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ATUALIDADES 26 REVISTA ABECS Mais comodidade e eficiência Lojistas e consumidores enumeram as vantagens do fim da exclusividade Texto Marcelle Souza Fotos Zé Gabriel om o fim da exclusividade entre bandeiras e creden- ciadoras de cartões, o mer- cado já começa a sentir as vantagens de um dos pontos mais im- portantes do Código de Ética e Autor- regulação da Abecs. A interoperabili- dade entrou em vigor em 1 o de julho e permite que o lojista aceite cartões de várias operadoras em uma única má- quina. Diante da mudança, clientes e comerciantes citam a praticidade, o estímulo à concorrência no setor e o aumento da possibilidade de uso de apenas um terminal como alguns dos aspectos positivos dessa recente revo- lução no mercado. Até o primeiro semestre deste ano, a maioria dos comerciantes contava com, pelo menos, dois terminais: o da Redecard, que só aceitava a bandeira MasterCard, e o da Cielo, que passava cartões Visa. Só que a exclusividade fazia com que as duas credenciado- ras representassem cerca de 90% das transações com cartão no país. Desse modo, além de pagar pelo aluguel de

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Mais comodidade e eficiênciaLojistas e consumidores enumeram as vantagens do fim da exclusividadetexto Marcelle SouzaFotos Zé Gabriel

om o fim da exclusividade entre bandeiras e creden-ciadoras de cartões, o mer-cado já começa a sentir as

vantagens de um dos pontos mais im-portantes do Código de Ética e Autor-regulação da Abecs. A interoperabili-dade entrou em vigor em 1o de julho e permite que o lojista aceite cartões de várias operadoras em uma única má-quina. Diante da mudança, clientes e comerciantes citam a praticidade, o estímulo à concorrência no setor e o aumento da possibilidade de uso de apenas um terminal como alguns dos aspectos positivos dessa recente revo-lução no mercado.

Até o primeiro semestre deste ano, a maioria dos comerciantes contava com, pelo menos, dois terminais: o da Redecard, que só aceitava a bandeira MasterCard, e o da Cielo, que passava cartões Visa. Só que a exclusividade fazia com que as duas credenciado-ras representassem cerca de 90% das transações com cartão no país. Desse modo, além de pagar pelo aluguel de

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cada uma das máquinas, o proprietário repassava de 2% a 5% do valor da compra para a credenciadora. “Agora está mais fácil. Temos a praticidade de nego-ciar essas taxas e podemos escolher passar o cartão pela empresa que liberar mais rápido o dinheiro”, afirma Luiz Carlos Galarraga, gerente da loja Aqua-base Aquapaisagismo, em São Paulo.

Segundo Maria Inês Dolci, coordenadora institu-cional da Pro Teste (Associação Brasileira de Defesa do Consumidor), a expectativa é a de que, com o au-

Agora está mais fácil. Temos a praticidade de negociar essas taxas e podemos escolher passar o cartão pela empresa que liberar mais rápido o dinheiro”luiz carlos Galarraga, gerente da loja Aquabase Aquapaisagismo

mento da concorrência, os lojistas con-sigam alíquotas menores e repassem essa redução aos compradores. “É im-portante que haja mais grupos atuando como credenciadores para estimular a competitividade do mercado, pois só assim haverá queda das taxas cobradas aos consumidores”, diz.

No entanto, para o presidente da CNDL (Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas), Roque Pellizzaro Junior, essa diminuição só deve acon-tecer em médio prazo. “Estamos em um período de maturação e, no pra-zo de 12 a 18 meses, estimamos uma redução média de 2% para os consu-midores”, explica.

Maria Inês Dolci afirma que a re-forma deve levar a outras discussões no setor, como o debate sobre a prática de cobrança de valores diferenciados no pa-gamento com o cartão. Do outro lado, o presidente da CNDL aguarda que o fim da exclusividade represente uma possibilidade real de o Brasil ter bandei-ras domésticas, o que pode significar a redução de custos para toda a cadeia.

PraticidadeEnquanto as associações aguardam

reflexos futuros da integração entre ban-deiras e credenciadoras, as mudanças reais já são percebidas no balcão dos es-tabelecimentos. Gustavo Brusca, chef e proprietário do restaurante Horta & Bistrô, na capital paulista, destaca que a alteração no sistema dos terminais foi automática. Ele conta que já fez contato com a credenciadora para ficar com ape-nas uma máquina e que isso deve deixar o sistema de cobranças mais prático.

Na lanchonete Villas Burguer, também

No comércio, a mudança no setor de cartões está sendo bem avaliada. Na página ao lado, o chef Gustavo brusca, do Horta & bistrô: sistema mais prático

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A mudança é boa porque podemos pagar um aluguel só. Mas eu prefiro esperar um pouco para ficar com apenas uma máquina”christine remor Olivo, dona de salão de beleza

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Estou passando os cartões nos dois terminais e não vi problemas. Hoje tenho opção. Se um dos dois ficar sem sinal, posso usar o outro”eduardo Oliveira, da Temer Importadora

em São Paulo, o gerente Reginaldo Frei-tas garante que a mudança foi positiva. “Está mais fácil, mais ágil. Recebemos visitas de funcionários das empresas para saber se as máquinas estão funcionan-do direito ou se temos alguma dúvida”, diz. Para o comerciante Eduardo Oli-veira, da Temer Importadora, também não tem reclamações a fazer. “Estou passando os cartões nos dois terminais e não vi problemas. Hoje, tenho opção. Se um dos dois ficar sem sinal, posso usar o outro”, defende.

Para os consumidores, o fim da ex-clusividade também trouxe vantagens. “Já deixei de comprar em alguns luga-res porque não aceitavam o meu car-tão. Agora, acredito que vai diminuir aquela preocupação em perguntar, an-tes de se sentar à mesa, se o restaurante aceita ou não o meu cartão”, fala o designer Deiverson Ribeiro. “Acho que todo mundo ganha com isso. A velo-cidade do atendimento é mais rápida, além de a empresa conseguir oferecer todas as bandeiras em um único apa-relho. Não precisamos mais ‘escolher’ o cartão para usar nesse ou naquele lu-gar”, afirma o advogado Jardel Mattos.

Mais eFiciêNciaConforme dados do relatório “Diag-

nóstico do Sistema de Pagamentos de Varejo do Brasil”, divulgado pelo Banco Central (BC), no último mês de junho, foi realizada, em 2009, uma média de 823 transações de cartão de crédito por terminal. Em relação aos cartões de dé-bito, a média foi de 831 transações por máquina. Esses números equivalem, respectivamente, a pouco mais de um terço e a, aproximadamente, um quarto

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MudAnçA dE SISTEMAPara viabilizar a alteração

na forma de pagamento, as credenciadoras investiram em adaptações. “Internamente, quase 50% do nosso efetivo foi deslocado para que fosse possível capturar outras bandeiras”, explica o presidente da Cielo, Rômulo dias. Assim, a novidade entrou em funcionamento de modo automático, com alteração nos softwares utilizados pela empresa. Segundo dias, apenas foram substituídos os terminais mais antigos, que não estavam habilitados a receber todos os cartões.

na Cielo, além das mudanças tecnológicas, a empresa tem se preparado para receber novos clientes, dispostos a reunir seu volume de vendas em apenas uma máquina. “Temos estratégias para atender desde as contas menores até as maiores, que chamamos de ‘corporate’. Isso porque, agora, os comerciantes têm a possibilidade de concentrar seu volume de vendas em um terminal, e nós podemos negociar produtos e serviços diferenciados”, afirma o presidente da credenciadora.

das médias encontradas nos países desen-volvidos. Segundo o BC, isso significa que os dados são indicativos de que a fal-ta de interoperabilidade entre as redes de terminais acabava causando ineficiência e, consequentemente, custos desneces-sários à sociedade.

“O fim da exclusividade é um dos fatores necessários à maior competitivi-dade no credenciamento. Em cenário de maior competição, os estabelecimen-tos poderão obter melhores condições e menores custos, a serem repassados aos consumidores finais. É o início de um processo para tornar a indústria de cartões mais eficiente no país, social-mente falando”, explica José Antonio Marciano, chefe do Departamento de Operações Bancárias e de Sistema de Pagamentos do Banco Central.

Segundo pesquisa realizada pela CNDL, 26% dos varejistas já estão usando uma única máquina para ope-rar cartões de diferentes bandeiras. O levantamento baseou-se em uma amostra de 100 lojistas do país, com exceção dos estados de São Paulo e do Paraná, e avaliou como os principais interessados na mudança reagiram às alterações em vigor desde 1o de julho.

De acordo com o presidente da Con-federação, Roque Pellizzaro, o resultado revela uma evolução positiva, mas que ainda não é maior por precaução, já que a mudança é recente. “A mudança é boa, porque podemos pagar um alu-guel só e, se não conseguimos a mesma taxa, podemos chorar um pouco junto às credenciadoras. Mas eu prefiro es-perar um pouco para ficar com apenas uma máquina”, diz Christine Remor Olivo, dona de salão de beleza.

segundo a cNdl, 26% dos varejistas já estão usando uma única máquina para operarcartões de diferentes bandeiras

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“Esse argumento, da precaução, não se justifi-ca. Isso porque nós temos duas principais credencia-doras que desempenham as transações com razoabi-lidade, da mesma forma com que realizavam quando tinham o contrato de exclusividade”, explica Roque Pellizzaro. Para ele, nesse momento é importante que

Está mais fácil, mais ágil. Recebemos visitas de funcionários das empresas para saber se as máquinas estão funcionando direito ou se temos alguma dúvida”reginaldo Freitas, gerente da lanchonete Villas Burguer

os comerciantes procurem as creden-ciadoras para escolher qual se encaixa melhor na realidade de cada estabeleci-mento. “A ideia é ter novos parâmetros para melhorar sempre o serviço presta-do”, conclui o presidente da CNDL.

“Vemos esse momento como pro-missor para o mercado de cartões, que deve continuar crescendo a taxas de dois dígitos. Aliás, a velocidade desse cresci-mento tende a ser maior ainda. Isso tudo é benéfico para o lojista e para o merca-do, que está mais competitivo”, afirma Rômulo Dias, presidente da Cielo. ■