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CUIDANDO DE QUEM CUIDA: O SUICÍDIO DO PSICÓLOGO-UM OLHAR PSICANALÍTICO Priscila dos Santos Lopes¹ RESUMO O presente trabalho trata-se de uma revisão bibliográfica ao qual se propõe mostrar algumas questões e circunstâncias que podem proporcionar até mesmo aos profissionais de psicologia o ato suicida e diante desses possíveis meios de cuidados para evitar tal consequência. Foram utilizados artigos científicos, pesquisas em sites, livros e uma revisão bibliográfica psicanalítica ao qual proporcionou um embasamento mais amplo sobre determinadas situações que podem estar ligadas ao desenvolvimento humano. Diante a tal circunstância compreende- se que o profissional deixa de ser aquele que cuida e se torna vítima das próprias questões humanas, tornando-se este o recebedor de cuidados. Palavras-chave: psicólogo (a), suicídio, prevenção, cuidados. ABSTRACT The present work is a bibliographic revision which proposes to show some questions and circumstances that can even provide ¹Acadêmica do curso de Psicologia da Faculdade Municipal Professor Franco Montoro e autora do referido trabalho.

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CUIDANDO DE QUEM CUIDA: O SUICÍDIO DO PSICÓLOGO-UM OLHAR PSICANALÍTICO

Priscila dos Santos Lopes¹

RESUMO

O presente trabalho trata-se de uma revisão bibliográfica ao qual se propõe mostrar

algumas questões e circunstâncias que podem proporcionar até mesmo aos

profissionais de psicologia o ato suicida e diante desses possíveis meios de

cuidados para evitar tal consequência. Foram utilizados artigos científicos, pesquisas

em sites, livros e uma revisão bibliográfica psicanalítica ao qual proporcionou um

embasamento mais amplo sobre determinadas situações que podem estar ligadas

ao desenvolvimento humano. Diante a tal circunstância compreende-se que o

profissional deixa de ser aquele que cuida e se torna vítima das próprias questões

humanas, tornando-se este o recebedor de cuidados.

Palavras-chave: psicólogo (a), suicídio, prevenção, cuidados.

ABSTRACTThe present work is a bibliographic revision which proposes to show some questions

and circumstances that can even provide psychology professionals with the suicidal

act and in view of these possible means of care to avoid such a consequence.

Scientific articles, website searches, books and a psychoanalytic bibliographic review

were used, which provided a broader basis on certain situations that may be linked to

human development. In view of this circumstance, it is understood that the

professional ceases to be the one who takes care and becomes a victim of their own

human issues, becoming the recipient of care.

Keywords: psychologist, suicide, prevention, care.

1. INTRODUÇÃO

¹Acadêmica do curso de Psicologia da Faculdade Municipal Professor Franco Montoro e autora do referido trabalho.

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O suicido como visto diante de pesquisas literárias, é o ato do indivíduo

proporcionar a própria morte de forma intencional, os fatores de risco incluem

perturbações mentais e/ou psicológicas como depressão, perturbação bipolar,

esquizofrenia ou abuso de drogas, incluindo alcoolismo e abuso de

benzodiazepinas. Outros suicídios resultam de atos impulsivos devido ao stress e/ou

dificuldades econômicas, problemas de relacionamento ou bullying, as pessoas com

antecedentes de tentativas de suicídio estão em maior risco de vir a realizar novas

tentativas. (SUICÍDIO. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia

Foundation, 2020).

O suicídio encontra-se entre as 10 primeiras causas de morte, sendo que por

cada suicídio ocorrem 11 tentativas sem sucesso. Cerca de 20% das pessoas que

tentam suicidar-se, se não procurarem ajuda especializada, repetem essa ação no

prazo de um ano, aumentando a probabilidade de eventualmente morrerem por

suicídio. Cerca de 10% de todas as tentativas de suicídio são mortais. Porém o

suicídio raramente é uma decisão repentina, apesar de amigos e familiares

conceberem esse acontecimento como algo completamente inesperado,

surpreendente ou até chocante. Na maioria dos casos, o suicídio é algo planejado –

a pessoa constrói um plano, estabelece uma data, define um método e pensa nessa

possibilidade ao longo de algum tempo, antes de tomar uma decisão definitiva.

(OFICINA DE PSICOLOGIA, 2008, Suicídio).

Através da realização de algumas leituras literárias pode-se observar um

aumento em relação ao ato suicida dentro do quadro psicológico, ao qual muitas

vezes deixam de ser expostos perante a sociedade. Segundo DeAngelis a morte de

um colega é difícil de imaginar. Mas os suicídios de dois psicólogos em 2008 - bem

como os dos famosos psicólogos Michael J. Mahoney, PhD, em 2006, e Lawrence

Kohlberg, PhD, em 1987 - levaram um comitê ad hoc da APA a examinar de perto o

que se sabe sobre isso perigo e o que a profissão pode fazer a respeito. No entanto,

vários estudos apoiam a ideia de que os psicólogos podem ter um risco elevado de

ideação e comportamento suicida em comparação com a população em geral,

concluiu a equipe. Uma pesquisa da APA de 2009, por exemplo, descobriu que 40%

a 60% dos psicólogos relataram alguma interrupção no funcionamento profissional

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devido ao esgotamento, ansiedade ou depressão. Além disso, os estudos de caso

sugerem que o suicídio de um terapeuta pode afetar profunda e negativamente os

clientes, enquanto outros estudos indicam que os psicólogos muitas vezes não são

suficientemente educados sobre as melhores maneiras de intervir com um colega

em dificuldades. (DeAngelis, T. (2011). Psychologist suicide. Monitor on Psychology,

42(10), 19).

Diante disso vale ressaltar que os profissionais são pessoas comuns e

possuidoras de sentimentos, sensações e pensamentos, como as demais e muitas

vezes não conseguem assimilar as situações vivenciadas e acabam optando pelo

caminho mais curto para alivio dessa dor e cometem assim o ato suicida como

solução. Porém é necessário compreender o contexto ao qual este profissional se

encontra para que possa assim buscar a melhor maneira de solucionar tais

questões, já que por sua vez este é possuidor de diversos conhecimentos baseados

em teorias as quais lhes proporcionam conhecer sobre o assunto e métodos de

prevenção, mais nem por isso estes vêm a ser imunes a este tipo de circunstância.

Segundo a OMS (2016):“Trata-se de um grave problema de saúde pública; no entanto,

os suicídios podem ser evitados em tempo oportuno, com base

em evidências e com intervenções de baixo custo, disse a

OPAS/OMS”.

Perante a isso é preciso que estes profissionais permaneçam em

supervisões, constantes estudos e faça uso da terapia, no qual formam assim o

conhecido tripé da psicologia, e consequentemente torna-se possível o cuidado e a

prevenção com a saúde mental desses profissionais que por sua vez encontram-se

na linha de frente dia a dia, recebendo as angustias, depressões e demais

transtornos advindos de seus pacientes em processo terapêutico.

O presente trabalho busca trazer à tona os possíveis motivos e causas do

suicídio destes e as precauções e cuidados que podem ser tomados pelos próprios

profissionais de psicologia, para evitar chegar ao ato suicida como uma das últimas

soluções e contribuir para que este cuide de sua própria saúde mental. A

metodologia utilizada será revisão bibliográfica.

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2. SITUAÇÕES PRESENTES NO ATO SUICÍDAUm suicídio nunca tem uma causa única ou isolada. O que se costuma

atribuir como a causa de um suicídio, é a expressão final de um processo de crise

vivido pela pessoa. Diversos estudos mostram que o suicida deseja livrar-se de um

sofrimento para o qual não está encontrando saída. Antes de chegar ao ato final, o

suicida já mostrou sinais e procurou ajuda para o seu sofrimento. A atenção a todo

este processo e a capacidade de lidar com o problema pode resultar em um

desfecho favorável. Como o suicídio está relacionado a múltiplos fatores (biológicos,

genéticos, psicológicos, sociais, culturais e ambientais), é necessário desenvolver

ações de vigilância, prevenção e controle de forma integral. Vários autores podem

contribuir para enfrentar o problema de forma conjunta, estabelecendo canais de

comunicação permanente, trocando informações, definindo metas e ajustando

condutas. São necessárias intervenções que envolvam profissionais da área da

saúde, assistência social, educação, justiça, mídia, políticas, segurança pública,

trabalho, de Organização não Governamental (ONG), além de lideranças religiosas,

comunitárias, entre outros (OMS - SUPRE, 2002). A ação conjunta dessas pessoas

é que constitui a rede de vigilância, prevenção e controle do suicídio. (MANUAL DE

BOLSO, Prevenção do suicídio e Promoção da vida).

Segundo Macedo (2007):

“O sofrimento e a tensão produzidos pelo superego são tão

intensos, que vendo-se sem esperança, com a perda da sua

autoestima, o ego se vê desamparado pelo superego e se

deixa morrer”.

A psicóloga Rosane Granzotto, do Conselho Federal de Psicologia (CFP), diz

que o suicídio é uma tragédia global, pessoal e também familiar. “Uma tragédia

silenciosa que, muitas vezes, é uma denúncia de uma crise coletiva. Toda morte fala

algo da sociedade em que ela ocorre. Por isso, precisamos pensar o suicídio como

problema de saúde pública e em criar políticas públicas que atendam essa

demanda”. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam o Brasil como

oitavo país do mundo em suicídios.

Granzotto explica ser necessário admitir que um aumento de 27,2% dos

casos de suicídio entre 1980 e 2014 implica considerar também os fatores [Digite aqui]

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socioeconômicos e culturais vivenciados pelos sujeitos contemporâneos, como a

competição e a perda dos vínculos afetivos. “Os vínculos afetivos e humanizados

vão se tornando cada vez mais frágeis. A falta de referências nos deixa à deriva,

pois tudo é passageiro e substituível e nós também somos. Estamos em um mundo

onde sequer somos vistos, pois estamos atrás de um aparelho nos comunicando

com ninguém”. (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. O Suicido e os Desafios

para Psicologia. Brasília, 2013)

Portanto pode-se observar que a questão afetiva tem uma ligação forte em

relação ao ato suicida porém é visível perceber no âmbito da psicologia que a

questão profissional também influência, já que estes vivenciam um intenso nível de

stresse ao qual não se consegue solucionar de imediato até mesmo pelo fato de

permanecerem em constante jornadas de trabalho, proporcionando assim um mal-

estar e com isso acarretando síndromes ou até mesmo transtornos.

Recentemente, o 'comprometimento do psicólogo' se tornou uma área de

interesse para a pesquisa (Smith & Moss, 2009), e há diferenças de opinião quanto

ao que o 'comprometimento' realmente se refere. Munsey (2006), por exemplo, fez a

distinção entre 'angústia' e 'comprometimento', segundo o qual angústia é 'uma

experiência de intenso estresse que não é prontamente resolvida, afetando o bem-

estar e o funcionamento ou perturbando o pensamento, o humor e outras problemas

de saúde que interferem no funcionamento profissional ', enquanto

comprometimento refere-se a' uma condição que compromete o funcionamento

profissional do psicólogo em um grau que pode prejudicar o cliente ou tornar os

serviços ineficazes '(Munsey, C. (2006). Helping colleagues to help themselves.

Monitor on Psychology, 37(7), p35.)

Com isso nota-se que existem diferentes causas que tornam o ato suicida

como forma de solução de problemas, porém algumas ganham mais enfoque por

ocorrem com mais frequência.

2.1. SUICÍDIO NA VISÃO PSICANALÍTICAA partir da psicanálise, o ato suicida é visto em algumas partes como um

evento onde a pulsão de morte vai prevalecer sobre a pulsão de vida, existindo

assim uma constante luta entre a vida e a morte, e apenas a última prevalece. Para [Digite aqui]

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Freud (1920), foi trazido a necessidade de se ter um equilíbrio entre essas duas

pulsões, onde a pulsão de morte estaria atrelada a serviço da vida, atuando assim

em movimento paralelo. Cassorla (1991) fala que a psicanálise vê a questão da

morte como se fosse um parto ao contrário, onde deseja-se o reencontro com a

mãe, em uma espécie de útero, este busca assim uma figura protetora, visando

assim o princípio de prazer. Dias (1991) fala sobre o ato suicida como um acting-out

ou atuação, como assim conhecido na psicanálise e esta ligado as expressão dos

conteúdos psíquicos advindos através de atos. (FREUD, Sigmund. As Pulsões e

suas vicissitudes (1915) in Obras Completas, Rio de Janeiro: Imago, 1969)

Em "Atos descuidados" Freud se refere às tentativas inconscientes de suicídio

camufladas sob a forma de acidentes casuais. Observa que em casos graves de

psiconeuroses, ocorrem frequentemente automutilações, como sintomas da doença,

que podem significar um aviso da possibilidade de suicídio. Segundo Freud os

danos auto infligidos são os resultados de um compromisso entre estes impulsos de

autodestruição e as forças que atuam contra eles. Tal tendência permanece

inconsciente e reprimida no indivíduo, operando paralelamente, à espera de um

motivo que se torne responsável pela intenção consciente de suicidar-se. (FREUD,

Sigmund. As Pulsões e suas vicissitudes (1915) in Obras Completas, Rio de Janeiro:

Imago, 1969)

Freud afirma que: “Nunca se pode excluir o suicídio como um possível

desfecho do conflito psíquico” (1901/1969, p. 181).

Diante a isso Macedo (2007) relata que o suicídio é uma agressão ao exterior,

e que este secundariamente se volta contra o ego, onde ao matar o sujeito

possibilita anular psicologicamente a perda do objeto e vingando-se assim do

ambiente ao qual provoca sofrimento aos outros, sendo assim diante de

experiências clinicas pode-se observar que o suicídio muitas vezes encontra-se

destinado a destruir a vidas dos sobreviventes e vêem esse ato como a única forma

de se vingar satisfatoriamente contra os pais, amigos e entes queridos. Contudo

este ato gera nas pessoas que os cercam extremo sofrimento, devido a passarem a

se sentir culpados e até mesmos responsáveis por de alguma maneira ou outra

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terem permitido, ou até mesmo não evitado o ato. (FREUD, Sigmund. As Pulsões e

suas vicissitudes (1915) in Obras Completas, Rio de Janeiro: Imago, 1969)

Para o autor Freud, em seu texto Luto e Melancolia, o suicídio teria relação

com a volta da destrutividade contra o próprio sujeito, onde existe um desejo de

matar um outro, porém como autopunição essa agressividade acaba voltando contra

si próprio. Sendo assim Macedo (2007), também coloca que para Freud, nenhum

neurótico abriga pensamentos suicidas ao qual não consistam em pensamentos

contra os outros e que acabam voltando contra si mesmo. Porém a energia

necessária para tirar a própria vida necessita estar vinculada com o desejo de matar

o objeto ao qual este se identifica e enquanto esse desejo de morte era orientado

para uma outra pessoa este acaba voltando assim para si. O suicídio é então uma

agressão ao qual está voltada para o íntimo, e contra um objeto de amor introjetado

e investido, com um desejo reprimido assim de matar a outra pessoa.

Segundo o autor, a tendência ao suicídio parecia inexplicável na medida em

que, anteriormente, se considerava o estado primitivo da vida pulsional ser um

grande amor do eu por si mesmo e o medo surgido diante de uma ameaça à vida

ser correspondente a uma quantidade de libido narcísica liberada. Diante desses

dois pontos, seria impossível compreender que o eu, tão preso e amoroso de si,

atentasse contra si próprio. Sobre esse processo de autotortura promovido pelo eu,

Lambotte (2000, p. 72) afirma que “o melancólico se esmera em matar o que o

estorva na ignorância em que ele se encontra da natureza de seu adversário”. Esse

sadismo que se dirige ao eu subjugado ao objeto é, então, um elemento essencial

às considerações de Freud sobre o suicídio. É ao conceber o retorno do sadismo ao

eu que Freud pôde sustentar a identificação ao objeto contra o qual atenta o eu em

sua ignorância que o torna vítima e algoz concomitantemente:“A análise da melancolia mostra agora que o ego só pode se

matar se, devido ao retorno da catexia objetal, puder tratar a si

mesmo como objeto – se for capaz de dirigir contra si mesmo a

hostilidade relacionada a um objeto, e que representa a reação

original do ego para com objetos do mundo externo (Freud,

1917 [1915]/1969, p. 257)”.

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O objeto triunfa sobre o eu e isso se dá pela via do amor e do ódio que sustentavam

a relação. Sobre o triunfo do objeto como via para o suicídio, Quinet (2006, p. 207)

destaca um deslocamento, visto que “não é mais pelo narcisismo, e sim pela própria

teoria pulsional e a identificação do sujeito ao objeto que ele [Freud] passa a explicar

o suicídio na melancolia”. O modo como Freud dispõe sobre a questão do suicídio

passa a incluir a dimensão do objeto; ou seja, o eu apenas atenta contra si na

medida em que ataca um objeto em si. Ao indicar a delimitação freudiana do suicídio

à melancolia, na medida em que este ponto de vista marca uma identificação radical

ao objeto, Charliac (2002, p. 210) afirma que “esta ideia foi tomada por Lacan em

seu Seminário – A angústia desde onde ele avança ao propor que a passagem ao

ato suicida, em particular na melancolia, encontra seu correlato em um deixar-se cair

do sujeito”. Assim, a identificação absoluta ao objeto encontrará, a partir de Lacan

(19621963/2005), uma aproximação com o deixar-se cair evidenciado pelo ato

suicida. Ao delimitar que a angústia não engana, ao contrário do significante, Lacan

(1962-1963/2005, p. 88) aponta que ela corresponde à certeza e que “talvez seja da

angústia que a ação retira sua certeza”.

Segundo Lacan:“Na melancolia, trata-se de algo diferente do mecanismo de

retorno da libido no luto e, por essa razão, todo o processo,

toda a dialética se constrói de outra maneira. O objeto, Freud

nos diz que é preciso – por que nesse caso? Deixo de lado a

questão – que o sujeito se entenda com ele. Mas o fato de se

tratar de um objeto a e de, no quarto nível [escópico], este se

encontrar habitualmente mascarado por trás da i(a) do

narcisismo, atravesse sua própria imagem e primeiro a ataque,

para poder atingir, lá dentro, o objeto a que o transcende, cujo

mandamento lhe escapa – e cuja queda o arrasta para a

precipitação suicida, com o automatismo, o mecanicismo, o

caráter imperativo e intrinsecamente alienado com que vocês

sabem que se cometem os suicídios de melancólicos (Lacan,

1962-1963/2005, p. 364)”.

Sendo assim para que haja o ato suicida é necessária a passagem, o

movimento para que o sujeito totalmente identificado ao objeto a acompanhe-o em [Digite aqui]

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sua precipitação. Desta feita, com toda a certeza provida pela angústia anterior à

cessão, o suicídio na melancolia pode ser pensado enquanto passagem ao ato.

2.2. O PROFISSIONAL PSICOLÓGO COMO PACIENTE SUICÍDAPerante a questão do suicídio dentro do âmbito psicológico ainda é

considerado, como um tabu e acaba nem ganhando ênfase. Diante de algumas

leituras literárias de Zortea (2015) notou-se que este assunto é considerado bem

delicado, pois envolve diversas questões nas quais nem são discutidas no decorrer

da formação em psiquiatria e também psicologia, porém se existe uma discussão

referente a este assunto é tratado isoladamente e não é representativo.

Contudo o conhecimento popular em relação a “ médico, cura-te a ti mesmo”,

também está vinculado ao campo conhecido como saúde mental ao qual acaba

alimentando e até mantendo escondido uma problemática ao qual envolve não só as

famílias, alunos, clientes mais até mesmo os próprios colegas. Em uma pesquisa

realizada sobre as reações dos pacientes diante a morte de seus terapeutas por

suicídio, tais pesquisadores como Reynold, Jennings e Branson (1997),

encontraram-se variados tipos de manifestações, dentre elas incluía-se a negação

referente ao tipo de morte acometido por este, alguns desses pacientes até mesmo

se recusavam em acreditar naquela possível causa de óbito, diante a isso

provocava nestes pacientes reações de muita raiva e consequentemente decepção

e uma descrença em relação a psicoterapia, causando assim episódios depressivos

e neste caso até a própria ideação suicida entre os pacientes. (ZORTEA, T. C. E

quando o psicólogo ou psiquiatra morre… por suicídio? Glasgow, 2015)

Segundo Zortea: “A pesquisa sobre suicídio entre esses profissionais é bastante

escassa. Não apenas pelo tabu em si; mas pela alta complexidade

envolvida no desenvolvimento deste tipo de investigação. Se a

pesquisa geral sobre comportamento suicida traz consigo

dificuldades (relacionadas ao sub-registro de casos, respostas não

genuínas às questões das pesquisas, por exemplo), as

complicações sobre o exame deste tema entre profissionais de

saúde mental são ainda maiores. Como pode um profissional

cuidar da saúde emocional de seu cliente se a sua própria não vai

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bem? Munsey (2006) sugere dois tipos de contextos envolvidos no

“mal-estar” de um psicólogo ou psiquiatra: a dificuldade e o

prejuízo. Na dificuldade, o profissional vivencia intenso stress não

prontamente solucionável, afetando seu bem-estar e

funcionamento, provocando interrupções no raciocínio, no humor e

em outras áreas da saúde. No prejuízo, o profissional passa por

uma situação mais intensa que compromete seu funcionamento

profissional a ponto de trazer mal-estar ao seu cliente ou tornar

seus serviços ineficazes. (ZORTEA, T. C. E quando o psicólogo ou

psiquiatra morre… por suicídio? Glasgow, 2015)”.

De acordo com o artigo publicado em uma revista conhecida como The

Psychologist da Sociedade Britânica de Psicologia no ano de 2012, o autor expos

algumas séries de dados referente e pertinentes sobre a questão do suicídio dentre

os psicólogos em um país desenvolvido como os Estados Unidos. O pesquisador

Deutsch (1985) fez uma descoberta em uma de suas amostrar com 264 alunos de

doutorado e mestrado, onde 2% relataram a tentativa de suicídio. Depois em uma

pesquisa com psicólogos há anos, Pope e Tabachnick (1994) relataram que 29%

reportaram suas ideações suicidas e que 4% confirmaram a tentativa de suicídio.

Foram encontrados certa de 425 profissionais do âmbito psicológico com sintomas

de depressão, isso é por conta de que a ideação suicida e a depressão caminham

juntos referente a esses profissionais, visto que a grande maioria se sente

sobrecarregado por conta da pressão por parte da sociedade, onde manifestam que

os psicólogos devem “Se manter congruente com o que prega”, além disso a outra

pressão por conta dos psicólogos é o fato de atender casos extremamente pesados

e não poderem compartilhar com qualquer pessoa ou preferem não compartilhar até

mesmo com os próprios terapeutas e isso sobrecarrega a mente. (ZORTEA, T. C. E

quando o psicólogo ou psiquiatra morre… por suicídio? Glasgow, 2015)

Em alguns outros estudos descobriram que trabalhar como psicólogo pode

aumentar a angústia por meio de uma variedade de possíveis 'riscos', como:

'comportamentos negativos do cliente, incluindo suicídio ou agressividade,

isolamento profissional e emocional, falta de sucesso terapêutico e exigência de

papelada e administração' (Norcross et al., 2007, p.37). Kleespies et al. (2011)

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falaram de outros possíveis fatores contribuintes para o 'comprometimento do

psicólogo' quando eles listaram: 'pressões associadas ao atendimento gerenciado,

demandas de papéis que mudam rapidamente em instituições e configurações

clínicas, diminuição do controle individual sobre o trabalho e aumento do tempo

necessário para a papelada e / ou tarefas administrativas '(p.248). (Patrick Larsson.

Psychologist suicide: Practising what we preach. Reino Unido, 2012).

Na condução do trabalho clínico, os psicólogos não são apenas expostos a

materiais e comportamentos desafiadores de seus clientes, mas também estão sob

intensa pressão para 'atuar' (Sherman & Thelen, 1998), e quando esses fatores são

acoplados à possível disposição do psicólogo de dificuldades de saúde mental,

particularmente depressão (por exemplo, Gilroy et al., 2002; Pope & Tabachnick,

1994), podemos ver como 'angústia' e 'comprometimento' podem resultar. É claro

que, na maioria das tradições terapêuticas, tem sido argumentado que psicólogos e

terapeutas podem usar sua própria saúde mental como base para seu trabalho

(Deutsch, 1985; Sherman, 1996). Comumente conhecido como 'curador ferido' (por

exemplo, Guggenbuhl-Craig, 1999), essa noção afirma que "os terapeutas são

motivados a se tornar curandeiros e fortalecidos em sua capacidade de empatia com

os outros por experiências dolorosas da vida que alimentam sua vulnerabilidade"

(Wheeler, 2007, p.245). No entanto, há dúvidas sobre quando essa fundação muda

de uma ferramenta terapêutica para uma presença mais prejudicial. Como Good et

al. (2009) apontam que o conhecimento e a experiência sobre a avaliação e o

tratamento de dificuldades de saúde mental em outras pessoas não

necessariamente levam à imunidade de seus próprios problemas de saúde mental -

ou à capacidade de resolvê-los. (Patrick Larsson. Psychologist suicide: Practising

what we preach. Reino Unido, 2012).

Diante das leituras realizadas é possível notar que esses profissionais deixam

de procurar ajuda muitas vezes por medo, receio de uma sociedade completamente

fechada, com uma visão sem nexo, mente pequena considerando estes profissionais

como pessoas imunes sem possibilidades de possuírem qualquer tipo de problema,

ou seja, pessoas anormais. Perante a esse tipo de pensamento da sociedade a qual

fazemos parte, os profissionais de psicologia acabam optando por não terem ajuda e

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assim não proporcionar a estes pacientes uma visão de profissional fajuto,

fracassado, sem credibilidade ou até mesmo um contraditor de suas próprias

crenças.

Segundo Deutsch (1985):“Ao mesmo tempo, o estigma e julgamento social envolvidos no

“mal-estar” do profissional pesa sobre ele como um fracasso:

“sou uma contradição! Ajudo na transformação da vida de

outras pessoas, as auxilio em seu desenvolvimento emocional

e comportamental, mas não posso ajudar-me!”. A busca por

ajuda pode ser interpretada pelo profissional que sofre como

humilhação e uma declaração aberta de seu suposto fracasso

ou incongruência. Sabe-se que uma das razões mais comuns

de psicólogos e terapeutas não admitirem sofrer depressão ou

ideações suicidas está relacionada ao medo da censura

profissional (Deutsch, 1985)”.

Portanto outros sugeriram que os psicólogos vêem 'bem-estar e prejuízo em

dualidades perigosas' (Good et al., 2009, p.21). Com isso, eles querem dizer que

muitas vezes existe uma divisão entre 'nós', os psicólogos e 'eles', os clientes - e que

isso pode levar a uma forma de negação sobre o estado de nossa própria saúde

mental e, de fato, a saúde mental dos nossos colegas. Smith e Moss (2009)

argumentaram que muitas vezes prestamos cuidados aos outros enquanto negamos

nossos próprios desejos e necessidades; frequentemente estamos na vanguarda do

tormento dos outros e nos conectamos com a depressão e o desespero deles;

grande parte do nosso trabalho pode ser realizada isoladamente, onde, devido às

pressões nos serviços, podemos ter tempo limitado com outras pessoas e poucas

pessoas que nos ajudam a entender as experiências difíceis de nossos clientes e

também as nossas.

Segundo (Sudak et al., 2008): “O suicídio ainda carrega consigo um grande estigma e levando

em consideração a escassez de pesquisas que examinam o

suicídio de psicólogos, pode-se argumentar que o estigma seria

ainda maior entre um grupo profissional cujo contato frequente

com clientes vulneráveis significa que eles devem ser percebidos

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como 'preparados para o trabalho' e não experimentando as

mesmas dificuldades que os indivíduos com quem trabalham”.

Porém vale lembrar que as questões internas também têm um significado

diante ao ato suicida. Em um trecho de uma entrevista que foi publicada no PSI,

Jornal do Conselho Regional de Psicologia do Estado de São Paulo (CRP-SP), no

ano de 2003, em que um dos responsáveis pelas questões de saúde mental da

Secretaria de Saúde do Município de São Paulo, Leon de Souza Lobo Garcia, diz o

seguinte: “[...] os fatores determinantes [do suicídio] são múltiplos e de interação

complexa”. Elementos esses que, inclusive, comumente são encontrados em todas,

salvo equívoco, as cartilhas de prevenção ao suicídio da Organização Mundial da

Saúde (OMS) e afins. E continua dizendo que “cerca de 90 % dos casos e 40% das

tentativas de suicídio estão associados a transtornos mentais, principalmente

depressão e abuso de substâncias psicoativas” (CRP--SP, 2003 p.17). Ou seja, ao

mesmo tempo em que se afirma que os fatores determinantes são múltiplos e de

interação complexa, na sequência, afirma-se que mais de 90% dos casos de suicídio

concretizados estão relacionados aos O Suicídio e os desafios para a Psicologia 19

transtornos mentais, à depressão e ao abuso de substâncias psicoativas.

Segundo Botega (2010):“Em 97% dos casos, segundo vários levantamentos

internacionais, o suicídio é um marcador de sofrimento psíquico

ou de transtornos psiquiátricos” (BOTEGA, 2010).

Quero ressaltar que, com isso, o sofrimento psíquico é algo da ordem da

vivência, algo da ordem da existência, todos nós mais hora ou menos hora, em

maior ou em menor intensidade, desenvolvemos sofrimentos psíquicos, o que não é

exatamente a mesma coisa no que se refere aos transtornos psiquiátricos. (O

SUICIDO E OS DESAFIOS PARA A PSICOLOGIA, 2013, p.19).

Sendo assim pode-se constatar que a questão do ato suicida dentro da

psicologia ainda precisa percorrer um longo caminho para que haja melhores

compreensões sobre o assunto e uma busca por meios que possibilitem esses

profissionais se sentirem amparados e seguros para procurarem ajuda necessária e

assim resolverem suas próprias questões, para que deste modo continuem no

caminho para contribuir de maneira significativa e positiva com seus pacientes.

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2.3. PRECAUÇÕES E CUIDADOS PARA EVITAR O ATOS SUICÍDAS

Refletir sobre Suicídio é também analisar por que este fenômeno tem sido

silenciado ao longo dos anos pela sociedade, autoridades responsáveis,

profissionais de saúde e familiares, camuflando assim um grave problema de saúde

pública no Brasil e no mundo (Botega, 2002). O fato é que este silêncio não ajuda, é

preciso abordar o suicídio de forma responsável e realística, para ajudar na

prevenção. Perante a essa situação é necessário que os profissionais de psicologia

busquem ajuda desde o início quando ingressam na formação acadêmica, até o

caminhar de sua jornada, já que estes passam grande parte de sua carreira sendo

receptores de angustias, depressões, ansiedade, transtornos mentais, entre outras

causas e com isso acabam trazendo para sua própria vida questões que eram

apenas presentes no setting de terapia.

Através de algumas leituras literárias realizadas do teórico DeAngelis foi

possível notar que existe medidas que possibilite com que os profissionais da saúde

tais como os psicólogos e psiquiatras consigam se prevenir diante as circunstancias

que o leve a cometer tal ato contra sua própria vida. Perante a isso seria de grande

importância existir tipos de treinamentos que tragam à tona os riscos e as

prevenções sobre o suicídio, porém este teria maiores chances de não ocorrer se

fossem incluídos desde o começo da formação acadêmica e na qualificação dos

profissionais da área mental, possibilitando assim com que estes não só consigam

trabalhar e gerenciar os comportamentos e pensamentos suicidas de seus pacientes

através de métodos de intervenções mais também os seus próprios. Sendo assim é

preciso ter consciência e entender que é necessário melhorar a questão de ensino

sobre as estratégias que serão utilizadas para possibilitar assim lidar com os

possíveis casos de morte dentro do próprio cenário psicológico de um colega, com

isso vale ressaltar que criar maneira de se obter suportes a estes profissionais é de

grande valia para que o índice de suicídio neste contexto venha a reduzir o

isolamento inerente que esta profissão trás.

Segundo DeAngelis (2011):

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"O suicídio de psicólogos, indivíduos com experiência especial

no comportamento humano, parece estar particularmente cheio

de desafios e suscita preocupações específicas da psicologia,

como a dúvida no valor da terapia", escrevem eles. "Identificar

riscos, reduzir o estigma associado ao reconhecimento de

desesperança ou desespero e superar outras barreiras à

intervenção são essenciais para reduzir a incidência de

suicídio".

Diante disso vale ressaltar que seria de grande valia programas de

assistência a estes profissionais em todo o mundo, possibilitando com que esses se

sintam acolhidos e seguros para expor suas frustrações, angustias, desgastes

profissionais, e obtenham ali dentro acompanhamentos, treinamentos para

conseguir desta maneira controlar os fatores para que diminua a potencialidade do

ato suicida.

Como visto em uma pesquisa no Colorado o psicólogo Jim Oraker iniciou seu

próprio programa pessoal de assistência a colegas, buscando aconselhamento e

treinamento corretivo, depois de chamar psicólogos que poderiam ajudá-lo. Anos

depois de sobreviver à provação profissional - envolvendo uma reclamação de um

cliente e um período de estágio solicitado pelo conselho de licenciamento de seu

estado - Oraker agora co-preside ao Programa de Assistência ao Colega da

Associação Psicológica do Colorado (CAP). Três ou quatro vezes por mês, uma

ligação de um psicólogo angustiado chega ao escritório de Oraker, encaminhada a

ele pela Associação Psicológica do Colorado. Às vezes, alguém que sabe que um

cliente está registrando uma queixa contra ele no conselho de licenciamento

estadual; outras vezes, é até mesmo o psicólogo enfrentando problemas pessoais

crescentes ou lutando com problemas comerciais e financeiros. Em um mês típico,

uma das ligações pode exigir a intervenção em grande escala do psicólogo sênior na

vida pessoal ou profissional de um psicólogo. Se for um problema pessoal, uma lista

de referências está disponível e a terapia pode ser agendada. Se for mais um

problema de negócios, um psicólogo sênior pode ser chamado para se encontrar

com o psicólogo sobre como se organizar melhor. Se um cliente registrar uma

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reclamação, o programa de assistência poderá ajudar o psicólogo a escrever uma

conta do incidente para arquivar no conselho de licenciamento estadual.

Segundo Oraker (2006):"Muitas vezes, nos encontramos em uma cafeteria e

começamos a conversar. A primeira entrevista é para acalmar

seus medos e garantir que temos pessoas que ficarão com

eles, diz ele”.

Oraker enfatiza que o programa não é apenas para psicólogos com sérios

problemas; ele geralmente serve para apoiar e ajudar psicólogos em todas as áreas

de suas vidas, pois problemas pessoais que se tornam esmagadores podem

prejudicar o trabalho profissional de um psicólogo.

Sendo assim nota-se que os cuidados são essenciais em nossas vidas, já que

para cuidar do próximo é preciso que cuidemos de nos mesmos primeiramente, pois

estando bem consigo obtemos um olhar ainda mais minucioso para tratar do outro.

Na psicanálise, dois autores destacam a função de reconhecer como agente

cuidador Winnicott (1971) e Kohut (1978), esta pode ser desdobrada em dois níveis:

o do testemunhar e o do refletir / espelhar, sendo que a segunda depende da

primeira: o espelhamento que não inclua o autêntico testemunho não poderá efetivar

a tarefa de reconhecimento, criando imagens falseadas e alienantes do self. Muitas

vezes, cuidar é, basicamente, ser capaz de prestar atenção e reconhecer o objeto

dos cuidados no que ele tem de próprio e singular, dando disso testemunho e, se

possível, levando de volta ao sujeito sua própria imagem.

Portanto é preciso que os profissionais de psicologia renunciem questões

fantasiosas, as quais possam atrapalhar seu desenvolvimento profissional e por isso

os cuidados advindos de outros com a sua saúde mental se torna tão importante,

pois através desses cuidados estes se tornam aptos a exercer as funções

adequadas de sua profissão.

Segundo (Figueiredo e Coelho Júnior, 2000):“Trata-se, enfim de renunciar às fantasias reparadoras maníacas:

é preciso saber cuidar do outro, mas também cuidar de si e...

deixar-se cuidar pelos outros, pois a mutualidade nos cuidados é

um dos mais fundamentais princípios éticos a ser exercitado e

transmitido”.[Digite aqui]

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Diante dessas circunstâncias nota-se o quão é necessário permanecer em

constantes cuidados, para melhores condições pessoais e êxito em relação aos

trabalhos oferecidos aos demais.

3. METODOLOGIAPara a execução deste artigo foi realizada revisão bibliográfica e análise de

produções acadêmicas sobre a temática citada produzidas no período

correspondente entre 10 e 20 anos, através de busca em diversos bancos de dados

virtuais como Scielo, Pepsic, Apa, a partir das palavras chaves: atos suicidas,

prevenções e cuidados. Também foram realizadas consultas ao Conselho Federal

de Psicologia (CFP), referente a temática atos suicidas. Devido a análise

psicanalítica feita, foi utilizado o exemplar da Edição Standart Brasileira das Obras

Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Foi também necessário buscar por

matérias midiáticos on-line de sites, revistas nacionais e americanas acerca da

temática dos atos suicidas e prevenções.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕESO objetivo deste artigo foi apresentar e discutir sobre as questões referentes

aos atos suicidas e as prevenções e cuidados dentro do âmbito psicológico, através

de estudos originais. Foi necessário compreender inicialmente as causas que levam

tais profissionais a cometer o ato e quais as precauções e cuidados podem ser

utilizados para evitar tais consequências.

Em decorrência notou-se que a questão abordada é silenciada e encoberta

pela sociedade, autoridades, profissionais do âmbito da saúde, para que não mostre

a verdadeira realidade em relação ao grave problema de saúde pública ao qual

acomete não somente ao Brasil mais o mundo, diante da questão sobre o suicídio

dos profissionais de psicologia ao qual vem crescendo desenfreadamente e

tomando proporções drásticas. Contudo percebe-se que esses profissionais

necessitam de preparações desde o início da caminhada, tais como os recursos

técnicos e pessoais e literários para um melhor manejo onde desta forma quando

deparar-se com situações que possam trazer malefícios a si e ao trabalho com o

próximo este consiga se sobressair de maneira adequada e positiva.

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Entretanto é preciso que se trabalhe as causas e as circunstâncias que levam

tais profissionais a idealizarem tais atos e o que isso pode ter haver com questões

passadas e presentes, para que este possa ter como solução tal hipótese. Por isso,

diante das contribuições de Freud e de demais autores psicanalíticos foi possível

identificar questões referentes as pulsões de vida e morte e o estado de luto e

melancolia e consequentemente a questão narcísica, aos quais podem estar ligados

aos possíveis motivos que levam estes profissionais a cometerem tal ato de tirar sua

própria vida. Porém vale ressaltar a existência das questões internas que também

possuem contribuições significativas a este tipo de ato, já que por sua vez falamos

de indivíduos que possuem sentimentos, pensamentos e emoções iguais a todos os

demais e podem estar passando por situações relacionadas a problemas de saúde

mental como transtorno mentais, depressão, uso de substâncias psicoativas,

perturbações mentais, alcoolismo entre outras questões, fazendo assim com que

este encontre-se em um sofrimento psíquico deixando de ser aquele profissional que

cuida e passando a ser um recebedor de cuidados, já que se analisarmos de modo

amplo todos estamos submetidos a passar por situações que venham a causar

malefícios a vida principalmente aqueles aos quais chamamos de profissionais da

saúde ou terapeutas.

Sendo assim é preciso que se faça uma análise de todo o contexto para que

se consiga obter êxito nos cuidados ministrados a estes profissionais.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao decorrer deste estudo e diante a ótica psicanalítica analisou-se que

possíveis situações referentes aos atos suicidas dos psicólogos, podem estar

ligadas a questões das pulsões de vida e morte, os estados de luto e melancolia e o

narcisismo, sendo essas relacionadas ao nosso desenvolvimento pessoal. Porém

vale ressaltar que no caso dos profissionais de psicologia é necessário que estes

tenham acompanhamentos como supervisões e terapias desde o início de sua

formação até o caminhar de sua carreira, fazendo assim com que este se conheça,

fortaleça e afine seu instrumento de trabalho ao qual conhece-se como a escuta,

para que possibilite que este venha a ter condições psicológicas e mentais para

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realizar um trabalho coerente e eficaz com seus pacientes deixando de ser envolvido

pelo que é trazido para o setting terapêutico.

Contudo buscou-se compreender a importância da prevenção e cuidados

para esses profissionais e como a questão social pode interferir neste processo pela

busca de ajuda e possibilitar assim o adoecimento severo destes profissionais da

linha de frente. Notou-se também o quão é importante que na própria formação haja

trabalhos e estudos específicos em relação aos atos suicidas, para que perante a

uma situação ou até mesmo diante de sua própria ideação este consiga ter o manejo

adequado para evitar tais circunstâncias.

Sendo assim por meio desta revisão bibliográfica o presente estudo se

apresenta como uma reflexão e discussão sobre um tema pouco abordado e que

necessita ser melhor trabalhado para contribuir com aspectos significantes e

resultados positivos diante do cenário ao qual encontramos.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASCONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. O Suicido e os Desafios para Psicologia. Brasília, dezembro, 2013. 1ª Edição. Disponível em:< https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2013/12/Suicidio-FINAL-revisao61.pdf>. Acesso em 29 ago. 2020.

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FONTE: Questão de Ciência.

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Em nota de rodapé: Disponível em:

https://www.revistaquestaodeciencia.com.br/index.php/artigo/2019/09/20/o-que-

dizem-os-numeros-sobre-suicidio-no-brasil

ANEXO B

Gráfico 4 – Número estimado de suicídios (Brasil, 2018-2020)

FONTE: Questão de Ciência.

Em nota de rodapé: Disponível em:

https://www.revistaquestaodeciencia.com.br/index.php/artigo/2019/09/20/o-que-dizem-os-

numeros-sobre-suicidio-no-brasil

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