Resenha África
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UERJ-Universidade do Estado do Rio de Janeiro F.F.P. Faculdade de Formação de Professores Curso: Geografia Disciplina: Organização do Espaço Geográfico Mundial II Turma: 2 Professor: Denílson Araújo de Oliveira Aluno: Alexsander Ohnesorge
A outra história Africana
“Enquanto não houver leões historiadores, a glória da caça irá sempre para o caçador” (Provérbio Haussa).
Há um interesse central em começar essa resenha com o provérbio
Haussa, com o objetivo de desconstruir alguns conceitos que vem sendo
difundidos. Pois, ao longo da história da humanidade, muitas teorias tem se
afirmado como verdades absolutas, desprezando as múltiplas narrativas acerca
da história e da geografia tornando povos, pessoas, culturas, etnias e costumes
como invisíveis. Mas acima de tudo, contribuído para a reprodução de uma
visão de mundo eurocêntrica e a reprodução de um racismo nocivo que se
arrasta através dos tempos.
Para ajudar nessa desconstrução, foram escolhidos os textos
“Representações da África e da População Negra nos Livros didáticos de
Geografia” de Alecsandro J.P. Ratts, Ana Paula Costa Rodrigues, Benjamim
Pereira Vilela, Diogo Marçal Cirqueira. “Eurocentrismo, História e História da
África” de Muryatan Santana Barbosa e para auxiliar, “1492 A Origem do Mito
da Modernidade – O Encobrimento do Outro. O Eurocentrismo” de Henrique
Dussel.
Depois de uma analise detalhada dos textos, não foi possível encontrar
nenhuma divergência de idéias, teorias e argumentos entre os autores. Todos
eles falam do mesmo assunto, no entanto, seguindo por caminhos diferentes
dentro de uma mesma temática, tornando-se complementares entre si.
Contudo, se não foi encontrada divergências nos textos apresentados,
foi possível encontrar algumas semelhanças entre eles. Uma dessas coisas em
comum está no fato dos textos questionarem as bases da produção do
conhecimento cientifico, a geografia e a história que é contada. A história que
nós temos acesso, em sua grande maioria é contada por historiadores
europeus ocidentais. A filosofia que é difundida ao mundo é baseada nos
filósofos ocidentais, afirmando, como nos apresenta Barbosa (2008), uma
historia provinciana como universal.
As metodologias utilizadas e as pesquisas científicas são europeias. Os
cientistas são europeus. Portanto, todos eles reproduzem um eurocentrismo na
ciência, na história e na geografia, por construírem uma ciência baseada na
idéia de que a sua sociedade é superior a todas as outras. Logo, temos uma
visão de mundo eurocêntrica.
Observamos essa problemática de uma ciência eurocêntrica se
reproduzindo em diferentes escalas, como nos livros didáticos de geografia.
Ratts (2006/2007) vai nos apresentar em seu texto como a reprodução do
racismo é propagada por esse material, devido às imagens esteriotipadas que
são difundidas acerca da África e dos negros e das negras. Elementos
difundidos por essa visão de mundo eurocêntrica que põe a Europa e os
brancos como superiores, sendo o padrão a ser alcançado pelos outros povos.
A Europa e os europeus se colocam no centro do mundo, como sendo
mais desenvolvidos, educados e tecnológicos. E o resto do mundo sendo
subdesenvolvido e selvagem. Em especial a África.
Outra semelhança que se pode destacar é o combate ao eurocentrismo.
Os textos escolhidos são unanimes em combater essa visão de mundo. Ratts
(2006/2007), em seu texto afirma que o eurcentrismo está impregnado no livro
didático, que é um reprodutor de racismo, junto a problemas na formação de
professores e corpo docente. O que dificulta a desconstrução do eurocentrismo
e consequentemente do racismo no ambiente escolar. Sendo um elemento
prejudicial no desempenho escolar de alunos negros e das alunas negras.
E é dentro desse contexto de combate ao eurocentrismo que se começa
a escrever a outra história Africana. E o combate a essa ideologia e/ou
paradigma, como apresenta Barbosa (2008), que causou e ainda causa tanto
transtorno a humanidade, principalmente aos negros e as negras, vêm sendo
combatido através de novas publicações cientificas e uma investigação
minuciosa da história, em especial por historiadores e cientistas africanos.
O que permite que novos materiais e livros didáticos sejam escritos
contanto outras perspectivas da história da África e dos africanos que não seja
estereotipada e comparada a Europa. Mostrando suas lutas, suas vitórias, suas
resistências, resgatando sua identidade e suas memórias. E a escola, que ao
longo do tempo foi uma arma de reprodução do racismo e do preconceito,
passa a ser uma arma também, a favor da desconstrução dessa ideologia
nociva.
Nesse combate ao eurocentrismo, pode-se destacar também a
semelhança encontrada nos textos, que fazem uma menção no número
crescente de publicações que foram se desenvolvendo ao longo do tempo.
Cada vez mais têm sido produzidas pesquisas científicas que estão sendo
publicadas. Temos mais profissionais especializados em história da África se
formando, cresce também o número de faculdades com cursos voltados para a
história africana. E o mais interessante é que se num primeiro momento a
história africana começa a despertar um interesse europeu. Ela agora passa a
ser contada pelos próprios africanos fortalecendo ainda mais essa luta. Como
afirma Barbosa (2008) no texto abaixo:
“Em paralelo a este crescimento do interesse europeu sobre o continente africano, se forma, desde os anos 1950, uma historiografia sobre a África realizada pelos próprios africanos. Trata-se, inicialmente, de uma literatura que fazia eco com as primeiras lutas de libertação nacional na África. Nesse contexto, tratava-se de construir uma História que pudesse servir como instrumento de luta ideológica e política contra o inimigo colonialista.” (BARBOSA, 2008, p.51)
Portanto, temos agora os leões historiadores, onde a glória da caça
deixa de ir para o caçador e passa agora a ir para o leão. A história deixa de
ser contada pelo homem que se diz vencedor. Agora a outra história africana
passa a ser contada não apenas pelo explorador, mas por aquele que foi
explorado, aquele que lutou, resistiu, combateu e também venceu.
Contudo, é importante salientar que ainda é preciso avançar muito nessa
luta. Como Ratts (2006/2007) afirma em seu texto, é fundamental estudar e
valorizar a história da África. Pois, ela é de extrema importância para a
compreensão da história e da geografia em especial a do Brasil. Para que se
entenda a influência desse continente e do seu povo na formação do mundo
que conhecemos e também para a formação do território brasileiro.
Bibliografia
BARBOSA, Muryantan Santana. Eurocentrismo, História e História da África. Sankofa. Revista de História da África e de Estudos da Diáspora Africana N°1 jun./2008
RATTS, A. J. P. et al. Representações da África e da População Negra nos livros didáticos de Geografia. Revista da Casa da Geografia de Sobral, Sobral, v. 8/9, n. 1, p. 45-59, 2006/2007. www.uvanet.br/rcg.
Dussel, Enrique. O Eurocentrismo. In: 1492 – O encobrimento do outro: a origem do mito da modernidade, Petrópolis: Vozes, 1993.