pois analisar os juzos que o C.N.S. faz sobre os dados que obtm e, sim, unicamente, alguns dados que nos so fornecidos pelo prprio Conselho Nacional de Segurana. O AFASTAMENTO de homens comunistas, agitadores, corruptos e corruptores do cenrio nacional, de urgente necessidade. No se pode lanar a ba semente da reestruturao nacional, sem que o terreno esteja devidamente preparado. At o presente, o Governo tem se dedicado, quase que exclusivamente a este necessrio e urgente mister....38

evidente que matrias que criticavam setores do novo governo tambm eram publicadas, mas no havia mais um engajamento e defesas de causa atravs das pginas do Dirio de Notcias.Ver matria completa no Anexo 5. (grifo nosso). Esta alegao praticamente legitima por parte do autor da matria o golpe de 64, pois segundo o mesmo, as mudanas to cobiadas s se concretizaro devido ao poder do novo governo. 37 Editado Ato Institucional n. 3 Revoluo no ser frustada Dirio de Notcias, Ribeiro Preto, 06 fev. 1966. Manchete de capa. 38 Cassaes. Dirio de Notcias, Ribeiro Preto, 10 jun. 1964. Coluna Nosso Comentrio, p. 2. 3736

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Reportagens com os ttulos Ditadura vista (17/10/65), A iluso do bipartidarismo (13/01/66), Partidos do Governo e partidos do povo (27/02/66) entre vrias outras, faziam crticas moderadas ao regime militar. O ano de 1965 marcado tambm pela mudana do governo da Arquidiocese de Ribeiro Preto, sai Dom Agnelo Rossi (20/12/1964) e entra Dom Frei Felcio Csar da Cunha Vasconcelos (27/03/1965).39 Contudo, com o acirramento do regime no final do ano de 1968, vrios religiosos se vem confrontando o sistema, provocando um mal estar entre Estado e Igreja, que o jornal Dirio de Notcias fez ir pblico atravs de suas pginas. Comea ento, a terceira fase que esta pesquisa identificou na atuao do jornal nos anos 60. A priso dos padre franceses no estado de Minas Gerais foi praticamente o estopim da crise entre as duas instituies, e o Dirio de Notcias deu ampla cobertura ao caso com reportagens dirias como:

Habeas corpus em favor de padres presos BELO Horizonte (UPI) O advogado Camallen Herval, viajou hoje para a Guanabara a fim de impetrar pedido de habeas corpus ao Superior Tribunal Militar, em favor dos padres presos pela Polcia Federal, e que esto recolhidos na unidade do exrcito. Por seu turno, o Coronel Newton Motta, presidente do inqurito policial militar, viajou para Juiz de Fora, sede da Quarta Regio Militar com o intuito de trazer o pedido de priso preventiva para os trs padres franceses e diconos detidos nesta cidade. O general lvaro Cardoso, comandante da Infantaria Divisionria da 4a Regio Militar, declarou que o Exrcito no est perseguindo a Igreja e que prendeu os trs padres que tem atitude tipicamente subversiva e agem em prol do comunismo. Acrescentou que, oportunamente sero dados a conhecimento pblico os documentos apreendidos na casa dos padres.40

Em 05/12/1968 o jornal sai as bancas com a seguinte manchete estampada na capa: MILITARES PERSEGUEM A IGREJA41. A priso dos padres franceses resgatou uma atuao mais marcante por parte do jornal, que no poupou tinta na tentativa de pressionar o governo para libertar os religiosos e publicava reportagens dirias em defesa dos mesmos. Em 13/12/1968 quando foi editado o Ato Institucional n. 5 (AI5), o jornal no se intimidou e publicou na capa de 14/12/68 a manchete Costa e Silva baixa novo Ato42, na qual reproduziu resumidamente o teor do novo Ato Institucional e na coluna Nosso Comentrio43 teceu comentrios crticos, no qualificando mais o governo como revolucionrio, mas falando em regime de exceo. Outro caso de grande repercusso foi a instalao da OBAN (Operao Bandeirantes) na cidade de Ribeiro Preto. Atravs das operaes da OBAN aconteceram as prises dos membros da FALN e aLAUREANO, Monsenhor Dr. Joo. Bispos e arcebispos de Ribeiro Preto. So Paulo: Ave Maria, 1975. Habeas Corpus em favor dos padres presos. Dirio de Notcias, 03 dez. 1968, p. 4. 41 Militares perseguem a Igreja. Dirio de Notcias, 05 dez. 1968, capa. 42 Costa e Silva baixa novo Ato. Dirio de Notcias, 14 dez. 1968, capa. 43 Ver mais detalhes da matria no anexo 6.39 40

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priso da Irm Maurina Borges da Silveira, que sem dvida, foi um dos episdios que melhor espelharam a composio de foras existentes na cidade naquela poca. As atividades da OBAN estiveram ligadas a investigao, perseguio e priso dos membros da FALN, e o jornal publicou uma carta aberta emitida pela autoridades militares em 26/10/1969 44 revelando a priso de subversivos e outra em 15/11/196945 onde anunciava a priso de 119 pessoas. Entre os presos estavam diversos religiosos da arquidiocese, incluindo a Irm Maurina Borges da Silveira, diretora do Lar Santana na Vila Tibrio, que teria sido presa em 24/10/1969. A reao da Arquidiocese foi imediata, e esta no se intimidou em protestar, inclusive atravs das pginas do jornal Dirio de Notcias com uma carta aberta publicada em 13/11/1969 que, entre outras coisas, excomungava os dois delegados responsveis pela priso da religiosa. Abaixo trechos da referida carta aberta:

Posio do clero arquidiocesano de Ribeiro Preto O clero arquidiocesano de Ribeiro Preto , presidido pelo seu arcebispo metropolitano, reunido hoje dia 12/11/1969, - como tem apoiado outras oportunas tomadas de posio da CNBB, - diante dos ltimos acontecimentos que se registraram em reas da Igreja, decide dar inteiro apoia as declaras do sr. Cardeal Agnelo Rossi, presidente da comisso central da CNBB. Diante de recentes ocorrncias, verificadas na regio desta arquidiocese de Ribeiro Preto, leva ao conhecimento da CNBB e da comisso episcopal Sul 1, e de todo o pblico em geral, a seguinte informaes: a) No dia 25/10/1969 a Operao Integrada... b) Aos poucos depois disso, fomos tomando conhecimentos de vrios prises e de uma onda de detenes, para declaraes e inquritos. Na rea da Igreja, foram atingidos leigos, religiosos, religiosas e sacerdotes... c) H 19 dias, encontra-se presa, na cadia feminina de Cravinhos, a irm Maurina Borges Silveira, superiora do Lar SantAna. No nos foi possvel obter informaes srias e adequadas, da parte das Autoridades responsveis, sbre a situao daquela religiosa, posta em regime de incomunicabilidade e sendo totalmente obstaculadas as tentativas de sua Providencial, para informaes. H suspeitas bastantes srias de que a referida irm tenha sido submetida a provocaes e tortura de choque eltrico. d) Com relao a outras pessoas da arquidiocese, esta suspeita se torna plena certeza, dados os depoimentos de fieis que foram colhidos, por ordem da autoridade Arquidiocesana.... REPUDIAMOS as insinuaes maldosas, as calnias, as ironias, com que foram tratados vrios sacerdotes de nosso Clero, e, solidarizando-nos com os verdadeiros cristos e suas comunidades, os confortamos pela leso da forma de que foram objeto, junto aos seus rebanhos, por atitudes arbitrrias e precipitadas de certas Autoridades. Sobretudo, o que nos preocupa, nos acontecimentos todos, o desrespeito a pessoa humana. DEPOIS da paciente reflexo e meditao, cumprimos tambm o nosso grave dever pastoral de lembrar que os mandantes de tais arbitrariedades j esto excomungados; excomunho reservada ao Bispo, de acrdo com a Legislao da Igreja, Cdigo de Direito Cannico, cnon 2343, 4. Diante de fatos evidentes, declaramos estarem incursos no referido cnon o dr. Renato Ribeiro Soares, Delegado Seccional de Polcia de Ribeiro Preto e o dr. Miguel Lamano, Delegado Adido de Ribeiro Preto.... ENFIM, esta nossa declarao tem a inteno de mais uma vez, reforar a unidade interior da comunidade catlica de nossa Arquidiocese, lembrando a todos os cristos que o testemunho de discpulos de Cristo e da prpria divindade do Cristo, que podemos dar aos homens de nosso tempo, se baseia exatamente nesse unidade.(JO 17,21).46Ver matria completa no Anexo 7. Ver matria completa no Anexo 8. 46 Posio do clero arquidiocesano de Ribeiro Preto. Dirio de Notcias, 25 out. 1969. Capa.44 45

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Nesta fase, o jornal Dirio de Notcias travou uma verdadeira batalha na tentativa de defender os religiosos envolvidos. Sua tese de defesa era baseada na idia que era papel de todo religioso buscar a igualdade e fraternidade entre os homens, mas que isso no deveria ser relacionado a comunismo. Concluindo, verificou-se pelas diversas colocaes e reportagens citadas neste trabalho, entre tantas outras que alimentavam o jornal e seus leitores, que o jornal Dirio de Notcias foi uma entidade politicamente ativa nesse perodo na cidade de Ribeiro Preto, porm flexvel. No ano de 1978, ano em que completava 50 anos de existncia, e 33 que pertencia a Arquidiocese de Ribeiro Preto, o jornal Dirio de Notcias encerrou suas atividades, nesta poca j no possua a influncia e o alcance de outrora.

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Consideraes Finais

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Golpe poltico, cassaes de mandatos e direitos polticos, prises arbitrrias, atentados a bomba, assaltos (ou expropriaes), planejamento de sequestros, tortura. Muitos desconhecem, mas esta era a realidade vivenciada em Ribeiro Preto entre os anos de 1964 1969. O conflito ideolgico que vivia o Brasil, e at mesmo o planeta, era facilmente identificado no microcosmo de Ribeiro Preto. Uma direita reacionria e opressora, digna representante das classes dominantes, que tinha no MAD sua exteriorizao mais evidente, com partidrios at na Cmara Municipal; e uma esquerda dividida principalmente entre comunistas e religiosos progressistas. Ribeiro Preto j era nesta poca uma cidade grandiosa, aglutinadora das riquezas e atenes da regio, uma cidade que possua vrios jornais locais: A Cidade, Tribuna de Ribeiro Preto, Dirio da Manh e o Dirio de Notcias. A escolha da analise das matrias do jornal Dirio de Notcias, teve por escopo conhecer o ponto de vista poltico da Igreja Catlica, mas percebe-se que no se pode estereotipar a figura do clero como um corpo homogneo. Analisando as reportagens do jornal luz dos acontecimentos deste conturbado perodo, constatou-se que o Dirio de Notcias era uma instituio que possua uma vida prpria e dinmica. Apesar das balizas do jornal Dirio de Notcias nos anos 60 estarem aliceradas no MRB (Movimento Revolucionrio Brasileiro), nota-se que ao longo do tempo e sobre a influncia dos acontecimentos externos, o peridico foi se transformando. Como porta-voz de uma Igreja que no homognea, ora o jornal mostrou-se revolucionrio, ora mostrou-se conservador, tendo uma radicalizao de forma homognea apenas no sentimento corporativista do clero e da Igreja Catlica, que no poupou esforos na defesa de seus membros. No foi possvel mensurar qual o tamanho da influncia do jornal Dirio de Notcias na sociedade ribeiropretana. Cogitou-se da contribuio do jornal para a eleio em 1963 do jovem prefeito Welson Gasparini, apesar de no confirmar ou desmentir tal afirmao, Gasparini fez o seguinte comentrio em entrevista gravada em 10/04/2003 para o Museu da Imagem e do Som de Ribeiro Preto O jornal Dirio de Notcias, jornal da Arquidiocese de Ribeiro Preto. Hoje no existe mais. Era um jornal de grande influncia e entrava em todas as cidades da Arquidiocese.47. Tudo faz acreditar, ter sido grande a participao do jornal na vida social e poltica da cidade, pois se assim no o fosse, o peridico no teria sido alvo de tantos ataques da extrema direita. Por outro lado, no meio eclesistico o jornal teve grande penetrao, pois segundo o Pe. Celso I. Sylos a nomeao do Arcebispo Dom Agnelo Rossi teve direta relao com a atuao do jornal. Em entrevista concedida em 1990 o Pe. Celso faz a seguinte declarao:

Transcrio de parte da entrevista concedida pelo Sr. Welson Gasparini ao Programa de Registro de Histria Oral do Museu da Imagem e do Som de Ribeiro Preto em 10 abr. 2003. 4247

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... o jornal Dirio de Notcias a partir de 1957, quando assumi e com Dom Mousinho, ele passou a ser um jornal de militncia poltica no partidria, que ningum, pode olhar toda a histria, ningum nunca apoiou PTB, PTE, nada, eu apoiava Luciano Lepera pelas posies dele, a gente batia a mo aqui e apoiava l e tinha uma viso social crist e de militncia, at o momento que em 63 chamou a ateno de todo episcopado e do Brasil inteiro e acabei sendo o presidente da Associao du da Imprensa Catlica, ai tinha que por fim, chegou o momento que eu comecei a influenciar a Companhia dos Bispos. Eu fui chamada para montar, e hoje j est organizado, a secretria de opinio pblica da Companhia dos Bispos, eu que organizei com outros companheiros iguais a mim. E nesses momento veio Dom Agnelo, no por causa do sindicalismo rural no, que Roma acho que nem conhecia o que estava acontecendo aqui, o problema do jornal, tinha que parar aquilo...48

Mesmo considerando que este trabalho contribui para o entendimento da sociedade de Ribeiro Preto do final dos anos 60 e por conseguinte, da sociedade brasileira daquela poca, o tema no esta esgotado. Muito pelo contrrio, este estudo demonstra o quanto ainda pode ser realizado neste caminho, pois muitos depoimentos ainda podem ser tomados de pessoas que viveram aqueles duros anos, documentos como os IPMs (Inquritos Policiais Militares) instaurados sobre personalidades da cidade podem ser analisados, atas da Cmara Municipal como a da sesso que cassa o mandato do vereador Pedro A. de Azevedo Marques e de todos seus suplentes do PSB, notcias dos outros jornais da cidade que podem ser confrontadas com as notcias do Dirio de Notcias, e tantos outros materiais que podem e devem ser analisados. Por fim, fica a contribuio deste trabalho para o estudo dos homens e mulheres de Ribeiro Preto, que naqueles difceis anos no se intimidaram e fizeram do jornal Dirio de Notcias um instrumento de luta pela democracia e liberdade.

Transcrio parcial da entrevista gravada em VHS, concedia ao projeto Pr-memoria de Batatais do Departamento Municipal de Cultura do municpio de Batatais em 04 out. 1990, arquivada no Museu Pedaggico Washington Luiz de Batatais. 4348

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Bibliografia

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Fontes

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Atas da Cmara Municipal de Ribeiro Preto, 5a Legislatura (01/01/1964 31/01/1969) Jornal Dirio de Notcias de janeiro de 1964 dezembro 1969. Entrevista gravada em VHS, concedia pelo Pe. Celso Ibison Sylos, arquivada no Museu Pedaggico Washington Luiz de Batatais. Entrevista gravada em VHS, concedida pelo Sr. Welson Gasparini ao Programa de Registro de Histria Oral do Museu da Imagem e do Som Jos da Silva Bueno Ribeiro Preto. 2003.

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Apndice

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Partidos Polticos49 O PSD: O Partido Social Democrtico foi fundado em 1945 por Getlio Vargas, o qual arregimentou os interventores dos Estados nomeados durante o Estado Novo, que eram lideranas representativas das oligarquias locais de cada Estado. O partido manteve-se no poder do governo Dutra Joo Goulart, com exceo de Jnio Quadros. Em momentos histricos sua aliana com o PTB lhe garantiu maioria parlamentar expressiva na poltica federal e nos Estados. A UDN: A Unio Democrtica Nacional tambm era um partido oligrquico, contudo, caracterizou-se por ser formado por elementos contrrios ao Estado Novo. Apoiou a candidatura do Brigadeiro Eduardo Gomes contra Dutra em 1945 e contra Getlio em 1950, sendo derrotada em ambas as eleies. Procurou apoio nas Foras Amadas, pois era um partido que no tinha a simpatia popular. Com Jnio Quadros conseguem sua nica e breve vitria eleitoral. O PRP: O Partido de Representao Popular foi fundado em 1945 no contexto da redemocratizao brasileira por membros remanescentes da Ao Integralista Brasileira (AIB). Sob a liderana de Plnio Salgado, o PRP era um instrumento de interveno dos integralistas procurando inserir-se de forma harmnica no sistema poltico liberal. O PTB: O Partido Trabalhista Brasileiro surgiu tambm sob a tutela de Getlio Vargas. No fez parte do governo Dutra, mas nos governos de Vargas, JK e Jango comps com o governo auxiliando-o nas decises parlamentares. Em uma segunda fase do partido, aps 1950, novas lideranas surgem, como Almino Afonso, Ivete Vargas, Fernando Ferrari e Leonel Brizola, alterando o perfil do partido. O PSB: O Partido Socialista Brasileiro oficializado em 1947, tem como base a Esquerda Democrtica (ED) formada por antigos stalinistas, trotskistas e socialistas independentes. O PSB foi um dos poucos partidos que fizeram da defesa ideolgica e de um programa partidrio autntico uma bandeira para seus militantes. O PCB. O Partido Comunista Brasileiro viveu a maior parte de sua existncia na ilegalidade, com exceo nos anos de 1922 (data de sua fundao), 1927 e de 1945 1947. Porm, mesmo durante sua ilegalidade o partido continuou a existir fazendo aliana com outros partidos. Sua atuao estendeu-se alm da esfera partidria, tendo influncia nas diversas organizaes de trabalhadores, sindicatos e movimentos de trabalhadores rurais. O XX Congresso do PCUS (1956) marcou uma nova linha de atuao dos PCs no mundo, onde se rejeitava o stalinismo e procurava-se uma atuao de forma mais democrtica. Nesta linha ocorre o V Congresso do PCB (1960), que marco tambm dos cismas internos do Partido. Os mais importantesPara mais informaes sobre os partidos polticos consultar CARONE, Edgar. A Repblica Liberal. SP-RJ: DIFEL, 1985, Terceira Parte: B) Partidos, p. 292 at 390. 4949

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so os liderados por Agildo Barata e o do grupo de Joo Amazonas, Maurcio Grabois, Cali Chade e outros. Estes ltimos reassumem a legenda PC do B que havia sido abandonada pelo Partido em troca da legenda PCB, numa tentativa de conseguir o registro e a legalidade da legenda. Estas rupturas explicam a existncia dos vrios grupos revolucionrios que atuaram de forma to dspare nos anos 60.

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Anexos

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Anexo 1 Lembrete Ficou explicito num dos ltimos documentos do sbio Joo XXIII, que uma doutrina social no se enuncia apenas, mas preciso leva-la prtica. Muito mais ainda, acrescentava o Santo Padre na mesma Mater et Magistra, quando se trata da Doutrina Social Crist! O panorama do pas est a exigir atuao social de todos quantos de qualquer forma, exercem funo na comunidade. Os cristos, que estatisticamente so maioria no Brasil, continuam pecando por omisso macia. hora de acordar. Para os que no sabem rumos e metas, hora de estudo srio. Para os que possuem viso e julgamento, hora de largar o comodismo individualista e partir para a atuao urgente. O Brasil precisa de militantes lcidos e corajosos Urgentemente. O Redator de Planto50 Anexo 2 Alfabetizar Politizando O SR. ABEL RAFAEL, deputado federal, pelo PRP de Minas Gerais, denunciou em plenrio, como subversivo o mtodo de alfabetizao Paulo Freire, atualmente adotado pelo Ministrio da Educao. PARA O ILUSTRE deputado, ensinar a ler falando em voto, terra, povo, deputado, sindicato, luta de classe, misria, favela no alfabetizar, fazer comunistas. No se pode mostrar a realidade brasileira aos adultos analfabetos, sem que sses logo pensem em comunismo. Ento, diante de uma situao de reconhecimento de direitos, faz-nos crer o sr. Abel Rafael que o comunismo a nica soluo. METODO DE alfabetizao uma tcnica. Nada tem a ver com ideologia. Devemos prosseguir ensinando que a pata nada coisa que todos j sabem para conservar na ignorncia e na misria aqules que h muito vm sendo injustiados, porque isto o que convm s classes conservadoras. NO MELHOR, porm, ensinar aos homens que todos tm direito ao trabalho, para ganhar o seu sustento. Mas, que para terem um digno sustento, justo deve ser o seu salrio? Por que continuar negando esta verdade? Por que ocultar os direitos , apresentando-lhes somente os deveres?

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Dirio de Notcias, Ribeiro Preto, 16 jan.1964, Seo Lembrete, capa. 52

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ENSINAR NO apenas alfabetizar tecnicamente, para que o cidado, sabendo assinar seu nome, possa votar nas eleies. muito mais ainda. tirar das trevas da ignorncia, para fazer do indivduo analfabeto realmente um HOMEM. POR ISSO que, de acrdo com as informaes do professor Luiz Carlos Pujol, superintendente de Educao e Cultura da Prefeitura do Distrito Federal, 76 padres e freiras ministraro aulas pelo sistema Paulo Freire, alm de outros elementos, inclusive estudantes secundrios e universitrios, que se apresentaram voluntariamente para to nobre atividade. PROSSEGUIREMOS, assim, vivendo a mensagem do Evangelho: Da a Cesar o que de Cesar. Demos pois, a todos os homens o que lhes de direito. Ser isto comunismo?51 Anexo 3 A RAZ DO PROBLEMA A IMPRENSA paulistana comeou a focalizar a situao dos trabalhadores da roa, que, no tendo servios desde meados de dezembro passado, comearam a se movimentar dentro das cidades, acossados pela falta de recursos e meios de subsistncia. Muito bem colocou o problema um dos matutinos de So Paulo, ao dizer logo claramente que a questo de fome e no de mera agitao anarquizante; alis, ao apresentar assim o problema sse jornal estava se referindo a fatos ocorridos justamente na zona nordeste do Estado, aqui na regio de Ribeiro Preto. ESTAMOS informados que a situao poder partir para a calamidade em diversos ncleos urbanos de nossa regio, onde os senhores proprietrios de terra h muito tempo deliberaram economizar dinheiro e dor-de-cabea, expulsando sistematicamente os camponeses das chamadas colnias. Tivemos ocasio de focalizar com reportagens ilustradas alguns casos. Verificados em 1963 no vizinho municpio de Batatais. Realmente, os fazendeiros descobriram a famosa chave inventada em primeira mo pelos usineiros: apenas trabalhar com mo de obra avulsa, trazida dia a dia dos centros urbanos em mseras condies de transporte em pus-de-arara, sem nenhum encargo de ordem legaltrabalhista. A chave o empreiteiro, essa figura que no nem empregado, nem patro; na maioria dos casos, o empreiteiro no tem capacidade para arcar com as responsabilidades trabalhistas da CLT ou do Estatuto do Trabalhador Rural com referncia aos homens e mulheres maiores e menores que conduz diariamente em seu caminho at usina ou fazenda. ESSA DESUMANA e injustssima estrutura, est vigorando agora para a explorao agrcola. Se na zona de cana de acar o mal tem ficado encoberto pelo simples fato de se tratar de uma economia rural mais fortalecida e desenvolvida, entretanto nas zonas de fazendas a situao calamitosa est51

Alfabetizar Politizando. Dirio de Notcias, Ribeiro Preto,19 jan. 1964. Coluna Nosso Comentrio, p.2. 53

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como ferida aberta. Qualquer contratempo na produo acarreta de imediato misria em massa nos centros urbanos, para onde fugiram os camponses. o que se passa nste ms, como conseqncia lgica da estiagem que levou os proprietrios a recuarem das culturas programadas. O IMPORTANTE que fatos graves, marcados pela fome entre as massas de camponses, devero alertar as Autoridades e os senhores proprietrios para a raiz do problema. No possvel continuar aceitando a injria dessa estrutura desumana, na qual milhares de trabalhadores no alcanam NENHUMA GARANTIA para o dia de amanh. Enquanto isso, valoriza a propriedade na marcha inflacionria e os poucos recursos produzidos pela roa acabam sempre cheios de iniciativas nos mais diversos ramos de negcios e empreendimentos urbanos....52 Anexo 4 A Igreja e o Governo SO muitos os que, atualmente, perguntam qual a atitude da Igreja, frente ao atual Governo. Firmados na Doutrina da Igreja sobre a Sociedade Civil, podemos afirmar que a atitude sempre atual da Igreja de colaborao. A Igreja e o Estado so sociedades distintas; cada qual, na sua esfera prpria, soberana e perfeita. Sendo distintos, afirma C. Van Gestel, a Igreja e o Estado no podem estar separados, pois existem entre les relaes frequentes e necessrias. Suas respectivas misses e competncias devem ser garantidas numa forma de colaborao que respeite a primazia dos valores espirituais e do poder indireto que a Igreja, como porta-voz da ordem moral, exerce sobre todas as cousas temporais e, portanto sobre o domnio prprio do Estado. Nada do que humano escapa aos imperativos da moral. A Igreja no tem, porm, a misso de realizar diretamente o bem temporal da sociedade humana. A respeito das relaes mutuas da Igreja e Estado, assim se define o Cdigo de Moral Poltica, Malines: Em princpio, a Igreja e o Estado se devem no somente reconhecer a sua soberania e a sua independncia recproca, mas igualmente prestar-se auxlio e assistncia no cumprimento do seu fim respectivo. Sucede, com efeito estarem as duas sociedades a servio das mesmas pessoas: um de realizar um bem comum, um temporal; outro religioso, prprio para assegurar aos mesmos indivduos a possibilidade de atingirem a sua perfeio de homem e de cristo. Assim como impossvel que o homem ignore o cristo e o cristo ignore o homem assim tambm moralmente impossvel que o Estado ignore a Igreja ou que a Igreja Ignore o Estado. Estabelecer uma separao total entre essas duas sociedades, equivale a separar os interesses espirituais das mesmas

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Raiz do Problema. Dirio de Notcias, Ribeiro Preto, 12 jan. 1964. Coluna Nosso Comentrio, p. 2. 54

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pessoas. E eis a por que a colaborao entre a Igreja e o Estado deve ser considerada como o regime normal das suas relaes....53 Anexo 5 REFORMA AGRRIA O BRASIL, por natureza, chamado a ser uma grande potncia agrcola no mundo. Suas terras imensas e seu clima tropical atribuem-lhe uma vocao de celeiro do mundo, a realizar-se num tempo no muito remoto, embora ns, brasileiros, no tenhamos uma inclinao muito acentuada para o cultivo da terra. Somos prdigos, porque temos demais. A QUESTO agrria um dos maiores problemas, seno o maior, que ns temos que enfrentar e resolver no momento: porque problema-base, a questo-chave para todos os problemas e questes. a terra cultivada e a pecuria desenvolvida que iro fornecer alimentao para o povo, matria-prima para a indstria e divisas para o pas no setor de exportao. POR ISSO, motivo de jubilo para ns a aprovao do Estatuto da terra, que o executivo enviou ao Congresso e o Parlamento acaba de sancionar, apesar das obstrues e multilaes. a to propalada e to combatida reforma agrria, inclusive com o pargrafo da desapropriao dos latifundios e terras abandonadas por ttulos da dvida pblica, modificando-se assim o item da Carta magna que tanta celeuma causou. (A verdade sempre se impe e brilha por si mesma!). NO a reforma completa nem perfeita, porque o problema assume a esta altura, propores gigantescas e abrange desde a reforma do ministrio da Agricultura, at a restruturao dos portos fluviais e martimos, desde a construo de estradas, armazns e silos at a criao de fontes de financiamento a longo prazo, desde o preparo tcnico do lavrador at a garantia de preos mnimos para os produtos. MAS, afinal era preciso comear (e talvez s um governo revolucionrio poderia faz-lo.) era necessrio dar o primeiro passo. O Estatuto da terra, que o Congresso acaba de sancionar, um primeiro esforo, ingente e louvvel, para a reestruturao agrria do pas. LOUVADO, pois, a atitude do governo no seu Presidente e nos seus parlamentares, que comeam a caminhar em direo ao povo, fazemos votos para que o Estatuto da terra no seja mais uma letra morta, entre tantas, mas se concretize com maior rapidez possvel.54

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A Igreja e o Governo. Dirio de Notcias, Ribeiro Preto, 02 jun. 1965. Coluna Nosso comentrio, p. 2. Reforma Agrria. Dirio de Notcias, Ribeiro Preto, 15 nov. 1964. Coluna Nosso comentrio, p. 2. 55

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Anexo 6 Novo Ato e regime democrtico ESTAMOS em pleno regime de exceo. A Nao atnita ouviu, pela Agncia Nacional ontem, noite, o anncio feito por porta-voz do sr. Presidente da Repblica, do novo Ato Institucional (N.o 5), suspendendo as garantias constitucionais e, em seguida, Ato Complementar decretando o recesso do Congresso Nacional. Anteriormente o Pas assistia inesperada atitude da Cmara Federal, derrotando o Governo, no conturbado caso do deputado Mrcio Moreira Alves.... OS ACONTECIMENTOS que envolvem o Brasil hoje no podem deixar de preocupar, vivamente, a todos quantos se interessam pelos sadios destinos desta sofrida Ptria. Importa digamos a bem da honestidade, que no acreditamos, como saneadora e construtora do bem-comum, em medida de exceo.... Sobretudo, de uns tempos para c, assistimos ao divrcio do Governo das classes populares, do Clero e, na votao do caso Mrcio, do prprio Parlamento. EVIDENTEMENTE, sob pena de deixarmos de existir, no podemos, no atual enquadramento, deixar de chamar a ateno de todos os ideais da justia. Nenhum homem poder ser esmagado sob pretexto algum. A Declarao Universal dos Direitos do Homem da qual o Brasil foi um dos signatrios em 1948, no poder ser aviltada. Desta forma, todo homem acusado de delito no poder ser julgado e castigado sem que tenha, em plena liberdade, direito defesa. Dizemos isto, pensando no deputado Mrcio Moreira Alves e, mais particularmente nos sacerdotes detidos em Belo Horizonte sob os quais pesam ridculas acusaes feitas por homens do Exrcito....55 Anexo 7 Atividade terrorista na regio de Ribeiro Perto Recebemos, ontem, da Operao Integrada, com pedido para publicao em destaque, na primeira pgina, a seguinte nota oficial: A Operao Integrada, formada pelos rgos da Secretaria da Segurana Publica Polcia Civil e Fra Publica Operao Bandeirantes e Exrcito Nacional, cumpre o dever de esclarecer ordeira populao da regio de Ribeiro Preto o seguinte: 1 Atravs de demoradas investigaes, foi desbaratado grupo terrorista que vinha agindo nesta regio desde 1967, implantando inquietao em toda rea; 2 Com a priso de seus principais elementos, foram esclarecidos os seguintes atentados: Exploso de bombas em quatro cinemas de Ribeiro Preto;55

Novo Ato e regime Democrtico. Dirio de Notcias, 14 dez. 1968. Coluna Nosso Comentrio, p. 2. 56

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Exploso de bomba no quartel do 3o B.P. da Fra Publica, nesta cidade; Exploso de bomba no Mercado Municipal; Exploso de bomba no Departam