Revista Ciência e Maçonaria, Número 01

download Revista Ciência e Maçonaria, Número 01

of 90

Transcript of Revista Ciência e Maçonaria, Número 01

  • 5/25/2018 Revista Ci ncia e Ma onaria, N mero 01

    1/90

    Volume 1, Nmero 1, jan/jun. 2013. ISSN 2318-0129

    MAONARIAELAICISMOREPUBLICANNAIMPRENSACATLICACEARENSE1910-1920

    Marcos Jos Diniz Silv

    OSEFEITOSPSICOLGICOSDAPRTICADORITUALMANICO

    Rafhael Guimar

    PORQUEAMAONARIAESTPERDIDA: UMAANLISECOMPARATIVADAINFLUNCIADOSDIFERENTESLEMASSOBREASATIVIDADESMANICAS

    Kennyo Isma

    A MULHER, AMAONARIAEOSDIREITOSFUNDAMENTAIS

    Hugo Garcez Duar

    MAONARIAEE

    DUCAONA

    CIDADDESOROCABANA2A. METADEDO

    SCULOXIX: UMAANLISEAPARTIRDASRELAESDEPODER

    Ivanilson Bezerra da Silv

    O SIMBOLISMONAMAONARIA(REVIEW)

    Nihad Faissal BassParceiros:

  • 5/25/2018 Revista Ci ncia e Ma onaria, N mero 01

    2/90

    MissDemocratizar a produo acadmic

    cientfica sobre Maonaria e seu acess

    Dados CatalogrficoISSN 2318-01

    Janeiro a Junho de 20Volume 0Nmero 0

    PeriodicidadSemest

    Conselho EditoriGabriel Castelo Bran

    Kennyo IsmMax Stabile Mend

    Nihad Faissal Bas

    Contato

    Editor-Chefe: Kennyo [email protected]

    Suporte Tcnico: Nihad [email protected]

    Portal - www.cienciaemaconaria.com

    ParceiroLoja Manica Flor de Ltus N3

    PKP Public Knowledge Proje

    Aviso:Os artigos publicados so de inteira responsabilidade de seus autores e no exprimem, necessarimente, o ponto de vista da Revista Cincia & Maonaria. No necessrio solicitar prvia autorizo para reproduzir parte do contedo publicado nesta revista, desde que sejam citados o autor efonte.

    Imagem da Capa:Amor Fraternal, Auxlio e Verdade, as trs virtudesmanicas que compem o lema manico original, que tema abordado em um dos artigos publicados nestenmero. Ilustrao em carvo feita por Lee WoodwardZeigler. Tamanho Original: 17,2 cm x 14 cm. Reproduzidoa partir de uma chapa inserida aps a pgina 2000, daobra A Histria da Maonaria, as suas lendas e tradies,sua histria cronolgica, de Albert Gallatin Mackey.Publicado pela: The Masonic History Company, Nova York

    e Londres: 1906. Vol. 7.

    A primeira revista acadmico-cientfica brasileira com foco no estudo da Maonaria

  • 5/25/2018 Revista Ci ncia e Ma onaria, N mero 01

    3/902

  • 5/25/2018 Revista Ci ncia e Ma onaria, N mero 01

    4/903

    SumrioA primeira revista acadmico-cientfica brasileira com foco no estudo da Maonaria

    Palavra do Editor 5-6

    Maonaria e Laicismo Republicano na Imprensa Catlica Cearense 1910-1920

    MARCOSJOSDINIZSILVA

    7-19

    Os Efeitos Psicolgicos da Prtica do Ritual Manico

    RAFHAELGUIMARES

    21-28

    Porque a Maonaria est Perdida: Uma Anlise Comparativa da Influncia dosDiferentes Lemas sobre as Atividades Manicas

    KENNYOISMAIL

    29-50

    A Mulher, a Maonaria e os Direitos Fundamentais

    HUGOGARCEZDUARTE

    51-64

    Maonaria e Educao na Cidade de Sorocaba na 2a. Metade do Sculo XIX: Uma

    Anlise a partir das Relaes de Poder

    IVANILSONBEZERRADASILVA

    65-79

    O Simbolismo na Maonaria (resenha)

    NIHADFAISSALBASSIS

    81-85

    Sobre a Revista Cincia & Maonaria 87-88

  • 5/25/2018 Revista Ci ncia e Ma onaria, N mero 01

    5/904

  • 5/25/2018 Revista Ci ncia e Ma onaria, N mero 01

    6/905

    Prezados leitores,

    A Maonaria sempre se mostrou assuntointeressantssimo, em especial pelo potencial detemas a serem explorados. Afinal de contas, seh uma organizao rodeada de mistrios, essaorganizao a Maonaria, a comear por suaorigem. Ao longo dos sculos, as mais diferentesteorias tm surgido e sido contestadas, o quetem destacado a origem da Maonaria como umdos assuntos mais discutveis e debatidos napesquisa histrica.

    A atuao protagonista de maons nasmais diferentes frentes pode ser verificada, porexemplo, na obra 10.000 Maons Famosos, quefornece uma pequena bibliografia de mais dedez mil lderes de todo o mundo que eram ouso declaradamente maons. A 1 edio foi pre-faciada por Harry S. Truman, ex-presidente dos

    EUA, na funo de Past-Gro-Mestre da GrandeLoja do Missouri.

    Romeu e Valds, em um artigo publicadoem 2011, destacam algumas personalidades his-tricas que pertenceram Maonaria, entre elesGeorge Washington, Benito Jurez, Simn Bolvare Jos Mart, no sculo XIX, e Salvador Allende,Lazaro Cardenas e Winston Churchill, no sculoXX. J Morel e Souza, em livro publicado em2008, acrescentam que no apenas lderes polti-cos passaram pelas fileiras manicas, apontan-do gnios como Mozart, Voltaire, Goethe e LouisPasteur. J Hodapp, em seu Freemasons forDummies, tambm contribui com o tema, indi-cando vrios maons que se destacaram em dife-rentes setores, como o ator John Wayne, o mgi-co Harry Houdini. Entre empresrios do entrete-nimento: Louis B. Mayer, fundador da MGM; JackL. Warner, fundador da Warner Brothers; Carl

    Laemmle, fundador da Universal Studios; e DarF. Zanuck, fundador da 20th Century Fox. Entempreendedores: Henry Ford, fundador da FoMotor Company; Walter P. Chrysler, fundador dChrysler Corporation; Andre Citroen, fundador dCitroen; Charles Hilton, fundador dos Hotis Hton; David Sarnoff, fundador da NBC. Entre esctores: Alexander Pope, Oscar Wilde, Sir Arth

    Conan Doyle e Mark Twain.Ao florescer no Brasil, em apenas 25 an

    a Maonaria alcanou seu intuito inicial, de lidrar a independncia do pas, tendo promovidoDia do Fico, a convocao da constituinte, einiciao na Maonaria de Dom Pedro I, que chgou a ser eleito Gro Mestre. Mas a atuao dlideranas manicas no territrio nacional nparou na Independncia, alcanando tambmproclamao da Repblica e toda a chamada Rpblica Velha, como observou Gomes, em se

    livro 1822 (2010), ao relatar que a Repblica fproclamada por um maom, o marechal Deododa Fonseca, o qual tratou de criar uma equipcomposta apenas de ministros maons, e qudos 12 presidentes da chamada Primeira Repblica, oito eram maons.

    Mas para compreender a razo dessa intituio estar, durante sculos, atraindo os madistintos homens, at mesmo chefes de estadode governo, deve-se, primeiramente, compree

    der o que ela realmente . No entanto, at memo isso mostra-se uma misso desafiadora, pono h uma definio que seja oficial da instituo ou mesmo que descreva satisfatoriamenteque realmente a Maonaria. Jay Kinney abodou bem isso em sua obra O Mito Manco (2010) ao registrar que um sem-nmero questes legtimas se colocam quando algutenta compreender o que a Maonaria.

    C&M | Braslia, Vol. 1, n.1, p. 5-6, jan/jun, 2013.

    Palavra do Editor

    VolumeNmero

    jan/jun. 201

  • 5/25/2018 Revista Ci ncia e Ma onaria, N mero 01

    7/906

    Enfim, essa pitada de Maonaria j servecomo indcio de como sua origem, definio,participao ativa na histria de vrios pases,incluindo o Brasil, os grandes personagens quepertenceram Ordem, sua influncia na polticae na sociedade, as questes religiosas relaciona-

    das a ela, sua filosofia e literatura, so alguns dostpicos ainda pouco explorados e extremamenterelevantes, no somente para os maons, masprincipalmente para a comunidade acadmica ea sociedade em geral.

    No entanto, esse vasto campo de pesqui-sa, apesar de j ter cado nas graas dos estudio-sos de outras terras, ainda no foi explorado noBrasil, no havendo sequer uma nica revista es-pecializada em publicar estudos realizados com

    rigor metodolgico sobre temas relacionados Maonaria.

    Com o intuito de atender essa demandareprimida e disponibilizar a produo acadmico-cientfica de Maonaria de forma gratuita, foicriada a revista Cincia & Maonaria, a primeirarevista brasileira do gnero. Seu formato exclu-sivamente eletrnico e com publicaes semes-trais. Sua finalidade publicar produo multi-disciplinar relacionada Maonaria de especialis-tas, professores e alunos de diversas universida-des.

    A Revista Cincia & Maonaria destina-se publicao de textos inditos na modalidadede artigos, ensaios e resenhas. Trata-se de umespao aberto para professores, pesquisadores eestudantes que desejam publicar suas anlises,reflexes e resultados de pesquisas realizadas. Arevista tambm est aberta ao pblico manicoem geral para suas contribuies. Considera-seainda, como principal requisito para publicao

    na Revista Cincia & Maonaria, que a produ-o apresente contedo analtico-interpretativo,de maneira coerente com rigor cientfico na reade estudo das cincias humanas e sociais.

    Neste nmero inaugural, contamos comartigo de Marcos Jos Diniz Silva, apresentandoos ataques que a Igreja Catlica realizou no Cea-r contra a Maonaria, nos primeiros anos do s-

    culo passado, por essa defender os ideais de uEstado e ensino laicos.

    J Rafhael Guimares realiza exame dsimbologia e ritualstica manica a partir da pcologia junguiana, avaliando os efeitos psicolg

    cos da prtica manica.Uma anlise comparativa da influncdos lemas manicos original e latino sobre programas filantrpicos e de pesquisa promovdos pelas Obedincias Manicas realizada pmeio de dois estudos distintos, conduzidos descritos por Kennyo Ismail em seu artigo.

    Apresentamos tambm as diferentes argmentaes jurdicas acerca do veto do ingresde mulheres na Maonaria luz dos direitos fudamentais, anlise feita por Hugo Garcez Duart

    Ainda, Ivanilson Bezerra da Silva nos prsenteia com uma interessante discusso sobreatuao social da Maonaria em prol da educo, durante a segunda metade do sculo XIX ncidade de Sorocaba-SP.

    E por fim, o livro O Simbolismo na Manaria, de Colin Dyer, destrinchado e analisadpor Nihad Faissal Bassis.

    Como se pode observar, so artigos qu

    enveredam por diferentes cincias, como Admnistrao, Direito, Histria, Psicologia e Sociolgia, abordando questes econmicas, histricapolticas, psicolgicas, religiosas e sociais, e qude certa forma, esto entrelaadas entre si pellaos da fraternidade manica.

    Esperamos que cada leitor encontre npginas dessa revista a mesma alegria com quos autores as escreveram e que ns, orgulhosmente, sentimos em public-las.

    Sincera e Fraternalmente,

    Kennyo Ism

    C&M - PALAVRA DO EDITOR

    C&M | Braslia, Vol. 1, n.1, p. 5-6, jan/jun, 2013.

  • 5/25/2018 Revista Ci ncia e Ma onaria, N mero 01

    8/907

    MAONARIA E LAICISMO REPUBLICANO NA IMPRENSA CATLICA CEARENSE

    ENTRE OS ANOS DE 1910 E 1920

    Marcos Jos Diniz Silv

    Resumo

    Este trabalho enfoca as relaes entre maonaria, repblica e laicismo estabelecidas pela imprencatlica do Cear nas primeiras dcadas do sculo XX, expressando o conflituoso no campo dideias e com repercusses no terreno religioso. Destaca-se o carter de denncia catlica presea de maons nos regimes republicanos, tambm em pases como Portugal, Frana e Mxico, com

    conspiradores, promotores do anticlericalismo e de governos irreligiosos ou ateus. Na contrafacmanifestam-se os maons e correntes espiritualistas, atravs da imprensa leiga, na defesa dos prceitos laicos e da liberdade de pensamento e religio.

    Palavras-chaves: Maonaria, Repblica, Laicismo, Imprensa

    Recebido em: 10/05/20Aprovado em: 12/06/20

    Abstract

    This work focuses on the relationship between Freemasonry, republic and secularism estab-

    lished by the Catholic Press of Cear in the first decades of the twentieth century, expressingconflicting ideas in the field and with repercussions on religious grounds. Noteworthy is theCatholic character of the complaint to the presence of Freemasons in republican regimes, alsoin countries such as Portugal, France and Mexico, as conspirators, prosecutors anticlericalismand governments or irreligious atheists. In counterface manifest themselves Freemasons andspiritual currents through the lay press in defense of secular principles and freedom of thoughtand religion.

    Keywords Freemasonry, Republic, Secularism, Press

    Marcos Jos Diniz Silva graduado e especialista em Histria, alm de Mestre e Doutor em Sociologia. Professor Universidade Estadual do Cear, lotado no Curso de Histria da Faculdade de Educao, Cincias e Letras do SertCentral FECLESC/UECE. autor do livro No compasso do progresso: a maonaria e os trabalhadores cearenses. Forleza: NUDOC/UFC, 2007 (Coleo Mundos do Trabalho). Tem artigos publicados sobre Maonaria, Espiritismo e IgrCatlica no Cear.

    C&M | Braslia, Vol. 1, n.1, p. 7-19, jan/jun, 2013.

  • 5/25/2018 Revista Ci ncia e Ma onaria, N mero 01

    9/908

    Introduo

    As relaes entre Maonaria e Igreja cat-lica no Brasil tiveram seu ponto de estrangula-mento histrico na conhecida Questo Religiosa,

    no incio da dcada de 1870 (VIEIRA, 1980; BA-RATA, 1995; 1999). Embora, as restries e con-denaes catlicas Maonaria remontem aoincio do sculo XVIII, o estabelecimento e con-solidao do Estado nacional brasileiro, entre osanos de 1820 e 1850, sob o domnio hegemnicodos liberais nas suas vrias vertentes, sobretudopela presena dominante da Maonaria comosociabilidade poltica fundamental (BARATA,2006; MOREL, 2001/2; 2005), conferiram um mo-delo imperial assentado no padroado com seve-

    ras restries s ordens religiosas e expanso eatualizao - diga-se romanizao tridentina - doclero secular.

    Desse modo, as relaes entre padres eMaonaria no Imprio davam-se, majoritariamen-te, em carter ostensivo e amigvel, haja vista aconsidervel presena de sacerdotes catlicos navida poltica imperial e em movimentos revoluci-onrios liberais no Brasil da primeira metade dosculo XIX. Contudo, o advento do movimento

    de romanizao a partir da dcada de 1860, so-bretudo com a Syllabus, do papa Pio IX (1864),estabelecem-se as contradies fundamentaisentre os interesses catlicos e a filosofia e prti-cas manicas.

    Com a implantao da Repblica no Brasilem 1889, a secularizao do Estado e a implanta-o dos preceitos laicos da Constituio de 1891,com acentuada colorao positivista, abre-se umnovo flanco aos embates entre catlicos e ma-ons.

    No mbito catlico incrementa-se a roma-nizao com a expanso dos seminrios, dioce-ses e construo das alianas do clero romaniza-do com as elites oligrquicas autonomistas dajovem repblica federativa brasileira. A separaoIgreja-Estado, embora considerada afrontosa pa-ra o clero no primeiro momento, cedo se apre-

    sentou hierarquia catlica como medida dabolio frente ao padroado e aos grilhes librais impostos pela elite imperial marcadameniluminista e manica.

    Portanto, frente ao seu processo doutrinrio e poltico de construo institucional no Brsil, pelas vias poltico-oligrquica, patrimonieducacional junto s classes alta e mdia e supermanncia hegemnica como instrumento dlegitimao-sacralizao da ordem soc(BOURDIEU, 2004; MICELI, 1988; AZZI, 1994),Igreja catlica encetara, tambm, sistemticampanha pblica pela supresso dos preceitlaicos vigentes, alinhando entre seus inimigos positivistas, espritas, protestantes e, especia

    mente, a Maonaria, considerada a me dos demandos morais e religiosos do modernismo e dexpanso dos regimes republicanos e seu laicimo.

    Nesse intuito, desenvolve-se tambm umimprensa peridica catlica que, por um laddesempenhar papel relevante como instrumeto de difuso de um novo etos catlico cada vmais intimista, doutrinrio e disciplinador dtradies do catolicismo popular e, por outro ldo, se colocara como trincheira do combate demais religies, ao laicismo da Constituio eMaonaria. E esse segundo aspecto, que setratado nesse trabalho, atravs da atuao de pridicos catlicos cearenses de Fortale(Cruzeiro do Norte eO Nordeste) e de mais trmunicpios do interior do estado, Baturi(Santelmo), Sobral (Correio da Semana) e Arac(O Rosrio), entre as dcadas de 1910 e 192Na contraface v-se, tambm, a ostensiva prsena da Maonaria - em grande parte com pe

    tena esprita e teosofista -, expandindo suas Ljas na capital e interior do estado, com forte isero na imprensa leiga, na poltica e nos grmios literrios, defendendo os preceitos laicrepublicanos, a perspectiva intelectual iluminise doutrinas de reforma moral-espiritual comsoluo para a questo social. (Cf. SILVA, 2010

    SILVA, M. J. D. MAONARIA E LAICISMO REPUBLICANO NA IMPRENSA CATLICA CEARENSE...

    C&M | Braslia, Vol. 1, n.1, p. 7-19, jan/jun, 2013.

  • 5/25/2018 Revista Ci ncia e Ma onaria, N mero 01

    10/909

    Tabela 1. Relao de Lojas do GOB no Cear at 1927.

    Aqui se quer considerar tambm o carterdas fontes documentais utilizadas. Ou seja, em setratando do presente trabalho, sustentado empublicaes da imprensa peridica, salienta-se aconcordncia quanto aos desenvolvimentos his-toriogrficos recentes que tratam a imprensa nomais apenas como uma linguagem, mas tambmenquanto fonte para o estudo histrico. Assim,passando da histria da imprensa, da histria pormeio da imprensa, chegou-se imprensa comoobjeto histrico (DE LUCA, 2008).

    Nesses termos, configura-se a imprensaperidica cearense do referido perodo como umfonte histrica fundamental, aqui tomada tantocomo corpus documental, quanto como locusprivilegiado de ao desses agentes (objeto),pois reveladoras do campo das ideias, das lutassimblicas e das condies econmicas e sociaisvigentes, em concordncia com a afirmao de

    Cruz e Peixoto (2007, p. 260):

    A Imprensa linguagem constitutiva social, detm uma historicidade e peculridades prprias, e requer ser trabalhadacompreendida como tal, desvendandocada momento, as relaes imprenssociedade, e os movimentos de constito e instituio do social que esta relaprope.

    Depreendem-se empiricamente essas codies estruturais e estruturantes do papel d

    imprensa, quando se observa no interior do estdo sua proliferao exatamente nos municpieconomicamente mais relevantes e os elementsociais destacados e seus pertencimentos ideolgicos que as criavam e mantinham com razovlongevidade. Disso deduzindo-se que essa imprensa catlica, na capital e no interior cearencumpria um papel no apenas militante, mas iformativo das condies materiais de vida, d

    SILVA, M. J. D. MAONARIA E LAICISMO REPUBLICANO NA IMPRENSA CATLICA CEARENSE...

    C&M | Braslia, Vol. 1, n.1, p. 7-19, jan/jun, 2013.

    Lojas Manicas do Cear sob Jurisdio do GOB at 1927

    Loja Fundao Desativao Cidade

    Fraternidade Cearense 1859 1916 Fortaleza

    Igualdade 1882 - Fortaleza

    Caridade III 1882 1896 Fortaleza

    Liberdade IV 1901 - Fortaleza

    Lealdade II 1901 1910 Maranguape

    Amor e Caridade III 1905 1906 Fortaleza

    Porangaba 1905 - Fortaleza

    Deus e Baturit 1905 1911 Baturit

    Deus, Ptria e Liberdade 1905 1910 Senador Pompeu

    Liberdade II 1906 - Maranguape

    Ordem e Justia 1918 1926 Quixad

    Caridade e Justia* 1916 - Quixad

    Deus e Camocim 1921 - Camocim

  • 5/25/2018 Revista Ci ncia e Ma onaria, N mero 01

    11/9010

    nveis de circulao das ideias e das relaes depoder estabelecidas.

    Ouro aspecto relevante a considerar co-mo chave analtica desse trabalho, que essa im-prensa declaradamente voltada propaganda

    dos princpios e valores do catolicismo, cumprin-do seu objetivo de defesa do monoplio da dis-pensa dos bens de salvao (BOURDIEU, 2004),num mercado religioso recm-aberto pela secu-larizao republicana, constri sua crtica ma-onaria e ao laicismo republicano pautando-seduas caractersticas: em primeiro lugar, notician-do fatos ligados maonaria ocorridos em ou-tras regies do pas, mas especialmente em ou-tros pases; em segundo lugar, tratando essesacontecimentos num esquema discursivo infor-

    me-denncia-ataque. Assim, falando do outrodistante, isentava-se o clero das reaes locaisdesses seus adversrios, enquanto desenvolviaseu combate demarcando espaos e pretensesmonopolistas.

    Um bom jornal vale mais que um bom pre-gador

    Orientados doutrinariamente de modo areconhecerem no Estado laico um modelo de or-

    ganizao poltica capaz de favorecer suas pers-pectivas racionalistas, iluministas, evolucionistas,cientificistas, enfim modernistas, da autotransfor-mao dos indivduos e sua irradiao benficaao todo social, maons, espritas, positivistas, te-osofistas e outras correntes compuseram verda-deiras redes de ideias (MALLIMACI, 2004) no en-frentamento ao tradicionalismo catlico, reora-do pela mar ultramontana. Desses grupos, des-tacam-se os maons por sua maior tradio, soli-dez institucional, eficientes redes de comunica-

    o e, especialmente, por congregar livres pensa-dores e a pluralidade religiosa, no deixando em

    diversas situaes de agregar libertrios em dversos pases, inclusive no Brasil (FERRER BENMELI, 2001; SILVA, 2012a).

    Demonstrar as diversas situaes em qos adeptos do tradicionalismo catlico se colcam em ataque ao laicismo e Repblica no Br

    sil, como tambm em pases como Frana, Portgal e Mxico, assim como as reaes dos mons, permitir aquilatar o nvel de complexidaddos embates locais em torno da problemtirelao entre religio e poltica nos primeiranos do sculo XX, a partir da experincia do Car.

    Foram muitas as ocasies em que, tanos peridicos catlicos quanto a imprensa leigem geral difundiam, por um lado, notcias sob

    a impropriedade e malignidade da legislao rpublicana e as resistncias dos religiosos e suinstituies e, por outro lado, notas otimistas sbre os avanos da Repblica, seus progressos eimperiosa necessidade da manuteno dos presupostos da laicidade. Nota-se que essas argmentaes pblicas extrapolavam a mera polmica religiosa para configurarem um espao pblico de disputas de mbito mais amplo e de rpercusses sociais e polticas mais profundas qas aparncias poderiam revelar.

    Esse debate, como j mencionado, extra-polava os limites da capital cearense, de tal modo que em algumas cidades de maior destaquemais ou menos distantes de Fortaleza, se produziam e reproduziam discursos engajados sobre valor da repblica, da monarquia e as relaesdo Estado com a religio. Destacam-se os jornaSantelmo, de Baturit; O Rosrio, peridico ca-tlico de Aracati, e o Correio da Semana, peridico catlico de Sobral.

    Em Baturit, no final de 1910, o mensrSantelmo faz inicialmente uma ponderada an

    SILVA, M. J. D. MAONARIA E LAICISMO REPUBLICANO NA IMPRENSA CATLICA CEARENSE...

    Municpio serrano do Serto Central cearense, distante 100 Km de Fortaleza. Origina-se do aldeamento jesutico Misso de Nossa Senhora da Palma, em 1755. Contava com uma loja manica, a Deus e Baturit, entre 1905 e 1911

    Municpio litorneo, distante 150 Km de Fortaleza. Desenvolveu-se no final do sculo XVIII como polo comercial e pcuarista, sobretudo com a indstria do charque. possvel afirmar que a Vila do Aracati tenha sido lugar das primeirLojas Manicas do Cear, entre as dcadas de 1820 e 1830 (Cf. ABREU, 2009).

    C&M | Braslia, Vol. 1, n.1, p. 7-19, jan/jun, 2013.

  • 5/25/2018 Revista Ci ncia e Ma onaria, N mero 01

    12/9011

    se da Repblica no 15 de novembro, primeiroadmitindo:

    Sempre considerei a Proclamao da Re-pblica, em 1889, como demasiado preco-ce, contraproducente, estril e eminente-mente profanadora porque perpetrou e

    sancionou o horrendo sacrilgio de expul-sar, como se expulsa um mau homem,desta Terra hospitaleira, o velho imperadorpaternal e augusto.

    Para mais adiante reconhecer que, apesardisso,

    [...] a Repblica, como uma rvore benfi-ca, cresceu e ramalhou, frondeou, floriu efrutificou entre grandes comoes nacio-nais, guerras civis e dficits, e seivosa eforte derramou, contra toda expectativa,sobre ns uma sombra doce, materna e

    suave, e nos vem aquinhoando com osdons magnficos da Civilizao [...].

    Um ano depois, no outro 15 de novem-bro, volta o peridico serrano a tratar da Rep-blica, desta feita num tom mais negativo e comreforo do saudosismo monrquico, medidaque considerava a Repblica brasileira,

    [...] um produto da anarquia que reinava

    em todas as classes do pas, mxime naclasse armada, que no trepidou de armasna mo, exigir atos de um governo queno se subordinando a elas sofreu as con-sequncias de sua energia tardia vendotombar de lado o frgil edifcio que omantinha.

    Nota-se que essas incurses sobre o regi-me republicano e sua propriedade ou improprie-dade, precocidade ou no, vm ligadas a uma

    outra questo tambm presente no Santelmque a relao dessa Repblica com o catolicmo. Alis, esse rgo de propaganda da Farmcia Mattos, tinha por lema: Um bom jornal vamais que um bom pregador. E nesse sentidtraz para a populao do macio do Baturit

    polmicas religiosas internacionais bem alinhdas aos debates nacionais.

    Foi o que se deu quando da implantaoda Repblica em Portugal e suas relaes com aIgreja catlica. O articulista, mesmo afirmandoque repugnou sempre a monarquia hereditriae que exultou gozando o esboroar-se do velhoReino que se abatia como um cedro velho carcomido pelos Sculos, no admitiu aquilo quechamou o primeiro ato dos republicanos: A

    expulso acintosa e brbara dos frades de Portugal [...] medida que s cabia a Trtaros e nuncaao Governo de um povo cristianssimo, num s-culo de Tolerncia.E segue com o laudatriodos feitos dos religiosos lusitanos.

    Em Aracati, no mesmo ano, o peridicatlico O Rosrio desenvolve firme campande crtica implantao da Repblica em Portgal. Num artigo assinado pela professora Francca Clotilde, v-se uma reflexo sobre a liberdadque finda na denncia dos males polticos e regiosos (catlicos) advindos com o replublicanimo. Para a autora, eram desvariodesmandos, excessos, o que faziam as revoles republicanas. Pois:

    Romper os diques que so necessrios paixes dos indivduos, transpor barreierguidas ante as exploses do dio e despeito, essas urzes sociais, derribar trnos quando neles no se sentam ropressores, atacar estabelecimentos on

    SILVA, M. J. D. MAONARIA E LAICISMO REPUBLICANO NA IMPRENSA CATLICA CEARENSE...

    Municpio da regio Norte do estado, distante cerca de 250 km da capital, Fortaleza. Desde o sculo XIX, fora imptante polo econmico da regio e se tornara sede de bispado a partir de 1915, com o municpio do Crato, no Cariri cerense.

    e 15 de Novembro. Santelmo. Baturit-CE, nov. 1910.

    Idem

    15 de Novembro. Santelmo. Baturit-CE, nov. 1911.

    Crnica. Santelmo. Baturit-CE, nov. 1910.

    C&M | Braslia, Vol. 1, n.1, p. 7-19, jan/jun, 2013.

  • 5/25/2018 Revista Ci ncia e Ma onaria, N mero 01

    13/9012

    se refugiam frgeis mulheres arrancadas siluses do mundo, matar sacerdotes ilus-tres, saquear conventos, aprisionar criatu-ras indefesas, e cantar a Marselhesa [...]no proclamar repblicas e sim ironica-mente anarquizar o pas, convulsionar aptria, feri-la no mais ntimo do corao.

    Segundo a articulista, a autoridade polticae a tradio religiosa estariam abaladas na terrade Cames, ao ponto em que indaga ironica-mente:

    Expulsas as ordens religiosas, confiscadosos bens das congregaes, dispersas asfreiras e sem asilo na face da terra, os pa-triotas frente do governo improvisado,ir Portugal gozar a liberdade sonhada, aigualdadee a fraternidadedas verdadeiras

    repblicas? 10(Grifo nosso).

    Quase finalizando o artigo, lamenta:Pobre Portugal! Arrancaram-te o teu Deus, o teuRei, tua liberdade, tua paz, republicanizaram-tes pressas, e ainda por cima cantam a Marselhesa[...]. Ora, os desdobramentos laicizantes da im-plantao da repblica portuguesa em 1910, dra-mticos para o clero catlico e seus fiis, podemser vistos nesta sntese do historiador portugus

    Fernando Catroga:

    De facto, o Governo Provisrio da Repbli-ca promulgou, imediatamente aps o 5 deoutubro, um conjunto de decretos-leisque, tendo como ponto de referncia jur-dica o que as repblicas do Brasil e deFrana haviam decidido sobre essa mat-ria, visavam dar cumprimento s reivindi-caes laicistas da fase de propaganda. Odecreto de 20 de Abril de 1911 lei daseparao das Igrejas do Estado dispu-

    nha que a religio catlica, apostlica, ro-mana deixava de ser religio de Estado, eque todas as Igrejas ou confisses religio-sas eram autorizadas, como legtimasagremiaes particulares, desde que noofendessem a moral pbica, nem os prin-

    cpios do direito pblico portugus. mesmo tempo, confirmava a tradio beneplcito ao interditar a publicao bulas, pastorais e outras determinaes Cria, dos prelados ou outras autoridadeclesisticas, e remetia o culto para a esra da privacidade; [...] Consequentemen

    esta lei pode ser considerada como vrtde um conjunto de outras promulgadcom o mesmo fito laicizador e donde deve destacar as seguintes: a que confmou a legislao congregacionista anteor, [...] voltou a expulsar as ordens religisas (18 de Fevereiro de 1911); a que recnheceu o divrcio (25 de Dezembro 1910); a que introduziu o registo civil obgatrio (18 de Fevereiro de 1911); a qimps a aconfessionalidade do ensino (de Maro de 1911); a que extinguiu a Fculdade de Teologia (14 de Novembro

    1910): e a que aboliu os juramentos religosos (19 de Outubro de 1910) (CATROG2000, p. 206-207).

    Ento, naquele mesmo nmero, o jorncatlico noticia o desembarque frustrado de regiosos portugueses no Brasil, por proibio dgoverno. A acusao recai sobre o anticlericalimo do sr. Nilo Peanha, presidente da Repblie Gro Mestre da Maonaria: O ato inquo, arbtrrio e ilegal do governo passado proibindo desembarque em nossa ptria de padres e religosos expulsos do infeliz Portugal [...]. O jorncita, ainda, diversas manifestaes de desagravmensagens do episcopado, telegramas dos regiosos e documentos das senhoras da CapitFederal, onde figurava a consorte do eminenestadista Ruy Barbosa.11 Dentre os telegramenviados merece destaque o do vigrio cearenTabosa Braga:

    TELEG. Do revd. Sr. P. Antonio Tabosa Bga Sobrinho, zeloso Vigrio de Pendn(Pacoty) desta Diocese. Baturit

    Eu e os paroquianos todos, protestamenergicamente contra o ato do gover

    SILVA, M. J. D. MAONARIA E LAICISMO REPUBLICANO NA IMPRENSA CATLICA CEARENSE...

    Liberdade? O Rosrio. Aracati-CE, 5 nov. 1910.

    10 Idem.11 O desembarque de religiosos estrangeiros no Brasil. O Rosrio. Aracati-CE, 5 nov. 1910.

    C&M | Braslia, Vol. 1, n.1, p. 7-19, jan/jun, 2013.

  • 5/25/2018 Revista Ci ncia e Ma onaria, N mero 01

    14/9013

    Nilo proibindo o desembarque dos religio-sos estupidamente expulsos pelo maonis-mo portugus. Protestamos tambm con-tra a adeso nojenta da bancada cearense.Viva a religio catlica! Viva a liberdadevilmente conspurcada pela fora bruta! 12

    (Grifo nosso).

    V-se na expresso maonismo portu-gus, do vigrio Tabosa, o sinal inequvoco deque, para o clero, Repblica e Maonaria era amesma coisa e, portanto, inimigos de Deus e daIgreja. No menos significativa a indignao doproco com o apoio da nojenta bancada cea-rense, no parlamento nacional, quela medidaanticlerical. Outro elemento a indicar ainda umahegemonia liberal e laica naquele contexto pol-

    tico brasileiro, ou seja, numa repblica que insis-tia na separao entre Igreja e Estado, emboracom a aproximao crescente entre governantese o alto clero.

    A Maonaria um tumor: preciso vaz-lo13

    Em Fortaleza, entre 1906 e 1914, publicava-se o Cruzeiro do Norte, rgo catlico hebdo-madrio, de propriedade de Rufino Mattos. Operidico tambm se coloca como denunciante

    da propaganda manica anticlerical como, porexemplo, atravs da reportagem intituladaMaonaria repelida na Blgica. Nela o jornalreproduz notcias da Blgica onde o governoprobe a presena de maons no exrcito ao de-clarar com energia de ferro que da para diantecada oficial do exrcito ter que escolher entre oseu uniforme e o avental manico. Apresenta,tambm, na matria, as denncias do governobelga s intervenes daqueles maons nosacontecimentos - solidariedade da maonaria

    internacional no combate contra igreja -, que

    fizeram rebentar a revoluo em Portugal, dig-se proclamao da repblica.14

    Em Sobral, o jornal Correio da Semanfundado em maro de 1918 pelo bispo dom JoTupinamb, tendo como diretor padre Leopold

    Fernandes e como redator padre Jos de LimFerreira, tambm sustenta uma recorrente cotenda com a mals poltica e com os corrifeda impiedade. Na edio de abril daquele anpor ocasio do envolvimento do Brasil na Primera Guerra Mundial, o semanrio catlico destcando as relaes entre patriotismo e religipondera que, aps a queda da monarquia derse a separao da Igreja do Estado, no comconsequncia lgica, pois no h incompatibidade entre o regime republicano e a religio c

    tlica. Haja vista o belo exemplo da RepbliArgentina [...].15

    Nesse caso, do belo exemplo da Repbca Argentina, ocorreu que:

    A Constituio de 1853 obrigou o Estadoapoiar a religio catlica sem profess[...] Embora fosse garantida tolernciatodas as fs, essas, obviamente, no eratodas iguais. O catolicismo era considedo a religio tradicional da nao, e sposio majoritria fora reforada nessanos pela massa de imigrantes oriundda Europa catlica (LYNCH, 2001, p. 45457).

    J no caso do Brasil, esclarece o Correda Semana: Essa brutal imposio ao povo brsileiro, genuinamente catlico, foi a consequcia da orientao manica positivista a que entregou o povo completamente bestificado. 1

    A razo para a defesa e exaltao da citda compatibilidade, no artigo em questo, esta

    na autorizao, pelo Ministrio da Marinha, d

    SILVA, M. J. D. MAONARIA E LAICISMO REPUBLICANO NA IMPRENSA CATLICA CEARENSE...

    12 O Rosrio. Aracati-CE, 5 nov. 1910.13O Nordeste. Fortaleza-CE, 12 ago. 1925 (Epgrafe).14A Maonaria repelida na Blgica. Cruzeiro do Norte. Fortaleza-CE, 17 maio 1913.15 Patriotismo e religio. Correio da Semana. 24 abr. 1918. A consolidao e desenvolvimento do modelo de monopcatlico, na Argentina, se dariam entre as dcadas de 1930 e 1980. A reviso constitucional de 1994 eliminou a clususegundo a qual o presidente da repblica deveria ser catlico. (Cf. ORO, URETA, 2007, p. 288).16Patriotismo e religio. Correio da Semana. Sobral-CE, 24 abr. 1918 (Grifo do autor).

    C&M | Braslia, Vol. 1, n.1, p. 7-19, jan/jun, 2013.

  • 5/25/2018 Revista Ci ncia e Ma onaria, N mero 01

    15/9014

    introduo de capelo e ofcio catlico nos quar-tis e junto fora naval enviada ao teatro daguerra, que partiro levando a bordo de seusnavios a cruz que aplaca o dio e restitui a paz; abordo ir o ministro de Deus, mensageiro da ver-dade, da luz purssima do Evangelho [...].17

    Em 1922 aparece o jornal O Nordeste,porta-voz da arquidiocese de Fortaleza, congre-gando clrigos e leigos num empreendimentointelectual que ter vida longa e papel funda-mental na difuso do pensamento catlico emseu projeto de rearmamento ideolgico, especi-almente no combate sistemtico ao estatuto lai-co da Repblica, maonaria e s demais religi-es. No centro de suas crticas est o laicismopositivista do regime republicano, ao menos at

    os primeiros anos da dcada de 1930.Esse peridico catlico tambm dar re-

    foro prtica de noticiar embates do catolicis-mo com a maonaria no exterior. Na matria Omomento poltico-religioso na Frana, analisa ogoverno Herriot18, dominado pela maonariaradical e sua poltica laicista, e tomandomedidas vexatrias para com os catlicos,substituindo-os no servio pblico por inaptosque sejam maons; finalizando a notcia com omovimento de resistncia dos catlicos france-ses.19

    Na Frana, a lei de separao entre Igrejase Estado foi promulgada em 11 de dezembro de1905, incorporando entre outras as perspectivaslaicas a da Maonaria, como demonstra DanileHervieu-Leger:

    No novo regime religioso que se instauraem 1905, a religio considerada um as-sunto privado: a liberdade religiosa faz

    parte das liberdades pblicas. O Estadogarante a cada cidado a liberdade deprofessar uma religio, se ele tiver uma, eso previstas penas severas para os quetentassem fazer obstculo ao exerccionormal da vida cultual. Mas a religio um

    assunto estritamente pessoal e opcionalRepblica, quanto a ela, no reconhenem assalaria, nem subvenciona qualquculto (art. 2 da lei de 1905). [...] Dois ementos jogaram neste sentido. O prime que a prpria lei constitui um texto compromisso entre vrias concepes

    laicidade. O sistema instaurado pela lei 1905 une, com um objectivo pacificadas diferentes tradies do campo laicoesprito da Luzes de Voltaire, Diderot Condorcet; o positivismo cientista de Aguste Comte; as diferentes correntes franco-maonaria. Ele responde igualmete s expectativas das minorias protestates e judaica, profundamente desconfiaddas pretenses da religio dominante. O segundo elemento que no decurso sculo XIX o povo catlico se ligou pgressivamente, na sua imensa maioria,

    regime republicano (HERVIEU-LEG2005, p. 209-211).

    Em outras ocasies, O Nordeste traz mtrias sobre o laicismo no Brasil, de modo a arcular o republicanismo ao ataque religio, laicismo ao atesmo. Assim o disse Soares dAzvedo, mdico psiquiatra cearense, residente nRio de Janeiro, em matria especial:

    O Brasil - nem podia deixar de ser [...] - um dos pases que mais se apressaracom a implantao da Repblica, a aceia odiosa ditadura de uma Constituinte ebriagada pela a vitria, que atirou pacima do lombo as mais descabidas exigcias e para cima da conscincia as modiosas afrontas. E assim que tivemoslaicismo nas escolas. Ora, os cardeaisarcebispos de Frana acabam de exporespeito, e mais uma vez, a iniludvel dotrina da Igreja [...] As leis laicas so injustporque contrariam os direitos de De

    Procedem do atesmo e conduzem ao atsmo. Impem o menosprezo de Cristodo seu Evangelho. Tendem a substituirverdadeiro Deus por dolos (liberdade, slidariedade, humanidade, cincia).20

    SILVA, M. J. D. MAONARIA E LAICISMO REPUBLICANO NA IMPRENSA CATLICA CEARENSE...

    17Patriotismo e religio. Correio da Semana. Sobral-CE, 24 abr. 1918.

    18douard Herriot (1872-1957), primeiro-ministro francs do governo do presidente Gaston Doumergue.19O momento poltico-religioso na Frana. O Nordeste. Fortaleza-CE, 18 fev. 1925.

    C&M | Braslia, Vol. 1, n.1, p. 7-19, jan/jun, 2013.

  • 5/25/2018 Revista Ci ncia e Ma onaria, N mero 01

    16/9015

    Estas palavras permitem perceber que,mais de trinta anos passados da implantao daRepblica, ainda persistia uma questo geradorade grandes divergncias: a barreira do laicismo

    nas relaes Estado/religio. Contudo, mais que lei republicana positivista, deve-se notar comofator de manuteno desses preceitos jurdicos, aatuao da classe poltica nacional herdeira tam-bm do anticlericalismo e do liberalismo dos pri-meiros tempos da Repblica. Veja-se, ento, queno fora algomeramente circunstancial ou forade expresso, a afirmativa supracitada, do vigrioTabosa Braga, sobre a adeso nojenta classepoltica cearense proibio da entrada de reli-giosos estrangeiros.

    Essa resistncia dos adeptos do Estadolaico, com apoio de ampla rede de pensamentoque agregava maons, espritas, positivistas, teo-sofistas, libertrios e protestantes, pode ser per-cebida na atuao do jornal O Cear, de proprie-dade do professor, jornalista e tambm maomJlio de Matos Ibiapina.

    Fazendo uma anlise do percurso do lai-cismo no Estado republicano, o editorialista pon-tifica a questo polmica, referida anteriormente:

    A orientao positivista que presidiu elabora-o de nosso pacto fundamentalcriou para o pa-s uma srie de problemas que interessam muitode perto o futuro da nacionalidade.21 Em se-guida, o autor esclarece qual esse problema:

    Inspirados em Augusto Comte, cujo espri-to liberal levou-o a julgar possvel umaaliana de seu atesmo com a intolernciados representantes do Papa, os fundado-res da repblica brasileira limitaram-se a

    incorporar constituio o princpio daliberdade de cultos, sem, contudo, tomarmedidas prticas que colocassem a Igrejacatlica no mesmo p de igualdade comas demaisque, com esse pas de imigraocomo o nosso, se viessem a instituir. 22

    Portanto, para o jornalista faltaramedidas prticas que evitassem uma situaprivilegiada dos catlicos na nova arena das rligies que se instalaria com a imigrao. Ta

    medidas prticas foram tentadas no alvorecconstitucional, pelo republicanismo liberal e plos positivistas cientficos, atravs da exproprio dos bens da Igreja, como as leis de mmorta. Sua derrota contou com decisiva interveo dos positivistas do Apostolado junto ao gverno e Constituinte.

    Observe-se que, mesmo tendo o rastilhde cientificismo adentrado certos grupos de prfissionais liberais, militares e polticos que, dmodo superficial, se tornaram propagadores desa ideia; essas pessoas diferiam dos verdadeircultores e conhecedores da filosofia positivistAssim, embora a separao entre Igreja e Estadfosse um princpio de honra do positivismo, preservao da plena liberdade religiosa para tdos os credos, sempre foi defendida pelo Apotolado Positivista, tendo frente Teixeira Mende Miguel Lemos, sempre ressaltarem os vnculmorais passados e futuros entre catolicism(como sinnimo de cristianismo) e positivism

    para a regenerao da humanidade, como defedera o mestre (Cf. COSTA, 1956). A despeito diso, a hierarquia catlica manteve o combate sitemtico doutrina positivista.

    Meses depois, noutro editorial, voltariaCear denunciando atitudes do clero catlique considerava desrespeitosas Constituibrasileira, argumentando uma situao to extrmista quanto aquela apontada pelo catlico Sores dAzevedo em O Nordestepginas atrs. PaO Cear: Entre ns, a ingenuidade dos fundad

    res da Repblica entregou a direo moral e itelectual da sociedade brasileira aos clrigos qunacionais ou estrangeiros, so, de fato, os metores dos governos e do povo.23

    SILVA, M. J. D. MAONARIA E LAICISMO REPUBLICANO NA IMPRENSA CATLICA CEARENSE...

    20Notas Cariocas: Perante o Laicismo. O Nordeste. Fortaleza-Ce, 7 ago. 1926.21O laicismo do governo da Repblica. O Cear. Fortaleza-Ce, 11 abr. 1928 (Grifo nosso).22Idem.

    C&M | Braslia, Vol. 1, n.1, p. 7-19, jan/jun, 2013.

  • 5/25/2018 Revista Ci ncia e Ma onaria, N mero 01

    17/9016

    Contudo, prossegue o editorial em suadelenda clericalista, apontando algumas situa-es em que as relaes entre religio e polticase mostram crescentemente tempestuosas. Ojornal cobra do Estado brasileiro rigor fiscal so-bre os bens e terras da Igreja Catlica, denuncia

    as queixas pretensiosas do clero dirigidas aopresidente Washington Luiz [que] inspirado noesprito de laicidade imposta pela Constituiono manda feriar os dias de festas religiosas,dentre outras coisas. E, finalizando, adverte o jor-nal do professor Ibiapina:

    Que os padres explorem a crendice popu-lar, canalizando para as suas bolsas o di-nheiro do povo, j um grande mal, mastolervel. Que tenham audcia de propa-

    gar o desrespeito Constituio e o des-prestgio das autoridades forte demais.24

    Uma quinzena aps a publicao desseeditorial, o dirio catlico, tambm com a oficia-lidade do editorial, respondia com outra leiturada prtica da laicidade. Segundo O Nordeste, RuiBarbosa, em pgina memorvel, teria feitooportuna distino entre as duas hermenuti-cas constantes do princpio de laicidade: a

    francesa e a americana. A primeira serve-seda lei para hostilizar a Religio, para oprimir osentimento de f que palpita nalma do povo [...].A segunda, praticada com sincero respeito sconvices religiosas dos cidados [...].25 Estasegunda perspectiva, para O Nordeste, teria sidoa que inspirou os autores de nossa carta polti-ca. O mais seria obra de polticos sem escrpu-los, como sucede nos pases onde as sociedadessecretasempolgam o poder.26

    Mais uma vez, a ala catlica identifica o

    laicismo e o anticlericalismo dos republicanos hegemonia das sociedades secretas (leia-se:

    Maonaria). Assim, a vertente francesa do laicimo seria patrocinada pelo maonismo, comalternativa poltica de eliminao da religio ode descristianizao.

    A resistncia ao compl manico em prdo laicismo republicano

    Nesse mesmo diapaso o peridico catco intercala suas crticas ao laicismo da Repblibrasileira com o noticirio estrangeiro, com detaque para os casos de opresso conscinccatlica. Assim, denunciam os desumanos peseguidores dos catlicos mexicanos, reproduzido artigo do cnego Xavier Pedrosa, do Dirio Manh (Recife), dividido em cinco edies dNordeste.

    Para aquele religioso, a gnese da crientre Estado e Igreja Catlica no Mxico, residna Constituio dos Estados Unidos Mexicanode 1917: Em todos os seus artigos se v o prpsito satnico de ferir a religio. E foi por isque a conscincia catlica se levantou, ferida viceralmente nos seus mais sagrados direitos.27

    O articulista informa, ainda, os artigos dConstituio mexicana que probem o ensino rligioso no pas, quer nas escolas pblicas, qu

    particulares, a expropriao dos bens da Igreja,controle governamental sobre a imprensa catca, dentre outras medidas, agravadas pelo cdgo penal de 1926, aprovado pelo presidenbolchevista Elias Calles.

    Merece ateno, na matria, a detalhaddenncia das perseguies e arbitrariedades cmetidas pelos representantes do satnico gverno mexicano contra os sacerdotes e praticates do catolicismo, como tambm das resist

    cias de grupos da sociedade civil, religiosos dos movimentos de massa organizados por etes. Era oportuno informar aos catlicos brasile

    SILVA, M. J. D. MAONARIA E LAICISMO REPUBLICANO NA IMPRENSA CATLICA CEARENSE...

    23O desprezo do clericalismo pela Constituio. O Cear. Fortaleza-Ce, 26 jun.1928.24O desprezo do clericalismo pela Constituio. O Cear. Fortaleza-Ce, 26 jun.1928.25Esprito de laicidade. O Nordeste. Fortaleza-CE, 10 jul.1928.26Idem.27Perseguio religiosa no Mxico. O Nordeste. Fortaleza-Ce, 11 maio 1928.

    C&M | Braslia, Vol. 1, n.1, p. 7-19, jan/jun, 2013.

  • 5/25/2018 Revista Ci ncia e Ma onaria, N mero 01

    18/9017

    ros, naquele contexto de questionamento do lai-cismo, os exemplos vindos do Mxico com seusataques contra a f, contra o culto, contra a Reli-gio da quase totalidade do seu pas.28

    Na dcada de 1920, a repblica mexicana

    seria abalada por forte onda de reao clerical,denominada guerra dos Cristeros, s medidaslaicas radicais do presidente Elias Calles, com ba-se na Constituio de 1917. Assim,

    Nas relaes entre a Igreja e o Estado, Cal-les tomou uma posio anticlerical extre-mada. O povo reagiu com violncia, e foiento que rebentou a guerra dos Cristeros,conhecida como a Cristiada. Foi uma terr-vel guerra do povo comum que se levan-tou contra o Estado e seu exrcito. Conti-

    nha todos os elementos de uma guerrarevolucionria e de um conflito anticoloni-al, embora se tenha afirmado na pocaque o governo era o representante daesquerda e os insurretos, acontrarevoluo (...). O nome Cristeros foidado pelo governo, depois que ouviram ogrito de guerra dos insurretos: Viva cristoRei! Viva a Virgem de Guadalupe! De umtotal de vinte mil homens em julho de1927, seu contingente cresceu para 35 milem maro de 1928, distribudos por trezeEstados. A grande ofensiva que o governo

    lanou contra eles, em 1928/1929, foi umfracasso. Em junho de 1929, o movimentoestava no auge, com 25 mil soldados trei-nados e 25 guerreiros irregulares. Foi nes-se momento que o Estado decidiu assumirum compromisso com a Igreja a fim deresgatar a situao que rapidamente sedeteriorava [...] (MEYER JR., 2002, p. 206-207).

    Ainda naquele ms O Nordeste lana oeditorial A obra da Repblica. Ainda no climados noticirios da crise mexicana, logo nas pri-meiras linhas afirmam:

    No Brasil, a obra da Repblica no tem

    sido outra que desatar todos os liamque prendem o homem ao seu Criador. A Repblica, portanto, desde que se peservio do Laicismo, um sistema de dsorganizao infalvel de todos os deparmentos de governo, um elemento dissoluo do carter de um povo.29

    O combate ao laicismo constitucional narrefece, embora naquele contexto j sejam sinificativos os avanos organizacionais da Igrecatlica e de sua presena nos servios religiosda Repblica, especialmente junto aos governoligrquicos estaduais. Porm, a legislao laiainda incomodava e permanecia, em seu entedimento, diretamente identificada com a manaria.

    Assim, argumentam nesse editorial que catlicos devem se manter em guarda contra governos populares, que a Maonaria procuestabelecer. E concluem: Quando nos respondrem que a isso levada a seita internacionalispelo desejo de servir Liberdade, mostremos resultados prticos evidentes da influncia dlojas nas administraes por eles democratizdas.30

    Outra perspectiva desses mesmos acont

    cimentos, como resposta ao dirio catlico aprece no matutino O Povo, do maom DemcriRocha, que estampa a voz do governo mexicanconcitando os rebeldes ao acolhimento da antia extraordinariamente generosa. Dizendmais, o presidente, que:

    [...] o seu governo est devidamente cienda manobra que os polticos clericais cotinuam desenvolvendo clandestinamen[...]. Adianta que esto sendo dinamitad

    trens, assaltadas fazendas e povoaindefesas ao grito de Viva o Cristo Reique, na maioria dos casos, os elementaprisionados pelas autoridades militarescivis, resultam simples instrumentos chamada liga de defesa religiosa.31

    SILVA, M. J. D. MAONARIA E LAICISMO REPUBLICANO NA IMPRENSA CATLICA CEARENSE...

    28Perseguio religiosa no Mxico. O Nordeste. Fortaleza-Ce, 11 maio 1928.29A obra da Repblica. O Nordeste. Fortaleza-Ce, 24 maio 1928.30Idem. (Grifo nosso)

    C&M | Braslia, Vol. 1, n.1, p. 7-19, jan/jun, 2013.

  • 5/25/2018 Revista Ci ncia e Ma onaria, N mero 01

    19/9018

    Esse tipo de vinculao do Estado laicocom a irreligio, com a descristianizao e, inva-riavelmente tendo a Maonaria como mentoraintelectual, alimentava as teses clericais dos com-pls destinados a abalar os altares e os tronos.Responder a essas investidas dos grupos religio-sos tradicionais tornou-se uma necessidade tti-ca e uma obrigao moral dos maons e seus ali-ados, que no admitiam o epteto de ateus, bol-chevistas, materialistas e anticristos.

    Nessa linha, no faltaram manifestaesde esclarecimento e afirmao de novos princ-pios. Da prolfera coluna de crnicas do jornalistamaom-esprita Teodoro Cabral (Polbio), redatordo jornal Gazeta de Notcias possvel encontrar

    diversas dessas polmicas em que se julgam asrelaes entre religio e Estado. Numa ocasio,Polbio se refere matria veiculada na Gazeta,por seu colega Amrico Palha que exulta pelacolocao da imagem do Cristo no salo do Tri-bunal do Jri do Rio de Janeiro. Reconhece omaom que, com a deciso:

    O princpio constitucional da liberdade decultos no fica desrespeitado. Jesus, consi-derado Deus ou profeta, a mxima figura

    moral da humanidade. A sua influnciareformadora, regeneradora no se circuns-creve ao mbito de qualquer das religiescrists ou ao cristianismo que a todas elasincorpora.32

    Contudo, reconhecendo a possibilidadede aposio de qualquer outra imagem de gran-des legisladores da humanidade, Polbio desen-volve seu raciocnio a partir de outra base deprincpio. Ou seja, o de que o poder educativo e

    regenerador de Jesus nunca se fez sentir pormeio de imagens. Demonstra que Jesus no uti-lizou imagens materiais, como o fizera tambmMoiss, convidando seus seguidores a o adora-

    rem em esprito e verdade. O cronista lembque Jesus repeliu essas imagens que, se podeter a vantagem de servir de ponto aos espritjovens, facilitando-lhe a concentrao, para qse elevem at a espiritualidade, constituem pderosos veculos de idolatria e superstio.

    Polbio desenvolve sua crtica s prtictradicionais do catolicismo, com seus usos dimagens, crucifixos, rosrios, escapulrios, bennhos, etc., identificando entre seus usurios ummaioria de fanticos, hipcritas e tartufoque sufocam uma reduzida elite de ingnusinceros. O autor convoca o leitor aos exemplde Judas de Kerioth para quem no foi suficente nem a presena, em pessoa, do prprio Jsus; e dos heris do cristianismo que se deixa

    matar pelo ideal supremo, quem os sustentSero as imagens?.

    Portanto, tomando como mote a preser-vao dos fundamentos do Estado laico, o cro-nista acrescenta pedagogicamente: No s oBrasil, como os demais pases, como toda a hu-manidade, necessita abeirar-se, cada vez mais, dtrilha da espiritualidade.33Por fim, lana seu veredito sobre a polmica, configurando uma poso no apenas pessoal:

    Mas o que importa, para a edificao mral, para o crescimento espiritual, no colocao da imagem do Cristo, nem nsalas dos jris, nem nos recessos dos larnem sobre o peito de cada homem; o qimporta - s o que importa - a entrozao do Cristo em nossos coraes [...].3

    Assim, ao tempo que afirma sua condiespiritualista, como antdoto s acusaes datesmo dos adversrios catlicos, o autor pon

    fica a compreenso sua e de seus pares do quseria uma espiritualidade renovada (Cf. SILV2011; 2012b).

    SILVA, M. J. D. MAONARIA E LAICISMO REPUBLICANO NA IMPRENSA CATLICA CEARENSE...

    31Uma proclamao do governo do Mxico. O Povo. Fortaleza-Ce, 18 fev. 1929.32Ecos e Fatos. Gazeta de Notcias. Fortaleza-Ce, 23 fev. 1929.33Idem.34Idem.

    C&M | Braslia, Vol. 1, n.1, p. 7-19, jan/jun, 2013.

  • 5/25/2018 Revista Ci ncia e Ma onaria, N mero 01

    20/9019

    Confrontavam-se esses grupos, ento, nosfinais da dcada de 1920, despontando vivamen-te a presena catlica que, alm do uso intensivoda imprensa, aproximava-se da elite poltica re-publicana e mantinha instituies deenquadramento ideolgico, como a revista A

    Ordeme o Centro D. Vital, que mediavam as re-laes entre a Igreja e o campo intelectual(MICELI, 1979) nas tomadas de posio sobrequestes temporais, numa ao mobilizatriasem precedentes na histria do catolicismo bra-sileiro.

    J na vertente manica, adensava-se oconflito poltico interno no Grande Oriente doBrasil, que levaria grande ciso de 1927(LINHARES, 1997), ao mesmo tempo em que a

    tradio liberal-democrtica achava-se crescen-temente questionada e atacada pelo avano dofascismo e seus regimes ditatoriais e corporati-vistas na Europa e, em breve, no Brasil com aderrocada do regime liberal-oligrquico e ascen-so de Getlio Vargas a partir de 1930.

    Referncias bibliogrficasABREU, Berenice. Intrpidos romeiros do progresso: ma-ons cearenses no Imprio. Fortaleza: Museu do Cear: Se-cult, 2009.

    AZZI, Riolando. A neocristandade: Um projeto restaurador.So Paulo: Paulus, 1994.

    BARATA, Alexandre Mansur. Os Maons e o MovimentoRepublicano (1870-1910).

    ______.Maonaria, sociabilidade ilustrada & Independnciado Brasil (1790-1822). Juiz de Fora: Ed. UFJF; So Paulo:Annablume, 2006.

    CATROGA, Fernando. O republicanismo em Portugal: daformao ao 5 de outubro de 1910. Lisboa: Editorial Not-cias, 2000.

    COSTA, Cruz. O Positivismo na Repblica. So Paulo: Com-panhia Editora Nacional, 1956.

    CRUZ, Helosa de Faria; PEIXOTO, Maria do Rosrio da Cu-nha. Na oficina do historiador: conversa sobre histria eimprensa. Projeto Histria. So Paulo, n.35, dez. 2007, p.253-270.

    DE LUCA, Tania Regina. Fontes impressas: Histria dos, nose por meio dos peridicos In: PINSKY, Carla Bassanezi(Org.) Fontes histricas. 2 ed., So Paulo: Contexto, 2008,p.111-153.

    FERRER BENIMELI, Jos Antnio. La Masonera.Madri: Aanza Editorial, 2001.

    HERVIEU-LEGER, Danile. O peregrino e o convertidoreligio em movimento. Traduo Catarina Silva NunLisboa: Gradiva, 2005.

    LINHARES, Marcelo. Histria da Maonaria (Primitiva, Op

    rativa, Especulativa).Londrina (PR): Editora Manica A Trlha, 1997.

    LYNCH, John. A igreja catlica na Amrica Latina, 1871930. In: BETHELL, Leslie. Histria da Amrica Latina: 1870 a 1930. Traduo Geraldo Grson de Souza. So Palo: Edusp/Imprensa Oficial; Braslia: Fundao Alexandre Gusmo. 2002, vol. V, p.415-487.

    MEYER JR., Jean. O Mxico: revoluo e reconstruo nanos de 1920 In: BETHELL, Leslie. Histria da Amrica Lana: de 1870 a 1930. Traduo Geraldo Grson de SouSo Paulo: Edusp/Imprensa Oficial; Braslia: Fundao Axandre de Gusmo. 2002, vol. V, p.193-234.

    MALLIMACI, Fortunato. Catolicismo y liberalismo: las etapdel enfrentamiento por la definicn de la modernidad regiosa em Amrica Latina. In: BASTIAN, Jean-Pierre (CoorLa modernidad religiosa: Europa latina y Amrica Latina eperspectiva comparada. Mxico: Fondo de Cultura Econmica, 2004, p. 19-44.

    MICELI, Srgio. Intelectuais e classe dirigente no Bra(1920-1945).So Paulo: DIFEL, 1979.

    ______. A elite eclesistica brasileira. Rio de Janeiro: Btrand Brasil, 1988.

    MOREL, Marco, Sociabilidades entre Luzes e SombrApontamentos para o Estudo Histrico das Maonarias

    Primeira Metade do Sculo XIX. Estudos Histricos.Rio Janeiro,n.28, p. 3-22, 2001/2.

    ______. As Transformaes dos espaos pblicos Impresa, atores polticos e sociabilidades na cidade imper(1820-1840).So Paulo: Ed. Hucitec, 2005.

    ORO, Ari Pedro; URETA, Marcela. Religio e poltica Amrica Latina: uma anlise da legislao dos pases. Hozontes Antropolgicos. Porto Alegre, ano 13, n. 27, p.28310, jan./jun. 2007.

    VIEIRA, David Gueiros. O protestantismo, a maonaria equesto religiosa no Brasil.Braslia-DF: Ed. UnB, 1980.

    BOURDIEU, Pierre. Gnese e Estrutura do Campo ReligioIn: A economia das trocas simblicas.Traduo Srgio Mceli et all. 5 ed., So Paulo: Perspectiva, 2004, p.27-78.

    SILVA, Eliane Moura. Entre religio e poltica: maons, espritas, anarquistas e socialistas no Brasil por meio dos jonais A Lanterna e O Livre Pensador (1900-1910) In: ISAArtur Cesar; MANOEL, Ivan Aparecido (Orgs.)Espiritismoreligies afro-brasileiras: histria e cincias sociais. SPaulo: Editora Unesp, 2012a, p.87-101.

    SILVA, Marcos Jos Diniz. Questo Social problema mo

    SILVA, M. J. D. MAONARIA E LAICISMO REPUBLICANO NA IMPRENSA CATLICA CEARENSE...

    C&M | Braslia, Vol. 1, n.1, p. 7-19, jan/jun, 2013.

  • 5/25/2018 Revista Ci ncia e Ma onaria, N mero 01

    21/9020

    ral: militncia moderno-espiritualista e trabalhadores noCear das primeiras dcadas do sculo XX. Revista Brasilei-ra de Histria das Religies. Maring: UEM/GT-ANPUH. AnoIII, n 8, set. 2010. Disponvel em: http://www.dhi.uem.br/gtreligiao/pdf7/01.pdf

    ______. Que as minorias no sejam espezinhadas em seusdireitos: igualdade religiosa em debate na imprensa cea-

    rense nas dcadas de 1920 e 1930. Opsis. Catalo-GO, v.11, n. 2, jul-dez 2011, p. 219-238. Disponvel em: http://www.revistas.ufg.br/index.php/Opsis/article/view/13469/10511#.UY1AAbXvsx5

    ______. F raciocinada, cincia iluminada: a aliana da reli-gio com a cincia em debate na imprensa cearense (1910-1930). Rever. Revista de Estudos da Religio. So Paulo,Ano 12, No 01, Jan/Jun 2012b, p. 145-165. Disponvel em:http://revistas.pucsp.br/index.php/rever/article/view/10485/7802

    SILVA, M. J. D. MAONARIA E LAICISMO REPUBLICANO NA IMPRENSA CATLICA CEARENSE...

    C&M | Braslia, Vol. 1, n.1, p. 7-19, jan/jun, 2013.

    http://www.dhi.uem.br/gtreligiao/pdf7/01.pdfhttp://www.dhi.uem.br/gtreligiao/pdf7/01.pdfhttp://www.dhi.uem.br/gtreligiao/pdf7/01.pdfhttp://www.revistas.ufg.br/index.php/Opsis/article/view/13469/10511#.UY1AAbXvsx5http://www.revistas.ufg.br/index.php/Opsis/article/view/13469/10511#.UY1AAbXvsx5http://www.revistas.ufg.br/index.php/Opsis/article/view/13469/10511#.UY1AAbXvsx5http://www.revistas.ufg.br/index.php/Opsis/article/view/13469/10511#.UY1AAbXvsx5http://revistas.pucsp.br/index.php/rever/article/view/10485/7802http://revistas.pucsp.br/index.php/rever/article/view/10485/7802http://revistas.pucsp.br/index.php/rever/article/view/10485/7802http://revistas.pucsp.br/index.php/rever/article/view/10485/7802http://revistas.pucsp.br/index.php/rever/article/view/10485/7802http://www.revistas.ufg.br/index.php/Opsis/article/view/13469/10511#.UY1AAbXvsx5http://www.revistas.ufg.br/index.php/Opsis/article/view/13469/10511#.UY1AAbXvsx5http://www.revistas.ufg.br/index.php/Opsis/article/view/13469/10511#.UY1AAbXvsx5http://www.dhi.uem.br/gtreligiao/pdf7/01.pdfhttp://www.dhi.uem.br/gtreligiao/pdf7/01.pdf
  • 5/25/2018 Revista Ci ncia e Ma onaria, N mero 01

    22/9021

    OS EFEITOS PSICOLGICOS DA PRTICA DO RITUAL MANICO

    Rafhael Guimare

    Resumo

    O presente artigo visa realizar anlise comparativa da psicologia junguiana com a simbologia manica, mais especificamente com os smbolos contidos em uma Loja Manica do Rito Escocs Antgo e Aceito e em suas prticas ritualsticas, alm de observar os efeitos psicolgicos da prtica dritualstica do referido rito manico sobre seus adeptos.

    Palavras-chaves: psicologia junguiana; simbologia; maonaria.

    Recebido em: 02/06/20Aprovado em: 21/06/20

    Abstract

    This paper aims to conduct a comparative analysis of Jungian psychology with Masonic symbol-

    ism, more specifically with the symbols contained in a Lodge of the Ancient and Accepted Scot-tish Rite and its ritual practices, in addition to observing the psychological effects of the practiceof ritualistic on the practitioners of that masonic rite.

    Keywords Jungian psychology, symbology, Freemasonry.

    Rafhael Guimares Mestre Maom, membro da GLMEES; e Maom do Real Arco, filiado ao SGCMRAB. Alm de petencer a outras Ordens Iniciticas, ministra cursos e palestras sobre Cabala, Astrologia e Tar.

    C&M | Braslia, Vol. 1, n.1, p. 21-28, jan/jun, 2013.

  • 5/25/2018 Revista Ci ncia e Ma onaria, N mero 01

    23/9022

    Introduo

    A definio mais comum de Maonaria ade que Maonaria um belo sistema de morali-dade velado em alegoria e ilustrado por smbo-los (ZELDIS, 2011). Isso j diz muito sobre a ins-

    tituio e seu modo de ensino e aprendizagem,que ocorre por meio de rituais repletos de alego-rias e expresses simblicas. No entanto, entre odesdobramento do ritual e o comportamentomoral de seus praticantes h um mecanismo psi-colgico que no pode ser ignorado e cuja com-preenso pode colaborar um melhor entendi-mento da razo da Maonaria atrair ao longo dossculos o interesse de tantos distintos homens ea ira de to perigosos inimigos, como os nazis-tas, papas e o Comintern Comit Comunista

    Internacional (ROBERTS, 1969).Este estudo tem por objetivo analisar as

    influncias psicolgicas que a prtica ritualsticamanica, suas falas, movimentos, smbolos, dra-mas e alegorias, pode ter sobre seus praticantes.

    Muitos talvez possam julgar os rituais ma-nicos como ingnuos, ultrapassados, estranhosou at mesmo supersticiosos. Sero apresenta-dos neste estudo indcios de que tanto os rituaiscomo a mitologia possuem as mesmas fontes de

    origem o inconsciente (CAMPBELL, 2007;JUNG, 2005).

    H, sem dvida, inmeras diferenas entreas religies e mitologias da humanidade, e todasessas, de uma forma ou de outra, podem ser en-contradas em alguma medida, representadas nasalegorias manicas (MAXENCE, 2010).

    Foi em 1900 que Sigmund Freud apresen-tou ao mundo sua teoria do Inconsciente, naobra A interpretao dos sonhos (FREUD,

    1972). O conceito de Inconsciente j existia dealguma forma desde a Grcia Antiga, contudo foisomente com Carl Gustav Jung que tal teoria en-controu sua plenitude, alcanando um sentidomais amplo, quando o mesmo diferenciou a atu-

    ao do inconsciente de uma camada mais prfunda, que chamou de Inconsciente Coletivo, qso formas ou imagens de natureza coletiva quse manifestam praticamente em todo o mundcomo constituintes dos mitos e, ao mesmo tempo, como produtos individuais de origem inconciente, que influenciam toda nossa psique (JUN2011c).

    Ao contrrio da escola freudiana, que afma que os mitos esto profundamente enraizdos dentro de um complexo do inconsciente, pra Jung, a origem atemporal dos mitos residdentro de uma estrutura formal do inconsciencoletivo. Torna-se assim uma diferena considrvel para Freud, que nunca reconheceu a autnomia congnita da mente e do inconscient

    enquanto que, para Jung havia uma dimenscoletiva inata e com autonomia energtica.

    As ideias apresentadas por Jung foram embasamento cientfico que o estudioso das Rligies e Mitologias Comparadas, Joseph Cambell, adotou para sustentar as similaridades exitentes entre todas as religies e mitologias dhistria. Tal conceito chamado anteriormente dMonomito por Jaymes Joyce, foi esmiuadpor Campbell, que mostrou todo o roteiro dmanifestao arquetpica do heri, que se encotrava representado em todo o mundo como uarqutipo do Inconsciente Coletivo (JUNG, 201JUNG, 2011a).

    Assim, ser com base nas obras de Cambell e Jung o desenvolvimento deste artigo, qvisa comparar e reapresentar o simbolismo mnico sob a tica cientfica da Psicologia Juguiana e da Cincia das Religies.

    Anlise Comparativa da Psicologia Junguiancom o Simbolismo Manico

    O que um Smbolo?

    Os smbolos so, em sntese, metforascompndios de um conhecimento sensivelmen

    GUIMARES, Rafhael. OS EFEITOS PSICOLGICOS DA PRTICA DO RITUAL MANICO

    O termo Monomito de autoria de James Joyce, da obra Finnegans Wake.

    O conceito adotado nesta obra de smbolo o da Psicologia Junguiana, que difere do conceito semico de smbolo instu

    por Ferdinand de Saussure, pai da lingusca, bem como tambm difere parcialmente de certas anlises Psicanalcas de Freud.

    C&M | Braslia, Vol. 1, n.1, p. 21-28, jan/jun, 2013.

  • 5/25/2018 Revista Ci ncia e Ma onaria, N mero 01

    24/9023

    elevado (CAMPBELL, 2007), mas que em outraspalavras, so manifestaes exteriores dos ar-qutipos. Os arqutipos s podem se expressaratravs dos smbolos em razo de se encontra-rem profundamente escondidos no inconscientecoletivo, sem que o indivduo os conhea oupossa vir a conhecer (JUNG, 2011b). Dessa forma,em nosso nvel comum de conscincia, paracompreendermos um elevado sentimento conti-do no Inconsciente Coletivo, necessitamos dossmbolos, gestos existentes desde o incio da hu-manidade (CAMPBELL, 2008; JUNG, 2011a).

    Essas afirmaes precedentes necessitamde um exemplo hipottico: O amor da me paracom seu filho jamais seria compreendido por pa-lavras ou descries objetivas, como nmeros ou

    letras. Em vez disso, podemos, ao invs de escre-ver sobre tal amor, apenas apresentar o conheci-do smbolo do corao. Deste modo, mesmo queparcialmente, a noo que teremos a respeito doamor de uma me para com seu filho, ser muitomais prxima do que as expressadas por meraspalavras (JUNG, 2011d).

    As mitologias e sentimentos so comu-mente manifestados por meio de smbolos egestos. Do mesmo modo, a Maonaria atua atra-vs da ritualstica das suas iniciaes e instru-es. Os smbolos e gestos atuam como um ca-talizador de sentimentos de seus praticantesatravs do mito trabalhado pelo grupo-cultura(CAMPBELL, 2008).O avano moral que a Mao-naria proporciona a seus adeptos , alm deconsciente, educativo e tico, tambm um refor-o psicolgico.

    A diferena crucial entre smbolo e arqu-tipo que o primeiro pode ser visto e em algunscasos tambm tocado e sentido, ao passo que o

    segundo pode ser apenas sentido, e mesmo as-sim, somente por intermdio do primeiro. Por-tanto, para que haja smbolos, deve antes haverarqutipos, pois aqueles so a manifestao des-tes em menor escala (JUNG, 2011d; JUNG, 2012).Contrariamente a esta teoria junguiana agoraapresentada, observamos na psicanlise de Freud

    outra viso dos arqutipos, que se encontra cetrada nos trs arqutipos relativos ao chamadComplexo de dipo, que, por suas caracterscas peculiares, possui proximidades com a antrpologia e com a lingustica, ao passo que a visapresentada neste artigo, Junguiana, possui prximidades com os conceitos do Inconsciente Cletivo sustentados pelo socilogo francs mDurkheim, um dos pais da Sociologia Modernonde em sua obra o define como o conjunto dcrenas e sentimentos autnomos de uma socidade (DURKHEIM, 2004). Suas teorias tambinfluenciaram Freud, mas com devido efeitacham-se proficuamente delineadas nas obras dJung.

    O Templo Manico do Rito Escocs e a Psque Humana

    Os maons so unanimes em dizer queTemplo Manico simblico, e como j vimoo smbolo muito mais do que mera ornamento artstica para representar algo (JUNG, 2012Importante registrar que o templo manico n uma rplica do Templo de Salomo, se napenas simbolicamente inspirado no Templo dSalomo, mas contendo muitas outras influ

    cias, de acordo com o Rito adotado (ISMA2012). No caso do presente estudo, refere-seum templo do Rito Escocs Antigo e Aceito.

    Portanto, toda a ornamentao e divisdo templo no fruto do acaso, a comear peSala dos Passos Perdidos, mais adiante o trio,Cmara ou Caverna de Reflexes, e finalmenteTemplo em si. Todos estes compartimentos sestgios h muito tempo utilizados para separo sagrado do profano (VAN GUENNEP, 2011).

    Nesse contexto, o ritual tem por objetivorealizao da passagem de um estado de conscncia para outro, estados esses chamados manicamente de profano e sagrado, e em ltimanlise, o templo com suas divises simbolizaestado de conscincia em que nos encontramoDesta forma, o templo em si representa um est

    GUIMARES, Rafhael. OS EFEITOS PSICOLGICOS DA PRTICA DO RITUAL MANICO

    O termo templo manico comumente usado nos ritos manicos de origem lana. Os de origem anglo -saxnica costum

    chamar o local de reunies de Sala da Loja.

    C&M | Braslia, Vol. 1, n.1, p. 21-28, jan/jun, 2013.

  • 5/25/2018 Revista Ci ncia e Ma onaria, N mero 01

    25/9024

    do intransponvel de pureza e santidade paraseus membros. As funes-cargos expressas noritual e as disposies do templo so personifica-es simblicas das leis psicolgicas que atuamna psique (CAMPBELL, 2007; MAXENCE, 2010),conforme ser demonstrado neste estudo.

    Rituais ou simples gestos simblicos iden-tificam nossa conscincia com o campo essencialde ao. O soldado que retorna da guerra, aopassar pelo Arco do Triunfo, um rito de passa-gem, acaba deixando a guerra para trs. Da mes-ma forma, ao passarmos pela sala dos passosperdidos e posteriormente pelo trio, sabemosque estamos em um local consagrado para aprtica do bem, o Templo Manico. Assim, assalas que antecedem o templo, cumprem a fun-

    o psicolgica de devidamente introduzir oadepto em um local que, por meio de seus sm-bolos, colabora para o ingresso a um estado daconscincia necessrio para que o ritual cumpraseu dever cognitivo de forma efetiva (JUNG,1978; VAN GUENNEP, 2011).

    De acordo com a psicologia analtica deCarl G. Jung, a psique divide-se em trs nveis: Aconscincia, o inconsciente pessoal e o inconsci-ente coletivo (HALL & NORDBY, 2010). Conformese segue abaixo, tais divises se conciliam emsignificados e funes com os cmodos de umaLoja Manica do Rito Escocs Antigo e Aceito,ou seja, sala dos passos perdidos, trio e templo,sendo que na parte interior, teremos o ocidentee o oriente.

    Nvel 1 Conscincia: Sala dos Passos Perdidos

    A conscincia a nica parte da psique aqual conhecemos direta e objetivamente (HALL

    & NORDBY, 2010), e nela tudo ocorre geralmen-te de forma racional e lgica. Da mesma forma,isso tambm ocorre antes de adentrarmos aotemplo, pois na sala dos passos perdidos quetudo ainda ocorre de forma desprovida de ques-tes onricas, sem sinais ou gestos simblicos.

    O significado psicolgico de persona, paraJung, aquela parte da personalidade desenvol-

    vida e usada em nossas interaes mundanas, oprofanas, no vocabulrio manico. nossa faexterna consciente, nossa mscara social, comveculo no de nossa real vontade, mas da nosnecessria aceitao (JUNG, 1978; HALL & NODBY, 2010). Assim que, nas iniciaes manicao gesto dos candidatos serem despidos de todos metais, e iniciarem todos exatamente da mema forma, significa que, naquele momento, o idivduo despe-se de suas personas. Esse deprendimento se faz necessrio visto que, confome Jung, no nvel do inconsciente pessoal qcitaremos logo adiante no h persona, a quse manifesta apenas no nvel consciente.

    O crescimento psicolgico ocorre, dacordo com Jung, quando algum tenta trazer

    contedo-conhecimento do inconsciente, paranvel consciente, e estabelecer uma relao enta vida consciente e o nvel arquetpico da exitncia humana (JUNG, 1978; JUNG, 2011b). O hmem que assim o fizer, haver de reconhecer origens de seus problemas no prprio inconscente, pois a pessoa que no torna consciente sas limitaes e defeitos, acaba por projetar sobos outros tais percepes negativas (HALL NORDBY, 2010). Fazendo o devido paralelo, crescimento na senda manica somente ocor

    quando se aplica no chamado mundo profanoque se estuda e aprende no mundo manicque neste quadro comparativo o referido iconsciente pessoal, e assim tem-se a oportunidde de transformar o conhecimento em sabedor

    Nvel 2 - Pr-conscincia: trio

    Para Freud, a conscincia humana se sudivide em trs nveis, chamados de ConscientPr-Consciente e Inconsciente. O estado inte

    medirio entre a Conscincia, abordada no Nv1, e o Inconsciente, que ser abordado no Nv3, o de Pr-conscincia, o qual tem por caractrstica uma experincia munida de relativo equibrio entre um material perceptvel e um materlatente (FREUD, 1972).

    Dessa forma, tem-se o trio do temp

    GUIMARES, Rafhael. OS EFEITOS PSICOLGICOS DA PRTICA DO RITUAL MANICO

    C&M | Braslia, Vol. 1, n.1, p. 21-28, jan/jun, 2013.

  • 5/25/2018 Revista Ci ncia e Ma onaria, N mero 01

    26/9025

    manico como representativo desse estado depr-conscincia, visto o trio, apesar de muitasvezes interpretado como sendo uma extenso dotemplo, fisicamente um cmodo intermedirioentre a sala dos passos perdido e o templo ma-nico. Nele ocorre o momento de transio en-tre os estados psicolgicos, em que os maonsse concentram, geralmente com as luzes apaga-das, para se desvencilharem dos problemas epensamentos do chamado mundo profano eadentrarem ao interior do templo. Assim, o triose assemelha em correspondncia com o pr-consciente na medida em que ambos no possu-em uma natureza especfica, mas sim transitria.Portanto, este estado intermedirio tem por ob-jetivo introduzir o personagem no recinto onricoe simblico seguinte.

    Nvel 3 O Inconsciente Pessoal: O TemploManico

    Todas as experincias que se tm, mesmoaquelas consideradas esquecidas, mas que toda-via no deixaram de existir, so armazenadas noinconsciente pessoal. nesse nvel que ocorremos sonhos quando se est dormindo, e como to-dos sabem, tais eventos sonhados so dotados

    de acontecimentos surreais e ilgicos perante anossa realidade objetiva (JUNG, 2005).

    Assim o Inconsciente Pessoal encontracorrespondncia com o templo manico, ondea ritualstica e os smbolos alcanam a totalidadedos trabalhos, e estes retratam bem o estado fic-tcio e mtico do drama manico, estado esteque paralelamente tambm encontrado nossonhos, com seus smbolos abstratos, passagensilgicas e surreais, onde tanto no estado onricocomo na ritualstica, pode-se viajar do Oriente ao

    Ocidente com alguns poucos passos, e do ama-nhecer ao pr do sol, vai-se em alguns minutos,semelhante ao que ocorre nos sonhos, pois nonvel do inconsciente pessoal no h uma limita-o objetiva. Da mesma forma o simbolismo daritualstica no possui um senso lgico. Ambaslinguagens (sonhos e ritualstica) so figuradas.

    Assim como o ritual manico no litere tem por objetivo transmitir instrues moraos sonhos tambm no o so e, segundo Jun(2011d), o crescimento e amadurecimento morso a real e efetiva finalidade dos sonhos. Detarte, em ambos os casos perde-se o efeito dlgico e racional, para com isso, trabalhar o simblico e onrico. Sendo assim, interpretar o ritumanico de forma literal um erro lastimvao passo que o sonho, inexoravelmente, tambdeve ser interpretado de forma no literal (JUN2012).

    Os conceitos de Anima e Animus foratalvez as duas mais importantes descobertas dJung. Ambos so aspectos inconscientes de uindivduo. O inconsciente do homem encont

    ressonncia com o arqutipo feminino, chamadde Anima, enquanto que a mulher associa-com o arqutipo masculino, chamado de AnimuCabe notar que quando se fala de masculinofeminino, em se tratando de Animus e Animest se referindo s expresses e caractersticae no algo literal (JUNG, 2011b; JUNG, 201pois, como supramencionado, o inconsciente rside em um nvel atemporal, inteiramente psiclgico, portanto no material.

    A Anima manifesta-se na psique de formemocional, passiva e intuitiva, por outro lado,Animus manifesta-se de forma racional, ativaobjetiva. Jung costuma relacionar Anima ao degrego Eros, o deus do Amor, ao passo que Anmus relacionado com o termo Logos, que sinifica verbo, razo (JUNG, 1978). No templo mnico tal equilbrio dual conhecido pelas ducolunas, Boaz e Jaquim. No Rito Escocs, Aprendizes Maons tomam assento do lado dcoluna Boaz, e ali so instrudos sobre a educ

    o moral, espiritualidade e tica manica, coceitos perfeitamente associados ao arqutipo dAnima. J do lado da coluna Jaquim tomam asentos os Companheiros Maons, que, ao contrrio dos aprendizes, possuem suas instrues votadas para as artes ou cincias liberais, bem cmo para algum conhecimento esotrico, que scaractersticas de Animus. Ao Oriente v-se o Se a Lua, que so smbolos conhecidos do Anim

    GUIMARES, Rafhael. OS EFEITOS PSICOLGICOS DA PRTICA DO RITUAL MANICO

    C&M | Braslia, Vol. 1, n.1, p. 21-28, jan/jun, 2013.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Inconscientehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Inconsciente
  • 5/25/2018 Revista Ci ncia e Ma onaria, N mero 01

    27/9026

    e da Anima.

    Desta forma, Boaz e Jaquim, representamAnima e Animus, e a consecuo entre ambascolunas representa o Casamento Alqumico, atotalidade do ser, ou seja, o Equilbrio Perfeito, o

    Mestre. Aquele que caminha com tal unio, andapelo caminho ou cmara do meio (CAMPBELL,2008), no nosso caso, o Mestre Maom.

    Nvel 3 Inconsciente Coletivo: Slio do Ori-ente

    Teoria proposta pela Psicologia Analtica,o inconsciente coletivo difere do inconscientepessoal, visto que no se trata de experinciasindividuais, mas, como o nome sugere, so expe-

    rincias coletivas (JUN, 1978). Trata-se de umaespcie de reservatrio de imagens, essas cha-madas de imagens arquetpicas. Tais imagens econcepes so herdadas pelo homem de formainconsciente atravs do inconsciente pessoal. Oinconsciente coletivo estimula no homem desdeo nascimento um comportamento padro pr-formado. Assim, recebemos a forma do mundoem uma imagem virtual e essa imagem transfor-ma-se em realidade consciente quando, durantea vida, identificamos os smbolos a ela corres-

    pondentes (JUNG, 2011b).Os contedos do inconsciente coletivo

    so denominados de arqutipos. Um arqutipo compreendido como um modelo original queconforma outras coisas do mesmo tipo, seme-lhante a um prottipo (JUNG, 2011b). Tanto oinconsciente coletivo como o arqutipo se con-fundem com aquilo que chamamos de egrgora.

    Jung acreditava que tanto a experinciaquanto a prtica religiosa eram fenmenos que

    tinham sua fonte no inconsciente coletivo (JUNG,2011c). O cu, o inferno, o Jardim do den, oOlimpo, so interpretados pela psicologia jun-guiana e freudiana como smbolos do inconsci-ente (JUNG, 2011c; FREUD, 1972), e se enqua-dram ao simbolismo do dossel e do slio no Ori-ente, localizado a sete degraus acima do nvelonde se encontram os Aprendizes, Companhei-

    ros e Mestres, onde se encontra o chamado Trno de Salomo e que possui estampado o olhque tudo v no Rito Escocs Antigo e Aceito.

    Assim como o inconsciente coletivo dpe da pr-formao psquica da psique (JUN

    1978), o direcionamento dos trabalhos vem dOriente da Loja, alm de que as informaes oginais da Loja, presentes na carta constitutivtambm se localizam na regio do slio.

    Os efeitos e sinais da Ritualstica Manica nInconsciente

    Os rituais praticados e todas as suas repties centram o indivduo dentro dos propsitdo mito, pois o ritual a simples representa

    do mesmo. Ao participar de um ritual, vivencise sua mitologia. Assim, tais gestos e movimetos transcendem os adeptos (CAMPBELL, 2008como, por exemplo, na execuo mito de HiraAbiff, que ocorre no grau de Mestre Maom. Tonar-se Mestre Maom o mesmo que Jung chmava de processo de individuao para realizo do Si mesmo (MAXENCE, 2010).

    Quanto ritualstica e seu potencial psiclgico, Jung (2011b), discorre sobre a psicologanaltica e as formas de atuar no inconscienpessoal do indivduo:

    Outra forma de transformao alcanadatravs de um ritual usado para este fim. Em vde se vivenciar a experincia de transformamediante uma participao, o ritual intencinalmente usado para produzir tal transforma(...) Se recebe um novo nome e uma nova almou ainda passa-se por uma morte figuradtransformando-se em um ser semidivino, coum novo carter e um destino metafsico tran

    formado. (Os Arqutipos e o Inconsciente Colevo, CARL GUSTAV JUNG, 2011, p. 231)

    Desta forma, o indivduo que vivencia ritual, as iniciaes, elevaes e exaltaes, acapor se transformar, seja pelas convices conscentes ou pela influncia do inconsciente (JUN1978).

    GUIMARES, Rafhael. OS EFEITOS PSICOLGICOS DA PRTICA DO RITUAL MANICO

    C&M | Braslia, Vol. 1, n.1, p. 21-28, jan/jun, 2013.

  • 5/25/2018 Revista Ci ncia e Ma onaria, N mero 01

    28/9027

    Os maons devem, portanto, realizar refle-xes da simbologia manica. Ao executar umritual de alto valor cultural, com gestos e passa-gens incomuns sociedade, o qual, sob um olharctico e profano, pode ser considerado como in-fantil e ingnuo, deve o maom analisar tais mo-vimentos a nvel psicolgico, onde reside suamaior fora e resultado. Ademais, abordar o ritu-al manico ou qualquer outro ritual sem um en-tendimento psicolgico e simblico do seu signi-ficado, como ver animais nas nuvens, ou seja,um exerccio de vontade e imaginao sem mai-ores resultados.

    Conhecendo a antropologia das socieda-des primitivas, Jung comparou a vida com a tra-jetria do sol em um dia. A primeira parte, do

    nascimento para a sociedade, semelhante aoamanhecer do sol. A segunda parte, da participa-o efetiva no mundo e na sociedade, seme-lhante ao meio dia. E, enquanto o desafio da pri-meira metade da vida a prpria vida, o desafioda segunda metade a prpria morte, represen-tada pelo anoitecer (CAMPBELL, 2008; JUNG,2005).

    Para o primitivo no bastava ver o Solnascer e declinar. Esta observao exterior cor-respondia a um acontecimento anmico, isto , oSol representava em sua trajetria o destino deum Deus. Todos os acontecimentos mitologiza-dos da natureza, tais como o vero, inverno,amanhecer, meio dia e por do sol, as fases da lua,as estaes, no so alegorias destas experin-cias objetivas, mas sim, expresses simblicas dodrama interno e inconsciente da alma, que aconscincia humana consegue apreender atravsda dramatizao dos rituais manicos (JUNG,2011b).

    Outro detalhe ritualstico curioso relativoao sol a circulao em sentido horrio, tambmchamada de dextrocentrica. Uma prtica to anti-ga quanto a Maonaria. Os gregos e romanostinham o lado direito como favorvel, visto queeste, de forma geral, favorece mais seu dono doque o esquerdo. Relacionaram tal procedimentoao aparente movimento que o Sol faz diariamen-

    te em torno da Terra. Assim, essas civilizaetendo sempre o aparente movimento do Sol cmo referncia, adotavam a circulao em sentidhorrio, tendo altares, fogueiras, totens ou sacfcios como eixo de seus templos (ISMAIL, 2012)

    A funo psicolgica da ritualstica manica a de restaurar um equilbrio psicolgipor meio do sistema mitolgico proposto peinstituio, de modo a produzir um material onrico no inconsciente de seus membros (JUN2005). Desta forma, o conhecimento da Maonria retrata um estudo do inconsciente, tanto dinconsciente pessoal, atravs dos efeitos diretda ritualstica, como do inconsciente coletivatravs do estudo da Mitologia Manica.

    Nos rituais tribais de iniciao os mem

    bros recebem uma marca, que nos tempos atuafigura como simblica (VAN GUENNEP, 2011),que distinguem o iniciado dos no iniciados. Niniciao no Rito Escocs isso ocorre com umchancela no peito esquerdo. Seja uma marcafsica ou apenas simblica, tais atos ritualsticoperam igualmente no inconsciente (JUN2005).

    A prtica de diferentes termos lingustictambm usada para separar o sagrado do pr

    fano nos grupos religiosos (VAN GUENNE2011). Este exemplo um dos diferenciais da tualstica manica, onde uma linguagem prp comumente adotada. Inmeros so os exemplos disso no Rito Escocs, como justo e perfeittronco, Huzz, slio, plio, veneralato e muitoutros.

    Concluses

    Em sntese, a mitologia pode ser entend

    da, sob a tica da Psicologia Junguiana, comum sonho coletivo, sintomtico dos impulsos aquetpicos existentes no interior das camadprofundas da psique humana (JUNG, 1978), onuma viso religiosa, como a revelao de Deaos seus filhos. Tanto a mitologia como os sesmbolos so metforas reveladoras do destindo homem e nas diversas culturas so retratad

    GUIMARES, Rafhael. OS EFEITOS PSICOLGICOS DA PRTICA DO RITUAL MANICO

    C&M | Braslia, Vol. 1, n.1, p. 21-28, jan/jun, 2013.

  • 5/25/2018 Revista Ci ncia e Ma onaria, N mero 01

    29/9028

    de diferentes formas (CAMPBELL, 2007). Sendoassim, a vivncia do drama de um mito nadamais do que uma ferramenta de compreensoe promoo do crescimento psicolgico do indi-viduo, sendo esta a funo principal do mito(CAMPBELL, 2008). Assim, a anlise para todaquesto mitolgica, como tambm, este estudoda ritualstica manica em questo, , por derra-deiro, o estudo da psique humana.

    Em vrias sociedades e cultos primitivos, aprtica religiosa consistia em vivenciar a Mitolo-gia de forma direta, pois o mito poderia influen-ciar o executor da prtica religiosa de forma indi-reta no decorrer das cerimnias, por intermdiodo inconsciente. Assim o crescimento e a finali-dade da Mitologia aconteciam de forma particu-

    lar em cada um, como uma semente que aospoucos iria germinando (JUNG, 2005). Entendi-mento similar ocorre na Maonaria e explicita-do quando maons dizem aos nefitos na Pala-vra a Bem da Ordem que hoje voc entrou paraa Maonaria, mas precisa deixar que a Maonariaentre em voc. A tradio manica conservaesses costumes como forma de instruo aosseus membros, sendo atualmente uma das pou-cas instituies em que o homem pode ter con-tato com tais experincias (BLAVATSKY, 2009).

    Referncias BibliogrficasBLAVATSKY, HELENA P. O ocultismo prtica e as origens doritual na Igreja e na Maonaria. So Paulo: Pensamento,2009.

    CAMPBELL, Joseph. As mscaras de Deus, Mitologia Oci-dental. So Paulo: Palas Athena, 1994.

    CAMPBELL, Joseph. Heri de mil faces. So Paulo: EditoraPensamento, 2007.

    CAMPBELL, Joseph. Isto s Tu. So Paulo: Landy Editora,

    2002.CAMPBELL, Joseph. Mito e Transformao. So Paulo: Ed.gora, 2008.

    DURKHEIM, mile. Da diviso do trabalho social. So Paulo:Martins Fontes, 2004.

    FREUD, Sigmund. A interpretao dos sonhos. Rio de Janei-ro: Editora Imago, 1972.

    HALL, Calvin S.; NORDBY, Vernon J. Introduo Psicologia

    Junguiana. So Paulo: Cultrix, 2010.

    ISMAIL, Kennyo. Desmistificando a Maonaria. So PauUniverso dos Livros, 2012.

    JUNG, Carl Gustav. Interpretao psicolgica do Dogma Trindade. Rio de Janeiro: Vozes, 2011.

    JUNG, Carl Gustav. O Homem e seus smbolos. Rio de neiro: Editora Nova Fronteira, 2005.

    JUNG, Carl Gustav. Os arqutipos e o inconsciente coletiRio de Janeiro: Vozes, 2011.

    JUNG, Carl Gustav. Psicologia do Inconsciente. Rio de Jneiro: Vozes, 1978.

    JUNG, Carl Gustav. Psicologia e alquimia. Rio de JaneiVozes, 2012.

    JUNG, Carl Gustav. Psicologia e religio. Rio de JaneiVozes, 2011.

    JUNG, Carl Gustav. Smbolos e interpretao dos sonh

    Rio de Janeiro: Vozes, 2011.LEVI, Eliphas. Dogma e Ritual da Alta Magia. 20 EdiSo Paulo: Pensamento-Cultrix, 2012.

    MAXENCE, Jean-Luc. Jung a aurora da Maonaria. SPaulo: Madras, 2010.

    MURPHY, Tim Wallace. O cdigo secreto das catedrais. SPaulo: Pensamento, 2007.

    ROBERTS, J. M.: Freemasonry: Possibilities of a NeglectTopic. The English Historical Review, Vol. 84, No. 331, 323-335, 1969.

    STAVISH, Mark. As origens ocultas da Maonaria. So Pa

    lo: Pensamento, 2011.VAN GUENNEP, Arnold. Os Ritos de Passagem. Rio de neiro: Editora Vozes, 2011.

    ZELDIS, L., Illustrated by Symbols. New York, NY: Philethes, The Journal of Masonic Research & Letters, Vol. No. 02, p. 72-73, 2011.

    GUIMARES, Rafhael. OS EFEITOS PSICOLGICOS DA PRTICA DO RITUAL MANICO

    C&M | Braslia, Vol. 1, n.1, p. 21-28, jan/jun, 2013.

  • 5/25/2018 Revista Ci ncia e Ma onaria, N mero 01

    30/9029

    PORQUE A MAONARIA BRASILEIRA EST PERDIDA:

    UMA ANLISE COMPARATIVA DA INFLUNCIA DOS DIFERENTES LEMAS SOBRE ASATIVIDADES MANICAS

    Kennyo Isma

    Resumo

    O presente trabalho, realizado em dois estudos, tem por objetivo avaliar a influncia do lema adotdo e as vocaes a ele inerentes nas atividades desempenhadas pelas Grandes Lojas, por meio danlises comparativas de contedo de dois grupos manicos distintos e representativos dos lem

    Fraternidade, Amparo e Verdade e Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Enquanto o primeiro etudo verificou a adoo pblica a um ou outro lema, o segundo tratou de analisar a publicidade dada s atividades relacionadas aos valores contidos nos respectivos lemas, de forma a observaraderncia ao lema adotado e a coerncia nas informaes divulgadas. O resultado dos dois estudocolaborou para uma melhor compreenso do cenrio manico brasileiro, especialmente no que refere ao campo social.

    Palavras-chaves: lema manico; Maonaria Latina; filantropia manica.

    Recebido em: 02/06/20Aprovado em: 21/06/20

    Abstract

    This paper, carried out in two studies, was designed to evaluate the influence of the lemmaadopted and vocations its inherent activities performed by the Grand Lodges, through compar-ative analyzes of contents of two separate masonic groups, representatives of the lemmasBrotherhood, Relief and Truth and Liberty, Equality and Fraternity. While the first study ex-amined the public ad