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1 Algomais FEVEREIRO/2016 R$ 9,50 ALTERNATIVAS PARA A SECA Ano 10 - nº 119 - fevereiro 2016 - www. revistaalgomais.com.br Se o futuro aponta um acirramento da escassez hídrica, a solução é buscar novas tecnologias e melhorar a infraestrutura de abastecimento

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Revista Algo Mais - Fevereiro/2016

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R$ 9,50

alternativaspara a seca

Ano 10 - nº 119 - fevereiro 2016 - www. revistaalgomais.com.br

Se o futuro aponta um acirramento da escassez hídrica, a solução é buscar novas tecnologias e melhorar a infraestrutura

de abastecimento

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Quando estávamos planejando a matéria de capa desta edição, lembrei-me de um poema de Carlos Drummond de Andrade chamado Prece do Brasileiro, que me foi apresentado quando ainda estava no antigo ginásio (lá se vão algumas décadas...). Nele o poeta mineiro, de forma delicada e bem-humorada, rogava a Deus para que mandasse chuva para o Nordeste que sofria com a estiagem. Mas a resposta do Filho de Deus foi surpreendente: Em Israel, minha primeira pátria (a segunda é a Bahia)/desertos se transformam em jardins/em pomares, em fontes, em riquezas./E não é por milagre:/obra do homem e da tecnologia./Você, meu brasileiro, não acha que já é tempo de aprender/e de atender àquela brava gente/fugindo à caridade de ocasião/e ao vício de esperar tudo da oração? Muitos anos depois de conhecer o poema, constato que o poeta de Itabira tinha razão. Na consistente reportagem realizada pelo repórter Rafael Dantas – que por sinal será uma série de matérias e se estenderá nas edições seguintes – os especialistas salientam o papel da tecnologia como uma ferramenta imprescindível para enfrentar o acirramento da escassez de chuvas previsto para o futuro. E assim como apontava o doce “Jesus Cristinho” da poesia, Israel que transformou o “deserto em jardins e pomares” pode nos servir de inspiração. E isso já está acontecendo. Quem também vem buscando soluções criativas são as instituições filantrópicas, que sofrem com a redução das contribuições de recursos. Na reportagem da página 20, o leitor vai conhecer como elas estão driblando os problemas e saberá como poderá fazer doações. E continuamos na campanha pela vinda do Hub da Latam para o Recife. Nesta edição analisamos como a instalação do centro de conexões da Azul pode favorecer o Guararapes. Outro ponto a favor é a nova pesquisa de satisfação do passageiro que coloca o aeroporto da capital pernambucana à frente dos demais concorrentes ao hub. E por fim, mas não menos importante, trazemos para o leitor a entrevista com o jornalista Francisco José. Está imperdível. Ele conta, de forma hilária, o início da sua carreira na TV, a cobertura das copas do mundo, as aventuras na Guerra das Malvinas e numa aldeia indígena, onde permaneceu 42 dias, vivendo como um verdadeiro índio. E tem muito mais conteúdo no site da Algomais (www.algomais.com.br), onde trazemos a entrevista na íntegra. Boa leitura!

editorial

Drummond tinha razão

Diretoria executivaSérgio Moury [email protected] de [email protected]

Diretoria comercialLuciano [email protected]

conselho eDitorialAlexandre Santos, Armando Vasconcelos, Doryan Bessa, João Rego, Luciano Moura, Mariana de Melo, Raymundo de Almeida, Ricardo de Almeida e Sérgio Moury Fernandes.

Uma publicação da SMF- TGI EDITORA Av. Domingos Ferreira, 890, sala 805 Boa Viagem | 51110-050 | Recife/PE - Fone: (81) 3126.8181 . www.revistaalgomais.com.br

reDaçãoFone: (81) 3126.8156/Fax: (81) [email protected]

EDITORIA GERALCláudia Santos (Editora)Roberto Tavares (Consultor Editorial)

REPORTAGEnSCláudia Santos Rafael Dantas

EDITORIA DE ARTERivaldo neto (Editor)Caroline Rocha (Estagiária)

FOTOGRAFIADiego nóbrega

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PubliciDaDeEngenho de Mídia Comunicação Ltda.Av. Domingos Ferreira, 890, sala 808Boa Viagem 51110-050 | Recife/PEFone/Fax: (81) [email protected]

Cláudia Santos - Editora [email protected]

edição 119 - Fevereiro/2016 - tiragem 12.000 exemplares capa: rivaldo neto - Foto: José luiz oliveira / codevasf

facebook.com/revistaalgomais@revistaalgomais

Edição 119

e mais Entrevista 6

Economia /Jorge Jatobá 14

Arruando pelo Recife e Olinda 20

Baião de Tudo / Geraldo Freire 26

João Alberto 28

Memória Pernambucana 30

Última Página/ Francisco Cunha 32

Nossa MissãoProver, com pautas ousadas, inovadoras e imparciais, informações de qualidade para os leitores, sempre priorizando os interesses, fatos e personagens relevantes de Pernambuco, sem louvações descabidas nem afiliações de qualquer natureza, com garantia do contraditório, pontualidade de circulação e identificação inequívoca dos conteúdos editorial e comercial publicados.

caPa

Vidas secasEstado precisa se preparar para conviver com a escassez hídrica 10

mobiliDaDe

Ordenamento na cidadeRevitalização dos largos dos mercados públicos melhora trânsito. 18

aviação

Hub Vinda do centro de conxões da Azul pode favorecer a decisão da Latam por Pernambuco. 15

ciDaDania

Filantropia na criseInstituições lançam mão da criatividade para sobreviver. 24

auDitaDa Por

Os artigos publicados são de inteira e única responsabilidade de seus respectivos autores, não refletindo obrigatoriamente a opinião da revista.

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“SOu NORDESTINO. FALO 'ÓLINDA' E NãO 'ÔLINDA'”

Entrevista a cláudia Santos e rafael Dantas

entrevista

do que aquilo era um absurdo. Havia a resenha esportiva da rádio Jornal do Commercio e convidaram o leitor que havia corrigido a estatística. Fui para lá e fiquei fazendo a estatística para eles. um dia faltou um repórter e eu come-cei a fazer reportagens. Com seis meses ganhei um concurso para ir para a Copa do Mundo e com mais seis meses Ara-mis saiu e me indicou para substituí-lo como editor de esportes. Por causa da crise o vespertino fechou e eu passei para o Jornal do Commercio. Meu pro-fessor era o Ronildo Maia Leite. Para mim quem tem um professor como aquele não precisa de faculdade.

e sua passagem na publicidade?Saí do Jornal do Commercio, que entrou num processo de falência. Quem me formou na publicidade foi Severino Queiroz. Trabalhei na agência Abaeté de 1970 a 1973. Passei a me destacar sendo contato do Banorte. Daí o banco falou com a Abaeté para eu trabalhar com eles, na área de marketing e eu fui.

você começou a trabalhar na Globo na área de esportes?Entrei na Globo em 1º de janeiro de 1976, contratado para ser apresen-

tador do Globo Esporte. Armando Nogueira tinha me visto trabalhando nas pautas e disse: "contrata o Chi-co José porque tem experiência". Só que eu não tinha experiência de te-levisão. Acertei ganhar 50% a menos do que eu ganhava no Banorte, por-que queria voltar a ser jornalista. Foi dramático meu primeiro dia na Globo (risos). Disseram: "você vai narrar o jogo Santa Cruz e São Paulo". Eu dis-se: mas este jogo é no Morumbi. Res-ponderam: "sim, você vai gravar em off-tube". Perguntei: o que é off-tu-be? Explicaram: "dentro de uma ca-bine". Disse que não sabia fazer isso. Ser narrador é dom. Pedi: não posso treinar antes? Eles disseram que não. Às 21h30 me levaram para a cabine e recomendaram: "aqui estão as duas escalações. Você conhece os jogado-res, né?". Eu conhecia bem. Por azar meu, choveu muito no Morumbi, os jogadores se sujaram, os dois times são tricolores, têm as mesmas cores, diferenciam pouco as camisas. Aí fecharam a porta e disseram que ao acender a luz estaria no ar. Começou o jogo eu fiquei falando: bola com fu-lano, passe para sicrano, o Santa Cruz na retranca, o São Paulo atacando.

FranciscO JOsÉ Repórter conta fatos inusitados da sua carreira e do livro que está escrevendo

Ao comemorar 40 anos como repórter da Globo, Francisco José, 71 anos, co-leciona feitos como ter descoberto o Escândalo da Mandioca, ser autor de reportagens com os maiores índices de audiência no Globo Repórter e fi-car 40 dias vivendo como índio numa aldeia. Nesta entrevista ele conta sua trajetória que teve momentos hilários como o início do seu trabalho na TV.

você nasceu no crato e quando veio para o recife?Meu pai morreu quando eu tinha 7 anos. Ele era um coronelzão do Sertão, era o Chico de Brito, tinha muitos filhos. Há muita história de cordel sobre ele. Mi-nha mãe se casou com um senhor daqui do Recife, três anos depois da morte de meu pai, e me mudei para cá.

como entrou para o jornalismo?Foi por acaso. Entrei no jornal aos 20 anos, através de Aramis Trindade, que era o editor de esporte do vespertino da empresa Jornal do Commercio, o Diá-rio da Noite. Sou fanático por futebol. Eu anotava num caderno todas as es-tatísticas do campeonato e percebi que no jornal havia 32 erros na estatística deles. Fiz uma carta ao jornal, dizen-

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Por causa da crise o Diário da Noite fechou e eu passei para o Jornal do Commercio. Meu professor era o Ronildo Maia Leite. Para mim quem tem um professor como aquele não precisa de faculdade.”

adversários do Brasil. Mas eu já tinha ido para a de 66, no ano que eu entrei no jornal, em 70 também pelo jornal.

como consegue manter seu sotaque nor-destino da tv?Primeiro entrei no Jornal Nacional à for-ça. Houve um incêndio na rua Corredor do Bispo, num posto de gasolina. Saí para um treino do Náutico e vi a fumaça do alto do Morro do Peludo. Em vez de ir para o treino fomos para lá. Chega-mos primeiro que os bombeiros e fiquei narrando, dava as costas para a câmera, estava com uma camisa quadriculada, aberta no peito, cabelo grande, tudo o que a Globo não permitia. Mas eu não tinha feito a matéria para o Jornal Na-cional, é que a repercussão do incêndio foi grande, queimou a fachada dos pré-dios ao lado, além de seis carros e teve

a explosão do carro tanque. um major dos bombeiros cortou a mangueira e perguntei: major isso vai explodir. Aí ele disse: "vamos sair!". A gente saiu e logo em seguida explodiu. A matéria entrou no JN. Em seguida a diretora do jorna-lismo Alice Maria ligou e perguntou: "quem é esse repórter débil mental que fez essa matéria? Manda ele (sic) para o Rio amanhã para comprarem roupa para ele que essa camisa quadriculada é horrível. Ele também vai cortar o ca-belo e ter aula de fonoaudiologia"(risos).

como foram as aulas?Tive aula com Glorinha Beuttenmül-ler, uma sumidade. Havia um exer-cício em que ela dizia: "diga Ôlinda" e eu falava "Ólinda". Ela insistia e eu continuava falando "Ólinda". Ela fa-lou com Armando Nogueira que eu não mudaria minha maneira de fa-lar. Ele me perguntou por que eu não obedecia a fonoaudióloga. Respondi que ela queria que eu falasse como um carioca e eu sou nordestino. Se é um jornal nacional tem que obedecer ao sotaque do Nordeste e das outras re-giões. Aí ele parou e disse: "você tem razão". Chamou o editor chefe e dis-se: "libera os repórteres do Rio Gran-de do Sul e Minas Gerais para irem ao ar". Antes o repórter local fazia a ma-téria, mas quando ia para o ar, tirava

Daí a pouco chutaram uma bola na trave. O que que eu ia fazer se fosse gol?! Eu não sei gritar gol! (risos). No dia seguinte voltei para agradecer a Wilson Emanuel – a pessoa que esta-va me orientando no estúdio - e dizer que aquilo não era a minha praia. Ele disse: "que nada, rapaz, quem sabe se você vai dar certo na televisão sou eu, que entendo de televisão. Você não entende nada! Você vai ficar aí aprendendo". Estou aprendendo até hoje. Ainda narrei uns dois jogos, mas passei a ser comentarista e eles con-trataram um narrador.

a primeira copa que você participou foi a da argentina?Pela Globo foi a da Argentina em 78. Fui em 82 para a Espanha, em 86 para o México e em 94 eu ficava nos países

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Fiquei 42 dias na aldeia indígena Enawenê Nawê escovando os dentes no rio, fazendo as necessidades no mato”

se sentia culpado por a filha estar assim porque ele deu pouco peixe para o Iakarati. Mas entrevistamos um biólogo que explicou que o peixe não estava chegando porque foi fei-ta uma hidrelétrica acima da aldeia. Falei com o cacique, por meio do in-térprete, que a filha dele ia morrer, ela precisava ir para um hospital, pa-jelança não ia resolver. Ele encheu os olhos de lágrimas. Entrou na maloca e 10 minutos depois o filho dele veio e disse "cacique falou com os pajés e eles deixaram menina ir embora". Mostramos a imagem com a menina, a mãe e o irmãos entrando no barco da Funai. No outro dia, o cacique me disse: "Menina não está sendo aten-dida. Médico não gosta de índio". Ele botou a mão na minha cara e disse que confiou em mim, mandou a filha embora e que ela estava morrendo lá, e era para ela morrer na aldeia. Perguntei como é que eles souberam disso? Eles responderam: "na caba-na tem rádio de Funai". Fui para lá e liguei para o produtor da Globo em São Paulo para me informar o celular do governador de Mato Grosso ou do secretário de Saúde. Ele me ligou 10 minutos depois dizendo que o secretá-rio ia mandar buscar a menina. Eu disse que isso não resolveria. Liguei para o se-cretário e perguntei como ele iria bus-car a menina. Ele disse pelo Samu. Falei que eram mais de 600 km de Cuiabá até Brasnorte onde ela estava para ir e para voltar. Disse: ela vai morrer e o senhor vai ser o responsável. Mande um avião para buscar a menina com um neu-rologista e medicamento a bordo. Ele respondeu: "como é que eu vou achar um avião, num domingo com um neu-rologista?" Aí falei: sou Francisco José, repórter da TV Globo, estou gravando o Globo Repórter e eu já tenho o início da reportagem mostrando a menina sain-do para o hospital. Existem dois finais para o senhor escolher: um ela voltan-do, viva, curada e o outro, voltando o corpo dela para enterrarem e eu dizendo que foi o senhor quem matou. Ele disse: "vou mandar buscar agora mesmo". O final da matéria somos eu, com índios, a equipe, tomando banho e a menina pulando na água.

entrevista FranciscO JOsÉ

o repórter e colocava o narrador, porque eles achavam o sotaque feio.

você foi correspondente da Guerra das malvinas?Fui primeiro para Comodoro Rivada-via, na Argentina, quando todos os jornalistas foram expulsos de lá. Entrei só para fazer áudio tape ou seja, leva-va o telefone para dentro do guarda--roupa para enviar o áudio, porque o hotel tinha sido ocupado por milita-res. Se alguém me visse falando ali eu seria preso. Como fui preso duas vezes e depois expulso. No dia seguinte a Globo me mandou para o Chile, aí fi-quei mais 20 dias. Isso foi em 82. Nin-guém foi para o campo de guerra. Não há uma fotografia da Guerra das Mal-vinas, porque só ia para lá quem eles autorizassem. Ainda bancamos os ka-mikazes: alugamos um avião, o piloto era capitão da Força Aérea Chilena. Ele disse: "eu desço o avião, solto vocês e depois vou buscar, se me pagarem uS$ 20 mil". A Globo e outra emisso-ra toparam pagar. Na hora que o avião estava sobrevoando o Atlântico Sul um avião argentino veio, identificou e mandou voltar para ushuaia. O piloto atravessou o Canal de Beagle e pousou no lado chileno, senão estaria preso e teria perdido a patente de capitão.

como surgiram as matérias sobre a na-tureza?Eu fazia matérias factuais há 25 anos e Beatriz (Castro) veio aqui cobrir o Car-naval, a gente começou a namorar e ela conseguiu a transferência para cá. Mas só ia para o ar matéria no JN feita por mim. Resolvi me afastar para ela ocu-par meu lugar. Comecei a fazer Globo Repórter. Pedi para fazer um programa de natureza em Fernando de Noronha, mas a direção não queria porque não era a "cara" do programa. Pedi para fazer um, se não desse certo, seria uma série de matérias para o Fantástico. Consegui convencê-los, fiz a matéria e deu 30% a mais que a audiência normal do pro-grama. Eles falaram faz outro, fiz Atol das Rocas, outro, Abrolhos, faz outro, os Sertões. Aí vi que estava dando certo principalmente quando tinha mergu-lho. Comecei a fazer programas sobre o Mar Vermelho, barreira de corais da Austrália, Micronésia, Caribe, Indoné-sia. Andei o mundo todo mergulhando.

Qual a matéria mais difícil que já fez?Fiquei 42 dias na aldeia indígena Enawenê Nawê escovando os den-tes no rio, fazendo as necessidades dentro do mato. Foi difícil. No dia que chegamos a produtora disse que não podíamos trabalhar porque a fi-lha do cacique estava em coma. Caiu um galho de uma árvore na cabeça dela. O meu intérprete era o filho do cacique. Pedi autorização para en-trar na maloca e gravar a cerimônia. Eles ficam sete meses no ano dando comida para Iakariti que é o espírito do mau. Eles acham que foi o Iakariti que bateu com o galho na menina. O cacique disse-nos emocionado que

Fale do livro que está escrevendo.Estou comemorando 40 anos de Glo-bo. A nova geração não conhece vá-rios trabalhos que fiz, por isso pensei em fazer o livro. Descobri o Escân-dalo da Mandioca, acabei com o Sin-dicato da Morte na Paraíba. Tenho 93 Globo Repórteres. Pedi um mês sabático para a Globo para escrever o livro.

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Veja a entrevista na íntegra no site www.revistaalgomais.com.br

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estava perto. Antes de fecharem-se as portas do socorro, um carro de po-lícia completa o evento.

Dia desses uma moça foi à UPA da Caxangá – crise renal, vômito, urina com sangue... “necas de pitibiriba”! Hospital Getúlio Vargas? Entrada por trás; lotação esgotada; gente pelo corredor; no chão. Um caos, Dr. Do-mingos, um amigo, a salvação.

Agora, ali a presença do Estado a re-novar esperanças. Todos, cada um dos homens: cabo, soldado, bombeiro, so-corrista, motorista tiveram uma pres-teza fina. Eficaz. Bom dia Brasil. Vamos Salvar a Petrobras! Feliz 2016, será?

artiGo Do mÊs

[email protected]

Domingo pede cachim-bo. O feriado me acor-da cedo, desde menino. Mais tempo pro nada – é ótimo. Hoje sem papai,

sem piquenique, sem passeio no jipe Acordei cedo. Hoje é domingo. E, eu nem fumo mais. Fui cumprir o ritual da caminhada. Na frente de casa, quase esbarra em mim, trôpego, em-briagado, machucado um adolescen-te – maior de 18. Olho fechado em decorrência de um soco. Nariz san-grando vivo. Vinha cá, ia lá.

O tráfego miúdo, é domingo. As entregas de gelo, coco, cerveja, gua-raná se enfeixam na avenida. É cedo, bem cedo. Muitos, como eu, enchem o calçadão da praia de Boa Viagem. Dor-mi ao som de cantorias na beira mar. Janela aberta. Vez por outra, rugia um motoqueiro ou a sirene das viaturas. Recife não dorme mais. Eu durmo.

O “bebinho” me convocara. O caso típico da contravenção: “art.62 – Apresentar-se publicamente em estado de embriaguez, de modo que cause escândalo ou ponha em perigo a segurança própria ou alheia”. O risco era iminente. Meia visão, o tropeço dos passos, a bermuda e o celular na mão, os salvados do “luau”. Seus pertences, por certo, foram comidos, ao leite de coco, como a Taioba do prato havaiano. Ficou à la Caetano: sem lenço; sem do-cumento; nada no bolso e nas mãos – o celular que não se pode largar. Con-tinuei a caminhada profilática de todos os dias. Mas parei logo. Lembrei-me de Pedro, o aniversariante da semana, Henrique, Vinícius, Giba, Mariana.

Voltei atrás. Bom dia rapaz, o que foi isso? Sou professor de “Muay Thai”... Fiquei na mesma. Resolvi socorrê-lo. Levei-o pra casa. No tér-reo do prédio os porteiros, o zelador, ajudaram. Areia pelo corpo todo. No

chuveirão sugeri: tira essa areia. O copo d’água com açúcar sorveu com sofreguidão. Soro gelado e gaze, por alguns segundos, enquanto a cabe-ça não pendia. Soro vez por outra no olho ferido. No celular havia nome da mãe: mainha, da avó: voinha. Arge-miro, o porteiro, ligou e nada. A mãe nem aí. Vovó não, suplicou o ferido.

Lembrei-me do Samu. Passaram pro médico. A Dra. solícita ouviu e garantiu o socorro. Demorou pou-co. Duas motos chegaram. Uma do Samu, outra dos Bombeiros. Os so-corristas, da triagem, concordaram comigo. A ambulância dos bombeiros

Faz de conta que ainda é cedo

Todos, cada um dos homens: cabo, soldado, bombeiro, socorrista, motorista tiveram uma presteza fina. Eficaz. Bom dia Brasil.

Gilberto marQues

Advogado

Jan R

ibeiro

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ef. de

Olin

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uM FuTuRO MAIS EFICIENTE PARA A GESTãO DA áGuA

capa

Soluções passam pelo uso de tecnologias na produção agrícola e melhor infraestrutura de abastecimento

Pernambuco é um dos Estados do Brasil com pior potencial hídrico, de acordo com pes-quisa da Agência Nacional

de águas (ANA). As imagens do gado morrendo de sede e da vegetação da caatinga no solo rachado, no entanto, contrastam com a vasta produção de manga e uva nos perímetros irrigados ou mesmo com o verde dos canaviais da Zona da Mata. Além de uma preci-pitação média muito abaixo da média nacional, ela é concentrada em parte do território estadual. uma terra de realidades extremas quando assunto é disponibilidade de água. Mas, com a redução das chuvas nos últimos anos, ambos os lados desse cenário sofreram. Como as previsões pluvio-métricas para os próximos anos não são das melhores – e ainda são agra-vadas pelas mudanças climáticas – o caminho para um futuro com maior produtividade e menor sofrimento para a população humana e animal passa por infraestrutura e pelo uso de soluções tecnológicas.

O balanço de chuvas da Agên-cia Pernambucana de águas e Clima (Apac) em 2015 mostra o impacto da seca na produção agrícola e na quali-dade de vida da população. Na região sertaneja, a precipitação média foi de

escassezbAixA nA prECipitAção AtinGiu toDAS AS rEGiõES DE pErnAmbuCo Em 2015. no Ano pASSADo AS ChuvAS Do SErtão fiCArAm 47% AbAixo DA méDiA hiStóriCA

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rafael Dantas

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323,3 milímetros, o que é 47% menor que a média histórica. Agreste, Zona da Mata e Região Metropolitana do Recife tiveram redução na média de chuvas respectivamente de 31%, 17% e 24%.

“Identificamos um ciclo natural das chuvas do Nordeste que em um período de 10 anos, seis estão abaixo do normal e apenas um ou dois anos há chuvas acima da média. Frente a esse cenário, o ideal é que sejam to-madas providências para minimizar os efeitos dos períodos mais secos. A seca no Estado sempre ocorreu e sempre irá ocorrer”, afirma o dou-tor em meteorologia Roberto Perei-ra. Ele alerta ainda que em oposição ao decréscimo da precipitação há um aumento populacional. uma fórmula matemática que provoca a cada ano uma diminuição da disponibilidade de água.

Outro problema apontado é a grande diferença na ocupação espa-

cial do território pernambucano que desafia a gestão do consumo da água. “Na verdade temos situações e reali-dades completamente diferentes ao longo do Estado. áreas com pouca gente e pouca água, com muita gen-te e pouca água, lugares com pouca gente e muita água e de muita gente e muita água. Cada situação precisa de formas de lidar diferentes, além de possuírem vocação para ativida-des produtivas distintas”, aponta o professor da Faculdade Guararapes, Alexandre Ramos, que é especialista em saneamento e recursos hídricos e mestre em tecnologia ambiental.

Ele lembra que a RMR e a Zona da Mata dispõem de água suficiente, mas precisam de infraestrutura para acumulação e distribuição. Na Mata Norte há muita água, mas não possui reservatórios, tendo o desempenho da sua produção agrícola vulnerável à intensidade das chuvas. No rela-to do professor, o Sertão, apesar das baixas precipitações, possui grandes reservatórios e está com novas in-

fraestruturas de distribuição hídrica em andamento, além de possuir uma população reduzida. No Vale do Ipo-juca, com uma grande população, a situação é mais crítica.

Se o lençol é curto, cada um puxa para um lado. O uso dos recursos hí-dricos em geral são divididos entre a irrigação agrícola, o consumo huma-no e animal, o uso industrial e a pro-dução de energia. Em Pernambuco, 63% da água vai para a irrigação e ou-tros 9% para a indústria. Os consumos urbanos, rural e animal juntos somam 28% do uso da água no Estado.

Para o diretor-presidente da Apac, Marcelo Asfora, sempre a prio-ridade deve ser o consumo huma-no e a dessedentação (consumo de água) animal . “Pelas características do nosso clima nós enfrentamos esse dilema. É necessário priorizar esses usos e incentivar o desenvolvimento agrícola, industrial e de produção de energia do Estado com tecnologia. É urgente partir para uma produção agricícola com maior eficiência do uso de água, além de optar por cultu-ras com maior valor agregado, como é o caso da frutivinicultura no Vale do São Francisco”.

Os especialistas são unânimes em relação à urgência de garantir um uso mais eficiente da água na produ-ção agrícola. Os investimentos que aconteceram nas últimas décadas no Estado focaram mais na infraestrutu-ra para disponibilidade da água para essa produção, como acontece nos perímetros irrigados.

“Se é a agricultura que consome aproximadamente dois terços do vo-lume de água do planeta, isso nos dá uma orientação de que se conseguir-mos reduzir 5% disso com sistemas eficientes, já faremos uma grande economia. Temos uma agricultura ir-rigada que usa ainda processos muito perdulários. O desafio é aprender a produzir ocupando menos áreas, com maior produtividade por hectare”, afirma Asfora. O presidente da Apac lembra ainda que a atividade rural que mais ocupa pessoas é a de sequei-ro, que depende apenas das chuvas, correndo um grande risco de colapso nos períodos de maior escassez.

um case para inspirar o desen-volvimento de sistemas mais efi-

marcelo asFora

É necessário priorizar os usos

da água e incentivar o desenvolvimento agrícola e industrial com mais tecnologia"

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Em 2015

1.534 milímetros

1.065 milímetros

528 milímetros

323,3 milímetros

Média Histórica

2.025 milímetros

1.333 milímetros

733 milímetros

607 milímetros

Desempenho

-24%

- 17%

- 31%

- 47%

RMR

Zona da Mata

Agreste

Sertão

cientes de produção no campo é o de Israel. Mesmo tendo metade do seu território tomado por regiões desér-ticas, o País do Oriente Médio produz 90% da demanda interna de alimen-tos e ainda gera excedentes para ex-portar. “Israel enfrentou o desafio de transformar o deserto em área culti-vável. Para enfrentar a situação na-tural adversa, os dois carros-chefes foram o desenvolvimento de tecnolo-gia para geração de recursos hídricos

inFraestrutura. ADutorA EntrEGuE mElhorou AbAStECimEnto no SErtão

RESuMo ANuAl DAS cHuVAS DE PERNAMbucoÍndice de chuvas do Estado foi menor que a média histórica em todas as regiões no ano passado

roberto tavares

O que se precisa fazer para conviver com a seca é se preparar. É preciso investir em obras estruturantes”

aproveitáveis e para geração de ener-gia, além da criação de sistemas para economia e reúso de água”, explica Ramiro Becker, diretor regional da Câmara Brasil-Israel de Comercio e Industria.

No país, onde a situação de dis-ponibilidade hídrica é muito mais complicada que em Pernambuco, uma das tecnologias usadas é a de dessalinização da água do Mar Medi-terrâneo. A maior usina do mundo de dessalinização está localizada na ci-dade de Hadera, gerando 130 milhões de litros de água potável por ano. Só o volume desse equipamento, que foi instalado em 2010, é capaz de abaste-cer um a cada seis israelenses. “Isso tornou possível a Israel ser o produ-tor que é hoje. Penso que seria uma solução a longo prazo para o Estado, considerando que somos beneficia-dos pela água do mar. Poderia haver o investimento em ao menos uma usina

com essa finalidade em Pernambu-co", sugere Becker.

Para dar maior eficiência à pro-dução agrícola, eles desenvolveram aparelhos gotejadores de água que só usam o necessário de acordo com a demanda de cada tipo de cultura e solo. “Não adiantaria dessalinizar água e ter um consumo elevado na produção”, julga Becker. uma das empresas israelenses que trabalham com essa tecnologia é a Netafin, que possui um parque industrial no Cabo de Santo Agostinho. No ano passado essa empresa instalou a tecnologia de gotejamento numa usina de açúcar e etanol de Ribeirão Preto (SP), conse-guindo reduzir em 70% o consumo de água. Alguns produtores do Vale do São Francisco já dispõem de siste-mas de gotejamento e de microasper-são, outra técnica que reduz o consu-mo hídrico.

No elenco das prioridades, na opinião do presidente da Compe-sa, Roberto Tavares, o uso da água como fonte de energia deve estar no último lugar. “A produção de energia não consome água, mas o seu mane-jo para a geração atrapalha os demais usos. O Estado tem potenciais em outras áreas, como a solar e a eólica. Mas o consumo humano não tem ou-tras alternativas”, opina. A Compesa é o principal usuário da água voltada para o consumo humano.

Na fabricação de equipamento para produção de energias renová-Fo

nte:

Apac

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MUDANÇAS CLIMÁTICAS As situações extremas da climatologia do Estado (de enchentes na

Zona da Mata e de riscos de desertificação no Sertão) são uma dor de cabeça para o presente, mas um teste para que Pernambuco se prepa-rar para os efeitos das mudanças climáticas. Na opinião do presidente da Apac, Marcelo Asfora, se acontecerem os investimentos necessá-rios para enfrentar a realidade pernambucana e a população aprender a conviver com esses fenômenos, o Estado estará preparado para lidar com os cenários que se apresentam em relação às mudanças climáticas.

“Haverá uma intensificação dos eventos extremos (secas mais longas e enchentes mais fortes em períodos mais curtos). Temos que promover o uso e ocupação do solo de maneira coerente com a nossa realidade. As mudanças climáticas não estão num futuro distante. Para enfrentá-las é preciso discutir o modelo de desenvolvimentismo ade-quado as nossas condições climáticas de hoje e assim estaremos nos pre-parando de forma eficaz para o que pode advir no futuro”, afirma Asfora.

veis, Pernambuco saltou na frente dos demais Estados da região, com a consolidação do Pólo Eólico, situado no Complexo Industrial e Portuário de Suape. Além de ter a fabricação local dessas tecnologias, as secreta-rias de Meio Ambiente e de Desen-volvimento Econômico, juntamente com consultorias técnicas, mapea-ram no Estado um potencial de 1.047 gigawatts (GW) de geração eólica e de 3.354 GW de geração solar. Os locais mais privilegiados estão nos sertões do São Francisco (442 GW de eólica e 249 GW de solar), Itaparica (130 GW de eólica e 314 GW de solar) e do Ara-ripe (214 GW de eólica e 363 GW de solar). Para se ter uma ideia do tama-nho disso, a potência total do parque gerador da Chesf é de 10 GW.

investimentos. Junto com o avanço das novas tecnologias, o Estado de-manda com urgência de finalizar os

investimentos de infraestrutura em curso para ficar menos vulnerável à escassez das chuvas. Segundo Ro-berto Tavares, a não conclusão da Adutora do Agreste, prevista para ser entregue em dezembro passado, é um dos motivos que fazem com que os moradores dessa região sofram mais que os sertanejos nessa seca. “Com a Adutora Oeste, que levou água para cidades como Salgueiro e do Sertão do Pajeú, o abastecimento de água depende pouco das chuvas. Mas no Agreste, a adutora que foi pensada há mais de 100 anos ain-da está com apenas 40% das obras executadas”, criticou. “O que fazer para conviver com a seca é se pre-parar. Se vamos para um lugar frio, levamos agasalho. Como vivemos numa região de poucas chuvas, são necessárias obras estruturantes para que possamos conviver com isso nos próximos 10, 50 ou 100 anos. Essa

situação ainda irá se agravar com os efeitos das mudanças climáticas no mundo”, sinaliza.

O que tem emperrado a obra é a morosidade no repasse de verbas da união. A primeira etapa custará R$ 1,3 bilhão, tendo até então apenas R$ 500 milhões executados. A segunda etapa demandará um investimento de R$ 1,2 bilhão. A adutora tem agora o prazo para conclusão em 2017.

Além das obras estruturado-ras do abastecimento hídrico, uma tecnologia que garantiu grandes resultados para a população rural foi a implantação de cisternas para o uso familiar. Nos últimos 10 anos foram mais de 1 milhão de cisternas instaladas no Nordeste. Trataremos na próxima edição dos resultados desse investimento que tem garan-tido a permanência de milhares de famílias no Sertão e no Agreste do Estado.

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economia JorGe JatobÁ

Economista

República Sindicalista

Em sociedades democráticas e capitalistas ter sindicatos fortes é importante para as-segurar os direitos dos tra-balhadores e garantir que as

reivindicações das categorias sejam le-vadas à mesa de negociação. Em muitos países, especialmente nas socialdemo-cracias europeias, um ou mais sindica-tos têm braço político que se materia-liza em partido atuante no parlamento, ocasionalmente assumindo o governo.

No caso brasileiro, o braço político de centrais sindicais, como a CuT, é o Partido dos Trabalhadores (PT). O pro-blema é que a agenda do partido no po-der, embora possa e deva conter temas de interesse dos trabalhadores, não deve se confundir necessariamente com os interesses do País. Quem governa, o faz para todos e não para um segmento da sociedade. Os interesses do País não po-dem ficar subordinados aos interesses de um grupo especifico por mais nu-meroso que ele seja e por mais legítimas que sejam as suas reivindicações.

A oposição do PT à realização de re-forma na Previdência Social é exemplar de como os interesses de um partido de origem sindical tentam se sobrepor aos do País como um todo. Tanto o Regime Geral da Previdência Social (RGPS), onde se abrigam os trabalhadores cele-tistas, quanto os regimes jurídicos úni-cos (RJu), que abrigam os servidores públicos da união, Estados e municí-pios, precisam passar por uma profun-da reforma. Os déficits nesses sistemas crescem de forma assustadora e caso mudanças significativas não sejam realizadas, os referidos sistemas cami-nharão celeremente para uma ruptura que conduzirá o País a elevados custos fiscais, sociais e políticos. Medidas du-ras no presente evitarão custos ainda mais altos no futuro. Todavia, o que se observa é que os governos do PT e sua base parlamentar têm enormes resis-tências para reformar a Previdência.

governos espaço político para conti-nuarem as paralisações. De outro, o imobilismo dos governos que não têm coragem de cortar o ponto dos ser-vidores quando todas as concessões possíveis em intermináveis negocia-ções já foram concedidas. Nesse caso vê-se a incapacidade de um governo, que detém nos seus cargos chaves, in-clusive o de ministros de Estado, e em milhares de outros cargos comissio-nados e funções gratificadas, sindica-listas ou ex-sindicalistas, de defender

os interesses da sociedade. Caso exemplar é o dos médicos-legistas do INSS em greve desde setembro do ano passado, o que têm causado inú-meros atropelos e inconvenientes à população. A con-clusão inevitável é que o governo é leniente, toleran-te, subordinando

os interesses da sociedade aos de uma categoria porque não consegue se con-frontar aos sindicatos que compõem os denominados movimentos sociais que o apoiam e que dão a base de sustentação política ao principal partido no poder.

Por fim, o PT não apoia o programa de ajuste fiscal proposto pelo próprio governo. Vai na contramão do que pre-cisa ser feito, insistindo nos mesmo er-ros que conduziram o País ao atual caos econômico. O argumento é preservar empregos quando o País já cortou, em 2015, mais de 1,5 milhões de postos de trabalho. Na ausência de um programa crível de estabilização macroeconô-mica, de uma agenda de reformas e de iniciativas para retomar o crescimento econômico, o desemprego vai aumen-tar cada vez mais. E não existe sindica-to dos desempregados.

[email protected]

Aliás, nenhuma grande reforma foi feita pelo PT. As reformas trabalhista e sindical, essenciais para modernizar as relações capital-trabalho no País, estão paralisadas no Congresso Nacio-nal e não prosperam por falta de ini-ciativa do executivo federal, falta de apoio da base parlamentar e por inér-cia das duas casas do Congresso. Até mesmo o direito de greve no serviço público não foi regulamentado.

O direito de greve deve ser assegu-rado a todos. No setor privado tal di-

reito está regulamentado, mas no se-tor público isso ainda não ocorreu por pressão da CuT – que congrega mui-tos sindicatos de servidores públicos – e, por extensão, do PT por meio de sua bancada no Congresso Nacional. O resultado dessa indefinição é uma serie de paralizações intermináveis de servidores públicos em todos os ní-veis de governo: professores, médicos, servidores do INSS, policiais civis e até militares, entre outras categorias. Os sindicatos dos servidores, a despeito das negociações continuarem muitas vezes abertas, ignoram a crise fiscal do País, mantêm a paralização por longos períodos de tempo, causando enormes prejuízos à população que depende da provisão desses serviços.

De um lado, a intolerância das categorias que vêm na tibieza dos

Os interesses do País não podem ficar subordinados aos interesses de um grupo específico por mais numeroso que ele seja e por mais legítimas que sejam as suas reinvindicações

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do ano”, diz o secretário de turismo de Pernambuco, Felipe Carreras.

PesQuisa. No ranking nacional de satisfação dos usuários, encomenda-do pela Secretaria da Aviação, o ae-roporto pernambucano ficou em 4º lugar, enquanto os concorrentes pelo hub, Fortaleza e Natal, ficaram res-pectivamente na 10ª e 11ª posição. O Recife obteve ainda melhor avaliação do País nos indicadores de “qualida-de da sala vip”, “quantidade e qua-lidade de estabelecimentos comer-ciais”, “disponibilidade de bancos/caixas eletrônicos/casas de câmbio” e “quantidade qualidade de lancho-netes/restaurantes”.

Centro de conexões da Azul implantado no recife e pesquisa de satisfação do usuário fortalecem o Guararapes

aviação

Mais dois motivos para hub ser em PE

A decisão da Azul de trazer para o Recife o seu hub re-gional é o mais novo in-grediente na disputa para

atração do investimento da Latam no Nordeste. Outro ponto favorável ao Guararapes foi a nova pesquisa en-comendada pela Secretaria de Avia-ção Civil da Presidência da República que apontou o aeroporto como o que apresenta melhor índice de satisfação dos passageiros. O terceiro elemento que endossa a capital pernambucana para receber o empreendimento da multinacional da aviação foi a sinali-zação do ministro da Defesa Aldo Re-belo, de que o Governo Federal está perto de repassar para o Estado a área da Força Aérea Brasileira (FAB), que está localizada no aeroporto. Mais uma condição colocada pela Latam que já se encaminha para resolução.

“A chegada dos novos voos da Azul fortalece posição de Pernam-buco essa disputa. O hub da Latam é internacional. Logo, quanto mais co-nexões regionais tivermos, maior será o potencial para direcionar passagei-ros para voos internacionais. Agora a única capital do Nordeste com co-nexão com todas as capitais é o Reci-fe. Estamos mais fortes na disputa”, avalia o secretário de turismo do Re-cife, Camilo Simões.

A companhia aérea em 2015 afir-mou que até o final do ano anunciaria a cidade-sede do seu hub internacio-nal no Nordeste. Adiou para o primei-ro semestre de 2016. Agora fala-se que a decisão só será tomada no final

do ano. O balanço do transporte aé-reo brasileiro em 2015 foi de contra-ção de 2,6%. Frente a esse cenário, a própria Latam anunciou uma redução da oferta de assentos em voos nacio-nais de até 9% neste ano.

“Agora a decisão fica com a com-panhia aérea. Hoje temos uma ca-pacidade de receber 15 milhões de passageiros por ano e operamos com quase a metade desse volume. O Esta-do dispõe de uma série de vantagens competitivas na movimentação atual de passageiros e cargas que é muito superior à dos aeroportos concorren-tes. Diferenciais que já foram postos para a companhia, que sinalizou que anunciará o destino do hub até o final

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dade, substituindo a velha, improdutiva e fácil passionalidade para orientar o ato de votar.

Em 2015 o País tem, portanto, um ponto de inflexão na sua recente histó-ria democrática. São fraturas que des-troem formas arcaicas de dominação política e forjam novas estruturas para o País reencontrar seu futuro. Sei que em regiões mais atrasadas – não falo de geografia, me refiro à mente – es-ses mecanismos irão se repetir. Minha bisavó, lá do interior, já dizia: “Quem faz um cesto, faz um cento, assim te-nha cipó e tempo”, uma genial ver-são para o mecanismo da repetição no psiquismo humano. Entretanto, uma parte esclarecida da população vai ser obrigada a substituir este sentimento de perplexidade, raiva e orfandade por maturidade política – condição essen-cial para sociedade civil exercer uma prática autônoma de cidadania. É para estes que escrevo.

A exposição das entranhas da corrupção é dolorosa para os brasileiros, mas não necessariamente ruim para a nação

revista será

Faz escuro, mas eu canto

O ano que passou submeteu a nação a um bombardeio no campo da política, causado pelas operações da Justiça e

Polícia Federal, com um impacto nega-tivo direto na economia. Foi um ano em que as grandes empreiteiras— aquelas que vêm construindo, há décadas, as obras de infraestrutura no País – senti-ram, pela primeira vez, o peso da justiça.

O nosso dia a dia, com o foco inevitá-vel dos meios de comunicação, suscitou no cidadão um forte sentimento de per-plexidade, raiva, descrença e orfanda-de. Mas será que isto é necessariamente ruim?

Termos as entranhas da corrupção expostas em seu complexo labirinto de interesses escusos é doloroso, mas não necessariamente ruim para a nação. Do-loroso porque na política, como eleitores, somos inevitavelmente capturados pelos discursos dos “pais” que vão nos salvar e conduzir o País para o futuro. Isso é ain-da mais verdadeiro para as camadas da população mais sofridas e desprovidas de recursos para compreender e atuar na realidade em que estão imersas. O popu-lismo deita e goza com esse terreno fértil constituído pela miséria humana.

O poder político sofreu, em 2015, importantes fraturas estruturais que, espero, elevem nosso País a uma cate-goria mais consolidada de democracia. A primeira e promissora fratura atinge o cerne do setor produtivo, historicamente ligado umbilicalmente ao setor público – muitas vezes de forma promíscua. Nunca

houve em nossa história prisões de em-presários e políticos importantes como os que a Operação Lava Jato atingiu.

O Estado deve ter o poder de regular o ambiente por onde vai fluir a atividade econômica, é assim em todo canto, mas daí inverter-se a equação, e termos as grandes empresas, nacionais e multina-cionais, usando o Estado para, sorratei-ramente, servir aos seus interesses é um grande perigo e uma forte ameaça à de-mocracia. Corroeu-se, por dentro, com a cumplicidade de importantes líderes políticos de vários partidos, todos eles investigados pela justiça.

A empresa vai perceber que com-petitividade e lucratividade vai ter que ser conquistada no mercado — inclusive enfrentando os enormes desafios de ser inovadora e fazer parte da cadeia global de produção. Imiscuir-se de forma pro-míscua com o setor público vai ficar cada vez mais caro e arriscado.

Outra fratura é na percepção do elei-tor de que não estamos elegendo “salva-dores da pátria”, e quão ineficiente é não se dar ao trabalho de colocar racionali-

João rego

* João Rego é engenheiro e consultor. O conteúdo deste arquivo é extraído da Revista Será (www.revistasera.info).

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17Algomais • Fevereiro/2016

Gestão mais

tGi consultoria em Gestão

www.tgi.com.br

Planejamento estratégico na crise

Após o Plano Real, na segun-da metade da década de 1990, o País sobreviveu a taxas de inflação inacredi-

táveis hoje em dia, a muitas mudan-ças de moeda e a trocas de ministros da Fazenda, numa velocidade que mais parecia as substituições de téc-nicos de futebol de clubes brasileiros. Antes da estabilização da economia, as empresas precisavam lidar com a grande dificuldade de formular pla-nos de longo prazo, tamanhas as in-certezas do cenário econômico.

Guardadas as devidas proporções, infelizmente estamos mais uma vez numa situação de incertezas quanto às perspectivas do País. É difícil antecipar com clareza os próximos movimentos na esfera política e, consequentemen-te, projetar o desempenho da econo-mia brasileira nos próximos meses.

Nesse contexto, alguém pode achar que, diante de tantas incertezas, a fer-ramenta de planejamento estratégico perde sua efetividade, afinal “vamos formular um planejamento para qual cenário?” A questão é que se pudésse-mos saber antecipadamente o que iria acontecer, não seria necessário fazer planejamento nenhum mas, apenas, programar as ações desejadas e sim-plesmente executá-las.

A necessidade de formular estra-tégias se dá, justamente, porque não sabemos o que vai acontecer, mesmo em tempos de calmaria. Principal-mente nos setores que sofrem mu-danças em ritmo acelerado e, em es-pecial, em um cenário de crise, com natural ampliação da insegurança e imprecisão, a ferramenta de planeja-mento estratégico ganha importância na medida em que permite raciocinar o negócio sob perspectivas de futuro diferentes. O mais importante não é saber o que vai acontecer, mas se preparar para possibilidades de fu-turos diferentes, procurando sempre responder a pergunta: “o que fare-

“Progredir numa economia turbulenta exige mais do que apenas sorte e intuição. Requer mentalidade inovadora, planejamento sério e estratégia certa.”

Philip Kotler e John A. Caslione no livro Vencer no Caos

mos se tal cenário acontecer?”Mercados mais turbulentos exigem

competência ainda maior na formu-lação de estratégias. A ferramenta do planejamento deve ser incorporada ao modelo de gestão como atividade permanente de analisar tendências e cenários, avaliar as con-dições para chegar ao futuro desejado, for-mular estratégias para conquistar esse futuro, implantar um proces-so de acompanha-mento com ciclos de revisão e atua- l i -

zação mais curtos, e avaliar os resulta-dos conquistados de modo sistemático.

Além disso, é importante definir objetivos mais imediatos, com foco na sobrevivência da organização no período de crise e, ao mesmo tempo, ter nitidez da visão de futuro (obje-tivo de médio ou longo prazos), com

perspectiva inovadora, seja no desenvolvimento de

novos produtos/serviços ou na prospecção de novos mercados ainda não atendidos.

Tudo isso muito além de sorte ou intui-

ção apenas!

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nas ruas e avenidas da cidade estão elementos originários dos séculos 17 e 18 que aguardam proteção histórica

arruando pelo Recife e por Olinda

O que falta ser tombado

leonardo Dantas Silva

O governador Paulo Câma-ra empossou, em data de 29 de dezembro último, o novo Conselho Estadual de

Preservação do Patrimônio Cultural, além de lançar o Prêmio Ayrton de Almeida Carvalho de Preservação do Patrimônio Cultural de Pernambuco e o Prêmio Ariano Suassuna de Cul-tura e Dramaturgia. Composto por 14 membros, sendo sete representantes da sociedade civil e sete designados pelo Governo, o colegiado tem entre suas atribuições a missão de deliberar sobre tombamentos de patrimônios, eleição para novos patrimônios vivos, além de outros assuntos relacionados à política de preservação cultural.

Diante da existência de um novo conselho, começo por voltar a arruar pelas ruas, becos, ladeiras, praias, pontes e avenidas do Recife e de Olin-da, e vejo, em cada passo, elementos originários dos séculos 17 e 18, tão presentes neste início de século 21, apesar da degradação levada pelo abandono e pelo descaso de que fo-ram vítimas.

Aqui e ali uma paisagem, um re-canto de praça, uma rua deserta ou mesmo um prédio isolado, são mar-cos de um passado a necessitar do amparo do competente tombamento por parte desse Conselho, com base Lei Estadual nº 7970, de 18 de setem-

memória. pontE D'uChoA é o rEGiStro DA AntiGA EStAção DE trEnS DAS GrAçAS

tombamento. CASArio DE ApipuCoS E DE bAirroS hiStóriCoS mErECEm AtEnção

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bro de 1970, regulamentada pelo Decreto nº 6239, de 11 de janeiro de 1980. No âmbito da preservação da paisagem, eu chamaria a atenção para o panorama da calha do Rio Capibaribe, em sua extensão que vai da BR-101 até a sua foz no Bairro do Recife, que, dia a dia, vem sendo ameaçada por causa da necessidade do disciplinamento de suas mar-gens, merecendo assim um estudo por parte desse conse-lho visitando sua preservação.

No âmbito do patrimô-nio construído, surge como primeiro conjunto necessi-tado de urgente preservação o Cemitério do Senhor Bom Jesus da Redenção de Santo Amaro das Salinas, projetado pelo engenheiro José Mame-de Alves Ferreira, no governo de Francisco do Rego Barros (futuro Conde da Boa Vista) e inaugurado em 1º de março de 1851. Possui arquitetura radial com os tú-mulos distribuídos ao longo de ruas que convergem para um ponto cen-tral, onde está localizada a capela (1853), o nosso primeiro templo re-ligioso em estilo gótico, disposta no formato de cruz grega, fechada por uma só abóbada, tendo ao centro um grande crucificado de origem france-sa fundido em ferro.

Seguem-se no rol das propostas o tombamento das sedes dos sítios ur-banos do século 18, ainda presentes em nossa paisagem como os Sítios e Capelas de João de Barros, do Senhor Bom Jesus dos Aflitos, do Manguinhos, a qualquer momento passíveis de uma incorporação imobiliária. Outros es-paços urbanos, como a Praça Maciel Pinheiro, com seu casario e fonte de mármore, esculpida em Lisboa pelo artista Antônio Moreira Ratto, em 1875, hoje ameaçado pelo abandono e degra-dação que vem sofrendo, e o Pátio da Fundição Capunga, com todo o casario do seu entorno, localizado na Avenida Joaquim Nabuco no mesmo bairro.

A praça central da cidade, a Pra-ça da Independência, popularmente conhecida como Pracinha do Diario, é outro objeto de nossa proposta por nela estar situado o primitivo prédio

do Diario de Pernambuco, cuja reda-ção nele funcionou até o ano de 2005. Fundado em 7 de novembro de 1825, por Antonino José de Miranda Falcão, o Diario é em nossos dias o mais antigo jornal da América Latina e o decano da imprensa diária em língua portuguesa. A nossa lista sugere também o tomba-mento dos jardins públicos criados no Recife de forma pioneira pelo paisagis-ta Roberto Burle Marx, ao tempo que dirigia a Diretoria de Parques e Jardins do Recife (1934-1937), notadamen-te a Praça de Casa Forte (1934), Praça Euclides da Cunha no Benfica (1935), a Praça Farias Neves Sobrinho e todo Horto de Dois Irmãos, a Praça Dezes-sete, o Parque Treze de Maio, a Praça do Derby e outros que se seguiram como a Praça Salgado Filho (Aeroporto).

Não poderiam ser esquecidos, nesta relação, os conjuntos arquite-tônicos que se tornaram marcantes na vida do Recife que hoje sobrevi-vem pelo simples acaso, não pairando sobre eles qualquer diploma específi-co de preservação, como é o caso do casario característico da Rua Benfica, de Apipucos, do Poço da Panela, de Ponte D’uchoa (com antiga estação dos trens da maxambomba), das ca-sas contíguas ao Museu da Abolição,

os gradis de ferro das casas existentes ao longo das ave-nidas Dois Irmãos, Dezessete de Agosto, Parnamirim e Rui Barbosa; os exemplares da ar-quitetura eclética do século 19 e início do século 20 presentes nas ruas da Imperatriz Tereza Cristina, Nova e Imperador D. Pedro II, no Pátio do Livra-mento, Pátio do Terço e nas ruas do bairro de São José.

Na Rua das Flores, exata-mente esquina com a Avenida Dantas Barreto, encontra-se clamando por tombamento o notável mural do artista Fran-cisco Brennand, com 32 m de comprimento, iniciado em 24 de agosto de 1961 e concluído em 24 de abril de 1962, alusivo às duas Batalhas dos Montes Guararapes (1648 e 1649), com versos escritos pelos poetas César Leal e Ariano Suassuna.

um destaque especial para os velhos solares pernambucanos, tão importantes como as antigas vi-vendas do Barão Rodrigues Mendes (Academia de Letras) e Barão de Be-beribe (Museu do Estado), estes tom-bados nacionalmente, mas outros encontram-se à espera da iniciativa do novo colegiado, como o Solar da Família Baptista da Silva, o Colégio Damas, o Colégio Agnes, o Palácio do Arcebispado, o Solar dos Tavares da Silva e o Solar dos Amorins.

Como se não bastasse os exem-plos aqui citados, restam ainda os templos construídos no século XVIII, verdadeiras joias da nossa arquitetura religiosa, todos desprovidos de pro-teção, a exemplo das igrejas de Nossa Senhora do Livramento, Santa Rita de Cássia, Rosário dos Pretos da Boa Vis-ta, Nossa Senhora da Saúde do Poço da Panela, Nossa Senhora da Boa Via-gem, da matriz da Várzea, da Moita do Engenho da Torre merecendo a aten-ção do novo conselho de preservação, visando o seu urgente tombamento. São todos eles testemunhas de um patrimônio construído e hoje amea-çado, para usar a imagem do poeta Ascenso Ferreira, pelas “panzer di-visões de prédios-cimento-armado” que “estão tomando de assalto nossa Recife colonial...”

Fonte. prAçA mACiEl pinhEiro, DE 1875

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Recife revitaliza os largos comerciaismudanças realizadas em áreas próximas a mercados públicos garantiram mais organização e maior fluidez no trânsito

RecifeemPauta

Os mercados municipais são o símbolo do comércio de vários bairros do Recife, como Beberibe, Nova Des-

coberta, Casa Amarela, entre outros. Apesar de serem importantes centros de geração de renda e de consumo para as populações vizinhas, o cres-cimento desordenado desses espaços travaram o trânsito e complicaram a vida dos pedestres. um dos esforços da Secretaria de Mobilidade e Con-trole urbano nos últimos anos foi justamente dar uma maior fluidez no trânsito desses lugares, com inter-venções na infraestrutura e mobiliza-ção em fiscalização.

Desde o início da gestão de Geral-do Júlio, o largo dos mercados muni-cipais ganhou uma maior atenção da Secretaria de Mobilidade e Controle urbano. Vários bairros receberam ações que envolveram o cadastra-mento dos comerciantes informais, a sua remoção das vias públicas e o

mobilidade

reordenamento dentro do espaço das feiras e mercados. Em algumas lo-calidades foram feitas ampliações ou construção de anexos para a locação dos trabalhadores. Só no primeiro ano do governo foram retirados das calçadas e ruas cerca de 600 ambu-

muDançaCEntro DE ComérCio DE áGuA friA SErá inAuGurADo Em brEvE. o novo ESpAço tEm A CApACiDADE DE AbrirGAr 200 ComErCiAntES CADAStrADoS pElA pCr

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coberta, onde se perdia cerca de 40 minutos para se chegar até a unidade de Pronto Atendimento (uPA), devi-do à desordenação vizinha ao largo comercial, num trajeto que pode ser feito em poucos minutos. “Com es-sas intervenções mudamos muito o

deslocamento desses bairros. Hoje as regiões mais populares da cidade es-tão cheias de veículos, cujos os donos, muitas vezes, nem sequer possuem garagens. uma nova realidade que nos exigiu esse esforço no reordenamento dos largos”, aponta. Só em Nova Des-coberta foram retirados da calçada mais de 170 ambulantes.

ÁGua Fria. uma das novas estrutu-ras que já está prestes a inaugurar é o Centro de Comércio de água Fria, localizado a cerca de 100 metros do Mercado de água Fria. O novo espa-ço vai abrigar 200 ambulantes que foram cadastrados pela Prefeitura do Recife, que também atuavam nas ruas e calçadas do bairro.

O imóvel fica num local de desta-que no bairro, na avenida Beberibe, onde funcionou o antigo Cine Impé-rio. O prédio possui quase 2 mil me-tros quadrados de área total, sendo um espaço coberto, com estaciona-

mento, banheiros e praça de alimen-tação. A desapropriação do imóvel e a obra custaram aos cofres da PCR aproximadamente R$ 3 milhões.

Os comerciantes cadastrados as-sinaram um termo de compromisso com a PCR contendo algumas re-gras de utilização do novo espaço. Os locatários que serão instalados no Centro de Comércio têm a responsa-bilidade de manter sua área limpa, podendo receber multas em caso de descumprimento.

Também estão em obras a cons-trução de novos pátios de comércio popular dos bairros de Nova Desco-berta e de Afogados. Todo o trabalho de cadastramento do comércio infor-mal nos largos comerciais foi realiza-do em 2013. Já foram realizadas ações de ordenamento na Avenida Conde da Boa Vista, Ponte de Ferro, Rua da Palma e Praça Dom Vital, no centro do Recife, e em largos comerciais dos bairros de Beberibe, água Fria, Afogados, Casa Amarela, Nova Des-coberta e Jordão. A Secretaria de Mo-bilidade e Controle urbano (Semoc) realiza reuniões periódicas com os comerciantes informais cadastrados para estudar melhorias.

lantes que trabalhavam na Avenida Beberibe, na Estrada dos Remédios, na Rua Padre Lemos e no Entorno do Mercado de água Fria.

“Os largos comerciais de Casa Amarela, água Fria, Beberibe, Nova Descoberta e Afogados são alguns dos que mudaram da água para o vinho. Localizamos nesses lugares sérios problemas de mobilidade, que gera-vam grandes retenções de veículos por causa da ocupação desordenada dos comerciantes. Fizemos um pro-grama longo, que está em processo de entrega em vários desses espaços”, afirmou o secretário de Mobilidade e Controle urbano da Prefeitura da Ci-dade do Recife, João Braga.

Ele destaca, por exemplo, a mu-dança que aconteceu em Nova Des-

reorDenaçãovárioS lArGoS muniCipAiS rECEbErAm intErvEnçõES DA prEfEiturA, quE mElhorArAm A mobiliDADE DAS pESSoAS

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cidadania

Mais criatividade contra a criseorganizações beneficentes realizam campanhas para compensar redução das arrecadações no ano de ajustes

As inituições filantrópicas estão entre as vítimas da crise que afeta a economia brasileira. No momento em

que os brasileiros estão apertando os cintos para atravessar os tempos di-fíceis, o corte ou a redução dos valo-res direcionados às ONGs tem exigido maior criatividade e esforço para que os serviços não sejam interrompidos. E mesmo com o período de contin-genciamento, algumas dessas entida-des seguem com planos de expansão.

uma das organizações que ino-vou em 2015 para garantir as suas arrecadações foi a Fundação Alice Figueira de Apoio ao Imip (FAF). No ano passado o Imip sofreu com atra-sos nos repasses de recursos do poder público. Ao mesmo tempo que fez redução dos gastos operacionais, a instituição promoveu ações como a 1ª Corrida IMIP e Avon contra o Câncer de Mama, show beneficente de Ivete Sangalo e o almoço no Restaurante Leite. "Lançamos mão dessas inicia-tivas para suprir as baixas na arre-cadação. Nosso marketing trabalhou forte para criar novas oportunidades de doação e tornar o nosso serviço mais conhecido da população", con-ta a presidente da FAF, Silvia Rissin. Ela percebeu também uma maior mobilização das escolas da cidade no lar Do nenen. quioSquE SoCiAl E o bAzAr São AlGumAS DAS AçõES DA onG

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envio de donativos. Para 2016, estão nos planos da FAF a criação do Ins-tituto de Oncologia. A construção do prédio e a aquisição de equipamentos demandarão R$ 99 milhões.

Atuando com crianças de 0 a 3 anos, o Lar do Nenen é outra insti-tuição que sentiu a crise econômica e teve que se mobilizar. Em 2015 a queda na arrecadação das doações mensais foi em torno de 25%. Tanto pessoas físicas como empresas dei-xaram de contribuir ou reduziram as doações no ano passado. Para mini-mizar esse quadro, a ONG trabalha com um bazar, que tem como prin-cipais clientes os moradores da Co-munidade do Cardoso. Para que essa iniciativa dê resultados, são neces-sárias novas parcerias com lojas ou indústrias para arrecadação de ítens para comercialização.

Outra ação do Lar do Nenen que trouxe resultados para a instituição foi a comercialização de artesana-to. Os produtos são confeccionados principalmente pelos familiares das crianças internas, que são capaci-tados para produção das peças. Os produtos entram em grandes feiras, como a Fenearte e Fenekids. Além desses espaços, através de uma par-ceria com o Shopping RioMar, a ONG ocupou ainda o quiosque social no

centro de compras com as suas peças.No final do ano, duas iniciativas

bem-sucedidas foram enviar boletos para os parceiros, solicitando uma doação especial para o Natal; e a dis-tribuição de peças publicitárias nos veículos de comunicação.

"Não ficamos de braços cruzados. A situação de ONGs como a nossa é sempre difícil, mas foi agravada neste ano. E esse trabalho não pode parar", afirmou Tuti Moury Fernandes, pre-sidente do Lar do Nenen. A ONG, que funciona desde 1978, cuida de meni-nos e meninas, em situação de grave risco social ou abandono, promoven-do sua proteção integral, facilitando sua reintegração familiar ou adoção.

Conectada à Junta de Missões Na-cionais, a Cristolândia, que trabalha na recuperação de dependentes quí-micos, também sofreu com as arre-cadações. Recebendo doações princi-palmente das igrejas, a instituição teve

cristolânDia. voltADA pArA AtEnDEr pESSoAS DE ruA E DEpEnDEntES químiCoS, A inStituição rECEbE DoAçõES prinCipAl-mEntE DAS iGrEJAS

que fechar por quase um ano o casarão da Boa Vista em que recebia diaria-mente pessoas de rua e em situação de vulnerabilidade social. Recentemente o espaço foi reaberto, na Rua Joaquim de Brito. Além dessa estrutura, a Cris-tolândia dispõe de um sítio em Pauda-lho, na Zona da Mata Norte, e outro em Paulista, na RMR. Ambos se destinam para recuperação de dependentes quí-micos. "Nos últimos meses houve um arrefecimento das doações, mas ainda não se trata de uma situação crítica. As igrejas, que são as nossas principais parceiras, estão contribuindo", afir-mou o coordenador da Cristolândia, o pastor Eliu Rodrigues.

serviço. Para fazer doações para a Fundação Alice Figueira, você pode entrar em contato pelo telefone: 2122-4704. Para ajudar o Lar do Ne-nen, ligue para 3228-0123. O contato da Cristolândia é 9517-5875.

imiP. A funDAção AliCE fiGuEirA promovEu umA CorriDA bEnEfiCEntE, quE mobilizou mAiS DE 1,5 mil CorrEDorES no rECifE

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baião de [email protected] Freire

o cÉrebro Haja complexi-dade: o cérebro humano tem 86 bilhões de neurônios quepodem formar 100 trilhões de conexões. Se fosse possível criar um computador com o mesmo número de circuitos do cérebro, ele consu-miria uma fantástica quantidade de eletricidade de 60 milhões de watts por hora. Isso equivale a quatro usi-nas de Itaipu trabalhando sem parar.

DesPerDício Projeto aprovado na França proíbe os supermercados de jogar fora os alimentos que não forem vendidos. As em-presas são obrigadas a fazer doações e com os produtos ainda dentro do prazo de va-lidade. Quem d e s c u m p r e leva uma multa de 75 mil euros.

vaGina

O nome dela é proibido. O cheiro é um tabu. Existem mulheres que nunca tiveram a coragem de encará-la nem pelo reflexo de um espelhinho. Por muitos anos ela foi cienti-ficamente ignorada, teve suas características minimizadas e foi tratada como um pênis que não deu certo ou virado de cabeça pra baixo. Mas com o passar do tempo ela foi ga-nhando a atenção que merece e tornou-se objeto de pesquisa de diversas áreas da ciência. Sabemos hoje que ela tem 8 mil terminações nervosas, 50 espécies de micro-organismos e uma ligação concreta com o cérebro. Tome nota: as mulhe-res gozam depois de 10 ou 20 minutos de penetração. O or-gasmo dura de 5 a 8 segundos. Na masturbação, leva a mu-lher ao prazer em 4 minutos. Os apelidos da vagina são mais de 4 mil: periquita, perereca, perseguida, xereca, pombi-nha, tabaca, xoxota. Mas o insuperável é BOCETA. Esse é mais popular, famoso e co-nhecido do que o oficial..

suicíDio

Anote aí: são 804 mil suicídios por ano no mun-do. uma pessoa faz a opção pela morte a cada 40 segundos. No Brasil são 11.821. Os homens se matam mais: 9.198 anualmente, e as mu-lheres, 2.623. A decisão de morrer vem sempre num lampejo. Porém, como todo ato impensado e repentino, não é muito difícil convencer uma pessoa disposta a morrer a mudar de ideia. Tome nota: a ocasião faz o suicida.

Pense nisso

“Uma mágoa não é motivo para outra mágoa. Uma lágrima não é motivo para outra lágrima. Uma dor não é motivo para outra dor. Só o riso, o amor e o prazer merecem revanche. O resto, mais do que perda de tempo...é per-da de vida.” Desconhecido

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João Alberto [email protected]

brilho Feminino 

Sílvia Wanderley é um dos grandes destaques da nossa vida social. Sempre elegante, é presença sempre presente nos grandes eventos da nossa cidade. E tem também in-tensa atuação no nosso mundo empresarial, comandando um estudo de criações de joias exclusivas, com bonito ate-lier no Empresarial Italo Renda.

em WashinGton

O comandante Luiz Cláudio Lázaro Dias, que deixou a Ca-pitania dos Portos de Pernambuco, vai atuar no Colégio Interamericano de Defesa, em Washington.

herDeiroGabriel Nóbrega, filho do mestre Antônio Carlos Nóbrega, herdou seu talento. Pianista, ele se apresentou com o pai, dos 10 aos 23 anos. Depois, iniciou carreira de diretor de filmes de animação. Seu curta-metragem Guerra ao Dru-go foi indicado ao London International Awards.

sem Data

Parece que subiu no telhado, como se costuma dizer, o projeto do ex-jogador holandês Seedorf de abrir filial do seu restaurante Mooshi Moosh na Reserva do Paiva. A propósito, a matriz de Milão está sendo processada pelo fisco italiano, por sonegação.

internacional 

Grandes estrelas internacionais comoThe Rolling Stones, Coldplay, Maroon 5, Iron Maiden, Demi Lovato e Nick Jo-nas desembarcam no Brasil neste primeiro semestre para shows no Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. Recife, in-felizmente, não entrou no roteiro de nenhuma das turnês.

Pezão 

Carlos Pezão, vai levar o conceito da praia para espaço em Casa Forte, localizado na Estrada das ubaias. Vai funcio-nar como um novo bar com referências praianas.

o herDeiro De eDuarDo camPos       João Campos é o herdeiro natural de Eduardo Campos. E tem brilhado como orador, em vários eventos pelo Estado, sem-pre lembrando o pai. Seu nome tem sido lembrado para vários cargos políticos, mas sua tarefa atual é concluir o curso de en-genharia, o que deve acontecer neste primeiro semestre.

sílvia WanDerley

João camPos

Ganho

O ditado de que a água só corre para o mar é comprovado pelo bilionário Abílio Diniz. Quando saiu do Grupo Pão de Açúcar, vendeu suas ações por R$ 108. Hoje, elas valem apenas R$ 39.

Lulu

Pinhe

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João Alberto O que secomenta...

... por aí

QuE infelizmente estão crescendo os assaltos no calçadão de Boa Viagem.

QuE uma grande rede nacional de aca-demias de ginásticas pretende comprar algumas unidades pequenas na cidade.

QuE o projeto do Arco Metropolitano está totalmente fora dos projetos viáveis para os próximos dois anos

QuE Holanda e Alemanha serão os des-tinos do Voo dos Amigos do Porto neste ano.

QuE não existe a menor previsão para a reabertura do Teatro da uFPE

FernanDo e JaQueline morais

DestaQue na carDioloGia

Seguindo os caminhos do pai, o mes-tre Carlos Moraes, Fernando Moraes se destaca como um dos grandes no-mes da cardiologia pernambucana. E está sempre viajando pelo mundo, em busca de especialização em encontros internacionais da sua especialidade.

acessibiliDaDe

Recife e Olinda ficaram caren-tes de bons teatros. E o pior é que o maior deles, o Teatro Guararapes, é praticamente inacessível para idosos e ca-deirantes. As escadas são lon-gas e não há rampas que facili-tem o acesso aos assentos.

boa iDÉia

Sérgio Xavier defende a pro-posta da ecocicleta, uma ini-ciativa da Secretaria de Meio Ambiente, que vai substituir as indignas carroças de lixo por bicicletas com depósito acoplado para acondicionar o material reciclável coleta-do pelos catadores nas ruas da nossa cidade.

Robe

rto Ra

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memória pernambucana

Reflexões pós-carnavalescasClídio nigro, um carnavalesco sem ser folião, imortalizou sua produção musical com o frevo olinda nº 1

marcelo Alcoforado

Mais um Carnaval se foi, levando consigo os qua-tro dias de alegria con-tagiante. Nas ruas, hoje

desnudas de confetes e serpentinas e órfãs de sorrisos escancarados, ecoam – ainda bem que o melhor de tudo não se foi – os acordes dos nos-sos frevos mais belos. Vassourinhas, por exemplo, de Matias da Rocha e Joana Batista Ramos, composto há mais de 100 anos, até hoje incendeia ruas e salões, parecendo trazer mais energia ao folião.

A arte de Levino Ferreira não dei-xa por menos, com sucessos do naipe de A cobra está fumando, Diabo sol-to, Retalhos de saudade, e tantos ou-tros sucessos. Lídio Francisco, mais conhecido como Lídio Macacão, ou ainda como O Conde de Guadalupe (bairro olindense), se faz presente com Escama de peixe, Três da tarde e Condessa, exibindo a indiscutível qualidade característica da sua obra.

O que dizer de Zumba, havido pelo sociólogo Gilberto Freyre e pelo maestro Guerra Peixe como um dos maiores compositores do frevo per-nambucano, ombro a ombro com Ca-piba e Nelson Ferreira? Zumba, que em 1972 compôs seu último frevo,

Alegria do Nordeste, sucesso do Car-naval daquele ano, teve cerca de 100 músicas gravadas.

Como se vê, foram e são incon-táveis os nossos compositores de frevos, como Toscano Filho, Edson Rodrigues, José Bartolomeu, Lourival Oliveira, Raul e Edgar Morais, Levi-no Ferreira, Severino Araújo, Getúlio Cavalcanti, J. Michilis, Heleno Rama-lho, isso sem falar dos consagrados Capiba, Nelson Ferreira, Luiz Bandei-ra, Irmãos Valença...

Se você não conhece, tenha o prazer de conhecer mais um excep-cional compositor pernambucano: Clídio Nigro. Para começar, saiba que ele é o autor de um vasto repertório, incluindo o frevo Olinda n°1, hino do bloco Elefante de Olinda, trans-formado, pela suprema vontade do povo, no hino do Carnaval olindense, tão logo foi composto, em 1954. Não lembra? Vai lembrar agora. A última estrofe é esta: Olinda! | Quero cantar | A ti, esta canção, | Teus coqueirais, | O teu sol, o teu mar | Faz vibrar meu coração | De amor a sonhar | Minha Olinda sem igual, | Salve o teu Car-naval.

É música tão importante, que Chi-co Buarque, que passava o carnaval

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aqui, ao escutar a multidão cantando a música em uníssono exclamou: Isto é que é o verdadeiro compositor po-pular. Olha, o povo inteiro cantando a música!

Curiosamente, Clídio Nigro não foi sempre um compositor de frevos. Suas primeiras composições datadas de 1937, foram valsas, canções, sam-bas e até música orfeônica, chegando à Escola Cantorum São Pedro Mártir, em Olinda. A partir dos anos 1940, no entanto, dedicou-se integral-mente ao frevo, enriquecendo com suas inspiradas composições a alegria dos clubes, dos blocos e das troças do carnaval olindense.

Foi assim que Clídio Nigro tornou--se um carnavalesco sem ser folião.

Mas voltando ao Hino do Elefante, apesar de a canção ser uma das mais ouvidas ano após ano, pouca gente sabe que seu nome primordial é Olin-da nº 1 e tem uma história curiosa.

Chegou a ser oferecida ao grupo rival, Pitombeira dos Quatro Cantos, que não a aceitou.

Sabe como foi que a música cum-priu seu destino de ser um clássico carnavalesco? Clídio Nigro e os pri-mos fundaram o bloco Elefante, que incorporou o frevo, e assim nasceu o hino carnavalesco da cidade de Olin-da.

Mas a consagrada canção tem ou-tra história curiosa, que até parece pautada no realismo fantástico, posto ser fruto de uma parceria inusitada. A letra foi criada por um músico que também era escrivão criminal, en-quanto a melodia – eis algo beetho-veniano – resulta de parceria com o poeta surdo Clóvis Vieira.

Conheça a trajetória desse talento tão vasto.

Quando criança, Clídio Nigro to-mava aulas de piano duas vezes por semana. Sua sensibilidade era tanta,

que o fez expandir, em pouquíssi-mo tempo, sua criatividade musical. Logo ele se tornou capaz de compor de ouvido, sem subordinação à teoria musical. Talento abundante, desde muito cedo, com um grupo de jovens como ele formou um pequeno regio-nal e com ele chegou a se exibir na Rádio Clube de Pernambuco, o veícu-lo de comunicação de maior impor-tância naquela época.

Criador ímpar, legou à posterida-de uma obra variada, destacando-se a marcha de bloco Marim dos Caetés, homenagem à sua Olinda, o frevo de rua Cinquentenário de Vassourinhas de Olinda, Banho de Conde, e tantos outros frevos. Autêntico homem dos sete instrumentos, tocava piano, to-cava bandolim, tocava violão, tocava cavaquinho, e vez por outra, também tocava pistom. Mesmo assim, apesar de tanto talento, de tanta versati-lidade, Clídio Nigro era um homem extremamente simples, um pai de família calmo, caseiro, e profissio-nalmente um modesto escrivão do cartório de Olinda.

Falecido no dia 22 de setembro de 1982, aos 73 anos de idade, Clídio Nigro teria, segundo sua filha Cleo-nice Nigro, enviado uma mensagem psicografada nestes termos: Tudo não passou de um sonho o meu caminhar na vida. Caminhos tão serenos, numa existência tão querida. Encontro a realidade e vivo novos sonhos, subli-mes e tão lindos, quem me dera nova vida.

Quando se aproximava aquele 22 de setembro, já soando ao longe os clarins da hora da partida, os blocos, sabendo que ele estava seriamente enfermo, todos, passavam em frente à sua casa, e reverenciavam o invul-gar olindense. Ele ficava na janela vendo os blocos que o cumprimenta-vam com seus estandartes, e as lágri-mas transbordavam dos seus olhos.

Na bela Marcha da quarta-feira de Cinzas, os autores, Vinicius de Moraes e Carlos Lyra, dizem que acabado o Carnaval ninguém ouve cantar can-ções...

Pois em Pernambuco, e não só no Carnaval, a música de Clídio Nigro é ouvida e sentida, como que Olinda esteja ao mesmo tempo cantando e pranteando o seu filho tão ilustre.

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Aproveitei o Carnaval para co-nhecer a Cidade do Panamá e o famoso canal sobre os quais já tinha ouvido muito boas refe-rências. Com a facilidade do voo direto pela Copa Airlines, do

Recife para lá, e do roteiro cuidadosamente ela-borado pelo companheiro do Observatório do Recife e do INTG, o panamenho Rubén Pecchio, desembarcamos na cidade mais imponente da América Central.

Considerada a “Dubai latino-americana” pela quantidade e pelo tamanho dos seus edifí-cios à beira mar, os mais altos do subcontinen-te, a Cidade do Panamá, de fato, impressiona. Antes do colosso de engenharia que é o canal interoceânico que completou 100 anos em 2014, chama logo a atenção do visitante a Cinta Cos-teira, um parque linear na Av. Balboa, na costa do Pacífico, recém-inaugurado, com calçadão, ciclovia de 3,5 km, jardins, playgrounds, áreas para eventos ao ar livre, obras de arte etc., mui-to bem frequentado no final da tarde, quando a temperatura ambiente reduz-se para abaixo dos 30 graus (chega aos 35 graus durante o dia nesta época do ano). Trata-se, de fato, de algo que se pode chamar, sem problemas, “de pri-meiro mundo”.

Todavia, o que logo me chamou a atenção, depois desta boa primeira impressão, foi o de-plorável estado das calçadas locais. Na própria Avenida Balboa, do outro lado do parque li-near Cinta Costeira, logo à frente dos grandes

A Calçada do Panamá

Consultore arquiteto

tendem que civilização e desenvolvimento não são apenas edifícios modernos e avenidas largas e bem cuidadas (a Av. Balboa, na frente das cal-çadas deploráveis, tem 10 pistas para veículos automotores). Mas também, e principalmente, a relação que se estabelece com a via pública, na área de contato com ela (em muitos casos, na frente dos prédios, existem enormes estacio-namentos que, não raro, invadem as calçadas), e a atenção que se dá ao pedestre, o agente mais frágil do trânsito. É por isso que somos conside-rados subdesenvolvidos já que não entendemos um óbvio deste tipo. Infelizmente, o Panamá e o Recife ainda têm muito a avançar para virem a ser consideradas cidades minimamente desen-volvidas.

[email protected]

Civilização e desenvolvimento não são apenas edifícios modernos e avenidas largas

e modernos edifícios, as calçadas chegam a ser piores do que os piores trechos da nossa Av. Conselheiro Aguiar, que são bem ruins pelos padrões civilizados. E o que é mais grave, como uma espécie de maldição que me persegue, cheias de carros estacionados em cima... Con-fesso que fiquei triste.

Não compreendo como as pessoas não en-

Francisco cunhaúltima página

Entrada + Prato Principal + Sobremesa + Café

ÇaÇaÇ VaVaV apapa rprp erer sese eses nene tntn atat

As 4 Maravilhasdo Mund

ApenasR$38,Segunda a sexta.

Só no almoçob i s t r ô b i s t r ô m o d e r n e

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33Algomais • Fevereiro/2016

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016_CURSOS INTG_anuncio4_Algomais.pdf 1 05/02/16 12:52