Revista Brasil Paraolímpico n° 19

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I www.cpb.org.br Janeiro / Fevereiro 2006 n19 Seletiva de halterofilismo convoca atletas para mundial Loterias Caixa anunciam patrocínio ao programa Arte sem Barreiras Comunidade paraolímpica aguarda edição 2006 do Circuito Loterias Caixa Conheça o projeto Cão-Guia de Cego Em ponto de bala Ex-policiais alvejados em serviço são precursores do tiro paraolímpico no país

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Edição número 19 da revista oficial do Comitê Paralímpico Brasileiro - CPB.

Transcript of Revista Brasil Paraolímpico n° 19

  • Iw w w . c pb . org . br

    Janeiro / Fevereiro 2006n19

    Seletiva de haltero lismo convoca atletas para mundial

    Loterias Caixa anunciam patrocnio ao programa Arte sem Barreiras

    Comunidade paraolmpica aguarda edio 2006 do Circuito Loterias Caixa

    Conhea o projetoCo-Guia de Cego

    Em ponto de balaEx-policiais alvejados em servio so precursores do tiro paraolmpico no pas

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  • 1NO PDIO 02 Clodoaldo Silva 29 Suely Guimares 43 Alexsander Whitaker

    HUMOR05 Tirinha da Turma da Monica e caricaturas de Ccero Lopes

    CULTURA06 Programa Arte sem Barreiras

    ESPECIAL09 Circuito Loterias Caixa: Porto Alegre e So Paulo

    NOTCIAS15 Aberto de Natao dos EUA18 Ces-guia21 Prmio do IPC22 Competio em famlia34 Seletiva para o Mundial de Haltero lismo

    CAPA24 Tiro paraolmpico

    ADRENALINA40 Mergulho adaptado

    OPINIO46 Maria Jos Alves, Zez

    A PASSOS LARGOSTer os ps no cho jamais foi empecilho para voar alto. Pelo contrrio.

    O planejamento objetivo e isento de uma meta bem focada (Pequim 2008) aliado a boa dose de sonhos, possveis apenas a quem se permite, vez e outra, deixar a cabea nas nuvens s nos d a certeza de estarmos no ca-minho certo no sentido de superarmos os resultados de Atenas.

    Em 2005, criamos o Circuito Loterias Caixa Brasil Paraolmpico de Atletismo e Natao, um divisor de guas na histria do esporte para atletas com defi-cincia no pas. Por meio desta competio, que atingiu em cheio a base ao abranger cerca de 650 atletas de aproximadamente 130 clubes de todo o Brasl, posso dizer que o CPB possui hoje um expressivo mapeamento acerca das duas modalidades.

    Alm da continuidade do Circuito, abordado a partir da pgina 9, o ano de 2006 decisivo para as pretenses brasileiras em Pequim. Teremos, passo a passo, mundiais de vrias modalidades (veja relao no calendrio, pg. 47), que serviro para via-bilizar a classificao da delegao brasileira para a prxima paraolimpada. Antes, porm, precisamos estabelecer critrios justos de convocao, a exemplo da seletiva de halterofilismo (pg. 34) organizada em fevereiro para escolher os atletas que de-fendero o Brasil no mundial, em maio.

    Outra modalidade que j tem seu mundial agendado para este ano o tiro parao-lmpico, representado na matria de capa sob a tica de precursores ex-policiais ca-riocas baleados em servio, modelos vivos de como o ser humano capaz de enfrentar traumas, sacudir a poeira e dar a volta por cima de situaes novas e desafiadoras.

    Fora do saudvel esprito paraolmpico de competio, porm igualmente impor-tantes, matrias sobre o programa Arte sem Barreiras, projeto Co-Guia de Cego e mergulho adaptado completam mais um nmero da Brasil Paraolmpico, que traz ainda, entre os destaques da seo no Pdio, curiosidades da infncia e da vitoriosa carreira do melhor atleta paraolmpico do mundo, Clodoaldo Silva.

    Como pode perceber, caro(a) leitor(a), tanto flego no deixa dvidas de que en-tramos em 2006 com o p direito. E temos tudo para conquistar um futuro dourado para o Brasil. Com os ps nas costas!

    VITAL SEVERINO NETOPresidente do Comit

    Paraolmpico Brasileiro

  • 2..............

    Em uma quinta-feira do distante ano de 1979, s sete da manh, dona Maria das Neves, moradora de Na-tal-RN, saa s pressas para o hospital Casa de Sade de Petrpolis. Grvida de nove meses, ela se preparava para uma ligadura das trompas e sabia que o quinto filho, Clodo-aldo Francisco da Silva, estava prestes a vir ao mundo. Uma hora mais tarde ela j estava na sala de cirurgia, e no imagi-nava que, a partir dali, sua vida mudaria para sempre.

    Depois de mais de cinco horas terminava a cesariana. Dona das Neves perguntou pelo filho e os mdicos disseram que estava tudo bem, mas que ela no poderia ver a crian-a ainda. Somente aps trs dias que ela pde segurar o caula da famlia em seus braos. E ento veio a notcia: um atraso no parto havia resultado em falta de oxigenao no crebro e prejudicado a coordenao motora do garoto.

    Os anos foram passando, mas a criana no conse-guia andar. A famlia, de muito poucas posses, no tinha condies de oferecer tratamento em hospitais particu-lares. A soluo foi continuar procurando a rede pblica, na qual ele passou por cinco cirurgias para diminuir os efeitos da paralisia.

    ..............

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    Por Marcelo WestphalemFotos: WR Imagens e Mike Ronchi Produes

  • 3HERI

    BEROBEROHERI

    DE DE

    BEROBEROBEROBEROBEROBEROBEROCom otimismo e bom humor natos, alm de muito empenho nos treinos, Clodoaldo Silva mostra por que est no topo do esporte paraolmpico mundial

    Mesmo tendo que ser ajudado pelos amigos e irmos, Clodoaldo era uma criana muito socivel, sempre dis-posto a procurar diverso. O Clodoaldo era animado demais e acabava fazendo muitos amigos. Mas at hoje bastante respeitador, conta dona Maria das Neves, que atualmente mora no bairro Me Luiza, subrbio de Na-tal. A famlia constituda por dois filhos homens e trs irms. O pai, seu Valdique Francisco, faleceu em 2001, logo depois que Clodoaldo voltou de Sidney com quatro medalhas na bagagem.

    Na hora das brincadeiras, o jeito era improvisar. No incio dos anos 90, os irmos trouxeram pedaos de madeira para casa. Queriam construir um carrinho para carregar Clodo-aldo pela rua. A primeira conduo de Clodoaldo serviu de transporte por algum tempo. Quando ganhou a primeira bi-cicleta, anos mais tarde, no tinha condies de andar com ela. Levei muito ele no colo, no carrinho e na bicicleta, pas-seando pela praia. Parece que eu sabia o que de bom vinha pela frente, conta seu irmo, Lus Antnio Silva.

    As cirurgias exigiam longos perodos de reabilitao em casa, que lhe fizeram perder alguns anos escolares.

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  • 4Nunca tive problemas com a escola. Gosto de estudar e pretendo cursar psicologia num futuro prximo, en-fatiza o campeo. O Beb, forma carinhosa pela qual dona Maria das Neves chama Clodoaldo, no dispensava nem mesmo o futebol. Como caminhava com muita difi-culdade, era sempre o goleiro das peladas nas praias de Natal. A famlia morava longe da orla, mas isso no inti-midava Clodoaldo a pegar uma praia nos dias de folga da escola.

    O incio no esporte foi duro para Clodoaldo. Ela acor-dava s 4h da madrugada, pegava dois nibus para ir e mais dois para voltar da natao, praticada como forma de reabilitao. A renda familiar era pequena e as difi-culdades eram muitas. De vez em quando faltava a gra-na do nibus. A eu tinha que conversar com os motoris-tas e pedir pra no passar pela roleta. A maioria deixava. Hoje, devo muito bondade desses que me apoiaram no passado, relembra Clodoaldo.

    O tempo mostrou que o seu destino estava mesmo dentro das piscinas. J em seu primeiro campeonato bra-sileiro, em 1998, conquistou trs medalhas de ouro. As vitrias no cessaram. Em apenas duas paraolimpadas ganhou 11 medalhas, alm de se tornar recordista mun-dial em quatro provas e paraolmpico em cinco.

    A paralisia cerebral de Clodoaldo afetou apenas par-te de sua coordenao motora, mas difcil para muitas pessoas entender que um paralisado cerebral nem sem-pre deficiente mental. A confuso mais famosa aconte-ceu quando Clodoaldo esteve no programa Domingo do Fausto e foi tratado pelo apresentador como deficiente mental. Ele falou comigo como se eu no entendesse as coisas, diz Clodoaldo, compreensivo. Outras histrias pitorescas recheiam a vida do campeo. Certa vez, foi parado por uma blitz da polcia em Natal, com seu tcni-co Carlos Paixo ao volante. O guarda olhou e perguntou se o passageiro era Clodoaldo. Ao ouvir a resposta afir-mativa, sequer pediu os documentos, liberando imedia-tamente o veculo. Em outra ocasio, no ano de 2004, o ento prefeito de Natal e candidato reeleio, Carlos Eduardo, brincou com a popularidade do atleta durante um discurso. Ainda bem que o Clodoaldo no vai dispu-tar a prefeitura.

    Em 2005, veio o reconhecimento oficial. Por suas conquistas em Atenas, foi eleito o melhor atleta parao-lmpico da atualidade, pelo Comit Paraolmpico Inter-nacional. Alm de um atleta muito respeitado e carism-tico, Clodoaldo Silva hoje um cidado do mundo.

    passado, relembra Clodoaldo.passado, relembra Clodoaldo.

    dial em quatro provas e paraolmpico em cinco. dial em quatro provas e paraolmpico em cinco. dial em quatro provas e paraolmpico em cinco. 4

    No roteiro da vida de Clodoaldo, ainda h muitas cenas por vir.

  • 5Turma da Mnica

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    Conhea um pouco mais da vida de nossosdestaques da seo No Pdio deste nmero:

    Clodoaldo Silva, da natao (pgs. 2 a 4), Suely Guimares, do atletismo (pgs. 29 a 31)

    e Alexsander Whitaker, dohalterofilismo (pgs. 43 a 45).

    Divirta-se!

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    Expresso mais ntima de um ser, a arte busca na transcendncia de vises particulares de mun-do, cotidianas ou metafsicas, a essncia da prpria vida. Neste territrio, livre e fascinante, dificilmen-te h espao para convenes, unanimidades. Pelo contrrio, o inusitado, o original, atitudes coroa-das pela aura da diferena pontuam o universo de emoes e sentidos inerentes a cada artista. Nada mais normal, portanto, que o frtil campo da arte seja povoado pelas mais distintas representaes humanas, aceitas e cultivadas pela sociedade, correto? Nem tanto assim. Em poca de consumo exacerbado de massa com a padronizao de pro-dutos, idias e costumes , a cultura tem sido alvo constante da nsia voraz da globalizao. E se as pessoas com deficincia enfrentam seguidamente entraves em questes bsicas de incluso, a luta no menos rdua quando o assunto arte.

    Arte, por princpio, no tem e no pode ter barreiras. A frase, emblemtica, de algum com propriedade e autoridade para proferi-la. At alcan-ar o cargo de ministro da cultura do atual governo, o cantor e compositor Gilberto Gil percorreu uma longa estrada na companhia de movimentos arts-ticos. Ele esteve presente na coletiva de imprensa da ltima etapa do Circuito Loterias Caixa Brasil Paraolmpico, em meados de dezembro do ano pas-sado (So Paulo), ocasio em que foi anunciado, para 2006, o patrocnio de R$ 1 milho das Loterias

    Fundado h 17 anos e incorporado desde 2003 Funarte, o Programa Arte sem Barreiras prepara-se para nova fase em 2006, com

    patrocnio anunciado pelas Loterias Caixa

    Fundado h 17 anos e incorporado desde 2003 Funarte, o Programa S CPor Leandro FerrazEM LIMITES PARA RIAR6

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    Fotos: Arte sem Barreiras/Divulgao

  • 7CCaixa ao programa Arte sem Barreiras. Hoje, o programa revela-se vitorioso, continua o ministro. Estas mostras mltiplas de msica, teatro, dana e artes plsticas que se esparramam por diversos espaos culturais so prova desta vitalidade.

    Criado em 1988 como entidade filiada ao progra-ma internacional Very Special Arts, o Arte sem Bar-reiras teve como mentoras a madre Albertina Brasil, falecida em janeiro de 2005, e Ritamaria Aguiar, atual coordenadora nacional do programa. Comeamos preca-riamente, afirma Ritamaria. Tanto que o primeiro endere-o foi na minha casa, algo artesanal mesmo. Logo depois, o Arte sem Barreiras ocuparia um espao na Fundao Nacional de Arte (Funarte), onde passou a ter mais estrutura para desenvol-ver-se. Ncleos estaduais foram organizados e exposies e apresen-taes de artistas com deficincia correram o pas e at o exterior. Em 1994, participamos do Festival Internacional de Bruxelas, na Blgica, e recebemos cumprimentos do Very Special Arts por exibirmos uma das mais expressivas delegaes do evento, orgulha-se Ritamaria, que responde ainda pela vice-presidncia do Conselho Nacional de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficincia (Conade).

    Tambm presente na coletiva em So Paulo, o presidente da Funarte, Antonio Grassi, explicou que a reestruturao administrativa do Ministrio da Cultura possibilitou, em 2003, a incluso do Arte sem Barreiras no qua-dro oficial da Funarte. O programa possui coordenao prpria dentro da estrutura do ministrio e dialoga constantemente com os demais programas desenvolvidos pela fundao, conta. Ele elogiou o papel social representado pelas Loterias Caixa a cada real apostado, 48 centavos so destinados a pro-gramas de educao, cultura, esporte e seguridade do governo federal , que tambm patrocinam o CPB. Acredito que a participao do Arte sem Barrei-ras no leque de abrangncia das Loterias Caixa fortalecer o trabalho com o Comit Paraolmpico e seus atletas que, igualmente, so artistas. O reforo de um programa s vem enriquecer o outro, pondera Grassi.

    A mesma opinio compartilhada pelo presidente do CPB, Vital Seve-rino Neto. Em seu discurso, aps a assinatura do protocolo de inteno de patrocnio ao Arte sem Barreiras, ressaltou que a iniciativa transparece pontos de vista convergentes entre duas reas essenciais para o desen-volvimento humano. Esporte e cultura complementam-se para con-solidar a mudana do paradigma que associava deficincia a inca-pacidade ou, at, doena, comemora Vital.

    EM LIMITES PARA RIAR

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    Escultura projetada pelo pintor e arquiteto Assis Arago.

    Foto: Marcelo Westphalem

  • 8Maior e mais conceituado movimento de arte brasileira na filosofia inclusiva, o programa Arte sem Barreiras visa fo-mentar e fortalecer o patrimnio cultural e artstico de pessoas com deficincia no pas. Para tanto, promove encontros pe-ridicos nas 37 cidades onde funcionam seus ncleos regionais e realiza semin-rios, oficinas, apresentaes de msica, dana, teatro e mostras de artes plsti-cas. Sempre em parcerias e convnios com secretarias de cultura e educao, ongs e iniciativa privada, atua ainda na capacitao de educadores da rede regu-lar de ensino para que aprendam a lidar adequadamente com prticas como in-cluso social e cidadania.

    Segundo a coordenadora nacional, Ritamaria, o programa trabalha em duas vertentes: arte-processo e arte-produ-to. A primeira investe no aprendizado e aperfeioamento do artista iniciante; a segunda abre portas para aquele que j esteja pronto para o mercado de traba-lho. A Petrobrs, por exemplo, uma de nossas parceiras, solicita-nos indicaes de artistas para seus projetos e efetua pa-gamentos diretamente a eles, confirma. Ritamaria diz, ainda, que atende tanto instituies da rea como artistas isola-dos, mas faz uma ressalva: No organi-zamos exposies individuais. O artista que chega a ns por ele mesmo avisa-do, desde o incio, que far parte de uma obra coletiva.

    A associao Luz do Sol, de Sergipe, apenas um fio desta ampla teia de parcei-ros, contatos e iniciativas que entrelaam interesses em prol das pessoas com defi-cincia. Fundada em 1996, inicialmente como um projeto vinculado secretaria

    de sade do estado, ela extrapolou os li-mites do tratamento puramente clnico e incorporou aspectos sociais, pedag-gicos e artsticos sua empreitada. A Albertina Brasil tinha um trnsito muito bom em Sergipe. Por intermdio dela foi criado um ncleo do Arte sem Barreiras aqui, recorda a psicloga Idegivnia dos Santos Silva, coordenadora do Centro de Ateno Psicossocial (CAPS) Luz do Sol, uma das cinco entidades filiadas asso-ciao sergipana.

    Residente em Braslia h 27 anos, o cearense Assis Arago, 53, pintor e ar-quiteto, alm de tetraplgico desde 1979, quando sofreu um acidente automobils-tico. O contato com o Arte sem Barreiras surgiu antes mesmo da existncia do programa brasileiro, 20 anos atrs, por meio do embrionrio Very Special Arts. A pintura sempre foi uma atividade bas-tante prazerosa, paralela minha profis-so, define Assis. Depois do acidente, serviu como estmulo para eu experi-mentar at onde poderia chegar. E, sem dvida, ele foi longe. Sempre ao lado do pai, Jos Eduardo Arago, 81 anos, Assis passou dois meses internado no hospital e demorou um ano para reaprender a as-sinar seu nome. Destro de nascena, teve que virar canhoto para seguir adiante com seu sonho de voltar a produzir. In-ventou um suporte que lhe proporciona a firmeza necessria tanto para traar seus projetos de arquitetura como para soltar a imaginao em seus desenhos. Nem penso em parar de trabalhar. Mui-ta gente depende de mim, declara Assis, que mantm com seu escritrio de arqui-tetura 30 empregos diretos e cerca de 100 indiretos.

    Entidades e artistas participam do programa

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    Assis Arago produzindo no seu ateli. No detalhe, duas de suas obras

    Fotos: Marcelo Westphalem

  • 9Mais de 100 horas de competies, divididas em seis etapas. Cerca de 2.500 participantes entre atletas, tcnicos e staff. Cento e cinqenta e seis recordes brasileiros bati-dos somente na natao, alm de um recorde mundial no atletismo. Retorno estimado em R$ 6 milhes de mdia im-pressa, on-line e televisiva espontnea, com 650 inseres noticiosas sobre o evento, superando, em muito, todas as expectativas e o investimento em passagem, hospedagem, alimentao e demais servios.

    Apropriando-se da velha mxima, os nmeros no men-tem e do a exata noo do que o Circuito Loterias Caixa Brasil Paraolmpico de Atletismo e Natao representou no cenrio esportivo nacional em 2005. Disputado nas cidades de Belo Horizonte, Recife, Rio de Janeiro, Fortaleza, Porto Alegre e So Paulo, o maior evento para atletas com defi-cincia do pas deixou um saldo mais que positivo em ano ps-Atenas, j de olho na performance de nossos futuros campees em Pequim 2008.

    Circuito

    Com organizao elogiada e resultados expressivos, o Circuito Loterias Caixa dever prosseguir at 2008

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    Por Leandro FerrazFotos: Mike Ronchi Produes

  • 10

    Na tarde da sexta-feira, 18, quem esteve no shopping Praia de Belas pde praticar basquete em cadeira de rodas e jud com o tricampeo paraolmpico Antnio Tenrio. Cego total desde os 19 anos, Tenrio, hoje com 34, fez apresentaes da luta e convi-dou o pblico a aplicar-lhe vrios ippons. Entre os presentes estava Lucas Dorneles, 12 anos, que perdera uma das pernas cinco meses antes, em funo de um tumor. Ele chegou tmido, conversou com alguns atle-tas e observou os campees to prximos a ele. Antes de perder a perna eu jogava basquete, mas no conhecia muito bem os paraolmpicos. Agora, tenho certeza de que quero voltar a praticar esporte, em-polga-se o pequeno Lucas, j com uma bola de basquete nova, comprada ali mesmo no shopping, devidamente autografada.

    Penltima etapa do circuito, Porto Alegre respirou o clima do esporte paraolmpico de 16 a 20 de novembro. De fato, a primavera gacha ferveu nestes cinco dias, com os ter-mmetros chegando a passar dos 30C.

    Seguindo a tradio das outras capitais, aes especficas de divulgao do movi-mento paraolmpico foram praticadas an-tes do fim de semana de disputas no Centro Esportivo da PUC-RS, como palestra para funcionrios da Caixa Econmica Federal, coletiva de imprensa, seminrio para uni-versitrios e visitas a duas escolas e a um shopping locais.

    Voltado a alunos de educao fsica, o seminrio Brasil Paraolmpico: de Atenas a Pequim, promovido no dia 17, contou com a participao do nadador Lus Silva, de tc-nicos e diretores do CPB e da coordenadora do ncleo esportivo de atividade fsica adap-tada da PUC, profa. Jane Gonzalez. Para ela, a competio dentro do campus serviria como importante complemento acadmico, j que o curso oferece disciplinas ligadas ao esporte para pessoas com deficincia. O circuito paraolmpico realizado em nossas dependncias contribuir para que os alu-nos vivenciem na prtica o que aprendem em sala de aula, relata a professora.

    Atividades diversas precedem disputas em Porto Alegre

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    No alto, atletas em intervalo de palestra. Acima, no detalhe, o pequeno Lucas Dorneles com o nadador Adriano Lima. Judoca Antnio Tenrio em demonstrao da modalidade num shopping gacho.

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    Atletas argentinos invadem capital gacha

    Na natao, os 20 competidores con-vocados para representarem o Brasil no Aberto dos EUA, que ocorreria de 6 a 10 de dezembro, buscaram aperfeioar suas mar-cas durante o circuito. Apesar de competir em Porto Alegre, o medalhista paraolmpi-co Francisco Avelino foi vetado da disputa internacional, pois ainda no estava total-mente recuperado de uma leso no ombro direito. uma pena eu no ir, mas fico feliz pelo Jourdan Lutkus, que vai no meu lugar. a primeira vez que integrar a seleo, afirma Avelino, mostrando esprito de equi-pe. Lutkus, assim como Carlos Farrenberg, nas piscinas, e Pedro Csar Moraes, Emi-carlo Elias de Souza e Carlos Jos Bart, no atletismo, entre outros, so provas vivas da renovao na base do esporte paraolmpico, um dos principais objetivos do circuito.

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    Imagens que, para muitos, podem chocar foram uma feliz constante nas etapas do circuito.

    Presente no circuito com 13 atletas, sendo dez na natao, a delegao Argentina mos-trou-se bastante entusiasmada com a com-petio. Estamos muito contentes com a or-ganizao do circuito. Trouxemos o que h de melhor na Argentina, garante a tcnica da equipe de natao, Emilia Discala. A mesma impresso teve o argentino Horcio Bascioni, do atletismo. Achei tudo muito bem conduzi-do. Os locais das provas so excelentes, assim como o hotel e a alimentao.

  • 1212

    Na noite de 15 de dezembro, um jantar para empresrios de casas lotricas da capital paulistana abriu oficialmente a ltima etapa do Circuito Brasil Paraolmpico em 2005. Mar-caram presena os atletas patrocinados pelas Loterias Cai-xa, o secretrio de Juventude, Esporte e Lazer de So Paulo, Lars Grael, o vice-presidente de Transferncia de Benefcios da Caixa, Carlos Borges, e o presidente do Comit Paraolm-pico Brasileiro, Vital Severino Neto.

    Mestre de cerimnia do evento, o ator Dudu Braga, que apresentou o programa preciso saber viver, na novela Amrica, da T V Globo, quebrou o protocolo e pediu que Vital Severino contasse um pouco da sua histria. O presidente do CPB, que perdeu a viso aos 9 anos, relembrou sua trajetria como atleta e dirigente esportivo. O esporte paraolmpico est passando por uma grande virada. As pessoas comeam a admirar nossos atletas e a acreditar no potencial deles, conta Vital. Para Lars Grael, crescente a conscientizao da importncia do esporte para a incluso social das pessoas com deficincia. O apoio das Loterias Caixa fundamental para este quadro positivo, diz o secretrio.

    Jantar para lotricos inicia etapa de So Paulo

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    Em momento de descontrao aps a cerimnia, o presidente do CPB, Vital Severino Neto ( esquerda), e o apresentador Dudu Braga trocam con dncias.

    No segundo dia de competio, destaque para a velocista Terezinha Guilhermino, que vem perseguindo a quebra do recorde mundial nos 400m, categoria T11. Ela fechou com o tem-po 58s01, enquanto o recorde est fixado em 56s83, da espanhola Purificacion Santamarta-Bavo. Em Atenas, Terezinha, ento na T12, con-quistou medalha de bronze nesta prova, na qual apresentou considervel evoluo em 2005, ao lado de seu novo guia, Jorge Luis, o Chocolate. A dupla mudou-se para Cuiab, onde foi treinar com o tcnico Ricardo Itacaramby. Na prova de hoje a Terezinha pecou um pouco na finalizao. Espero sanar essa dificuldade at a etapa de So Paulo, diz Itacaramby.

    O reitor da PUC-RS, Prof. Joaquim Clotet, prestigiou a competio. frente de uma das maiores universidades do pas com cerca de 30 mil alunos, 68 cursos de graduao, 22 de mes-trado e 16 de doutorado Clotet, que natural de Barcelona, exaltou a relevncia do evento para a sociedade. Meus cumprimentos s Lote-rias Caixa e ao Comit Paraolmpico Brasileiro. A PUC tem muito a colaborar com empreendi-mentos deste porte, afirma o reitor de 59 anos, sendo 21 de Brasil.

  • 1313

    Recorde mundial e desa os internacionais encerram o circuito altura

    So Paulo confirmou a rotina de recordes brasileiros, como o do velocista mato-gros-sense Pedro Csar Moraes, que baixou a marca dos 100m rasos para 11s15 e dos 200m para 22s89, ou do nadador paulista Renato Nunes, que bateu o prprio recorde nos 100m peito, com o tempo de 1min27s37. Cabe ressaltar ainda a estreante Pollyane Mi-randa, de apenas 13 anos, que diminuiu substancialmente a marca dos 100m peito com o tempo de 1min50s60.

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    Uma das disputas mais esperadas no atletismo foi a prova dos 100m rasos feminino, que contou com dria Santos e Terezinha Guilhermino. Apesar de Terezinha chegar na frente com 12s44 o que equivaleu a 99,116% do recorde mundial e lhe garantiu a terceira colocao geral entre os melhores resultados do cir-cuito no atletismo , ela participou somente para aferir tempo, pois no estava inscrita na prova. Com isso, dria levou o ouro, cravando 12s89.

    Nos desafios internacionais, o nadador Clodoal-do Silva, 11 medalhas paraolmpicas em dois Jogos, enfrentou um dos seus principais adversrios, o es-panhol Xavier Torres, com 14 medalhas em quatro Paraolimpadas, nos 150m medley. O espanhol, atual recordista mundial da prova, perdeu para as fortes braadas de Clodoaldo, que marcou 2min42s18. A prova foi emocionante e competitiva. Foi uma tima oportunidade fechar o circuito com este confronto, afirma Clodoaldo. O outro desafio foi entre Antnio Tenrio, tricampeo paraolmpico, e o francs Olivier Cugnon, campeo europeu nos ltimos quatro anos. Na prorrogao da luta, Tenrio marcou um ippon e fechou o ano com mais uma medalha no peito. Para mim, sempre um prazer competir com o Olivier, que ser um forte oponente na Paraolimpada de Pe-quim, diz Tenrio, que considera mpar o momento vivido pelo jud paraolmpico brasileiro.

    O recorde mundial no atletismo veio das mos da pernam-bucana Roseane dos Santos, a Rosinha. E foi justamente na ltima prova do domingo, 17, ao apagar das luzes do circuito. A atleta estabeleceu a nova marca de 33m69 para o lana-mento de disco. H tempos eu queria bater esse recorde. E ele s veio depois de muita dedicao, comemora Rosinha.

  • 14

    PARA O

    Depois de seis etapas de acirradas dis-putas, o CPB divulgou os nomes dos dez melhores atletas de ambas as modalida-des do circuito, atletismo e natao. Clo-doaldo Silva e Odair Ferreira dos Santos encabearam suas listas, que tiveram novatos entre os integrantes, o que mos-trou o bom trabalho de renovao de base do esporte. Os 20 atletas, assim como seus respectivos tcnicos, guias e tappers, receberam prmios em dinhei-ro, que variaram de R$ 1.250 a R$ 9 mil. A escolha foi baseada na soma dos pon-tos de cada prova com o ndice tcnico do atleta, ou seja, a comparao com o re-corde mundial da sua prova e categoria.

    Com isso, o CPB chegou a uma mdia em cada etapa, sendo que duas (com as me-nores pontuaes) foram descartadas.

    Segundo o vice-presidente de trans-ferncia de benefcios da Caixa, Carlos Borges, a inteno das Loterias Caixa, enquanto patrocinadora do Comit Pa-raolmpico Brasileiro, realizar o circui-to at 2008. Para ns mais do que um prazer investir no esporte brasileiro. Para o presidente do CPB, Vital Severi-no Neto, o evento surpreendeu as mais otimistas das expectativas. Junto com as Loterias Caixa, estamos redirecionando, reformulando e inovando o circuito para 2006.

    Natao

    01 - Clodoaldo Francisco da Silva02 - Mauro Luiz Brasil da Silva03 - Adriano Gomes de Lima04 - Marcelo Collet Silva Mauro05 - Fabiano Machado da Silva06 - Carlos Alonso Farrenberg07 - Danilo Binda Glasser08 - Lus Antonio Correia e Silva09 - Rodrigo Machado de Souza Ribeiro10 - Ivanildo Alves de Vasconcellos

    CPB divulga os 20 melhores paraolmpicos do pas

    Atletismo

    01 - Odair Ferreira dos Santos02 - Antnio Del no de Souza03 - Pedro Csar da Silva Moraes04 - dria Rocha dos Santos05 - Emicarlo Elias de Souza06 - Carlos Jos Bart da Silva07 - Roseane Ferreira dos Santos08 - Alex Cavalcante Mendona09 - Ozivam dos Santos Bon m10 - Edson Cavalcante Pinheiro

    Veja, a seguir, os vencedores14

    Colaboraram Patrcia Osandn e Marcelo Westphalem

  • 1515

    FIM DE ANO

    PARA O

    Pas conquista 11 medalhas e um

    recorde mundial no Aberto dos EUA

    As diferentes regras impostas pela orga-nizao s complicaram, mas nem isso impediu que a delegao brasileira mos-trasse sua fora no Aberto de Natao Paraolm-pica, realizado na primeira semana de dezembro de 2005, em Minneapolis, Minessota, nos Esta-dos Unidos. O Brasil voltou com onze medalhas na bagagem, um recorde mundial quebrado e o primeiro lugar do ranking da competio para o fenmeno paraolmpico Clodoaldo Silva (clas-se S4), que conquistou sete das onze medalhas brasileiras. O recorde mundial foi do pernam-bucano Ivanildo Vasconcellos. Com mais de um minuto de diferena, Ivanildo (classe S5) que-

    15

    Por Luciana PereiraFotos: Edlson Rocha

    Clodoaldo foi o destaque da competio com setemedalhas.

    Apesar de chegar na frente nos 50m livre, Ednia nolevou medalha.

  • 1616

    brou o recorde mundial nos 200m peito, batendo a marca que pertencia ao australiano Allan Bunyan.

    Os resultados foram uma caixi-nha de surpresas. Atletas com todos os tipos de deficincia se enfrenta-vam na mesma prova e tentavam se salvar, lembra Clodoaldo.

    A delegao brasileira foi com-posta por 20 nadadores selecionados a partir do desempenho nas quatro primeiras etapas do Circuito Loterias Caixa Brasil Paraolmpico de Atletis-

    mo e Natao, realizadas em Belo Ho-rizonte, Recife, Rio de Janeiro e Forta-leza. A competio foi criada em 2005 pelo Comit Paraolmpico Brasileiro com o patrocnio das Loterias Caixa. En-tre os atletas que estiveram defendendo o Brasil nos Estados Unidos, nadadores consagrados em Jogos Paraolmpicos, como Clodoaldo Silva, Adriano Lima e Fabiana Sugimori, e tambm revela-es surgidas no Circuito Loterias Cai-xa, como Carlos Farrenberg, Jourdan Lutkus e Anselmo Alves.

    Clodoaldo Silva foi ouro nas pro-vas de 50m livre (35s39), 100m livre (1m20s28), 200m livre (3m2s) e 50m peito (53m41s), prata nos 150m med-ley (2m45s) e 50m borboleta (46s08) e bronze nos 50m costas (50s14). O recorde do pernambucano Ivanil-do Vasconcellos foi nos 200m peito, com o tempo de 3m44s84. As outras conquistas foram de Marcelo Collet, com a prata nos 800m e nos 1.500m livre, e de Genezi Andrade, bronze nos 150m medley.

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    Prata nos 100m peito em Atenas, Ivanildo Vasconcellos bateu orecorde mundial nos 200m peito durante o Aberto dos EUA,com o tempo de3m44s84.

    Foto:

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    par N

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    O sistema canadense de premia-o e a unio das classes de defici-ncia atrapalharam a busca por me-dalhas de vrios atletas brasileiros que chegaram em primeiro lugar em provas da competio. Foi o caso de Adriano Gomes de Lima, nos 200m medley, Ednia Nogueira Garcia, novamente Adriano Lima, Mauro Luiz Brasil e Rodrigo Machado Ri-beiro, nos 50m livre, Luis Antnio Correa e Silva e Mauro Brasil, nos 50m borboleta, e Andr Luiz Mene-

    ghetti, nos 400m livre.Fechamos o calendrio esporti-

    vo com chave de ouro, com competi-es de qualidade em nvel nacional e internacional. Os prprios atletas dizem que com o Circuito tivemos um ano diferente, muito mais pro-dutivo para a natao paraolmpica. O Circuito foi muito elogiado por atletas de vrias partes do pas, foi a oportunidade que pediram para mostrarem o seu potencial, finaliza Edilson Alves, Coordenador Geral

    da Delegao do Aberto dos Estados Unidos.

    O Aberto dos Estados Unidos foi uma das mais importantes compe-ties realizadas em 2005 na nata-o paraolmpica e funcionou como uma prvia do Mundial da frica do Sul, que ser disputado de 27 de no-vembro a 9 de dezembro de 2006. O Mundial uma prova fundamental para os atletas, uma vez que definir os nadadores que estaro na Parao-limpada de Pequim, em 2008.

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    Local das provas em Minneapolis, EUA.

    Delegao brasileira festeja resultados.

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    melhor amigo do cego

    Ces-guia conquistam o respeito da sociedade brasileira e contribuem para a incluso da pessoa com de cincia visual

    Eles significam muito mais do que um importante instrumento para que as pessoas com deficincia visu-al possam exercer o seu direito de ir e vir. So, antes de tudo, os olhos de quem no pode ver o mundo da ma-neira convencional, mas que pode senti-lo de forma diferente, talvez at mais intensa. Eles sabem muito bem o que proteo, amizade, com-panheirismo e fidelidade. E nascem com uma misso especial e um tanto trabalhosa para a maioria dos ces espalhados pelo mundo. Eles so os ces-guia.

    Entregar-se por completo a es-ses ces pode, no incio, parecer um grande desafio para as pessoas com deficincia visual. Porm, com o mesmo carinho e afinco com que so treinados, eles vm conquistando o seu espao na sociedade. A Mali me proporcionou conhecer lugares antes inimaginveis. Posso confiar plenamente, ela tudo para mim, derrete-se Josenei Ferreira, 25, que deficiente visual e conta com o tra-balho da cadela Mali h um ano.

    Para que um co possa tornar-se guia preciso um longo caminho e muito treinamento. O processo de criao e sociabilizao costuma du-rar de 18 a 20 meses. A conscienti-zao para a importncia do trabalho realizado pelo co-guia bastante di-fcil. algo que envolve a pessoa com deficincia visual, os familiares e a prpria sociedade, explica Lcia Bit-tar, vice-presidente do Instituto de In-tegrao Social e de Promoo da Ci-dania (Integra), rgo que desenvolve o projeto Co-guia de Cego, pioneiro no Brasil em termos de estrutura.

    OPor Patrcia Osandn

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    A preparao do co-guia

    Uma grande companheira. assim que Mari-nalva Pires, 29, deficiente visual desde nascena, define a cadela Gypsy, que lhe faz companhia h dois anos e meio. s 6 da manh, Marinalva, que telefonista de uma corretora de seguros, acorda para ir ao trabalho. Gypsy j est de prontido. Antes de sair, ela alimenta Gypsy. Quando est guiando, o co-guia no pode ser alimentado nem tocado, tudo com o propsito de oferecer seguran-a total ao usurio. Juntas, as duas pegam nibus de Taguatinga, cidade satlite do Distrito Federal, para o centro da cidade.

    Marinalva chega ao trabalho s 8h30 e fica l at 14h30. Depois, segue para um shopping, paga contas, lancha, enfim, faz todas as ativida-des do cotidiano de um cidado. A Gypsy me trou-xe muita liberdade. A presena dela me facilitou bastante, diz, enquanto d comandos para Gupsy encontrar uma escada rolante. noite, Marinalva vai a um cursinho preparatrio para vestibular e concurso pblico na sede do Integra. Somente ento retorna para casa. Tudo isso na companhia de Gypsy. J fui barrada em vrios lugares. Nem todos os motoristas me deixam subir nos nibus. preciso muito esforo para que as pessoas com deficincia conquistem a cidadania plena.

    CONFIANA, CONVIVNCIA E CONFIDNCIAS

    O projeto Co-guia de Cego existe desde 2002. As tcnicas de formao e os primei-ros ces foram cedidos pela Fundao Mira, do Canad. Na sede do projeto, em Braslia, h uma ampla estrutura para abrigar os ces, como boxes, alojamentos e at mater-nidade. O trabalho comea bem cedo, com a criteriosa seleo dos melhores ces repro-dutores. A raa utilizada pelo projeto o la-brador, bastante conhecida pela docilidade, companheirismo e inteligncia. Antes mes-mo de nascerem j estamos pensando como eles vo ser quando se tornarem adultos. A anlise tem que ser bem detalhada, explica Carlos Dias, coordenador tcnico do projeto.

    Os filhotes ficam at os dois meses na escola de treinamento, quando so encami-nhados para as famlias hospedeiras, que se encarregam de cuidar dos ces at que com-pletem 12 meses. Elas realizam um trabalho voluntrio e assumem o compromisso de expor o filhote aos mais variados ambientes pblicos, como shoppings, ruas, restauran-tes e lojas. O projeto fornece toda a assis-tncia veterinria e alimentar para que o co seja criado e cada etapa acompanhada criteriosamente. O Henri como um filho para ns. Vou ficar satisfeita em v-lo guian-do uma pessoa com deficincia visual no fu-turo, conta Clarice Cristina de Souza, que

    cuidou do co Henri durante dez meses. Ela e o marido, Csar Gonzaga, adoram o univer-so canino. Eles tm mais onze cachorros em casa, todos domsticos. A criao do Henri foi toda projetada pensando que estvamos cuidando dos futuros olhos de um deficiente visual. algo que exige muita sensibilidade e desprendimento. Para ns, foi um prazer contribuir, completa Csar.

    Quando completam um ano, os ces re-tornam para o centro de treinamento. Nos seis a oito meses seguintes, passam por qua-tro etapas: avaliao, treinamento, adaptao e acompanhamento. Na primeira fase entra o trabalho do veterinrio Gustavo Carvalho. feita uma avaliao radiolgica, oftalmolgi-ca e cardaca. Qualquer resultado negativo eliminatrio, pois no podemos comprome-ter a segurana do usurio, explica Gustavo. Se aprovados, os ces seguem para o treina-mento. Treinar um co para tornar-se guia um processo difcil, que exige habilidade, dom, amor e pacincia, afirma Carlos Dias. Em todas as etapas, qualquer fator de desvio comportamental, como fobias ou agressivi-dade, desclassificatrio. Dias explica que o aproveitamento dos ces costuma girar entre 50% e 60%. Caso sejam reprovados, so en-caminhados novamente para as famlias ou selecionados para outras atividades.

    Marinalva Pires com sua companheira Gypsy.

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    Foto: Marcelo Westphalem

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    O Quartz foi o grande instrumento para que eu pudesse me aproximar efetivamente do universo das pessoas com deficin-

    cia visual. De todas as experincias para poder interpretar o Jatob, as pessoas que conheci, os lugares que visitei, os

    livros que li, os filmes que vi, foi por meio do contato com o Quartz que pude mergulhar na vida das pessoas com

    deficincia visual. Foi uma experincia incrvel. Pude perceber, por exemplo, que os deficientes visuais que tm um co-guia costumam ter mais desenvoltura e liberdade de movimentos do que aqueles que no tm. A plena cidadania das pessoas com deficin-cia envolve vrias questes, como a acessibilidade, o cumprimento das leis, entre elas a dos ces-guia, e a luta contra a discriminao, algo que ainda atra-palha muito. Tudo isso s vai ser conquistado com

    bastante dilogo e convivncia, para que a socieda-de possa caminhar junta. As coisas esto comeando

    a melhorar e fico feliz que o Jatob e o Quartz tenham contribudo para isso.

    Saiba Mais:

    Projeto Co-Guia de Cego: http://www.caoguia.integradf.org.br

    Lei federal n 11.126, que dispe sobre o direito do portador de defi-cincia visual de ingressar e perma-necer em ambientes de uso coletivo acompanhado de co-guia:

    http://www.presidencia.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11126.htm

    Lei distrital n 2996, de 3 de julho de 2002, que assegura o livre aces-so do portador de deficincia visual, acompanhado de co-guia, a locais pblicos e privados e d outras provi-dncias, no Distrito Federal: http://si-leg.sga.df.gov.br

    Depoimento....O consagrado ator Marcos Frota conta sobre o contato com o co-guia Quartz e o desa o de interpretar um personagem cego

    De olhos fechadosConfiar por completo em um co-guia um exerccio cont-

    nuo, que deve ser praticado no dia-a-dia. Na tentativa de conhe-cer um pouco mais esse universo, eu, reprter da revista Brasil Paraolmpico, experimento a sensao de ser guiada por um breve momento por Quartz, um dos ces mais adorados do pro-jeto, que foi, inclusive, o acompanhante de Jatob, personagem interpretado pelo ator Marcos Frota na novela Amrica, da Rede Globo. Minha primeira reao, um tanto instintiva, segurar a guia com fora, para no deixar o co escapar. Carlos Dias explica que para sentir os movimentos de Quartz no se pode segurar a guia com tanta fora.

    Quartz segue os comandos do treinador com segurana, en-quanto tento relaxar e me acostumar com a cegueira moment-nea. A impresso de que Quartz est indo muito rpido. Dias afirma que, pelo contrrio, o co est caminhando at devagar demais, talvez por sentir minha insegurana. Quartz desvia dos obstculos com ateno, sempre preocupado com quem est sendo guiado. Ele pra quando surge, por exemplo, um quebra-mola ou um meio fio, atitude fruto do treinamento no projeto, que tambm o faz ignorar presenas felinas pelo caminho. Do rpido contato com Quartz, tiro uma lio: o co-guia mesmo o melhor amigo do cego.

    O Quartz foi o grande instrumento para que eu pudesse me aproximar efetivamente do universo das pessoas com deficin-

    cia visual. De todas as experincias para poder interpretar o Jatob, as pessoas que conheci, os lugares que visitei, os

    livros que li, os filmes que vi, foi por meio do contato com o Quartz que pude mergulhar na vida das pessoas com

    deficincia visual. Foi uma experincia incrvel. Pude perceber, por exemplo, que os deficientes visuais que

    bastante dilogo e convivncia, para que a socieda-de possa caminhar junta. As coisas esto comeando

    a melhorar e fico feliz que o Jatob e o Quartz tenham contribudo para isso.

    Ces-guia (Quartz ao centro) brincam durante encontro de famlias hospedeiras em um shopping de Braslia.

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    Na realidade, eu no queria estar aqui de terno e gravata, mas de sunga e touca. A declarao, de uma simplicidade conta-giante, marcou o incio da cerimnia do Prmio Mundial do Esporte Paraolmpico, organizada pelo Comit Paraolmpico In-ternacional (IPC), no dia 19 de novembro, em Pequim, China.

    O autor da frase espirituosa? Ningum menos do que Clodoaldo Silva, eleito na ocasio o melhor atleta paraolmpico do mundo, na categoria masculina. A escolha foi baseada nos resultados do atleta na l-tima paraolimpada, em Atenas, quando conquistou seis medalhas de ouro e uma de prata, alm de quatro recordes mundiais e cinco paraolmpicos. Parece um sonho. Re-cebi um prmio que tem significado histri-co para mim e para o Brasil, vibra o cam-peo. Alm dos expressivos resultados nas piscinas, o reconhecido envolvimento de Clodoaldo com causas sociais teve bastante peso na deciso.

    Com mais de 200 medalhas acumula-das em 10 anos de natao paraolmpica, Clodoaldo j era reconhecido mundial-

    mente antes de conquistar este ttulo, mas depois dessa grande vitria escreveu definitivamente seu nome no seleto gru-po das celebridades. Em todas as cidades brasileiras sempre abordado para dar autgrafos. O tubaro, apelido recebido na Inglaterra, um dolo nacional, consi-derado por muitos um heri, smbolo de superao.

    O Prmio concedido pelo IPC a atletas paraolmpicos tambm abriu espao para profissionais das reas de mdia e cincia esportiva. A categoria de melhor atleta masculino foi uma das mais concorridas, com 12 indicaes. Na categoria feminina, venceu a japonesa Mayumi Narita. A es-grimista chinesa Chui Yee Yu foi escolhida como revelao. Jonquil Solt, do hipismo da Gr-Bretanha ficou com o prmio de melhor profissional da rea tcnica.

    As metas de Clodoaldo agora so o mundial, no final de 2006, na frica do Sul, e o Parapan-americano do Rio 2007. Quero ter o prazer de conquistar mais medalhas nadando em meu Pas, confes-sa o campeo.

    Clodoaldo Silva recebe, na China, o mais importante prmio como atleta

    Por Marcelo Westphalem

    O MELHOR O MELHOR

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    A bandeira brasileira e o prmio, em sua mo esquerda, s reforam o brilho deste supercampeo mundial.

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    T U D O E M C A S A

    Pais, lhos, irmos. O nmero de famlias que competem unidas cresce no movimento paraolmpico brasileiro

    Fabiana e Marcelo Sugimori. Regiane e Renato Nunes. Sirlene, Terezinha e Pedro Guilhermino. Claudines e Domingos Bartolomeu. praticamente impossvel pensar em um sem o outro. Inseparveis em casa e nas competies, as famlias j fazem parte do dia-a-dia das com-peties paraolmpicas. Eles esto sempre l: torcendo na arquibancada para dar apoio nos ltimos metros da prova, auxiliando no treinamento e, principalmente, ajudando a matar a saudade quando todo o resto da fam-lia est longe.

    Ela leva a mamadeira pra ele, brinca o tcnico Luiz Antonio, da pre-feitura de So Bernardo, que treina os irmos Regiane e Renato, ambos de-ficientes visuais e atletas da natao. No chega a tanto, mas quase isso. Renato conta que durante o Mundial de Jovens, que aconteceu em 2005, nos Estados Unidos, Regiane no es-tava e a competio foi muito triste,

    apesar de ter quebrado o recorde bra-sileiro nos 100m peito. Temos uma parceria muito forte. Foi por causa dela que comecei a nadar, quero fazer a mesma faculdade, os amigos so os mesmos. Sou seu maior f. Minha irm tudo pra mim!, derrete-se.

    Com os corredores Sirlene, Terezi-nha e Pedro no diferente. Sirlene e Terezinha so to unidas que chegam a dormir na mesma cama. Qualquer dia, se a Sirlene no comprar uma cama pra ela, vou pedir penso, brinca Terezinha. Mas ela no recla-ma. Em Atenas, na Paraolimpada, fez questo de entregar as flores e a coroa para a irm. Estamos o tempo todo juntos. Aquecemos para a nossa prova e vamos logo gritar para a pro-va do outro, que est na pista. um privilgio ter essa torcida especial, a adrenalina maior.

    Sirlene lembra do Mundial de Quebec, em 2003, quando foi so-zinha, sem os irmos. Ao chegar ao

    aeroporto, antes do embarque, cor-reu para o telefone e disse que estava indo, mas faltava alguma coisa. S no quebrei o recorde porque a Tere-zinha no estava, exagera.

    Ser que exagero? Para Dietmar Samulski, responsvel pela equipe de suporte psicolgico da delegao para-olmpica brasileira em Atenas, a falta do familiar em uma situao limite, de estresse, como a possibilidade da que-bra de um recorde, por exemplo, pode afetar o rendimento sim. Segundo ele, o que acontece nesses casos que os atletas acabam criando uma situao de dependncia.

    A presena da famlia em uma competio positiva, sem dvida, mas isso no pode gerar uma dependncia. Por isso o apoio psicolgico em uma competio muito importante. Pro-curamos sempre estabilizar os atletas mentalmente e emocionalmente para que sejam independentes de qualquer pessoa, at mesmo dos tcnicos.

    Por Luciana Pereira

    Terezinha seguida por sua irm, Sirlene, em uma etapa do Circuito Loterias Caixa

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    T U D O E M C A S A

    CLAUDINES E DOMINGOS BARTOLOMEU

    Samulski, no entanto, no des-carta a importncia do apoio da fa-mlia, sempre a maior incentivadora dos atletas. Irmos, por exemplo, que competem juntos acabam se apoiando nas provas, tm laos mais estreitos, contam com a torcida um do outro, viajam juntos e geram uma competio saudvel na famlia.

    Em outro pas, outro clima, a adaptao sempre difcil. Se voc estiver com a famlia por perto, acaba criando um ambiente familiar dentro da vila paraolmpica, do hotel, o que deixa tudo mais fcil, explica.

    o caso de Fabiana Sugimori, que a cada volta dada na piscina encon-tra seu irmo, Marcelo Sugirmori, tapper (quem avisa ao nadador deficiente visual que a borda da pis-cina se aproxima com uma bolinha de isopor). Os dois, alis, no se des-grudam. Em competies, para achar um, basta procurar o outro. A cum-plicidade se estende outra irm, Flavia, que tambm trabalha com esportes.

    O caso da Fabiana muito in-teressante porque toda a famlia envolvida com o esporte e isso fun-damental para o desempenho dela. Saber que os pais, os irmos, saram do Brasil para outro pas s para v-la competir um incentivo e tanto, observa Dietmar.

    Claudines Bartolomeu, nadador da classe S2, tambm conta com uma torcida bem familiar na beira da pis-cina: seu pai, Domingos Bartolomeu, tambm atleta da natao. Amputado do brao direito, Domingos, que com-pete na classe S8, teve no filho, que ficou tetraplgico aps um acidente de moto, o incentivo para comear a praticar esporte. muito importan-te para minha sade e tambm por poder acompanhar meu filho, orgu-lha-se Domingos, aos 65 anos. Acho que sirvo tambm de incentivo para os jovens.

    Para Claudines, ter o pai e a me, que sempre os acompanha ao lado nas competies uma vanta-gem. Alm de ajud-lo devido s suas limitaes fsicas, ele ainda garante a torcida onde estiver. Sempre sei que tem algum olhando pra mim, tor-cendo. A famlia sempre a melhor companhia.

    Inseparveis, os irmos Sugimori mostram a fora dos laos familiares durante as competies.

    Sirlene e Terezinha em intervalo dos Jogos de Atenas.

    FABIANA E MARCELO SUGIMORI

    REGIANE E RENATO NUNES

    SIRLENE, T EREZINHA E PEDRO GUILHERMINO

    CLAUDINES E DOMINGOS BARTOLOMEU

    FABIANA E MARCELO SUGIMORI

    REGIANE E RENATO NUNES

    SIRLENE, T EREZINHA E PEDRO GUILHERMINO

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    Alvo certo!!!!

    Em ponto de BalaEm ponto de BalaA modalidade de tiro

    paraolmpico temcomo principais representantes

    ex-policias baleados

    em servio

    Eles deram a volta por cima. E da maneira mais destemida possvel. Enfrentaram o trauma da troca de tiros em situaes cruas, violentas, prprias s guerrilhas abertas e insanas que insuflam os grandes centros urbanos de medo e dor. Em comum, cadeiras de rodas frutos das leses sofridas nas colunas e armas. De novo.

    Se em um primeiro momento as armas, at ento artigos indispensveis de seus ofcios de policiais, foram consideradas as principais algo-zes da sina de no mais voltarem a andar, agora representam o principal instrumento de um novo horizonte em suas vidas: o tiro paraolmpico.

    O ano era 1995. O ento soldado da Polcia Mi-litar do RJ, Walter Calixto, ia de nibus e paisana para o seu batalho. No chegou ao destino. Cerca de cinco homens, estrategicamente espalhados pelo coletivo, anunciaram mais um entre tantos assaltos similares na cidade maravilhosa. Per-cebeu que no teria muito tempo. Um dos assal-tantes, ao seu lado, j fazia meno de revist-lo. Sem sada, pois estava com sua arma e identidade militar, Calixto antecipou-se e baleou o primeiro homem. Logo depois foi sua vez de tombar. A di-ficuldade de respirar veio acompanhada da estra-

    nha insensibilidade nas pernas. Levara um tiro e a bala lesionou sua medula. Com o susto, a quadri-lha foi embora. E ele ficou ali.

    Hoje, com 42 anos, Calixto preside a Associa-o de Reabilitao da PM, no Rio. Em um traba-lho conjunto com o Centro de Fisiatria, tambm da PM, desenvolve atividades que visam ao bem-estar da corporao. A Associao de Reabilitao atua, principalmente, com o fator social. J o Centro de Fisiatria fica com a parte ambulatorial, diferencia Calixto. Segundo ele, as duas entidades so respon-sveis por aproximadamente oito mil atendimentos mensais nas reas de servio social, psicologia, fo-noaudiologia, odontologia, medicina, enfermaria, psiquiatria, fisioterapia e terapia ocupacional.

    Tamanha estrutura mostra o empenho em su-avizar a alta carga de estresse a que os cerca de 40 mil policiais do Rio de Janeiro so submetidos no dia-a-dia. Para a psicloga da PM, Alexandra Valria da Silva, o eterno estado de alerta vivido pelo policial provoca srios danos. Muitos vo en-durecendo por dentro, o que se reflete na relao direta com a famlia e os colegas de profisso. Essa distncia emocional vai criando barreiras perigo-sas para o convvio social, afirma Alexandra.

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    Trio de bronze no Aberto de Tiro da Holanda, em 2003, os cariocas Walter Calixto, Cillas Viana e Carlos Strub so ex-PMs.

    Por Leandro FerrazFotos: Albrecht Everlacht

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    Alvo certo!!!!

    Em ponto de BalaEm ponto de Bala

    Temos aqui 54 homens em cadeira de rodas, acidentados

    em servio. Alm do tratamento regular de reabilitao, ajudamos

    na sua reinsero na sociedadeWalter Calixto, presidente da ARPM.

    No mbito da ARPM, Walter Calixto atua em v-rias frentes. Temos aqui 54 homens em cadeira de rodas, acidentados em servio. Alm do tratamen-to regular de reabilitao, ajudamos na sua rein-sero na sociedade, conta Calixto. A ltima ao da associao nesse sentido foi a incluso de cadei-rantes no trabalho de monitoramento de cmeras da Companhia de Engenharia de Trfego (CET-RIO), na zona Sul da cidade. Do ponto de vista psi-colgico, Alexandra explica que orienta os policiais lesionados medulares a aceitar sua nova condio de vida. Mostramos que determinadas situaes no voltam mais. E fazemos com que eles se per-guntem: E daqui para frente? O que posso fazer para viver com qualidade, ser feliz?, comenta a psicloga.

    Outra preocupao da entidade refere-se pre-veno de acidentes. Recentemente, fechamos um seminrio sobre segurana do PM em servio e de folga, afirma Calixto, que mantm ainda contatos com o comando geral da corporao para estender a oferta de coletes prova de balas a todos os policiais. Enquanto no alcanamos esse objetivo, prioriza-mos o uso dos coletes para quem esteja em confronto direto com bandidos.

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    Calixto em treinamento na Associao de Reabilitao da PM/RJ.

    Fotos: Jornal O So Gonalo

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    Tiro ParaolimpicoTiro ParaolimpicoDa terapia competio, o tiro a praia destes policiaisO tiro paraolmpico surgiu como terapia, um comple-

    mento ao tempo ocioso de pessoas antes to ativas. Com amplo apoio do comando geral da poca, Calixto montou um estande adaptado de treinamento de tiro, inclusive com financiamento para armas e munio. Nada mais familiar para policiais cariocas, que viriam a ser os precursores do pas no tiro de competio da modalidade. Comeamos a visitar capitais para difundir o esporte e levamos nossa experincia a associaes de reabilitao da PM de outros estados. Hoje, temos mais de 40 atiradores no Brasil, co-memora o presidente da associao do Rio.

    Apesar de a equipe brasileira - composta na poca por Calixto e seus companheiros da ARPM Carlos Strub e Cillas Viana - garantir um bronze no Aberto de Tiro da Holanda, em 2003, no obteve ndice para participar dos Jogos Para-olmpicos de Atenas. Temos que trabalhar para melhorar as competies internas e aguardar as provas internacio-nais para que possamos qualificar nosso ranking e chegar China, pondera Calixto, antes de saber da confirmao do Mundial de Tiro Esportivo, que ser realizado de 12 a 22 de julho deste ano, na Sua. A equipe brasileira ter todas as despesas custeadas pelo Comit Paraolmpico Brasileiro.

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  • 27

    Tiro Paraolimpico

    As regras da competio variam de acordo com a prova, distncia, tipo de arma e alvo, posio de tiro, nmero de disparos e o tempo que o atle-

    ta tem para atirar. As modalidades mais praticadas pelos brasileiros so a pistola e a carabina de ar comprimido. Nestes casos, atira-se a uma distncia

    de 10 metros. O alvo dividido em dez circunferncias que valem de um a dez pontos. Quem acertar na menor circunferncia, ao centro, garante a pontuao

    mxima.Para conseguir o ndice paraolmpico, faanha ainda no alcanada pelo Brasil, o atleta

    precisa marcar 545 pontos em 60 disparos.

    Apesar de ainda no ter experimentado contato com atle-tas do tiro paraolmpico, Dietmar Samulski conhece bem de perto as vrias particularidades que envolvem a prtica de es-porte de alto rendimento por pessoas com deficincia. Doutor em Psicologia do Esporte, este alemo de nascena veio para o Brasil em 1987 por meio de um intercmbio acadmico. Aju-dou a montar o programa de mestrado em Treinamento Es-portivo da Universidade Federal de Minas Gerais e no pen-sa mais em voltar para sua terra natal. O contato com o CPB veio em janeiro de 2000. Tornei-me coordenador da equipe de suporte psicolgico da delegao paraolmpica brasileira nos Jogos de Sidney e Atenas. E estou trabalhando para ir a Pequim tambm, afirma resoluto.

    Samulski conta, em sua equipe, com uma psicloga clni-ca especialista em estresse ps-traumtico. Sabe da ateno redobrada que deve dispensar a pessoas que adquirem defi-cincias por motivo de acidente. O primordial ao lidar com essas pessoas ajud-las a superar o trauma, lev-las re-estruturao de suas prprias vidas, com diferentes valores e atividades. E, dentro dessa nova viso de mundo, o esporte tem grande relevncia, frisa.

    Ele ressalta, ainda, que os atletas de alto rendimento es-to cada vez mais equiparados quanto ao desempenho fsico e tcnico. Da a importncia da preparao psicolgica como diferencial em momentos de deciso. Trabalhamos aspectos como ateno, concentrao, visualizao, controle emocio-nal e, mais especificamente para esportes coletivos, dinmi-ca de grupo, formao de equipe e objetivos comuns, explica Samulski, que faz questo de lembrar que resultados efetivos s aparecem a longo prazo.

    ParaolimpicoA psicologia como diferencial na performance dos atletas

    As regras da competio variam de acordo com a prova, distncia, tipo As regras da competio variam de acordo com a prova, distncia, tipo As regras da competio variam de acordo com a prova, distncia, tipo As regras da competio variam de acordo com a prova, distncia, tipo

    Entenda o tiro Paraolmpico

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    Coordenador da equipe psicolgica brasileira em Atenas, Dietmar Samulski.

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    ParaolimpicParaolimpicmpicParaolimpicParaoliEUA criam programa paraolmpico com ex-combatentes de guerraIniciado em setembro de 2005, o Programa

    Militar do Comit Paraolmpico dos EUA contou com 34 ex-combatentes em sua primeira tur-ma, vindos de guerras como as do Golfo, Afe-ganisto e Iraque. Alm de responder aos an-seios da sociedade norte-americana, que volta a discutir a melhor forma de tratar os militares feridos nestes recentes conflitos, a iniciativa serve como produtiva fonte de novos atletas pa-raolmpicos.

    Atual treinador da equipe paraolmpica de atletismo dos EUA, Joaquim Cruz, primeiro e nico atleta olmpico brasileiro at hoje a ganhar medalha de ouro em prova de pista (Los Angeles,

    1984, nos 800m rasos), participou do segundo encontro do programa, em novembro passado, e trouxe muitas histrias. Havia um rapaz de 22 anos que simplesmente no conseguia ficar em p com suas pernas de prtese. No terceiro e ltimo dia do programa, ele conseguiu execu-tar todos os exerccios, inclusive movimentar-se para trs. Foi realmente muito gratificante par-ticipar desse progresso, afirma Cruz.

    A implantao do programa militar s foi possvel porque o Comit Paraolmpico dos EUA recebeu em 2005 um repasse recorde de US$ 4,8 milhes, o que representou um aumento de US$ 2 milhes desde 2001.

    Havia um rapaz de 22 anos que simplesmente no conseguia ficar em p com suas pernas de prtese. No terceiro e ltimo dia do programa, ele conseguiu executar todos os exerccios, inclusive movimentar-se para trs. Foi realmente muito gratificante participar desse progresso

    Joaquim Cruz, treinador da equipe paraolmpica de

    atletismo dos EUA.

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    Concentrada antes dos arre-messos, ela nem olha para os lados. Tambm no fala mui-to com ningum, nem abre um sor-riso. Mas depois de lanar o disco ou o dardo com a fora dos braos, que j lhe renderam recordes e campe-onatos mundiais, a pernambucana Suely Guimares vira outra pessoa. No resiste a uma boa conversa e est sempre disposta a ajudar os amigos. S no pisem no seu calo. Dizem que eu sou brigona, mas no isso. s uma forma de me de-

    fender, de ser justa. Eu no gosto de injustia mesmo no. Quando tenho razo, falo mesmo, afirma sincera.

    E como fala. Tanto que uma das atletas paraolmpicas preferi-das pelas empresas e universidades para palestras. Este ano, as igrejas tambm esto procurando Suely para falar sobre o tema da Campa-nha da Fraternidade, que envolve as pessoas com deficincia. At por empresas de seguros ela j foi con-vidada para falar. S com a con-vivncia as pessoas vo comear a

    ver os portadores de deficincia de outra maneira. A curiosidade im-portante, avalia a atleta.

    Aos sete anos de idade, Suely sofreu um acidente que lhe deixou sem as duas pernas. Ela brincava com uma amiga na porta de casa, em So Jos do Belmonte, Pernam-buco, quando um carro dirigido por um motorista embriagado subiu a calada e atingiu as duas. A amiga morreu na hora e Suely perdeu as pernas. Com o apoio da famlia, que sempre dizia que ela era capaz de

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    Por Luciana PereiraFotos: Mike Ronchi Produes

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    fazer tudo, Suely se superou e hoje referncia no esporte mundial.

    A atleta, de 48 anos e quatro Paraolimpadas, se prepara para as competies treinando todos os dias das 15h s 18h, com o tcnico Fernando, da Universidade Federal de Pernambuco. De manh, por iro-nia do destino, trabalha no Detran. Mas tambm formada em jorna-lismo e relaes pblicas. Desde que comeou a se dedicar ao espor-te, com 19 anos, a atleta acumula recordes, medalhas e momentos

    emocionantes. Como o bicampeo-nato no lanamento de disco con-quistado em Atenas, em setembro de 2004. As emoes so sempre diferentes, todos os momentos so especiais. Mas Atenas foi a minha maior superao. Tinha acabado de sair de uma cirurgia, pensava em abandonar o esporte, lembra.

    Alm do ouro no lanamento em Atenas, Suely tambm foi ouro em Barcelona e bronze em Atlanta. Em 2005, se destacou no Circuito Loterias Caixa Brasil Paraolmpico

    de Atletismo e Natao, realizado pelo Comit Paraolmpico Brasilei-ro em seis capitais do pas. O Cir-cuito fez o atleta mudar o sistema de treinamento. Agora temos como melhorar nossas marcas, ns temos garantias de competies, elogia a atleta. E Suely ainda encerrou o ano com prmio: foi eleita pelo quarto ano consecutivo a melhor atleta paraolmpica de Pernambu-co em uma votao realizada pelo Governo do Estado em shoppings da cidade.

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    Atenas foi a minha maior superao. Tinha acabado de sair de uma cirurgia, pensava em abandonar o esporte

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    As mulheres esto invadindo o es-porte brasileiro. E trazem, junto com elas, muita raa, tcnica, treinamento e resultados de destaque para o movi-mento paraolmpico. Prova disso foi a classificao de duas atletas para o Mundial de Halterofilismo Paraolm-pico por meio de um torneio seletivo realizado no dia 18 de fevereiro, em So Paulo. Maria Luzineide, do Rio Grande do Norte, e Josilene Alves, de Gois, conquistaram o ndice que era necessrio para a classificao para o Mundial, previsto para os dias 1 a 12 de maio, na cidade de Busan, Coria do Sul.

    O mais interessante que partici-param do Torneio apenas trs mulhe-res, entre mais de 30 atletas de todo o Brasil. Concentrao, tcnica e fora. Foram esses os principais fatores para conquistar o meu lugar no Mundial. Tenho uma grande responsabilida-de agora e preciso treinar forte para isso, afirma Maria Luzineide, que da categoria at 40kg e levantou 75kg no Torneio.

    Alm das meninas, classificaram-se tambm para o Mundial os haltero-filistas Joo Euzbio, do Rio Grande do Norte, Alexsander Whitaker, de So Paulo, e Alexandre Gouveia, do Rio

    de Janeiro. o Brasil mostrando a sua fora de norte a sul. Entre os homens, eram grandes as perspectivas de que Alexsander e Joo Euzbio, represen-tantes do Brasil nos Jogos Paraolm-picos de 2004, conquistariam vagas para o Mundial.

    Whitaker, quarto colocado em Ate-nas, est ansioso pela realizao da competio. No Torneio, o halterofilis-ta competiu na categoria at 67,5kg e levantou 190kg. Fiquei com um cer-to nervosismo no incio, mesmo que meus resultados fossem um pouco esperados. Pretendo melhorar ainda mais a minha marca e ultrapassar os

    De portas

    Seletiva de haltero lismo promovida pelo CPB convoca cinco atletas para

    representarem o pas em mundial na Coria do Sul

    sabertas

    Texto e fotos: Patrcia Osandn

    A goiana Josilene Alves garantiu sua participao no mundial,em maio.

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    Atletas selecionados para o mundial

    Gois: Josilene Alves (Associao dos Deficientes Fsicos do Estado de Gois - ADFEGO), categoria 67,5kg, levantou 102,5kg.

    So Paulo: Alexsander Whitaker (Clube dos Paraplgicos de So Paulo - CPSP), categoria 67,5kg, levantou 190kg.

    Rio de Janeiro: Alexandre Pereira (Associao Niteroiense dos Deficientes Fsicos - ANDEF), categoria 52kg, levantou 125kg.

    Rio Grande do Norte (Sociedade de Amigos dos De cientes do Rio Grande do Norte - SADEF): Joo Euzbio Batista, categoria 82,5kg, levantou 180kg, e Maria Luzineide, categoria 44Kg, levantou 75kg.

    Critrios para a conquista das cinco vagas: Foram convocados os atletas que obtiveram marcas iguais ou superiores a 90% do dcimo colocado do ranking do Comit Paraolmpico Internacional nas suas respectivas categorias. Como apenas Maria Luzineide (93%), Josilene Alves (93%) e Alexsander Whitaker (97%) atingiram o ndice mnimo, foram escolhidos atletas imediatamente abaixo do ndice: Joo Euzbio (84%) e Alexandre Gouveia (72%).

    200kg. Vou brigar pela medalha e pela conquista da vaga para os Jogos de Pequim, afirma Alexsander com confiana. Competindo na categoria 82,5kg, Joo Euzbio levantou 180kg. J Alexandre Gouveia, que disputou com o peso at 52kg, levantou 125kg.

    A goiana Josilene Alves tambm est feliz da vida com a convocao. Ela conta que seu principal objetivo nos prximos meses intensificar os treinamentos para o Mundial, quando vai buscar uma medalha e o sonhado lugar para os Jogos Paraolmpicos de Pequim, em 2008. Vou treinar de se-gunda a segunda se for preciso. Conse-

    guir a vaga foi uma grande conquista, diz Josilene. O fato de duas mulheres terem se classificado engrandece e fortalece o halterofilismo brasileiro fe-minino. O Torneio foi bem organizado e bastante produtivo. Os critrios de seleo foram claros, completa.

    Para o coordenador de esportes do Comit Paraolmpico Brasileiro (CPB), Edilson Alves da Rocha, a competio representou uma boa oportunidade para que atletas de todo o Brasil tives-sem a chance de batalhar igualmente por uma vaga no Mundial. O Campe-onato na Coria importante para ga-rantirmos boas colocaes no ranking

    internacional, alm de batalharmos por vagas para os Jogos Paraolmpicos de Pequim, em 2008, explica. O co-ordenador do Torneio, Antnio Ferrei-ra Jnior, afirma que o halterofilismo paraolmpico brasileiro tem tudo para se fortalecer mundialmente. Tive-mos resultados bastante positivos no Torneio. Alm de duas mulheres te-rem conquistado o ndice, os homens tambm estavam bem qualificados e ainda foi possvel descobrir novos ta-lentos de todo o Brasil. As chances de conquistarmos medalhas no Mundial so muito grandes, diz. abertas

    Acima, Nestor Bertolino (o Robinho do Pnico na TV) entre companheiros do Clube dos Paraplgicos de So Paulo. Depois, Alexsander Whitaker em preparao para a prova. Finalmente, as representantes femininas no mundial: Josilene Alves e Maria Luzineide.

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    O paulista Ricardo Barreto Messias, o Xim, foi o vence-dor do Campeonato Brasileiro de Vela Paraolmpica, no for-mato Match Race, dos barcos 2.4 mR (uma das trs categorias oficiais da Paraolimpada), realizado entre os dias 9 e 11 de dezembro, em So Paulo. O vice-campeo foi Luis Henrique Neubauer, o Lois. O argentino Mattias Paillot, que competiu na Paraolimpada de Sidney, participou da prova como con-vidado especial e, somente aps a ltima regata, garantiu o primeiro lugar, levando a medalha de campeo internacional da competio.

    O Campeonato Brasileiro de Vela Paraolmpica foi orga-nizado pela Federao Brasileira de Vela e Motor (FBVM) e a Federao de Vela de So Paulo (Fevesp), com o apoio do Comit Paraolmpico Brasileiro (CPB).

    Os brasileiros foram os grandes destaques do Sul-Ameri-cano de Hipismo Paraolmpico, realizado entre os dias 9 e 11 de dezembro, na Sociedade Hpica de So Paulo. O pas par-ticipou com 14 atletas, seis de Braslia, cinco de So Paulo e trs de Minas Gerais. A lista foi completada por quatro atletas argentinos. O Sul-Americano foi importante para a prepara-o da equipe brasileira rumo ao Mundial da modalidade, em 2007, na Inglaterra, que ser classificatrio para os Jogos Pa-raolmpicos de Pequim 2008.

    O ttulo de campeo individual geral ficou com o cavalei-ro Srgio Fres, dono de duas medalhas no Parapan-Ame-ricano de Mar Del Plata, montando Ringo Star Pioneiro. A equipe campe foi composta por Srgio Fres e Simone Cordeiro, de Braslia, Dante Rodrigues, de So Paulo, e Se-bastio Edson, de Minas Gerais; a vice-campe por Marcos Alves, o Joca, Davi Salazar e Elisa Melaranci, de Braslia, e Paulo Roberto Menezes, de Minas Gerais. O 3 lugar foi da equipe argentina.

    Realizada pela Associao Brasileira de Desporto para Ce-gos (ABDC) e Associao Mato-grossense de Cegos (AMC), com apoio do Comit Paraolmpico Brasileiro (CPB) e do Mi-nistrio do Esporte, a Copa Brasil 2005 de Futebol de Cegos ocorreu de 6 a 11 de dezembro, em Cuiab/MT. Ao todo, 18 equipes disputaram a competio, sendo 12 da Srie A e seis da Srie B. Entre os 169 atletas participantes, destaque para

    vrios integrantes da seleo brasileira campe dos Jogos Pa-raolmpicos de Atenas 2004 e vice da Copa Amrica 2005.

    A vencedora da Srie A foi a ACERGS, do Rio Grande do Sul, seguida pela APACE, da Paraba, e pela AMC, do Mato Grosso, em terceiro. J na Srie B, o primeiro lugar ficou com a ADVEG, de Gois. A ADVC, de Campos/RJ, foi vice e a terceira colocao coube ASCEPA, do Par.

    A delegao brasileira voltou do US Open de Tnis de Mesa, em Las Vegas, de 13 a 18 de dezembro, com uma medalha de prata e duas de bronze. A atleta Jane Karla Ro-drigues, de Goinia, levou uma prata no open e um bronze individual, na classe 8. Na classe 4, Ezequiel Babes, do Pa-

    ran (Guarapuava), e Ecildo Lopes, do Rio Grande do Norte (Natal), ficaram com um bronze por equipe. Participaram do US Open 18 pases de quatro continentes.

    At agora, 15 mesatenistas brasileiros j tm ndice para o Mundial da Sua, que acontecer em setembro de 2006.

    HIPISMO PARAOLMPICOBRASIL MOSTRA HEGEMONIA NO SUL-AMERICANO DE HIPISMO PARAOLMPICO

    VELABRASILEIRO DE VELA PARAOLMPICA DISPUTADO EM SO PAULO

    FUTEBOL DE CEGOSCOPA BRASIL DE FUTEBOL DE CEGOS MOVIMENTA CUIAB

    TNIS DE MESABRASIL CONQUISTA MEDALHAS NO US OPEN DE TNIS DE MESA

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    Foto:

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    A seleo masculina de basquete em cadeira de rodas conquistou o bronze na Copa Amrica da modalidade, re-alizada nos EUA, entre 29 de novembro e 3 de dezembro de 2005. Com o resultado, o Brasil garantiu vaga para o Mundial de Basquete em Cadeira de Rodas, que ser na Ho-landa, em julho de 2006. O mundial, por sua vez, classifi-catrio para os Jogos Paraolmpicos de Pequim, em 2008. A

    seleo feminina tambm participou da Copa Amrica, mas ficou em quarto lugar, perdendo a vaga do mundial para o Mxico.

    Para chegar ao bronze na Copa Amrica, a seleo bra-sileira enfrentou cinco partidas, com derrotas para Canad (72 a 45) e EUA (63 a 57) e vitrias em cima da Venezuela (78 a 33) e Argentina, por duas vezes (70 a 55 e 78 a 35).

    A Associao Paraibana de Cegos (APACE) foi o desta-que da Copa Brasil 2005 de Golbol, promovida de 16 a 18 de dezembro, em Campinas/SP. A entidade ficou com o ttulo em duas categorias, no masculino da Srie A e no feminino da Srie B, tendo ainda os artilheiros nas duas disputas: R-mulo Dantas, 31 gols, e Luzia da Silva, com 20 gols. Quem tambm levou o trofu de campeo para casa foi o Centro de Emancipao Social e Esportiva de Cegos (CESEC), de So Paulo, no feminino Srie A, e o Centro de Treinamentos de

    Educao Fsica Especial (CET EFE), de Braslia, no mascu-lino Srie B.

    Com a participao de 34 equipes e cerca de 350 atletas, a estrutura do evento foi bastante elogiada. Em trs dias de competio foram disputadas 85 partidas, o que foi um recorde, pois em nenhum pas do mundo se realizam tantos jogos assim em um perodo to curto, destacou o assessor tcnico da Associao Brasileira de Desporto para Cegos (ABDC), Artur Squarisi.

    CAMPINAS SEDIA COPA BRASIL 2005 DE GOLBOL GOL BOL

    BASQUETEBASQUETE BRASILEIRO GARANTE VAGA PARA MUNDIAL DE 2006

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    Campe do Brasileiro de Basquete 2005, a equipe guias em Cadeiras de Rodas, de So Paulo, cedeu quatro jogadores seleo que disputou a Copa Amrica.

    Fotos

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    Os atletas dria Santos, Antonio Delfino e Clodoaldo Silva receberam uma homenagem especial do Comit Olmpico Brasileiro, durante evento da entidade, em 13 de dezembro, no Rio de Janeiro. Os velocistas dria e Delfino foram eleitos os melhores atletas paraolmpicos do ano. Clodoaldo Silva, o fenmeno das piscinas, garantiu o Trofu Hors Concours.

    Ao todo, 41 atletas de vrias modalidades foram premiados pelo COB. Entre os olmpicos, os destaques foram Natalia Falavigna, do taekwondo, Joo Derly, do jud, e Robert Scheidt, que levou o Prmio Personalidade Olmpica de 2005.

    MUNDIAL DE TNIS EM CADEIRA DE RODAS SER EM BRASLIA

    O programa Bolsa-Atleta entra em seu segundo ano de fomento do esporte brasileiro j com um valor superior ao do ano passado, quando 972 pessoas receberam o benefcio. Enquanto em 2005 o montante total investido na concesso de bolsas a atletas sem patrocnio girou em torno de R$ 13,1 milhes (disponibilizados em duas partes), agora em 2006 a verba do Ministrio do Esporte chega a cerca de R$ 13,5 milhes de uma s vez.

    Todo o processo de requerimento da bolsa foi simplificado. Os interessados devem preencher a ficha de inscrio disponvel no portal do Ministrio do Esporte (www.esporte.gov.br/bolsa_atleta) at 31 de maro. Mesmo quem esteja recebendo o benefcio referente Bolsa-Atleta 2005, incluindo os contemplados na segunda fase, deve entregar o formulrio de inscrio at esta data limite. Informaes adicionais sobre o programa tambm podem ser acessadas pelo site do ministrio.

    Pela primeira vez, o Mundial de Tnis em Cadeira de Rodas ocorrer na Amrica Latina, mais precisamente em Braslia, de 1 a 7 de maio de 2006. O lanamento oficial reuniu autoridades do setor esportivo, empresrios e parceiros.

    Com a chancela da Federao Internacional de Tnis (IT F) e a colaborao das principais entidades do Sistema Nacional do Esporte como o Ministrio do Esporte, o Comit Paraolmpico Brasileiro e a Secretaria de Esporte e Lazer do DF , o campeonato trar as melhores equipes do mundo para disputar as categorias masculino, feminino, jnior e quad (atletas com comprometimento em trs membros). Sero cerca de 240 atletas de 32 pases.

    COB PREMIA ATLETAS PARAOLMPICOS

    MINISTRIO DO ESPORTE ABRE INSCRIES PARA O

    2006

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    Foto: COB/Divulgao

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    Mais dinmico, de simples navegao, com contedos inovadores e informaes em tempo real. Nasce, junto com o ano de 2006, o novo site do Comit Paraolmpico Brasileiro, uma das mais completas referncias nacionais sobre esporte paraolmpico no Brasil e no mundo.

    Totalmente repaginado, o site apresenta novidades como Galeria Multimdia, Perfis de Atletas e Hotsite de Atenas, uma ampla radiografia da mais contundente participao brasileira em paraolimpadas. O internauta pode encontrar ainda calendrio de competies nacionais e internacionais, descrio e histrico de modalidades, notcias, legislaes pertinentes, gesto dos recursos e muito mais. Acesse www.cpb.org.br.

    Tramita na Cmara o Projeto de Lei 6097/05, que cria incentivos fiscais para a fabricao de equipamentos que proporcionem maior autonomia e incluso social das pessoas com deficincia ou com mobilidade reduzida. A pesquisa tecnolgica voltada para inveno ou aperfeioamento desses produtos tambm ser beneficiada.

    O projeto isenta de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) os equipamentos, aparelhos e instrumentos destinados acessibilidade. Entre esses produtos esto prteses, cadeiras de rodas, leitos e macas. A iseno abranger as peas, partes e componentes, acessrios, matrias-primas e materiais de embalagem utilizados na industrializao dos equipamentos. O texto estabelece ainda que, se houver necessidade de importar esses insumos, no incidir imposto sobre a operao.

    O maratonista Aurlio Guedes, de Marlia/SP, foi convidado pela sexta vez para representar o Brasil na Maratona Internacional de Kasumigaura, no Japo, que ser realizada no dia 16 de abril. Desde 2001, ano em que o corredor estreou na competio, o Brasil vem ocupando os lugares mais altos do pdio foram cinco medalhas (um ouro, trs pratas e um bronze). A Maratona Internacional costuma reunir mais de 5.000 corredores a cada edio, entre eles cerca de 200 com deficincia visual.

    J de 1 a 7 de maio, a vez dos nadadores Clodoaldo Silva, Lus Silva, Adriano Galvo, Rodrigo Machado, Joon sok Seo, Andr Meneghetti, Mauro Brasl, Alx de Lima e Moiss Batista terem todas as despesas pagas para participarem da II Copa do Mundo Paraolmpica Visa, que reunir a elite do esporte mundial em provas de natao, atletismo, ciclismo e basquete em cadeira de rodas. Na primeira edio da copa, em 2005, participaram 334 atletas de 44 pases. Mais informaes em www.visaparalympicworldcup.com.

    EQUIPAMENTOS PARA PESSOAS COM DEFICINCIA MAIS BARATOS

    COMIT PARAOLMPICO INAUGURA NOVO SITE

    BRASILEIROS RECEBEM CONVITE PARA COMPETIES INTERNACIONAIS

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    Superao

    O fundo do mar lindo. So peixes exticos, algas e at golfinhos que circulam

    entre os mergulhadores

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    dguaatdebaixo

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    Pode uma pessoa com tetraplegia ou deficincia visual mergulhar no fundo do mar? A resposta, para espanto de alguns, sim. Para isso, basta que ela esteja acom-panhada por algum profissional em mergulho adapta-do, treinado pela Sociedade Brasileira de Mergulho Adaptado (SBMA-HSABRASIL), que representa a Handicapped Scuba As-sociation International no Brasil. Quem j experimentou, afir-ma que a emoo garantida.

    O fundo do mar lindo. So peixes exticos, algas e at golfi-nhos que circulam entre os mergulhadores, vibra o comercian-te carioca Carlos Eduardo, tetraplgico que j mergulhou vrias vezes. Carlos tem pouco movimento nos braos e nenhum nas pernas, mas isso nem de longe o impede de praticar a modali-dade.

    O mergulho para pessoas com deficincia nasceu oficialmen-te no Brasil em 1991, por iniciativa de Lucia Sodr, professora de educao fsica, especializada na rea de pessoas com defici-ncia e instrutora de mergulho autnomo. Ela organizou e par-ticipou do primeiro curso de capacitao profissional em mergu-lho adaptado no pas, ministrado por James Gatacre, fundador e presidente da Associao Internacional de Mergulho Adpatado (HSA). Jim, como conhecido, viajou dos EUA at o Rio de Ja-neiro e formou os primeiros instrutores especializados em mer-gulho adaptado do pas.

    No incio, muitas pessoas achavam que era uma utopia re-alizar o trabalho desenvolvido pela HSA no Brasil, mas, depois, fomos vencendo as barreiras, sobretudo a dos preconceitos, e fi-cou claro que a pessoa com deficincia pode se tornar apta pr-tica do mergulho, reflete Lcia. Pessoas com deficincia fsica, visual e auditiva podem participar. Para os deficientes mentais existem algumas restries, porque os alunos tm de aprender um extenso contedo, o que impossibilita a participao de cer-tas pessoas com essa deficincia.

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    Sem limites na busca por igualdade, pessoas com

    deficincia entram de cabea no mergulho

    adaptadoPor Marcelo Westphalem

    Fotos: Srgio Viegas

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    Todo o trabalho voltado para o mergulho em praias e ilhas litorneas. No h competies para essa prtica, o que confere um carter de total lazer modalidade. O mar proporciona a flu-tuabilidade do corpo, o que interessante para quem tem algu-ma limitao nos movimentos. No mergulho adaptado, a pessoa com deficincia se desloca com suavidade e pode experimentar sensaes muito agradveis.

    A SBMA organiza o turismo submarino para Arraial do Cabo, Bzios, Cabo Frio, Angra dos Reis, entre outras localidades do Estado do Rio para a prtica do mergulho autnomo. Uma das pessoas que j experimentou o mergulho adaptado Jefferson Maia, que sofreu uma leso medular causada por tiro em 1987 e ficou tetrapartico. Jefferson era mergulhador profissional e tra-balhava em plataformas de petrleo. Hoje, mergulha freqente-mente e um dos maiores incentivadores nacionais da prtica. O mergulho adaptado ainda pouco conhecido, mas temos que divulg-lo, para que ele possa ser visto como uma atividade pos-svel para qualquer pessoa, explica Maia.

    Existem algumas adaptaes materiais e muitas tcnicas na prtica do mergulho para pessoas com deficincia. No mergu-lho convencional (para a pessoa sem deficincia), os praticantes tm que mergulhar sempre em dupla. No mergulho adaptado necessrio mergulhar em trio quando existem tetraplgicos ou cegos e surdos, a fim de aumentar a segurana.

    O aluguel dos equipamentos tem que ser feito em empresas especializadas e, segundo Lcia Sodr, custa cerca R$ 80,00 reais por dia. Para mergulhar, preciso fazer o curso, que tem durao de at 30 dias e custo mnimo de R$ 500,00. preciso informar-se antes de procurar empresas que oferecem o servio, pois existem muitos profissionais atuando sem ter feito curso de instrutor minis-trado na SBMA, colocando em risco a segurana do praticante.

    O mergulho adaptado ainda pouco conhecido, mas temos que divulg-lo, para que ele possa ser visto como uma atividade possvel para qualquer pessoa

    O mergulho adaptado ainda pouco conhecido, mas temos que divulg-lo, para que ele possa ser visto como uma atividade possvel para qualquer pessoa

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    O halterofilista Alexsander Whi-taker ainda guarda no corpo as duas balas que poderiam ter lhe tirado a vida em plena juventude, aos 23 anos. Paulistano de nascimento e de corao, foi em um sbado noite da maior capital brasileira que Alex-sander se viu obrigado a rumar para novos trilhos, ao ser alvejado no pul-mo e na medula espinhal durante um assalto, a poucos metros de uma delegacia. Existe uma guerra civil na qual ningum quer acreditar. Vejo que temos um problema social evi-dente no Brasil, algo que vai muito alm da questo da segurana. Se houvesse emprego e educao para

    todos, o pas poderia ser diferente, acredita.

    Alex, como tambm conhecido, recorda-se de boas e ms histrias dos trs meses que passou no hos-pital aps o acidente, a maior parte desse tempo por causa de uma in-feco hospitalar. Mas, ao invs de lamentar os fatos negativos, Alex, na poca, fez questo de buscar foras at mesmo onde elas no existiam. Depois desse tempo no hospital, a nica coisa que eu queria era sair de l de qualquer jeito. Algumas pesso-as perguntam se fiz alguma terapia ou tratamento para superar o que passei. Respondo que eu poderia ter

    ficado chorando e reclamando do que tinha me acontecido ou retomar toda a vida que tinha pela frente, conta.

    O tiro que privou os movimentos das pernas de Alex tambm trouxe grandes mudanas. Whitaker, at ento um jovem professor de jud a apenas um ano de graduar-se em nu-trio, precisava decidir seus prxi-mos passos. Aprendi outros valores depois de tudo o que passei. Ouvir um pssaro cantar quando estava no hospital j era uma alegria. Coisas aparentemente simples, mas que do outro sentido vida, diz. Alex no somente retomou os estudos na faculdade como tambm concluiu o

    Aps um quarto lugar em Atenas, o halterofilista Alexsander Whitaker treina forte em busca da primeira medalha paraolmpica

    UM AT LETA DE PESO43

    Por Patrcia OsandnFotos: Reginaldo Castro

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    curso de ps-graduao em nutrio esportiva na Universidade de Ribei-ro Pr eto. Alm de continuar com o jud, esporte que praticava desde os seis anos e no qual alcanou a fai-xa preta, decidiu investir pesado no halterofilismo.

    Nesse meio tempo, comeou a mo-rar sozinho, um susto e tanto para os pais, que voltaram a ficar juntos aps o acidente, no incio para cuidar do filho, depois pelo amor renascido. O cuidado com todos os atos de Alex pas-sou a ser bem maior. Devo bastante a eles por terem me proporcionado muito do que sou hoje, conta. A me de Whitaker, dona Lucrecia, confir-ma o amor incondicional que os une. Entre tantos fatos, Lucrecia recorda-se com carinho de um Dia das Mes no qual Alex, ento com 21 anos e pouco dinheiro, saiu pelos jardins de So Paulo colhendo flores para ho-menage-la. Indagada sobre quem Alexsander, dona Lucrecia pensa e

    responde com emoo. um filho in-crvel, uma pessoa maravilhosa. Meu sonho v-lo conquistando uma me-dalha na prxima Paraolimpada.

    Levantar peso no fcil, por in-crvel que parea. Quando estou er-guendo peso procuro pensar em uma coisa que me traga muita adrenalina, como tudo o que passei com minha famlia aps o assalto. Acho que nada vem por acaso. uma pena que eu te-nha que ter passado por tudo isso para saber o que sei hoje. Meu conceito de vida hoje completamente diferente daquele garoto de 23 anos, afirma Alex, atualmente um dos contempla-dos pelo programa Bolsa-Atleta, do Ministrio do Esporte.

    Aos 36 anos, casado com a fisiote-rapeuta Lucimar, Whitaker, que tem ascendncia inglesa, tem dois grandes sonhos. O primeiro deles ter um fi-lho ele deixa escapar que prefere um menino, mas que amaria uma menina da mesma forma ; o outro ganhar uma medalha paraolmpica. Quem viu Alexsander competir nos Jogos Paraolmpicos de Atenas, em 2004, sabe o quanto doeu no ter conquista-do esse sonho. Por questes de sade, o brasileiro precisou submeter-se a uma cirurgia a 40 dias da competio. Whitaker saiu do hospital levantando 120kg. Antes erguia 210kg. Em Ate-nas, na categoria at 67,5 quilos, che-gou a levantar 180kg, o que lhe trouxe o quarto lugar geral. O primeiro colo-cado, o egpcio Metwaly Mathna, er-gueu 212,5, o segundo, o chins Mao Shun Wu, 200. O halterofilista teria tido plenas condies de conquistar ao menos uma prata. Era para essa medalha ter sido minha em Atenas, desabafa.

    Nesse dia, depois de Alexsander assistir premiao oficial, o judoca e amigo Antnio Tenrio proporcio-nou uma das cenas mais emocionan-tes da Paraolimpada. Tenrio, que conquistara o ouro poucos dias antes, aproximou-se e colocou a medalha no peito do halterofilista. Alex no

    segurou as lgrimas. Falo para ele que isso foi uma ao de marketing, brinca o halterofilista, que tambm cuida da rea nutricional de Tenrio. Alex lembra-se aos risos de quando saa em Atenas junto com o judoca, que cego, um guiando e o outro em-purrando a cadeira de rodas. uma pena que a gente nunca tenha foto-grafado essas cenas, foi divertido.

    Na estrada pela medalha parao-lmpica, Alex conta com outro gran-de aliado, o tcnico e tambm amigo Antnio Augusto Jnior. Chegamos em um nvel no qual daqui pra frente tudo muito difcil. Falta muito pouco para ele alcanar a medalha paraolm-pica, afirma Jnior, que se gaba de encontrar em Alex seu melhor atleta, um grande amigo e um dos melhores halterofilistas do mundo. Jnior, aps adaptar sua academia para treinar Alex, acabou descobrindo um novo mercado, o do esporte para pessoas com deficincia. Por meio do Alex esses novos atletas viram a possibili-dade de treinar e atingir objetivos. Ele se tornou um cone para o movimento paraolmpico, conta.

    Entre as inmeras conquistas, Alex guarda com orgulho o ttulo de no perder nenhum campeonato bra-sileiro desde 1995, alm de ter fica-do com o ouro nos Jogos Mundiais de Stoke Mandeville, na Nova Zelndia, em 2003, com direito a um recorde parapan-americano (192,5kg). Em 2004, durante os Jogos Mundiais em Cadeira de Rodas, Alex trouxe mais um ouro para o Brasil, quando levan-tou 170kg. Quanto discriminao, o halterofilista diz-se vacinado. Apren-deu no apenas a levantar muito peso como tambm a enfrentar todas as barreiras da vida. Na memria, no se esquece do dia em que a me de um halterofilista sem deficincia disse que gostaria que seu filho fosse igual a ele. Consegui quebrar essa barreira e isso j uma grande con-quista, arremata com a segurana de um campeo.

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    Oficialmente com 8 raias de 1,22m a 1,25m separadas por linhas de 5cm de largura. A volta completa totaliza 400m. Geralmen-

    te, possui tonalidade avermelhada. No mundo esportivo po-demos encontrar variaes da colorao. Caro(a) leitor(a),

    voc est diante da pista de atletismo. Para aumentar a intimidade entre aqueles no-

    atletas e a pista, carinhosamente denominarei a pista de atletismo de Ela. Quantas histrias

    Ela poderia nos contar. A corrida contra o tempo cria e desmitifica pessoas e recordes.

    O nazismo de Hitler em 1936, nos jogos Olmpicos realizados em Berlim, foi con-

    trariado. O velocista americano e negro Jesse Owens venceu o salto em distn-cia, os 100m, 200m e o revezamento 4x100m.

    Recentemente presenciei, ao lado Dela, nos Jogos Paraolmpicos de Atenas em 2004, outro exemplo de desmitificao: iraquianos e kuwai-tianos se confraternizavam aps a prova de 100m para deficientes mentais. Talvez os verdadeiros defi-cientes sejam seus governantes.

    No dia-a-dia Ela no adormece. Fic