Resenha Amor e Capital
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7/23/2019 Resenha Amor e Capital
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CAPOEIRA
Revista de Humanidades e Letras
ISSN: 2359-2354
Vol. 1 | Nº. 1 | Ano 2014
RESENHA
Site/Contato
www.capoeirahumanidadeseletras.com.br
Editores
Marcos Carvalho [email protected]
Pedro [email protected]
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7/23/2019 Resenha Amor e Capital
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João Wanderley Geraldi
Capoeira – Revista de Humanidades e Letras | Vol.1 | Nº. 1 | Ano 2014 | p. 123
RESENHA
Amor & Capital. A saga familiar de Karl Marx e a história de
uma revolução , de Mary Gabriel (Rio de Janeiro : Zahar, 2013)
por João Wanderley Geraldi
Manuseando a correspondência trocada entre os membros da família Marx, os
primeiros membros da Internacional Socialista e de muitos militantes do século XIX, Mary
Gabriel recompõe uma história próxima ao cotidiano vivido pela família de Karl Marx, sem
deixar de lado incursões pela produção teórica daquele que revolucionou a compreensão do
mundo e das relações sociais no interior do capitalismo.
Acompanhar uma família e as relações entre seus membros no período que vai de 1835
a 1910, passando pelos grandes movimentos sociais do século (entre eles a Comuna de Paris) é
uma aventura intelectual marcante para qualquer leitor. O mistério do financiamento generoso de
Engels para que Marx viesse a fazer sua produção teórica, os aportes financeiros constantes e a
tendência de Marx para voltar à situação de penúria financeira depois de regularizada a situação
por Engels, passa neste livro por uma compreensão humana da vida num século marcado pelo
desenvolvimento do capitalismo mas também pelo desenvolvimento de seu contraponto, ao
menos teórico, com os movimentos sindicais e partidários dos socialistas.
Começava então uma sociedade de produção que necessitava como seu corolário um
consumo desenfreado. Na fórmula mais compreensível de Marx, a pergunta daqueles que podiam
pagar, no país mais desenvolvido da época (Inglaterra), já não era “do que eu preciso?”, mas “o
que eu quero?” e “o abismo entre os que faziam essa pergunta e o resto da população havia
ficado perigosamente vasto” (p.119).
O ponto mais interessante desta nova “radiografia” da vida familiar de Karl Marx é sua
visada feminina: são as cartas escritas pelas mulheres da família Marx que permitirão à autora
reelaborar a vida privada e cotidiana. A esposa, Jenny von Westphalen, filha da aristocracia de
Trier (Barão von Westpahlen), apesar de suas origens sociais, foi capaz de acompanhar e apostar
nos estudos e trabalhos do criador do socialismo científico. Pagou um preço extremamente alto:
perdeu filhos porque não lhes pode dar o necessário para a subsistência; amargurou a falta de
comida e calor nos invernos do exílio em Londres (antes passando por Paris e Bruxelas);
humilhou-se pedindo dinheiro e heranças antecipadas. E nada de os livros de Marx virem a
público ou, quando publicados, tornarem-se fontes de rendas que ajudassem a sustentar a vida.
As filhas sobreviventes (Jennychen, Laura e Eleanor) parece terem sido escolhidas pelo
destino para reviverem, a seu tempo e a seu modo, o mesmo percurso da mãe. Todas tiveram
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RESENHA: Amor & Capital
Capoeira – Revista de Humanidades e Letras | Vol.1 | Nº. 1 | Ano 2014 | p. 124
maridos socialistas, praticamente incapazes de gerar rendas. Todos eles (Longuet, Lafarge e
Aveling, respectivamente) foram militantes do socialismo, foram jornalistas, fizeram política
partidária.
Certamente os leitores terão uma antipatia maior por Aveling, cuja vida privada
desregrada e infiel fez o infortúnio de Tussy (apelido de Eleanor Marx), até levarem-na ao
suicídio em 1897. Certamente também se comoverá com Freddy, que viveu buscando sua
identidade e a identidade de seu pai. Inicialmente e sorrateiramente pensava-se ser Engels o pai,
mas este antes de morrer indica o verdadeiro pai: Karl Marx. Este filho fora do casamento foi
mantido em segredo e resultou de uma relação do pai do socialismo com Lenchen, a empregada
que sempre acompanhou a família Marx em todos os seus momentos, ajudando Jenny na criação
dos filhos e comandando a casa da família.
Não há como não se emocionar, ao final do livro, acompanhando o final da vida do
casal Lafargue (Laura Marx e Paul Lafargue) que escolhem não envelhecer e preferem o suicídio:
o mundo socialista inteiro traz suas condolências e acompanha o casal até o cemitério Père-
Lachaise no dia 3 de dezembro de 1911.
Ler o livro de Mary Gabriel é uma aventura intelectual, particularmente para aqueles
que gostam de história, que queiram compreender o século XIX e que, sem preconceitos prévios,
sejam capazes de entender a humanidade de um dos maiores pensadores que já tivemos na
história, aquele que nas palavras de George Bernard Shaw “realizou a maior proeza literária queum homem pode almejar: Marx mudou a consciência do mundo”.