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REVISTA do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista IPA | Ano 1 | Edição 2 | Dezembro de 2006 | www.ipametodista.edu.br/sites/universoipa Movimentos ENTREVISTA | Chico Anysio sem limites página 3 MEIO AMBIENTE | Afogados na celulose ................................................................ 8 MEIO AMBIENTE | Esperança renovada no Arroio Dilúvio ..... 11 CULTURA | Cultura voluntária ............................................................................................................. 48 ociais do Campo página 32

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A construção da revista não é uma tarefa fácil,

principalmente, para alunos de segundo semestre. Po-

rém, o curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodis-

ta apresenta um diferencial muito importante: conjugar

teoria e prática desde o primeiro semestre. Esta publicação

é a materialização deste diferencial. Estamos conscientes de

que é uma revista laboratório, mas ela é motivo de muita

satisfação, pois é realizada por alunos que freqüentam o

primeiro ano de Jornalismo.

Tal como a produção de um jornal, a revista também

inicia com a reunião de pauta. Ou seja, os estudantes ini-

ciam a discussão com os professores sobre as matérias

que vão ser tratadas na edição. A opção, neste caso, foi

por uma revista de variedades, com forte cunho para as

demandas sociais.

Não existe uma preocupação rígida de utilizarmos

única e exclusivamente os gêneros jornalísticos que são

passados na sala de aula. Como facilmente se depreende,

os alunos têm a liberdade de escolher os assuntos e as ma-

térias que vão ser editadas. O principal objetivo é que eles

possam pôr em prática tudo aquilo que foram apreenden-

do na sala de aula.

Este número do Universo IPA abarca uma variedade de

matérias que por si só, enobrece a postura profissional de

todos aqueles que um dia pretendem dedicar-se de corpo e

alma ao Jornalismo. Sabemos que o Jornalismo passa por

uma crise existencial pós-moderna, onde o tele-lixo e o sen-

sacionalismo tomaram conta das audiências. Virá o dia em

que as “massas” vão exigir um Jornalismo mais sério, hones-

to, investigativo, imparcial e respeitador da ética comunica-

cional. E, é nesse contexto que os alunos do Centro Univer-

sitário Metodista poderão afirmar-se como uma mais valia

no mundo da informação.

Esta edição de Universo IPA é uma tentativa neste sen-

tido. Certos de que estamos no caminho de um outro Jorna-

lismo, também reconhecemos que ainda há muito a apren-

der, muitas pautas carentes de cobertura. Por isso, como

obra aberta, no sentido de Umberto Eco, estamos prontos a

receber críticas, sugestões, contribuições de todo o tipo. Boa

leitura a todos.

Sumário

história | Ame-o ou deixe-o ................................................................................................................................... 5

meio ambiente | Água ou petróleo? ...................................................................................... 13

cidadania | Esperança que vem do lixo .................................................................................... 15

ciência | Admirável Nano ........................................................................................................................................... 16

saúde | O estresse nosso de cada dia ......................................................................................................... 20

saúde | Até onde vai a fé? ............................................................................................................................................. 22

religião | País abençoado: terra da Santa Cruz .................................................................... 24

geral | O último lambe-lambe .............................................................................................................................. 26

moda | O lado dos brechós .......................................................................................................................................... 27

comportamento | A solidão que socializa ......................................................... 28

internet | Na mira das lan houses ............................................................................................................. 30

política | Assembléia Legislativa: um oásis político ...................................................... 31

profissão | O futuro das profissões .................................................................................................. 36

geral | Mundo dos negócios GLBT ................................................................................................................. 40

esporte | Contagem regressiva ...................................................................................................................... 44

esporte | Esporte radical conquistou o seu espaço ........................................................ 46

cultura | Porto Alegre, a Liverpool gaúcha ............................................................................... 52

cultura | Música made in Brazil .................................................................................................................... 55

cultura | A sessão vai começar... Bom filme! ........................................................................... 58

cultura | A grande conquista cultural do pequeno arquipélago ........... 61

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Poucos artistas transitam tão bem por tantas áreas.

Ator, diretor, compositor, escritor, pintor, radialista e

comentarista... (ufa!); Francisco Anysio de Oliveira Pau-

la Filho, o Chico Anysio, é um artista sem limites. Nasceu

na cidade de Maranguape, no Ceará, em 1931. Mudou-

se com a família para o Rio de Janeiro, com oito anos de

idade, época em que sonhava em ser cobrador de ôni-

bus. Antes de encarar o rádio profissionalmente, elabo-

rou um número de imitações com 32 vozes e, com esse,

colecionou muitas vitórias em todos os shows de calou-

ros do Rio e São Paulo. Silêncio em plena estréia! Nervo-

so, Chico travou e estreitou, oficialmente, sem dizer

uma palavra na rádio Guanabara. Familiarizado rapi-

damente, passou a exercer várias funções: rádio-ator,

comentarista de futebol, locutor... Trabalhou, na déca-

da de 1950, nas rádios “Mayrink Veiga”, “Clube de Per-

nambuco”, “Clube do Brasil”. Assistiu de perto à ascen-

são da televisão no Brasil e acompanhou as evoluções

dos meios de comunicação. Criador de mais de 200 per-

sonagens famosos – impossível não lembrar do Profes-

sor Raimundo e a sua Escolinha. Por anos, liderou a au-

diência no comando de programas da “poderosa” Rede

Globo e encara o sucesso como “acidente de percurso”.

Em entrevista ao Universo IPA, ele conta momentos

marcantes da carreira. Lembra, com carinho, os tempos

românticos das décadas de 1950 e 60, fala de projetos

para o futuro e garante que, mesmo “congelado” pela

Rede Globo, não pensa em parar com a comédia. Re-

lembrar a sua trajetória é ter informações suficientes

para contar a história dos meios de comunicação do

Brasil e entender por que o mito do humorismo brasilei-

ro está em plena atividade.

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“O reconhecimento aumenta, no artista,a necessidade defazer a coisa direito”.

Universo IPA - Quais as lembranças da vida em Maranguape, no Ceará, e os contrastes que sentiu com a mudança para o Rio de Janeiro aos oito anos de idade?

Chico - Tudo, para mim, foi imperceptível, pois eu vim para o Rio com oito anos de idade, em 1939. Naquela época, quem tinha menos de 18 anos não sabia de nada.

Universo IPA - Chico é um artista que jogava futebol, ou um jogador que virou artista?

Chico - Sempre fui um artista. Apenas achava que não tinha lugar para mim. Ao apa-recer a chance, eu apareci.

Universo IPA - Futebol sempre foi e é uma das suas paixões. Que benefícios lhe trouxeram os tempos de comentarista? De

que sente mais saudade? Chico - Benefícios, nenhum. Saudade eu

não sinto de nada, porque eu cortei a saudade da minha vida. Se saudade prestasse, existiria em inglês.

Universo IPA - Quais foram os momen-tos mais marcantes de sua atuação profis-sional?

Chico - Todos.

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“Quem trabalha na TV não tem tempo de esperar pela INSPIRAÇÃO”

nhuma culpa na falta de emprego para um mundo de atores. O que falta é um pouco de ousadia por parte das direções. Só querem fazer o que já sabem que dá certo. Então, to-me novela. Mas todos os programas de hu-mor que lançam dão certo. Então...

Universo IPA - Chico Anysio é um artis-ta sem limites. De onde vem tanto interes-se por tantas áreas culturais?

Chico - Porque eu sou um criador. Escrevo todos os dias, mesmo que seja para jogar fora. Se não tiver nada para escrever, pinto um qua-dro e, se não tiver uma tela à mão, faço uma música. O importante é não deixar aquele dia passar sem fazer nada.

Universo IPA - Existe uma receita para criar um bom personagem?

Chico - Que eu saiba, não. Será que existe uma receita para isso?

Universo IPA - Existem diferenças en-tre ser ator e ser comediante?

Chico – Ser comediante é mais difícil.Universo IPA - Com mais 10 mil shows

por todo esse país e fora dele também, quais as diferenças mais notáveis entre o teatro e o humor de televisão?

Chico – No teatro, eu posso ser o mesmo, porque a platéia muda. Na TV, eu tenho de mudar porque a platéia é a mesma.

Universo IPA – Qual a sensação de ser considerado um ícone do humor?

Chico – Quem é ícone? Nunca pensei em ser o melhor, nem nunca fui. Eu sempre quis ser “aquele que faz vários”, e consegui. Eu quis sempre estar na relação dos dez melhores, e acho que eu também consegui.

Universo IPA - Cinqüenta dias em fren-te a máquina de escrever lhe renderam, de cara, três livros. Que espaço o mundo das letras representa na sua carreira?

Chico – Um espaço pequeno porque a

“Nunca pensei em parar com a comédia. A Globo foi quem parou comigo”.

Universo IPA - Como foi trabalhar com Fernanda Montenegro e quais as maiores lembranças que o senhor tem da época em que ela esteve na Rádio Guanabara?

Chico - As melhores. Fernanda sempre foi uma grande fera. É uma amiga que eu carrego no coração.

Universo IPA - Como foi sua transição do rádio para a televisão?

Chico - Foi lógica. Uma coisa estava aca-bando, naquele sistema, e outra começava. Começamos juntos.

Universo IPA - E o sucesso? O que muda com o reconhecimento do público?

Chico - Sucesso é um acidente de percur-so. Eu o recebi com toda humildade, porque sempre soube que ele, do mesmo jeito que vem, vai. No meu caso, até que demorou, por-que, só na Globo, eu fiz Chico Anysio Show (e a mesma coisa com outros títulos) durante 37 anos. Sempre liderando o Ibope e colocado entre os seis mais vistos. O reconhecimento do público aumenta, no artista, a necessidade de fazer a coisa direita.

Universo IPA - Conte um pouco da sua relação com Haroldo Barbosa, nos tempos da rádio Mayrink. Quais as maiores lições que o senhor guarda dessa relação?

Chico - Isso aí é um livro. Não dá para ser contado em uma frase. O Barbosa foi meu mestre, quem me ensinou os caminhos e as veredas do humor.

Universo IPA - Qual foi a maior dificul-dade no início da carreira?

Chico - Fazer com que acreditassem em mim.

Universo IPA - Os artistas daquela épo-ca não se limitavam apenas a interpretar os textos dos programas de rádio. O se-nhor mesmo escrevia, criava e interpreta-va as próprias criações. Todo esse envolvi-mento influi qualidade do trabalho?

Chico - De modo algum. Escrever humor ou é fácil, ou é impossível.

Universo IPA - As novas tecnologias modificaram a essência da TV? O que mu-dou, para os artistas, com esse progresso?

Chico - As novas tecnologias não têm ne-

literatura não é uma fonte de renda, no Brasil, para mais de quatro ou cinco. O bom livro é aquele que fica.

Universo IPA - Para o cinema, sua con-tribuição iniciou na década de 1950, com pouco mais de 20 anos, e escreveu mais de 18 roteiros. Entre eles, o último filme do Oscarito, na Atlântida, “Cacareco vem aí”, e até um filme para Os Trapalhões: “O Can-gaceiro Trapalhão”. O que mudou no cine-ma brasileiro das décadas de 1960 e 70 para os dias atuais?

Chico – O estilo do filme. Os filmes atuais são melhores, mas não são “aquela coisa bra-sileira” que a chanchada era.

Universo IPA - O seu trabalho como ro-teirista de cinema é umas das atividades que lhe agradam. A sua produção ainda é ativa?

Chico – A mais ativa de todas. Escrevo com dois parceiros. Meu parceiro brasileiro é o Elano Paula, meu irmão; meu parceiro ame-ricano é o Mick Hurbischerrier (professor da Screenplay e diretor no Hunter Collega e na New York University). Há roteiros nossos com Sally Fields, a Golden Hawn e com o Michel J. Fox. Há um filme meu (The Friar), passado na Irlanda do Norte, numa vila de pescadores, que está com o Sr. Hugh Hudsin, que dirigiu “Carruagem de Fogo”. Esse filme deve sair com Burt Reynolds no papel principal.

Universo IPA - O senhor planeja voltar para rádio. Como serão os programas?

Chico - Serão dois. A escolinha, às nove da noite, de segunda a sexta, e um programa se-manal de duas horas aos sábados.

Universo IPA - O senhor pretende fir-mar-se como ator de novelas? Quais as perspectivas para novas atuações?

Chico – No momento, estou no elenco de “Pé na Jaca”.

Universo IPA - O senhor realmente não pretende retomar as atividades humorís-ticas? Acredita que a sua missão, nesse campo, foi cumprida?

Chico – Eu fui posto na geladeira pela Re-de Globo. Nunca pensei em parar com a co-média. A Globo foi quem parou comigo.

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Alimentada por muitas lutas, revoluções e derramamentos de sangue, a democracia bra-sileira foi constituída. Entretanto, foi violada, duramente, em dois períodos da história: no Estado Novo, ditadura de Getúlio Vargas, en-tre 1937 e 1945, e a ditadura militar de 1964, que assombrou o país em 21 anos de corrup-ção, censura, torturas e mortes, condenando o povo à alienação e à descrença. “Em 64, a nação recebeu um tiro no peito. Um tiro que matou a alma nacional. Os personagens, que imaginávamos fazer parte da história brasilei-ra (...), de repente, sumiram. Ou fora do poder ou presos ou mortos. Em seu lugar, surgiram outros, que eu nunca sequer percebera existir. Atores bárbaros. Aí me veio a clara percepção de que o Brasil tinha mudado para sempre”, assim depõe o soció-logo Herbert de Souza, o Betinho.

Hoje, 42 anos após o golpe, que deu início aos anos de chumbo, viven-cia-se o completo desrespeito aos di-reitos humanos. “Ora, que tipo de democracia é a exis-tente no Brasil, com um número espantoso de pobres e uma desigual-dade social que nos coloca em segundo lugar em concentração de renda?”, indigna-se o jornalista e doutor em Comunicação Social, professor Osvaldo Biz, em seu livro “Jornalismo Solidário”.

O professor questiona a democracia: “olhando a história do Brasil, descobrimos que, após o fim do Estado Novo, apenas qua-tro Presidentes da República terminaram seus mandatos: Eurico Gaspar Dutra, J.K., Sarney e Lula”. Assim, fica claramente evidenciada a fal-ta de experiência dos cidadãos com o proces-so democrático.

As pessoas foram ensinadas, no decorrer desses anos, que não podem exigir atitudes de seus governantes ou interferir na realidade social fazendo sua parte.

Biz salienta a importância das pessoas se tornarem agentes da história e não objetos dela. Entre as críticas do professor, está o des-compromisso da população com a atividade política: “queremos mudanças e, ao mesmo tempo, elegemos centenas de deputados comprometidos com o latifundiário, privati-zação de empresas estatais. O eleitor tem sua parcela de culpa”. Em contraponto, o profes-sor de história Péricles Humberto Rocha, co-nhecido como Periko, acredita que a juventu-de de hoje é mais engajada nas questões so-ciais do que a juventude de seu tempo: “sinto na geração de hoje que os jovens querem sa-ber mais, aprender para não cometer os mes-mos erros, e sinto, em seus olhares, uma se-

creta admiração pelos que chora-ram, tombaram, sofreram

naquele pesadelo”.*campanhas do governo.

cálice = cale-se

Durante as di-taduras brasileiras, a tortura foi o apa-

rato utilizado pelos governos para sufo-

car revoluções e man-ter a massa passiva. No

livro “Brasil Nunca Mais”, há relatos sobre as várias faces da

tortura. Pau-de-arara, choque elétri-co, afogamento e lesões físicas são alguns dos exemplos utilizados pelos torturadores para coagir os “subversivos”.

Mulheres, gestantes e crianças não foram poupadas pelos porões do Dops. Pelo contrá-rio, eram sequestradas, com freqüência, para obrigar os familiares interrogados a confessa-rem o que, muitas vezes, não tinham cometi-do. Esses métodos foram responsáveis por centenas de abortos e estupros.

“Para as forças repressivas, as razões de Estado predominavam sobre o direito à vida. Muitas mulheres, que, nas prisões brasileiras, tiveram sua sexualidade conspurcada (cor-rompida) e os frutos do ventre arrancados,

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certamente, preferiram calar-se para que a vergonha suportada não caísse em público. Hoje, no anonimato, elas guardam, em sigilo, os vexames e violações sofridas”, relata o au-xiliar administrativo José Ayres Lopes, tortu-rado no Rio de Janeiro em 1972.

Depois das denúncias de tortura e a confir-mação, pelo Exame de Corpo Delito, de que a acusação era legítima, algumas vítimas relata-ram seus casos. O acesso, à pequena parcela de material disponibilizado, torna público casos como o do estudante José Almeida: “tive intro-duzido, em minhas narinas e na boca, uma mangueira com água corrente. Cada vez que eu tomava uma descarga elétrica, era obriga-do a respirar e logo vinha o afogamento”, re-lembra. A cabeleireira Jussara Lins foi subme-tida a torturas com choques, drogas, sevícias sexuais (estupro com objetos pontia-gudos e cortantes, pênis de boi, ácidos e choques nos ór-gãos genitais). Além de exposição a cobras e cães. Durante a pri-meira fase do inter-rogatório, foram colocadas baratas sobre o seu corpo, e uma introduzida em seu ânus”.

Além da tortura, houve, como principal característica, a repres-são a movimentos sociais e perseguição a ativistas: “esses movimentos, mais do que movi-mentos sociais, foram movimentos de resis-tência. A Guerrilha do Araguaia, idealizada e dirigida pelo PC do B (Partido Comunista do Bra-sil), foi a maior guerrilha rural do Brasil. As lutas dos estudantes, dirigidas pela UNE (União Na-cional dos Estudantes), foram extraordinárias, assim como a resistência no meio artístico e cul-tural. Sua importância, além de histórica, é uni-versal, pois representou a luta pela liberdade e pela defesa da democracia”, informa Periko.

Um exemplo, é o caso Chico Mendes co-nhecido por representar a luta dos seringuei-ros em defesa da Floresta Amazônica. Francis-co Alves Mendes Filho denunciou a trama dos grandes fazendeiros. Em 22 de dezembro de 1988, o seringueiro, sindicalista e ativista am-biental foi morto em Xapuri, Acre. Mendes foi assassinado, aos 44 anos, na porta da cozinha

de casa, numa cidade de 5 mil habitantes: “ele vinha com as mãos na cabeça, todo vermelho de sangue”, contou a esposa, Ilzamar Mendes, que ouviu um estouro e correu para o marido. “Quando eu quis pegar no seu braço, ele caiu e ficou se debatendo. Aí vi que estava morren-do”, relata. Além de 18 perfurações no braço, ele fora atingido no peito direito por 42 grãos de chumbo de uma espingarda de caça.

* Chico Buarque de Holanda

resistência e paixão

“Eu me enfurnava em leituras e tentava sa-ber o que estava acontecendo. Ninguém fala-va nada naquela época. Com 16 anos, me aproximei de um grupo de esquerda. Com 17, fui eleito presidente do grêmio estudantil. Fiz

um discurso de posse com a fúria e a valentia da juventude. Na épo-

ca, o que mais havia eram agentes infiltrados nos

meios estudantis. Fui delatado e preso.

Apanhei pra caram-ba e, no fim de al-gumas semanas, fui solto todo que-brado. Depois, en-

trei no Partido Co-munista Brasileiro

(PCB), onde mais pan-cadarias me aguarda-

vam. Mas sempre tive di-vergências políticas dentro

do partido e dos movimentos aca-dêmicos dominados pela imagem de Stalin,

enquanto eu tinha muitas reservas ao velho líder. Com a abertura, continuei no PCB até as eleições presidenciais de 1989, apoiando nos-so candidato Roberto Freire e saí no mesmo dia em que o PCB virou PPS (Partido Popular Socialista). Fui para o PT (Partido dos Trabalha-dores), onde militei politicamente cheio de amor e ideais até 2001, quando o partido anunciou sua aliança política com o PL (Parti-do Liberal). Daí saí do partido e, hoje, não mi-lito em nenhuma agremiação política.

Atualmente, acredito apenas na revolução humana. Acredito que é necessário, antes de qualquer coisa, uma mudança aqui bem per-tinho, no nosso íntimo. Temos de mudar. Não me conformo de ver as pessoas acreditando que política é uma profissão ou que as coisas

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só mudarão com ele no poder. Isso leva ao per-sonalismo, tipo Lula, Fidel, Stalin, que de es-querda e popular, se torna pessoal e perde o viço do ideal, se tornando uma figura opaca do que um dia foi. Acredito na eterna juventude dos sonhos e das utopias. Mas acredito, tam-bém, que ninguém é feliz sozinho. Felicidade é algo coletivo, nunca individual”.

(Péricles Humberto Rocha,

sociólogo e professor de história).

legião dos esquecidos* “O golpe, no Brasil, não foi uma execução de

forças meramente militares contra à nação inde-fesa. Na verdade, ele contou com apoio da clas-se média brasileira. Outra questão importante, para dimensioná-lo no tempo, é recordar que o golpe se insere no contexto da Guerra Fria, ou seja, foi global às ações da repressão vinda de Washing-ton, a partir da vitória da Revolução Cubana em 1959 e de sua opção pelo socialismo a partir de 1962”, de-põe Periko.

O professor Biz comenta que ”a mí-dia tomou posição muito forte contra Jango. O jornal Cor-reio do Povo, por exem-plo, chegou a colocar edi-torias de outros jornais para evidenciar que eles não eram os únicos a apoiar os militares em 1964”.

Em 25 de agosto de 1961, Jânio Quadros, Presidente eleito por voto popular, renunciou ao cargo, acusando forças ocultas: “Hoje, a idéia que temos é de que ele tentou dar um golpe para receber apoio da sociedade e se tornar ditador, ou seja, fechar o Congresso Na-cional e governar sozinho. Essas eram as for-ças ocultas”, revela irônico o professor. Em seu lugar, assumiu Jango.

Goulart pretendia controlar as remessas de dinheiro para o exterior, dar canais de comuni-cação aos estudantes e permitir que os analfabe-tos, maioria da população, pudessem votar. O estopim do golpe militar aconteceu em março de 1964, quando Jango, após um discurso infla-mado no Rio de Janeiro, determinou a reforma agrária e a nacionalização das refinarias de pe-

tróleo. Imediatamente, a elite reagiu: o clero con-servador, a imprensa, o empresariado e a direita em geral organizaram, em São Paulo, a “Marcha da Família Com Deus pela Liberdade”.

* Álbum Gonzaguinha

apesar de você *

No cenário nacional, cinco presidentes mi-litares governaram o país. Como figura deco-rativa, Ranieri Mazzilli, presidente da Câmara, governou o Brasil durante 13 dias.

Em 15 de abril de 1964, o comando do Bra-sil foi assumido pelo chefe do Estado-Maior do Exército, o marechal Humberto de Alencar Castelo Branco. A sucessão do governo caste-lista dividiu os militares, pois, de um lado, en-contram-se aqueles que eram oriundos da Es-

cola Superior de Guerra, os denomina-dos “grupos Sorbone”, e, do ou-

tro, a “linha dura”. Na luta entre os dois grupos, o

último saiu vencedor com o general gaú-

cho Artur da Costa e Silva, que tornou o regime ainda mais autoritário. Costa e Silva faleceu em 17

de dezembro de 1969, vítima de en-

farte. O general Emí-lio Garrastazu Médici

governou até 1974. Do ponto de vista político, foram

os anos mais duros do governo militar. Em seguida, assumiu a presidência o

“General Ernesto Geisel, que teve de enfrentar dificuldades econômicas e políticas, as quais anunciavam o fim do “milagre econômico”. As-sumindo a presidência em 1979, o general João Baptista Figueiredo aprovou a lei da anis-tia. Em novembro de 1983, iníciou o movimen-to pelas “Diretas Já!”, que lutava pela redemo-cratização do País. Em 1985, a ditadura aca-bou, ao menos a explícita, e levou com ela o espírito apaixonado e apaixonante que levou uma geração ao mais delirante sentimento de patriotismo. Hoje, indiferentes ao futuro e à sociedade, os jovens perderam a identidade e marcham cegos pela história. A questão é: até quando? “Arriscando a vida pela política, está-vamos sendo salvos, historicamente, pela éti-ca”, afirma o jornalista Zuenir Ventura.

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Muito se ouviu, nos últimos meses, a respeito das plantações de eucaliptos, produção de celulose e empresas como a Aracruz, embora muitos ainda não tenham uma idéia clara do que está em jogo na fer-renha discussão que se trava quanto à propriedade ou não de se insta-larem empresas desse tipo em solo gaúcho. A discussão opõe uma região pobre, afagada com esperanças de emprego e aquecimento da economia a curto prazo, contra ambientalistas que alertam para riscos devastadores que as florestas de eucaliptos e pinus (plantas exóticas, ou seja, não nativas do solo rio-grandense), espalhadas pelo Rio Grande do Sul (RS), podem causar. Alguns técnicos ambientalistas usam um paradoxo para definir a questão: florestas exóticas em território rio-gran-dense podem se transformar em um “deserto verde”, devido ao alto consumo de água dessas plantas e ao fato de uma floresta desse tipo restringir a possibilidade de desenvolvimento de outras culturas. Numa região constantemente agredida pela seca, outro paradoxo se forma na hipótese do Pampa Gaúcho acabar afogado na celulose. Da guerra de números e declarações alarmantes de parte a parte, fica a dúvida sobre se os ganhos econômicos compensam o impacto ambiental desse cul-

tivo. O Universo IPA procurou as empresas produtoras de celulose, es-pecialistas em meio ambiente e órgãos governamentais responsáveis para esclarecer os fatos e trazer as respostas a público.

Os debates acerca da monocultura de eucaliptos envolvem três em-presas – Aracruz Celulose, Votorantim Celulose e Papel (VCP), e Stora Enzo. A Aracruz plantou 35, 7 mil hectares (ha) em terras próprias, e mais 13,8 mil em parceria com terceiros. A VCP possui 20 mil ha. de plantação. Somadas, as áreas plantadas pelas duas empresas equivalem a 66,018 mil campos de futebol. Cada uma pretende atingir 100 mil ha. de base florestal no Estado. A Stora Enzo ainda não se instalou no RS, mas ma-nifestou interesse em montar uma fábrica com meta florestal idêntica às outras empresas, 20 % em parceria com produtores locais.

A opção pelo eucalipto e pelo pinus está baseada no curto perío-do em que essas árvores ficam prontas para o processo industrial: de sete a oito anos em média. A área escolhida para o cultivo das plantas exóticas é a Metade Sul e abriga o Bioma (conjunto de características ambientais de uma região) Pampa. Conforme o Mapa de Biomas do Brasil, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) e do Mi-nistério do Meio Ambiente, o Pampa possui 176, 496 Km2 de extensão, o que representa 63% do território gaúcho. A região abrange uma cen-

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Divulgação/NAT

De um lado, governo e empresas acenam com fomento da economia e geração de empregos. Do outro, ambientalistas alertam para os impactos ambientais desastrosos que a plantação de espécies exóticas podem causar. Confira a real situação desse impasse entre vantagens econômicas e preservação ambiental.

tena de municípios e é separada do norte do Estado por uma linha imaginária, traçada a partir da BR-290, ao sul de Santa Maria, e estende-se até as fronteiras com Uruguai e Argentina. Com uma economia local é deficitária, os pequenos e médios produtores enxergaram uma alter-nativa de revitalização econômica rápida, na venda e no arrendamen-to de terras para o plantio dos eucaliptos.

O biólogo e professor titular do curso de Pós-Graduação em Biolo-gia Animal da UFRGS, Ludwig Buckup, emitiu, no final de 2005, um parecer técnico que evidencia os impactos ambientais da monocultu-ra de eucaliptos e pinus. O documento mostra que cada eucalipto elimina pela evapotranspiração – perda de água para a atmosfera, cau-sada pela evaporação a partir do solo e pela transpiração das plantas – 36,5 mil litros de água por ano. O parecer mostra que, se as empresas atingirem as metas planejadas, serão 35 milhões de árvores plantadas, com uma evapotranspiração anual de 1,23 quatrilhão de litros de água por ano. O nível normal de precipitação de chuva anual na mesma área é de 1,05 quatrilhão, o que representa um volume 20% menor do que as árvores devem eliminar anualmente, numa região que sofre, cons-tantemente, com danos de estiagem. A proposta se torna ainda mais alarmante com a divulgação da pesquisa do Instituto Nacional de Me-

teorologia (INMET), em 20 de dezembro de 2005, que aponta uma grande redução no nível de chuva acumulada na área das plantações durante o ano passado.

Além do problema da água, Buckup aponta outros impactos como a salinização e a inutilização do solo, e o perigo às espécies ameaçadas de extinção no ecossistema local. Ele mostra que as plantas exóticas absorvem, pelo menos, nove sais minerais do solo (K2O – óxido de potássio, Na2O – óxido de sódio, CaO – óxido de cálcio, MgO – óxido de magnésio, Fe2O3 – trióxido de ferro, P2O5 – pentóxido de fósforo, SO3 – trióxido de enxofre, SiO2 – dióxido de silício e Cl - cloro) e micronu-trientes, que são extraídos com os troncos, sem haver reposição, o que causa a salinização da terra. Além disso, após a colheita, a área fica re-pleta de tocos, que não são removidos devido ao alto custo que o processo exigiria por causa das raízes longas do eucalipto. A decom-posição dos tocos de forma natural, leva de oito a dez anos, durante todo esse período, a área ficará inutilizável para outra cultura.

O Bioma Pampa possui cerca de três mil espécies de plantas, sete gêneros de cactos e bromeliáceas endêmicas, ou seja, que nas-cem exclusivamente nesse ambiente, além de 11 espécies de ma-míferos raros, ou ameaçados de extinção, e 22 espécies de aves na

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mesma situação. Em seu estudo, Buckup mostra que esses perigos são elevados com a monocultura de eucaliptos, pois, além do alto consumo de água, o som-breamento das florestas impede o de-senvolvimento de outras plantas. Outro ponto desfavorável é o alto nível de pro-dução do ferormônio, substância biolo-gicamente ativa, secretada pela planta como mecanismo de defesa contra ou-tras espécies. Isso ocasiona uma mudan-ça radical no habitat dos animais que vi-vem no campo, transtornando inclusive a cadeia alimentar.

Buckup, viajou à Austrália, país de origem do eucalipto, e constatou que lá os problemas ambientais apresentados não ocorrem, porque as paisa-gens possuem, no máximo, cem árvores por hectare. Enquanto que, aqui no Estado, as plantações são feitas com um espaçamento de três metros entre cada árvore, um bloco maciço de 1,6 mil plantas por hectare.

A engenheira agrônoma Carla Villanova Schnadelbach, mestre em Desenvolvimento Rural pela UFRGS e integrante do Núcleo Amigos da Terra (NAT), entidade que há 40 anos desenvolve projetos para susten-tabilidade ambiental, percorreu, com Luciana Picoli, também integrante do NAT, 4 mil quilômetros pelo Pampa gaúcho, para observar a situação do cultivo de eucalipto no RS. Na viagem, Schnadelbach constatou irre-gularidades nas florestas como na localidade de São José dos Ausentes, com plantações na margem de rios, medida que descumpre a lei nº 4.771 de 15 de setembro de 1965, do Código Florestal, a qual determina limites de aproximação às margens, conforme a largura do rio.

Buckup também denuncia outra irregularidade nas plantações: o desrespeito à zona de amortecimento definida pela lei nº 9.985, a qual determina que nenhum plantio pode ocorrer junto à mata nativa do ecossistema local.

Mesmo com todos os impactos ambientais apresentados, a Aracruz Celulose e a VCP conseguiram, junto ao governo, a liberação para as suas plantações, sem a necessidade de estar concluído o Estudo de Im-pacto Ambiental (EIA) das empresas, que deve ser enviado à Fundação Estadual de Proteção Ambiental (FEPAM) para o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA). A licença foi obtida através da assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), no final de maio de 2006. No acordo, firmado com Ministério Público Estadual e FEPAM, as empresas se com-prometem a retirar as árvores plantadas se o estudo da FEPAM apontar qualquer tipo de prejuízo ambiental. “Esse termo é uma licença prévia para estragar a natureza”, classifica Buckup. Dia 20 de dezembro do ano passado, a FEPAM entregou a primeira versão do zoneamento ambien-tal. Conforme o site da fundação, o estudo deverá nortear os licencia-mentos ambientais da silvicultura no Estado, no entanto os resultados obtidos ainda são provisórios e estão em debate com prefeitos de mu-nicípios da região, que temem perder os investimentos das empresas.

Schnadelbach aponta outro fato que chama a atenção: a lei fe-deral nº 6634, de 2 de maio de 1979, determina que a faixa de fron-teira nacional é de 150 quilômetros e que empresas estrangeiras não podem comprar terras nessa faixa. Por isso, a Stora Enzo ainda não confirmou a sua instalação no Estado, pois a lei impede os planos de extensão do futuro plantio da empresa. No entanto, o deputado fe-deral reeleito, Nelson Proença (PPS), apresentou, em abril de 2006, um projeto que pretende reduzir a faixa de fronteira de 150 para 50 quilômetros. O parlamentar argumenta, no texto do projeto, que a legislação atual impede a instalação de empresas que viriam a con-tribuir para o crescimento econômico da região. “Essa medida vai prejudicar a soberania e a segurança nacional, uma vez que altera os limites de fronteira de todo país. Áreas como a Amazônia e o Acre, que sofrem constantes invasões para passagem de contrabando, vão

ficar mais desprotegidas”, sustenta Schna-delbach. O projeto recebeu parecer con-trário do relator da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câma-ra dos Deputados, Francisco de Assis (PFL), no dia 12 de setembro de 2006.

Buckup considera duvidosa a geração de emprego e renda para a Metade Sul proposta pelo governo e empresas: “a maior parte do processo de produção dessas empresas é mecanizado e utiliza pouca mão-de-obra humana, e mais de

95% da celulose fabricada aqui é exportada. Isso configura um pro-cesso de privatização de lucros pela obtenção de celulose e sua ven-da no comércio internacional, deixando para o nosso espaço os cus-tos ambientais”, afirma.

A especialista em Licenciamento e Gestão Ambiental da Unidade Guaíba da Aracruz, Maurem Alves, relata que, além dos estudos para o EIA/RIMA, a empresa já monitora as interações dos plantios com o meio: “além da manutenção e recuperação das áreas de preservação perma-nente e reserva legal, adotamos medidas de conservação do solo, pre-venção de incêndios e treinamento dos trabalhadores para adoção dos cuidados ambientais indicados para cada operação”, explica.

A Companhia de Notícias (CDN), responsável pela assessoria de imprensa da VCP, manteve contato com o UNIVERSO IPA durante uma semana, mas alegou que desta vez não poderia participar da matéria.

Conheça as empresas

A Aracruz é uma das maiores produtoras de celulose no mundo. O Gerente regional Florestal, renato rostilla, informa que, no rS, a empresa é proprietária de, aproximadamente, 75 mil hectares (ha.) de terra. Desses, 35,7 mil são destinados ao plantio de florestas. O restante divide-se em áreas de preservação e infra-estrutura. Além das plantações em terras próprias, a empresa planta em 13,8 mil ha. de flo-resta alheias, obtidas por parcerias com o Programa Produtor Florestal e com a em-presa Boise Cascade. Outra parte dessas terras vem de arrendamentos. rostilla adianta que se pretende alcançar uma base florestal de 100 mil ha. no Estado. Outros 188 mil ha. também estão sob propriedade da Aracruz, distribuídos entre Espírito Santo, Bahia e Minas Gerais. O Gerente Industrial da Unidade Guaíba, Paulo Silveira, responsável pela fabricação de celulose, mostra que a capacidade atual de produção é de 430 mil toneladas por ano, e que a meta a ser atingida é de 1,8 milhões de toneladas anuais.

A VCP é dona de 63 mil ha. de terra no rS, mais 260 mil ha. em São Paulo. Dados do jornal Correio do Povo de 04 de

setembro de 2006 mostram que a empresa havia plantado 20 mil ha. de floresta até o final de 2005. A empresa se estruturou para plantar 17 mil ha. por ano e pretende atingir o total de 100 mil ha. cultivados até 2010.

A Stora Enzo é uma multinacional sueco-finlandesa e uma das líderes mundiais na produção e comercialização de celulose e papel. A empresa tem manifestado interesse em instalar uma fábrica no Estado, com capacidade para produzir 900 mil toneladas de celulose anualmente – a exemplo da Veracel, no sul da Bahia, que foi o primeiro investimento da Stora Enzo no Brasil, em parceira acionária com a Aracruz de 50% para cada uma. A meta prevista para o rS é a plantação de 100 mil ha. de eucalipto e pinus, 20% em parceria com produtores locais.

Aracruz Celulose

Votorantim Celulose e Papel

Stora Enzo

“(...) mais de 95% da celulose fabricada aqui é exportada. Isso configura um processo

de privatização de lucros pela obtenção de celulose e sua

venda no comércio internacional, deixando para o nosso

espaço os custos ambientais”.

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Esperança renovada do

Arroio Dilúvio

STéPhANIE PErrONE

As águas límpidas que, um dia, abasteceram a popula-

ção e serviram de lazer, hoje, são um canal de escoamento de resíduos para o La-

go Guaíba. O arroio, que sempre esteve presente na vida dos porto-alegrenses, cortando a cidade de leste

a oeste, sofre com sérios problemas de poluição. Mas o que vem sendo feito para reverter a situação? Por que é tão importante

recuperar as águas do Dilúvio?“A bacia do Dilúvio, em área, não representa tanto em termos de município,

mas em população, em torno de 500 mil pessoas. Então, imagina tu conseguir recupe-rar isso que, inclusive, é uma das fontes poluidoras do Lago Guaíba. Se a gente conseguir

reverter a questão da poluição, vai ser bom”, diz a arquiteta da Secretaria Municipal do Meio Am-biente (SMAM) e coordenadora do Programa Pró-Dilúvio, Gislaine Lopes Menezes.O Programa Pró-Dilúvio surgiu, em 2005, como uma ação da Prefeitura de Porto Alegre, para integrar as di-

versas secretarias e departamentos que venham a ajudar na melhoria da qualidade das águas do Dilúvio. “Na medida em que a gente vai precisando desse apoio ou de ações que envolvam outras secretarias, a gente vai ampliando. Eles não

participam formalmente da portaria do grupo, mas vão integrar. Pode ser que, no futuro, a gente amplie esse grupo e que eles participem, inclusive, de portaria”, destaca Menezes.

A meta é devolver o Arroio Dilúvio à população. Para tanto, foi realizado um levantamento do que havia sido feito na Bacia do Dilú-vio e de quais eram as carências dessa região, para assim intensificar as ações dentro da Bacia. Um exemplo é o Programa Esgoto Certo, do Departamento Municipal de Água e Esgoto (DMAE), em funcionamento desde 1994. Ele abrange toda a cidade, mas, hoje, prioriza os bairros da Bacia do Dilúvio. Não há um prazo para o resultado final, pois o projeto não está concluído. A previsão é de que, em 2012, o DMAE termine o levantamento de toda a Bacia, no que diz respeito aos esgotos cloacais.

esgoto certo concentra ações na bacia do dilúvioEm 2005, o Esgoto Certo teve as ações ampliadas, com o objetivo de avaliar, encaminhar e realizar ações que aumentem a eficácia e a área de

coleta de esgotos sanitários. Hoje, conta com dez projetos diferentes. O principal deles é o monitoramento das ligações das redes, realizado através do trabalho de campo, que consiste em visitar os prédios da Bacia do Dilúvio para identificar ligações sanitária irregulares. Em cada residência, é feito um teste, com corante de contraste, para verificar o destino do esgoto cloacal e pluvial.

Segundo o coordenador do setor de avaliações do DMAE, Hildo da Rosa Gaspar, a maior dificuldade encontrada pelas equipes é a falta de di-vulgação do programa, pois as equipes precisam entrar nas casas dos usuários para fazer testes. Para o diretor geral da Divisão de Esgotos (DVE), Paulo Menegotto Kessler, “ao detectar e corrigir as ligações de esgoto incorretas, estamos encaminhando os esgotos cloacais para o seu destino adequado, que é a Ponta da Cadeia, aumentando o volume de esgotos a ser tratado, retirando esgotos, reduzindo a poluição do Arroio Dilúvio e melhorando o meio ambiente”.

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acúmulo de lixo, nas águas do arroio dilúvio, é motivo de preocupação

Hildo da Rosa G

aspar/arquivo DVE

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negociações retomadas

O Projeto Integrado Socioambiental (PI-SA) vem para corrigir uma deficiência da ca-pital gaúcha na parte dos esgotos cloacais, que hoje são jogados in natura no Guaíba. Isso polui o lago e, nos verões, propicia o surgi-mento de algas, que provocam cheiro e gosto desagradável na água: “o programa busca ele-var a capacidade de tratamentos de esgotos cloacais de Porto Alegre. Hoje, as estações de tratamentos de esgotos (ETEs) têm a capaci-dade de tratar até 27% do esgoto coletado. Na verdade, trata-se só 20%. Com o Socioam-biental, a capacidade de tratamento de esgo-to coletado vai para 77%. Isso vai trazer mu-danças bastante positivas no que diz respeito aos impactos ambientais no Lago Guaíba, po-dendo, a longo prazo, devolver a balneabili-dade do lago”, diz o diretor geral do DMAE, Flávio Presser.

O projeto será viabilizado através de fi-nanciamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e contrapartida do DMAE, totalizando um investimento de US$ 160 milhões. As negociações com o BID esta-vam paradas, desde 2002, pelo fato de a Pre-feitura apresentar sucessivo déficit financeiro,

o que impede a tomada de empréstimos ex-ternos por parte do município. A expectativa é de que, em julho, o contrato seja assinado.

O foco principal do programa é levar o esgoto coletado na Bacia do Dilúvio, que é lançado in natura na Ponta da Cadeia, sem ne-nhum tipo de tratamento, para a futura ETE do bairro Serralhia. Segundo Presser, “faltam algumas obras complementares ao arroio, porque é preciso retirar todo o esgoto. Os ar-roios são para receber só águas das chuvas. Eles não são para receber esgotos. Para isso, precisa ainda completar o interceptor do Ar-roio Dilúvio”. Atualmente, o Arroio Dilúvio tem 17 Km e corta a cidade de leste a oeste, de

Viamão até o Lago Guaíba. “Existem 12 Km de interceptor, uma canalização para onde o es-goto chega sem que seja lançado nas águas do arroio, que vai recolhendo o esgoto e vai jogando lá na Ponta da Cadeia”, diz Presser.

As obras do PISA estão previstas para ini-ciar em abril de 2007. O primeiro passo é a implantação da rede coletora de esgotos dos bairros Restinga e Ponta Grossa. O esgoto des-sas regiões será tratado na Estação de Ipane-ma, que está em funcionamento. Futuramen-te, com a construção da estação de tratamen-to da Serralhia, ele passará a ser tratado ali. Em julho, começará a implantação da rede cole-tora de esgoto da Cavalhada.

porto alegre, cidade cosmopolita, capi-tal dos gaúchos. Quinta-feira, ao entardecer, a principal cidade do rio grande do sul se prepara para ver mais um fenômeno da na-tureza: o famoso pôr-do-sol no lago guaíba. turistas e moradores da cidade se deslocam em direção à orla. mas, ao chegar, além de um belo pôr-do-sol, a população também avista uma série de problemas: faltam assen-tos, a margem está suja e a insegurança pre-domina. de possível ponto turístico, a orla do guaíba se transformou, em algumas partes, em abrigo para mendigos e desabrigados.

o estudante de direito, daniel luft, assí-duo freqüentador da orla, mostra-se entris-tecido: “a gente vem mesmo pelo contato com a natureza, com o sol. mas não tem co-mo não sair irritado com a sujeira que fica no chão. fico chateado de ver nossa ‘casa’ assim”. para o vendedor ambulante, tom mo-raes, o problema, realmente, é a inseguran-ça: “parece que o pessoal da brigada militar só quer saber de passear por aqui”, critica.

com 75 km de extensão, a orla do guaí-ba é considerada, pela prefeitura municipal, um dos principais pontos turísticos da cida-de. a fim de revitalizá-la, a secretaria muni-

cipal do meio ambiente lançou o projeto guaíba vive. ele tem como objetivo qualifi-car e consagrar, ao longo da orla de porto alegre, um grande parque linear, da usina do gasômetro à reserva biológica do lami, José lutzenberguer. em sua página na inter-net, a assessoria de imprensa da secretaria afirma que “a reurbanização da orla, com-preendendo projetos no lami, belém novo, ipanema, ponta grossa, guarujá e cristal, através da qualificação da área com instala-ção de vestiários, quiosques com churras-queiras, higienização das áreas de praias, permitindo sua utilização em atividades de lazer e recreação”, é um dos principais obje-tivos do guaíba vive. o coordenador do pro-jeto, o biólogo rodrigo da cunha, vai ainda mais longe: “esse programa também traba-lha em outros aspectos como, por exemplo, o controle de invasões na orla. além disso, estão sendo feitas parcerias público/priva-das como as recuperações do anfiteatro pôr-do-sol e da ciclovia, que vai da usina do gasômetro até o sport club internacional”. segundo o biólogo, a escassez de recursos também se torna um empecilho: “devido à atual situação financeira da prefeitura, o pro-jeto guaíba vive tem trabalhado com pou-cos recursos. estamos iniciando um traba-

lho nas nascentes do arroio dilúvio, no par-que saint´hilaire, com financiamento do fundo nacional do meio ambiente, para a recuperação e educação ambiental, para a população entorno do parque”.

para a estudante paola astudilla, mora-dora do bairro belém novo, o projeto guaí-ba vive não apresentou nenhuma solução ou está estagnado. “a gente tem, aqui em belém novo a praia do leblon, um lugar lin-do para passear! mas, quando a gente che-ga, vê lixo, obras inacabadas ou a ‘casinha do salva-vidas’ está sempre vazia. sem contar a iluminação, que é precária. Quando o sol baixa, o perigo toma conta. parece que o projeto está apenas no papel”, reclama. lu-ciano da luz, residente do bairro guarujá, discorda: “aqui a orla foi revitalizada. as pis-tas de skate e os campinhos de futebol es-tão bem conservados. tudo muito atraente para um chimarrão de fim de tarde!”. para bruno coronel, do bairro centro, o proble-ma não está apenas nas autoridades: “toda vez que vou lá, me certifico de que tudo que sujei, eu vou limpar. sempre levo uma saco-la plástica para utilizar como lixo. acho que todo mundo tem de fazer a sua parte, tanto cidadão quanto prefeitura tem o dever de dar mais valor à nossa orla!”.

Os rumos do pôr-do-sol

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MAUríCIO lEVy

Foto: Carlos Tiburski

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De um lado, a água, mineral líquido essen-cial à vida no planeta e, do outro, o petróleo, substância importante para a atividade eco-nômica. Qual deles vale mais? Para o desen-volvimento social, os dois. O preocupante é que a utilização desses recursos está visando cada vez mais a suprir interesses ao invés de atender às necessidades da população. O pe-tróleo é um recurso finito, que pode ser subs-tituído por outros combustíveis. Mas a falta de água limita a vida. O curioso é que a água, indiscutivelmente mais importante para a vi-da do que o petróleo, recebe um tratamento político, econômico e administrativo muito inferior ao conjunto de normas que geren-ciam o petróleo.

No Brasil, assim como a água, o petróleo é um bem público. Mas não é usado ‘in natu-ra’. Ele é explorado e industrializado. Existe uma cadeia produtiva e um setor econômico industrial por trás dele, que movimenta bi-lhões de dólares: “uma sociedade, hoje, não vive sem o petróleo. Mas, se ele acabar, com certeza encontrarão outras alternativas. A questão do petróleo, hoje, é muito mais polí-tica do que técnica. Todos os conflitos que existem, as disputas internacionais por conta do petróleo são mais uma decisão política e de interesses econômicos”, explica o geólogo e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Antônio Pedro Viero.

A água está tão presente no dia-a-dia, quando são abertas as torneiras, nos rios, na chuva, que ainda não se notou a importância

desse recurso. O mau uso, a poluição e o des-perdício estão fazendo dela um recurso mais valioso do que o petróleo, porque a água está se tornando cada vez mais insuficiente. Se-gundo Viero, ela é um recurso natural que se renova e, em termos globais, nunca vai aca-bar. O que pode acontecer e o que está acon-tecendo é a extinção da água de qualidade: “o problema maior dos recursos hídricos é a de-gradação da qualidade, muito mais do que a exaustão da quantidade”, diz o geólogo.

abundância

No Brasil, apesar da abundância de água doce, ainda existem regiões, como o Nordes-te, que sofrem com a falta e pouca qualidade desse líquido. O que acontece é que, enquan-to uns esbanjam, outros precisam limitar o consumo de água. De acordo com a Organi-zação das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), uma pessoa ne-cessita de, no mínimo, 50 litros de água limpa por dia para sobreviver. Estimativas avaliam que se perdem de 40% a 60% de toda a água tratada por mau uso e desvio. Apenas cerca de 5% da água potável é realmente utilizada para beber e preparar alimentos. Mais da me-tade é jogada fora através dos ralos, chuveiros, vasos sanitários, calçadas e torneiras.

O Brasil é auto-suficiente na produção de petróleo desde 2005, mas novas alternativas de combustíveis vêm sendo estudadas, como o hidrogênio, o biodiesel e o álcool. “O petró-leo é um bem não-renovável e, daqui a 40 ou 50 anos, ele vai acabar”, afirma o professor da

UFRGS, Ph.D. em Geologia Sedimentar, Mi-chael Holz. A política do petróleo domina o mercado mundial. Para Holz, o mundo, hoje, não funciona sem petróleo, pois ele está nas roupas, nas tintas das canetas, nos combustí-veis. Mas como seres morais e éticos, deve-se considerar a água como o bem físico de maior valor. “O mundo se fez sem petróleo. Seria possível sobreviver sem ele. A água é essen-cial”, constata Holz.

Para muitos pesquisadores, a água será o novo petróleo do século 21. Acredita-se que, daqui a algumas décadas, as nações não vão brigar por petróleo, mas sim pelo líquido doce que restar no planeta. No Oriente Médio, exis-tem casos de tensões geoplíticas geradas por conta da disputa pelo domínio e utilização de fontes de água. Mas, para Viero, a questão da água não terá uma abrangência universal co-mo o petróleo. As disputas serão regionaliza-das e os conflitos acontecerão onde existe falta de água.

O fato de o Brasil concentrar em seu ter-ritório uma das maiores reservas de água do-ce do mundo não deve ser motivo para des-preocupação: “o maior problema da água está na qualidade, na falta de saneamento. A po-pulação precisa se mobilizar e cobrar iniciati-vas do governo”, diz o engenheiro agrônomo e consultor técnico da Federação da Agricul-tura no Rio Grande do Sul (Farsul), Ivo Lessa Silveira Filho. A questão da importância da água deve estar presente no cotidiano de ca-da um. Diminuir o desperdício de água trata-da é o primeiro passo. Tanto a água como o petróleo são de extrema importância.

Água ou petróleo?

a água existente em paísescomo o brasil pode ser, num

futuro próximo, motivo de disputaseconômicas como hoje é o petróleo

recurso não-renovável no meioambiente, o petróleo serásubstituído, em algumas décadas,por outras fontes de energia

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DAIANE PAJArES

fotos: daiane pajares

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Desde 1997, a venda de algumas espécies SILVESTRES é permitida no Brasil. A lei tinha como intenção diminuir o TRÁFICO de animais, mas, na prática, a realidade é outra: a maioria das PESSOAS não está disposta a arcar com o custo de um ANIMAL de origem legal

Mascotessilvestres

“É uma questão cultural. As pes-soas ainda são muito egoístas e que-

rem os animais cantando dentro de suas casas, ao alcance de suas vistas. Não se

propõem a observar as aves soltas na natu-reza, não se dispõem a dar um passo em di-

reção a um parque, para ver animais livres, se alimentando, fazendo seus ninhos, criando seus filhotes.“ Essa foi a resposta da Bióloga e Analista Ambiental do Núcleo de Fauna do Ibama/RS, Cibele Indrusiak, quando questio-nada sobre o motivo pelo qual tantas pessoas se interessam em prender e criar aves silves-tres como animal de estimação. Desde 1997, é possível a venda desses animais no Brasil. Mas somente os criadouros registrados pelo Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) têm o direito de comercializar essas espécies.

A regulamentação da venda dos animais tem como objetivo diminuir a pressão de ca-ça/captura sobre as populações naturais e coibir o tráfico de animais. Mas, na prática, a realidade é outra. “A possibilidade de comprar animais silvestres legalizados, infelizmente, não atrai a maioria das pessoas, que não está disposta a arcar com o custo de um animal de origem legal “, explica Indrusiak.

O proprietário de uma loja especializada em aves exóticas e silvestres, Alexandre Scot-ta, explica que as aves mais procuradas e ven-didas são as da espécie dos psitacídeos - pa-pagaios e araras. Segundo Scotta, as pessoas preferem essas aves por terem a possibilidade de criá-las fora das gaiolas, podendo ter um contato maior com o animal. A loja possui cer-

ca de 20 espécies e os preços podem atingir R$ 6 mil. Scotta diz que as aves são preparadas, para o convívio com seres humanos, desde que nascem. São alimentadas por seus trata-dores, longe do convívio da mãe. Na hora da venda, a loja faz recomendações quanto à ali-mentação correta e ao tamanho ideal das gaiolas. Os comerciantes apresentam ao Iba-ma, semestralmente, uma relação com a pro-cedência do animal e o nome do comprador. Os dados são para possíveis fiscalizações.

A moradora de Gravataí, Carla Rodenbus-ch, 28 anos, possui um casal de papagaios: a Lara e o Loro. Ela se diz favorável à criação de aves, em cativeiro, desde que sejam bem cui-dadas, tenham algum tipo de liberdade, e que sejam adquiridas em um criatório legalizado. “Sou contra o comércio ilegal de animais por-que muitos acabam morrendo para que um seja vendido”, confessa. Para ela, quem resolve adquirir uma ave deve ter consciência de que ela, como qualquer outro animal de estima-ção, gosta de muita companhia.

Devido à imensa biodiversidade da fauna silvestre, o Brasil tornou-se alvo do interesse de traficantes. Conforme dados da Rede Na-cional contra o Tráfico de Animais Silvestres (Renctas), o comércio ilegal de animais é a ter-ceira maior atividade ilícita do mundo, per-dendo apenas para o tráfico de drogas e de armas. Além disso, 70% desse comércio é só para consumo interno. Ilude-se quem pensa que o tráfico de animais, no Brasil, é feito por capturadores e clientes estrangeiros. Há mais dados que chamam a atenção: de cada dez animais traficados, nove morrem antes de chegar ao destino final. O Brasil ocupa o se-gundo lugar em número de espécies de aves

ameaçadas de extinção.No ano passado, o Ibama, com apoio da

Brigada Militar e da Polícia Federal, apreendeu cerca de sete mil espécies silvestres adquiridas e mantidas ilegalmente no Estado. A captura, compra ou venda de animal silvestre com ori-gem ilegal é crime. As multas variam de R$ 500 a R$ 8 mil, ou prisão. Semanalmente, a polícia, as prefeituras e o próprio Instituto do Meio Ambiente recebem denúncias de maus tratos. A bióloga explica que os animais são mantidos em condições péssimas: “a crueldade e a igno-rância são as companhias mais freqüentes da criação de animais”. Após a apreensão, os ani-mais passam por uma triagem. Depois, são encaminhados a criadouros conservacionis-tas, que funcionam como abrigos. Mas ocor-rem casos em que os animais são devolvidos aos infratores por meio de ordens judiciais, causando revolta por parte de setores que se preocupam com a fauna brasileira. “Há um mi-to infundado de que o animal apreendido morre de saudade da família. Bobagem. Nossa experiência comprova o contrário: os animais melhoram em todos os sentidos. Após serem encaminhados aos criadouros parceiros, rece-bem alimentação balanceada, atendimento

A captura, compra ouvenda de animal silvestre

com origem ilegal é crime.A punição é multa

que varia de R$ 500 aR$ 8 mil e até prisão.

ElIANE COSTA

Eliane Costa

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O que você faz com a garrafa pet usada e descartável, com o papel, o plástico e o vidro que você usa e não serve mais para nada? Vai para onde quase tudo termina: na lata de lixo. O que para muitas pessoas parece ser o fim se torna o começo para outras.

É o caso dos moradores da Vila Pinto, comunidade conhecida pelo elevado nível de pobreza e violência em Porto Alegre. Desde 1995, funciona, na Vila, um centro de triagem de lixo que está mudando os contornos da vida social dos moradores.

O Centro de Educação Ambiental (CEA) veio com o intuito de ajudar as mulheres que moravam na Vila. A idéia foi da líder comunitária Marli Medeiros, mentora e presidente do CEA, que estava cansada de ver tanta injustiça social, especialmente, contra as mulheres da vila. Segundo a coordenadora do centro, Ana Cristina de Lima, “o projeto não foi planejado por técnicos. Foi pensado única e exclusivamente por pessoas da comunidade, cerca de dez anos atrás”.

Com a separação do lixo reciclável, as mulheres, que, num primeiro momento rejeitaram a idéia por conta da discriminação que sentiam por morar na Vila e por trabalhar com o lixo, passaram a ter uma fonte de renda. Asfalto, luz, água, rede de esgoto, linha de ônibus, tudo o que existe hoje, no local, não existia. Foi conquistado graças ao esforço de Medeiros.

Hoje, o CEA, além de ser um grande aliado das famílias contra a pobreza, é também um grande aliado contra a violência. Com a implantação do Centro Cultural James Kulisz no local, as crianças passaram a ter um lugar para lazer e recreação. “A cultura mudou o com-portamento das crianças”, manifesta Lima com alegria. O Centro Cultural, inaugurado em 2002, possui sala de informática, sala de cinema, biblioteca, aula de teatro, dança, percussão e canto, além de uma escolinha de futebol, de costura e de cursos profissionalizantes.

O CEA conta com a colaboração única e exclusiva de parceiros voluntários, que dedicam parte do tempo ensinando as crianças, dando apoio às famílias da Vila ou ajudando a man-ter a estrutura. Atualmente, conta apenas com repasse da Secretaria Municipal de Direitos Humanos. Em outubro deste ano, o CEA foi vencedor do “Prêmio Atitude Social”, promovido pela Rádio Farroupilha e Diário Gaúcho na categoria “Destaque Ambiental”.

Oportunidade: essa é a palavra chave para o CEA, segundo Lima. Porque é através do CEA que muitas pessoas, hoje moradoras da Vila, têm oportunidade de lazer, esporte e cultura. Muitas pessoas estão deixando de se sentirem discriminadas e estão se sentindo cada vez mais incluídas na sociedade. Por isso, é apostando na mudança de atitude que todos podem fazer sua parte. Ao invés de ir para a lata de lixo, a garrafa pet, o vidro, o papel e plásticos podem se tornar importantes meios de inclusão social, abrindo oportunidades para construir uma sociedade mais justa.

Esperançaque vem do lixo

Bettina Schünke

mulheres da vila pinto buscam no lixo condições de inclusão social e melhor qualidade de vida

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veterinário e convivem com outros da sua es-pécie”, explica Indrusiak.

A bióloga conta que muitas pessoas se arrependem e levam animais até o Ibama pa-ra que sejam reabilitados e soltos no seu ha-bitat. No entanto, animais criados em cativei-ro não podem ser soltos na natureza, porque não conseguiriam sobreviver. A possibilidade legal de criar animais silvestres em residências existe, mas é uma decisão que deve ser muito bem pensada. Isso requer tempo, dedicação e boas condições financeiras. Para Indrusiak, a população brasileira deve repensar a situação: “nossa sociedade já conseguiu fazer discus-são séria e proibiu a farra do boi e a briga do galo, ambas atividades tidas como culturais. Quem sabe, no futuro, irão optar pela proibi-ção de venda de animais silvestres?”.

Saiba o que sãoAnimAis silvestres

São os pertencentes às espé-cies nativas, migratórias e quais-quer outras, aquáticas ou terres-tres, que tenham sua vida, ou parte dela, ocorrendo natural-

mente dentro do Território Brasileiro e suas águas juridicionais. Exemplos: mico, onça, papagaio, arara, canário-da-terra, tico-tico, teiú, jibóia, jacaré, jabu-ti, tartaruga-da-amazônia. O acesso, uso e comércio de animais silvestres é controlado pelo Ibama.

AnimAis exóticosSão aqueles cuja distribui-

ção geográfica não inclui o Terri-tório Brasileiro. As espécies ou subespécies introduzidas pelo homem, em estado selvagem, ou

domesticadas são consideradas exóticas. Também são as que tenham sido introduzidas fora das fron-teiras brasileiras e suas águas juridicionais, ou as que entraram, espontaneamente, em Território Brasileiro. Exemplos: leão, zebra, elefante, urso, lebre-européia, javali, crocodilo-do-nilo, naja, pi-ton, tartatuga-japonesa, tartaruga-mordedora, tartaruga-tigre-d’água, cacatua, arara-da-pata-gônia, entre outros.

AnimAis DomésticosSão os animais que, através

de processos tradicionais e siste-matizados de manejo e melhora-mento zootécnico, tornaram-se domésticos, possuindo caracterís-

ticas biológicas e comportamentais dependentes do homem. Podem, inclusive, apresentar aparên-cia diferente da espécie silvestre que os originou.

Exemplos: gato, cachorro, galinha, pato, mar-reco, peru, avestruz, entre outros.

Fonte: http://www.ibama.gov.br/fauna/

BETTINA SChüNkE

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Há alguns anos, construir materiais, áto-mo a átomo, era algo tão distante e inacredi-tável quanto construir um castelo de areia grão a grão. Hoje, graças à nanotecnologia – ciência que estuda a manipulação de partícu-las equivalentes à bilionésima parte do metro – cresce o número de produtos desenvolvi-dos para suprir, com eficácia, as necessidades cotidianas.

A palavra “nano” tem origem grega, e sig-nifica “anão”. Podemos considerar que algo é nano quando uma de suas propriedades se altera em função do tamanho. A Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) é uma das líderes em pesquisa nessa área, com gran-de volume de trabalhos publicados e, inclusi-ve, com depósito de patentes.

O professor do Instituto de Física da UFR-GS, Mário Baibich, desenvolveu, a partir da nanotecnologia, com colaboração da França, o Magneto-Resistência Gigante, trabalho pre-sente em todos os discos rígidos de compu-tadores com capacidade de 20 gigabyte.

Segundo Baibich, a partir do controle do tamanho e da forma das nanoestruturas, é

possível aprimorar as propriedades dos mate-riais, construindo dispositivos com caracterís-ticas especiais, selecionadas a partir da neces-sidade das aplicações.

Devido à imensa aplicabilidade dessa nova tecnologia, praticamente todos os seg-mentos produtivos estão incorporando so-luções nanotecnológicas. Prova disso foi o resultado da Carta Convite do programa de Ações Transversais, publicado no site da Fi-nanciadora de Estudos e Projetos (FINEP), onde empresas como Aracruz Celulose, Bün-ge Alimentos, Copesul, Gerdau e Sadia ma-nifestaram interesse em participar como co-financiadoras no apoio à cooperação entre o setor produtivo e Instituições Científicas Tecnológicas.

No Brasil, as pesquisas em nanociência foram iniciadas de forma independente. Po-rém, hoje, a exemplo do que acontecia em países desenvolvidos, o governo brasileiro destina recursos especificamente à pesquisa nanotecnológica. Empresas privadas tam-bém participam dos projetos com subsídios, como parceiras.

AlINE MArQUES

roupas que não mancham. vidros auto-limpantes. carros com pintura anti-arranhão.curativo para câncer. batom que reflete luz. isso lhe parece o futuro? pois, então, o futuro chegou

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Fotos: Rogério Soares

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Devido à APLICABILIDADE, estima-se que todos os SEGMENTOSprodutivos incorporarão soluções NANOTECNOLóGICAS

pioneirismo na ufrgs

Na UFRGS, várias áreas de estudo traba-lham com pesquisas em nanotecnologia. Vi-sando a organização dessas áreas em torno da nanociência e da nanotecnologia, um grupo de professores se reuniu, em 2004, para a cria-ção de um Centro de Estudos.

Em junho deste ano, o Conselho Univer-sitário da Instituição aprovou, por mérito, a iniciativa do Centro e, desde então, a profes-sora do Instituto de Química, Adriana Pohl-mann, foi nomeada coordenadora de implan-tação do Centro.

Recentemente, o regimento do Centro foi concluído, e logo deve ser aprovado pela Rei-toria. O país ganhará seu primeiro Centro de Nanociência e Nanotecnologia, como orga-nismo de uma Universidade. Será um Centro de Estudos Interdisciplinares, conforme prevê o Estatuto da UFRGS.

Conforme Pohlmann, a expectativa é de

que, em seu início, o Centro conte com mais de cem credenciados - pesquisadores com tra-balhos publicados ou patenteados ou, ainda, coordenadores de projeto de pesquisa finan-ciados por Agências de Fomento. Um dos prin-cipais objetivos será facilitar o acesso ao incen-tivo à pesquisa na área de nanotecnologia.

mercado promissor

Segundo a National Science Foundation (NSF) dos EUA, em 2015, o mercado global de produtos ligados à nanotecnologia será de US$ 1 trilhão. Pohlmann concorda com essa tendência. Ela diz que o desenvolvimento es-tá acontecendo de forma acelerada. O perío-do entre a concepção do projeto e o produto final é cada vez menor. Em razão disso, o seu pensamento é otimista. “Daqui a cinco anos, as pessoas saberão exatamente que, no cre-me anti-rugas que elas usam e até no avião em que elas viajam, há nanopartículas. De fa-

to, haverá diferentes respostas em cada setor econômico. Mas o que se visa é desenvolver produtos com uma performance cada vez melhor, atendendo cada um dos nichos de mercado que já existem. A estratégia é pensar em quem consome”, explica.

Porém, alguns estudiosos alertam para os danos que a nanotecnologia pode causar. Se os custos de produção de armas e aparelhos de espionagem tiverem uma redução signifi-cativa, poderão ser fabricados produtos me-nores, potentes e numerosos.

Com relação a essas especulações de que a nanotecnologia poderá ser a causa de uma nova corrida ao armamento entre países con-correntes, Pohlmann é categórica: “há liberda-de para que qualquer pessoa diga o que qui-ser, mas deve haver consciência coletiva para que se faça bom uso tanto da nano, quanto de qualquer outra tecnologia.”

Em diversas áreas, “a ciência do século 21” vem gerando benefícios significativos, que vão além do mundo industrial. Na área da saúde, por exemplo, a nanotecnologia está contri-buindo para o aumento da expectativa de vida e o aumento da capacidade humana. Nas áreas da água e agricultura, está sendo usada para gerar sustentabilidade. Além disso, vem colabo-rando para o desenvolvimento de sistemas de iluminação de baixo consumo energético.

Antigamente, o laser, que existia nas his-tórias em quadrinhos, era algo inimaginável na vida real. Era pura ficção científica. Hoje, é utilizado para inúmeras finalidades. Desde de-pilação até cirurgias. Da mesma forma, em 1970, nem a mais otimista previsão poderia afirmar que a arpanet se tornaria a internet - essa rede mundial tão avassaladora e indis-pensável na vida moderna.

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Melhores amigosem todos os momentos

Quem gosta de animais sabe da alegria que eles podem proporcionar. O que muita gente não sabe é que eles podem ajudar em tratamentos de saúde. A Zooterapia ou Terapia Assistida por Animais (TAA) é anti-ga. Segundo a Presidente da ONG Zootera-pia, Marisa Martinez Pereira, a utilização de animais, em tratamentos terapêuticos, vem desde o final do século 18, na Inglaterra. O médico neurologista, neurocirurgião, mes-tre em educação, coronel cavaleiro e fun-dador da Associação Gaúcha de Equotera-pia (AGE), José Torquato Severo, garante que a procura aumentou, gradativamente, desde que começou de seu trabalho em 1995. No Brasil, as terapias auxiliadas por animais mais utiliza-das são a equo-

terapia, feita com cavalos, e a cinoterapia, que utiliza os cães. Existem tratamentos que usam burros (assinoterapia), peixes, pássaros, gatos e coelhos.

“Na TAA, os animais atuam como co-tera-peutas ou motivadores terapêuticos na reabi-litação dos pacientes”, explica a psicóloga e

fundadora do Projeto Cão Amigo e Cia, em Curitiba (PR), Manuella Balliana Maciel.

cinoterapiaTrata-se de uma técnica que utili-

za cães como co-terapeutas. De acordo com a psicóloga especialis-ta em cinoterapia, Samira Rocha, em entrevista ao site www.acessa.

com, a prática da cinoterapia é indi-cada para o tratamento de crianças e

adolescentes com dificuldades de comunica-ção e sociabilização, assim como o autismo ou agressividade. “O cão é uma ponte entre o paciente e o terapeuta. Durante a interação com o animal, são quebradas barreiras”, ga-rante Rocha.

equoterapia

A terapia, que utiliza o cavalo como mo-tivador terapêutico, vem ganhando espaço em todas as cidades do país. Dr. Severo lem-bra que há novos programas que são acon-selhados pela Associação Nacional de Equo-terapia (ANDE). Ele junto com a AGE, criou uma parceria com a Prefeitura Municipal de Porto Alegre que atende cerca de 30 crian-ças e adolescentes com problemas de aprendizagem. Na área da saúde, os proble-mas mais encontrados são crianças, adultos ou idosos com debilidade mental, síndrome de down, comportamentos autistas, esqui-zofrenia, e depressão.

A advogada, Jaqueline Souza Lopes, que é portadora de seqüelas de paralisia cerebral, os resultados superaram as suas expectativas. “No início não acreditava muito, mas comecei a ter uma visão diferente do mundo, percebi que posso contribuir com algo de bom para a sociedade, passei a ter mais confiança em mim mesma”, confessa a praticante.

Bastante utilizada nos EUA e

com efeitos comprovados,

a zooterapia começou a

ser estudada por médicos

e pesquisadores. A terapia, que

conta com a ajuda de animais,

não tem a capacidade de curar

uma doença, mas seus efeitos

colaboram, significativamente,

na melhora dos pacientes:

“o doente acaba esquecendo

um pouco dos problemas

e desvia a atenção para

os animais”, esclarece

a docente em Medicina

Veterinária, Denise Schartz.

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idosos com depressão são os maiores beneficiados na cinoterapia

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co-terapeutasda taa, os cães dóceis

ajudam no tratamento

Claudia Jobim

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Nos calendários, o verão começa em 21 de dezembro. Porém, para muitos, antes des-sa data, a estação chega antes. Com as altas temperaturas dos meses de outubro e no-vembro, é possível ver as roupas diminuírem de tamanho, academias ficarem lotadas e, é claro, corpos bonitos. São braços, pernas, bar-rigas e costas à mostra, desfilando pelas ruas. Também se observam estrelas, dragões, fadas, golfinhos, tribais, rosas, índias e um infinito de tatuagens que, no verão, aparecem, forman-do, na pele, um atrativo para os olhares de quem passa.

Na estação do sol, do calor, da praia e das férias, os estúdios de tatuagem ganham clien-tes. Quem garante isso é o tatuador, Ucari Fe-ck Braga Júnior, 22 anos, há quatro nesse ra-mo. De dezembro a março, ele mantém estú-dio na praia, em Torres, de terça-feira a domin-go. Nas segundas, volta para Porto Alegre para tatuar. Júnior acredita que o aumento pela procura de tatuagens se deve à exposi-ção do corpo. “O que empolga o pessoal a fazer é olhar o outro tatuado e querer ter tam-bém”, diz.

Quem concorda com Júnior é outro tatu-ador, Geraldo Lemos Fávero, 44, na área há cinco anos. Segundo Fávero, a procura nos meses de verão chega a crescer 60% em rela-ção ao inverno. Com estúdio em Porto Alegre, ele pensa na possibilidade de trabalhar na praia, no verão. “Neste ano, pensei em ir pra praia. Afinal, o pessoal está todo lá”, explica.

Outra curiosidade so-bre o universo das tatua-gens é a fidelidade dos clientes com os tatuadores. Júnior tem clientes que voltam todo o mês para se tatuar. Para Fávero, a di-vulgação do “boca-a-boca” é a melhor maneira de ter novos clientes. “A clien-tela das tatuagens é fiel. É raro vir alguém que não conhece o tatuador. Sempre é por indicação”, acredita.

tatuados sim!Sem saber a quantidade certa de tatua-

gens que tem no corpo, Karen Isabel de Sou-za Cabral diz: “acho que tem umas dez”. Em 2005, ela começou a tatuar seu corpo. Após fazer as tatuagens, começou a se interessar e tatuar também. Formou-se como body pier-cing. Ela acredita que a procura por piercing e tatuagens, no verão, é pela estética.

Jaqueline Silva Requer, 25, tem tatuagens há seis anos e justifica que a tatuagem é uma extensão da personalidade. Requer comenta que preferia quando era um pessoal mais al-ternativo que tinha tatuagem. “Hoje, virou moda. As pessoas tatuam o que está na mo-da”, acredita. Com quatro tatuagens, ela conta que elas têm importantes significados em sua vida e que pretende fazer mais. “Tatuagem é uma coisa que vicia”, afirma.

O estudante Pedro Henrique Ribeiro Gon-çalves, 20, fez a primeira e única tatuagem, há dois anos, no braço por não querer um lugar muito exposto. Gonçalves escreveu o nome de seu irmão falecido em letra japonesa. “Co-loquei o nome dele para fazer uma homena-gem”, explica. Ele a fez no verão e admite que a estação o influenciou um pouco.

A professora Paula Ferreira Santana, 24, fez sua primeira tatuagem há quatro anos. Hoje tem quatro. Uma delas tem um significado sentimental. “Fiz junto com outra pessoa”, re-vela. As outras foram por simpatizar com o desenho e por ficar legal na sua área de atua-ção. Santana trabalha com a Educação Física e diz que não atrapalha. Porém, como tem outro emprego, em uma área administrativa, ela procura não mostrar muito.

preconceito X tatuagens

Hoje, a tatuagem está em todo o lugar, em qualquer corpo. Foi o tempo em que tatua-gem era sinônimo de marinheiro ou presidiá-rio. Isso virou piada. Mesmo assim, ainda têm

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que vê-em com

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quem tem tatuagens no corpo.Um dos principais tabus é em relação ao

mercado de trabalho. Muitos deixam de fazer tatuagens por temer uma rejeição no empre-go. Fávero comenta sobre a preocupação que tem em relação aos seus clientes e ao precon-ceito que ainda existe. “Eu avalio pela idade. Se o cara já é maduro, formado e tem uma profissão garantida e quer fazer uma loucura, eu faço. Mas se vem adolescente e gurizada que ainda não tem uma profissão, e não tem certeza do que quer, eu não faço”, relata.

Júnior, também, tem a mesma posição em relação a emprego e tatuagem. “Eu induzo eles a fazerem em um local que eu acho que não vai prejudicar, onde a roupa possa escon-der”, explica.

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Karen cabral fez sua primeira tattoo em 2005

Tarsila Pereira

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Na onda das tattoosCarlos Tiburski

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- Escolha bem o desenho. Faça algo que tenha um significado. Os riscos de se arrepender serão meno-res. Pesquise o desenho que você quer;

- Procure um tatuador indicado por algum amigo. Sa-ber como é o trabalho desse profissional é importan-te. E, principalmente, veja bem como é a higiene do estúdio. Exija material descartável e esterilizado;

- Converse com o tatuador e diga exatamente como você quer. Esteja aberto para escutar a opinião dele sobre sua idéia.

cuiDADos com cicAtrizAção

- Normalmente, a tatuagem demora cerca de 15 a 20 dias para cicatrizar. Tenha muita higiene;

- lave o local com sabonete neutro;- Usar a pomada cicatrizante, indicada pelo tatuador,

três vezes ao dia;- Não abafe. é bom evitar roupas justas e pesadas;- Não esfregar o local nem tirar a casquinha;- Evite a exposição ao sol, mar ou piscina durante a

cicatrização;- Secar, levemente, a região da tatuagem. Não es-

fregue o local. Apenas encoste a toalha para ab-sorver a água;

- Por último, mesmo depois da cicatrização, é impor-tante passar protetor solar.

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Todo mundo está sujeito a ter um ataque de nervos. Por isso, cabe ressaltar que nem todo estresse é prejudicial. O bom estresse traz responsabilidades para execução das ta-refas do cotidiano, faz com que as pessoas possam agir com mais rapidez em certas oca-siões e serve como alerta para que sejam rea-valiadas atitudes tomadas em determinadas situações.

Para o auxiliar de escritório, Rodrigo da Silva, o estresse é algo comum em sua vida.

O estressenosso de cada dia

Em 1986, o filme Curtindo a Vida Adoida-do trouxe Ferris Bueller, um estudante que, por não agüentar mais a rotina de estudo, de-cide tirar um dia de folga da escola para reali-zar um passeio com a namorada e o melhor amigo. Em 1992, no cultuado Um Dia de Fúria, William Foster, um trabalhador de Los Ange-les, logo após ser demitido, deixa o carro no meio de uma avenida movimentada, com o intuito de ir ao outro lado da cidade a pé para ver a filha e tentar reaver o casamento. Duran-te o trajeto, enfrentou diversas situações vio-lentas devido ao seu alto nível de estresse. Ambos os personagens geraram um grande nível de identificação com o público, que pas-sou a considerá-los heróis, mesmo sabendo que tanto Bueller quanto Foster estavam erra-dos nas atitudes.

Os casos citados não passam de ficção. Mas, nos dias atuais, podem vir a acontecer devido às inúmeras responsabilidades que a vida moderna traz, juntamente com o tão fa-lado e temido estresse.

Porém, isso é compreensível numa socie-dade onde, atualmente, as frases mais ouvidas são “hoje não tive tempo para nada” ou “hoje tenho que me virar em dez”. A maratona - tra-balho, trânsito, fila, ônibus lotado, estudo e família - parece não acabar, pois o relógio cos-tuma ser a única prioridade dentro do dia-a-dia, cada vez mais acelerado. O estresse não escolhe idade, religião, cor e posição social. Portanto, a lenda criada em camadas de baixo poder aquisitivo da sociedade, que somente pessoas de alto poder monetário sofrem de estresse ou que ele é falta de ocupação, é um mito. Aliás, o excesso de ocupações é uma das principais causas, de acordo com a psiquiatra Sandra Maltz. A tecnologia que, para muitos, é um aliado do ser humano, muitas vezes, é vista como um inimigo, pois a parafernália eletrônica impôs um ritmo muito imediatista à vida moderna e a humanidade ainda está a se adaptar a essa nova realidade. Para o médi-co Saul Berdichevski, a modernidade está tra-zendo consigo um número maior de enfermi-dades ligadas a estresses psicossociais como ansiedade, depressão e uma alta quantidade de casos de obesidade e má alimentação. “As necessidades que as pessoas têm, para en-

frentar o mercado de trabalho cada vez mais competitivo, faz com que tenhamos um au-mento no número de doenças ligadas ao es-tresse”, afirma Berdichevski.

Essa competição traz uma série de estímu-los excessivos, acarretando alguns doenças como úlceras, enxaquecas, transtornos no so-no e outras patologias que podem ser de con-trole mais difícil em situações em que a pessoa está submetida à estressores crônicos signifi-cativos, por exemplo, asma e hipertensão.

o ritmo de vida acelerado da sociedade atual, faz a população sofrer com as doenças ligadas ao estresse

Marco JúniorMArCO JúNIOr

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Violência, falta dedinheiro, estudos eresponsabilidades emexcesso transtornama saúde do indivíduo

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DicAs De prevenção

- reavalie o ritmo da sua vida.

- Tenha um tempo para si mesmo, durante o dia de

trabalho, com pausas de 15 a 20 minutos.

- Pratique atividades físicas, como caminhar três ve-

zes por semana, durante 30 minutos. Isso aumenta

a capacidade cárdio-respiratória e garante maior

bem-estar.

- Invista no lazer, tente sempre agir de forma sincera

com colegas e familiares.

- Expresse suas angústias sempre que necessário.

- Procure sempre dormir oito horas.

- Alimente-se evitando alimentos muito gordurosos.

- reconheça suas limitações. O corpo, muitas vezes,

alerta quando se está passando do limite. Escute seu

organismo e tenha sempre o controle de sua vida.

- Caso as coisas saiam do comando, procure ajuda

médica.

Afinal, como disse charles chaplin, no famoso

discurso final do filme o grande Ditador, “não

sois máquina, homem é que sois”.

“Já saio de casa com raiva e pensando na hora de voltar”, afirma. Segundo Silva, os ataques nervosos são cada vez mais freqüentes, fazen-do com que ficasse dois meses afastado do trabalho com o diagnóstico de depressão.

Quando os ataques tornam-se freqüen-tes, a melhor solução é procurar ajuda médi-ca. “As crises nervosas fazem com que a pes-soa tenha um sofrimento importante que pode trazer distúrbios no sono, dificuldades de concentração durante o dia, estar mais propensa a acidentes e a desenvolver confli-tos familiares e no local de trabalho, além de aumentar a pressão arterial e ocasionar pro-blemas em todo o organismo”, explica a psi-quiatra Maltz.

Para o estudante do último semestre de Educação Física e funcionário de uma empre-sa de material esportivo, Marcelo Silveira, a sua rotina traz sentimentos de coragem, tristeza, insegurança e medo, muitas vezes, chegando ao limite da paciência. “Quando sinto que vou explodir, procuro ficar em silêncio e pensar nos malefícios e benefícios que uma reação explosiva poderia acarretar”, conta Silveira.

Para Maltz, reprimir os sentimentos não faz bem. Em algumas situações, “é importante sempre avaliar bem cada situação e, dentro do possível, poder verbalizar os sentimentos de forma adequada e de acordo com o que se apresenta”, orienta.

Mas melhor do que todas as receitas de como reagir quando o estresse se manifesta é tentar agir de uma forma em que se tente pre-venir esse mal.

Profissão perigoComo é ser HERóI e, ao mesmo tempo,

não saber se voltará com VIDA para casa?

O que devemos levar em conta ao escolher uma profissão para exercer ao decorrer da vida? Pense bem e tome muito cuidado, pois há profissões que podem ser extremamente arriscadas e, ao mesmo tempo, roubar a sua vida.

Uma profissão tradicional, que muitos querem desde criança, é a de policial. Sonham com esse trabalho que, além de ser arriscado, não é remunerado à altura pelo que faz e o quanto se expõe. O policial civil se coloca em muitas situações de risco, através da realização das investigações, entre várias outras atribuições que lhe cabem todos os dias, em espaços conflituosos. Em muitas dessas situações, pode ser agredido e correr risco de morte, em uma simples abordagem ou, até mesmo, em situações em que está “infiltrado”.

O policial está sempre acompanhado do “medo”, podendo avaliar o momento em que o confronto está iminente. “É preciso possuir bom equilíbrio emocional para atuar nas adversidades de cada situação”, explica o inspetor e chefe de inves-tigação, Luis Henrique Reis Jacques.

Outra profissão de risco é a de Agente Penitenciário. Quando se fala em Siste-ma Penitenciário lembra-se logo em presídios e penitenciárias, pois é onde esses profissionais exercem as funções, trabalhando 24 horas nestes locais sujeitos a rebelião e motins.

Na verdade, estes agentes, também, exercem outras atividades de alto risco: é a de “transporte de presos (escoltas, remoções, apresentações de presos em audi-ências no RS bem como em todo o Brasil)”, conforme o Agente Penitenciário, Val-demar E. Seixas, que trabalha há 15 anos no Sistema Penitenciário. Na Superinten-dência dos Serviços Penitenciários (SUSEPE) existe uma divisão Operacional do Departamento de Segurança e Execução Penal treinada especificamente para es-te fim: o Núcleo de Segurança e Disciplina (NSD).

Os agentes dessa divisão trabalham, diariamente, com o transporte de presos, desde o considerado “ladrão de galinha” até os mais perigosos como, por exemplo, integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC), assaltantes de bancos e outros. O Agente Seixas explica que, “com o crescimento do crime organizado, está cada vez mais comprometida nossa situação, pois vem crescendo o número de tenta-tivas que foram concretizadas e colegas que foram covardemente assassinados”.

Os motoboys estão sempre a disposição, salvam o seu dia indo para todos os lados da cidade, entregando os documentos onde quer que seja, na quase totali-dade dos serviços prestados, são pontuais. Pessoas amam esses profissionais, ou-tros não gostam muito, como, por exemplo, motoristas que transitam pela capital e alegam, que estas pessoas os tiram do sério. “Eles são extremamente malucos e se enfiam na frente dos carros”, conta o motorista de caminhão, Márcio Perez.

Ser profissional de entrega rápida é muito arriscado, mas ao mesmo tempo é uma adrenalina, confessa o motoboy, Renato Oliveira, há três anos na função. “Há um mês, estava apressado para entregar uma mercadoria e um motorista abriu a porta do carro e caí, tentando me equilibrar, acabei parando no meio da calçada, mas felizmen-te não me machuquei muito, só sofri arranhões. Adoro o que faço, é eletrizante”, diz.

Profissão amada, ora odiada

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Até onde vai a fé?

Quando chega, questiona, faz repensar os valores, as convicções, não dá aviso prévio e causa impacto na sua vida. Essa pode ser uma das definições para o mal que constitui a primeira causa de morte entre pessoas do sexo feminino. O Rio Grande do Sul é o estado que mais tem registros da doen-ça como causa mortis, entre mulheres no período reproduti-vo. Na definição científica, são células que sofrem um des-compasso por razões ainda desconhecidas, e reproduzem-se em alta velocidade.

O processo faz com que surjam neoplasias, ou os co-nhecidos tumores. Geralmente, 50% dos casos, onde ocor-reram mortes, os tumores foram diagnosticados em está-gios avançados e numa proporção de cem casos femininos para um masculino. É ele, o câncer de mama, que surgiu, de repente, na vida de uma enfermeira, Vilma Paese, 52 anos, que ministrava palestras sobre a importância da mamo-grafia e ensinava milhares de mulheres a fazer o auto-exa-me de mama. Naquele momento, ela que defendia a pre-venção da doença, passava a fa-zer parte dos 50% dos casos des-cobertos em estágio avançado: “fazia exames de mamografia pe-riodicamente e nada havia sido detectado, até a ponta do sutiã

encostar-se a um ponto da mama”, afirmou. Em poucos dias, um exame de ecografia apontou ser tumor não per-ceptível ao toque.

Calcula-se de seis a oito anos o período necessário para que um nódulo atinja um centímetro de diâmetro. Existem quatro estágios do tumor e a lenta evolução possibilita a des-coberta, ainda cedo, das lesões, se as mamas forem exami-nadas periodicamente. No caso da enfermeira Paese, históri-co de constantes precauções, como se pode explicar o resul-tado da biópsia, exame que retira uma parte da área lesio-nada para análise, ter detectado que o tumor estava em nível três? “Quando descobri, queria tudo para ontem. Não queria mais esperar”, desabafou. Essa é mais uma particularidade da história de Paese, pois a principal causa da morte é a de-mora na descoberta, sendo que há mulheres que têm ciência da enfermidade e, provavelmente, por medo das ações do tratamento, protelam para iniciá-lo. O câncer de mama po-de apresentar metástases nos gânglios linfáticos das axilas,

ossos, fígado, pulmão e cérebro: mais um motivo para tratar da do-ença com brevidade, e, assim, evi-tar que esses outros órgãos sejam atingidos”, disse o médico oncolo-gista, César Pacheco.

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“A espiritualidade e a fé, para muitos pacientes, são como

uma pequena muda de árvore se desenvolvendo”.

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Paese foi submetida à mastectomia, reti-rada total da mama, procedimento comum aos pacientes com o quadro. Iniciou as ses-sões de quimioterapia, tratamento o qual uti-liza remédios que eliminam células de câncer formadoras de tumores e metástases: “a prin-cípio, não apresentou reação. Mas, três dias depois, fiquei sem forças e sentia muita von-tade de dormir“, contou. Sobre os momentos mais difíceis, guarda recordação do 14º dia após a primeira quimioterapia, quando ocorreu a queda do cabelo: “é um sentimento nada fácil de explicar. Tive apoio de familiares e amigos próximos, mas parecia com uma sensação de solidão”. “Os pacientes recebem, durante o tratamento, atendimento do ginecologista, mas-tologista e oncologista, que têm um papel importante, também, na área psicológica. Nesse momento, muitos procuram conforto na pró-pria crença, seja ela qual for”, explica o médico Pacheco.

Ainda, sobre a quimioterapia, Paese relatou que das oito sessões, as três últimas foram as mais severas: “sentia fortes dores nas juntas. Meus músculos faziam constantes movimentos involuntários. Foi quando tive vontade de desistir”. Ela teve instruções do médico para manter a rotina da forma mais comum possível: “mesmo me sentindo mal, levantava e fazia as refeições à mesa”. Após isso, vieram as 36 ses-sões de radioterapia, mecanismo que destrói as células do tumor, atra-vés da irradiação de ondas de energia originadas de material radioati-vo. Hoje, ela está na etapa final, a da hormonioterapia. É mais um exem-plo de algoz do câncer de mama. Traduz essa superação em três pala-vras: “força de vontade”. Em nenhum momento, se revoltou: “ninguém é culpado”, explica. Nunca pensou em parar o tratamento alopata, mes-mo tendo recebido novenas e outras manifestações de amigos em prol da cura. Tem isso como complemento ao convencional, “tudo ajuda”. Àqueles que estão nesse processo, conforta: “tenham força para resistir, que vai passar”.

espiritualidade

A espiritualidade e a fé, para muitos pacientes, são como uma pe-quena muda de árvore se desenvolvendo, que traz esperança e os motiva a vencer a batalha contra a doença. Cada vez mais, as pesquisas médicas demonstram que a prática da religiosidade e da espiritualida-de favorecem a cura e melhora a qualidade de vida dos pacientes.

Nos Estados Unidos, em torno de 70% das faculdades de Medicina, como as Universidades de Harvard e de Stanford, oferecem cadeira obrigatória ou optativa sobre espiritualidade.

No Brasil, a Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ce-ará (UFC) foi a primeira a introduzir a disciplina “Medicina e Espirituali-dade” sob a coordenação da Professora adjunta de Histologia e Embrio-logia Humana, Dra. Eliane Oliveira. Outras faculdades de Medicina, no Brasil, estão tomando a mesma iniciativa. As pesquisas demonstraram que a prática religiosa melhora o sistema imunológico, diminui a inci-dência do câncer, aumenta a sobrevida, os pacientes ficam menos an-siosos, menos depressivos, têm maior estabilidade nos relacionamen-tos, apresentam menos suicídios e menor abuso de drogas e álcool. A fé, nas mais diversas manifestações, ajuda a reduzir o stress dos trata-

mentos médicos padrões. “Ela atua como analgésico para a redução da dor física e espi-ritual, tem efeito protetor contra a depressão e suicídio, além de proporcionar um impor-tante suporte psicológico no dia-a-dia das pessoas envolvidas”, afirma o presidente da Associação Médico-Espírita do Rio Grande do Sul, Gilson Luís Roberto.

Trabalhos têm mostrado que as pessoas que vivenciam experiências místicas pontuam

menos em escalas de psicopatologia e mais em medidas de bem-estar psicológico. “O Brasil possui uma grande diversidade religiosa. Com isso, foi fundado, no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Facul-dade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), o Núcleo de Estudos de Problemas Espirituais e Religiosos (Neper)”, de acordo com o Neto e cols. Revista de Psiquiatria Clínica (USP).

A relação entre crença e tratamento é tida como essencial por al-guns pacientes. “Isso pode levar a complicações pela falta dos cuidados necessários”, diz Pacheco. A forma com que conduzem o problema, desde a descoberta, modifica o humor, reduz a depressão, melhora a auto-estima. Assim, o organismo reage melhor aos estímulos dos re-médios. Então, indiferente do meio que é utilizado, o corpo responde à química. Logo, é imprescindível a presença do tratamento médico.

com a palavra, as religiões

O pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil, Adilson Schünke, esclareceu que a crença em Deus, aliada ao tratamento médico, facilita a cura do doente: “sempre que pudermos fazer uso dos meios que Deus colocou à nossa disposição, devemos fazê-lo. A medicina, com diversos tipos de tratamento, é uma bênção para a humanidade. Devemos, por-tanto, promovê-la e utilizá-la sempre que necessário”, explica. Para os seguidores das religiões africanistas, o corpo humano está exposto há muitas agressões. Assim, fica velho, fraco, cansado e doente. A fé e a prá-tica religiosa fortalecem o espírito e isso ajuda a sustentar o ser humano em uma eventual dificuldade mental ou física, além de fortificar espiritu-almente. “A prática religiosa, somada aos tratamentos e acompanhamen-tos necessários aos cuidados com a mente e físico, faz com que se obte-nha eficácia”, afirmou Andréia de Yemanjá do Ilê Oxum Docô.

O praticante da primeira Igreja Presbiteriana de Porto Alegre, Mar-celo Name, elucidou que sua religião defende o tratamento conven-cional, uma vez que Deus colocou à disposição do homem esse recur-so, a fim de abrandar o sofrimento. A religião segue os preceitos do Novo Testamento da Bíblia. No caso da Igreja Evangélica dos Testemu-nhas de Jeová, que segue o Antigo Testamento, não são permitidas algumas intervenções médicas como, por exemplo, transfusão de san-gue e alguns costumes ainda são cultivados como as mulheres que não podem cortar os cabelos e não podem usar calça. Assim, muitos seguidores deixam o tratamento médico em nome da fé. A doutrina Espírita considera o atendimento médico convencional um grande avanço no alívio dos males humanos, sendo também uma expressão da misericórdia divina: “acreditamos que a religiosidade ou a espiritua-lidade vem ao encontro da ciência médica, colaborando no alívio e na cura das patologias humanas”, concluiu Roberto.

“Nos Estados Unidos,em torno de 70% das

faculdades de Medicinaoferecem cadeira

obrigatória ou optativasobre espiritualidade”.

cientificAmenteA espiritualidade sempre foi associada à religião. recentemente é que o termo é estudado de forma independente. No livro Scientific Research on Spirituality and Health, pu-

blicado pelo National Institute for health research, em outubro de 1997, fruto de painéis realizados por cerca de 70 profissionais da saúde, na maioria médicos e psicólogos, en-contra-se o uso contemporâneo do termo “espiritualidade” separado da religião. De acordo com a obra, espiritualidade e religiosidade são estados emocionais ou condições psico-lógicas e conscienciais que independem da religião e da filosofia.

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ditam em orixás, “trabalhos”, carma e contatos com o mundo dos espíritos podem optar pe-lo candomblé, umbanda ou espiritismo. Tam-bém há a possibilidade de escolher entre re-ligiões tradicionais e históricas como o juda-ísmo ou doutrinas orientais e mais “zens” co-mo o budismo.

O catolicismo foi trazido ao Brasil pelos portugueses e se manteve como religião ofi-cial do país até a Proclamação da República, em 1889. No início, era uma religião de Esta-do. Isso significa que os não católicos ou os que eram contra o catolicismo eram consi-derados inimigos do Estado. O tempo pas-sou e a situação atual da Igreja Católica é de deixar padres, bispos e o próprio Papa Bento XVI de “cabelo em pé”, pois o número de fiéis é cada vez menor. Conforme o censo realiza-do pelo Instituto Brasileiro de Geografia Es-tatística (IBGE), em 1980, os católicos repre-

sentavam 89% da população brasileira. Em 1991, esse número caiu para 83% e, ago-

ra, com o último levantamento, em 2000, esse índice caiu para 73,6%. En-tre os católicos que abandonam a sua religião, a maioria acaba migrando pa-ra outro ramo do cristianismo. As igre-

jas mais procuradas para a conversão são as protestantes.

O fenômeno do protestantismo surge no Brasil com a chegada dos primeiros es-

trangeiros. Com a vinda da Família Real Por-tuguesa ao Brasil e a abertura dos portos às nações amigas, comerciantes ingleses esta-beleceram a Igreja Anglicana, em 1811, quan-do foi construído o primeiro templo protes-tante no país. Em 1824, chegaram os imigran-tes alemães, que se instalam no Sudeste e no Sul do país, principalmente, nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Com eles, vem o luteranismo. Aos poucos, foram sendo introduzidas outras igrejas como a metodista (1835), presbiteriana (1869), batista (1882), pentecostal (1910) e adventista (1916), as quais foram trazidas por imigrantes dos EUA, com a finalidade de converter brasileiros.

As Igrejas Evangélicas vêm se destacando pelo crescente número de adeptos. Os evan-gélicos, em 1980, eram insignificantes 6,6% da população. Esse número dobrou em 2000 e, atualmente, chegam a 15,4% da população brasileira.

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Os portugueses realmente tinham razão! De certa forma, profetizaram o futuro religio-so da terra descoberta em 1500 ao nomeá-la “Terra da Santa Cruz”. A cruz é um símbolo usa-do em diversas religiões, mas, principalmente, no cristianismo. Apesar do quadro de pluralis-mo religioso, ou seja, da diversidade religiosa presente não só em nosso país, mas no mun-do, nove em cada dez brasileiros se conside-ram cristãos (católicos ou protestantes). Atu-

almente, a situação religiosa pode ser compa-rada aos times de futebol ou partidos políti-cos, pois existem religiões, times e partidos para todos os gostos. É só escolher! Quem não concorda com alguns aspectos da Igreja Ca-tólica encontra apoio no protestantismo e, nele, pode aderir ao ramo que mais lhe agra-dar: luterano, anglicano, metodista, presbite-riano, adventista, pentecostalista, congrega-cionalista ou batista. Cada um com a sua es-trutura organizacional, o seu modo de inter-pretar a Bíblia e de ver o mundo. Os que acre-

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lojas que vendem artigos esotéricos demonstram a diversidade religiosa presente no brasil

A diversidade religiosae o sentido da vida

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protestantismo

O fato de o número de religiões ter se mul-tiplicado mostra que as igrejas tradicionais não se atualizaram para tratar os novos pro-blemas de maneira adequada e convincente. Os jovens vêem um abismo entre o que se ensina na religião e o que realmente acontece. É o que pensa o teólogo e diretor da Faculda-de de Teologia da PUCRS, Urbano Zilles, tam-bém doutor em Teologia Dogmática, mestre em Teologia, Bacharel em Filosofia e licencia-tura em Filosofia e condecorado monsenhor pelo Papa João Paulo II, em 1981. De acordo com o teólogo, “é nesse abismo que surgem os novos fenômenos religiosos como a Uni-versal do Reino de Deus, Deus é amor, Igreja Internacional da Graça, as chamadas pente-costais eletrônicas. Elas têm um sucesso por-que, quando nasceram, estavam inseridos, na sociedade, os meios de comunicação de mas-sa. Então, elas os usam com maior naturalida-de, o que as igrejas tradicionais, muitas vezes, têm dificuldade de fazer. Então, para respon-der a esses novos desafios, não basta trazer respostas velhas para problemas novos”.

Na opinião do professor aposentado de Biologia da UFRGS e colaborador da Socieda-de Espírita Bezerra de Menezes, Cícero Marcos Teixeira, “as igrejas evangélicas estão apelan-do, inteligentemente, à valorização do ser hu-mano. Enquanto que a Igreja Católica ficou muito na questão do castigo, do sofrimento e a questão do Reino de Deus, do céu ser na outra vida”.

As opiniões divergem em alguns senti-dos, mas todos os entrevistados atribuem a responsabilidade da diminuição de fiéis à pró-pria Igreja Católica. Para o pastor de uma Igre-ja Pentecostal, Everton Ismael de Mello, o que explica esse fenômeno, além do vazio deixa-do nos corações dos homens, é o fato de que o catolicismo não responde aos anseios das pessoas, pois valoriza em demasia os méto-dos e as tradições, esquecendo que as pesso-as precisam de esperança.

O monsenhor Zilles acredita numa futura união entre católicos e protestantes, mas, pa-ra isso acontecer, não depende da vontade divina e sim da vontade dos homens: “hoje, o que separa luteranos e católicos não é tanto a doutrina. Se não fosse o peso de quatro sé-culos, creio que não seria o motivo da separa-ção. É difícil reconhecer os erros que houve de ambos os lados, voltar atrás e fazer como se nada tivesse acontecido. Agora, há um peso que se criou historicamente, institucional e tantas outras formas. Acredito que, doutrina-riamente, seria relativamente fácil chegar a uma união, não fosse a vaidade humana”.

A busca pelo sentido da vida não é algo novo. Como o homem possui consciência de sua finitude material, ele tenta transcedê-la, procurando calor, fraternidade e se refugian-do nas seitas e religiões. É o que fala Zilles no livro “Religiões, Crenças e Crendices” (EDIPU-CRS). Para ele, esse quadro de pluralismo reli-gioso presente na sociedade revela que não se pode dizer que a espiritualidade é algo que possa ser facilmente superado. “Esse ponto de vista mostra que a dimensão religiosa existe independente de como ela é interpretada. O fato de haver tantas interpretações levará a um certo ponto em que as pessoas vão se per-guntar: mas o que é que vale? Vai de cada um examinar”, afirma.

Ele continua, explicando que “essa multi-plicação de religiões está num contexto cul-tural, sobretudo no Ocidente, em vista do chamado Iluminismo francês. A Revolução Francesa centrou, simbolicamente, a deusa ‘razão’. O que vale tem de passar pelo tribunal crítico da razão, ou seja, o que não se pode provar ou compreender de maneira racional fica a cargo de cada um decidir. Então, se im-plorou para a subjetividade, a qual favorece a possibilidade de cada um fazer sua religião. Essa é uma conseqüência que ainda não su-peramos, pois ainda temos medo de discutir a religião”.

O pastor Mello acredita que a diversidade é boa, mas não sabe dizer até que ponto esse

número de variedades faz bem: “o excesso po-de causar muita confusão na cabeça de um jovem. Ele se questionará: meu pai me ensi-nou de um jeito, a sociedade me ensina de outro. Talvez isso se explique pelo orgulho e egoísmo humano. Cada um quer ter a prerro-gativa de estar certo, quer ter a premissa: eu sou o detentor da verdadeira religião e isso tem gerado muita diversificação”.

Enquanto alguns vêem essa diversidade como algo negativo, outros acabam esco-lhendo o que seguir graças a ela. A médium de um centro de umbanda, Inês Barbosa, aca-bou se tornando umbandista graças à liber-dade de escolha e ao fato de sua mãe, que pratica o espiritismo, colocá-la em contato com outras religiões: “nunca gostei do espiri-tismo, mas toda minha família era espírita. Só fui descobrir minha vocação, porque minha mãe me levava, de vez em quando, a um cen-tro de umbanda. Então, foi aí que eu me en-contrei. Tive a oportunidade de escolher. Não acho que a diversidade seja ruim, pois ela te dá essa opção de escolha”, finaliza.

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“religiões, Crenças e Crendices” – Urbano zilles (EDI-

PUCrS).

“O livro das religiões” – Jostein Garder, Victor hellern

e henry Notaker (Companhia de Bolso).

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O últimolambe-lambe

Quem circula pelo centro da Capital, pro-vavelmente, se depara, ali perto da estátua do escritor Mario Quintana, com um homem que atende pelo nome de Freitas. Natural de Porto Alegre, Varceli de Freitas Filho, 52 anos, carre-ga consigo o nobre título de ser o último fo-tógrafo de Lambe-lambe do Rio Grande do Sul. Função essa, que executa há 32 anos inin-terruptamente, a qual diz ser a única desem-penhada em toda vida.

O mais interessante é que, se Freitas é o último, seu pai, Varceli de Freitas, foi o primei-ro fotógrafo Lambe-lambe do Estado. Desde pequeno, acompanhava o pai em seus traba-lhos, e a escolha de seguir operando essa charmosa câmera foi um processo inevitável, conta freitas. Essa herança familiar promete não parar por aí. O fotógrafo é auxiliado, em

CâMERA lambe-lambe é ATRAÇÃO na Capital

Manoel Canepa

seus trabalhos, pelo filho e promotor de ven-das Alexandre Machado de Freitas, 31. Mas é o caçula Liandro Machado de Freitas, 14, que desponta com maior força à sucessão ao ofí-cio. Liandro, que demonstrou interesse em seguir os passos do pai, fotografa em pinhole (foto na lata), que tem processo de obtenção de imagem semelhante ao do Lambe-lambe de Freitas, pois não utiliza filme e registra as fotos direto no papel fotográfico.

Pela ausência de filme, o papel fotográfico é de suma importância no processo lambe-lambe, sendo extremamente responsável pe-la qualidade final da imagem. Freitas diz que a falta de papel fotográfico e de outros mate-riais químicos é o principal problema enfren-tado por ele no lambe-lambe, pois eles não são mais fabricados. Ainda na metade da Fei-ra do Livro, acabou o papel que ele estava uti-lizando, o qual havia vencido em 2003. Por sorte, conseguiu, em uma loja do centro, pa-pel fotográfico e químicos importados da Re-pública Tcheca. “Chega a ser engraçado. Para fotografar aqui em Porto Alegre, tenho de usar material lá do outro lado do mundo”, con-

MANOEl CANEPA

ta Freitas ao se referir à dificuldade enfrentada. Apesar das dificuldades, Freitas é convicto na escolha do lambe-lambe. Diz ter utilizado, por um tempo, o processo 35mm à filme, e tam-bém ter feito uso de câmeras digitais. Porém, não gosta delas. “Photoshop então nunca che-guei perto, nem quero”, exclama enfático Frei-tas. O curioso é que a maior maior parte dos fotografados são os jovens e não os mais sau-dosistas como poderia se imaginar, segundo o próprio fotógrafo. Freitas, que teve como ponto inicial o Chalé da Praça XV, onde, espo-radicamente, fotografa até hoje, também po-de ser encontrado, aos domingos, no Brique do Parque da Redenção, onde fotografa há mais de dez anos.

Solitário nesse ofício, Freitas diz que tem contato com diversos fotógrafos, mas que nunca conheceu outro que utilizasse o mes-mo processo. Tendo se dedicado exclusiva-mente a essa atividade, garante que irá até os últimos dias fotografando em sua câmera, as-sim como o pai. Ele resume a entrega ao ofício em poucas palavras: “lambe-lambe é minha paixão. Lambe-lambe é minha vida”.

O baile funk é zoação. Esse é o lema de quem sai para se divertir nas noites gaúchas e, principalmente, nas noites de Porto Alegre, para curtir, ao som dos Mestres de Cerimô-nia (MC’s), uma festa cheia de animação e com um ritmo que vem crescendo cada vez mais nas baladas. O público são jovens de 14 a 20 anos.

O funk nasceu nos Estados Unidos na década de 1960, com o pianista horace Silver, que misturou o jazz e o soul music, e com James Brown, que deu ao ritmo a principal característi-ca que conquistou o mundo: o swing. Chegou ao Brasil na dé-cada de 1970, onde logo surgiram as primeiras equipes de som do rio de Janeiro, como a Furacão 2000 e a Soul Grand Prix, que organizavam os bailes funk na periferia da cidade. Chegando em Porto Alegre, em meados da década de1990, o funk obteve um rápido crescimento a partir dos anos 2000, com a criação dos grupos junto com a parceria dos DJ’s, os chamados anima-dores de festa. Eles são considerados os “promoters” dos “bon-

Uh, é baile funk !des de funk” que, normalmente, são gru-pos independentes e sem espaço na mídia para a divulgação de suas músicas. A roti-na de shows de um “bonde” de funk é muito árdua, com os grupos agendando até três shows por noite, em diferentes casas noturnas. Os cachês, às vezes, não passam de r$ 100 ou 150 por show, mas a dedicação e a vontade de vencer na vida, através do funk, faz com que os grupos continuem na batalha diária. é o que conta o Mc Sabha, que faz pequenos shows durante os fins de semana, junto com alguns dançarinos que animam o público.

O funk tem se tornado um estilo musical que agrada diferentes classes sociais, diferente do que acontecia no iní-cio, no rio de Janeiro, na década de 1970. Juliana Molin, 16 anos, moradora do bairro Bela Vista, e Jéssica Silveira, 15, moradora do bairro restinga, saem para curtir o baile funk para se divertir com as amigas. Silveira disse que nem pre-

cisa fazer academia, pois uma boa noite de baile, para ela, vale como um dia de exercícios. Varcelo Alves, 16, morador do bairro Jardim Botânico, sai para o baile funk com os ami-gos. “Fazemos apostas com os amigos para ver quem beija mais meninas durante a noite de festa”, relata o funkeiro. Essa é a prova real de como o baile funk não é mais uma festa de favela e sim de todas as classes sociais e diferentes idades, onde todos vão com a mesma intenção: se divertir e dar muito beijo na boca.

as coreografias e poses são as principais diversões dos funkeiros

Bruno Marona

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Brechós apostam em PEÇASBARATAS e contemporâneas, paraconquistar novo tipo de PúBLICO

Fernanda Bastos

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para o público descolado, saem de cena as roupas datadas. entram as roupas de grifes populares e de forte apelo comercial

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No século 19, quando o comerciante por-tuguês Belchior criou uma loja de roupas usa-das, a idéia parecia absurda. Afinal, quem compraria roupas antigas e de procedência duvidosa? Desde lá, muito tempo se passou. As lojas de peças usadas, antes famigeradas e, hoje, chamadas brechós em homenagem ao comerciante precursor, se tornaram mania entre os descolados e entendidos em moda. Nos últimos anos, com a volta das tendências retrô, as lojas ganharam status de antiquário e os preços aumentaram.

Em brechós mais requintados, podem ser encontradas relíquias, como os abrigos clássi-cos da Adidas, usados na década de 1970. Ho-je, os abrigos alcançam valores que ultrapas-sam mil reais. “Algumas peças são únicas e só encontradas aqui (em brechós)”, explica a es-tudante e compradora assídua Julia Heinz.

Em contrapartida, um novo tipo de brechó,

FErNANDA BASTOS com peças mais baratas e modernas, tem caído no gosto popular. Focados não só no resgate do passado, mas, principalmente, na qualidade e no decréscimo do valor das peças, esses bre-chós se multiplicaram e popularizaram a com-pra dos produtos em diferentes classes sociais. A proprietária de brechó, Silvia Geziorny, expli-ca o processo: “hoje, nós temos dois públicos: um que procura uma roupa diferenciada, de época. E outro, de poder aquisitivo baixo, que procura roupas para o dia-a-dia”.

As peças dos brechós populares custam, em média, de R$5 a R$100, podendo chegar, em promoções, a apenas R$1. Outro atrativo são as roupas e acessórios de grife, que po-dem ser achados por menos da metade do preço original. “Eu sempre tive vontade de comprar roupas de marca e, através dos bre-chós, encontro roupas de qualidade e de mar-cas famosas, com preços muito atraentes. Nas lojas, eu compraria uma peça. Aqui, com o mesmo valor, compro duas, no mínimo”, con-

ta a compradora Fabiana da Silva. Além disso, grande parte das roupas não é datada, e po-dem ser encontrados modelos da própria es-tação, o que torna os produtos ainda mais interessantes para todos os públicos.

Um fator comum entre os donos de bre-chós é a improvisação na criação das lojas. O custo de uma pesquisa por roupas antiquadas é bastante alto. Dessa forma, os comerciantes acabam recorrendo a amigos e familiares, pe-dindo doações para começar o negócio. “No início, pedia roupas a amigos e familiares. Abri o brechó com minhas próprias roupas. Mas, hoje, o negócio é muito rentável”, comenta a proprietária de brechó, Aliane Moura.

O senso comum, que dizia que as roupas eram “todas oriundas de defuntos”. Os donos dos brechós modernos negam veementes. “O preconceito existia, mas, hoje, os brechós são muito procurados. Temos clientes fiéis, peças boas e baratas”, explica Moura, fazendo uma síntese do sucesso.

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A solidãotodos os dias, muitas pessoas, pelo

mundo, se conectam à internet. pessoas das mais variadas idades, raças e classes sociais. algumas em busca de informação, outras atrás de seus recados e contatos ou, ainda, à procura de companhia e relacio-namentos.

“eu entrei na ‘net’ para descansar um pouco do trabalho. estava me sentido so-zinho e carente aqui”. declarações como essa, do programador de informática feli-pe*, 32 anos, são comuns aos usuários de chats, as são salas virtuais onde pessoas se conectam para conversar.

os usuários entram para “arejar a cabe-ça”, entram em função da solidão que sen-tem. recorrem à internet por motivos varia-dos, mas todos os entrevistados confessam o sentimento de carência, seja ela amorosa ou não. É a falta de algo que leva essas pes-soas a buscar algo no mundo virtual.

a busca pode variar entre amor, ami-zades e sexo: “procuro sexo. procuro mu-lheres lindas e maravilhosas sedentas por sexo seguro. sou casa-do, mas sou sincero. só saí com umas quatro mulheres daqui em três anos, porque tem todo um trabalho de convencimento e não quero me expor. não quero amantes, só casos. saídas de, no máximo, uma vez”, afirma o contador tom*, 40.

garotos de programa usam o meio virtual para promover seu emprego e au-mentar a “carteira” de clientes: “faço pro-gramas há um ano e meio. só atendo mu-lheres. conheço elas pelo chat e, se rolar um clima, saímos. eu não sou daqueles que chegam, vão tirando a roupa, sobem pra cima da mulher, ficam transando, mal e porcamente, 15 minutos e vão embo-ra... eu procuro conversar antes, tomar um drinque, um banho a dois bem legal, uma massagem de repente! eu já tenho outro emprego, não cobro caro. gosto mesmo é do momento, da satisfação. gosto que a pessoa com quem estou se sinta legal. grana eu deixo em segundo plano”, brinca guilherme*, 31, “lover”, co-mo ele se denomina.

bruno*, 27, está apaixonado. faz um mês que fala todos os dias com a sua “na-morada virtual”. “ainda não nos conhece-mos. mas, só de telefone, gastei r$800 es-te mês. estou sendo correspondido e te-nho muitas expectativas quanto a ela. acho que 90% das pessoas, na net, são sinceras. teve uma vez que saí com uma mulher que dizia ter 33 anos e, no final, me confessou que tinha 40. apesar disso, acho que as pesso-as são sinceras sim”, afirma.

o funcionário púbico, leonardo*, 37, procura relacionamentos casuais na inter-net. ele acha muito difícil encontrar algo sério. sempre é sincero, pois para ele, mentir é perda de tempo e dinheiro. “É uma minoria que mente na net, mas sem-pre tem, pois a internet favorece isso já que as pessoas se escondem no anonima-to”, observa. saiu com, aproximadamente, 160 mulheres através de chats, mas se en-volveu somente com duas. ele desabafa:

“não tenho orgulho disso. Queria ter acer-tado de primeira”. ao final da entrevista, leo-nardo revela: “man”, te-nho sempre cerca de

seis em contato para sair. mais de seis é difícil de administrar”.

a internet virou uma opção, para co-nhecer pessoas, quando se tem pouco tempo livre com a vida tumultuada dos tempos atuais. “eu considero a internet, hoje, um meio bem viável de se conhecer pessoas legais. principalmente, pra mim que, atualmente, tenho pouco tempo li-vre, pois o escritório e a faculdade me con-somem, praticamente, 80% do meu dia útil de segunda a sexta”, afirma o forman-do em direito, gustavo*, 25.

nem todos têm experiências positi-vas na internet. o agente publicitário, luis*, 43, recém se-parado, não encon-trou o que esperava. “as pessoas não são o que dizem ser. até as fotos enganam”, reclama. o estudante, carlos*, 18, tor-nou-se um viciado em relações virtuais:

“um dia, recebi um telefonema a cobrar. era uma menina. gostei da voz dela e tu-do mais. então, comecei a puxar papo e fiquei um tempinho conversando com ela só por telefone. nesse meio tempo de conversa, mudei bastante. algumas coi-

sas para melhor, ou-tras nem tanto, mas mudei”.

depois disso, carlos ficou fascina-do por conhecer as pessoas “de maneira

interpessoal e, logo após, pessoalmente”. o estudante continua: “mas, no caso da inter-net, só me encontrei uma vez com alguém. e pode ter certeza: é super desagradável, porque daí caí na real que é só pela ‘net’ mesmo a ‘paixão’. chegando pessoalmente, tem que olhar nos olhos e aí há falsidade. palavras e frases formadas saem do nosso controle”.

Questionado sobre a sinceridade no mundo virtual, ele comenta: “quando as pessoas mentem é porque estão com medo de serem reconhecidas na rua. na internet, as pessoas e, principalmente, os jovens se abrem sobre sentimento e dúvidas que têm e que não conseguem tirar com pais ou ir-mãos mais velhos. e mentem, também, quando se sentem enganados”.

difícil mesmo foi conseguir depoimen-tos de mulheres. diferentes dos homens, pelos chats, elas não contam suas histórias a outras mulheres. nem dão chance de en-tender o que a reportagem queria. todas as mulheres foram abordadas fora do mun-do virtual, e só se abriram porque existiam laços de amizade com a repórter.

a professora fernanda*, 26, seguida-mente, conhece pessoas pela internet: “sempre que vou sair com alguém, deixo o número do celular com uma amiga, e com-bino de ligar duas horas depois do encon-tro para ela saber que está tudo bem”.

a estudante rejane*, 24, não pensou em nada: “saí com um cara, nem pensei

nos riscos que estaria correndo. ele é conhe-cido de um amigo, mas nem nos conhecíamos,

e tudo foi combinado pela internet. gra-ças a deus que ele era uma pessoa legal”, lembra rindo.

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“procuro mulheres lindas e maravilhosas, sedentas

por sexo seguro. sou casado, mas sou sincero”.

“não tenho orgulhodisso. Queria ter

acertado de primeira”.

“estava me sentindocarente e sozinho aqui”.

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não foi dessa vez...

“estava, um dia, batendo papo num chat para passar tempo. conheci um cara e, em seguida, trocamos o e-mail do msn. passamos a nos falar sempre por ali. uma semana inteira e, quanto mais ele me con-tava sobre sua vida e seu jeito, mais eu me encantava. ele insistia para a gente se co-nhecer, mas fiquei receosa. afinal, nunca tinha conhecido alguém assim, pela inter-net. eu estava muito curiosa e confesso que apaixonada por ele. mesmo sem co-nhecer pessoalmente, sonhava e fantasia-va coisas com ele.

acabei topando sair. fomos num bar-sinho bem conhecido e tomamos uma cerveja. a conversa rolou como se nos conhecêssemos há anos. cada minuto que passava, ficava mais fascinada por ele e saímos juntos todos os dias naque-la semana.

Quando chegou sábado, ele disse que iria viajar, e eu mandei uma mensagem pa-ra o celular dele toda apaixonada. meu ce-lular tocou e eu atendi toda feliz. mas não era ele e sim a namorada. fiquei muito tris-te e confesso que com bastante receio da internet”. (mariana*, 26, estudante).

foi dessa vez...

“tudo começou quando eu não queria mais sair. só ficava em casa, no computa-dor. Já tinha conhecido vários rapazes, mas sempre dava um bolo e saía fora. um dia, conheci uma pessoa que me chamou a atenção com suas brincadeiras. marca-mos de ir ao cinema uma semana depois que falamos na internet. foi legal. no iní-cio, parecia que ele era muito tímido, mas não era. era muito apressado e, com isso, eu já queria ‘dar um fora’ nele no terceiro dia. só que, depois de conhecer melhor, não queria mais sair de perto dele.

ele era muito companheiro, carinhoso e romântico. É difícil ver um homem as-sim. começamos a namorar. foi seis me-ses só de alegrias. depois veio um presen-te, mas que deixou o pedro* bastante ner-voso. eu engravidei. ficamos com medo. pedro* falava muita besteira e coisas que me deixavam triste. depois que ele viu a

primeira foto do bebê, ficou todo anima-do e esqueceu tudo que havia falado e pensado em fazer.

o tempo passou e chegou a hora do matheus nascer. foi uma loucura. o pedro* estava trabalhando e eu com ele. chega-mos ao hospital em cinco minutos. foi muita loucura e correria, mas o matheus nasceu. pedro*, que é branco, ficou mais branco e o médico não queria dar o bebê para ele segurar.

depois, matheus foi crescendo e querí-amos ter nossa casa. foi um bom tempo de espera, procurando e vendo o que dava pa-ra pagar. mas conseguimos e, hoje, temos nossa casa, nosso carro zero Km e nosso fi-lhão, que, com um ano e quatro meses, es-tá mais esperto do que o pai.

Às vezes, da vontade de ir embora, de volta para casa de minha mãe por causa de umas briguinhas. mas daí, bate uma sau-dade... dizem que um casal tem de ter bri-gas, né?”. (bianca*, 21, estudante).

palavra de especialista

“o relacionamento on-line é, hoje, uma realidade e penso que vai continuar”, afirma a psicóloga nair teresinha gonçal-ves. segundo a terapeuta, as pessoas sem-pre buscam um relacionamento, e a inter-net dá uma resposta mais imediata a esse desejo. mas é muito importante que se construa pontes entre o mundo virtual e o mundo real.

a busca exagerada por alguém pode demonstrar uma insatisfação consigo mesmo. “possivelmente, as pessoas, que ficam sempre buscando, não encontram satisfação num espaço próprio, sentem-se inseguras. então, estão sempre buscando fora delas e nunca se satisfazem”, alerta gonçalves. “isso torna as relações frágeis quando elas acontecem, pois há uma ide-alização da outra pessoa e uma crença de que ela vai resolver todos os problemas”, completa a psicóloga.

um aspecto negativo, apontado por gonçalves, são as personagens criadas: “o ideal é que as pessoas se mostrem, como são, na internet. as pessoas que não se mostram, geralmente, têm uma carência muito grande, uma auto-estima baixa, não se aceitam, gostariam de ter uma outra vi-

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da. então, se reinventam”.a reinvenção de si mesmo, como a psi-

cóloga chama, demonstra uma insatisfa-ção com a vida e dificuldades para mudar o que não se gosta: “é importante a pessoa se dar conta do que a está abafando, opri-mindo e porque ela não põe em prática seus desejos”, aconselha.

o perigo de se criar personagens é que, na hora de se estabelecer um relacio-namento real, eles não vão em frente: “a pessoa com quem se está conversando re-cebe as informações e cria uma imagem do outro. apaixona-se por essa imagem. e, quando vê, não é nada daquilo. a imagem desmorona na primeira troca de olhares, inclusive pela mentira. elas enganam o ou-tro, mas, principalmente, enganam a si mesmas”, comenta a terapeuta.

as paixões virtuais ocorrem por novos paradigmas como explica gonçalves: “pa-ra entendê-las, é preciso que se crie novos paradigmas, porque se ficarmos presos ao olho no olho, atração física, tom de voz, não vamos aceitar as relações amorosas pela web”. segundo a terapeuta, o que possivelmente existe, na internet, é a cum-plicidade, a troca de confidências, as fan-tasias compartilhadas. não existe a pre-sença física.

“a internet está aí, e possibilita que as pessoas se conheçam e construam víncu-los, antes de uma relação real. abre cami-nhos, abre portas”, afirma gonçalves.

* Todos os nomes são fictícios parapreservar a privacidade dos entrevistados.

sAibA quAnDo procurAr AjuDA

- Quando você substitui o mundo real pelo virtual, e

passa mais tempo na internet do que em outras ativi-

dades, deixando de lado outros compromissos.

- Quando você se descreve diferente do que você ou sua

vida é realmente. Isso é um alerta para si mesmo.

- Quando não consegue estabelecer pontes entre o

mundo real e o virtual.

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as casas de games para computadores, chamadas, hoje, de lan houses, cada dia tor-nam-se mais presentes na vida de crianças e jovens. a nova moda, nem tão nova assim, surgiu na coréia do sul, em 1995 e ganhou o mundo rapidamente. no brasil, a pioneira do ramo foi a empresa monkey em 1998, em são paulo. a marca está em 32 lojas de di-versas cidades. cada uma tem, no mínimo, 30 computadores e fatura, em média, r$30 mil por mês. hoje, no brasil, existem, em mé-dia, mais de 2,5 mil.

o investimento de uma lan house é alto e a atualização é necessária, pois os jogos solicitam cada vez mais computadores avançados. na maioria das lan houses, o su-porte é feito pelo proprietário, pois a manu-tenção é contínua. segundo a proprietária de lan house, ana claudia rico, “o investi-mento é bem alto. estou aqui há dois anos e meio e ainda não tive retorno”. para outro proprietário, marco aurélio negreto, “o lucro depende de um bom ponto. para os jogos, é essencial um equipamento muito atual, sendo um negócio que precisa, periodica-mente, de atualizações”.

essas casas de jogos ficam abertas, em média, 14 horas por dia, de segunda à sexta-feira, com valor de r$ 3 a hora. há também os chamados “corujões” (noite inteira jogan-do) nas sextas, sábados e feriados. sempre que fecha um grupo de pessoas para jogar na lan (computadores em rede, podendo jogar uns contra os outros), em média, é co-brado r$ 10 por jogador. geralmente, no horário das 21h até as 7h. o tempo que cada freqüentador fica jogando, é duas horas dia. há aqueles que ficam mais tempo. É o caso de William cardoso da silva, chamado de “trakinas” pelo seus amigos de lan house, que começou a jogar com 15 anos. hoje, tem 19: “cheguei a jogar de 14 a 15 horas por dia”, afirma.

os jogadores de lan house sempre têm um nick (apelido utilizado nos jogos e nas dependências do estabelecimento). desde os mais ingênuos como bob esponja, viper, pipetinho, sano, até nicks “bagaceiros”, ou o próprio nome. o público mais freqüente desses estabelecimentos são crianças de 12 a 15 anos, mas existem freqüentadores de todas as idades. no entanto, no rio grande do sul, não existe nenhuma lei aprovada que restrinja a faixa etária de usuários das lan houses. há um projeto de lei do deputa-do estadual osmar severo (projeto

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341/2006), que está na comissão de Justiça, para receber parecer do deputado iradir pietroski e ser encaminhado para votação no plenário. o projeto pode ser pesquisado no linck de proprosições do site da assem-bléia legislativa (http://www.al.rs.gov.br/). ele tem como principal objetivo proibir a entrada de menores de 12 anos em lan hou-ses sem a companhia dos pais, e de permitir o jogo de crianças e jovens de 12 a 18 anos somente com autorização dos pais ou res-ponsáveis legais. em são paulo, as regras existem, baseadas na lei nº 12.228, de 11 de janeiro de 2006.

artista de games, vitor eduardo arusie-vica explica que, na américa do norte, euro-pa e Japão, existem órgãos responsáveis por determinar a faixa etária à qual o jogo se destina, assim como funciona com filmes. ”gostaria de acrescentar que é dever dos pais e não dos criadores de jogos, vendedo-res e donos de lan house controlar o tipo de conteúdo ao qual seu filho é exposto.”, argu-menta arusievica.

os games mais jogados dependem da moda do momento, porque todo grupo jo-ga junto uns contra os outros nas lans. mas a moda do momento é o estilo rpg como Mu e Ryl-Risk Your live.

um exemplo de que não há nenhum acompanhamento de alguns pais em rela-ção ao que os filhos fazem na lan house é dado por isabel possenato parmagnani, mãe de gabriel parmagnani fernandes, nick gabi gordo. fernandes gosta de jogar Mu (rpg). o menino, que tem apenas oito anos, joga desde os sete em lan house. afirmou que joga gta (game em que o jogador rou-ba carros, mata pessoas com bombas, fala com traficantes e prostitutas, tudo legenda-do em português). a mãe ficou apavorada:

“nunca fui junto com ele, e não sei que tipo de jogo ele joga”. fernandes joga de uma a duas horas por semana e nunca participou de corujão: ”me pediram autorização para jogar. com essa autorização, jogo qualquer jogo, acesso msn e tenho orkut”, conta fer-nandes.

rafael andré ferreira, nick taz, 11, joga na lan house há dois anos: ”sempre aviso meus pais quando venho para jogar”. ele ex-plica porque gosta de ir à lan house: “porque tem gente para conversar. porque, em casa, jogo sozinho”. participou por diversas vezes de corujões.

fausto maria grezzana, 11, foi uma vez à lan house, mas não gostou. pratica futebol desde quatro anos, influenciado pelo seu avô. ele diz que não gosta muito de games: “é mais divertido jogar futebol. não gosto de ficar parado”.

arusievica lembra o caso do atirador do cinema de são paulo, que apontaram ter sido influenciado por jogos e, em pou-co tempo, foi aprovada a proibição de cer-tos títulos no território nacional: “o que tenho a dizer sobre esse tipo de censura é que, como os jogos são uma mídia relati-vamente nova (têm cerca de 30, 40 anos na melhor das hipóteses), não existem estu-dos sérios, no brasil, sobre possíveis efeitos na psique das pessoas que jogam. Qual-quer proibição é ato de políticagem opor-tunista de pessoas com poder sobre as leis, mas ignorância sobre o assunto. por que não proibiram filmes violentos como ram-bo ou robocop?”

vale ressaltar que a natureza de muitos jogos de lan house é competitiva, onde um vai vencer e o outro, perder. isso costuma envolver temáticas de combate, como guer-ras. assim, criam esse tipo de situação de combate extremo em um ambiente virtual que não apresenta risco físico aos partici-pantes.

MArIA CrISTINA DOrNEllES

Maria Cristina D

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o que é rpg?A sigla rPG vem da expressão inglesa role-

playing game, que pode ser traduzida como “jogo de interpretação”. Nele, os jogadores interpretam os personagens que vão enfrentar os perigos de uma aventura ainda desconhecida. Ninguém sabe o que vai acontecer, exceto um jogador “especial” chamado de “Mestre do Jogo”. Só esse jogador conhece o rotei-ro da aventura. As mais diversas ambientações são possíveis. O Mestre apresenta uma nova situação. Assim, o jogo prossegue até o grand finale.

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A população ainda desconhece a real im-portância dos parlamentares na política, se-gundo o Superintendente Legislativo, Enilto José dos Santos. “Os deputados nada mais são do que os representantes da sociedade que os elegeu. Os eleitores precisam cobrar ações deles”, complementa Santos.

Segundo os artigos 31 e 32, do capítulo V, do Regimento Interno e Código de Ética Par-lamentar da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, os deputados, no exercício do mandato, devem, além de outras funções, promover a defesa dos interesses populares e estaduais sem receber vantagens indevidas com isso.

De acordo com a Superintendência Legis-lativa, não são apenas deveres que um depu-tado deve ter. Com muitos direitos, alguns são até questionados pela população. Os parla-mentares gaúchos possuem um salário de R$ 9.540. Isso representa exatos 75% do valor re-cebido por um deputado federal. Eles ainda têm direito a exercer, com liberdade, o seu mandato em todo o território estadual, in-gressar livremente em qualquer órgão ou re-partição estadual ou municipal, da adminis-tração direta ou indireta e ter a palavra na Tribuna, na forma regimental. Podem exami-nar, em qualquer repartição, documentos que julgue de interesse para a atividade parla-mentar e ainda gozar de licença de 90 dias.

funções X dificuldades

Apesar da principal função de um parla-mentar ser a representação popular, há mui-tas adversidades que os impedem de gover-nar melhor. Para o cientista político André Marenco, o principal problema são as limita-ções enfrentadas pelo Poder Legislativo, esta-belecidas pela Constituição Federal. Segundo ele, toda a iniciativa sobre a matéria orçamen-tária, relativa à organização da administração pública ou que repercuta em gasto, é de com-petência exclusiva do Poder Executivo. “Isso faz com que, muitas vezes, a população não entenda”, destaca Marenco.

Segundo o deputado Marco Alba (PMDB), o trabalho de um parlamentar deve ir além de legislar e fiscalizar: “devemos contribuir pa-ra a formação, conscientização e melhoria na vida da população. Nosso compromisso é com os gaúchos”.

Assembléia Legislativa:um oásis político

Para o deputado Raul Pont (PT), as princi-pais atribuições do cargo é legislar e fiscalizar o cumprimento das leis pelos governantes. De acordo com Pont, são duas as principais dificuldades como deputado: a extensão das pautas com projetos para serem votados e a disputa política, a qual considera a maior. “Te-mos, na Assembléia, diferentes partidos polí-ticos com programas bem nítidos, que po-dem ter interesses programáticos contrários a outro partido. Conforme o debate político, vão se formando maiorias e minorias na hora da votação, seja nas comissões, seja no plená-rio”, afirma.

Segundo o deputado Paulo Brum (PS-DB), também reeleito, os parlamentares são eleitos para defender os interesses dos cida-dãos. Principalmente, na formulação de leis que melhorem a sociedade, e na fiscalização do Poder Executivo. “Quis trabalhar na políti-ca para batalhar por isto: trabalhar pela vida”, destaca.

Apesar de todas as explicações dadas pe-los parlamentares, a população ainda acredita que eles fazem pouco pelo Estado. “Depois de eleitos, muitos esquecem de seus eleitores. Lembram só de quatro em quatro anos”, res-salta a farmacêutica Juliana Mattos. Em con-trapartida, os deputados alegam que os pro-cessos de aprovação são realmente demora-dos, pois todos os projetos, apresentados na Assembléia, devem seguir os trâmites admi-nistrativos. É feita uma análise pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que verifica se

o projeto obedece a Constituição. Isso é feito por um deputado, que elabora um relatório e o coloca para votação dos demais participan-tes da CCJ. Se for considerada apta, a propos-ta segue a tramitação processual e entra na fila para votação dos 55 deputados. Um fluxo que, segundo eles, consome muito tempo.

Para o estudante Alessandro Engroff Ko-chhann, que votou pela primeira vez na últi-ma eleição, a principal meta de um parlamen-tar deve ser defender os interesses de seus eleitores. Apesar do gosto pela política, o jo-vem também concorda que, na maioria das vezes, os políticos só lembram de seu eleito-rado às vésperas da eleição. “Vêm só de quatro em quatro anos. Com o único fim de conse-guir o voto”, desabafa Kochhann.

avanços políticos

De acordo com Marenco, pode-se avan-çar em duas direções ao ampliar a participa-ção do Legislativo na decisão sobre políticas públicas e melhorar seu trabalho na fiscaliza-ção do Poder Executivo. Por outro lado, ele diz que é preciso melhorar o controle e a respon-sabilidade exercidos pelo eleitor sobre os seus representantes. “Isso passa pelo fim de vota-ções secretas e, principalmente, por proces-sos que tornem mais fácil ao eleitor associar seu representante não apenas com questões particulares, mas com posições em relação às políticas mais importantes para o país”, salien-ta o cientista político.

Governar, fiscalizar, julgar, instituir e constituir. Funções quase desconhecidas perante os gaúchos e os brasileiros.

deputados no plenário da assembléia legislativa: propostas são a esperança de melhores oportunidades

Mauro Schaefer/ALMArlUCI STEIN

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Tranqüilidade nas vilas rurais, clima bucó-lico, contato com a natureza, nenhum proble-ma que possa abalar essa vida singular. Enga-na-se quem pensa que só de tranqüilidade e ar puro vivem as pessoas do campo.

Uma das questões mais evidentes é a luta para conseguir a base para sobrevivência, através do meio onde vivem, terra, a qual de-veria ser patrimônio público e não apenas tratada como simples mercadoria.

Todo esse cenário e um histórico de con-cepção de terra, sem políticas públicas, além da vontade dos agricultores de ver seus direi-tos garantidos, fazem com que o Rio Grande do Sul seja espaço político para a atuação de diversos movimentos sociais do campo.

Como a história de lutas e conquistas começou? Tudo surgiu na década de 1960, com o Golpe Militar. A situação não era fa-vorável. Todos estavam insatisfeitos e busca-vam alternativas para o campo, o que origi-nou o Movimento dos Agricultores Sem Terra (Master). Os integrantes reuniam-se apenas na calada da noite, pois não podiam aparecer por conta do Departamento de Or-dem Política e Social (Dops).

A estratégia do Master era fazer panfletos de valorização dos camponeses, para a cons-

cientização das pessoas e distribuí-los nas es-colas. Em contraponto, a Igreja Católica come-çou a ver que deveria dar atenção especial às causas sociais. Puxada pela Teoria da Liberta-ção, com Frei Betto e Leonardo Boff, criaram a Comissão Pastoral da Terra (CPT). Segundo Rodrigo Fritzen, que foi membro da CPT, e acompanhou todo o processo, eles tinham como objetivo, através da CPT e da Pastoral da Terra, organizar a sociedade camponesa. “Para isso, fazíamos exposições, dávamos palestras para os agricultores sobre agregação de ren-da, cooperativismo, ressaltando os seus direi-tos e deveres”, revela.

Outra parte que representa os trabalha-dores rurais é a Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS). O presidente do Sindicato de Santa Maria do Herval e o Secretário da Fetag, Fritzen, atra-vés de seus sindicatos dos trabalhadores ru-rais, diz que a Federação nasceu em1963, por meio das lideranças, porque era necessário conseguir avanços que, para o campo, esta-vam sendo deixados de lado. “Conseguimos várias conquistas para os agricultores, campo-neses. Tais como crédito fundiário (crédito de acesso à terra), habitação, formação e capaci-tação. Esse movimento tem significância, pois

manifestação do grito da terra brasil, em 2004. foram mais de 7 mil agricultores reinvindicando seus direitos

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conseguimos mobilizar o povo interessado e pressionar o poder público para a obten-ção dos objetivos em prol do povo do campo”, completa.

Outro movimento social significati-vo e de abrangência internacional é a Via Campesina. Sediada na Ásia, África, Europa e América, agrupa organiza-ções camponesas de pequenos e médios agricultores. A organização desses camponeses tem como ob-jetivo a relação respeitosa entre a natureza e o homem. Pode ser ci-tado, nesse caso, a destruição do viveiro de mudas da Aracruz em-presa de celulose que fere esses princípios. Os camponeses que-riam chamar a atenção para o desenvolvimento rural sus-tentável.

Para o jornalista, doutor em comunicação e estudioso da Via Campesina, Osvaldo Biz, outro ponto forte é a preservação do solo e a so-berania alimentar, com a tradição da agricultura fa-miliar. ‘’Só lutamos e dis-cutimos tudo isso, pois o cerne está em como as terras, no Brasil, na épo-ca da colonização, fo-ram divididas desde a

divisão por capitanias hereditárias, o histórico de grileiros, a Constituição de 1946”, afirma Biz.

Toda a luta dos movimentos so-ciais, principalmente pela terra, é justi-ficada pelos 8,5 milhões de km2 de ex-tensão territorial do País. Aí vem a fatí-

dica pergunta: há condições de so-brevivência para o campo, atra-

vés de uma distribuição justa por terra, com uma dimen-

são dessas?

para que quero terra?

O mestre em Economia no Meio Rural, Nelsom Baldasso, que trabalha na Associação Rio Granden-se de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural-RS (Emater-RS), por possuir contato direto com a base de todos esses movimentos, acredita que ‘’a agricultura é o esteio do Brasil”. Ele afirma que duas questões devem ficar muito claras quando se mencionam os movimentos sociais li-gados à questão da terra: eu quero terra (a posse)? E para que eu quero terra (função social)?

Os movimentos são os “auto-falantes” do cam-po. É assim que Baldasso define outra função im-portante deles. “Quando o Estado e suas institui-ções não cumprem seu papel, alguém tem de ocu-par esse espaço”, acreditaBaldasso. Para o especia-lista, “a proliferação desses movimentos aproxima as pessoas do processo democráticos. E, quando assumem uma devida pulverização, provocam a qualificação, tanto de instituições, quanto do pú-blico atingido”.

reforma agráriaHistoricamente, a reforma agrária surge como

uma proposta de superação de um conjunto de si-tuações críticas que configuram uma determinada “questão agrária”. A luta pela terra e a concentração dos latifúndios são expressões vivas da forma como o mundo rural brasileiro está organizado. Esse é o outro lado do “sucesso” do moderno agronegócio brasileiro.

Nesse contexto, um dos movimentos sociais que mais se destaca, na questão da reforma agrária, pela forma de agir, é o Movimento dos Trabalhado-res Rurais Sem Terra (MST). Para entender a sua for-ma de agir, é necessário conhecer a história, os ins-trumentos de ação e fazer uma reflexão crítica so-bre esses lutadores da reforma agrária, como deno-mina o Superintendente Regional do Instituto Na-cional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) no Ceará, Eduardo Martins Barbosa.

O MST derivou da CPT, que era um braço de ação mais rápido, com atribuições específicas,

extensão de terra da coopan, cooperativa dos assentados da reforma agrária em sertão santana

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Airton josé HoschscheidAssessor de Política

Agrícola da FETAG e agricultor

universo ipA - qual sua avaliação sobre a atual situação do agricultor?

Airton josé Hoschscheid - Em termos de programas de políticas públicas, houve avanços significativos no decorrer dos últimos anos. Prin-cipalmente, a partir de 1994, com a implantação do Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PrONAF), que possibilitou o acesso do pequeno agricultor aos recursos para financia-mentos das atividades agrícolas, o que não impe-diu a grave situação financeira em que o mesmo se encontra hoje: completamente endividado e sem sustentabilidade de sua atividade, castigado por sucessivas frustrações de safra e preços agrí-colas que não cobrem o custo de produção.

universo ipA - qual o significado dos movimentos sociais do campo, perante às instituições governamentais?

Airton - São elos entre o agricultor e os ór-gãos governamentais. São os responsáveis pela organização dos produtores e apresentação de propostas para políticas públicas que atendam às necessidades e os anseios dos mesmos.

universo ipA - qual o papel da fetAg em tudo isso?

Airton - O papel da FETAG, que representa mais de 1,5 milhão de agricultores familiares no Estado, insistente batalhadora, é ser um canal de negociações entre o produtor e o Governo Federal.

universo ipA - qual o futuro do agricul-tor dentro da conjuntura dos movimentos sociais?

Airton - O agricultor sente cada vez mais a necessidade de trabalhar de forma organizada. Nesse sentido, o movimento sindical tem atuado fortemente na defesa dos interesses de seus asso-ciados, propondo e defendendo políticas de apoio à agricultura familiar, a partir dos problemas sen-tidos e vividos. Se, atualmente, a agricultura fami-liar passa por uma crise financeira, certamente, sem a atuação dos movimentos sociais, principal-mente das entidades sindicais que representam o setor, o quadro seria muito mais complicado.

ociais do Campo fotos: Jaqueline alves debastiane

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dentro da Igreja Católica. Em 1984, no Pa-raná, um engajado grupo de pessoas, ideologicamente comprometido com a questão da terra, realizou o primeiro congresso, onde deu-se início ao MST, como movimento organizado.

Para o pesquisador em comunica-ção do Brasil, Pedrinho Guareschi, os movimentos sociais rurais tomaram essa proporção, pois lutam por uma causa legítima, concreta, palpável, que é a conquista da terra, por ser uma questão histórica e ter gran-de influência.

O MST, no começo, foi orga-nizado com apoio de várias en-tidades e da própria CPT, que foi o berço de sua origem. No Brasil, o MST é o principal re-presentante do movimento internacional, que é a Via Campesina, ligada a vários outros países.

Segundo Guareschi, a estratégia do MST é ocupar as terras. Mas enfatiza que eles só ocupam quando possuem absoluta certeza de que são improdutivas, ou quando estão impedidas por questões judiciais, devendo para o banco. O próprio movimento possui técnicos que analisam todas essas questões. O segundo passo é as pessoas, que estejam ideologicamente comprometidas com a cau-sa, que desejam e necessitam de terras, entrar para uma “fila de espera”, e participar dos acampamentos. Essa espera pode durar de seis meses a dois anos.

Nesses acampamentos, eles passam por to-do um processo educativo de formação e mili-tância: “Nos próprios acampamentos, há esco-las, onde se chegou a um número de 100 mil alunos e mais de 100 mil famílias”, analisa Gua-reschi. Quando perguntado sobre o envolvi-mento do MST com partidos políticos, a exem-plo do Partido dos Trabalhadores (PT), afirma, com segurança, que eles têm muita clareza te-órica, e não se envolvem com política partidária. Mas elegem, através desses partidos, os seus re-presentantes, para poder ter voz e vez para con-seguir o que desejam e, principalmente, porque eles têm que defender a sua ideologia.

Outra questão importante, quando se analisa a estrutura do MST, é como ela está organizada. Não existe apenas um mentor, ou um chefe, é uma estância de decisão com 22

pessoas, pois, como declara o Guareschi: “nin-guém irá conseguir derrubar o movimento. Se uma pessoa cai, há mais 21 para poder dar sustentação e seguir em frente”.

Ele afirma que os objetivos dos Sem Terra baseiam-se em princípios que possam garantir o reconhecimento social de suas lutas, e que não há nada que aconteça no Brasil sem pres-são. Um exemplo disso é que de cem assenta-dos, 90 são por causa das lutas do MST.

Como dizia Paulo Freire, “essas marchas dos Sem Terra são autênticas andarilhagens históricas de pessoas que lutam pelos seus direitos... Elas demonstram, mais uma vez, que só através da mobilização é possível lutar con-tra uma vontade reacionária instalada em nosso país, que resiste à mudança”.

invasão da aracruz

“O pequeno só é pequeno porque está de joelhos diante dos grandes”, é assim que a co-ordenadora do Movimento dos Pequenos Agricultores de Taquari (MPA-Taquari), ligado à Via Campesina, Marli Becker, descreve a cau-sa de muitos agricultores não conseguirem o que desejam.

Becker ajudou a montar o MPA-Taquari em 1992, e diz, com entusiasmo comovente, que sempre lutou pelas causas sociais e pelo direito dos trabalhadores rurais. Foi através desse movimento que obtiveram acesso à

moradia, aos financiamentos e aos direitos que, antes, lhe eram negados.

Ela era uma das mulheres integrantes da invasão do horto florestal da Aracruz Celulose, que a Via Campesina liderou e organizou. Se-gundo a militante, elas queriam com esse ato, mostrar o horror que vai se tornar o Rio gran-de do Sul com a implantação desses comple-xos florestais e que as pessoas não tomaram consciência da dimensão que poderá se tor-nar os chamados “desertos verdes”.

“Com implantação dos complexos flores-tais, a água ficará prejudicada, a produção de alimentos comprometida, sem falar em todo o lixo tóxico que será despejado na natureza. E o produto, o papel, que é a única coisa boa, será exportado”, conclui ela. A mídia analisou como sendo de impacto negativo a atitude, tomada pela Via Campesina, de invadir o horto. Mas, como Becker analisa, a mídia focou por esse lado, pois os seus donos são os grandes proprietários do capital, muitas vezes, financia-dos por essas empresas. Para o movimento, foi de grande sucesso. A partir desses aconteci-mentos, as pessoas começaram a tomar co-nhecimento e, desde então, a pensar no as-sunto e refletir sobre a questão. Becker desta-ca, ainda, que o movimento está em constan-te formação. Todo mês, fazem reunião com os coordenadores, há cursos em andamento pa-ra os militantes e sempre estudam estratégias para que o povo não fique parado e possam, assim, conseguir os seus direitos.

E tudo isso leva à plena convicção de que o reconhecimento dessas diversidades so-ciais, na formação do espaço rural brasileiro, cumpre um papel fundamental na definição de políticas públicas, na medida em que as ações, voltadas à construção do desenvolvi-mento sustentável, precisam estar balizadas pela existência dessas pluralidades.

agricultores do rs em viagem de estudo a mondaí, santa catarina, para discussão do abastecimento de água potável

entenDA o contexto DAs siglAs e os movimentos existentes no rs

mst - Movimento dos Trabalhadores rurais Sem Terra.mpA - Movimento dos Pequenos AgricultoresmAb - Movimento dos Atingidos por Barragensvia campesina - Movimento Internacional de apoio aos pequenos agricultoresmmtr - Movimento das Mulheres Trabalhadoras ruraiscpt - Comissão Pastoral da Terra, ligado à Igreja CatólicafetAg/rs - Federação dos Trabalhadores na Agricultura no rio Grande do Sul

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Com os olhos voltados para o futuro, a galera do cursinho sonha alto. Em busca de seus objetivos, os adolescentes não estão poupando esforços, com força de guerrilhei-ros eles estão na corrida e não vão deixar ba-rato. Os sonhos são quase sempre os mesmos, conseguir entrar na universidade e então al-cançar o almejado diploma, mas não é fácil.

Os jovens guerreiros são bravos e nem a falta de tempo os abalam. Afirmam que, sa-bendo organizar o tempo, dá para ‘enfiar a cara’ nos livros sem esquecer das atividades prazerosas da vida. Gustavo Bertamoni, 18 anos, encara o vestibular pela segunda vez e diz estar bem mais preparado e tranqüilo, as-sim como Gabriela Brandão e Débora Baú. Os jovens, todos com a mesma faixa etária, estu-dam em média três a quatro horas por dia além do horário do cursinho pré-vestibular. Para relaxar, eles optam pela Internet, música, livros, academias e passeios ao ar livre. Mas mesmo nos horários de descontração aca-bam pensando no vestibular. É o caso de Dé-bora Baú que, na hora de ler, acaba optando pelas leituras obrigatórias. Apostando todas as fichas no futuro, os jovens se sentem pres-sionados, mas essa pressão parte deles mes-mo. “Estabeleci essa meta e vou até o fim, pos-so até estar errada mas nem penso em desis-tir”, afirma Brandão.

Preocupados com o bem estar dos filhos, os pais estão sempre prontos para apoiá-los, colocam-se à disposição, procurando ouvir e incentivar os vestibulandos. A psicóloga, Eli-sângela Schardosim, afirma que, nessa fase da vida, é muito importante uma conversa franca com os pais, onde os jovens possam expor os seus medos, ansiedades, planos e sonhos. Às vezes, a cobrança leva o jovem a um estado

forte de estresse, por isso é necessário manter com os pais um laço forte de amizade e sin-ceridade, para que eles percebam que estão sendo ajudados e não cobrados. “A cobrança dos pais, a comparação com os amigos e a insegurança são alguns dos motivos que tor-nam os processos seletivos em verdadeiros monstros para os jovens”, diz a psicóloga.

ansiedade

Quando a data do concurso se aproxima, os jovens vestibulandos começam a se esfor-çar ainda mais e então que surge um velho conhecido chamado: o estresse.

Essa doença pode atingir qualquer um de nós, mas, geralmente, é mais violenta nas pes-soas que não param nunca. Aquelas que es-tão sempre correndo e, às vezes, esquecem até mesmo de comer. Sabemos que para con-seguir bons resultados nas provas, os jovens não estão poupando energia, se dedicam ‘ho-ras a fio’ e fazem de tudo para que todas as matérias, fórmulas e regras entrem na cabeça e não saiam de lá até o dia da prova. Mas não podemos esquecer que a vida continua e que é fundamental respeitar alguns limites. Os es-tudantes não podem abrir mão de atividades culturais e sociais, devem manter sempre o corpo e a mente em forma. A correria exces-siva pode trazer muitos problemas à saúde, e o ritmo alto de estudos podem causar man-

chas na pele, pressão arterial alta, gastrites, distúrbios do sono entre outros. Também, é muito importante, na adolescência, o tempo mínimo de sono que são de oito horas por dia. A diminuição desse tempo pode causar al-guns danos ao aprendizado, gerando falhas na memória e dificuldades de assimilação. “Acho que ela administra bem o seu tempo. Mas, mesmo assim, a vejo super cansada. Não é um período muito saudável na vida dela”, afirma Mônica Baú, mãe de Débora Baú. A psicóloga diz, ainda, que quando o jovem começa a testar os seus próprios limites ele corre sérios riscos, que incluem baixa auto-estima, irritabilidade, apatia e pode se trans-formar em depressão. Por isso, lidar com a pressão significa respeitar os limites do corpo e da mente, os jovens precisam manter uma rotina saudável. Isso significa dormir bem, ter uma boa alimentação e praticar atividades de lazer. Mas na ‘hora H’ fica bem complicado de manter a calma. Débora Baú diz que se sente mais calma escutando a sua música favorita, enquanto se dirige ao local da prova. Brandão prefere controlar a respiração e pensar no seu objetivo. Bertamoni aposta as suas fichas no velho companheiro: o chiclete. “Respiro fundo e mastigo um chiclete. Para fazer a prova você tem que estar em equilíbrio com tudo. Não basta só estudar, é preciso ter tranqüilidade para por em prática tudo que estudou o ano inteiro”, conclui.

com a data das provas se aproximando, alunos se esforçam cada vez mais para alcançar seus ideais

Pés no chão,olhos no

Correndo ATRÁS dosSONHOS, jovens não poupam ESFORÇOS

futuro

gabriela fofonka

GABrIElA FOFONkA

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Visuais de Comunicação, entre outras.Selbach diz que esse curso serve para qua-

lificar a comunicação. Trabalha linguagens pu-blicitárias de uma forma subjetiva, com sof-twares, que tornam o programa mais intuitivo, mesclado com a funcionalidade.

Na PUCRS, Bruno Cézar Bragagnolo, 22, optou por um curso nas áreas tecnológicas. Está no sétimo semestre de Engenharia Me-catrônica ou Engenharia de Controle e Auto-mação. “A ocupação qualifica o profissional e torna-o ativo”, explica. A profissão serve para detectar problemas de maquinários de em-presas e fazer otimização de equipamentos. A área é abrangente e oferece várias opções no mercado.

Outra instituição que está investindo nas novas tecnologias em Porto Alegre, é o Servi-ço Nacional de Aprendizagem Comercial (Se-nac). Existem, especificamente, na área tecno-lógica, os cursos de graduação que são: Siste-ma de Informação, Tecnologia em Marketing do Varejo e Tecnologia em Hotelaria.

A gerente de educação profissional do Se-nac, Fabiane Franciscone, diz que o objetivo da escola, até pela demanda de mercado, é valo-rizar os tecnólogos. São cursos que têm dois anos e meio de duração. Os alunos recebem o diploma no final do curso, reconhecido pelo Ministério da Educação. “Por ser um curso es-pecífico, facilita ao aluno chegar mais rápido ao mercado de trabalho”, ressalta ela.

Esses cursos vêm crescendo e a procura é de quatro alunos por vaga. A faixa etária regula entre 25 e 40 anos. “Isso comprova que, pela falta de maturidade e interesse dos jovens em ler e se

Novas opções ganham espaço no mercado

O futuro dasprofissões

Os dados mostram que os cursos de gradu-ação mais procurados, em algumas instituições de Ensino Superior de Porto Alegre, são os tradi-cionais. Em 2006, o curso de Medicina ficou em primeiro lugar na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com 5.585 candidatos e na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), com 1.444 candidatos. No Centro Universitário Metodista IPA, o mais concorrido foi o de Fisioterapia, com 1.042 candidatos.

Embora essas áreas tenham grande procu-ra, cresce o número de candidatos em cursos tecnológicos. No vestibular da UFGRS de 2006/2, o curso que ingressou com a primeira turma de Design Visual teve 588 candidatos, sendo que só havia 20 vagas. Na PUCRS, a procura no curso de Engenharia Mecatrônica aumentou, foram 158 candidatos. No Centro Universitário Metodista IPA, o curso de Design de Moda, que também é novo, teve 69 candidatos.

É tímido o número de jovens que optam pelas áreas tecnológicas. Mas a Classificação Bra-sileira de Ocupação (CBO), em 2002, criou novas e reformulou antigas profissões, pois o Brasil vem sofrendo mudanças nas últimas décadas.

saindo do tradicional

Os alunos da UFRGS, Carolina Poll, 18 anos, e Leonardo Centeno Selbach, 19, estão no se-gundo semestre do curso de Design - Habili-tação em Design Visual. O curso tem, nas ha-bilitações, Identidade Visual, Sinalização, Pic-togramas, Produções Multimídias, Sistemas

informar, buscando saber sobre essas áreas, aca-ba fazendo com que a escolha profissional seja, às vezes, frustrada”, complementa Franciscone.

Estudante do primeiro semestre do curso de Tecnologia em Marketing do Varejo, Cláudia Jucimara Garcia dos Santos, 32, afirma: “sinto que encontrei minha ocupação. O curso se aproxima muito da realidade do mercado”.

O colega de Garcia Santos, Roberto Vicente, 33, também diz estar no caminho certo. Procura-va especialização, pois trabalhava na área e viu que era uma exigência da empresa. “Muitos aqui apostam que essas ocupações terão bastante ên-fase daqui a um breve período. E serão áreas con-corridas, pois o futuro caminha para a tecnologia, e a função irá se consolidar ainda mais”, analisa.

a decisão

“Quero fazer contabilidade”, responde o estudante do terceiro ano do Ensino Médio da Escola Júlio de Castilhos de Porto Alegre, Eli-mar Queiroz da Silva, 18, decidido sobre a es-colha do curso de graduação.

Na escola onde estuda, fez teste voca-cional e participou das feiras de profissões. Na época, sua escolha se inclinou mais para Engenharia e áreas de tecnologia. Hoje, tem certeza do que quer: prefere fazer Contabili-dade, pois é o curso com que mais se iden-tifica. A família procurou influenciá-lo para Administração, mas Queiroz da Silva teve au-tonomia para fazer a própria escolha.

Para auxiliar os alunos, os orientadores vo-cacionais da Escola Júlio de Castilhos, Carmem Lúcia Belaguarda Flores e Joelso Marques de

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apesar dos esforços do governo federal em solucionar o problema do desemprego, verifica-se um cresci-mento de profissionais que estão tro-cando sua área de atuação. essas mu-danças acontecem nos mais diversos setores. na atualidade, os profissio-nais estão optando por uma troca de emprego, na busca de um ambiente satisfatório no trabalho, outros, devi-do à obrigatoriedade para suprir suas necessidades.

o chefe de cozinha, francisco Ja-ckson rivas, era técnico contábil, atuou seis anos no ramo. mesmo com uma boa remuneração, optou por mudar de emprego. encontrou, na culinária, sua realização profissional. trabalhou em diversos restaurantes e atua, há oito anos, nessa área. ele afir-ma: “financeiramente, ainda, não che-guei ao nível desejado. com o merca-do muito competitivo, a exigência aumentou na minha vida profissio-nal”. mas ressalta “que o prazer em ob-ter um elogio, um agradecimento por um bom serviço é muito satisfatório”.

outro exemplo é o de ricardo coimbra da rocha, que trabalhava com pesquisas em engenharia elétri-ca. direcionou sua vida profissional para a área da computação. há oito anos, trabalha nesse ramo com dire-ção de arte, criação de personagens, desenvolve jogos para pc, serviços de arte, programação e jogos de de-senvolvimento. afirma que o am-biente de trabalho é agradável, com um clima profissional bom. conside-ra que as tarefas a serem executadas favorecem para um bom desempe-nho profissional. rocha considera “a área da informática como um ramo que paga acima da média. existe uma flexibilidade com horários, e a liber-dade para trazer à tona assuntos a serem discutidos”.

mais um caso é o de marcus viní-cius anflor, formado em turismo e economia. atuou, diretamente, no se-

tor do turismo de 1984 a 2002, onde ainda atua como consultor. atual-mente, trabalha na companhia de geração térmica de energia elétrica (cgtee) como assessor da presidên-cia e, também, na função de coorde-nar o marketing da empresa, e no se-tor de patrocínios e assessoria de co-municação. atuando em duas áreas distintas, anflor relata que “na área do turismo, não se ganha muito dinheiro. em contrapartida, se tem a possibili-dade de viajar com mais facilidades”. em relação ao ambiente privado, “a disputa é maior pelo mercado e pela posição, pelas características do am-biente competitivo e de resultados. algumas pessoas não conseguem conviver sob situações de estresse”. hoje, trabalha no setor privado devi-do ao custo-benefício.

as mudanças, na área profissio-nal, são, para muitos, uma barreira a ser ultrapassada. para outros, a mu-dança é essencial.

alguns desses fatores, que levam a mudanças, são causadas por “sinais de cansaço, alterações físicas e men-tais, depressão, diminuição de rendi-mento nas atividades profissionais e sociais, impaciência e irritabilidade em situações do cotidiano”, como afirma a psicóloga Janice da rosa pureza.

importante ressaltar que, em muitos casos, as pessoas não têm a possibilidade de escolha: às vezes, têm que trabalhar nas atividades que conseguiram, pois necessitam sobre-viver e sustentar suas famílias. e os sonhos acabam ficando para depois. muitas pessoas estão mudando a área profissional em busca de benefí-cios para si mesmo. muitos almejam uma vida profissional saudável. a psi-cóloga alerta que a principal questão é o que se quer, a satisfação, levando a realização profissional ou serviço, no qual restará um sentimento de frustração, compensada por um bom custo benefício.

Que opção seguir?Deixar ser levado pela VOCAÇÃO PROFISSIONAL, escolhendo um serviço gratificante, ou optar por ganhar DINHEIRO indiferente de qualquer situação num ambiente de TRABALHO?

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Priscila BIttencourte

roberto vicente diz estar otimista com o curso

Morais, dizem que faziam teste vocacional dentro da escola. Mas, ao longo do tempo, o número de alunos foi aumentando e a quanti-dade de orientadores diminuindo.

A escola formou parceria com a UFRGS, PU-CRS, Faculdades Rio-Grandenses (Fargs) e a Uni-versidade do Vale dos Sinos (Unisinos) para a visitação dos alunos nas feiras de profissões, que acontecem dentro das instituições, com stands mostrando um pouco sobre cada profissão.

Outra aluna do terceiro ano do Ensino Mé-dio da escola, Bruna Schatkoski, 18, sabe que é importante estar sempre em contato com a tecnologia, e que até mesmo um “agrônomo” tem de se qualificar frente às constantes mu-danças. Ela pretende fazer Agronomia, pois gosta do contato com a terra: “dentro da insti-tuição, nunca tive acesso às áreas de tecnologia. Acho que a responsável em abrir esse caminho é a própria escola”, afirma Schatkoski.

orientação profissional

O psicólogo vocacional, filósofo e educa-dor social, Sérgio Moacir, orienta os jovens e ressalta a importância de observar quais são as profissões de demanda no mercado de traba-lho, e a necessidade de associar os desejos e vontades na hora de escolher a profissão.

Na hora da escolha, é complexa a decisão, pois existem influências familiares, influência do próprio convívio diário e o principal, que é a falta de informação. “Conjugando todas es-sas questões, constata-se que é preciso edu-cação social”, afirma o psicólogo.

Muitas vezes, o que impede a escolha pe-las áreas tecnológicas é a velocidade em que as informações são transmitidas. Isso gera uma dificuldade de assimilação no processo de construção. Outra questão que não pode ficar de fora é o aspecto de trazer para perto do jo-vem a realidade social. Moacir sugere a divul-gação através dos meios de comunicação e das instituições educacionais, familiarizando os jovens com as novas tecnologias.

O psicólogo conta que, no atendimento aos jovens, a maioria não se decide na primeira escolha e, quando opta sem pesquisar sobre o curso, acaba se frustrando: “por não ter maturi-dade e por ter medo do novo, termina esco-lhendo o tradicional”, complementa Moacir.

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Apaixonadaspela profissão

“Aqui fala o seu Repórter Esso, testemu-nha ocular da história”. Com essa vinheta de abertura, surgiu o primeiro jornal de sucesso da televisão brasileira, o Repórter Esso, que ficou no ar de 1953 a 1970, na extinta Tupi.

Com as inovações tecnológicas importa-das dos EUA na década de 1960, abriu-se es-tradas para o surgimento de um novo forma-to de telejornalismo, mais dinâmico, com re-portagens internacionais via satélite, que se espalhou pelas diversas emissoras do Brasil.

Desde a criação dos telejornais brasileiros, a luta das mulheres, ao longo da história, re-sultou no fim das barreiras que existiam entre as denominadas editorias femininas e mascu-linas. Com isso, houve um crescente domínio delas nas reportagens de política, que se es-palhou pelas editorias de economia, negó-cios, cultura, ciência e tecnologia.

No telejornalismo gaúcho, a forte pre-sença feminina vem fazendo história e ins-pirando mulheres desde 1972, quando sur-giu a primeira apresentadora da televisão gaúcha, Tânia Carvalho, à frente do Jornal do Almoço. Além de levar informação diaria-

mente à população, trazem um pouco de leveza e suavidade para a televisão.

Estar atualizado, buscar melhores quali-ficações, criar ambiente favorável de equipe, e não se contagiar com o excesso de vaida-de do meio são alguns itens indispensáveis para se manter no telejornalismo, segundo Vera Armando.

Apaixonada pelo jornalismo desde pe-quena, começou a carreira no interior do Rio Grande do Sul, na cidade de Santa Maria e, atualmente, é a âncora do Pampa Meio Dia, exibido, diariamente, na TV Pampa.

projetos

Além do trabalho no jornal, desenvolve projetos paralelos como congressos, even-tos sociais e beneficentes. Apesar da forte ligação com o universo das socialites não se considera uma. “Não sou uma dondoca. Sou uma trabalhadora sem grandes sonhos de consumo, que não gasta além do que pode. Que não se deslumbra com futilidades. Fre-qüento a sociedade e convivo com pessoas legais”, explica.

Esse contato interativo com o público, através dos eventos e do programa, criou um laço extremamente afetuoso, o qual é manifestado através de cartas, e-mails e até telefonemas. Ela comenta que, seguida-mente, é abordada em diversos lugares.

A rotina de quem trabalha na televisão é sempre muito dinâmica. Após o encerra-mento do jornal, é realizada uma reunião, onde são discutidos os erros e acertos, e a pauta do dia seguinte. Uma grande preo-cupação está em fazer a seleção das infor-mações. “Antigamente, corríamos atrás da notícia. Hoje, a notícia corre atrás de nós. É necessário ter muito cuidado para não se satisfazer com isso”, explica Cristiane Fin-ger, outra personalidade marcante no jor-nalismo gaúcho.

Ela é Editora regional do SBT, Coordena-dora do Curso de Jornalismo da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e apresentadora do SBT Rio Grande, o primeiro telejornal gaúcho a conquistar o Prêmio Esso. Finger relata que, no início da

carreira, foi complicado entrar no jornalis-mo, por ser um ambiente masculino na épo-ca, e que chegou a sofrer preconceito por ser mulher. “Hoje, acredito que ainda este-jam faltando mulheres em cargos de chefias dos grandes veículos. Esse é um desafio a ser cumprido”, salienta.

A editora regional do SBT passou por algumas emissoras e chegou a trabalhar no polêmico Aqui e Agora, que marcou histó-ria na televisão brasileira pela linha edito-rial policial nunca antes experimentada. Também, ressalta o cuidado que se deve ter ao trabalhar em televisão, pois há uma grande responsabilidade em passar credi-bilidade para o telespectador. Segundo ela, a principal função do jornalista é informar as pessoas, dando suporte para que elas pos-sam tomar suas próprias decisões diante dos fatos que lhes são expostos. Além disso, fazer com que as instituições sejam fiscaliza-das para assegurar a democracia no país.

Para as entrevistas, talento independe do sexo, e capacidade profissional não está atrelada a um cromossomo “x” ou “y”. As mu-lheres estão conquistando cada vez mais o seu espaço no mercado de trabalho.

Arquivo pessoal

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EVANDrA JACQUES

vera armando, âncora do pampa ao meio dia

Arquivo pessoal

cristiane finger, apresentadora do sbt rio grandeUn

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gua, produz programas importantes da Rádio Gaúcha, como “Sala de Redação” e “Jornada Esportiva”. Ela revela que, desde pequena, gostava de esporte, e que, por estar há cinco anos na Rádio Gaúcha, conquistou o respeito de todos. Mesmo assim, diz que sofreu com o preconceito e, no primeiro mês na rádio, che-gou a chorar e a dizer que nunca mais voltaria a trabalhar com esporte. “É muito complicado trabalhar só você em um meio cheio de ho-mens”, confessa. Alvim dá uma dica para as mulheres que pretendem seguir a carreira: “é fundamental admitir que, provavelmente, a maioria dos homens entendem mais do que você sobre futebol e que é preciso ser humil-de para perguntar e aprender com os colegas de trabalho”.

É impossível falar de mulher no jornalis-mo esportivo sem citar aquelas que mais apa-recem na mídia televisiva. A repórter e apre-sentadora Eduarda Streb, 11 anos de RBSTV, logo de manhã, acorda muitos gaúchos falan-do de esporte no Programa Bom Dia Rio Gran-de. Ela comenta situações interessantes e inu-sitadas pela qual passou: “em meu primeiro jogo como repórter de campo, éramos ape-nas eu e mais uma colega, cobrindo Inter e Figueirense, em Santa Catarina. Durante a par-tida, a produção nos informou de que vários homens estavam ligando para a TV indigna-dos, pois não aceitavam que duas mulheres cobrissem futebol. Foi a única situação de pre-conceito pela qual eu já passei. Agente vai conquistando nosso espaço”. Duda, como é chamada por todos, confessa que uma das coisas que as pessoas mais têm curiosidade de saber é se ela entra no vestiário dos joga-dores. Ela diz que não: “a única vez que entre-

vistei um jogador, no vestiário, foi o Fabiano, do Internacional, mas ele estava coberto com uma toalha. Isso não existe mais. Hoje, já exis-tem as salas para entrevista coletiva”. Na Ban-deirantes, a presença feminina se destaca no programa “Toque de Bola”, apresentado pelo jornalista Leonardo Meneghetti. Débora de Oliveira enfrenta os seus colegas em debates sobre o futebol gaúcho. Oliveira também conquista o coração dos torcedores com no-tícias e reportagens direto do campo. Além disso, apresenta o programa “Esporte Total” na Rádio Bandeirantes.

Na mídia que reúne áudio, vídeo e escrita, certamentamente, existem mulheres jornalis-tas falando de futebol. É no Blog “Clube das Bolinhas” que as gurias da RBS, Ana Acker, Cín-tia Hohmann, Ana Rosa, Mari Hahn e Tati Lo-pes soltam o verbo. Elas falam de temas varia-dos, de fofocas do mundo da bola até as no-tícias mais corriqueiras e comuns como “Inter vence o Grenal”. O interessante é esse outro enfoque que elas dão, notícias divertidas so-bre o jeito de se vestir dos jogadores, os mais belos dos campos e outras. Segundo elas, o legal é que, por ser um blog, podem postar várias notícias no mesmo dia, a qualquer hora e onde estiverem. Além disso, ainda têm a possibilidade de receberem comentários, que dizem ser a maioria positivos. Para elas, é isto que difere a internet dos outros meios de co-municação: a possibilidade de notícias instan-tâneas e maior interatividade com o leitor.

As jornalistas esportivas gaúchas vêm conquistando seu espaço na mídia nacional e tornando-se cada vez mais reconhecidas, pro-vando que mulher pode sim ser bonita, inte-ligente e ainda entender de futebol.

Invasão feminina em campo masculino

De salto alto, maquiagem e cabelo esco-vado, as mulheres entram em cena para mos-trar que entendem de esporte tanto quanto os homens. Até pouco tempo, elas lutavam pela igualdade, reivindicavam, exigiam direito ao voto e a serem reconhecidas profissional-mente como os homens. Hoje, “invadem” um espaço dominado por eles e vêm se tornando reconhecidas não só pela beleza, mas, tam-bém, pelo conteúdo.

Na redação do Zero Hora (ZH), as mulhe-res driblam o preconceito e mostram real-mente entender do assunto. A editoria de esportes é composta por 15 homens e três mulheres. A repórter Daniella Peretti edita matérias sobre futebol. No esporte amador, a editora e repórter, Deca Ribeiro, na editoria de esportes desde 1999, e a jornalista Loraine Lus redigem matérias. Ribeiro também atua na cobertura de outros esportes como auto-mobilismo e punhoball. Ela diz que foi vítima de preconceito apenas uma vez e que isso está mais na cabeça da mulher do que no próprio ato em si. O editor geral de esporte do ZH, David Coimbra, fala do possível pre-conceito existente no meio futebolístico: “acredito que exista um conceito de que mu-lher não entende de futebol, pois são poucas que realmente entendem desse assunto”. Coimbra cita, com carinho, as suas colegas jornalistas e diz que “Deca é a princesinha da editoria esportiva”.

Não é só no jornalismo impresso que as jornalistas esportivas marcam presença. Por traz dos microfones do rádio, Paula Alvim, loi-ra, alta, cabelos lisos, futebol na ponta da lín-

eduarda streb, 11 anos de rbstv, cobrindo partida de futebol

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Mundo dosAs empresas são diversas. Os gays e lésbi-

cas têm, cada dia, mais opções para se divertir e usar serviços específicos sem preconceito. Porém, os empreendimentos, aqui no Estado, não resistem ao preconceito da sociedade tradicional gaúcha, diferente do que aconte-ce pelo mundo.

Disney, Beto Carreiro World, Wet Wild? Não, agora os gays, lésbicas e simpatizantes têm o seu próprio espaço para diversão, lazer e negócios. Agências de viagem, resorts, par-ques de diversão, boates, corretora de segu-ros e praias particulares têm os seus dias re-servados para esses grupos. O secretário geral do Nuances, ONG gay, lésbica, bissexual e transexual (GLBT), Célio Golin, revela a exis-tência de lugares exclusivos para eles.

Na verdade, tudo começou no berço da aceitação de homossexuais, a cidade de São Francisco. Vendo que tudo poderia ser uma grande sacada, o resto do mundo aderiu a es-se tipo de empreendimento. O turismo gay é forte em várias cidades do mundo: São Fran-cisco, Los Angeles, Paris, Nova York, Amsterdã, Londres, Sidney, entre outras. Isso tudo é o que Golin e muitos sites estão demonstrando, empreendimentos trabalhando com um seg-mento criativo e exclusivo.

Em junho de 2004, foi lançada, em São Paulo, a Associação Brasileira de Turismo Gay

Nos seus direitosNo Brasil, os homossexuais ainda não têm o direito de se casar. Por isso, surgiu uma empresa com in-

teresse em auxiliar esses casais a proteger o seu patrimônio. Há dois anos, em São Paulo, uma assegurado-ra de grande nome internacional lançou um produto exclusivo para casais gays. A auxiliar administrativa, Dilma Melo, e a sócia-gerente, Railda Lenhart, informam que, há cinco meses, esse produto passou a ser comercializado em Porto Alegre. O seguro tem a finalidade de amparar o falecimento ou invalidez, e auxí-lio funeral. O produto se destaca por oferecer um atendimento sem qualquer diferenciação. A única exi-gência seria com relação ao parceiro fixo. Ou seja, é necessária uma declaração comprovando a união es-tável do casal.

Melo e Lenhart opinam sobre os negócios gerados pelos homossexuais como importantes para a economia não só nacional, mas internacional: “sem dúvida, o mercado gay cresce dia após dia, e, com cer-teza, se ampliará cada vez mais”, diz Melo. “O maior objetivo da empresa é a ampliação do serviço para o público gay e, com a ajuda de pessoas que rejeitam o preconceito, esse objetivo se tornará possível”, res-salta Lenhart.

A divulgação do produto para casais gays é efetuada via folders, encartados em jornais e casas noturnas que atentem a esse público. Apesar de várias maneiras de mostrar o produto para os homossexuais, ela escolheu uma alternativa para chegar diretamente aos GLTBs.

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Lésbicas e Simpatizantes (ABRAT-GLS). O grupo recebeu apoio da Empresa Brasileira de Turismo (Embratur). A associação preten-de capacitar agentes e guias turísticos no Brasil e divulgar os destinos brasileiros no ex-terior. Em São Paulo, as portas, para esse em-preendimento, estão abertas, diferente do que ocorre no Sul. Para o secretário geral do Nuances, os empreendimentos, aqui no Es-tado, têm muitas dificuldades. “Diferente de São Paulo, que é conhecido pelo mundo e que tem uma tradição de aceitar novas cul-turas”, disse Golin.

O turismo, aproveitando essa onda de faturamentos promissores, cria pacotes es-pecíficos para esse público. Viagens em que os passageiros buscam calmaria, discrição e vivência de momentos felizes. Em Porto Ale-gre, não são muitas as empresas de turismo que estão fazendo um trabalho exclusivo pa-ra os gays, mas há empresas que abrem pa-cotes para esse fim. Uma empresa de turis-mo que, há dois anos, no Rio Grande do Sul, abriu o atendimento para esse segmento GLBT, revela que os clientes preferem locais especializados, como, por exemplo, os ho-téis. A empresa informa que, como não há uma demanda muito grande por pacotes em grupo, as viagens individuais ainda são as mais vendidas.

No turismo

pião multi-coloridorepresenta a diversidade

Fotos: Alexandre Soares Pinto

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Na mídiaEm 2004, surgiu, em São Paulo, a primeira webra-

dio GLBT do Brasil. De acordo com dados do site, a rádio está firmando parcerias de sucesso com sites e portais regionais, disponibilizando a sua programa-ção 24 horas, em tempo real, e propiciando maior permanência do internauta no site parceiro. Com uma linguagem jovem e clean, a rádio se comunica facilmente com os públicos jovem e adulto, formado-res de opinião, consumidores em potencial e fre-qüentadores de eventos em geral, bem como aque-les que buscam entretenimento e diversão de forma simples e rápida, como em um clique.

Há, também, muitos programas que estão abor-dando o tema homossexual. É o caso de novelas, pro-gramas especiais com peculiaridades gays, seriados, programas de auditório e muitos outros meios de atingir e cativar o público GLBT.

As opiniões e empreendimentos que estão surgin-do, com enfoque nesse meio, estão vivendo dificulda-des. No entanto, a forma criativa e empreendedora des-ses negócios vem demostrando o quanto ele é impor-tante para a sociedade. Os empregos que essas empre-sas vêm gerando e a circulação de dinheiro para investimentos conduzem o mundo a ter menos preconceito sendo atacado pelo bolso.

Existem casas noturnas que propiciam diversão para os homossexuais. A música empolgante e com batidas dife-rentes são as atrações desses locais. Acontecem shows em um palco glamouroso com “drag queens” que apre-sentam atrações muito criativas. Isso tudo é visto por um grupo de amigos que se encontram para dançar e sair da rotina preconceituosa do mundo lá fora.

Para o dono de uma casa noturna, Lolita Boom-boom (nome artístico), os investimentos são mui-to necessários. Em torno de R$ 3 mil, é o que a casa gasta por mês com shows, atrações, novidades musi-cais e equipamento. Ele revela que um cliente, em média, não gasta muito. Porém, há aqueles que extrapolam gastando cem vezes mais do que a média.

Todo esse dinheiro investido está garantindo emprego e fa-turamento para outros fins. Se for analisar, há uma gama de em-presas e pessoas contratadas por essas casas noturnas. Dentro de uma boate, que tem capacidade para 500 pessoas, no míni-mo, dez funcionários trabalham nas noites que a danceteria abre. Há, também, as empresas de decoração, que são benefi-ciadas, construtoras para reformar ou construir um ambiente novo, e os artistas que fazem espetáculos para a casa.

Na NightNo Rio Grande do Sul, há muitas em-

presas que trabalham com esse público, explorando o sexo. Essas casas seriam boates, saunas e vídeo locadoras. Para o Nuances, esses negócios existem por causa da discriminação: “como a socie-dade é muito preconceituosa, essas pes-soas procuram esses locais para se diver-tir”, revela Golin. “Existem muitas casas noturnas com especialidade de sexo he-terossexual. Não é por isso que casas que trabalham com sexo homossexual de-vem ser mal vistas. Cada um tem o direi-to de pagar pelo que quiser”, é o que afirma o secretário geral do Nuances.

Os sócios de uma casa, voltada para o público gay, oferecem um ponto de re-lax com sauna, sala de massagens e cabi-nes particulares para relações sexuais. Eles afirmam que o público vê aquilo como um refúgio, onde os sentimentos e dese-jos se transformam em prioridades.

No prazer

Dentre muitos sites de relacionamento, uma empresa que atua há cinco anos, em Porto Alegre, se destaca. Ela visa encontrar alguém para uma pessoa que está solteira e, por timidez, ou outros motivos, não consegue encontrar uma pessoa. Segundo a dona do empreendimento, Rita Fedon, o trabalho realizado é feito de forma tranqüila e minu-ciosa, pois, para encontrar um parceiro, o agrado deve partir dos dois. Há um ano, Fedon abriu as portas para o segmento GLBT. O serviço conta com passos importantes para se ter o perfil do cliente, além de psicólogos e outros profissionais que ajudam na escolha e na arte da paquera.

O gasto de um cliente para esse serviço é de R$ 550 por ano. A proprietária informa, ainda, que a empresa quer melhorar o serviço para o público gay, disponibilizando ad-vogado para o casal. Afinal, casais homossexuais não têm o direito de se casar. No en-tanto, existe a possibilidade de se fazer uma declaração de união estável, necessária para obter algum direito e, também, para fazer um seguro de vida, como foi dito, tudo para garantir e proteger o patrimônio do casal.

Na conquista sentimental

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Ataque da mulher-bichaElas arrasam, fazem a águia e, geralmente,

são desprendidas na hora do sexo. São as mu-lheres-bichas, nomenclatura dada pelos pró-prios gays a uma tribo de mulheres que os adora tanto a ponto de assumir aspectos das personalidades dos homens homossexuais. As mulheres-bichas têm preferência por ex-centricidades e são seguidoras dos gays até mesmo nos lugares mais obscuros.

A estudante de Relações Públicas, Aline Brustolin, 27 anos, há sete, deixou o mundo dos héteros para andar com os gays. Não é o mundo gay típico, com drag queens e boates onde a diva mor é Madonna. É um meio mais alternativo, onde as pessoas transpiram cultu-ra e vão a festas descoladas de rock n’ roll.

“Minha vida se divide em antes e depois dos gays. Casou com uma época em que co-mecei a fazer terapia e me encontrei mais co-mo ser. Resolvi encarar as coisas que gosto e que me fazem bem e isso só foi acontecer com os gays”, explica Brustolin.

Com a convivência, as mulheres abertas às novas experiências acabam explorando possibilidades e conhecendo um universo por onde antes não imaginavam passar. “Fui assistindo a filmes que talvez não tivesse visto se não fosse por eles. Conheci músicas e fui ampliando meus interesses. Uma coisa puxou a outra”, conta a estudante.

Luxo, brilho, lantejoulas, maquiagem e fas-cínio por glamour sempre serviram como for-ma de magnetismo para muitas mulheres se sentirem atraídas pelo mundo gay. Quem pen-sa que esse negócio de “mulher-bicha” é de hoje se engana. A ex-vedete Carmen Verônica foi, por anos, considerada um ícone gay. Refi-nada e cheia de caras e bocas, ela ganhou, na década de 1950, o título de “Rainha da Frescu-ra”, graças a sua voz melosa, sua maneira de ser. A atriz destacou-se, recentemente, por viver a personagem Mary Montilla na novela Belíssi-ma, uma espécie de homenagem do autor Sílvio de Abreu à própria Carmen Verônica. A apresentadora Monique Evans é outra famosa considerada por muitos uma mulher-bicha. Ela é irreverente e não tem papas na língua.

Desprendidas quando o assunto é sexo, as “MB” gostam de conversar com os amigos gays sobre suas relações sexuais. Comentar quando um “bofe” bonito passa na rua tam-bém é sempre um passa-tempo divertido. “É muito importante dividir opiniões sobre sexo com homem. É muito diferente das mulheres. Com elas, é um pouco difícil de chegar ao

ponto escatológico da coisa, discutir tama-nhos e espessuras. Me sinto muito mais à von-tade com meus amigos”, confessa Brustolin.

Para a psicóloga Lúcia Helena Campos, “es-se comportamento está associado a uma ca-rência de figuras masculinas. Os gays não têm interesse sexual pelas amigas. Aliás, muitas ve-zes, eles dividem os mesmos gostos. Pode ser apenas uma fase que se encerra quando a mu-lher arruma um namorado para sanar suas ca-rências”. A classe gay, muitas vezes, também acaba preferindo a amizade com as mulheres a dos próprios homossexuais. “São poucos os amigos gays em que posso confiar. Entre nós, sempre existe algum tipo de disputa territorial. Com mulheres, não há isso, e o mesmo elas sentem em relação a nós. É muito difícil esta-belecer relações de confiança, mas, com as MB, isso acaba funcionando melhor”, explica o estudante de moda Raphael Sholl.

“Tenho tido problemas em aturar ‘mulher-zices’. Realmente, não sinto falta do meio hé-tero, mas sim de homens cabeça aberta que aceitem os gays e freqüentem lugares alter-nativos. Tem muitos, mas ainda são poucos pra tanta mulher”, conta Brustolin.

A estudante, assim como a maioria das MB, encontra, nos gays, uma família: “meus amigos são tudo na minha vida. Me vejo co-mo uma mulher que, de repente, pode não casar. Vou ter minha família nos gays pro resto da minha vida e é uma coisa de escolha”.

uma nova linguagem

“Aurélia, A Dicionária da Língua Afiada” é o nome do dicionário politicamente incorre-to que traz, em 143 páginas, centenas de ex-pressões usadas pelos gays (veja quadro aci-ma). Grande parte dos termos se origina do bajubá, linguagem adotada pelas travestis, que se popularizou juntos aos ou-tros gays. “Picumã” quer dizer “ca-belo”. “Alibã” significa “policial”. “Oxanã” é o mesmo que “cigarro”. “Aqüendar” pode ser interpreta-do de várias maneiras. Significa “pegar” (algo ou alguém) ou, então, “prestar atenção” (em algo ou alguém).

Mulher bicha que se pre-ze tem de saber “aqüendar o bate” (falar com a linguagem gay). “Conforme fui conviven-do com os gays, eu fui ouvin-do palavras que eram inéditas pra mim. Fui perguntando e,

de tanto ouvir e repetir, nessa convivência qua-se diária, eu aprendi e incorporei ao meu voca-bulário”, diz a estudante Aline Brustolin.

Formada por Marisa Touch Fire e Dolores de las Dores, a dupla Las Bibas from Vizcaya é sucesso na internet. Elas conquistaram fama em boates de São Paulo, como o tradicional Club Aloca. Tornaram-se conhecidas no país inteiro e arrasaram ao lançar, no site de vídeos Youtube, uma versão dublada de cena da no-vela Vale Tudo. No vídeo, intitulado “Vale Tudo, Fia”, as Bibas dublam a voz de Odette Roitman (Beatriz Segall) e Heleninha (Renata Sorrah), incluindo termos como “toda cagada”, “cafuçu” (que se designa para homem) e “miguxinha”.

Com vídeos, podcasts e músicas bomban-do na internet, a dupla lançou “The Greatest Mix Collection”, um disco com músicas bem humo-radas e debochadas, no qual introduzem o no-vo vocabulário. “Bee faz a águia”, “Beshalinda”, “Você me incendeia”, “Agressiva” e “Kiridjinha” são alguns dos nomes das músicas que foram, inclusive, lançadas de forma independente na Europa. Responsáveis por expressões como “mágoa de cabocla” e “encosto de chacrete”, Las Bibas from Vizcaya disponibilizam seu acervo no site oficial www.lasbibasfromvizcaya.com. Graças a elas, um novo tchau, também, se po-pularizou. Não se surpreenda quando ouvir pessoas dizendo “um beijo e me liga” ao se des-pedirem.

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a estudante de rp, aline brustolin, é uma mulher-bicha assumida

Gabriela Casartelli

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A data de 14 de julho de 1913 pode ser um dia comum para a maioria das pessoas. Mas, nesse dia, nasceu um tradicional clube da capital gaúcha. Uma agremiação que desbravou o mundo e originou as catego-rias de base no Rio Grande do Sul. Esse mes-mo, que hoje está tentando retornar à elite do futebol gaúcho. Chama-se Esporte Clu-be Cruzeiro, o Cruzeirinho para seus torce-dores e simpatizantes.

Nos primeiros 30 anos de existência, foi um clube que colocava medo nos adversá-rios, e fazia a dupla Gre-Nal tremer. Chegou a ser reconhecido como a terceira força de Porto Alegre, atrás do Internacional e do Grê-mio. Agora, perdeu essa posição para o São José, o Zequinha. O responsável pelo marke-ting e comunicação do clube, Paulo Roberto Barbosa, explica o porquê dessa situação de altos e baixos: “O Cruzeiro, por muito tempo, esteve com muitas dívidas, o que não deixa-va ao clube muitas saídas para voltar ao seu status de outrora”.

Outro período áureo foi o pioneirismo em excursões para a Europa, Ásia e Oriente Médio, na virada de 1953 para 1954. Depois de 11 dias viajando de navio, jogaram contra times considerados grandes, como Real Ma-drid, Lázio, Fenerbahçe, Besiktas e Gala-tassaray, além da seleção do Isra-el e da Turquia. Tiveram resul-tados positivos. Voltaram com um aproveitamen-to de 55,55%. “A excur-são foi proveitosa, além de ser desbrava-dora”, conta o estudioso do futebol, Mário Luiz Schemes.

A excursão foi tão capa-citada que o clube voltou, em 1960, à terra dos des-bravadores. Voltaram com um aproveitamento pa-recido, 54,16%, jogando 24 partidas, com 11 vi-tórias, seis empates e sete derrotas. Com es-

sa campanha, conseguiu um título: o Tor-neio de Páscoa de Berlim, um campeona-to importante para a época.

O Cruzeiro conseguiu a glória máxima para um time do Rio Grande do Sul. Em 1929, depois de ter conquistado a cidade por duas vezes, 1918 e 1921, conquistou o Estado, na primeira participação (partici-pou, depois, dos campeonatos de 1961 a 1965, 1969 a 1972, 1976 a 1978). Entrando, assim, para o rol dos poucos clubes que ga-nharam o Campeonato Gaúcho de Futebol Profissional com um time formado por alu-nos universitários e estudantes da Escola Militar de Porto Alegre.

Em 1929, apenas sete clubes tinham ga-nhado o campeonato. Além desses títulos, o Cruzeiro conta, na sua galeria, com o pri-meiro Torneio Internacional de Páscoa de Mar Del Plata, na Argentina, em 1961, e sa-grou-se o primeiro Campeão da Taça Gover-nador do Estado em 1970.

O Cruzeirinho está numa situação complicada na Copa FGF (décimo numa chave que tem 12 clubes). O estudioso Schemes mostra toda a descrença dos sa-bidos da área: “o Cruzeiro está vegetando, está um negócio inacreditável. Não tem

como ter projeto um clube que não tem sócios”. Ele dá uma dica para o

clube crescer: “eles têm de fazer uma parceria com o

Internacional ou o Grê-mio para colocar os jo-gadores que não es-tão jogando na vitri-

ne”. Para um clube com as dificuldades do Cru-

zeiro, ir para primeira divi-são seria, como diz Moacyr

Scliar no livro “A Colina dos Sus-piros”: “os gols são raros, mas, quando acontecem, volto a sentir a emoção do garoto que chutava a bola nas ruas

do Bom Fim: é como se eu tivesse conquistado a Copa do Mundo”.

Em busca da glóriaUm clube com TÍTULOS e passagensMAGISTRAIS pelo futebol nacional einternacional. DISPUTANDO a Copa FGF,ele está sempre buscando a GLóRIA

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Rodrigo Pires

Na noite de São João, de 24 de junho de 1863, um

grupo de pessoas com um forte sotaque alemão se jun-

tou para firmar os seus costumes e a sua cultura, fun-

dando a Gesellschaft leopoldina. Os encontros começa-

ram no número 185, da rua Dr. Flores, no centro da ci-

dade, onde ficava o prédio da Sociedade dos Cantores

Alemães. Posteriormente, esse prédio foi adquirido e

obedeciam aos ditames da tradicional severidade ger-

mânica, punindo com multa os sócios que não compa-

reciam às reuniões. Em 1880, a forte influência da his-

tória e cultura alemã fez com que todas as atas do clube

fossem assinadas em alemão, língua que praticamente

todos os seus integrantes dominavam. Foi quando João

raupp sugeriu a utilização do português como idioma,

pois facilitaria a vida dos sócios de outras descendên-

cias, que haviam se integrado à Gesellschaft, porém a

falta de um redator com domínio nos dois idiomas, fez

com que esse plano atrasasse um ano.

Em 1903, a pacata Porto Alegre pouco oferecia

em termos de diversão aos jovens, ainda emocionados

com a virada do século. Mas para que isso pudesse mu-

dar, um grupo fundou o Club recreio Juvenil, no dia 7

de outubro, aceitando como sócios apenas solteiros.

Esses mesmos que vinham revolucionando o marasmo

das tardes de domingo com reuniões-dançantes.

A estudante de Administração da Universidade

Estadual do rio Grande do Sul (UErGS), Catarina Colla-

res,18 anos, sócia há mais de cinco anos do Clube Asso-

ciação leopoldina Juvenil (AlJ), conta que, desde os

primeiros meses de associada, aproveita ao máximo as

dependências do clube. Desde as canchas de tênis, pas-

sando pelo bar, piscina, sala de leitura e academia.

Mas nem só de sócios recentes é formado o qua-

dro social do clube. yone Borba Dias, 81, personalida-

de do clube há 53 anos. Dias afirma que o clube é sua

segunda casa, onde se acostumou a deixar os três fi-

lhos com o porteiro, seu Odorico, que os cuidava. Sua

história no clube é significativa, dos tempos que par-

ticipava de torneios de tênis, em diversas partes do

planeta, sempre com a camisa da AlJ.

O nascer de um grande clube

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Atletas GAúCHOSse preparam paraCOMPETIÇÃO

Falta pouco. Em 13 de julho de 2007, co-meçará, no Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, o maior evento esportivo realizado no Brasil desde 1963: os Jogos Pan-Americanos. E nada mais justo do que a escolha da “cidade maravilhosa” como sede dessa versão conti-nental das Olimpíadas, que reunirá 5.550 atle-tas de 42 países. Segundo o amante dos espor-tes, professor de Ed. Física Miguel Cantori, 27 anos, os Jogos têm tudo para ser um sucesso. “O Pan será muito importante para o Brasil, pois, além de se tornar o centro das atenções, o país se beneficiará com a série de investimen-tos que estão sendo feitos”, afirma Miguel.

Após uma fracassada tentativa de sediar os Jogos Olímpicos de 2004, a cidade carioca não se deu por vencida e foi a única que se credenciou em tempo hábil junto ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB) para concorrer à se-de dos Jogos. Depois de uma disputa acirra-díssima contra a cidade de Houston, nos EUA, o Rio de Janeiro foi eleito, na Assembléia Geral da Organização Desportiva Pan-Americana (ODEPA), em 2002. Desde então, foi constituí-da pela COB uma Organização Não-governa-mental chamada de CO-RIO, encarregada da organização e realização do evento.

No Pan 2007, todas as modalidades olím-picas serão disputadas. Elas variam desde as mais tradicionais, como futebol, vôlei, bas-quete e natação, até as desconhecidas para muitos, como taekwondo, beisebol, softbol, badminton, entre outros. Mas, também, terá os esportes chamados de não-olimpícos, que ainda buscam esse reconhecimento para par-ticipar de uma Olimpíada valendo medalha. São exemplos desses esportes o squash, o bo-liche e até mesmo o futsal, aparecendo como novidade nesses Jogos. A escolha dos atletas, que representarão o Brasil nos Jogos, é de res-ponsabilidade da Confederação Nacional de cada esporte.

No atletismo, as vagas ainda estão indefi-nidas. Quem conta isso é o atleta gaúcho Fa-biano Peçanha, 24, medalhista de bronze na prova dos 800 metros no Pan 2003, em Santo Domingo, na República Dominicana. Segundo ele, o Brasil, por ser o país sede, tem duas vagas garantidas para cada prova. Mas, só em 2007,

os classificados serão selecionados, logo após o campeonato brasileiro em junho. Visando uma dessas vagas, Peçanha explica a sua dura rotina de treinos, que varia entre um ou dois turnos onde é trabalhada força, velocidade, e coordenação motora. “Devo alcançar o auge da minha forma física em maio. Daí vou estar pronto para competir e lutar para representar o Brasil nos Jogos”, comenta o corredor.

Natural de Cruz Alta, no interior do Estado, e colecionador de diversos títulos em várias categorias desde os dez anos, Peçanha nunca disputou os Jogos Olímpicos e quer concreti-zar esse sonho em Pequim, em 2008. Sobre o fato de o Pan-Americano ser realizado no Brasil, ele ressalta como será fundamental o apoio da torcida e destaca a responsabilidade de fazer uma boa prova. “Espero poder transformar essa pressão num fator positivo e fazer com que, tudo isso reunido, me faça ganhar um segun-dinho no final”, conclui o atleta gaúcho.

Outra atleta que representará o Rio Gran-de do Sul, no Pan 2007, é a porto-alegrense Janice Teixeira, 44. Melhor brasileira disparada na sua modalidade, o tiro esportivo, Texeira tem a sua vaga garantida na competição por ser a única mulher no país que vem manten-do o índice pan-americano. Ganhadora da medalha de bronze na edição anterior dos Jo-gos, ela revela como foi emocionante a hora em que subiu no pódio, carregando a bandei-ra do Brasil. “Foi a sensação mais emocionante da minha vida”, diz a gaúcha.

Patrocinada pela universidade onde estu-da, Texeira viaja bastante, mas diz que não ganha dinheiro nos torneios, pois seu esporte é amador. A respeito de Jogos Olímpicos, a atiradora esportiva conta que tentou partici-

par de alguns, mas esbarrou na dificuldade de se qualificar nos pré-olímpicos. Entretanto, o maior sonho dela não é disputar as Olimpía-das: “meu grande sonho é poder ver as crian-ças saírem das ruas e praticarem esporte, qualquer que seja a modalidade”.

Peçanha e Teixeira não serão os únicos atletas que devem honrar o Estado na versão continental das Olimpíadas. A seleção mascu-lina de vôlei possui três jogadores gaúchos no elenco: Gustavo, Murilo e André Heller, e a fe-minina possui uma jogadora gaúcha, a levan-tadora Carol Albuquerque. Provavelmente, esses atletas, que jogaram o último mundial no Japão pelo Brasil, irão disputar o Pan 2007. Porém, os gaúchos, nos Jogos Pan-America-nos de 2007, não param aí. Na equipe brasilei-ra de canoagem de velocidade, quatro atletas do masculino e duas do feminino nasceram no Rio Grande do Sul, e vão competir pelo país nos Jogos. Por fim, o recente campeão mundial, o judoca João Derli, também deverá entrar em ação no Rio de Janeiro. Ele ainda briga pela vaga, tentando se unir ao seleto grupo de conterrâneos na competição.

Com os locais das competições definidos e com as obras quase concluídas, os prepara-tivos para o Pan 2007 estão na reta final. Mas, para dar um passo maior e sediar os Jogos Olímpicos, o mesmo Miguel Cantori não é tão otimista assim. Ele crê que a infra-estrutura necessária para a competição é muito maior, e, portanto, ele acha pouco provável a hipó-tese. “Num país onde existem necessidades básicas muito mais urgentes, não vejo nenhu-ma cidade capaz de corresponder às exigên-cias de um evento desse porte, mesmo após o Pan”, conclui Cantori.

a porto-alegrense Janice texeira prepara-se para dar um tiro nos Jogos pan-americano de santo domingo

Contagem regressiva

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É campeão!Uma mostra do talento de Derly pode ser

observada no fato de ter vencido, no mundial, quatro lutas por Ippon (golpe equivalente ao nocaute no Boxe), inclusive, na final contra o japonês, atual campeão olímpico, Masato Uchishiba, logo aos 42 segundos.

Superação. Essa é a palavra que define o judoca. Depois de ter sido suspenso por Do-pping, quando foi constatada a presença de diuréticos em seu organismo, em 2002/2003, mudou-se da categoria ligeiro - até 60 kg. Es-sa categoria exigia um esforço muito grande para a manutenção do peso ideal. “Tinha mui-ta dificuldade em atingir o peso da categoria”, conta Derly.

Teve que enfrentar, antes do mundial, uma distensão no abdômen que quase o im-pediu de viajar. E, o tempo todo, teve dificul-dade em conseguir patrocínio. Derly diz que, só depois do título mundial, conseguiu bons patrocínios e que pode, agora, se dedicar so-mente aos treinamentos.

Recupera-se de uma artroscopia (cirurgia

Numa das instalações da centenária

instituição Sociedade Ginástica de Porto

Alegre (Sogipa), no tatame do segundo

pavimento, um judoca de pouco mais

de 1,60m de altura exibe, com uma

desenvoltura impressionante, seqüências

de golpes do esporte concebido pelo

nipônico Jigoro Kano, em 1882.

Esse homem responde pelo nome de

João Derly e pode ser considerado uma

das grandes revelações do esporte.

Detentor de diversos títulos, regionais e

nacionais, passou a ocupar um lugar de

maior destaque no cenário esportivo,

após ter se consagrado campeão

mundial de Judô - o primeiro brasileiro da

História - lutando na categoria meio-leve,

até 66 kg, em Cairo no Egito (2005).

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de correção e/ou reconstrução de ligamen-tos) feita no ombro esquerdo e quer voltar a competir o mais depressa possível, visando a seletiva para os Jogos Panamericanos do Rio de Janeiro no ano que vem, e a participação, em setembro de 2007, do mundial de judô. Depois, o objetivo são as olimpíadas de Pe-quim em 2008.

Nesse momento de recuperação, em que tenta apurar a forma física, os treinamentos se-guem a todo vapor e o seu técnico, Antônio Carlos Pereira, o Kiko – há 18 anos treinando Derly – tem o cuidado de trabalhar com pru-dência. ”Não precisamos ter pressa. O que im-porta é voltar aos poucos, afastando a possibi-lidade de uma volta antecipada que acabe pre-judicando a recuperação”, conta o técnico.

O vencedor do Prêmio Brasil Olímpico de 2005 começou no Judô aos seis anos de idade, após ser aconselhado, por um médico, a prati-car o esporte em decorrência do problema de asma que apresentava. Isso em 1988, ano em que Aurélio Miguel conquistou a medalha olím-pica em Seul (ouro), servindo de referência e tornando-se o grande ídolo de João Derly.

Aos 25 anos, o campeão mundial irá rea-lizar um outro sonho. Inspirado no projeto Reação, desenvolvido pelo amigo judoca, medalhista olímpico (bronze), Flávio Canto, na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, onde ensina o Judô e noções de cidadania a crian-ças, está implantando o projeto social “Po-dium” em Porto Alegre e orgulha-se de poder atender às crianças carentes. O nome foi ex-traído de uma referência que Viviane Senna - irmã do eterno ídolo Ayrton Senna - fez na entrega do prêmio Brasil Olímpico. Ela diz que, no pódio do esporte, só existe lugar para os três primeiros colocados. Mas, no pódio da vida, existe lugar para toda e qualquer pessoa que trilhe o caminho da humildade, da perse-verança e do bom caráter.

Por trás da baixa estatura, revela-se um grande campeão dentro e fora dos tatames, preocupado com os problemas sociais e possuidor de um senso de religiosidade. Ele sonha em viver outros momentos de glória como o da conquista do mundial no Egito em 2005, onde destaca a emoção inenarrá-vel de ver a bandeira do Brasil no lugar mais alto do mastro e de ouvir o hino nacional. “É como se passasse um filme na cabeça, e vem a lembrança de tudo o que foi vivido e de todas as dificuldades superadas. Naquele momento, eu represento a nação que deu certo”, finaliza.

Lucas Cardoso

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“É como se passasse um filmena cabeça. Naquele momento, eurepresento a nação que deu certo”.

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O montanhismo surgiu, no Brasil, com os Bandeirantes, no século XVII. Entretanto, so-mente no século XIX iniciaram os primeiros registros de conquistas em montanhas, no território brasileiro.

Em 1º de novembro de 1919, foi fundado o primeiro clube de montanhismo do Brasil no Rio de Janeiro, o Centro Excursionista Bra-sileiro (CEB). Para homenagear, como monta-nha-símbolo do CEB, foi escolhido o Pico de Deus, com 1.690 metros de altura.

Desde o início da década de 1960, cente-nas de vias de caminhada e escalada continu-am sendo deixadas à disposição dos monta-nhistas para a ascensão em montanhas novas ou que já tenham sido conquistadas.

Para quem estava esperando uma novida-de, aí vai uma: veicula, na Rádio Atlântida, um programa voltado para esse universo, “Radical Livre”, com duração de quatro horas, aos sába-dos. Com musicalidade alternativa, direciona-do ao público praticante, com entrevistas com esportistas destacados em suas áreas.

contato com a natureza

Assim define Orlei Júnior, 33 anos, forma-do em Educação Física, no IPA. Trabalha com montanhismo e escalada indoor desde 1995: “comecei como guia (hoje, esse trabalho cus-ta R$100,00 por dia). Minha formação profis-sional veio a partir do esporte, pois eu já pra-ticava montanhismo”, conta Júnior. Para aten-der melhor os clientes, ele quis complemen-

ruan arboleta, colombiano, há 3 mesesem porto alegre, pratica escalada em rocha

Cássia Marques

tar seus conhecimentos: ”então, por não exis-tir formação de guia de montanha no Brasil, fiz um curso de resgate em montanha, e pro-curei a graduação em Educação Física”. Ele acrescenta que seria a formação mínima para quem quer trabalhar com esse “esporte fan-tástico”.

Júnior ressalta a importância de um guia na prática dos esportes: “o guia é benéfico. Aumenta a segurança no esporte e lubrifica o aprendizado”. Segundo ele, quando o peso está acima do ideal, dificulta a escalada, pois é um esporte que luta contra a gravidade. É preciso carregar um mochila de equipamen-tos que pesa em torno de 20 quilos.

“O esporte radical está crescendo no Rio Grande do Sul”, relata Júnior, que chegou a tirar o segundo lugar no Campeonato Gaú-cho de Escalada Indoor. Um dos seus feitos foi ter escalado os sete cumes brasileiros. Ele acredita ter sido o primeiro gaúcho a realizar o projeto. Desabafa dizendo que demorou dez anos por falta de patrocínio. Agora, com um projeto ainda mais desafiador, quer “reali-zar a ascensão das sete maiores montanhas da América do Sul. Será necessário muito pa-trocínio”, relata Júnior.

Ele tem um site (www.mundovertical.com) com nove mil acessos por mês, com ob-jetivo de informar e formar montanhistas e escaladores.

“esporte é minha vida”

Afirma o estudante Edgar de Lima, 25, do quarto semestre de Educação Física na Uni-versidade Federal do Rio Grande do Sul (UFR-GS). Ele pratica esportes radicais, profissional-mente, há quatro anos e meio. Começou com rafting, e a bike faz parte da sua vida há dez anos: “sempre fui viciado em andar de bicicle-ta”. Participou de competições de longa dis-tância, e tirou lugares entre primeiro e quinto. Lima é instrutor de rafting da Radical Sul há mais de um ano: “sempre fui muito ligado à natureza”, afirma.

“O esporte radical entrou na minha vida, através de uma palestra, que assisti na facul-dade (IPA), com o dono de uma empresa de

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O esporte radicalconquistou o seu espaço

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está nascendo um novo espaço para os skatistas no centro de porto alegre. de um projeto existente há dois anos, surge a plaza, um pista com um conceito diferenciado de to-das as outras existentes no brasil.

baseada em uma pista de nova York, a plaza leva es-se nome, pois além de uma pista para skatistas, tam-bém será uma praça para lazer e descanso, onde monumentos e bancos servirão como obstáculos para os atletas.

a verba para construção da pista, um total de r$ 180 mil, foi liberada pelo governo federal, através do deputado federal be-to albuquerque, que resolveu retomar o projeto após uma conversa com o skatista guilherme gnomo, 26 anos, profissional há seis. hoje, gnomo é um dos principais atle-tas envolvidos no processo de projeção, liberação e construção da pista, ao lado do presidente da federação gaúcha de skate, ricardo menezes.

para que não fossem notados erros, ou falta de algum obstáculo, somente depois de pronta, a plaza foi desenhada pelo skatista e arquiteto fred e, também, sempre dis-cutida em reuniões e, até mesmo, em churrascos, por diversos atletas. isso deixará a pista o mais semelhante possível às ruas, o eterno local de treino de skatistas, e trará, para a pista, corrimãos e escadas de diversos tamanhos. segundo gnomo, “não adianta haver um corrimão pequeno e um grande, pois o moleque anda em um, mas não con-segue andar em outro. portanto, a plaza terá todas as etapas. o skatista necessita de evolução para crescer no esporte”. houve, também, a preocupação para que a pista fi-casse boa para treinar, mas também perfeita para trazer a porto alegre grandes campe-onatos. hoje, isso não acontece, pois a mais completa pista do rio grande do sul loca-liza-se em novo hamburgo.

a escolha do local não foi à toa. a idéia da praça Júlio mesquita, no centro, próximo ao gasômetro, foi tomada para centralizar o grande número de skatistas do bairro, que andam nas praças da matriz e 15 de novembro, e, também, para facilitar o treinamento dos atletas da Zona sul. hoje, o custo é muito alto para um deslocamento diário até o bairro iapi, na Zona norte, onde está a melhor pista da cidade. assim, todos os atletas terão um lugar bem localizado, destinado ao esporte em porto alegre. existem vários projetos para realização de oficinas, com total apoio e participação dos atletas profis-sionais, para meninos e meninas, após a inauguração da pista, prevista para maio.

uma novidade, para skatistas e admiradores do esporte, é discutida por atletas e pela federação gaúcha de skate: a construção de uma pista, nas mesmas proporções da plaza, ainda em 2007, na Zo-na sul da capital.

projeto da pista de skate que será construída na praça Júlio mesquita U

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Pensado e projetado porskatistas

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Ivo Gonçalves/PMPA

rafting. Adorei e entrei em contato com pales-trante”, conta Lima. Como trabalhava no ramo, conheceu pessoas ligadas ao rapel e monta-nhismo. Teve possibilidade de aprender esca-lada na academia. Gastou cerca de R$400 em equipamentos básicos (cadeirinha, oito, saco de magnésio, entre outros).

Por ter facilidade para perder peso, ele não liga muito para a alimentação, mas evita gordura e fritura. Faz todas as suas atividades de bicicleta por ser um transporte limpo, e fa-zer bem à saúde. “Na minha vida, eu faço o que eu amo fazer”, declara. Pretende continuar es-calando até não ter mais condições físicas. Afirma ser a maneira de estravasar, liberar o stress do dia-a-dia: “se eu fico sem praticar, fico mal e estressado”.

superação = motivação

Silviane Sebold, 30, conhecida por Kika, está no quarto semestre de Educação Física. Trabalha há quatro anos com esportes radi-cais. Optou por influência dos amigos.

Kika conta que, na primeira vez que prati-cou o esporte, não gostou: “fiquei com muito medo. Depois de um tempo, voltei a praticar e adorei”. Hoje, ela tem uma academia de ginás-tica, onde tem espaço para a escola de mon-tanhismo, que dá curso de escalada. Segundo ela, todos que trabalham na academia são es-tudantes ou formados em Educação Física.

Kika diz que é necessário “um preparo fí-sico diferenciado para ter resistência e força, e treinamento aeróbico”. Escalou, recentemen-te, o Dedo de Deus (1.690 metros) com 17 horas de atividade sem parar. Ela dá um reca-do aos iniciantes: “sempre tem que procurar um curso ou um profissional para evitar aci-dentes”. Ela diz que os acidentes acontecem, geralmente, na descida das montanhas, quando é feita a escalada.

victor Kerber

Técnico em Informática e Eletrônica, 23, pratica esportes de ação há cinco anos (esca-lada, escalda livre e rapel). Conheceu os es-portes no quartel e foi o único de sua época a segui-los. Desde então, procurou instrução profissional. Faz as atividades, em média, duas vezes por mês. Vitor gastou cerca de R$5 mil em equipamentos.

Chegou em sétimo lugar, entre 20 partici-pantes, em um torneio interno de corrida de escalada, realizado por uma loja de artigos es-portivos. De acordo com ele, um dos princi-pais locais para realização dos esportes, no Rio Grande do Sul, é Morro do Itacolomi. Segun-do ele, a principal motivação pelo esporte “foi a questão de superação, convívio com as pes-soas e o contato com a natureza”.

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“em qualquer lugar, na casa de qualquer um. o afro-sul era nô-made”. É assim que um dos fundadores, João augusto santos silva, o caco, define o início do instituto cultural afro-sul/odomodê. des-de 1974, o grupo promove a valorização da cultura negra no rio grande do sul, no brasil e no exterior. hoje, através da música, da dança e de outras oficinas, trabalham, com questões sociais e cul-turais, com crianças de cinco a 13 anos, que estejam em situação de vulnerabilidade. crianças de outros lugares também são bem vin-das: “não existe uma porta fechada”, esclarece caco.

de segunda a sexta-feira, das 8h30 até às 12h e das 13h30 às 17h30, são realizadas atividades no afro-sul/odomodê. desde ca-poeira, passando por artes plásticas, canto e dança, até os novos projetos que trabalharão culinária e vestuário. caco explica que as crianças mais novas, de cinco a oito anos, “fazem muitas brincadei-ras lúdicas. deixamos eles mais à vontade assim do que estabele-cendo regras”. segundo ele, com os mais velhos – de nove a 13 anos – existe uma orientação mais incisiva, dando-os um incentivo e uma perspectiva para o futuro.

o grupo acredita que cada voluntário, que dá um pouco da energia e do seu tempo para as crianças, está ajudando-as a construir sua pró-pria cidadania. dessa forma, permite “que eles se

vejam como cidadãos dignos, que se encontrem como um ser den-tro da sociedade”, completa caco. para ele, o dia-a-dia com as crian-ças é o “carro-chefe” do instituto, mas não exclui a possibilidade de abrir oficinas para o público externo. o grupo mantém a dinâmica do nome original que é sociedade de ação social recreativa bene-ficente cultural e bloco afro odomodê.

amiga do instituto desde criança, pâmela viríssimo, hoje, traba-lha como secretária e, também, na parte administrativa. apesar de não trabalhar, diretamente, com as crianças, se envolve muito com elas, pois passa a maior parte do seu tempo lá. viríssimo foi criada na organização, participa do grupo de dança afro e os considera uma família pelo vínculo forte com os alunos, professores e colegas de trabalho.

para ela, “o trabalho do grupo ajuda 100% no desenvolvimento das crianças já que tudo é cultura”. com a capoeira, os malabares, a dança, as aulas de educação física e a música, as crianças são inse-ridas na sociedade, além de desenvolver o corpo e a mente. o refor-ço escolar, aplicado nas disciplinas em que elas têm mais dificulda-

de, também ajuda e traz mudanças positivas nas notas do colégio. ter boas notas é um pré-requi-sito para se apresentar e fazer parte dos grupos.

de acordo com o artista e comerciante, livio cardoso schinoff, ser um arte-educador do odo-modê é poder trabalhar com as crianças “dando

“Elas são inseridasna sociedade,

além de desenvolvero corpo e a mente”.

Cultura voluntáriaatravés da dança e de outras oficinas como percussão e malabares, o grupo valoriza a cultura afro e facilita o acesso de crianças à arte

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ênfase aos malabares e à literatura, como poesia e teatro”. schinoff dá aulas há um ano e meio. diz que é visível o crescimento do projeto. segundo ele, “poucos, no planeta, têm noção de quanta cultura tem disponí-vel. É infinita a diversidade artística, e a gen-te leva para as crianças”. a relação do arte-educador com elas é relativa: “algumas gos-tam de aprender tudo e outras é difícil fazer aprender coisas sim-ples”, afirma.

mesmo que alguns tenham dificuldades, estão adquirindo mui-tas experiências que, segundo schinoff, poderão ser utilizadas no futuro. “com educação e cultura, eles vão poder se virar, nesse mun-dão, com uma cabeça mais aberta”, acredita o artista. “as crianças podem vir a ser educadores ou artistas, com uma participação social positiva”, enfatiza.

no primeiro trimestre de 2006, o instituto foi conteplado com sete computadores, pelo ministério da cultura (minc). após a inscrição pela terceira vez, foram se-lecionados pelo minc, como um “ponto de cultura”. outro fundador do afro-sul/odomodê, paulo ro-

meu da cruz deodoro, explica que existem cerca de 500 pontos de cultura que recebem

apoio do governo através de equi-pamentos.

o objetivo do gover-no é reforçar a ques-tão da informática para trabalhar com

software livre e incentivar os trabalhos que estavam sendo feitos anteriormente. se-gundo paulinho, “estão ajudando na estru-tura eletrônica das associações, institutos, grupos culturais e inserindo crianças no mundo da informática, além de disponibili-zar um acesso mais fácil à cultura digital pa-ra a comunidade”.

na opinião de caco, “a informática abre caminhos para os jovens, crianças, velhos e pra todos os interessados em se desenvolver. o computador é uma exigência não só no mercado de trabalho, mas na vida ativa”.

viríssimo conta que a inserção das crianças na cultura as torna pessoas que sabem se portar melhor diante do público e, também, aprendem a ser mais respeitosas. com uma biblioteca improvisada, eles têm acesso a livros que são discutidos, posteriormente, com os

educadores, nas oficinas.schinoff, por exemplo, dá aulas com leitura

e indica livros para serem levados para casa: “eles já tocam, dançam, etc. futuramente, os que quiserem estarão vinculados a gru-pos artísticos e buscarão mais sobre assun-

tos diferentes, maior compreensão sobre a vida, que hoje ainda é difícil pa-

ra a maioria das pessoas”.o artista acredita que a maioria das

pessoas não tem consciência básica e que, por se-rem os adultos do futuro, essas crianças devem trabalhar nesse futuro: “na minha opinião, muitos deles seguirão fazendo arte”.

“Poucos, no planeta, têmnoção de quanta cultura

tem disponível. É infinita a diversidade artística que a

gente leva para as crianças”.

Um grupo de amigos com uma paixão em comum: a música. Um simples, mas ótimo motivo para formarem um grupo e atuarem profissionalmente.

No ano de 1974 são convidados a participar de um festival de música: “para época, foi uma apresentação bem interessante. O público se dividiu entre aplausos e vaias. Saímos sem título nenhum, mas a partir dali estabeleceríamos uma coisa nossa, uma identidade como grupo.” Assim, “se monta o grupo afro-sul”, com a característica de valorizar, difundir e promover a cultura negra, através da música e da dança.

Odomodê, na língua africana Iorubá, significa jovem, novo, menino. O nome ide-al para o grupo que dá oportunidade, às crianças de rua e de comunidades carentes, de aprender e praticar a cultura afro-brasileira.

Em 1980, o Afro-Sul foi chamado como parceiro para a refundação da Escola de Samba Garotos da Orgia. Essa escola “tem uma incumbência que é tratar da difusão da cultura afro-brasileira, originalmente trabalhando com tema afro”, relata Caco. Duran-te 18 anos foi esse o trabalho feito pelos Garotos da Orgia, que depois desse tempo

ficou sob a orientação do Afro-Sul.De acordo com Caco “a escola de samba naquele momento não era suficiente

para criar uma estrutura cultural e social que pudesse se ater com algumas coisas im-portantes dentro da questão negra”. Ele acredita que o bloco afro veio então com essa tarefa e o Odomodê se tornou uma janela para a avançar na questão da cultura negra. “O Afro-Sul já fazia isso através da música e da dança, a escola de samba não tinha mais a serventia para execução do trabalho com a cultura negra”, relembra Caco.

Em 20 de novembro de 2000, nasce o Instituto Cultural Afro-Sul/Odomodê, man-tendo a missão inicial e passando a prestar serviço social como uma ONG ligada ao Tercei-ro Setor. Para Caco, serem independente do poder público e terem identidade própria sem vínculos político-partidários é vantagem, assim como a maior visibilidade como ONG.

O trabalho do Instituto também é divulgado no site http://ong.portoweb.com.br/afrosul. Para doações e parcerias entre em contato pelo fone (51) 3384-3576 ou pelo e-mail: [email protected].

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“Com EDUCAÇÃO e cultura, eles vão poder se virar, nesse mundão, com uma CABEÇA mais ABERTA”

De “nômades” a Instituto Cultural

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Tunt, tunt, tunt

Sem que muitos percebam, a música ele-trônica (e-music) cresceu expressivamente, e seu público se multiplica a cada rave. O estilo é criativo e diferente, apresenta diversas ver-tentes e reúne uma gama de tribos distintas nas festas.

As raves são, originariamente, ao ar livre. A palavra significa descontrole ou delírio. Atual-mente, são popularizadas, com grande públi-co. Além de música boa, durante a noite toda, também há shows de luzes e performances ar-tísticas dos DJ’s. “A iluminação, combinada com o som do DJ, tem um efeito impressio-nante no público, pois é a junção de impacto sonoro com o impacto visual. O resultado é uma vibe muito mais densa. Um bom exemplo disso são os momentos de blackout da festa, quando a música, em determinado momento, vai ficando mais lenta e o volume vai dimi-nuindo. Junto com isso, a luz vai apagando. Depois dessa parada, a música volta com tudo e a luz explode junto com ela. Poxa, a galera vibra muito! É uma gritaria só!”, diz o Light Jo-

ckey (LJ), operador das luzes, residente da SpinClub, Erick Krau, considerado por grandes DJ’s como um dos melhores LJ’s do Brasil.

Os DJ’s são a grande atração das festas. Muitos são Top Internacionais. O DJ gaúcho Fabrício Peçanha, da agência 3Plus – RS, é um exemplo. Recentemente, teve seu talento re-conhecido. Foi eleito #242 do mundo, segun-do a revista inglesa DJ Mag – onde, até hoje, poucos brasileiros ilustraram a lista. “Foi muito legal. Estar entre os 250 melhores do mundo é ótimo. E isso fez com que os gringos soubes-sem quem eu sou”, conta. Meio tímido, com-pleta: “não sinto uma ‘fama’. Apenas o reco-nhecimento de um trabalho legal que faço, e que as pessoas têm curtido”.

Devido à grande popularização da cultura eletrônica no Brasil, os eventos do estilo vêm sendo mais freqüentados por todas as tribos. Grande parte desse público, até então, não tinha o gosto voltado para esse tipo de músi-ca. Porém, com o tempo, acabou por ser mais assíduo às raves. “Freqüento a cena eletrônica há uns 13 anos, mais ou menos. E vejo que, hoje, a vibração é muito maior. Antigamente, era um pessoal mais underground (alternati-vo) e, hoje, tem tudo que é tipo de gente dan-çando e curtindo cada vez mais”, revela Fer-nando Moska, que é um rosto conhecido nas raves. Ele finaliza: “a galera deve transcender ouvindo a música, buscando uma evolução”.

O carisma do DJ somado a uma música bem escolhida não tem outro resultado a não ser euforia completa do público. O DJ Gu, da agência 3Plus – SP, revela: “acredito que uma combinação entre os dois – música e carisma – seja essencial. Mas acho que carisma é o principal para poder desenvolver um bom set (o conjunto de músicas tocadas pelo DJ) com segurança. Fica mais fácil quando o público está receptivo”.

“Não vejo a músicaeletrônica como uma moda. Assim como qualquer outro estilo, uma hora iria estourar. Estamos numa ótima fase, e

isso só tende a melhorar”.

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Música eletrônica: euforia na batida certa

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Há os que não se satisfazem apenas com uma rave e partem para os chamados afters. São festas que, geralmente, aconte-cem após o término das raves. Ou seja, co-meçam logo pela manhã e se estendem pelo resto do dia.

Inicialmente, é notado um preconceito da sociedade para com os ravers (freqüenta-dores). De acordo com eles, a maioria das pes-soas, sem conhecimento no assunto, vê as festas como sendo um bando de jovens lou-cos e drogados curtindo uma “mesma música” a noite toda.

Como quaisquer outros eventos de mú-sica, as raves também têm um problema em relação às drogas. A má fama das festas se dá pela soma da grande circulação de ecstasy e a curiosidade do público em relação à “droga do amor”, como é conhecida: “tem gente que vai para usar droga. Isso de fato aconte-ce. Mas esse conceito não deve ser genera-lizado. Tem muita gente que vai por gostar da música”, afirma o DJ Fabiano Veppo, da agência 3Plus – RS.

No assunto música, a e-music possui vá-

rios gêneros e vertentes. Cada festa possui um estilo de música, e não se costuma mis-turar diversidades em uma única rave. Po-rém, não é impossível que haja eventos com tendas e pistas de diferentes gêneros, o que acaba confundindo quem não entende mui-to da cena. “Não é a mesma coisa. Quem en-tende sabe diferenciar um som mais ‘fino’ de um som mais poluído. A galera que curte mesmo sente a vibe”, explica Veppo. Da mes-ma maneira, Jx, (Moving Dj’s) DJ da Rádio Cidade – RS, reforça a idéia: “queremos mos-trar que não é ‘tudo a mesma coisa’. Que não são, simplesmente, um bando de loucos e drogados escutando um ‘tunts’ a noite toda. Esse é o nosso objetivo como profissional das pick’ups também”.

Só quem vivencia sabe o sentimento que a música eletrônica proporciona. O texto de divulgação da festa Life is a Loop cita: “a mú-sica eletrônica é construída através de diver-sas sonoridades repetitivas, marcadas sem-pre com oito tempos, denominados loops. Existe algo que é construído através de diver-sos sentimentos quase nunca repetitivos, que são marcados e definidos sempre por momentos denominados life. A nossa vida é uma volta que não pretende parar tão cedo! Life is a Loop”.

comercialmente

Grandes agências, como a 3Plus (de nível nacional) e Re:existência (de nível regional), promovem eventos com Top DJ’s, freqüente-mente, no Rio Grande do Sul. A Fulltronic é um bom exemplo de evento que deu certo e, até hoje, mantém edições com grande pú-blico. Segundo o DJ Fabrício Peçanha, Porto Alegre ainda tem uma carência de casas no-turnas voltadas à música eletrônica. Conta que está pensando em projetos para o próxi-mo ano: “o pessoal quer ter opções. Escolher um lugar confortável, onde possa ver gente bonita e curtir uma música boa. Aqui em Por-to, temos apenas a Spin. Está na hora de fazer algo mais”.

Antigamente, as festas eram tidas mais como “alternativas”, e não possuíam grande número de simpatizantes. Muitos acreditam que as raves, hoje, estão buscando não a sa-tisfação do público, mas sim os lucros visíveis que provocam.

A opinião dos DJ’s é clara: música eletrô-nica é paixão, e não deve visar apenas o lu-cro. O deslumbre de empresários acaba tor-nando as festas, que antes proporcionavam o prazer dos freqüentadores, em mega even-tos essencialmente comerciais. “A festa virou um ‘negócio’. Promotores de festas eletrôni-cas querem lucrar, como qualquer dono de casa noturna. Acredito que ainda se tenha

amor pela e-music. Mas, no fundo, o lucro fi-nanceiro e institucional é o maior objetivo”, diz Jx. E completa: “hoje, a coisa está mais para uma semana de moda. Tipo ‘full donna tronic fashion’ (risos)”.

Acredita-se que a e-music seja uma evolu-ção sonora e cultural no mundo todo. Para Peçanha, tudo tem seu momento: “não vejo a música eletrônica como uma moda. Assim como qualquer outro estilo, uma hora iria es-tourar. Aqui no Brasil, não foi muito diferente de outros lugares do mundo. Estamos numa ótima fase, e isso só tende a melhorar”. Ele res-salta: “o RS está numa fase de explosão ainda, que é confundida com moda. Mas escuto isso desde que a e-music começou. Então, não acho que seja modismo, e sim um gosto que o pessoal está tomando por um som mais ‘fi-no’”. Completando, Veppo diz: “tudo está no seu tempo. Não é uma moda, é uma cultura que o Brasil e, no caso, o RS estão começando a vivenciar mais”.

O DJ Gu brinca com a situação: “moda na-da... Se fosse moda, já teria acabado há um tempo. Música eletrônica faz parte da nossa cultura, e acho que está melhorando cada vez mais. Toco há 16 anos, e ela nunca saiu de ‘mo-da’ (risos)”.

Maurício Zim

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principAis gêneros (Como diferenciar)

House - voltado às pistas de dança, e que, de certo modo, atualizou com bases eletrônicas. Todos os elementos da house music influenciariam os gêneros que surgiram depois. Provavelmente, um dos sons eletrônicos mais tocados do mundo. Possui várias vertentes: Tech house, Deep house, hard house e Pro-gressive. Exemplos: Fabricio Peçanha, rodrigo Ayala, Deep Dish, Gui Boratto e Christopher lawrence.

trance - com batidas mais pronunciadas e mais rápidas. Tem como características o chamado breakdo-wn (uma diminuída no ritmo, uma parada), quase sempre seguido de uma progressão empolgante - as tais “explosões”. O estilo se utiliza, muitas vezes, de sons etnicos, e tons repetitivos, que induzem um esta-do hipnótico, um transe. Também possui suas verten-tes, como Progressive. Porém, a mais conhecida é o Psy trance. Os Dj’s mais conhecidos, internacionalmente, são Tiësto, Ferry Corsten e Armin Van Buuren.

psy - é o trance psicodélico, mais acerelaro e “enlouquecedor”. O gênero vem se popularizando no Brasil, e promove os maiores festivais. Dj’s mais popu-lares são rica Amaral, Infected Mushroom e GMS.

techno - mais pesado. é uma variação da hou-se, porém com batidas mais furiosas e menos suaves, contendo batidas mecânicas e usando sons que vão desde sirenes apocalípticas a samplers de diálogos de TV ou filmes. O Tecno original é mais rápido.srenato Cohen, Anderson Noise e Murphy.

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“Let it be… let it be … speaking words of wis-dom, let it be”. Deixa estar... deixa estar... falando palavras de sabedoria... Porto Alegre é a Liver-pool gaúcha.

Calças justas, ternos redesenhados, cabelos acompanhando o desenho da testa. Acordes não tão complexos, mas que compõem melodias mar-cantes. Letras que descrevem um pouco do dia-a-dia, relatam experiências amorosas, por vezes de maneira doce, outras de forma ousada. Essa des-crição poderia, facilmente, ser associada a Bea-tles ou Rolling Stones. Porém, não se refere à In-glaterra da década de 60, e sim a Porto Alegre dos anos 2000.

Porto Alegre,a Liverpool gaúcha

Lisiane de Assis

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banda identidade, em porto alegre, relembra capa do clássico abbey road, disco dos beatles da década de 1960

lISIANE DE ASSIS

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“É uma característica do Rio Grande do Sul essas influ-ências. Talvez pela se-melhança do clima frio”, é a explicação do guitarrista da Identidade e baixista do Júpiter Maçã, Lucas Hanke, para que a cena rockeira de Porto Alegre re-meta tanto aos clássicos britânicos. Tam-bém, não era preciso nem dizer. O DVD dos Rolling Stones, que servia de trilha para nossa conversa, deixava evidente a influência sessentista.

Difícil é enumerar os “culpados” que originaram a tradição de se fazer rock and roll na cidade. Há indícios de que, em 1���, só em Porto Alegre, havia uma cen-tena de bandas que bebiam na fonte dos Beatles. Entre elas, os precursores do Li-verpool, obviamente, muito influencia-dos pelo rock and roll que surgia na Ingla-terra. Depois disso, vieram Musical Sara-cura e Bixo da Seda, em idos dos anos �0, que também carregam boa parte da res-ponsabilidade. Porém, os inspiradores e mais lembrados pela última geração por-to-alegrense são os oitentistas do TNT e Cascavelletes. Mas o que essas bandas deixaram de “herança” para as gerações posteriores? Justamente a vontade de tocar: “dentre vários fatores, elas servi-ram como influência pelo fato de ver uma banda tocando no palco e querer fazer o mesmo”, relata, por experiência própria, o baterista dos Faichecleres, Tuba. A ban-da, que apesar de ter sido formada em Curitiba, é composta por gaúchos, é mui-to presente na cena local.

Mas como tudo começa? Bem, depois de um apanhado de referências, e unidos pelos mesmos ideais, grupos de amigos começam a formar as bandas. Dessa for-ma, ocorre a proliferação da cena que se dá de maneira natural, onde todos se co-nhecem. A única distinção entre músicos e público só é percebida na hora em que alguns sobem ao palco e empunham seus instrumentos. As festas e shows do pessoal do rock sulista são assim mesmo, caracterizadas por um clima de grande família. Mas isso não é de hoje. O jorna-lista Mauro Borba, no livro “Prezados Ou-vintes (Artes e Ofícios)”, conta que, quan-do o músico Frank Jorge assistia aos en-saios da banda Expresso do Oriente, na década de 1��0, ele se perguntava se, al-gum dia, tocaria em uma banda como aquela. O seu sonho era alimentado na famosa garagem da casa do músico Julio Reny, que serviu de berço para várias

bandas. Ao que tudo indica, a escola ren-deu boa formação, pois Frank Jorge se-

gue a carreira musical até hoje e é acompanhado por um público de idades variadas.

Aliás, o público, nessa história toda, merece boa parte do mérito. É

ele que vai aos shows, compra os dis-cos, enfim, faz as bandas acontecerem:

“o público é tudo na vida de q u a l -quer banda, por-que tu queres tocar para ter público, pa-ra agradar as pessoas, para deixá-las felizes. Não tem por que tocar se não é para tocar alguém, porque a s canções tocam as pessoas”, afirma Hanke. A voz do público é representada pela es-tudante Juliana Larsen: “Acho que Públi-ca, Os Efervescentes, Cachorro Grande, Identidade, entre outras bandas, desem-penham muito bem o papel que Who, Beatles ou Rolling Stones tiveram na sua época. Para mim, é como a re-tomada de um tempo que eu não vivi. Sem contar a vibração dos shows, que é algo único”, empol-ga-se a estudante.

Mas nem só de bandas e pú-blico, público e bandas, sobrevi-ve a cena. O pessoal do rock pre-cisa de lugares que sediem suas festas e shows. Para essa finalidade, se prestaram Rocket ��, Taj Mahal e Croco-dilos, bares extintos da década de 1��0, que hoje dão lugar para o Beco, Mosh, Garagem Hermética e Dr. Jeckill. Sem es-quecer do c l á s -si-

c o q u e , atravessan- do ge-rações, completa �� anos de história: o bar Ocidente: “o Ocidente surgiu, em de-zembro de 1��0, sem nenhuma preten-

são. A idéia era, através da promoção de eventos, basicamente de teatro, que era nossa área de atuação, criar uma crono-logia das noites na vida das pessoas que frequentavam a noite do Bom Fim”, conta o proprietário do bar, Antonio Augusto Pereira Barth, mais conhecido como “Fia-po”. Mais tarde, o jornalista Mauro Borba caracterizou o Ocidente como “um lugar lançador de modas e tendências na capi-tal gaúcha”. Segundo Fiapo, passaram por lá clássicos do rock gaúcho como TNT,

Replicantes e Graforréia Xilarmônica, que contribuíram para que o bar con-tinuasse, até hoje, como um ponto certo de encontro do rock local. Ulti-mamente, quem tem marcado pre-

sença por lá são as bandas Pública, She’s OK e Os Efervescentes.

Considerações e caracterização da cena rock da cidade feitas, permanece a incógnita: por que os porto-alegrenses têm predileção pelo rock sessentista? O jornalista Leo Felipe tenta desvendar o mistério: “acho que muito em função do chamado ‘boom do rock gaúcho dos anos

�0’, que trouxe à tona bandas como TNT e

Cascavelletes. Essas bandas

eram muito influencia-das por Be-atles e Sto-nes. Nesse

sentido, o Júpiter é figu-

ra chave nesse ‘revival sessentis-

ta’. O cara esteve à fren-te tanto do TNT quanto dos Casca e, de-pois, em carreira solo, trouxe de vez a li-sergia para um contexto de rock gaúcho. Outro cara importante é o ‘Syd Barret dos pampas’, Plato Divorak. Desde o final dos

anos �0, ele vinha citando e trazendo re-ferências dos anos �0 para sua músi-

ca. Finalmente, com o ‘fenômeno’ Cachorro Grande (super influen-ciado por TNT, Cascavelletes e Jú-piter), a gurizadinha mais nova entrou em contato de vez com o som dos anos �0, ou parte dele. Daí

o estrago estava feito.”Resta dizer que, se no século XVI,

o Porto de Liverpool era “a principal porta de entrada para o mundo novo” e, em 1��0, a cidade se tornou conhecida como a terra de uma das bandas mais em-blemáticas do rock, Porto Alegre se con-cretiza como o portal do “mais novo-ve-lho” rock and roll.

Fotos: divulgação

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Cultuada no Brasil, a escrava Anastácia fi-cou conhecida como heroína e símbolo de resistência. É uma das personalidades femini-nas mais importantes da história afro-brasilei-ra. O grupo Anastácias surgiu, no Rio Grande do Sul, com intuito de mostrar sua realidade para o mundo. São seis mulheres negras he-roínas que, através das letras de Rap, protes-tam contra a questão racial e de gênero, sem-pre procurando a identidade cultural do país sem desvirtuá-la.

“Foi quando nós todas nos identifica-mos com a história de luta e garra dessa grande mulher negra chamada Anastácia, que jamais se calou e sempre lutou pelos seus ideais. É isso que o nome do grupo re-presenta para nós”, relata uma das DJ’s do grupo, Quênia de Moraes.

A banda, formada por Cláudia e Denise Fontoura, Fernanda Ferreira, Carla Joseane Pa-dilha, Malizi Gonçalves e Quênia de Moraes, representa a nova versão desse movimento. São mestres de cerimônia (MCs), mestres do toca-discos (Dj’s) e grafiteiras que difundem seus pensamentos e indignações. Gurias que trilharam um caminho diferente no movimen-to Hip-Hop. Criada em 1999, a primeira forma-ção tinha dez meninas, que costumavam sair juntas. As adolescentes de atitude que, com base na história de vida de seus familiares, principalmente das mulheres que lutavam contra todo o tipo de discriminação, vêem, no Rap, um espaço para falar sobre temas que

norteiam seus caminhos. “O Rap te dá essa possibilidade de falar abertamente sobre es-ses temas. E é necessário que nos utilizemos dele. Precisamos deixar bem visível que o ra-cismo existe no Brasil e mata, assim como o desrespeito e agressão à mulher. Matam pes-soas, sonhos, oportunidades e a dignidade”, relata a MC Denise Fontoura. Através das mú-sicas, tentam passar valores aprendidos na tra-jetória de vida. Segundo Ferreira, Anastácias serviu de exemplo para muitas pessoas.

Com esse ideal, as garotas conquistaram um importante prêmio de Rap nacional, o Prê-mio Hutus 2003, na categoria melhor música demonstração (demo) feminino, colocando o Rap gaúcho em alta. A experiência de ser re-conhecidas, e ter o trabalho divulgado nacio-nalmente, ocasionou mudanças na rotina das “gurias do Sul”, que mudaram para a capital carioca. Lá fizeram algumas apresentações no Canecão e no Circo Voador. Também partici-param da coletânea Made in Brasil, do selo norte-americano Wordsound. Gonçalves co-menta que o prêmio projetou o grupo e que, apesar de todas as dificuldades enfrentadas, foi um momento único. Não podiam perder a oportunidade. As meninas têm projeto de gravar um CD demo com cinco músicas e vender shows para ter uma apresentação de qualidade e pagar as passagens, pois metade do grupo mora no Rio Grande do Sul e a outra, no Rio de Janeiro.

Mesmo assim, o grupo continua a trajetó-ria de resistência com a força de suas referên-cias. Compõem esse repertório os mais diver-

sos nomes da black music, soul, r&b, charme, Rap e samba, como Dona Ivone Lara e Carto-la, além de seus familiares. Dizem que é preci-so saber da onde se vem para saber aonde se vai: “identidade é necessário. Ponto de partida África, meu povo originário, resgatando refe-rências, esbanjando orgulho. Não vendo, não troco minha cultura, meu mundo” (Letra da música Identidade).

O Rap feminino passou por algumas situ-ações de boicotes, fofocas e inveja, mas isso foi superado com o talento. Encontra, através das letras, espaço para expressar seus senti-mentos perante a sociedade. É o que diz a letra de Identidade: “desde pequeno, negritu-de é sinônimo de macacada. Essa é a tática pra subjulgar, mas temos a nossa arma de for-ça para lutar, para defender nossa afro-des-cendência, nosso jeito de ser. Igualdade de condições é o que a gente quer.” Fontoura acredita que, como a sociedade, o movimen-to Hip-Hop também enfrenta preconceito. O machismo e o racismo são alguns exemplos: “é necessário um debate longo sobre esse te-ma”, diz Moraes.

Anastácias são jovens mulheres negras que traçaram o seu destino. Passam a atuar na sociedade com outro olhar sobre questões de gênero e raça. Gaúchas que não se contenta-ram com a realidade imposta e resolvem ir atrás de suas perspectivas através dos quatros elementos do movimento Hip-Hop que car-regam no coração. São as garotas do grupo de Rap do Rio Grande do Sul e hoje para o mundo: “Anastácia não se deixou escravizar”.

da esquerda para direita: fernanda ferreira, claúdia fontoura, malizi gonçalves, denise fontoura e Quênia de moraes

A voz do Rap feminino

Divulgação/Anastácias

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CAMIlA DE MOrAES

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O Brasil é o país do futebol. único penta-campeão mundial, país de Pelé, de Garrincha e dos Ronaldos. Tem o nome sempre associa-do ao esporte. Será que futebol deve ser con-siderado o único motivo de orgulho para o povo brasileiro? Parece ser! Mas existe outra manifestação que credencia o Brasil como modelo a ser seguido e admirado internacio-nalmente: a música! Aqui é que ela parece não ter o devido reconhecimento. Talvez seja o complexo de vira-lata, descrito por Nélson Ro-drigues, no qual só se enxerga o valor do que vem de fora.

Três estilos musicais são reconhecida-mente produtos “made in Brazil”. Dois deles surgiram por volta da metade do século 19, e o outro em meados do século 20. São eles: choro, samba e bossa nova, os quais podem ser considerados como ramificações um do outro, pois se aproximam muito.

O choro é oriundo da mistura de ritmos europeus, principalmente da polca, com o africano lundu. Chegou ao Brasil, via Rio de Janeiro, a partir da abolição do tráfico de es-cravos, que fez a cidade crescer e melhorar. Surgiu uma classe média urbana, composta de funcionários públicos e pequenos comer-ciantes e, majoritariamente, por afro-brasilei-ros, o que forneceu não só a mão-de-obra ao choro, mas, também, o público consumidor desse tipo de música.

Não existe uma data certa do nascimento. Para alguns pesquisadores, o período pode ser compreendido entre 1850 e 1870. O flau-tista Joaquim Antônio da Silva Callado é con-siderado um dos criadores do choro. Apesar de ter morrido cedo, aos 32 anos, foi decisivo para a fixação do gênero. Incorporou, ao solo de flauta, dois violões e um cavaquinho, que improvisavam livremente em torno da melo-dia. A maior parte dos brasileiros não sabe, mas existe o dia nacional do choro, 23 de Abril, data de nascimento de Pixinguinha, come-morado com reverência em países como França e Japão.

O samba, para alguns pesquisadores, sur-giu na Bahia. A palavra “samba” foi mencionada, pela primeira vez, em 1838, na revista pernam-bucana Carapuceira, e serviu para definir, como uma coisa só, vários tipos de música e de dança introduzidos, pelos negros escravos, no Brasil. O maxixe, o lundu e a modinha foram fontes que originaram o ritmo. O samba-amaxixado “Pelo telefone”, de Donga e Mauro de Almeida, é considerado o primeiro samba gravado.

a fusão: samba e Jazz

Na década de 1950, no Rio de Janeiro, um grupo de jovens, insatisfeitos com a música e os cantores de até então, queria fazer uma música diferente, que seria a miscelânia do samba com o jazz americano. Ronaldo Bôsco-li, Roberto Menescal, Carlinhos Lyra e os ir-mãos Castro Neves foram precursores do mo-vimento bossa-novista.

Porém, quem solidificou a “batida bossa nova” foi o baiano João Gilberto, criador de uma batida violonística totalmente diferente de tudo que havia sido feito até o momento. O marco para a bossa nova foi o lançamento do LP “Canção do Amor Demais”, de Elizete Cardoso, em 1958. O disco era todo dedicado às canções de uma nova dupla que, mais tar-de, seria responsável pelas mais belas canções da música brasileira: Tom e Vinícius.

Em 1959, João Gilberto gravou o disco “Chega de saudade”. Em 1960, foi lançado o segundo disco: “O amor, o sorriso e a flor”. Dois anos depois, a bossa nova havia conquistado o mundo e aterrissava no Carnegie Hall, em Nova York. Cantores como Frank Sinatra, Nat King Cole, Tony Bennett, Al Jarreau, Johnny Ma-this, Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan e Ray Char-les gravaram bossa nova. Até Elvis gravou.

“Garota de Ipanema” rivaliza, com “Yester-day” de Lennon e McCartey, na casa dos cinco milhões de execuções. “Águas de Março” é apontada, pelos americanos, como uma das dez canções do século.

o que rola em poa

O músico Mário Lúcio, amante da bossa nova, sempre cantou seu estilo predileto em bares como Fascinação, Blue Eyes, Arcabuz, entre outros. Sua relação com a bossa nova é de extremo amor: “quando ouvi João Gil-berto pela primeira vez, cantando ‘baiana, que entra no samba, não fica parada’, algo transformou-se dentro de mim”. Para ele, Por-to Alegre precisa de um ambiente que cul-tue bossa nova com qualidade, constância e caráter histórico.

“O choro, para mim, é a música popular brasileira por excelência, onde nossos instru-mentistas trazem todo seu sentimento e vir-tuosismo, através de melodias executadas com competência e maestria”, afirma o produ-tor e divulgador do Clube do Choro de Porto Alegre, Márcio Gobato. Segundo o comer-ciante Luiz Alberto Noronha – frequentador da escola de samba Bambas da orgia – o sam-ba faz parte de sua vida: “sem o samba, não dá. Nele, encontro razão para ser feliz”.

Em Porto Alegre, existem lugares que aproximam-se da segmentação bossanovis-ta, como o Bar do Nito (Rua Lucas de Olivei-ra); Cidade Bossa (Rua Otávio Corrêa); Se Acaso Você Chegasse e o Café Concerto da CCMQ. Para os admiradores e amantes do choro, uma passada no Clube dos Caixeiros Viajantes, onde o regional do Clube do Cho-ro se apresenta toda quinta-feira, é indis-pensável.

Arquivo Pessoal

roberto menescal e carlinhos lyra na praia de ipanema, berço do movimento bossa nova no brasil

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DANIEl FrEIrE

Música made in Brazil

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Terra de chimarrão, erva,

Gabriela Di Bella

a dupla gaspo harmônica e oly Jr. tam-bém possui estrada. lançaram o cd “na ca-pa da gaita”, cujas músicas estão disponíveis no site www.nacapadagaita.com.br, e estão com o segundo álbum gravado, com lança-mento previsto para o primeiro semestre deste ano. o novo trabalho conta com a par-ticipação do harmonicista chileno gonzalo araya. segundo gaspo, os novos singles também vão estar no site.

o blues não pára

outros nomes estão conquistando o seu espaço na cena gaúcha. É o caso da Walking blues, formada em 2001, pelo gui-tarrista andré tubino. após diversas forma-ções, a banda conta hoje, na guitarra, com andré tubino, no vocal, fernando camine-ro, no baixo, sérgio selbach, nos teclados, germano paranhos e, na bateria, Jaques trajano. glaucia civa e marina garcia fazem participações nos shows, dividindo os vo-cais de algumas músicas com caminero. o responsável pela harmônica era o gaitista alex pardal, que saiu do grupo. “Quando o pardal entrou, partimos para o West coast blues, ele foi muito importante para a ban-da”, diz tubino.

a Walking blues tem uma faixa grava-da no cd “música na casa 2005”, da casa de cultura mario Quintana, que sairá no início deste ano. também gravaram um cd de releituras com nove músicas, e pre-tendem lançar um álbum com músicas próprias. as músicas e o clipe da banda es-tão disponíveis no site www.walkingblues.com.br. os guris abriram o show de phil guy, no opinião, e de greg Wilson dos

harmônica e oly Jr. gravaram o cd “na capa da gaita”, e vão lançar um novo trabalho em 2007Un

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em 1978, raul seixas dizia que o diabo é o pai do rock. mas até mesmo o maluco beleza sabia muito bem que o rock n’ roll é filho de um outro cara chamado blues. en-tretanto, tudo isso tinha sido dito muito an-tes por muddy Waters: “o blues teve um filho e o nome dele é rock n’ roll”. no rio grande do sul, as bandas de rock da década de 1980, como garotos da rua e tnt, utiliza-vam elementos do blues em suas composi-ções. mas por volta da década de 1990 é que o blues gaúcho deu um salto e começou a ficar um “negócio sério”.

o guitarrista solon fishbone foi um dos primeiros a fazer blues no estado. antes de ter a própria banda, tocava com o irmão, an-dy rodrigues, na blues makers. em 1994, solon fishbone y los cobras gravaram o pri-meiro álbum, “blues from southlands”, que vendeu mais de 10 mil cópias. em 1996, fishbone alcançou reconhecimento nacio-nal com o álbum “heart & soul”, produzido por charles gavin, baterista dos titãs. partiu para os estados unidos, em 1997 e, em 1998, para a américa do sul, onde conheceu o ar-

gentino adrian flores. com essa parceria, houve vários shows, pelo brasil, com artistas afro-americanos como phil guy e John pri-mer. em 1999, lançou “blues galore”. o últi-mo trabalho de fishbone, “instrumental mood”, foi lançado em 2004 por um selo in-dependente.

fernando noronha também é um nome conhecido entre os apreciadores do blues gaúcho. acompanhado pela banda black soul desde 1995, gravou seis discos e se apresentou pela europa, américa do sul, e américa do norte. o seu último álbum é “bring it”, lançado em 2005. fernando noro-nha e black soul trabalharam ao lado de grandes nomes como b. b. King, e os irmãos phil e buddy guy.

o gaitista andy boy participou da faixa título do primeiro álbum de fernando no-ronha, “swamp blues”, de 1997, e se apre-sentou com solon fishbone. em 1996, an-dy boy e sua banda, the blues planets, participaram do cd “blues 4poa”, uma co-letânea com quatro bandas de blues de porto alegre, que ganhou o troféu açoria-nos em 1997.

foi no cd “blues 4poa” que outro blues-man gaúcho apareceu na cena. vinicius sil-veira, que tocou ao lado de fishbone, fer-nando noronha e do carioca celso blues boy, tem quatro discos gravados, sendo o segundo, “slidin’ n’ harpin”, uma parceria com andy boy. “no blues, tu encontras mui-to mais do que a canção. são músicos que se dedicam porque gostam e as pessoas gostam porque sabem que o artista faz aquilo de coração”, afirma silveira. seu últi-mo trabalho é o álbum “12 bar blues”, lan-çado em 2004.

vinicius silveira toca, em bares,

desde os 16 anos

Leonel Tedesco

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AMANDA POrTErOllA

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cio de fishbone na guitar garage, uma loja que vende, troca e conserta guitarras, onde silveira dá aulas de violão e guitarra.

há o problema da falta de espaço para as bandas. “tem um pessoal que toca por hobby e aceita qualquer preço. isso toma espaço de quem quer viver da música”, afir-ma gaspo. também há casas de shows que contratam uma única banda para tocar uma vez por semana, ao invés de dar espaço pa-ra bandas diferentes. “a gente toca mais no interior do que em porto alegre ou são leo-poldo”, diz a vocalista da azambujas blues band. “o que mais nos incentiva é saber que o público tá aumentando e sai alegre do show. Já tocamos para cinco pessoas e até para nenhuma. não pode botar dinheiro à frente do blues”, relata caminero.

para tiago Kautzmann, apresentador do programa madrugada blues, na rádio unisi-nos fm, o blues sempre vai ter ouvintes. “tem pessoas que chegam pra mim e di-zem: cara, eu não sabia que isso é que era blues”, explica caminero. ele acrescenta que muitos têm a idéia de que blues é uma mú-sica triste. Quando, na verdade, o que falta é conhecimento. há blues animados, pra dançar e se divertir. “o blues, por aqui, foi muito caracterizado como um som de elite. a nossa idéia sempre foi levá-lo para toda a massa. sinto-me igual tocando na vila ou num hotel cinco estrelas. a felicidade de fa-zer um som é a mesma”, afirma azambuja. gaspo diz que muita gente não gosta de

blues porque nunca ouviu. mas é cami-nero quem resume a história: “tu não

escolhe tocar blues, tu é esco-lhido. Quando tu vê, já tá

no blues”.

blues etílicos, banda de blues do rio de Ja-neiro, além de jams com adrian flores, gonzalo araya, e andy boy.

outra banda, que não poderia ficar de fora, é a azambujas blues band, de são leo-poldo. com alice azambuja nos vocais, a banda é formada por arno na guitarra, marcelo Walking bass no baixo, mário na harmônica, e feijão na bateria. a banda tem um cd demo, “passá o chapéu”, com três músicas próprias e releituras de Jimmy reed e steppenwolf. o nome “azambujas” é uma referência ao nome da rua onde a banda ensaia.

pedras naestrada

viver de música é difícil, vi-ver de blues então, nem se fala. ainda mais no brasil, terra de samba e futebol. mas a cena gaúcha se mantém ao longo dos anos. para mutuca, apresenta-dor do programa hot club do mutuca, na rádio ipanema fm, cada grupo de músicos deve ba-talhar por si mesmo. silveira afirma que, no seu caso, dá pra viver de blues: “como toco sozinho, consigo tocar em lugares menores”. ele é só-

o nome “azambujas” faz referência à rua azambuja fortuna, em são leopoldo, onde rolam os ensaios

Giovani Paim

“Tem pessoas que chegam pra mim e dizem:

cara, eu não sabia queisso é que era blues”.

bomba e... blues, tchê!

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banda Walking blues, aindana antiga formação,com o harmonicista pardal (de chapéu) U

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Daniel Terres da Cruz

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No desligar das LUZES, começa o espetáculo. Na telona, IMAGENS que FASCINAM os olhos. O CINEMA, em Porto Alegre, surgiu em 1896, com a primeira EXIBIÇÃO projetada pelo “CINEMATóGRAFO”

A sessão vai começar... Bom filme!“Eu lembro que, nos meus tempos de ju-

ventude, ir ao cinema era muito mais seguro-do que agora e muito mais barato também. As matineés de domingo passavam filmes de verdade e não essas modernidades, filmes pra encantar, emocionar e conquistar as moçoi-las”, conta o aposentado, Adamastor dos San-tos, 83 anos, ao relembrar, principalmente, o Cine Coral, responsável por boas lembranças da juventude.

Na sua opinião, é muito difícil Porto Ale-gre ter de volta todo aquele glamour do ci-nema de rua, diante de toda a tecnologia que ainda pode aparecer. Tudo isso porque, hoje, as pessoas têm preferência por suas casas e seus aparelhos de televisão cada vez mais modernos.

Assim como os cinemas de calçadas se extinguiram, os de bairro também não são escolhas para muitos habitantes da capital. O Baltimore é apenas mais um que dá seqüên-cia à extinção dessas salas. Criado na década de 1930, o cinema estava localizado no Bairro Bom Fim e possuía quatro pavimentos.

Quem foi o verdadeiro vilão para o assassi-nato em série das salas? Hoje, os melhores ci-nemas estão nos shoppings de Porto Alegre. Se você quer conforto e, ao mesmo tempo, segu-rança, eles oferecem isso e muito mais, mas com preços que fazem jus ao que propõem.

As “regras” mudaram muito de uns tem-

pos para cá. Até meados de 1990, era possível entrar no meio da sessão, ficar e esperar o filme terminar, continuar na sala até começar a outra, para você assistir à metade que ainda não havia assistido. Hoje, você é convidado a se retirar. Mas só os shoppings são os respon-sáveis? E a era tecnológica que está sendo imposta? Aparelhos de TV de plasma é a no-va moda no mercado e, para alguns, é possí-vel montar seu próprio cinema em casa.

Quem vai querer pagar uma sessão de R$12 no fim de semana se pode alugar um DVD na vídeo locadora mais próxima, que sai mais ba-rato, e ainda comprar pipocas, refrigerante, cho-colates, balas, enfim, tudo o que você pode encontrar na bomboniere dos cinemas? Assistir ao filme no conforto do seu lar, desfrutando da companhia de seus amigos ou

até mesmo daquele alguém especial.O Cinema sempre teve um lado român-

tico. Parece ser o local ideal para marcar en-contros e também iniciar um namoro. As sessões da meia noite do Cine Avenida, Guion, o GNC do Shopping Praia de Belas e o Unibanco Artplex, que, em alguns lança-mentos, faz a sessão da meia-noite aos sába-dos, acabam se tornando atrativos para o público, casais na maioria.

De acordo com a jornalista e professora na FAMECOS, Susana Gastal, “Porto Alegre é a ci-dade, do país, com o maior número de salas de cinemas de variados estilos. Gente de todo lugar vem a Porto para apreciar a

Fotos: Claudia Jobim

bilheteria de um dos cinemas localizados dentro de um shopping da capital

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ClAUDIA JOBIM

cine teatro coliseu, inauguradoem dezembro de 1910 cinema central, inaugurado

em março de 1921

anúncio do cineteatro coliseu, 1910U

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ciso se planejar para ir ao cinema.“Estamos em uma época em que os Cen-

tros Culturais estão na moda. É possível assistir a um bom filme, tomar café, contemplar mos-tras de arte e, até mesmo, realizar uma boa leitura. O cinema deixa de ser uma atividade isolada e passa a dividir espaço com outros atrativos de lazer”, comenta Gastal.

No livro “Salas de cinemas: cenários porto alegrenses”, Gastal analisa a evolução do cine-ma na capital gaúcha e, também, comenta sobre o estado de alguns deles até o fecha-mento. “Tinha salas em que era preciso colo-car os pés na poltrona, que não eram poltro-nas, mas sim cadeiras de última, porque corria água”, recorda.

va-r i e d a d e

cultural que a capital gaúcha tem a oferecer”.

Enquanto houver público que ainda gos-te de presenciar um bom filme e dividir essa alegria com outras pessoas, as salas vão existir. Só é preciso que o público queira conviver socialmente com outras pessoas e comparti-lhar o momento mágico que acontece, nas salas, com os movimentos no telão.

conforto e segurança

Na década de 1970, as salas de calçada desapareceram por completo. Isso porque os ingressos se tornaram caros com o avanço tecnológico. O público se tornou mais segmentado, apenas a elite freqüen-tava o cinema.

De acordo com a obra de Fabio Augusto Steyer, “O Cinema em Porto Alegre: 1986-1920”, as salas, que antigamente tinham até cinco mil lugares, diminuíram, gradativa-mente, o número de cadeiras por não haver maior demanda de espectadores paras as sessões. A grande mudança é o surgimento de salas com 200 a 300 lugares. Esse acaba sendo o perfil das salas que migraram para os shoppings.

Por mais que esses sejam um dos moti-vos para a invasão dos cinemas nos shoppin-gs, é preciso saber que, com essas mudanças, o número de contratações para se trabalhar nas casas cinematográficas reduziu conside-ravelmente. Antes, os cinemas empregavam muito mais pessoas do que hoje.

Em 1913, trabalhavam, no Recreio Ideal, no mínimo, umas 15 pessoas: um gerente, dois operadores, um ajudante de operador, um bi-

lheteiro, dois porteiros, um maestro e mais os músicos da orquestra. Atualmente, cada sala gera cerca de cinco empregos.

A divisão das salas por módulos, que ocorreu com o passar dos anos, exigia pou-cos funcionários. A cada três ou quatro cine-mas, há uma cabine de projeção, onde dois funcionários podem tomar conta. O bilhetei-ro é igual como antes e isso apresenta baixo custo para o cinema. A principal propagan-da, para promover as multisalas, era que, a qualquer hora, teria uma sessão. Você pode-ria chegar ao local, em qualquer horário, que o filme começaria na mesma hora. Mas, na realidade, não foi isso que aconteceu. É pre-

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cinema capitólio, 1928

anúncio do cinema popular, 30 de agosto de 1931

cine teatro rex, 1936

- O cinema, na capital, surge em 1896, com a chegada do cinematógrafo. Patenteado pelos irmãos lumière, o aparelho foi trazido pelo fotógrafo Georges renou-lean, responsável por uma das primeiras exibições de cinema na cidade.

- A rua dos Andradas ficou conhecida como o ponto de encontro para as demonstrações de imagens em mo-vimento: a famosa Cinelândia.

- O público era aquele que estava nas grandes feiras indus-triais e comerciais, festas religiosas, circos, teatros e cafés. Em todos os lugares em que o cinematógrafo passou, emocionou, assustou e surpreendeu o povo gaúcho.

- Na metade do século 20, as sessões de cinema, na capital, eram realizadas por cinematógrafos ambu-lantes.

- havia locais destinados a projeções do cinematógrafo. O principal era o Theatro São Pedro, considerado o mais importante espaço cultural da época. Ele carac-teriza um período em que Porto Alegre era considera-da um centro cultural, por onde passavam várias com-panhias de teatro e ópera.

- O Teatro Parque, localizado no Campo da redenção, atual Parque da redenção, foi inaugurado na Exposição Estadual de 1901, ano em que, segundo o historiador Jesus Pfeil, houve a feira de industriais e comerciais.

projetor para filme de 16 mm da décadade 1940. museu hipólito José da costa

fAtos Históricos

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Em muitos lugares do Brasil e do mundo, há um jovem aprendendo a sustentar a pri-meira nota musical, seja qual for o instrumen-to. Logo após, muitos decidem montar uma banda ou apenas marcar um som com os ami-gos para se divertir. A idade básica para formar uma banda, geralmente, é na faixa dos 13 aos 21 anos, onde o jovem músico tem em men-te ensaiar (com ou sem compromisso), gravar, fazer shows ou apenas se distrair. Segundo informações encontradas na maioria dos sites de formação de banda, nunca é tarde para começar.

As bandas Alto Vox (rock) e Pancada de Vaneira (tchê music) foram formadas em 2006 e, mesmo com os diferentes estilos musicais, têm quase os mesmos problemas. A aparelha-gem é ruim, a desorganização é grande e mui-ta vontade de fazer o melhor, mas sem saber como. A Alto Vox diz que a maior dificuldade encontrada em montar uma banda é “desco-brir” pessoas com a mesma sintonia musical. Relatam que os desentendimentos são o que mais leva uma banda a acabar. O grupo de rock relata que, há pouco tempo, produziu uma demo (música demonstração), mas que a qualidade ficou a desejar, tendo em vista que a gravação seria ao vivo no estúdio, o que diminuiria o custo de produção. Eles estão pensando em uma nova gravação. De acordo com os integrantes, ela terá mais qualidade.

Enquanto isso, os meninos da Pancada de Vaneira, com a tchê music, contestam que são impedidos pelo tradicionalismo de tocar em CTGs. Relatam que o melhor show foi realiza-do no Parque Harmonia, neste ano, onde pu-deram expor o trabalho de uma forma orga-nizada mostrando resultados positivos a um grande público. Ao contrário dos roqueiros, o grupo ainda não produziu as suas músicas,

mas tem projetos para sua composição. O guitarista da Pancada de Vaneira, Jairo Wolff, revela que, em sua antiga banda, gravou um material de demonstração e que aconteceu o mesmo problema de qualidade da Alto Vox.

Os sites, também, são meios de divulga-ção, o que é imprescindível para uma banda. As bandas entrevistadas têm essa noção. Es-tão montando páginas na web, para divulgar o trabalho, como é o caso da banda de metal-rock, Guynevere, que tem como meta con-quistar o coração de uma gravadora, mesmo sabendo das dificuldades encontradas na ho-ra da contratação. “Acho que vão gostar do projeto, mas talvez tenham que escutar mais vezes para quererem investir”, é o que diz o guitarrista do grupo, Leonardo Moura.

O produtor-musical e baterista da Rosa Tattooada (banda de hard rock que fez suces-so, em todo Brasil, no início da década de 1990, e chegou a abrir o show do Guns N’ Ro-ses, em 1992, em São Paulo), Beat Barea, ainda lembra o tempo em que as bandas iam para um dos poucos estúdios que existiam, na época, para gravar as músicas em um rolo de fita que, depois, era gravado para a fita K7 e o Long Play (LP). Barea recorda, também, que conseguir uma boa qualidade de gravação independente era muito complicado. Porém, a facilidade de locomoção em busca de uma gravadora era mais fácil, pois a nostalgia e o mercado da época era mais acessível.

para onde vai a música?

O rumo da música demonstra uma certa insegurança, pois muitos estilos e tendências foram surgindo, desde a música clássica até o rock and roll. Novas tecnologias vêm se apri-morando. Em meio século, rodamos do LP,

para a fita K-7, Compact Disc (CD) e, agora, a mais nova moda: o Mp3 Player.

O Mp3 parece mesmo estar tirando o sono das gravadoras aqui do Sul. Ele pode fornecer 1 GB (giga byte) de espaço, ou seja, mais de 500 músicas em um pequeno aparelho portátil. As grandes gravadoras nacionais estão utilizando suas últimas forças, com a venda de músicas em formato Mp3, para download, em seus si-tes. O preço varia de R$ 0,99 a R$ 2,50. Isso tudo para reparar os gastos financeiros com o artista em vendas de CD e divulgação.

De acordo com Barea, as gravadoras, não só aqui do Sul, mas no país inteiro, estão a beira de um colapso. O maior motivo é a pira-taria: “vai chegar um momento em que a gra-vadora não irá mais arcar com o gasto, em um estúdio de gravação, para o artista. Ela apenas funcionará como um selo de distribuição”, (re-petido), explica Barea.

Isso ocorre porque a gravadora tem um gasto enorme na hora em que os artistas contratados gravam. Dessa forma, acabam não tendo dinheiro suficiente para realizar a promoção e marketing do trabalho. E, se a divulgação é baixa, a venda de CDs também será baixa e com preço indesejável: “daqui a uns anos, os novos artistas irão gravar seus álbuns em seu próprio estúdio caseiro. E, se atingirem uma qualidade boa e o mercado for apropriado para essa tendência sonora, a gravadora apenas irá funcionar como selo de divulgação”, diz Barea (repetido). Ele afirma que, por um lado, a Internet ajuda muito na divulgação do artista, mas atrapalha demais nas vendas. E que, no momento, não existe uma solução para isso, a não ser que as pes-soas sejam mais conscientes ao fazer down-load ao invés de ir a uma loja comprar o dis-co do seu artista preferido.

Entre o palco e o anonimatoBANDAS novas buscam a DIVULGAÇÃO dotrabalho através da INTERNET. E gravadoras com FUTURO incerto procuram novas ALTERNATIVAS

o guitarrista, israel fontoura, da banda alto vox

renato brasil

Natascha M

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A grande conquista cultural do pequeno arquipélago

MONIQUE hOFFElDEr

O que vem do Oriente é utilizado no mundo ociden-

tal. Desde a tecnologia de ponta até o lápis que você

usa. As coisas legais que fazem no Oriente refletem

aqui, pois lá o sol nasce primeiro. Chegando de mansi-

nho, os japoneses garantem a inserção da sua cultura

em todos os aspectos, a começar pela “tecnologia ja-

ponesa” bem conceituada por aqui. Filmes como “Os

sete samurais”, de Akira Kurosawa, que ganhou o Leão

de Prata do Festival de Veneza (1954), os mangás, a fi-

losofia e as artes marciais despertam a curiosidade e o

interesse pelo misterioso mundo oriental. Quanto mais

se estuda, mais enigmático ele se torna.

Os eventos culturais despertam o interesse da po-

pulação pela cultura oriental. Torna-se mais eviden-

te o aparecimento de descendentes de japoneses em

comerciais, programas de televisão, rádios, telenove-

las e música. Basta caminhar pela cidade para notar

seja nos gráficos, revistas, ilustração de livros, ima-

gens vinculadas à publicidade, design de ambientes,

nas novelas, nas técnicas de medicina, nos esportes,

no Flit (arte de grafite inspirada em gráficos orien-

tais). No cinema de Hollywood, os atores japoneses

de figurantes passaram a protagonistas. Estampas

kanjin nas camisetas e outdoors colaboram para as

difusões culturais nipônica, que vai além do consu-

mo e leva, em alguns casos, a aprofundar-se nos mi-

tos, filosofias e conhecimentos da cultura japonesa.

No mundo globalizado e capitalista, alguns va-

lores e características culturais se perderam. No

Oriente, a consciência ecológica levou o Japão a fa-

bricar o primeiro carro com motor Hibrido.

O país do shinkansen (trem bala), após a guerra,

se desenvolveu com a mesma velocidade que inven-

taram as tecnologias de ponta. Até a pop star Mado-

na adotou elementos da cultura oriental nos clipes

do último álbum. A que se deve todo esse sucesso de

um pequeno país com grandes valores culturais?

Analise as notáveis evidências.

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personagem japonês Kimbar. É um universo rico”, diz o ilustrador e cartunista Jeferson viei-ra barboza. inspirado em publicações da dé-cada de 1990 de lobo solitário e akira, ed. globo, dá cursos de quadrinho há 12 anos.

gueixas e samurais

desfazendo mitos, paulo gick protesta: “nunca uma gueixa deixaria suas pernas a mostra, jamais usaria kimonos extravagantes, como uma rameira. além do filme ser feito com atrizes chinesas”, diz gick, sobre o filme memórias de uma gueixa, de rob marshall, adaptação americana sobre gueixas. direto da fonte, o filme a música de gion, de Kenji mizoguchi (1953), narra o aprendizado de uma jovem de Kyoto para se tornar gueixa.

o mestre samurai e médico Jorge Kishi-kawa, assistiu duas pré-estréias do filme o último samurai, uma com brasileiros, outra com japoneses e viu o diferente ponto de vis-ta das culturas. “em algumas cenas, brasilei-ros riram e não havia menor graça, outras, os japoneses derramaram lágrimas e os brasilei-ros não perceberam nada. mas confesso que, algumas vezes derramei lagrimas sozinho”. Kishikawa fundou o instituto niten, dissemi-na o Kenjitsu, estilo de duas espadas criado pelo mestre miyamoto musashi, (1584? -1645). aprendeu com seu pai, mestre samu-rai Yoshi Kishikawa no bairro liberdade, são paulo. faz do bushidô doutrina de vida, bus-ca perfeição em tudo que faz. os samurais protegeram o Japão por mais de 700 anos, deixando um legado de honra e coragem que influenciou a cultura japonesa.

a me respeitar. até demais às vezes”, compa-ra o baterista Japinha, que também se divide entre as bandas bandas cpm22 e hateen. “a maioria dos descendentes sabem fazer bom uso da etnia e virtudes de ser oriental. adoro ser o Japinha. o fato de ser mestiço ajudou a ver os dois lados”, confessa.

o Japão está na moda

alguns estilistas japoneses revolucionam a moda mundial, nas passarelas, há 20 anos, a rei Kawakubo, Yohji Yamamoto, Kenzo, is-sey miyake, takashi murakami, fez o design de bolsas para louis vuitton, a nikkei brasileira Érica ikezili. o francês paul poiret, em 1914, inspirou o design de suas roupas no oriente.

na literatura, o fenômeno mundial bana-na Yoshimoto, com linguagem simples, lan-çou, com 22 anos, Kitchen, Japão (1988) e conquistou vários prêmios e traduções.

até no impenetrável mercado norte-americano a cultura japonesa teve forte influ-ência. uma referência é o lobo solitário, Ja-pão(1970), que chegou ao brasil em 1988. saga do Japão feudal influenciou frank miller, escritor de batman-cavaleiro das trevas, le-vou a obra aos estados unidos. É a primeira obra japonesa traduzida para inglês. influen-ciou saga, Wolverine - dívida de honra, de-molidor, e elektra. tarantino em Kill bill ii faz referências ao lobo: “há influência nipônica no mercado americano que é restrito a coisas estrangeiras, assimilam a cultura de quadri-nhos, a produção de animação. os estúdios disney sofreram influência de mangá no fil-me o rei leão, que é plágio descarado do

manifestação culturalos imigrantes japoneses não trouxeram

ao brasil apenas o sonho de fazer fortuna e ser dono de um pedaço de terra. trouxeram rituais, crenças e folclore, como akimatsuri, festa de outono, celebrada por imigrantes e descendentes, na colônia Japonesa de mo-gi das cruzes e alto tietê. com o centenário da imigração no brasil, os organizadores da festa pretendem realizá-la em local com maior capacidade. o festiva Yosakoi soran, segundo o diretor do evento, francisco sa-to, os primeiros participantes da dança eram descendentes de japoneses e, no gru-po do paraná, não há descendentes.

apreciado pelos ocidentais, foram incor-porados o bonsai (árvore em bandeja), a prá-tica de ikebana (a arte japonesa de arranjo floral), o origami (técnicas de dobraduras em papel), praticado em escolas para concentra-ção e criatividade das crianças, e o kirigami (técnica de fazer cartões com cortes e dobra-duras no papel). outro elemento incorpora-do na cultura brasileira é o haiku, haikai ou haicai (poesia curta, 17 sílabas e três versos). há praticantes de diversos idiomas, e foi in-troduzido no brasil, em 1903, por oliveira li-ma, internacionalizado na tradução “sendas de oku”, de matsuo bashô (1644-1694), por octavio paz, Wenceslau de moraes e afrânio peixoto. os escritores gaúchos Érico verissi-mo, mario Quintana e ricardo silvestrin in-corporaram haicai nas suas obras.

destaquesno meio artístico, cada vez mais se vê pes-

soas de olhos puxados. no teatro, na música e cinema há mais participações. a desmistifica-ção da cultura oriental é evidente no brasil. os japoneses ganharam confiança para pôr em prática projetos e mostrar a face oriental sem ser motivo de piadas do tipo “abre o olho, japa”.

nos nomes de destaque, a atriz Juliana Kametani, a suzi da novela belíssima, ga-nhou mais espaço no folhetim. sabrina sato, ex-big brother, participa do programa pâni-co da rádio Jovem pan. daniele suzuki, a miyuki em malhação, apresenta um progra-ma na multishow e participou do filme Wo-man on top (2000), com penelope cruz no início da carreira. o tenista hugo hoyama conquistou o pan-americano, hexa cam-peão latino e sul-americano. há também o guitarrista mauro motoki da banda ludov, além do baixista das bandas cpm22 e hate-en, fernando takara. “minha trajetória, de menino tímido a baterista de banda de rock, é exemplo de que os descendentes de orien-tais querem, tentam e estão se integrando à sociedade brasileira. depois que me tornei bem sucedido no trabalho, todos passaram

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Nos últimos anos, surgiu, no Japão, jo-vens apaixonados por moda. São os “cos-plays” ou “costume play”. Os fãs usam cos-play de personagens de desenho animado em Feiras de Anime. “É um momento em que você pode ser o que é, dar vida aos personagens”, disse Camila da Silva Reis, 21 anos. Ela fez cosplay de Mye-Red Mad Mye (empregada robô pequena).

Filipi Miai, 19, sansei (neto de japonês) assiste animes desde os sete anos. Não teve oportunidade, mas gostaria de ir à terra do sol nascente. Ele acha que as pessoas não-japonesas se atraem pela arte do anime pela filosofia da história e diferença cultural dos personagens. Para Miai, no anime, im-pera a igualdade cultural.

Bruno Bruni, 17, fez quatro vezes o cos-play de Goku-Dragon Ball Z. Assiste a anime desde os seis anos. Vai aos eventos para re-lembrar os desenhos e participar. Cavalei-ros do Zodíaco e Dragon Ball (animes de grande repercussão na TV aberta brasileira) estão entre os favoritos. O seu amigo Dior-gene Belzarena, 18, fez cosplay de Hyei-Ragnarog e Yuyu Hakushou. Para Bruni, as feiras de anime são para se divertir: “aqui a única droga são os desenhos”.

Ocidentalizado pelos Estados Unidos,

vencedores da guerra, o Japão adotou a cultura americana no pós-guerra. Desatan-do alguns laços da cultura oriental, refletin-do, na juventude, conceitos estéticos: “os jovens japoneses não têm imagem defini-das deles mesmos. Querem se libertar de semelhanças, abraçando o diferente e exó-tico”, diz o médico de psiquiatria adolescen-te, Ken Ohira.

O primeiro indício de ocidentalização aconteceu no periodo Kokugawa, com o fim dos samurais. No visual key, os jovens buscam expressão visual diferente, para resgatar a individualidade, assim como os samurais buscavam manter sua suprema-cia frente à ordem de serem padronizados. A insatisfação com a semelhança coletiva leva muitos japoneses a fazer operações plásticas para ter dobrinha nos olhos como os ocidentais, além de cirurgias no nariz e bronzeamento artificial.

As mudanças são sentidas com mais intensidade em Tokyo, nas ruas dos bairros Harajuku e Shibuya, onde se encontram ja-poneses vestidos de uma maneira andrógi-na. “Com 20 anos, viram adultos, têm que trabalhar e estudar. Eles amam moda. De 16 a 20 anos, usam cabelos coloridos e aces-sórios gritantes. É um ato de libertação que

acontece só aos domingos. Durante a se-mana, andam de uniformes, roupas de es-cola”, diz o diretor do Instituto Goethe, Rei-nhard Sauer.

Como no Japão, fãs de visual key espa-lhados pelo mundo usam pseudônimo. No Brasil, é possível encontrar seguidores do estilo. Adriano da Silva (Malkav), 19, se veste no estilo Gothic Lolita, e assiste ao anime Full Metal Alshimist. Gosta de ouvir Malice Mizer, X-Japan e Larc en Ciel. Malkav prefe-re não apresentar o som aos amigos. Diz que pode virar moda, “quando atinge as massas, alguém critica o som. Eu não gosto que critiquem”.

Da mesma maneira que escuta músi-cas em inglês, não vê problemas nas músi-cas em japonês. Para o professor José Ro-berto Vengardner Junior, 26, o interesse pelo Japão surgiu com Yamato, Patrulha Es-telar e Cavaleiros do Zodíaco. A partir das bandas de j-rock, passou a ter contato com a moda japonesa. O visual key marca a di-ferença, curte estilo Gothic Aristocratic. Quando usa as roupas, em eventos, se sen-te bonito, diferente do dia-a-dia. Ele não usa o visual no cotidiano. As pessoas acham estranho, por ele não estar vestido como querem ver.

Os Cosplays e Visual Kei brasileiros

“Descobri a animação japonesa quando tinha 12 anos, assistindo a um desenho chamado sailor mo-on. para mim, foi amor à primeira vista”, assim, o mangá entrou na vida de Karine Himura.

mangá é um estilo de fanzine, uma forma de de-senhar quadrinhos, uma linguagem narrativa e visu-al tipicamente japonesa em contraste com o traço ocidental. surgiu entre 1814 e 1849. o artista japonês Katsushita Hokusai retratou cenas do cotidiano, com pessoas em situações e traços pitorescos. essa coleção de caricaturas recebeu, na época, o nome de HoKusAi mAngA. Assim, nasceu o primeiro trabalho que resul-tou nos atuais quadrinhos japoneses.

o professor de desenho e história em quadri-nhos, jefferson vieira barboza, artista plástico auto-didata, desenhista publicitário, ilustrador, cartunis-ta, entre outras funções, acrescenta que, há muito tempo, quando ainda não existiam os animes, os ja-poneses tiveram a idéia de criar mangá, aqui, no brasil, conhecido como Hq, ou seja, histórias em qua-drinhos. todos os animes, antes de ganhar anima-ção, passaram por mangá até chegar à televisão. muitos, como Dragon ball, cavaleiros do zodíaco, e

perspectiva e um curso de cartunismo que me deu noção de roteiro cinematográfico. sempre me base-ando em mangakas (quem desenha mangá), resolvi fazer uma produção independente de start em 2006, quando ela completou 10 anos de existência”.

o mangá possui as seguintes características: linguagem baseada no cinema e dramatização in-tensa, grande envolvimento emocional. o leitor se coloca no lugar do personagem, a representação gráfica dos sons integra a composição do desenho, e imagens em primeiro plano para aproximar o per-sonagem do leitor. o desenho é estilizado, com olhos e cabelos de formato não-convencional, efei-tos visuais no fundo para transmitir idéia de movi-mento ou emoção. para Himura, deve-se educar o leitor para que não exista preconceito com esse ti-po de arte alternativa.

vieira acredita que, até hoje, os mangás conti-nuam fazendo o maior sucesso. principalmente, por-que muitos ganharam animação. existem muitos mangás especiais, inéditos, exclusivos. cada dia, eles se tornam mais populares. o japão não pára de produzir mangás. isso significa que, se todos os man-gás que são lançados ganharem uma série de anima-ção, ainda terá muitos animes daqui pra frente.

A arte japonesa dos mangás

pokémon tiveram muitos mangás lançados antes de chegar à telinha. ministrando desde 1994, em porto Alegre, o professor tem como público alvo os jovens de classe média, sendo eclético nos mangás.

no brasil, o mangá era lido pelos descendentes de japoneses, através da importação de distribuido-ras. os heróis japoneses surgiram, na televisão, em 1970, com o desenho ultraman, na tv tupi. em 1984, nasceu a Associação brasileira de Desenhistas de mangá e ilustrações (AbrADemi) e, também, circu-lou o primeiro informativo sobre mangá.

Himura relembra: “comecei a desenhar mangá sem saber o que era. fui evoluindo e aperfeiçoando meu traço. fiz um curso, em 2000, mais voltado à

lAíS MICOlLaís Micol

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Rede Metodista do Sul Curso de Comunicação Social - Jornalismoconvida para o evento

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