Resumo Feridos Em Nome de Deus

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    FERIDOS EM NOME DE DEUS.RESUMO

    REDEJOVEM

    Somos chamados a ser discpulos de Cristo, e no de uma pessoa ou de um pastor. Aautoridade pastoral no pode descer ao detalhamento da vida pessoal. Em geral os

    pastores no tm formao adequada, seminrios formam seminaristas, e no pastores.Somente a vivncia humana e a experincia da jornada podem formar um verdadeiromentor espiritual. O lder religioso cuida de uma instituio. O mentor espiritual cuida depessoas. O lder cuida de oramento, de agenda, de programas e atividades. O mentor o pastor. Quando a palavra do pastor equiparada palavra divina, e o pastor permiteque se oua dessa maneira, isso implica abuso. O guia espiritual no um orculo.Quando ele se coloca no papel de orculo, certamente, em algum momento, vai cometerabuso. Toda vez que numa posio de servio aquele que serve o maior beneficiado,ento ele no est servido; est sendo servido. Ali existe abuso. O pastor autoridadesobre voc no que diz respeito ao governo da comunidade, nas no no diz respeito suaexperincia pessoal com Deus. Este o papel de Cristo: ser o nico mediador entre Deuse os homens. A nica mediao feita por Jesus Cristo. Faz parte da natureza humana atransferncia de responsabilidade. E a experincia espiritual no permite a transfernciade responsabilidade. Ningum se relaciona com Deus em nome de outro algum. Casaum se relaciona por si mesmo. Muitos sentem a necessidade de endeusar pastores eestabelecer com estes um relacionamento idlatra. Um pastor que abusou de suacomunidade precisa de tempo para refazer o seu caminho. Precisa submeter-se autoridade. Precisa tratar-se, aperfeioar-se, cuidar-se. Isso no acontece de um domingopara o outro com um pedido de perdo. Alguns, vivem prximo do lder, mas no sodevidamente cuidados, aconselhados e nutridos. A imagem do pastor ficou muitodesgastada por causa do espao ocupado na esfera poltica. Alguns passaram a ter um

    efeito farisaico em suas vidas: pregam sermes, mas vivem uma vida incoerente comeles, e as pessoas descobrem. Ento passam a ser vistos como hipcritas. Algunspastores que cometem abuso, raramente, tem conscincia ou a inteno de ferir. Namaioria das vezes, essas pessoas so at ingnuas quanto ao mal que esto causando.O cara no necessariamente um patife consciente. Muitas vezes, ele acreditasinceramente no que est fazendo. Como Hither. Lderes que cometem abuso esto emgeral obcecados por uma viso. Alguns, por acreditarem que o seu projeto a salvaodo mundo, no tem dificuldade em ferir quem quer que seja para atingir seus objetivos.Convencessem de que tem uma misso divina, e em nome dela esto disposto asacrificar os sujeitos. Pensam que quando o ideal maior que a pessoa, as pessoaspodem ser, sim, sacrificadas em nome dele. Essa a lgica do tirano, do abusador

    religioso. A igreja que passa pro cima de pessoas para implantar um reino no pode estarsob a liderana daquele que, temporariamente, abriu mo de um reinado para resgatarpessoas: Jesus. Muitos tero de prestar contas altas ao Senhor por venderem planospessoas como se fossem divinamente inspirados. Alguns ousam dizer: eu, ou ns,somos a ltima cartada de Deus para este sculo. H diferentes tipos de abuso religioso.Um deles o que se perpetua ao infundir o medo no corao dos fiis. A pregao dopastor insiste em que, se a ovelha no dr o dzimo, Deus mandar gafanhotosdevoradores para destruir a empresa do coitado. Esquecem que maldio sem causa noprospera como diz Provrbios. Existe o perigo do ensino da cobertura espiritual, quando older se sente em posio hierarquicamente mais alta, mais privilegiada, sente-se maistentado a controlar os que esto sob a sua tutela. Uma igreja saudvel, espiritual e

    emocionalmente, entende que o papel de todos os membros dividir os fardos, orar unspelos outros, repartir alegrias e pesares. No h privilegiados na hierarquia. Ho heleitos, superdotados da orao. Identificando o autor ou potencial autor de abusos:

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    cuidado com frases do tipo:voc no est na nossa viso. Se o Deus da bblia se deixaquestionar, por que o seu pastor no permitiria? Saiba distinguir quem est ganhado aglria por aquele milagre. Perceba se o programa mais importante que as pessoas, poisquando o importante o programa, as pessoas passam a ser pees a servio de umprograma. As pessoas tem medo do pastor? O pastor se comporta com cinismo diantedas aflies humanas. Observe se o pastor ama as riquezas. O amor ao dinheiro a raiz

    de todos os males. Observe se as pessoas s tem amizades circunstancias, ou seja, sso amigas se voc estiver na igreja delas, se sair, deixam de ser suas amigas. Observese a palavra da liderana vira lei. Nesse sentido, todo mundo vtima, inclusive os lideres,que so levados a pagar um preo altssimo, sendo forados a levarem uma vida semfalhas. Tornam-se onipotentes. Efeitos negativos so observados em minorias, em gruposmais radicais e em seitas. A igreja se esmera em imprimir neuroses nos cristos aoreforar o carter falso de um Deus legalista, que se relaciona com servos como seprecisassem sempre adestr-los. O modelo que prevalece o de uma servo serelacionando com seu senhor, e no o de um pai lidando amorosamente com seu filho.Pessoas submetidas a abuso espiritual costumam possuir uma f genuna, e se dedicama desenvolver uma cosmoviso transcendental na qual acreditam. Alguns crentes so

    criados numa atmosfera castradora, recebendo uma orientao religiosa inquestionvel,por que afinal no se questiona a Deus. Nesses ambientes, d-se nfase necessidadede reverncia figura do sacerdote, que deve ser visto como santo. Experincias deabuso de autoridade deixam cicatrizes, as pessoas so obrigadas a submeter tudo liderana eclesistica, pois no so capazes de avaliar por si mesmas o que certo. Avara era usada pelo pastor de ovelhas para conduzir, e no para espancar.Metaforicamente, para guiar, no para bater. A educao autoritria no admitenenhuma forma de desobedincia nem questionamentos. As pessoas ficam sempreinibidas de perguntar, de ter dvidas. Coloque o pastor no lugar da autoridade, e estepassa tambm a ser inquestionvel. Pessoas no se desligam da comunidade da qualfazem parte porque sentem medo das maldies, por exemplo, o pastor Arajo da igrejaJesus, a verdade que marca disse que quem sai de sua igreja entra em baixo de umamaldio. Em termos de governo, o neopentecostalismo vertificou a igreja. O lder forte notopo da pirmide, que no presta contas a ningum, que toma decises sozinho emquestes financeiras e doutrinrias, acaba tirando das pessoas a oportunidade defuncionarem como um corpo. Em tais circunstncias, os abusos se multiplicam. Algunslderes religiosos tem dificuldade de administrar o poder. Embora a igreja pentecostaltenha uma diretoria, com presbteros, o pastor fica no topo da pirmide e dificilmentepresta contas. Por ser um pas de enorme desigualdade social e com uma populao debaixo nvel de escolaridade, o Brasil seria solo frtil ara a proliferao de lderescarismticos que, em alguns casos, descambam em charlatanismo. A ausncia do

    Estado como criador de uma rede proteo social bsica vista por pesquisadores comofator-chave para o crescimento tanto dos cristos evanglicos no Brasil quanto dospastores abusivos. Para confrontar o pastor que abusa da Palavra em benefcio prprio, preciso conhecer a Bblia melhor do que ele. Existe muito uso de texto fora de contexto.No h regra que obrigue um pastor ser formado em Teologia ou Filosofia, muitospastores se auto ordenam, se auto intitulam bispos ou apstolos. Amam a multido, masno esto muito preocupados com indivduo. Nas igrejas protestantes histricas, e hojetambm na Assembleia de Deus, no se ordenam mais pastores sem que tenham umcurso de teologia. Nas neopentecostais, basta falar bem e ter desenvoltura paracandidatar-se ao cargo. Apesar dos escndalos, essas igrejas florescem. Talvez porque arelao dos fiis com a liderana no se d no campo da reflexo, mas da emoo. Os

    pentecostais so mais inclinados a sentir do que a refletir. Sentir suficiente paralegitimar toda a falcatrua. O que move parte da igreja evanglica brasileira, hoje, agrana. Na dcada de 70 as pessoas se convertiam e renunciavam a vida cmoda para

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    viver pela f, uma vida mais difcil, em nome do Evangelho. Hoje, o contrrio. Ser pastore abrir igrejas virou negcio. Por outro lado, a pastores que choram escondidos nosbanheiros, porque tambm sofrem maus-tratos. O projeto Timteo visa reunir pastorespara trocar experincias, conversar, desabafar e reaprender a relacionar-sefraternalmente entre iguais. A sade emocional dos pastores parece estar em linha com adas comunidades que pastoreiam. A causa de muitas das doenas emocionais do pastor

    evanglico pode estar em boa medida associada busca constante e inconsciente porser uma pessoa relevante num mundo que, no fundo, o menospreza. Muitos pastoresvivem sob a demanda de se tornarem significantes. So pastores num momento histricoem que o mundo no os v mais como pessoas importantes. No se trata de uma lutaconsciente, mas inconsciente. H uma demanda interior por destacar-se. Entre os cristespentecostais, ela se manifesta no formato carismtico da liderana, que se traduz por:Deus fala por meio de mim; sou um instrumento de Deus; tive um sonho, e Deus mefalou. Nas igrejas histricas, o desejo conquistar poder institucional. O sujeito prova suasignificncia quando consegue ser o presidente do presbitrio, do snodo, e passa aarticular sua vida em torno da posio institucional. Uma terceira via a procura prolegitimao social por meio de titulao acadmica. Todas essas trajetrias escondem

    uma profunda necessidade auto afirmao e um sentimento ocenico de inquietao. Opastor luta para provar-se significativo e digno para com os de fora, enquanto os dedentro, irmos e seguidores, o sobrecarregam com uma expectativa elevadssima de queele seja uma pessoa inerrante. Esse conflito gera ansiedade e depresso, levando oindivduo a entregar-se a caminhos obsessivos. Na busca por poder espiritual, ele recorrea prticas espirituais legtimas, mas exageradamente, como as oraes em fim,frequentes jejuns, espera de vises e profecias para transmitir platia. Por trs disso,existe um anseio: eu preciso ser revelante. A vertente acadmica no muito diferentedisso. Pastores que se permitem ser frgeis, que tratam suas emoes com delicadeza,que desabafam com seus pares, que se permitem falhar e no posam de semideusesparecem termenores chances de se transformar em autores de abuso. Eles aprendem alidar com as expectativas irreais de sua comunidade de forma realista, tendo conscinciade que a frustrao ser sua companheira de jornada. Hipcritas so levados por umdesejo compulsivo de parecer perfeitos. Esperam que todos os admitem e ningum osconhea de verdade. Judas e Pedro igualmente traram Jesus. Judas no conseguiuenfrentar seu lado obscuro; Pedro conseguiu. A vida de Pedro mudou, e a de Judaschegou ao fim. Nenhum dos dois desfechos foi uma reao automtica s circunstncias.Ambos decidiram que no podiam mais continuar a viver daquele jeito. As pessoasadoram que o pastor brinque de ser Deus. Pastores e igrejas precisam perceber que aconvivncia traz tona as limitaes. E, assim como no casamento, o segredo no atransformao do outro, mas o acolhimento dessas limitaes. Pastores costumam ser

    feridos quando a igreja os descarta em favor de outro mais jovem e dinmico. Igrejas soferidas quando o jovem pastor troca a comunidade por outra maior, com mais perspectivade crescimento e um salrio mais gordo. Os que sofreram abuso acabam ferindo aquelesque nunca delas abusaram. E isso produz uma cadeia de feridos. Temos igrejas ferindopastores , e pastores feridos ferindo igrejas. preciso descobrir um caminho de cura quealcance tanto a alma do rebanho quanto a de seus pastores. Uma pesquisa de LotufoNeto apontou que 47% dos pastores apresentam sintomas de distrbios psicolgicos,maior do que a encontrada na populao de So Paulo, onde a prevalncia detranstornos mentais para a vida toda foi 31%, 33% para homens e 29% para mulheres. Osprincipais diagnsticos encontrados foram transtornos depressivos (16,4%), transtornosdo sono (12,9%) e transtornos de ansiedade (9,4%). O que nos supre no tanto o

    adicional de conhecimento acadmico que obtemos nas aulas bblicas, mas poder falar eouvir o amigo relatar suas preocupaes, desabafar as aflies que estejamosexperimentando no trabalho ou na famlia e, no final, orar para que Deus possa nos ajudar

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    em nossas fragilidades e na falta de uma percepo acurada sobre a vida. Embora amaioria concorde que o convvio fraternal defina a essncia da caminhada crist,biblicamente, essa jornada tambm est inserida num contexto de submisso aautoridades pastorais assim mesmo no plural. A figura de um pastor nico como detentorde autoridade sobre pessoas no tem respaldo do Novo Testamento. A nica vez em quea palavra pastor usada no singular para se referir a Jesus. Em todas as demais,

    usada no plural, para indicar um grupo de ancies (presbteros) que zela pelo bem estarde toda a comunidade. Nesse caso, a autoridade de um pastor no dele, mas do grupode presbteros que ele integra e a quem est tambm sujeito. O pastoreio um dom euma funo, no tanto um cargo. O Novo Testamento enfatiza o pastoreio mtuo, detodos sobre todos. E nunca fala de pastor ou presbitrio no singular, mas sempre noplural. O pastoreio um dom espiritual exercido para aprimoramento da igreja (Ef. 4.11).A obedincia no pode ser cega e todo ensino deve ser confrontado com as verdadesbblicas., para evitar desvios de rota. No entanto, de nada vale estar inserido em umcontexto eclesistico formal sem estar conectado a amizades significativas. Os feridos

    por abuso espiritual precisam redescobrir relacionamentos em que haja cuidado amorosoe acolhimento. Experimentar, como em nosso pequeno grupo de sobreviventes, o

    conforto daqueles que se dispem a carregar os fardos uns dos outros, que sejamhospitaleiros, que ofeream companhia no religiosa, mas humana, mediada pelo EspritoSanto. Chamar para o caf, para ir ao parque, para ser companheiro. Jesus no noschama a templos; Ele entra e habita em ns, que somos feitos seu templo. Precisamosdescobrir relacionamentos teraputicos que nos nossos sofrimentos e transtornos nosdigam: conte com o meu silncio, conte com a minha amizade, conte com as minhasoraes. isso que cura as pessoas. Uma vivncia comunitria sadia envolve essadeliciosa cumplicidade. Mas implica tambm sujeio, pois todos erramos muitas vezes eprecisamos que nos relembrem por onde recomear. A independncia, dizem alguns, estna raiz do pecado original. A Bblia no deixa margem de dvida de que devemos nossubmeter aos nossos guias, uma confuso csmica teve origem justamente porque umanjo no foi capaz de se submeter. E nossos ancestrais seguiram-lhe o exemplo. Jesusquem nos resgata dessa insubmisso, ensinando-nos a dizer: seja feita a tua vontade, e ano a minha. O fato de haver tantos lderes doentes que no merecem ser seguidos nemobedecidos no muda o princpio.

    MARLIA DE CARMARGO CSAR.