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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ UFPR DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA DISCIPLINA DE PSICOLOGIA SÓCIO-HISTÓRICA I PROFESSOR VITOR SCHUHLI ALUNAS MAIARA ALVES E RAFAELA DOMINGUES 3º Período Turma A “BORBOLETAS DE ZAGORSK” Curitiba, maio de 2015

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAN UFPR

    DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA

    DISCIPLINA DE PSICOLOGIA SCIO-HISTRICA I

    PROFESSOR VITOR SCHUHLI

    ALUNAS MAIARA ALVES E RAFAELA DOMINGUES

    3 Perodo Turma A

    BORBOLETAS DE ZAGORSK

    Curitiba, maio de 2015

  • QUESTES

    1. Levando em conta o conceito de mediao, identifique as diferentes

    formas de mediao para a apropriao da cultura abordadas no

    documentrio Borboletas de Zagorsk, analise sua importncia e a relao

    dessas mediaes com o aprendizado e desenvolvimento humano,

    diferenciando desenvolvimento natural e cultural.

    Para Vigotski, a mediao o ponto central do desenvolvimento do homem

    como um processo scio-histrico. O homem possui acesso mediado ao

    conhecimento dos objetos. Os instrumentos - construdos socialmente - servem

    como mediao entre o homem e a natureza, transformando o objeto de acordo

    com suas necessidades; j os signos - tambm construdos socialmente - servem

    como mediao nas relaes sociais, entre homem e homem, os signos se orientam

    internamente, no desenvolvimento e reorganizao das funes psicolgicas

    superiores. O processo de mediao realizado atravs dos recortes do real

    operados pelo sistema simblicos que dispe. Assim, o conceito de mediao

    implica um processo de representao mental, em que o homem capaz de operar

    mentalmente sobre o mundo, tendo necessariamente algum tipo de contedo

    mental de carter simblico e, dessa maneira, seja possvel representar os objetos e

    situaes do mundo externo em seu mundo interno psicolgico. a cultura que

    torna disponveis ao sujeito sistemas simblicos de representao do mundo

    externo e por meio desses sistemas que o sujeito ordena, interpreta e d sentido

    aos dados do mundo externo, da realidade.

    Visto isso, foi possvel identificar no documentrio Borboletas de Zagorsk

    vrias formas de mediao. Uma dessas maneiras de mediao para a apropriao

    da cultura foi o ensino da linguagem manual para as crianas surdas-mudas, e

    tambm esse mesmo tipo de linguagem para crianas surdas e cegas, em que

    atravs do toque das mos podiam perceber os smbolos manuais feitos pela outra

    pessoa, tornando possvel a comunicao. Outra forma tambm interessante a

    leitura de vibraes da caixa de voz, tcnica utilizada para que o surdo-cego se

    comunicasse com pessoas que no conhecem linguagem de sinais. Nessa tcnica,

    a criana colocava suas mos sob a caixa de voz da professora e sob a sua prpria

  • caixa de voz, tendo a percepo das vibraes, a criana era capaz de reproduzir

    esses sons e assim se comunicar atravs da fala.

    Considerando aprendizado como um processo de apropriao de

    conhecimentos e desenvolvimento como um processo de transformaes psquicas

    realizadas por meio das relaes dos indivduos com o meio social e cultural,

    Zagorsk foi imprescindvel para essas crianas, ao proporcionar as tcnicas de

    mediao mencionadas acima. O documentrio mostra a histria de Natasha, ex-

    aluna de Zagorsk, surda e cega, porm por causa da escola sovitica foi possvel

    que ela se formasse em filosofia, psicologia e constitusse famlia. Natasha relatava

    no documentrio, que antes de entrar em Zagorsk as pessoas achavam que ela era

    louca, e at mesmo ela comeou a acreditar nisso, pois era atormentada por

    imagens estranhas e desconhecidas, fazendo com que ela realizasse movimentos

    inadequados, seu corpo era desobediente e suas percepes a enganavam. Depois

    de entrar na escola sovitica, Natasha disse que em Zagorsk me senti mais livre e

    feliz, pois conseguia me comunicar. Tambm me ajudaram a compreender a ideia

    confusa que eu fazia do mundo na poca. Comecei lentamente a compreender tudo

    a minha volta e a agir de modo correto. Natasha tambm disse que se no fosse

    por Zagorsk ela ficaria dependente da famlia, trabalhando com alguma coisa

    desinteressante que no exigiria nada dela como pessoa. Nesse ponto, a

    aprendizagem e o desenvolvimento ficam evidentes. Sem as tcnicas elaboradas

    por Zagorsk, Natasha no teria condies de se apropriar do mundo externo, e sem

    a constante interao com as professoras e as atividades por elas propostas a

    Natasha, utilizando o conceito da zona de desenvolvimento proximal, Natasha no

    teria condies de se desenvolver e de reorganizar suas funes psicolgicas

    superiores. Zagorsk prope meios para as crianas se apropriarem dos

    conhecimentos construdos culturalmente, e promove atividades que estimulam

    permanentemente os sentidos remanescentes das crianas. Enfatizam aquilo que a

    criana j possui nvel de desenvolvimento efetivo - e prope atividades que de

    incio a criana s consegue fazer com o auxlio dos professores, o que caracteriza

    o nvel de desenvolvimento potencial. Ao longo do tempo as crianas conseguiro

    realizar essas atividades por si mesmas, caracterizando a zona de desenvolvimento

    proximal as capacidades potenciais da criana so estimuladas e desenvolvidas

    por meio de desafios, que logo conseguem solucion-los sozinhas.

  • Considerando o homem como ser natural e ser genrico e social a

    diferenciao entre desenvolvimento natural e cultural se da no sentido do natural

    ter uma caracterstica animal sendo produto da natureza, j o desenvolvimento

    cultural se d no sentido do gnero humano sendo um processo histrico,

    construdo a partir das mediaes sociais.

    2. Tendo como base o texto 7 (As razes genticas do pensamento e da

    linguagem - Vigotski) e o texto 8 (O problema da linguagem e a conscincia -

    Luria), reflita sobre o papel da linguagem no desenvolvimento das funes

    psicolgicas superiores, bem como sobre o papel da educao escolar nesse

    processo.

    As funes psicolgicas superiores ateno voluntria, percepo e

    memria e pensamento - se desenvolvem atravs da mediao dos sistemas

    simblicos, sendo a linguagem o principal deles. A linguagem, que possui como

    unidade bsica a palavra, fornece os conceitos, significados e maneiras de

    organizar o mundo externo, promovendo a mediao entre o sujeito e objeto.

    importante ressaltar que a mediao simblica ser diferente entre as culturas, dado

    que o conhecimento e os significados so construdos scio e culturalmente.

    No texto de Vigotski, o autor salienta que a linguagem e o pensamento

    possuem razes diferentes. Inicialmente, a criana possui fala pr-intelectual a

    qual o balbucio e o choro so de natureza predominantemente emocional. E

    tambm, um pensamento pr-verbal, vinculado atividade prtica, associado ao

    uso de instrumentos.

    Entretanto, segundo Vigotski, em um dado momento do desenvolvimento,

    mais ou menos aos dois anos de idade, as curvas da evoluo do pensamento e da

    fala, at ento separadas, encontram-se e unem-se para iniciar uma nova forma de

    comportamento (Vigotski, 2008, p. 53). Nesse ponto a fala comea a organizar o

    pensamento (fala intelectual) e o pensamento comea a planejar a linguagem

    (pensamento verbal).

    Com a fala, a criana passa tambm a estabelecer novas relaes com o

    ambiente e com isso utiliza a fala para agir, organizar e planejar a ao

    instrumental. A palavra para a criana, inicialmente, possui como caracterstica ser

    um atributo do objeto, ou seja, a palavra est atrelada ao objeto. Porm a

    linguagem, em fases mais adiantadas vai adquirindo funes sociais diferentes,

  • despertando a curiosidade ativa sobre o nome das coisas, e ampliando rapidamente

    o vocabulrio. A criana internaliza a fala que antes servia como forma de

    comunicao social e agora a utiliza como forma para planejar o prprio

    comportamento: a fala antes externa passa a ser egocntrica - direcionada para si

    mesma - de modo a planejar as aes para ento se transformar em fala interna,

    que organiza a conscincia.

    Com o domnio dos signos e dos instrumentos - elemento decisivo da

    construo do conhecimento - a criana torna-se capaz de significar os objetos e

    atribu-los sentidos de acordo com suas experincias, e com isso, segundo Luria, o

    homem pode superar os limites da experincia sensorial, individualizar as

    caractersticas dos fenmenos, formular determinadas generalizaes ou

    categorias. Pode-se dizer que, sem o trabalho e a linguagem, no homem no se

    teria formado o pensamento abstrato (Luria,1987, p. 22).

    Atravs da palavra/signos possvel organizar a e significar a percepo do

    mundo e o maneira de agir sobre ele, direcionar a ateno, manter os objetos de

    conhecimento na memria e construir o pensamento atravs dos elementos

    representados pelos signos, desenvolvendo-se assim as funes psicolgicas

    superiores.

    A educao escolar se faz necessria nesse processo, pois provoca avanos

    no desenvolvimento psicolgico que no ocorreria de forma natural, que s so

    possveis quando o sujeito est e constante relao com as outras pessoas. A

    escola propicia o acesso ao conhecimento construdo e acumulado pela cincia, ou

    seja, a educao escolar possui papel importante para a formao dos conceitos

    cientficos. Por mais que a criana possua os conhecimentos adquiridos no

    cotidiano, atravs da mediao da famlia e das pessoas com quem convive, a

    escola possui um papel importante no processo de desenvolvimento, pois possibilita

    a ampliao desses conceitos mais elementares, ao mesmo tempo em que os

    conceitos elementares do corpo e concretude aos conceitos cientficos.