RESENHA CRÍTICA

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RESENHA CRÍTICA Considerações sobre o marxismo ocidental O autor explicita no início do texto que seu objetivo é fazer considerações sobre um corpo teórico específico, o chamado “marxismo ocidental”, estabelecendo o que constitui a unidade dessa corrente teórica, apesar das divergências internas. Para chegar ao momento histórico em que se desenvolveu o marxismo ocidental, Anderson faz uma apanhado da história do marxismo científico ou do materialismo histórico, começando pelo legado de Marx e Engels. Com relação a Marx, seu grande legado foi de fato a elaboração de uma teoria econômica capaz de explicar com propriedade o modo de produção capitalista. No entanto, a sua teoria política sobre o Estado e estratégia da luta socialista não foram tão desenvolvidas quanto sua teoria econômica. Além dessa questão, o autor aponta para um fator que vai perpassar todo o ensaio: a relação entre teoria e prática dos autores, ou seja, a relação que Marx e Engels mantinham com o movimento operário da época. No caso de Marx era uma relação irregular e indireta, muito por conta das limitações organizativas do movimento operário da época em que sequer haviam partidos operários organizados. Outra fator interessante era o caráter internacionalista dessa relação entre teoria e práxis, os dois autores se correspondiam com militantes e dirigentes de toda a Europa e América do Norte. A geração imediatamente posterior à Marx e Engels, teve atuação pouco conhecida, sendo os principais nomes Labriola, Mehring, Kautsky e Plekhanov. Segundo o autor, é possível encontrar uma unidade na obra destes autores uma vez que todos eles estavam preocupados em sistematizar o materialismo histórico para dotar o movimento operário de uma visão de mundo revolucionária. Essa era também uma preocupação do velho Engels, sendo que muitos dos temas abordados pelos quatro autores foram também abordados por Engels nos seus últimos textos, já depois do falecimento de Marx. Os marxistas que vieram em seguida viveram um contexto internacional muito mais conturbado, com a iminência da Primeira

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RESENHA CRÍTICA

Considerações sobre o marxismo ocidental

O autor explicita no início do texto que seu objetivo é fazer considerações sobre um corpo teórico específico, o chamado “marxismo ocidental”, estabelecendo o que constitui a unidade dessa corrente teórica, apesar das divergências internas.

Para chegar ao momento histórico em que se desenvolveu o marxismo ocidental, Anderson faz uma apanhado da história do marxismo científico ou do materialismo histórico, começando pelo legado de Marx e Engels. Com relação a Marx, seu grande legado foi de fato a elaboração de uma teoria econômica capaz de explicar com propriedade o modo de produção capitalista. No entanto, a sua teoria política sobre o Estado e estratégia da luta socialista não foram tão desenvolvidas quanto sua teoria econômica.

Além dessa questão, o autor aponta para um fator que vai perpassar todo o ensaio: a relação entre teoria e prática dos autores, ou seja, a relação que Marx e Engels mantinham com o movimento operário da época. No caso de Marx era uma relação irregular e indireta, muito por conta das limitações organizativas do movimento operário da época em que sequer haviam partidos operários organizados. Outra fator interessante era o caráter internacionalista dessa relação entre teoria e práxis, os dois autores se correspondiam com militantes e dirigentes de toda a Europa e América do Norte.

A geração imediatamente posterior à Marx e Engels, teve atuação pouco conhecida, sendo os principais nomes Labriola, Mehring, Kautsky e Plekhanov. Segundo o autor, é possível encontrar uma unidade na obra destes autores uma vez que todos eles estavam preocupados em sistematizar o materialismo histórico para dotar o movimento operário de uma visão de mundo revolucionária. Essa era também uma preocupação do velho Engels, sendo que muitos dos temas abordados pelos quatro autores foram também abordados por Engels nos seus últimos textos, já depois do falecimento de Marx.

Os marxistas que vieram em seguida viveram um contexto internacional muito mais conturbado, com a iminência da Primeira Guerra Mundial pairando sob eles. Não por acaso, foi esta a geração mais destacada do marxismo ocidental, tendo nomes como Lenin, Rosa Luxemburgo, Trotski e Bauer. Estes autores também tiveram um papel destacado na direção dos partidos comunistas de seus países e todos apresentaram inovações à teoria marxista, indo além do mera interpretação dos textos de Marx.

Claro que além da extraordinária capacidade intelectual destes autores – ressalte-se que todos desenvolveram um trabalho teórico fundamental antes de completar trinta anos de idade -, também o contexto histórico de transformações no capitalismo e o engajamento político de tais autores são fatores essenciais para compreender a importância deles para a teoria marxista, em especial para a teoria política marxista.

A primeira análise política da estratégia revolucionária foi feita por Trotski, enquanto Lenin foi responsável por elaborar uma teoria política sistemática da organização e tática da luta de classes que depois viriam a servir de base para a ação concreta durante a Revolução Russa. Alguns textos de Lênin foram tão inovadores que chegaram a estabelecer novas normas

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dentro do materialismo histórico: a análise concreta de uma situação concreta, ou o que Lênin chamou de a “alma viva do marxismo”. Inovações estas que levariam a criação de uma nova vertente marxista, o leninismo.

A rede de discussões e debates internacionais articulada pelos autores dessa geração era ampla, havendo uma comunicação importante entre os escritores da Segunda Internacional Comunista. No entanto, a deflagração da Primeira Guerra Mundial e seus atos seguintes causaram uma cisão entre os marxistas da época, uma vez que haviam posições diversas dos autores com relação à Guerra, causadas em alguns casos pelo papel que seus países de origem desempenhavam no conflito. Esse foi um dos motivos do fim da Segunda Internacional.

A Terceira Internacional criada no pós guerra se defrontou com a Revolução Russa, e, após a morte de Lenin, com a ascensão ao poder de Stalin. A política centralizadora de Stalin tomou conta da Terceira Internacional e foi responsável por esterilizar o pensamento político leninista subordinando todos os partidos comunistas do mundo à política externa da URSS.

O advento do marxismo ocidental