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RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL COMO DIFERENCIAL NOS NEGÓCIOS: estudo de caso, supermercado Ilha da Princesa KARIN DA SILVA SANTOS ORIENTADOR: PROFESSOR MESTRE ADRIANO SCALA PANDOLFI São Sebastião 2013

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RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL COMO DIFERENCIAL NOS NEGÓCIOS: estudo de caso, supermercado Ilha da Princesa

KARIN DA SILVA SANTOS ORIENTADOR: PROFESSOR MESTRE ADRIANO SCALA PANDOLFI

São Sebastião 2013

KARIN DA SILVA SANTOS

RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL COMO DIFERENCIAL NOS NEGÓCIOS: estudo de caso, supermercado Ilha da Princesa

Trabalho de Graduação do Curso de Tecnologia em Gestão Empresarial da Faculdade de Tecnologia de São Sebastião – FATEC, para obtenção do título de Tecnólogo em Gestão Empresarial, sob orientação do Professor Mestre Adriano Scala Pandolfi

São Sebastião 2013

KARIN DA SILVA SANTOS

RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL COMO DIFERENCIAL NOS NEGÓCIOS: estudo de caso, Supermercado Ilha da Princesa

Apresentação de Trabalho de Graduação à Faculdade de Tecnologia de São Sebastião, como condição parcial para a conclusão do curso de Tecnologia em Gestão Empresarial. São Sebastião, 13 de dezembro de 2013.

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________________

Prof. Me. Adriano Scala Pandolfi

_________________________________________________________

Prof. Dr. José Renato Kitahara

_________________________________________________________

Prof. Esp. Felipe Contini

MÉDIA FINAL: ___________________

Dedico este trabalho ao meu marido Edvaldo Peres, por todo incentivo,

compreensão e paciência nestes anos de estudo e aos meus filhos Eduardo Gabriel

Santos Peres e Karine Santos Peres, por todo amor e carinho.

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar agradeço à Deus por ter me concedido saúde e força para

conseguir chegar ao meu objetivo.

Agradeço também a todos os professores em especial ao professor Luis

Monteiro, à professora Maria Inês Soeltl Kitahara que com sua dedicação e

paciência nos passaram conhecimentos teóricos e de vida e ao meu orientador, o

professor Master Adriano Scala Pandolfi pelo seu auxílio e disponibilidade integral

para me ajudar a concluir este trabalho.

Aos meus colegas da faculdade que me auxiliaram a concluir este curso,

principalmente a Kelyn Cristina Fornazari e Laura Oliveira.

Agradeço a gestora Ivonete Torres do Supermercado Ilha da Princesa,

empresa que foi essencial para o desenvolvimento do estudo de caso deste trabalho

e a todos que colaboraram de forma significativa com o desenvolvimento desta

pesquisa.

E por fim, mas não menos importante a minha família, a minha mãe Maria de

Lourdes da Silva Santos que sempre me incentivou a estudar e me apoiou em todos

os momentos da minha vida e ao meu pai Napoleão Pereira dos Santos Neto que

apesar de nunca ter estudado me ensinou valores da vida, como fazer o bem sem

olhar a quem, saibam que todos vocês são essenciais na minha vida.

“Sei que o meu trabalho é uma gota no oceano, mas

sem ele, o oceano seria menor.”

Madre Teresa de Calcutá

RESUMO

Esta pesquisa aborda o tema responsabilidade social empresarial no Brasil como forma de diferenciação positiva nos negócios. Fazer ações sociais tornou-se uma vantagem competitiva para as empresas que a incorporam, pois as corporações seja por imposição legal ou da sociedade ou mesmo por estratégia para se manter competitiva no mercado, estão adotando práticas sociais em sua gestão. O Estado não consegue sozinho resolver todos os problemas de desigualdades sociais no país e estas empresas tornam-se importantes aliadas de estruturação social. Devido a estes benefícios empresas de todos os portes estão aderindo a esta estratégia de negócios. Assim, este trabalho tem por objetivo trazer informações acerca da responsabilidade social no Brasil e conscientizar os gestores das empresas sobre os benefícios da incorporação de práticas sociais em sua estratégia de administração. A fim de atingir tal objetivo, esta pesquisa procurou relacionar teoria e prática através do qual foi realizada pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo, exemplificado através de estudo de caso na empresa Ilha da Princesa Supermercado. Foi aplicado um questionário direcionado para a gestora administrativa, onde foi constatada que a empresa pratica ações sociais com o seu público interno (colaboradores) e externo (comunidade), além de se preocupar com questões de sustentabilidade. Os resultados desta pesquisa indicam que a empresa estudada valoriza e investe em ações sociais dentro da comunidade onde esta inserida e reconhece a importância da responsabilidade social como diferencial nos negócios levando a uma vantagem competitiva.

Palavras chaves: Responsabilidade Social, Sustentabilidade, Competitividade.

ABSTRACT

This research addresses the issue corporate social responsibility in Brazil as a form of positive discrimination in business. Currently in a globalized world , with new technologies , new processes , with a gradual increase of companies doing social actions become - is a competitive advantage for companies to incorporate as corporations either through legislation or the society or even strategy to remain competitive in the market are adopting social practices in its management . The State alone could not solve all the problems of social inequality in the country and these companies make - are major social structuring is a help society through education , culture , infra - structure among others , in return the company recognizes these attitudes , making the company has advantages such as improving their corporate image generating greater reliability of consumers and other stakeholders , greater credibility to financial loans , ease of making partnerships seeking financial returns , among other gains . Due to these benefits, companies of all sizes are embracing this business strategy. Thus, this study aims to provide information about the social responsibility in Brazil and educate corporate managers about the benefits behind the incorporation of practical partners in their management strategy. In order to achieve this goal, this research sought to relate theory and practice through which bibliographical research and field research, exemplified by the case study company Supermercado Ilha da Princesa. A questionnaire was directed to the administrative manager Ivonete, where it is detected that the company practices social actions with its internal (employees) and in various areas such as education, sport and especially programs for children in day-care centers, in addition to concerned with sustainability issues. The final consideration of this research indicates that the company values and invests in social activities within the community where it operates and recognizes the importance of social responsibility in business as differentiation leading to a competitive advantage.

Keywords: Social Responsibility, Sustainability, Competitivity.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Pirâmide da Responsabilidade social empresarial ................. 17 Figura 2: Uma organização e seus stakeholders .................................. 35 Figura 3: Os Processos de gestão de pessoas..................................... 38 Figura 4: Fundador do Supermercado Ilha da Princesa ........................ 43 Figura 5: Supermercado Ilha da Princesa. ............................................ 44

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Porte das Empresas segundo o Banco Nacional do Desenvolvimento .................................................................................. 26 Tabela 2: Porte das empresas associadas ao Instituto Ethos ............... 39 Tabela 3: Distribuição das empresas associadas ao Ethos por Estado 40

SUMÁRIO

Introdução ............................................................................................ 11

1. Referencial Teórico ......................................................................... 14

1.1 Responsabilidade Social Empresarial: Histórico .......................... 14 1.2 Responsabilidade Social Empresarial: conceito .......................... 15 1.3 RSE nas empresas ...................................................................... 18 1.4 RSE e a sustentabilidade ............................................................ 30 1.5 RSE como estratégia de diferenciação e vantagem competitiva . 32 1.6 Stakeholders ............................................................................... 34

2. Indicadores: Instituto Ethos ............................................................ 39

3. Metodologia .................................................................................... 41

4. Resultados e Discussão ................................................................. 43

4.1 História do Supermercado Ilha da Princesa ................................. 43 4.2 Supermercado Ilha da Princesa e a RSE .................................... 44

5. Considerações Finais ..................................................................... 47

Referências .......................................................................................... 49

Apêndices............................................................................................. 53

Apêndice 1 – Questionário aplicado à Gestora Administrativa .......... 53

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Introdução

A crescente globalização da economia mundial e a rápida disseminação das

tecnologias e processos, assim como o aumento da competitividade entre as

empresas, fizeram com que surgisse um novo perfil de consumidor, mais consciente,

mais criterioso de seu poder de compra e mais atento, principalmente aos atos e

comportamentos sociais das empresas em relação aos seus diferentes públicos

(interno ou externo).

Esta pressão por parte da sociedade exige das organizações uma nova

postura socialmente responsável. De acordo com Simões et al (2008), em paralelo

aos problemas sociais onde o governo não consegue sozinho demandar soluções,

surgem as empresas que incorporam em suas práticas de gestão atitudes

compromissadas não só com a produtividade e maximização do lucro, mas com o

social, vinculadas a uma ética empresarial.

Desta forma empresas socialmente responsáveis passam uma imagem

positiva para a sociedade, pois muitas pessoas não teriam acesso à educação,

saúde, habitação, artes e cultura se não fosse pela adoção deste tipo de ação social

por parte das organizações.

Deste modo, a responsabilidade social empresarial se tornou um fator de

diferenciação e competitividade nos negócios. Produzir produtos que não agridam

ou degradem o meio ambiente, garantir a inclusão social dos seus colaboradores e

participar de forma direta no auxílio da carência da comunidade onde a empresa

está inserida, além de outras iniciativas, cria uma imagem positiva da empresa,

fazendo com que conquiste novos clientes e o respeito da sociedade.

No presente trabalho é analisado o tema responsabilidade social empresarial

como fator de diferenciação competitiva evidenciando se existem benefícios

relevantes que podem ser obtidos pelas organizações que a incorporam.

Este trabalho justifica-se em virtude do estudo sobre responsabilidade social

ser um tema atual e corresponder a interesse tanto empresarial quanto da

sociedade, visto que no país ainda existem poucos estudos relacionados ao tema

proposto. E as constantes mudanças que ocorrem no mundo, sejam elas

econômicas ou tecnológicas, vem fazendo com que as pessoas se tornem mais

criteriosas sobre as organizações que fornecem seus produtos e serviços. Assim,

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podemos considerar que atualmente apenas bons produtos e qualidade já não são

suficientes para as organizações obterem sucesso.

Desta forma as empresas precisam se adequar a nova realidade, ou seja,

para se manterem competitivas e sobreviverem no mercado, as organizações

precisam buscar meios de diferenciação dos demais negócios, e a postura que as

mesmas tem diante da sociedade podem definir seu sucesso ou fracasso. Portanto,

este estudo sobre responsabilidade social é relevante.

Simões et al (2008) informa que já existe, há algumas décadas, a ideia de

responsabilidade social estar incorporada aos negócios de forma mais contundente

e comprometida. No Brasil isso aconteceu somente a partir dos anos 90.

Atualmente, apesar deste tema ser amplamente divulgado, ainda há relativamente

um baixo percentual de empresas que perceberam a importância da adoção deste

tipo de ação. (SIMÕES et al, 2008)

Em vista de tais posicionamentos, este trabalho busca responder à pergunta

de pesquisa: A adoção de práticas de responsabilidade social na gestão empresarial

traz benefícios para as organizações que as incorporam?

O objetivo geral desta pesquisa é trazer informações acerca da

responsabilidade social no Brasil e conscientizar os gestores das empresas sobre os

benefícios que traz a incorporação de práticas sociais em sua estratégia de

administração. Para tal é analisada a postura sobre as práticas de responsabilidade

social da empresa Supermercado Ilha da Princesa (empresa de médio porte),

buscando identificar em quais áreas são feitas as ações, se a empresa compra de

fornecedores que atuam de forma socialmente responsável, se a empresa trabalha

de forma sustentável e identificar se a organização, além de cumprir com as

obrigações legais, valoriza o seu capital humano. Acima de tudo, este trabalho visa

avaliar se as ações sociais promovidas pelo supermercado trazem benefícios para a

para a empresa, gerando um diferencial competitivo nos negócios.

Este trabalho é composto por cinco capítulos. O capítulo número um discorre

sobre o histórico, o conceito de responsabilidade social, a RSE como estratégia, o

conceito de sustentabilidade e sua importância para os negócios e a definição de

stakeholders. O capítulo dois apresenta o Instituto Ethos, uma organização sem fins

lucrativos caracterizado como organização da sociedade civil de interesse público

(OSCIP) que auxilia as empresas a gerirem seus negócios de forma socialmente

responsável, tornando-as parceiras na construção de uma sociedade mais justa e

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sustentável. Já no capítulo três encontra-se a metodologia do presente estudo,

enquanto no capítulo quatro são analisados os resultados empíricos do

Supermercado Ilha da Princesa em Ilhabela – SP. Por fim, no último capítulo são

apresentadas as conclusões finais sobre o trabalho.

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1. Referencial Teórico

1.1 Responsabilidade Social Empresarial: Histórico

Em 1899, Andrew Carnegie, fundador do conglomerado U.S Steel

Corporation, publicou um livro que se tornou o marco para a abordagem clássica da

responsabilidade social, este livro foi intitulado O Evangelho da Riqueza, onde se

baseava nos princípios de caridade e da custódia. (LOURENÇO; SCHRODER,

2001).

Adam Smith, em sua obra A Riqueza das Nações (SMITH, 1776),

argumentava que as empresas não deveriam ter iniciativas sociais, pois para ele, as

empresas deveriam maximizar o lucro para os seus acionistas, sendo que ações de

cunho social cabiam exclusivamente ao Estado.

Um fato marcante influenciou a mudança deste paradigma, de que o propósito

das empresas era apenas gerar lucros para seus acionistas. Foi o caso Ford, em

1919, nos Estados Unidos da América. Henry Ford, presidente e acionista

majoritário da empresa, tomou decisão contraria aos demais acionistas (John e

Horace Dodge) quando decidiu distribuir parte dos dividendos para o aumento de

salários dos funcionários, investimentos na capacidade de produção e no fundo de

reserva da empresa. Desta forma, contrariou os interesses dos acionistas, que

visavam somente o lucro. (SIMÕES et al, 2008)

De acordo com o Instituto Observatório Social (2004) citado por Simões et al

(2008), o tema responsabilidade social já era discutido e utilizado desde a década de

50 em alguns países como os Estados Unidos da América, o Canadá e a Inglaterra.

No Brasil este debate só ocorreu após à década de 60, com o aparecimento de

associações empresariais ligadas à instituições religiosas que atuavam de forma

filantrópica. Durante o período que compreende as décadas de 1960 a 1980, o

período de redemocratização do Brasil, houve um intenso movimento de mobilização

de vários segmentos da sociedade civil. Estes movimentos sociais foram decisivos

para colocar em pauta questões trabalhistas e ambientais.

Dias (2008) argumenta que só foi no final dos anos 90 que este tema ganhou

impulso entre as empresas e a sociedade brasileira, fato decorrente principalmente

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das consequências sociais negativas da globalização. Levy apud SIMÕES et al

(2008, p.10) aponta que:

Nos dias de hoje, exige-se das empresas que redimensionem seu papel social, considerando não apenas o interesse dos acionistas, mas também o dos seus parceiros e da coletividade. Faz-se necessário, portanto, que as empresas evidenciem sua utilidade social e a contribuição que trazem para o bem comum, exercendo responsabilidade socioambiental.

Em sua abordagem, Simões et al (2008) informa que as primeiras

manifestações socialmente responsáveis foram ações filantrópicas de empresários e

dirigentes de empresas. Atualmente, se defende a inserção das ações sociais no

âmbito empresarial como estratégia de diferenciação competitiva e posterior melhora

no posicionamento no mercado, pois não se trata mais de ações isoladas ou

filantrópicas, mas sim de ações que demandam uma preparação mais específica da

empresa, de forma estratégica e pontual.

1.2 Responsabilidade Social Empresarial: conceito

Ashley (2002) define responsabilidade social como sendo um compromisso

da organização com a sociedade, visando ações que possam melhorar a qualidade

de vida da comunidade.

Levy (2005), citado por Simões et al (2008, p.10), argumenta que na

atualidade, “exige-se das empresas que redimensionem seu papel social,

considerando não apenas o interesse dos acionistas, mas também o de seus

parceiros e da coletividade”.

Segundo Lima (2005, p. 47- 48) responsabilidade social significa:

Um comprometimento voluntário da empresa com os seus diversos públicos, mais conhecidos no meio empresarial como stakeholders. Não basta estar em dia com o aspecto legal. Esse comprometimento deve ir além do simples cumprimento da legislação. A responsabilidade social deve incorporar valores que representam um grau de civilidade que colabore de fato para o desenvolvimento social/humano de todos aqueles que direta ou indiretamente estejam ligados à empresa.

Kotler e Armstrong (1998) apud Simões et al (2008) têm uma visão da

responsabilidade social atrelada ao marketing, afirmando que a organização deve

estar atenta aos desejos e necessidades do público-alvo e proporcionar valor

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superior aos clientes. Para estes autores, a responsabilidade social é um

instrumento de gestão de negócios capaz de gerar resultados positivos e benefícios

não só para a comunidade (bem-estar social), mas principalmente, para a empresa.

Kotler e Armstrong (1998) apud Simões et al (2008) argumentam que mesmo as

ações sociais focadas nos segmentos mais carentes prevalece o viés do marketing,

com foco em suas necessidades, desejos e interesses.

Bessant e Tidd (2009) enfatizam que a maioria da população mundial (cerca

de quatro bilhões de pessoas), vive abaixo da linha da pobreza. Ainda de acordo

com o autor, “satisfazer as necessidades de pessoas da base da pirâmide não é

caridade, mas uma reavaliação fundamental do modelo de negócio - inovação de

paradigma – para criar sistemas alternativos sustentáveis.” (BESSANT; TIDD, 2009,

p. 344)

Carrol (1979) apud Simões et al (2008) considera que a responsabilidade

social empresarial pode ser abordada a partir de quatro perspectivas distintas: i. a

responsabilidade econômica, cujo principal objetivo é maximizar o lucro para os

acionistas e proprietários, a produção de bens e serviços a preço compatível e o

provimento de remuneração justa aos investidores e parceiros; ii. a responsabilidade

legal, que se refere à consciência de sua obrigação em obedecer às leis, consistindo

no cumprimento das obrigações legais e fiscais e na observância do disposto nas

legislações de todas as esferas; iii. a responsabilidade ética, que se refere a assumir

o compromisso de fazer o que é certo e evitar danos sejam eles de qualquer

natureza; iv. a responsabilidade filantrópica, que se refere à contribuição para a

comunidade e à qualidade de vida, consistindo em patrocínios, doações e

financiamentos de programas, projetos e causas sociais de interesse da comunidade

e da sociedade como um todo.

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Figura 1: Pirâmide da Responsabilidade social empresarial. Baseada em Carrol (1979).

Cabe ressaltar que filantropia e responsabilidade social não são sinônimos.

Lima (2005) informa que filantropia está associada à caridade e à doação de

recursos para instituições e outros, sem um vínculo mais duradouro, enquanto que a

responsabilidade social é um comprometimento mais amplo da organização com

seus diversos públicos, principalmente com o público interno (funcionários e

colaboradores), visando ultrapassar as obrigações legais e externas através da

sociedade. A ética, neste contexto, se torna de suma importância, pois “o

comportamento ético empresarial é esperado e exigido pela sociedade”. (DIAS,

2005, p. 81).

No Brasil, o conceito sobre responsabilidade social mais aceito no universo

empresarial, segundo Simões et al (2008), são os adotados pela Associação

Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). De acordo com esta instituição, a

“responsabilidade social é a relação ética e transparente da organização com todas

as partes interessadas, visando ao desenvolvimento sustentável.” (ABNT apud

SIMÕES et al, 2008, p. 29).

Ainda segundo os mesmos autores, o Instituto Ethos de Empresas de

Responsabilidade Social como indicador social é o mais utilizado, pois seus

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conceitos estão relacionados à prática, implantação, gestão e avaliação responsável

das empresas.

Atualmente, a inserção da responsabilidade social nas organizações assumiu

caráter estratégico e importante, conforme observado por Dias (2008, p.247), que

também mencionou o fato de que organismos como a ONU (Organização das

Nações Unidas):

Sintetizou em dez pontos os princípios universais que devem servir de referência global para implementação de propostas éticas no ambiente organizacional: respeitar e proteger os direitos humanos, impedir violações desses direitos, apoiar a liberdade de associação no trabalho, abolir o trabalho forçado, abolir o trabalho infantil, eliminar a discriminação no ambiente de trabalho, apoiar uma abordagem preventiva aos desafios ambientais, promover a responsabilidade ambiental, encorajar tecnologias que não agridam o meio ambiente e combater a corrupção em todas as suas formas, inclusive extorsão e propina.

Ainda discorrendo sobre o conceito de responsabilidade social, Simões et al

(2008) pontuam que a empresa consome recursos naturais, renováveis ou não,

direta ou indiretamente, utiliza mão de obra da sociedade, usa capitais financeiros

ou tecnológicos, entre outros. Enfim as empresas subsistem em função da

sociedade e nada mais coerente que parte deste desenvolvimento seja revertida em

prol da sustentabilidade e dos seus diversos públicos.

1.3 RSE nas empresas

Num mundo globalizado e com intensas mudanças ocorridas tanto na área

financeira como econômica Drucker (1999) enfatiza que no século 20 o mundo

passou por muitas transformações, principalmente sociais.

Tachizawa (2008) salienta que com a competição global acirrada houve um

redirecionamento do poder de compra para as mãos do consumidor.

Segundo Hamze (2013), as empresas tornam-se componentes fundamentais

e essenciais para retificar e implantar mudanças satisfatórias na sociedade, pois o

Estado sozinho não conseguiria acabar com todas as desigualdades sociais

existentes.

De acordo com o contexto, Simões et al (2008) informa que as empresas que

investem em práticas sociais passam a ter uma grande relevância no país, tendo em

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vista as grandes desigualdades sociais e a expansão histórica de carências, as

quais o governo não consegue suprir.

Em consonância com o exposto, Achim Steiner (subsecretário-geral da

Organização das Nações Unidas – ONU e diretor executivo do Programa das

Nações Unidas para o meio ambiente – Pnuma) explica que os modelos econômicos

do século XX estão chegando ao limite em termos dos impactos econômicos e

sociais e que as inúmeras crises financeiras e enérgicas prenunciam que os

recursos naturais, antes tão abundantes, começam a ficar escassos, indicando a

necessidade de substituir o modelo atual pelo modelo sustentável, o que seria uma

forma de reverter este processo. (STEINER apud ALMEIDA, 2009).

Ainda segundo o mesmo autor (2009), as respostas dadas pelas empresas a

este novo cenário podem definir se irão fracassar e quais serão bem sucedidas em

seus negócios. Segundo Kotler et al (2010, p. 146):

as empresas devem agir como bons cidadãos corporativos e lidar com os problemas sociais no âmago de seus modelos de negócios. Algumas empresas podem fortalecer seu impacto ao passarem da filantropia e das campanhas de marketing de causas para a transformação sociocultural. A transformação sociocultural vê os consumidores como seres humanos que deveriam ser fortalecidos para galgar degraus na pirâmide de Maslow. Isso é relevante para as empresas não apenas no nível do produto, como também no nível do modelo de negócios. Ao utilizar o poder da colaboração, elas podem reduzir custos e gerar maior impacto.

Tachizawa (2008) argumenta que a RSE deve ser incorporada no dia a dia

das empresas e agregada à todos os processos, sejam eles operacionais, gerenciais

ou estratégicos da organização e no desenvolvimento e investimento e capacitação

continuada de seus colaboradores, na comunicação transparente com os seus

stakeholders e em iniciativas em prol da comunidade, entre outras iniciativas.

Em relação ao exposto acima Melo Neto e Froes (1999, p.78) argumentam

que:

Apoiar o desenvolvimento da comunidade e preservar o meio ambiente não são suficientes para atribuir a uma empresa a condição de socialmente responsável. É necessário investir no bem estar dos seus funcionários e dependentes e num ambiente de trabalho saudável, além de promover comunicações transparentes, dar retorno aos acionistas, assegurar sinergia com seus parceiros e garantir a satisfação de seus clientes.

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O Instituto Ethos (2013) informa que a RSE tornou-se um fator de

competitividade para os negócios, pois atualmente preço e qualidade dos produtos e

serviços ofertados já não são mais suficientes para manter e angariar novos clientes.

Neste cenário de intensa competição, as empresas devem investir no permanente

aperfeiçoamento de suas relações com os seus diversos públicos (colaboradores,

clientes, fornecedores, acionistas, parceiros, governo e sociedade).

Moura (2011) concorda com o contexto apresentado e salienta que qualidade

e bom atendimento não são mais considerados diferenciais e sim essenciais para os

negócios.

A seguir, são listados alguns exemplos de grandes empresas que “aderiram”

ao modelo socialmente responsável.

NATURA (2013b): Indústria Brasileira de Cosméticos. Sendo uma das

primeiras empresas do Brasil a inserir a sustentabilidade na estratégia de seus

negócios. A empresa prima pelo desenvolvimento sustentável, atuando em várias

ações, como promover a conscientização de toda a equipe (colaboradores,

fornecedores, clientes) para o exercício permanente de práticas ambientais, sociais

e culturais responsáveis. A empresa também tem como compromisso o

desenvolvimento de projetos sociais junto da comunidade, elegendo como foco a

educação ambiental e o respeito cultural. Tem dentro de suas diretrizes a

responsabilidade com as gerações futuras.

A Natura (2013a) procura reduzir o consumo de energia, água, produtos

tóxicos e matéria – prima, além de dar um destino adequado aos resíduos e

privilegia o uso de materiais reciclados entre outras ações na área social, além de

disseminar para outras organizações as boas práticas e conhecimentos adquiridos

na experiência da Gestão de sua Responsabilidade Social.

Outras empresas são citadas por Almeida (2009), sendo elas:

3M do Brasil: Produtos químicos e derivados do petróleo. Possui produtos

diversificados: esponjas, fitas adesivas, microporo, linha de cuidado especial entre

outros.

A 3M possui vários projetos implantados em ação social, dentre eles a

valorização e constante treinamento de seus colaboradores. Além disso, todos os

compromissos da empresa com o meio ambiente são repassados para o público

externo por ações de comunicação institucional.

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Como exemplo de ação social a empresa investe em pesquisa e

desenvolvimento com foco em energias renováveis, diminuindo a emissão de

compostos orgânicos. Visando a inclusão social e a melhoria na qualidade de vida

da população, a empresa distribui sopa nutritiva feita de massa de pão. Para tanto,

foi feita uma parceria com os alunos da Faculdade de Metrocamp e o Instituto de

Tecnologia de Alimentos (ITAL). A sopa é feita pelos alunos acima de 35 anos da

APAE Campinas e distribuída para os moradores de rua desta cidade. Um ano após

seu início, o projeto foi exportado para outras regiões do país.

Alcoa Alumínio: Empresa mineradora de bauxita e produção de

transformados. A Alcoa aposta no diálogo com a comunidade e demais stakeholders

onde a empresa está inserida. Suas ações sociais vão desde o aprimoramento e

treinamento de seus colaboradores até ações nas áreas de preservação do meio

ambiente, saúde, educação, cultura, segurança e infraestrutura.

AMANCO BRASIL: Empresa de tubos e conexões de PVC (impactos

ambientais relativamente baixos). Ações sociais da empresa se pautaram

principalmente na qualificação de mão de obra para a construção civil, pois

percebeu por meio de pesquisas que grande parte das pessoas que trabalhavam

com construção civil não tinha especialização e desenvolveu em parceria com o

SENAI os cursos profissionalizantes de instaladores hidráulicos, batizado de

Doutores da Construção. A Amanco também difundiu cursos dentro de favelas e

comunidades carentes do Brasil na área de construção civil em parceria com o

Instituto Neo Trópica.

Dentre outros investimentos em responsabilidade social a Amanco investe em

inovações tecnológicas para diminuir o consumo em matéria-prima e ter melhor

desempenho, além de promover o uso consciente da água.

A Amanco também está engajada com iniciativas de combate à corrupção e

com os programas do governo federal tais como o PAC (Programa de Aceleração do

Crescimento, criado em 2007), juntamente com o apoio do Instituto Ethos, onde o

governo disponibiliza investimentos para saneamento.

Marcos Bicudo, presidente da Amanco Brasil, revela que sustentabilidade é

um novo modelo mental e que o empresário precisa incorporá-lo à sua estratégia de

negócio.

Anhanguera Educacional: Empresa do ramo de ensino superior. As ações

promovidas são principalmente na área educacional, com programas de extensão

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comunitária, onde é oferecido atendimento sem fins lucrativos às comunidades que

ficam no entorno das unidades da instituição. Sempre que uma unidade é aberta ou

incorporada, um dos primeiros passos da instituição é procurar a prefeitura para

contribuir com soluções para os problemas sociais.

Além destas iniciativas foi criado o programa Livro-texto, obrigatório para

todos os alunos de qualquer curso, onde a Anhanguera informa para todos os

discentes os conceitos de responsabilidade social, onde os alunos aprendem a

gerenciar suas carreiras de maneira sustentável e contribuir para o desenvolvimento

de sua comunidade. Outro projeto criado pela instituição é o programa Navega

Pantanal, onde visa promover a inclusão digital de áreas remotas do Pantanal Mato

Grossense e propor ações de sustentabilidade para esta comunidade.

Banco Real: Atua na área financeira. Fabio Barbosa, executivo número um

da empresa, ressalta a importância da inserção de ações sustentáveis nos negócios,

seja ela por convicção ou por conveniência.

A ação de responsabilidade social da empresa consiste na valorização do

meio ambiente e da sociedade. Dentro deste contexto, a empresa chegou a

conclusão que só negociaria com empresas que tivessem ações concretas de

responsabilidade social, que respeitassem as leis trabalhistas (que não empregasse

crianças, trabalho escravo entre outros) e ambientais.

Ainda de acordo com Almeida (2009), a fabricação de produtos ou serviços

deve ser feita de forma que não deteriore o meio ambiente e que promova a inclusão

social e a participação do desenvolvimento da comunidade entre outras ações.

Estas iniciativas são diferenciais cada vez mais percebidos pelas organizações na

conquista de novos clientes.

Petrobras (2013b): atua como uma empresa de energia nos seguintes

setores: exploração e produção, refino, distribuição de derivados, energia elétrica,

biocombustíveis comercialização e transporte de óleo e gás natural, petroquímica,

e outras fontes renováveis de energia. De acordo com o site da Petrobras (2013a)

em 2007 foi criada a política de responsabilidade social, tornando uma função

corporativa no plano estratégico da empresa. Tem em sua missão o compromisso

com o meio ambiente e a sociedade. Seu foco é a ecoeficiência, com o uso racional

da energia e da água, se preocupa com os seus processos para que haja o menor

impacto possível com o meio ambiente. Atuam em várias áreas sociais, sejam elas

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esportivas, culturais, educacionais, além de financiar vários projetos socialmente

responsáveis como o de reciclagem de resíduos.

A Petrobrás é uma das companhias integrantes do Dow Jones Sustainability

Index, o mais importante índice mundial de sustentabilidade utilizado como

parâmetro para análise dos investidores social e ambientalmente responsáveis.

A Petrobras elaborou um documento batizado de Diretrizes da

Sustentabilidade, onde prioriza as ações da companhia nesse segmento, seja

através da proteção da biodiversidade, seja através de controle de contingências e

interface social, ecoeficiência das atividades e operações, programas educativos,

culturais entre outros, visando sempre ações sustentáveis.

De acordo com o contexto, nota-se que as empresas citadas são

consideradas como referências, cada qual em seu ramo de atuação, demonstrando

que “as organizações que tomarem decisões estratégicas integradas à questão

ambiental e ecológica conseguirão significativas vantagens competitivas, quando

não, redução de custos e incremento nos lucros a médio e longo prazos”.

(TACHIZAWA, 2008, p. 6)

Diante do exposto, a RSE traz, em termos de reconhecimento (imagem),

melhores condições de competir no mercado, pois várias empresas atualmente

selecionam seus parceiros, fornecedores, entre outros de acordo com os critérios de

RSE nos negócios, além de maior facilidade de acesso ao crédito, financiamentos e

investidores (como o exemplo citado do Banco Real). De acordo com Tachizawa

(2008), a empresa que incorpora os critérios de RSC conquista mais clientes, mais

credibilidade e maior respeito da sociedade.

É importante salientar que não somente grandes e médias empresas adotam

esta postura socialmente responsável. No Brasil, segundo o Instituto Ethos (2013),

as micros e pequenas empresas são importantes agentes econômicos em 80% das

cidades do país, visto que tem no seu quadro de funcionários 45% dos

trabalhadores de todo o país. Assim, muitas já contribuem nas melhorias das

cidades onde estão inseridas.

Ainda segundo o mesmo autor, as pequenas empresas que adotam a filosofia

do RSE tende a ter uma gestão mais clara e consciente, consegue uma maior

motivação no trabalho, conseguem maior comprometimento da parte de seus

colaboradores, possuem relações mais consistentes com seus fornecedores e

clientes, além de melhorar a imagem da empresa perante a comunidade onde a

24

organização está estabelecida, diminuindo o risco de mortalidade do negócio. Adotar

estes conceitos contribui não só para a sua permanência como para o crescimento

nos negócios.

Uma pesquisa feita pelo banco BNDES em 2001, por meio de evidências

empíricas, indica que as grandes e médias empresas priorizam investimentos nas

áreas de saúde, educação e cultural e costumam priorizar a comunidade em torno

da empresa, já as micros e pequenas empresas têm predominância de ações

sociais de natureza assistencialista (como fornecimento de alimentos). (LEAL;

NEVES, 2010).

Em Ilhabela - SP, 45 empresas (entre micro, pequena e média empresa) de

diferentes setores associadas à Associação Comercial e Industrial de Ilhabela em

parceria com o Selo Verde - programa de responsabilidade socioambiental (2013) -

já estão implantando práticas sociais e de sustentabilidade. Entre estas empresas

estão o Restaurante Viana, o Restaurante do Cura, a Pousada Armação dos Ventos,

a BL 3 Escola de Iatismo, a Pousada do Alemão, a Colonial Diver Escola de

mergulho, a Chácara Pau Brasil – produtos para jardim, entre outros.

O manual de Responsabilidade Social para micro e pequenas empresas do

Instituto Ethos (ETHOS, 2003) criado em parceria com a SEBRAE exemplifica

algumas ações sociais feitas pelas MPEs relacionadas a seguir:

Renova empresa atuante no ramo de lavanderia, implantou em seus

processos industriais o uso racional da água, dos 110 mil litros de água utilizados

diariamente 80% são reutilizados, este elevado índice de reaproveitamento se deve

principalmente a dois fatores: uma forte política de investimento em equipamentos e

atenção especial ao treinamento pessoal dos colaboradores.

Já na empresa Dr. Pio atuante em exames laboratoriais, o seu foco é o

público interno, é feito a qualificação profissional através de treinamento,

participação em seminários e há uma atenção especial com a segurança, por isto foi

criado à comissão interna de biossegurança, com o intuito de criar medidas

preventivas no trabalho.

A Panificadora Paladar atua tanto na área interna quanto externa, tem

participado ativamente em questões de interesse público e de responsabilidade

social, os colaboradores da padaria junto com clientes e gestores de outras

empresas da região, fazem o levantamento da demanda local e promovem a

mobilização da comunidade e do poder público em busca de soluções. São

25

desenvolvidas ações como instalação de quebra – molas e melhoria na iluminação

entre outros.

Esta pequena empresa também apoia e patrocina instituições sem fins

lucrativos, que tenham participação social como prática fundamental para a

construção de uma sociedade mais justa. De acordo com Tachizawa (2008, p. 12):

O empresário e o executivo, para enfrentar os novos tempos, devem ter capacidade abrangente de análise, interpretação e correlação, ou seja, um gestor com consciência ecológica e socialmente responsável por excelência, com visão sistêmica para ler correta e adequadamente os cenários sociais, as turbulências políticas, econômicas, o ambiente de competição, as formas de mercado, as tendências culturais dos grupos, os nichos negociais e as possibilidades de integração das economias

contemporâneas.

Simões et al (2008) argumentam que não existe um modelo único a ser

seguida para colocar em ação as práticas sociais dada a diversidade dos

empreendimentos e das diferentes culturas existentes, mas o que deve ser comum é

o comprometimento efetivo da governança, a transparência de seus atos e a ética

que cada empresa deve ter com toda a sociedade.

A prática da responsabilidade social pressupõe, portanto, que os empresários

reconheçam a sua importância, que tenham condutas éticas e promovam a adoção

e a difusão dos princípios que orientem esta conduta. (SIMÕES et al, 2008)

De acordo com publicação do Greendex (2012), uma pesquisa feita no

mesmo ano pela National Geographic Society em 17 países apontou que o

consumidor brasileiro é 3º mais consciente em questões relacionadas à

sustentabilidade.

Segundo informações do Portal do meio ambiente (2013), especialistas

apontam que os consumidores mais conscientes não se importam em pagar mais

caro por um produto que respeite o meio ambiente.

No Brasil as ações em responsabilidade social vêm crescendo

gradativamente nas micros e pequenas empresas (MPEs), segundo informações do

instituto Ethos (2013).

Antes de prosseguir abordando sobre a participação cada vez mais

significativas das pequenas micro e pequenas empresas nas ações de

responsabilidade social, é importante salientar a maneira como é realizada a

classificação do porte das empresas.

26

Segundo o SEBRAE (2013), no Estatuto da Micro e Pequena Empresa, de

1999, o critério adotado para classificar a micro e pequena empresa é a receita bruta

anual, cujos valores foram atualizados pelo Decreto nº 5.028/2004, de 31 de março

de 2004, sendo eles:

-Microempresa: receita bruta anual igual ou inferior a R$ 433.755,14

(quatrocentos e trinta e três mil setecentos e cinquenta e cinco reais e quatorze

centavos);

-Empresa de Pequeno Porte: receita bruta anual superior a R$ 433.755,14 e

igual ou inferior a R$ 2.133.222,00 (dois milhões, cento e trinta e três mil, duzentos e

vinte e dois reais).

Apesar destes valores servirem como critério para vários programas do

governo federal em apoio às MPEs, o SEBRAE (2013) esclarece ainda que o regime

simplificado de tributação - SIMPLES, que é uma lei de cunho tributário, adota um

critério diferente. Conforme disposto na Medida Provisória 275/05, os limites são:

-Microempresa: receita bruta anual igual ou inferior a R$ 240.000,00

(duzentos e quarenta mil reais);

-Empresa de Pequeno Porte: receita bruta anual superior a R$ 240.000,00

(duzentos e quarenta mil reais) e igual ou inferior a R$ 2.400.000,00 (dois milhões e

quatrocentos mil reais).

Ainda assim, cada estado brasileiro pode adotar diferentes critérios para

classificar MPEs, sendo que " os maiores limites de enquadramento são definidos

por SP, RS, PR e BA, que adotaram R$ 2.400.000,00 de receita bruta anual.”

(SEBRAE, 2013)

Já para o BNDES – Banco Nacional do Desenvolvimento - a classificação de

porte de empresa adotada aplicável a todos os setores foi resumida no quadro:

Classificação Receita Operacional Bruta Anual

Microempresa Menor ou igual a R$ 2,4 milhões

Pequena empresa Maior que R$ 2,4 milhões e menor ou igual a R$ 16 milhões

Média empresa Maior que R$ 16 milhões e menor ou igual a R$ 90 milhões

Média-grande empresa Maior que R$ 90 milhões e menor ou igual a R$ 300 milhões

Grande empresa Maior que R$ 300 milhões Tabela 1: Porte das Empresas segundo o Banco Nacional do Desenvolvimento. (BNDES, 2013)

27

Além dos critérios relacionados à receita da empresa, o SEBRAE usa ainda

outro critério para enquadrar as MPEs: o conceito de número de funcionários. Isso

acontece, em especial, “nos estudos e levantamentos sobre a presença da micro e

pequena empresa na economia brasileira” (SEBRAE, 2013). Tal critério é baseado

nos seguintes números:

- Microempresa:

I) na indústria e construção: até 19 funcionários

II) no comércio e serviços, até 09 funcionários.

- Pequena empresa:

I) na indústria e construção: de 20 a 99 funcionários

II) no comércio e serviços, de 10 a 49 funcionários.

A relevância da adoção deste critério adotado pelo SEBRAE pode ser

observada no fato de que “as MPEs são responsáveis por 41% dos 27 milhões de

empregos formais no país e por 20% do PIB nacional”. (SANTOS, 2007)

De acordo com o Instituto Ethos (2003) em parceria com o SEBRAE, é cada

vez maior o número de grandes e médias empresas que escolhem seus parceiros,

fornecedores e distribuidores (micro e pequenas empresas) de acordo com suas

ações em responsabilidade social.

Ainda segundo o ETHOS (2003), promover a inclusão social, participar do

desenvolvimento da comunidade onde está inserida, fabricar produtos ou prestar

serviços que não degradem o meio ambiente entre outras iniciativas são diferenciais

cada vez mais importantes para estas empresas na conquista de novos

consumidores ou clientes.

Os benefícios para as micros e pequenas Empresas que incorporam as

práticas sociais em sua gestão, de acordo com o Instituto Ethos em parceria com

SEBRAE (ETHOS, 2003) são:

Gera maior comprometimento de seus colaboradores;

As credencia a serem fornecedoras de grandes e médias empresas;

Dão credibilidade ao negócio e facilitam o acesso ao crédito e financiamento;

Melhora a imagem institucional da empresa;

Gera maior fidelidade entre os consumidores, além de ter maior probabilidade de conquistar novos clientes;

Abre-se oportunidades de novos negócios, seja através de parcerias, seja através do projeto de desenvolvimento local/regional.

28

Sendo assim, as MPEs são importantes agentes deste novo contexto de RSE

e colaboram para a diminuição das desigualdades sociais

Costa e Rosenfeld (2005) afirmam que investir em treinamento, qualificação

dos funcionários, doar produtos e serviços, discutir políticas públicas e implantar

projetos diversos na comunidade, são alguns dos investimentos que pequenas e

médias empresas têm feito pela sociedade. Estas atitudes tem tido aprovação da

comunidade e impactando em um diferencial competitivo com relação às outras

empresas.

“A comunidade e a sociedade em geral recebem bem essas ações, e acabam

dando prioridade para o consumo de produtos e serviços dessas empresas

investidoras”, afirma a coordenadora técnica do Programa de Responsabilidade

Social no Varejo da escola de Administração da Fundação Getúlio Vargas, Roberta

Cardoso apud Costa e Rosenfeld (2005).

Uma pesquisa feita em 2006 pelo Instituto de Pesquisa Aplicada (IPEA)

apontou um crescimento de pequenas e médias empresas que investem em

responsabilidade social. Das empresas pesquisadas 74% estão no nordeste, 71%

no sudeste, sendo que em São Paulo 68% das empresas investem em ações sociais

(CARDOSO apud COSTA; ROSENFELD, 2005).

Num mercado cada vez mais competitivo e acirrado as pequenas empresas

estão, conforme observado por Costa e Rosenfeld (2005), percebendo a

necessidade de uma atuação diferenciada junto a seus clientes e à comunidade e

passaram a notar que investir em ações sociais é uma estratégia para aumentar seu

lucro e potencializar seu desenvolvimento.

De acordo com as mesmas autoras, a prosperidade e o desenvolvimento da

comunidade através das práticas sociais são importantes, pois influem diretamente

no sucesso do negócio.

Como forma de incentivar o empresariado a implementar projetos de

responsabilidade social, Oliveira e Schwertner (2007) informam que há na legislação

nacional a previsão de alguns incentivos fiscais nas áreas social e cultural, que

estabelecem um teto de dedução dos impostos devidos, em percentual que não

afeta, significativamente, os cofres públicos.

Embora estas organizações injetem valores no desenvolvimento de práticas

de responsabilidade social, o empresariado poderá obter benefícios fiscais oriundos

29

dos incentivos fiscais do Estado, visando recompensar as empresas que investem

no âmbito social, tornando essas práticas mais atrativas para as próprias empresas,

sob o ponto de vista financeiro. Já a sociedade em geral, ao invés de aguardar a

atuação do governo, se beneficia diretamente com o desenvolvimento dessas

práticas.

No Brasil, conforme observado por Oliveira e Schwertner (2007), as empresas

podem usufruir de incentivos fiscais até o limite de 2% do imposto de renda devido

para doarem a empresas sem fins lucrativos e reconhecidas como de utilidade

pública, sendo o cálculo feito com base no lucro real. Já para doações a projetos

culturais, a dedução pode chegar até o limite de 4% e para as doações direcionadas

ao Fundo da Criança e do Adolescente o limite é de 1% do imposto devido.

Uma pesquisa realizada pelo IPEA a pedido da PASE (Pesquisa Ação Social

das Empresas) revelou que 69% das empresas privadas do país investem em ações

sociais em beneficio da comunidade e que estas empresas correspondem a

aproximadamente a 600 mil empresas. Em 2004, estas empresas aplicaram ao

equivalente a R$ 4,7 bilhões o que correspondia a 0,27% do PIB brasileiro daquele

ano.

Essa pesquisa, de acordo com Oliveira e Schwertner (2007), revelou ainda

que o investimento social privado é pouco influenciado pela política de benefícios

tributários, uma vez que apenas 2% das empresas que atuaram na área social

fizeram uso de incentivos fiscais. Dentre os motivos alegados, 15% nem mesmo

sabiam da existência dos benefícios, 16%, as isenções permitidas não se aplicavam

às atividades desenvolvidas e 40% dos empresários disseram que o valor do

incentivo era muito pequeno e, portanto, não compensava seu uso, sendo a principal

dificuldade apontada pelos gestores das empresas para investir em ações sociais foi

à falta de dinheiro (62%), este foi o maior empecilho, seguido da falta de incentivos

governamentais (11%).

Lima argumenta ainda que a responsabilidade social “não se trata de

modismo mercadológico, pois o que se esta em jogo é a sustentabilidade dos

recursos e insumos de que a empresa necessita para existir” (LIMA, 2005, p. 232).

De acordo com Tachizawa (2008, p. 67) “a responsabilidade social está se

transformando num parâmetro, e referencial de excelência, para o mundo dos

negócios e para todo o Brasil corporativo”.

30

1.4 RSE e a sustentabilidade

Em seu livro intitulado “Gestão ambiental e responsabilidade social

corporativa”, Tachizawa (2008) argumenta que a consciência ambiental surgiu nas

décadas de 60 e 70. Já nos anos 80, os gastos com proteção ambiental eram vistos

não como custos, mas como investimentos no futuro.

Segundo Tachizawa (2008), na década de 90 constatou-se que os sistemas

naturais do planeta são limitados para absorver os efeitos da produção e do

consumo. Desta forma fica claro a inviabilidade de manter políticas econômicas

causadoras de danos ambientais irreversíveis e de acordo com esta percepção

consolida-se o conceito de desenvolvimento sustentável como forma necessária

para a preservação do meio ambiente e do desenvolvimento econômico sustentável.

Segundo a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento,

pertencente à ONU, desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento capaz de

“suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de

atender às necessidades das futuras gerações. É o desenvolvimento que não esgota

os recursos para o futuro.” (LOBATO et al, 2009, p. 56).

Ainda segundo o Lobato et al (2009), nestes novos tempos os clientes

mudaram sua postura e querem interagir com organizações que sejam éticas, que

tenham uma boa imagem institucional no mercado e que atuem de forma

ecologicamente sustentável.

Mas nem sempre isto ocorreu. Lima (2005, p.87), observa que:

Historicamente as empresas capitalistas nunca se preocuparam tanto com os danos ambientais causados por suas atividades. O mais valioso sempre foi o resultado financeiro/operacional positivo no final de cada ano fiscal. Nunca importou, e para muitas ainda não importa, saber qual o nível de degradação ecológica ocasionada por seus processos produtivos.

Michael Porter em entrevista para a revista Exame de setembro de 2009

destacou que o desenvolvimento da responsabilidade social passou por dois

estágios. O primeiro foi ocasionado por pressões políticas e da sociedade, quando

as empresas se virão forçadas a darem explicações para questões que elas não

julgavam ser de sua responsabilidade. Passaram então a desempenhar algumas

ações, mas não de forma voluntária. Depois veio o segundo estágio, quando as

31

empresas perceberam que investir em responsabilidade social poderia ser algo

positivo e que valeria a pena ser proativo. (LOBATO et al, 2009).

De acordo com o contexto, em favor da sustentabilidade Tachizawa (2008, p.

8) salienta que:

A preservação do meio ambiente converteu - se em um dos fatores de maior influência dos anos 90 e da primeira década de 2000, com grande rapidez de penetração de mercado. Assim, as empresas começam a apresentar soluções para alcançar o desenvolvimento sustentável e, ao mesmo tempo, aumentar a lucratividade de seus negócios. Neste contexto, gestão ambiental não é apenas uma atividade filantrópica ou tema para ecologistas e ambientalistas, mas também uma atividade que pode propiciar ganhos financeiros para as empresas.

Para garantir lucros maiores as empresas estão se adaptando às normas

ambientais e participando de programas de rotulagem conferidas por instituições

governamentais (como a Blau Engel na Alemanha) ou não, como o caso da

organização não governamental independente dos Estados Unidos (Green Seal),

onde não existe um programa governamental de rotulagem ambiental. “Como

resultado dessa tendência, o conceito de programas de rotulagem ambiental e a

instituição do selo verde para determinar categorias de produtos é uma perspectiva

muito forte e assim deverá continuar.” (TACHIZAWA, 2008, p. 77)

Ainda como certificadores existem a ISO 9000 para a qualidade e a ISO

14000 para o meio ambiente, ambas dos Estados Unidos. Estas normas tem o

objetivo de atestar que as empresas que adotam estes procedimentos possuem

ações corretas internamente e externamente participando de iniciativas não

lucrativas em diversas áreas como educação, saúde, assistência social,

ambientalismo entre outras. Tachizawa (2008, p. 68) relembra que:

em 1997, o The Council Economic Priorities Accreditation Agency (Cepaa) criou a certificação SA 8000, com o objetivo de atestar que na cadeia produtiva de uma organização não existem ocorrências antissociais. Dois anos depois em 1999, o Institute of Social and Ethical Accountability lançou a AA 1000, que amplia o campo de avaliação e monitora a relação entre a empresa e a comunidade em que está inserida. No Brasil, não existe nenhuma instituição credenciada para certificar empresas com a AS 8000 e AA 1000. Todas as avaliações ao feitas de acordo com os Estados Unidos. Temos, no entanto, várias organizações monitorando e oferecendo prêmios às empresas cidadãs, como o Instituto Ethos, que criou com base no sistema ISSO, indicadores sociais divididos em sete temas: valores e transparência; público interno; meio ambiente; fornecedores; consumidores; comunidade; governo e sociedade.

32

Estas certificações visam a possibilidade das corporações terem melhorias

em suas posições de competitividade, valorizando seus produtos e a marca.

De acordo com Moura (2011), para que isto ocorra as empresas estão

incorporando cada vez mais o princípio do “Triple Botton Line” ou tripé da

sustentabilidade como um dos mais importantes direcionadores da administração.

De acordo com esta visão, é importante que a empresa apresente bom resultado

financeiro (lucro) e, ao mesmo tempo, obtenha bons resultados sociais e ambientais.

“Todos estes fatores interagindo orientando decisões empresariais visando a

propalada “sustentabilidade” (MOURA, 2011, p.17).

Em relação ao contexto, fica evidente a coerência das seguintes palavras de

Kinlaw (apud LIMA, 2005, p. 90):

Somente por meio da administração e do trabalho verde, pela aceitação do meio ambiente como parte integrante de cada aspecto da operação total da empresa, é que os lideres de uma organização podem esperar manter sua posição competitiva e assegurar sua sobrevivência. Não basta mais que as empresas demonstrem uma contínua melhora de seus produtos e serviços. Agora elas estão sendo pressionadas para demonstrar sua capacidade de oferecer seus produtos e serviços amigos do meio ambiente. Nos últimos anos, a questão ambiental evoluiu para se tornar uma importante preocupação empresarial. Estamos caminhando para além da época em que a competitividade pode ser obtida por meio de gerenciamento da qualidade total e da satisfação do cliente. O grau em que tais conceitos continuarão a ter utilidade será determinado pelo grau a que serão definidos de modo a incluir o meio ambiente. As organizações que estabelecem hoje as bases mais sólidas para o futuro são aquelas que veem o meio ambiente como seu mais indispensável fornecedor e seu mais valioso cliente.

A gestão ambiental e a responsabilidade social, enfim, tornam-se “importantes

instrumentos gerenciais para a capacitação e criação de condições de

competitividade para as organizações de qualquer que seja o segmento econômico.”

(TACHIZAWA, 2008, p.6)

1.5 RSE como estratégia de diferenciação e vantagem competitiva

Efetuar práticas sociais, além de ser uma estratégia de diferenciação, é um

indicador de rentabilidade e sustentabilidade a longo prazo e, de acordo com o

instituto Ethos em parceria com o SEBRAE (ETHOS, 2003), o movimento de RSE

vem crescendo muito no país devido ao retorno que traz tanto em termos de

33

reconhecimento (imagem) e melhores condições de competir no mercado, além de

contribuir significativamente para o futuro do país.

De acordo com Bethlem (2002), a estratégia da empresa precisa ter noções

claras da missão, visão, valores e propósitos (aonde esta e aonde quer chegar a

corporação). O administrador precisa utilizar-se de forma eficiente e eficaz os

recursos disponíveis e ajustar-se às frequentes mudanças do ambiente para atingir

os objetivos escolhidos para a empresa. Em relação ao exposto Cohen (apud LIMA

2005, p. 46) argumenta que:

Empresas que não tenham uma estratégia definida no campo social vão perder pontos. Em primeiro lugar, porque estarão deixando de aproveitar um manancial de riqueza em conhecimento que está latente nos funcionários e na comunidade. Em segundo lugar, porque perderão pontos na construção de sua imagem institucional, em relação a concorrentes que se mostrem mais identificados com a sociedade em que atuam. Em terceiro lugar, porque podem estar pura e simplesmente jogando dinheiro fora, desperdiçando excelentes negócios em médio e até curto prazo.

Lima (2005) informa que, independente de que ações sociais sejam feitas de

forma interna ou externa, é importante fazer um planejamento estratégico e que este

planejamento possa ser feito de forma participativa, pois, segundo o autor, o

trabalho em equipe quase sempre gera um comprometimento mais acentuado das

pessoas envolvidas.

Em consonância com o exposto, Simões (2008) argumenta que através do

constante diálogo entre todos os atores sociais envolvidos cria-se melhores

condições para as empresas enfrentarem suas fragilidades e vulnerabilidade na sua

estratégia organizacional.

Tachizawa (2008) avalia que o consumidor do futuro, inclusive no Brasil,

passará a privilegiar não apenas preço e qualidade dos produtos/serviços, mas,

principalmente, o comportamento social das empresas fabricantes e fornecedoras

destes produtos/serviços.

De acordo com Simões et al (2008) em paralelo aos problemas sociais onde o

governo não consegue sozinho demandar soluções, surgem as empresas que

incorporam em suas práticas de gestão atitudes compromissadas não só com a

produtividade e maximização do lucro, mas com o social, vinculadas a uma ética

empresarial.

34

De acordo com Ashley et al (2000), as empresas que incorporam as práticas

de cidadania empresarial possuem os seguintes benefícios:

Melhora da imagem institucional

Melhoria do clima organizacional, satisfação e motivação de seus

colaboradores.

Reconhecimento e orgulho por parte dos colaboradores pela

participação nos projetos sociais

Desenvolvimento de lideranças mais conscientes e socialmente mais

responsáveis.

Desse modo, uma gestão empresarial comprometida com o “fazer o bem”

pode contribuir para garantir sucesso, aumento de mercado e sustentabilidade

(SIMÕES et al, 2008)

1.6 Stakeholders

De acordo com Dias (2008), este termo em inglês significa a necessidade de

atuar com responsabilidade com todos os seus diversos públicos. “O termo

stakeholders apareceu pela primeira vez em um memorando interna do Instituto de

Pesquisa de Stanford em 1963”. (DIAS, 2008, p. 240)

Mas este termo popularizou-se com a publicação, em 1984, do livro de

Edward R. Freeman, intitulado “Strategic management: a stakeholder approach”.

Outra definição para o termo “Stakeholder” o identifica como “um indivíduo ou

grupo que pode afetar ou ser afetado pela realização dos objetivos de uma

empresa”. (FREEMAN, 1984 apud DIAS, 2008, p. 241). Sendo assim, a empresa

não deve ser somente administrada para beneficiar somente seus acionistas e

proprietários, mas, conforme ressaltado por Dias (2008), beneficiar também todos os

demais envolvidos (funcionários, consumidores, fornecedores e os demais grupos),

pois o êxito da empresa depende do envolvimento de todos.

35

Figura 2: Uma organização e seus stakeholders. (DIAS, 2008)

Em consonância com o exposto, Kotler et al (2010) argumentam que as

pessoas se importam com as empresas que se interessam por elas.

Em relação ao contexto, Bethlem (2002) informa que os clientes são os

“donos da empresa” e salienta ainda a importância da empresa conhecer seu perfil,

seus hábitos, desejos e necessidades através de um banco de dados atualizado,

sendo que esta informação gera significativa vantagem competitiva.

Kotler et al (2010) argumentam que uma empresa deve operar como uma

instituição com uma rede leal de parceiros - empregados, distribuidores,

revendedores e fornecedores. Escolhendo bem seus parceiros, e tendo objetivos

claros e se as recompensas forem equitativas, juntos vão se tornar grandes

competidores.

Diante disso Lima (2005, p.45) ressalta que:

É importante que, ao se envolver com ações sociais, sejam elas internas ou externas, as empresas tenham um bom planejamento estratégico. A prática social não pode ser feita sem a existência de uma política social que possua diretrizes corretas de intervenção social da empresa, tais como as áreas prioritárias para se investir, o montante necessário, o público – alvo, etc. Torna – se complexo definir estratégias de atuação social e ambiental sem a existência de uma política interna que contemple os passos necessários para um bom desempenho nesse sentido. Assim, a participação do público integrante da empresa é essencial. O caráter participativo é indispensável, até mesmo nas decisões que envolvam os negócios tradicionais da empresa, pois o trabalho em equipe determina, quase sempre, um comprometimento mais acentuado daqueles que fazem com que a empresa continue existindo [...]

36

Dentro deste contexto Chiavenatto (2010) argumenta que atualmente o

parceiro da organização que deve ser privilegiado é o funcionário. “Para muitas

empresas, ter um bom relacionamento com o seu capital humano é primordial,

principalmente em se tratando de incertezas e de constantes mudanças no cenário

global.” (LIMA, 2005, p. 55)

Desta forma analisaremos mais detalhadamente sobre este importante

componente da organização: os colaboradores.

Os Funcionários ou Colaboradores são, de acordo com o Instituto Ethos

(2013a), um dos mais importantes stakeholders da empresa.

Na concepção de Lima (2005), os funcionários são o ativo mais valioso de

uma empresa e debater assuntos relacionados a RSE sem levar em conta a

importância do corpo funcional seria algo, no mínimo, sem coerência. Ainda segundo

o autor, a responsabilidade social começa de forma interna, através da valorização e

da melhoria da qualidade de vida dos funcionários e seus familiares.

Mas esta valorização do capital humano vista atualmente levou décadas para

ocorrer. Taylor (apud LIMA, 2005, p. 54) informa que:

Durante muitos anos, a tendência geral foi a de ignorar progressivamente a importância do homem como pessoa, para considerá-lo cada vez mais como uma simples engrenagem da maquinaria produtora. A era da técnica e da eficiência se apoiou nesse conceito. Analisou-se por exemplo, o lugar de trabalho e a disposição das ferramentas e materiais, não para procurar a comodidade do homem, mas para poupar tempo e incrementar a produção.

Esse novo ambiente empresarial exigirá dos gestores um novo senso de

responsabilidade em relação aos membros do corpo funcional da organização cujas

expectativas incluem receber tratamento justo, ter participação no processo

decisório, além de ter instrumental apropriado para executar sua função e poder

trabalhar em equipe (TACHIZAWA, 2008, p. 55).

O Instituto Ethos (2013a) analisa que as empresas devem atuar de forma

socialmente responsável com o público interno. Isto significa mais do que respeitar

os direitos garantidos pela legislação; é necessário investir no seu desenvolvimento

pessoal e profissional, bem como garantir sucessivas melhorias nas suas condições

de trabalho. É ainda preciso respeitar as culturas locais e manter um relacionamento

ético e responsável com as minorias e com as instituições que representam seus

interesses.

37

Ainda segundo o instituto, neste novo cenário o público interno deve estar

inserido nas decisões estratégicas da empresa, colaborando com informações

acerca dos produtos, dos fornecedores, dos processos de produção, propondo

melhorias, enfim, colaborando de forma efetiva para o desenvolvimento da

organização. Neste contexto, Chiavenatto (2010) manifesta-se nesta direção e

destaca que as organizações bem sucedidas perceberam que devem tratar seus

funcionários como parceiros de negócios e não como meros empregados

contratados.

Para entender melhor este processo de valorização dos funcionários as

organizações precisam gerir as pessoas através de um conjunto integrado de

processos básicos que segundo Chiavenatto (2010, p.15 -16) são:

1 – Processo de agregar pessoas. São os processos utilizados para incluir novas pessoas na empresa. Podem ser denominados processos de provisão ou de suprimento de pessoas. Incluem recrutamento e seleção de pessoas. 2 – Processo de Aplicar Pessoas. São os processos utilizados para desenhar as atividades que as empresas irão realizar na empresa, orientar e acompanhar seu desempenho. Incluem desenho organizacional e desenho de cargos, análises e descrição de cargos, orientação das pessoas e avaliação do desempenho. 3 – Processos de Recompensar Pessoas. São os processos utilizados para incentivar as pessoas e satisfazer suas necessidades individuais mais elevadas. Incluem recompensas, remuneração e benefícios e serviços sociais. 4 – Processos de Desenvolver Pessoas. São os processos utilizados para capacitar e incrementar o desenvolvimento profissional e pessoal das pessoas. Envolvem seu treinamento e desenvolvimento, gestão do conhecimento e gestão de competências, aprendizagem, programas de mudanças e desenvolvimento de carreiras e programas de comunicações e consonância. 5 – Processos de Manter Pessoas. São os processos utilizados para criar condições ambientais e psicológicas satisfatórias para as atividades das pessoas. Incluem administração da cultura organizacional, clima, disciplina, higiene, segurança e qualidade de vida e manutenção de relações sindicais. 6 – Processo de Monitorar Pessoas. São os processos utilizados para acompanhar e controlar as atividades das pessoas e verificar resultados. Incluem banco de dados e sistemas de informações gerenciais.

38

Figura 3: Os Processos de gestão de pessoas. (CHIAVENATO, 2010)

De acordo com este contexto, “mais do que os estoques acumulados ou os

lucros contabilizados, a empresa vale pelas pessoas que a integram”. (GONÇALVES

apud LIMA, 2005, p. 44)

39

2. Indicadores: Instituto Ethos

O Instituto Ethos (2003) é uma Oscip (Organização Social Civil de Interesse

Público), criada em 1998 com o intuito de auxiliar e sensibilizar empresas de todos

os portes a gerir seus negócios de forma sustentável e de acordo com os preceitos

da responsabilidade social num permanente processo de avaliação e

aperfeiçoamento.

Sua missão é promover e disseminar práticas empresariais socialmente

responsáveis, contribuindo para que as empresas alcancem um desenvolvimento

sustentável em seus aspectos econômico, social e ambiental.

Além das empresas, podem se associar ao Instituto Ethos as entidades

empresariais e instituições de ensino. Seus associados são de diferentes regiões,

setores e portes e possuem um faturamento anual correspondente a cerca de 35%

do PIB brasileiro e empregam em torno de 2 milhões de pessoas. Estas

organizações distribuem entre si o interesse em estabelecer padrões éticos de

relacionamento com todos os seus stakeholders.

As empresas associadas participam de várias atividades que as ajudam e

auxiliam a compreender e incorporar a RSE no seu dia-a-dia. Têm acesso a uma

ampla gama de material onde são abordados vários aspectos da sustentabilidade e

da responsabilidade social, além de poder participar de fóruns de discussão,

reuniões, palestras e debates, publicações de apoio, bem como a um banco de

dados que vem reunindo práticas empresariais socialmente responsáveis de

excelência.

PORTE DAS EMPRESAS

Grande Empresa 470

Média Empresa 271

Pequena Empresa 432

Micro Empresas 299

Outros 58

Nº total de empresas 1530

Tabela 2: Porte das empresas associadas ao Instituto Ethos. (INSTITUTO ETHOS, 2013c)

40

Princípios e compromissos orientam a relação entre a empresa e o Instituto

Ethos. Aceitá-los é pré-requisito para a associação.

Uma das diretrizes da missão do Instituto Ethos é disseminar a prática da

responsabilidade social empresarial, ajudando as instituições a:

1. Compreender e incorporar de forma progressiva o conceito do comportamento empresarial socialmente responsável; 2. Implementar políticas e práticas que atendam a elevados critérios éticos, contribuindo para o alcance do sucesso econômico sustentável em longo prazo; 3. Assumir suas responsabilidades com todos aqueles que são atingidos por suas atividades; 4. Demonstrar a seus acionistas a relevância de um comportamento socialmente responsável para o retorno em longo prazo sobre seus investimentos; 5. Identificar formas inovadoras e eficazes de atuar em parceria com as comunidades na construção do bem-estar comum; 6. Prosperar, contribuindo para um desenvolvimento social, econômica e ambientalmente sustentável.

Segue abaixo a tabela da porcentagem das empresas por estados brasileiros

associados ao Instituto Ethos.

Estado Porcentagem

São Paulo 53,96 %

Rio de Janeiro 12,84 %

Minas Gerais 7,07 %

Bahia 4,72 %

Tabela 3: Distribuição das empresas associadas ao Ethos por Estado. (ETHOS, 2013b)

Vale ressaltar que além de ser indicador mais visível das ações sociais das

empresas o balanço social serve para demonstrar e obter informações das práticas

sociais das empresas. Segundo Lima (2005, p. 233):

O balanço social, por assim dizer, é o principal mecanismo de avaliação e informação social. Por meio dele, as organizações podem mostrar o que estão fazendo em termos de prática social/ambiental, além de utiliza-lo como ferramenta de gestão social.

Este importante tema poderá ser abordado numa pesquisa futura.

41

3. Metodologia

Esta presente pesquisa caracteriza-se como qualitativa, pois se atém às

teorias do tema pesquisado – Responsabilidade Social Empresarial – e possui o

caráter exploratório, pois este tipo de pesquisa é capaz de “proporcionar maiores

informações sobre determinado assunto; facilitar a delimitação de um tema de trabalho.”

(ANDRADE, 2010, p. 112)

Neste instrumento de trabalho utilizou-se técnicas de pesquisa bibliográfica e

estudo de caso.

Pesquisas bibliográficas têm como intuito fornecer dados consistentes de

apoio sobre as teorias do tema pesquisado.

De acordo com Lakatos e Marconi (2011, p.12) “a pesquisa bibliográfica é um

apanhado geral sobre os principais trabalhos já realizados, revestidos de

importância por serem capazes de fornecer dados atuais e relevantes relacionados

ao tema”.

Também foi utilizado na metodologia a pesquisa de campo, que de acordo com

Lakatos; Marconi (2011, p.69), tem como objetivo ”conseguir informação ou

conhecimento acerca de um problema para qual se procura uma hipótese que se queira

comprovar, ou, ainda, descobrir novos fenômenos ou as relações entre ele”.

Para dar andamento ao trabalho foi feito o estudo de caso que “é a pesquisa

que se concentra no estudo de um caso particular, considerado representativo de

um conjunto de casos análogos, por ele significativamente representativo”.

(SEVERINO, 2007, p.121)

Este estudo, realizado no Supermercado Ilha da Princesa na Avenida

Princesa Isabel nº 2.437, Barra Velha, cidade de Ilhabela - SP possui o intuito de

perceber a existência de benefícios provenientes das ações de Responsabilidade

Social.

Para prosseguir com o estudo de caso foram feitas coletas de dados, através

de questionário junto à gestora da empresa e na concepção de Lakatos e Marconi

(2008, p. 18) “coleta de dados é a etapa da pesquisa em que se inicia a aplicação

dos instrumentos elaborados e das técnicas selecionadas, a fim de se efetuar a

coleta de dados previstos”.

42

O objetivo do trabalho é identificar as ações socioambientais efetuadas pela

empresa e verificar o efeito como diferencial competitivo que resulta benefícios e

vantagens para a empresa analisada.

Para dar sequência a esta pesquisa, foi elaborado um questionário que foi

respondido na sede da empresa pela gestora administrativa do supermercado,

Ivonete Torres, em outubro de 2013.

O questionário “é um conjunto de perguntas que o informante responde, sem

a necessidade da presença do pesquisador.” (ANDRADE, 2010, p.134). Foram feitas

12 perguntas de forma aberta que, segundo Andrade (2010), dá mais liberdade de

resposta ao entrevistado e colhe o maior número possível de informações. As

perguntas encontram-se no Apêndice.

43

4. Resultados e Discussão

4.1 História do Supermercado Ilha da Princesa

A organização foi inaugurada em outubro de 1974 pelo empreendedor

Antonio Marques Nogueira (conhecido como Sr. Toninho). No começo de suas

atividades era uma micro empresa (mercearia) e contava apenas com 02

funcionários.

Figura 4: Fundador do Supermercado Ilha da Princesa, o Sr. Antonio Marques Nogueira (Sr.Toninho).

O questionário respondido pela gerente administrativa do Supermercado Ilha

da Princesa, Ivonete S. Torres, revelou que a empresa começou suas ações sociais

em 1980.

Com a morte do Gestor Sr. Toninho num acidente na rodovia dos Tamoios,

em dezembro de 2011, a empresa passou a ser gerida pelas suas filhas Nadia e

Nívea Nogueira Marques, que deram continuidade aos negócios e expandiram tanto

a empresa como as práticas sociais.

44

Figura 5: Supermercado Ilha da Princesa.

O Supermercado Ilha da Princesa está localizado na Avenida Princesa Isabel

nº 2.467, bairro Barra Velha, Ilhabela - SP. Atualmente, conta com 167

colaboradores e se tornou uma empresa de médio porte.

4.2 Supermercado Ilha da Princesa e a RSE

A empresa tem como valores:

Conhecimento do mercado de atuação

Satisfação de clientes e colaboradores

Compromisso socioambiental

Excelência nas operações

Comunicação transparente

Inovação

Com a expansão dos negócios, a empresa começou a contratar mais

funcionários e a investir nos seus colaboradores. Além das obrigações legais,

passou a oferecer cursos de aperfeiçoamento, de segurança do trabalho, fazer

doação de bolsa de estudos e valorizar o colaborador através de mudança de cargo

(promoção), o que ocorreu com a própria gestora administrativa, que trabalha na

empresa há 24 anos e começou como secretária. Durante as reuniões que são feitas

mensalmente, os funcionários são incentivados a darem suas sugestões e/ou

críticas nas decisões e processos da empresa. Desta forma, a empresa segue todos

45

os preceitos de Chiavenatto (2010) que são: agregar, aplicar, recompensar,

desenvolver, manter e monitorar pessoas.

Internamente, a empresa evidencia sua preocupação com questões

ambientais. Há separação do material reciclável, doação deste material para ser

reciclado e reutilizado, economia de água e energia elétrica, além de ter

comprometimento com atitudes que não degradem o meio ambiente. Além disso, as

sacolas plásticas, nas quais os consumidores levam seus produtos para casa, são

biodegradáveis. Tais ações também são reflexo do fato de que a empresa participa

do Programa de responsabilidade socioambiental intitulada SELO VERDE, em

parceria com a Associação Comercial e Industrial de Ilhabela.

Neste programa, disponível no site Selo Verde (2013), as empresas

associadas recebem cursos gratuitos on line, notícias, visitas dirigidas, diagnóstico

da empresa entre outros para a implantação do programa sobre sustentabilidade e

ações sociais e tem como diretrizes:

Adotar valores e trabalhar com transparência

Valorizar empregados e colaboradores

Fazer sempre mais pelo meio ambiente

Envolver parceiros e colaboradores

Proteger clientes e consumidores

Promover a comunidade

Comprometer – se com o bem comum

Com este certificado Selo Verde a empresa tem diversos benefícios como:

Melhora da sua imagem institucional

Marketing espontâneo na mídia

Motivação e comprometimento dos funcionários

Confiabilidade dos consumidores

Maior fidelidade dos seus clientes

Maior possibilidade de angariar novos clientes

Diferencial positivo, gerando lucro para a empresa

Maior facilidade à créditos financeiros

46

Entre outros benefícios.

O Supermercado Ilha da Princesa reconhece que as práticas de

sustentabilidade são importantes e, segundo a gestora administrativa, a

sustentabilidade forma-se pelo tripé: “cuidar do planeta em que vivemos, da

dignidade humana nas relações de trabalho e a prosperidade. Se a empresa não

desenvolver ações nestas linhas, fatalmente está fadada a regredir e a

desaparecer.”

Na área externa, a comunidade é muito beneficiada com as ações sociais da

empresa, pois são feitas as seguintes práticas: doação de gêneros alimentícios para

creches e entidades assistenciais; auxilio monetário para atletas; doação mensal de

cestas básicas para famílias carentes; doação financeira e de itens para eventos

diversos promovidos pelas secretarias municipais, escolas, igrejas e outras

entidades ligadas ao serviço social, cultural e do meio ambiente e promoção, junto à

Prefeitura e o Shopping da Construção, da Festa do Dia das Crianças, na qual

realiza-se a doação de brinquedos para crianças carentes. Além de fazerem

contribuições financeiras a Ong Ilhabela Sustentável e ao Grupo de Apoio a Pessoas

com Câncer (GAPC) na cidade de Caraguatatuba - SP, parte da ajuda feita para

estas duas instituições são deduzidas do imposto de renda, as demais não são

deduzidas por não se enquadrarem na legislação.

A gestora apontou que a falta de tempo é o que dificulta o aumento das

práticas sociais da empresa.

Apesar de todas as ações sociais relacionadas acima, a empresa não elabora

e não publica seu balanço social.

Em virtude do grande engajamento do empresário Toninho em ações voltadas

principalmente para crianças carentes do município, foi dado o nome deste

empreendedor a uma creche no bairro Água branca em Ilhabela - SP.

A empresa declarou que ações de responsabilidade social e sustentabilidade

além de ser um diferencial competitivo, trás inúmeros benefícios para as empresas

que a incorporam independentemente do porte. Assim, todas as empresas podem

contribuir para diminuir as desigualdades sociais e se tornarem lucrativas.

47

5. Considerações Finais

Diante das evidências empíricas identificadas, torna-se viável responder à

pergunta de pesquisa: “A adoção de práticas de responsabilidade social na gestão

empresarial traz benefícios para as organizações que as incorporam?”

A análise dos resultados obtidos, baseado no estudo de caso do

Supermercado Ilha da Princesa, identificou práticas de sustentabilidade e de

responsabilidade social que proporcionaram um diferencial competitivo nos

negócios, com retorno financeiro e de imagem para a empresa, através de diversos

benefícios elencados abaixo.

De acordo com o referencial teórico pesquisado, foi identificado que a

responsabilidade social concede uma maior vantagem competitiva para a

organização que a incorpora desde que seja de forma ética e transparente, os

benefícios obtidos são: uma maior motivação e comprometimento de seus

colaboradores, a melhoria de sua imagem institucional, a valorização da empresa

pelos seus diversos agentes sociais, entre outros, além de contribuir de forma

substancial na diminuição das desigualdades sociais existentes no Brasil, pois o

governo sozinho não conseguiria resolver todos os problemas sociais existentes de

forma satisfatória e eficiente no nosso país.

Desta forma, empresas de diferentes portes estão inserindo práticas sociais

em suas corporações, muitas por imposição da sociedade, outras como estratégia

administrativa e ainda existem as empresas que fazem ações sociais por convicção

para contribuir com a melhoria da comunidade onde a empresa esta instalada.

Investir em ações sociais não é mais considerado como gasto, mas sim um

investimento a longo prazo e cada empresa age de acordo com a sua receita e com

seu próprio modelo de gestão, visto que não existe um modelo padrão pré definido

para todas as organizações.

Desta forma existem as instituições certificadoras e indicadoras para auxiliar

as empresas que querem inserir práticas socioambientais em sua gestão através de

suas diretrizes.

A sociedade está cada vez mais consciente de seu poder de compra. O

preço e qualidade já não são mais considerados diferenciais nos negócios, mas sim

uma exigência para as empresas que buscam se manter no mercado. Assim, os

48

consumidores estão fazendo escolhas cada vez mais conscientes, buscando

empresas que adotam cada vez mais critérios socioambientais.

Dias (2008) informa que as empresas não podem existir em função somente

da lucratividade, mas é preciso que outros valores passem a compor a cultura

empresarial vigente, pois demonstrar comprometimento social deixou de ter uma

conotação filantrópica e ganhou dimensão estratégica para as empresas se

manterem no mercado, como percebido no Supermercado Ilha da Princesa.

49

Referências

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53

Apêndices

Apêndice 1 – Questionário aplicado à Gestora Administrativa

Nome da Empresa: Endereço: Data da fundação: Fundador: Porte da empresa: Quantidade de colaboradores: Gestora Administrativa: Tempo de trabalho: Cargo inicial: Questionário

1. Qual a visão, missão e valores da empresa? 2. Quando a empresa iniciou as práticas sociais voltadas para a comunidade

local?

3. O que incentivou o gestor a ter estas iniciativas?

4. Em quais áreas são realizadas estas ações?

5. Utiliza incentivos fiscais do governo para efetuar as ações sociais? 6. A empresa realiza estas ações com qual frequência? 7. A empresa incentiva a participação de seus colaboradores nas decisões e

processos da empresa? 8. A empresa participa de alguma instituição em defesa do meio ambiente? 9. Atualmente o tema sustentabilidade é muito comentando, principalmente no

mundo empresarial, você como gestora considera importante investir em programas voltados nesta área?

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10. A empresa faz uso do balanço social como ferramenta de gestão, a fim de

se detalhar as ações sociais efetuadas? 11. Qual a maior dificuldade que você como gestora de empresa encontrou

para desenvolver ações de responsabilidade social? 12. Em sua opinião investir em práticas sociais gera retorno para a empresa?