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FABIANE MARIA ZAT REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE SAÚDE E DOENÇA: IMPLICAÇÕES NA GINÁSTICA LABORAL E ERGONOMIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO (UCDB) MESTRADO EM PSICOLOGIA CAMPO GRANDE-MS 2009

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FABIANE MARIA ZAT

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE SAÚDE E DOENÇA:

IMPLICAÇÕES NA GINÁSTICA LABORAL E ERGONOMIA

UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO (UCDB)

MESTRADO EM PSICOLOGIA

CAMPO GRANDE-MS

2009

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FABIANE MARIA ZAT

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE SAÚDE E DOENÇA:

IMPLICAÇÕES NA GINÁSTICA LABORAL E ERGONOMIA

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Psicologia da Universidade Católica Dom Bosco, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Psicologia, área de concentração: Psicologia da Saúde, sob a orientação da Profa. Dra. Angela Elizabeth Lapa Coêlho.

UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO (UCDB)

MESTRADO EM PSICOLOGIA

CAMPO GRANDE-MS

2009

Ficha Catalográfica

Zat, Fabiane Maria Z38r Representações sociais de saúde e doença: implicações na

ginástica laboral e ergonomia / Fabiane Maria Zat ; orientação Angela Elizabeth Lapa Coêlho. 2009.

115 f.: + anexos

Dissertação (Mestrado em psicologia) – Universidade Católica Dom Bosco. Campo Grande, 2009

1. Psicologia da saúde 2. Ergonomia 3. Saúde e trabalho 4.

Trabalhadores – Treinamento físico 5. Qualidade de vida no trabalho I. Coelho, Ângela Elizabeth Lapa II. Título

CDD-616.08

Bibliotecária responsável: Clélia T. Nakahata Bezerra CRB 1/757.

A dissertação apresentada por FABIANE MARIA ZAT, intitulada “REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE SAÚDE E DOENÇA: IMPLICAÇÕES NA GINÁSTICA LABORAL E ERGONOMIA”, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em PSICOLOGIA à Banca Examinadora da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), foi ........................................... .

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________ Profa. Dra. Angela Elizabeth Lapa Coêlho

(orientadora/UCDB)

____________________________________________ Prof. Dr. Pericles Saremba Vieira (UPF)

____________________________________________ Profa. Dra. Anita Guazzelli Bernardes (UCDB)

____________________________________________ Profa. Dra. Heloisa Bruna Grubits Freire (UCDB)

Campo Grande-MS, de de 2009.

Dedico este trabalho, primeiramente a Deus, por me dar a dádiva da vida.

Ao meu amado esposo Alcione Korte companheiro de vida, pelo amor e pela força.

Aos meus queridos pais Teolindo Zat e Zélia Castioni Zat, aos meus irmãos Rosane Zat Sander e Leandro Luiz Zat, pela maravilhosa experiência do convívio e do aprendizado. E, em especial, a minha amada sobrinha Andressa Nicole Sander.

A minha querida Orientadora Profª Drª Angela Elizabeth Lapa Coêlho, pelos ensinamentos e pelo carinho nesta linda caminhada.

AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço a Deus, luz maior em minha vida, que guia os meus passos

nesta caminhada terrena;

Também agradeço a minha querida Orientadora, Profª Drª Angela Elizabeth Lapa

Coêlho que, com muita sabedoria, orientou-me durante esta importante etapa de formação;

Em especial, estendo meus agradecimentos ao meu esposo Alcione Korte, pessoa a

quem amo e admiro profundamente, por todo apoio e dedicação que demonstra comigo,

durante todo este tempo que estamos juntos;

Agradeço também aos meus pais Teolindo Zat e Zélia Castioni Zat, pessoas

formidáveis, a quem devo a vida e o que de mais precioso pude aprender nela. Aos meus

irmãos Rosane e Leandro, a minha sobrinha Andressa Nicole e aos demais familiares, em

especial ao Jaime, Aldiciane, Graciele e Márcio;

Agradeço também aos meus colegas, amigas e amigos queridos que, em muitos

momentos, foram pessoas determinantes para que eu pudesse até aqui chegar, através do

apoio, dos conselhos, das conversas e dos exemplos. Entre tantos que gostaria de nominar,

vou agradecer em especial às Professoras Ms. Norma Rejane Santos Ribas e a Drª Mirian

Lange Noal, pela oportunidade e pelo carinho dispensado;

Agradeço a todas as empresas pelas quais trabalhei, tendo a oportunidade de aplicar

meu trabalho da forma como idealizo e acredito, assim como a todos os trabalhadores, com os

quais tanto aprendi;

Também estendo meu profundo agradecimento a todas as pessoas que fizeram parte

deste estudo, secretárias e secretário de curso da Universidade Católica Dom Bosco, pois sem

a contribuição deles, esta dissertação não teria sido realizada;

Estendo ainda meus agradecimentos aos Professores Dr. Pericles Saremba Vieira, Drª

Anita Guazzelli Bernardes e Drª Heloísa Bruna Grubits Freire, membros da banca;

E à UCDB, pela bolsa auxílio e pela oportunidade exercer o meu trabalho com

docente.

Não sei se a vida é curta ou longa demais pra nós, mas sei que nada do que vivemos, tem sentido se não tocamos o coração das pessoas.

Cora Coralina (1889–1985)

RESUMO

O trabalho tem um papel relevante na vida das pessoas, embora em cada época, fosse atribuído a ele um sentido diferente. Tem sido crescente a preocupação relacionada às condições de trabalho, bem estar do trabalhador, e não somente à produtividade. Este estudo teve como objetivo a análise das representações sociais de saúde e doença no ambiente de trabalho. A pesquisa foi realizada em uma universidade particular, situada no estado do Mato Grosso do Sul, e participaram dez secretárias (os) de curso dessa instituição. Os participantes responderam a uma entrevista estruturada, com dados sociodemográficos, questões relacionadas à representação social de saúde e doença, entendimento sobre ginástica laboral e ergonomia. A análise dos dados foi qualitativa, de acordo com o embasamento teórico das representações sociais. Com este estudo, constatamos que a representação social de saúde é entendida como sentir-se bem, ter qualidade de vida; e a doença, como algo ruim, prejudicial. Constatou-se também que a maioria dos trabalhadores é sedentária, embora acreditem e apóiem programas de promoção à saúde e prevenção à doença, como a ginástica laboral e a ergonomia. De um modo geral, todos relacionam a promoção e a prevenção como uma consequência das atitudes tomadas, estilo de vida adotado, embora a minoria adote essas medidas no seu cotidiano. Acredita-se que este estudo auxiliará principalmente na adesão, por parte dos trabalhadores, quanto a intervenções futuras relacionadas à promoção da saúde, como a ginástica laboral e a ergonomia. Palavras-chave: Representações sociais. Saúde. Doença. Trabalho. Ginástica laboral.

Ergonomia.

ABSTRACT

Labour has a relevant role in people's lives, although in different times it was given a different meaning. The concerns related to working conditions and workers’ welfare have also been growing, besides the concern related to productivity. This study aimed to analyze the social representations of health and disease in the workplace. The research was conducted in a private university, located in the state of Mato Grosso do Sul, and ten secretaries of different courses from that institution took part in it. Participants answered a structured interview, with sociodemographic data, questions related to social representation of health and disease, understanding of gym work and ergonomics. The data analysis was qualitative, according to the theoretical basis of social representations. In this study, we found that the social representation of health is understood as feeling good, as in having quality of life; and sickness as something bad, harmful. It was also found that the majority of workers are sedentary, even though they believe and support programs to promote health and disease prevention, such as gym work and ergonomics. In general, everybody sees promotion and prevention as a result of actions taken, life style that they lead, although the minority adopts such measures in their daily lives. It is believed that this study will mainly promote acceptance, by the workers, in future interventions related to health promotion, such as gym work and ergonomics.

Keywords: Social representations. Health. Disease. Labour. Gym work. Ergonomics.

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - Demonstração visual da tendinite........................................................................46

FIGURA 2 - Demonstração visual da tenossinovite.................................................................47

FIGURA 3 - Demonstração visual da bursite. ..........................................................................48

FIGURA 4 - Demonstração visual da artrite. ...........................................................................49

FIGURA 5 - Demonstração visual da Síndrome do Túnel do Carpo. ......................................50

FIGURA 6 - Demonstração visual da cervicalgia. ...................................................................51

FIGURA 7 - Demonstração visual da lombalgia......................................................................51

LISTA DE SIGLAS

UCDB – Universidade Católica Dom Bosco

AMERT´s – Afecções Músculos Esqueléticas Relacionadas ao Trabalho

AEPS – Anuário Estatístico da Previdência Social

CAT – Comunicação de Acidente de Trabalho

CEP – Comitê de Ética em Pesquisa

CIPA – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho

CLT – Consolidação das Leis Trabalhistas

DMO – Distúrbio Músculo-esquelético Ocupacional

DORT – Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho

DRT – Delegacia Regional do Trabalho

DTC – Distúrbio por Trauma Cumulativo

EPI – Equipamento de Proteção Individual

FGTS – Fundo de Garantia por Tempo de Serviço

FUNDACENTRO – Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do

Trabalho

INSS – Instituto Nacional do Seguro Social

LER – Lesão por Esforço Repetitivo

LTC – Lesão por Trauma Cumulativo

OIT – Organização Internacional do Trabalho

PCMSO – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional

PIB – Produto Interno Bruto

POI – Programa de Obesidade Infantil

PGL – Programa de Ginástica Laboral

SIPAT – Semana Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho

SMT – Saúde Mental do Trabalhador

SSO – Síndrome da Sobre Carga Ocupacional

SSST – Secretaria de Segurança e Saúde no Trabalho

UBSs – Unidades Básicas de Saúde

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 15

2 REFERENCIAL TEÓRICO............................................................................................. 18

2.1 O PROCESSO SAÚDE E DOENÇA.......................................................................... 19

2.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE O TRABALHO ........................................................... 24

2.2.1 Organização do trabalho ................................................................................... 31

2.2.2 Processo evolutivo da saúde do trabalhador .................................................... 38

2.2.3 Doenças ocupacionais ...................................................................................... 42

2.2.4 Fatores que influenciam nas condições de trabalho: ergonomia e

ginástica laboral................................................................................................ 53

2.3 SOBRE AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS ............................................................. 58

2.3.1 Representação social de saúde e doença .......................................................... 61

3 OBJETIVOS ....................................................................................................................... 64

3.1 OBJETIVO GERAL.................................................................................................... 65

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS...................................................................................... 65

4 MÉTODO ........................................................................................................................... 66

4.1 LOCAL........................................................................................................................ 67

4.2 PARTICIPANTES ...................................................................................................... 67

4.3 INSTRUMENTO ........................................................................................................ 67

4.4 PROCEDIMENTOS E ASPECTOS ÉTICOS............................................................ 68

4.5 PROCEDIMENTOS E ANÁLISE DOS RELATOS.................................................. 68

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES ..................................................................................... 70

5.1 SOCIODEMOGRÁFICOS DOS PARTICIPANTES ................................................. 71

5.2 QUANTO À DISPONIBILIDADE DE PLANO DE SAÚDE DOS

PARTICIPANTES ...................................................................................................... 74

5.3 CONSIDERAÇÕES SOBRE A PRÁTICA DE EXERCÍCIOS FÍSICOS ................. 75

5.4 CONSIDERAÇÕES SOBRE AS CONDIÇÕES DE SAÚDE DOS

PARTICIPANTES ...................................................................................................... 79

5.5 CONSIDERAÇÕES SOBRE PROBLEMAS DE SAÚDE E MEDIDAS

ADOTADAS ............................................................................................................... 81

5.6 CONSIDERAÇÕES SOBRE DORES E DESCONFORTOS

MUSCULARES APRESENTADOS PELOS PARTICIPANTES ............................. 85

5.7 REPRESENTAÇÃO SOCIAL DE SAÚDE............................................................... 88

5.8 REPRESENTAÇÃO SOCIAL DE DOENÇA............................................................ 92

5.9 CONSIDERAÇÕES SOBRE A ADESÃO DOS PARTICIPANTES A

PROGRAMAS DE PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA

DOENÇA NO TRABALHO ....................................................................................... 95

5.10 REPRESENTAÇÃO SOCIAL DE GINÁSTICA LABORAL................................... 96

5.11 REPRESENTAÇÃO SOCIAL DE ERGONOMIA .................................................... 99

5.12 CONSIDERAÇÕES SOBRE A PRÁTICA DA GINÁSTICA LABORAL E

DAS INTERVENÇÕES ERGONÔMICAS EM SEU POSTO DE

TRABALHO ............................................................................................................. 101

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 104

REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 108

APÊNDICES ......................................................................................................................... 116

ANEXO.................................................................................................................................. 120

15

1 INTRODUÇÃO

16

As pessoas empregam grande parte de suas vidas desenvolvendo tarefas ocupacionais.

No trabalho, passamos a maior parte do nosso dia, dedicando-nos a ele por longas jornadas.

Dessa relação, resultam muitas conquistas e realizações, assim como problemas relacionados

às condições de trabalho e principalmente às questões de saúde e doença. O presente estudo

teve por objetivo analisar as representações sociais de saúde e doença no trabalho, com o

intuito de entender e sugerir melhoramentos quanto aos programas de cuidados com a saúde

do trabalhador.

No decorrer da história, o trabalho assumiu diversas conotações, quanto a sua

finalidade e importância. Durante a Antiguidade, servia para garantir o sustento e a produção

de bens de consumo particulares; no período feudal, utilizou-se a troca de mão-de-obra por

moradia e alimentação; com a revolução industrial, na qual impera o sistema capitalista, a

utilização do trabalho tem fins de produção em série, visando ao lucro e a venda da força de

trabalho. O sistema capitalista ainda impera nos tempos atuais, porém muitas políticas

voltadas à melhoria das condições de trabalho têm sido implantadas, como a gestão

participativa, satisfação dos colaboradores, programas relacionados à prevenção de doenças e

promoção da saúde, como a ginástica laboral, ergonomia, entre outras. Acredita-se que as

representações sociais podem auxiliar no entendimento de como os trabalhadores entendem

esses programas acima mencionados, possibilitando assim, maior probabilidade de adesão

caso venham ser implantados (HUBERMAN, 1982).

Meu interesse pelo tema vem desde a faculdade de Educação Física, quando iniciei

meus estudos relacionados à ginástica laboral. Desde o início de minha carreira profissional,

venho desenvolvendo trabalhos em empresas, com a prática da ginástica laboral e da

ergonomia, assim como a realização de especializações nessas áreas. Logo, a proposta do

Mestrado em Psicologia vem ao encontro dos meus anseios profissionais e do

desenvolvimento do tema “Representações Sociais de Saúde e Doença: Implicações na

Ginástica Laboral e Ergonomia”.

Dessa forma, este estudo foi construído da seguinte maneira: o referencial teórico está

dividido em três partes. Na primeira, foram abordados os aspectos relacionados à saúde e à

doença, principalmente sobre à promoção da saúde e prevenção da doença. A segunda parte

contempla um breve levantamento histórico do trabalho, durante a Antigüidade, a Idade

Média, a revolução industrial e o capitalismo, além de fatores que influenciam nas condições

17

de trabalho, como a ginástica laboral e a ergonomia. E, finalizando, a revisão bibliográfica: a

terceira parte versa acerca das representações sociais, como elas são construídas nas relações

de trabalho e nos sentidos atribuídos à saúde e doença.

No capítulo referente aos objetivos deste estudo, estão contemplados os objetivos

gerais e específicos. No capítulo seguinte, estão descritos os passos metodológicos, como o

local, os participantes, o instrumento, assim como os procedimentos e os aspectos éticos da

pesquisa.

O capítulo referente aos resultados e discussões deste estudo contempla a apresentação

dos dados sociodemográficos dos participantes, assim como a análise dos relatos obtidos por

meio da entrevista estruturada. Finalizando, foram apresentas as considerações finais sobre o

trabalho realizado.

18

2 REFERENCIAL TEÓRICO

19

Muito se tem discutido acerca das condições de trabalho vivenciadas pelos

trabalhadores, principalmente quanto às questões de saúde e de doença no trabalho. Embora

tenham ocorrido melhoras significativas referentes às condições de trabalho, além da inserção

de profissionais e programas, que atuam na promoção da saúde e prevenção de doenças, a

realidade de muitos trabalhadores ainda requer mudanças e melhoramentos.

No que se refere à participação nos programas de prevenção, muitas vezes, o

trabalhador é um agente passivo, só recebe instruções, não tendo espaço para expressar o seu

entendimento do trabalho, da saúde e da doença. Essa é a grande preocupação deste estudo,

conhecer as representações atribuídas pelos trabalhadores à saúde e à doença. Contudo, antes

de descrever sobre questões mais amplas envolvendo o trabalho e as representações sociais,

faz-se necessário discutir questões relacionadas ao processo de saúde e doença, maneiras

como têm sido vistas e formas de atuação.

2.1 O PROCESSO SAÚDE E DOENÇA

A concepção de saúde e doença vem sofrendo alterações ao longo dos tempos. Para a

Organização Mundial de Saúde (2001, p. 13), a saúde é definida como “[...] um estado de

bem-estar físico e mental completo, e não como a mera ausência de doenças”. Considerou-se

esta definição bem avançada para a época em que foi elaborada, no ano de 1948 (SCLIAR,

2002). Atualmente, entretanto, de acordo com Segre e Ferraz (1997), essa definição tornou-se

irreal e ultrapassada, pois atingir o perfeito bem-estar seria algo utópico, já que se acredita na

impossibilidade de atingir simultaneamente a perfeição física, mental e social.

Para Kawamoto (1995), o maior equívoco ao tentar conceituar saúde é defini- la como

a não doença, considerando que a maioria dos sistemas de saúde baseia-se no entendimento de

que para se obter saúde precisa-se eliminar a doença. Essa é uma visão muito reducionista de

saúde, pois dá a impressão que basta eliminar os sintomas da doença para o usuário ser

saudável.

De acordo com Fontes (1995, p. 71), a definição de saúde pode ser compreendida

como:

[...] um estado de equilíbrio dinâmico que envolve as realidades físicas e psíquico-mentais dos indivíduos em suas interações com o meio ambiente

20

natural e social. Portanto, a saúde e a doença, sob o ponto de vista holístico, são ambas, partes integrantes da auto-organização de um sistema vivo.

De acordo com Jonas, Márquez e Silva (1993), o processo de saúde e de doença pode

ser avaliado a partir de duas visões, a holística, também citada por Fontes (1995), e a

reducionista. A visão holística compreende que os aspectos inerentes do indivíduo

influenciam e são influenciados pela estrutura social e suas implicações. Já a visão

reducionista considera a saúde um estado, dissociando indivíduo e contexto social, ou seja,

separatista. As doenças são consideradas como o resultado das condições orgânicas, as quais

não são alteradas pelos aspectos sociais e psicológicos.

No contexto da promoção da saúde e da prevenção da doença, torna-se coerente

considerar que a definição de saúde não pode ser vista como uma definição unicamente

técnica, mas sim ampla e generalizada, ao alcance de todos. Conceituar saúde implica

entendimento subjetivo individual, de acordo com as vivências de cada um. Contudo, não se

pode adotar um modelo de saúde padronizado para todas as pessoas, torna-se necessário

envolvê-las, sejam elas profissionais, pacientes, familiares ou sociedade. Deve-se procurar

abordar a saúde como uma conquista possível de ser adquirida e melhorada de acordo com

atitudes tomadas.

As concepções de saúde apresentadas pela VIII Conferência Nacional da Saúde (1986

apud PESSINI; BARCHIFONTAINE, 2002, p. 83) defendem que saúde é o resultado “[...]

das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho,

transporte, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde”. Em

concordância com essa definição, Jonas, Márquez e Silva (1993) argumentam que as

condições que determinam o estado de saúde dependem dos aspectos ambientais, ecológicos e

sociais.

Conforme Jonas, Márquez e Silva (1993), Kawamoto (1995) e a VIII Conferência

Nacional da Saúde (1986 apud PESSINI; BARCHIFONTAINE, 2002), as condições de saúde

são resultantes das interações entre as diferentes variáveis, das condições políticas,

econômicas e culturais. Além disso, a saúde também é determinada pelas características

genéticas de cada pessoa, as quais não poderão ser modificadas, porém poderão apontar para a

necessidade de um acompanhamento ou estratégias de prevenção (JONAS; MÁRQUEZ;

SILVA, 1993).

21

O que nos leva a um entendimento de que os conceitos de saúde e doença estão

interligados de forma muito estreita, refletindo no processo vital das pessoas. Saúde pode ser

entendida como um caminho de vida, no qual existe a harmonia entre todas as esferas que

constituem cada pessoa. Por sua vez, a doença ocorre quando, por algum ou vários motivos,

ocorrem alterações, que desencadeiam os processos patológicos (JONAS; MÁRQUEZ;

SILVA, 1993).

Para Nahas (2003), na maioria das vezes, a saúde está associada à mera ausência de

doenças ou a um estado de equilíbrio, o que é considerado um equívoco, pois as pessoas

nunca serão totalmente saudáveis, nem totalmente doentes. O autor argumenta que existem

níveis de saúde e de doença. Dessa forma, as condições que se apresentam no contexto no

qual a pessoa está inserida, vão influenciar no seu comportamento e, consequentemente, no

seu estilo de vida que, de acordo com o autor, depende do equilíbrio entre cinco domínios:

controle do estresse, nutrição, atividades físicas, comportamento preventivo e interações

sociais. Todo esse conjunto de fatores, condições sociais, características genéticas e estilo de

vida vão influenciar no estado de saúde das pessoas.

Portanto, não podemos atribuir as condições de saúde ou doença a uma única causa, ou

simplesmente a sintomas, pois eles são reflexos de um conjunto de aspectos do contexto

social. Jonas, Márquez e Silva (1993) defendem que estar saudável vai muito além de não

estar doente, e que os problemas sociais se refletem na população por meio do adoecimento.

Para os autores, ter uma boa saúde implica em manter o vigor físico e mental, os quais são

particulares de cada pessoa.

Scliar (2002) destaca algumas etapas necessárias para se atingir resultados positivos

dentro do processo educativo em saúde. De acordo com o autor, no decorrer das conversas

estabelecidas com a população, deve-se: “[...] informar as pessoas, para que informadas,

adotem uma atitude positiva, que deve gerar um comportamento; esse comportamento

idealmente, deveria ser introjetado sob forma de hábito [...]” (SCLIAR, 2002, p. 95). As

mudanças se dão de forma lenta e gradativa, porém é a tomada de consciência e a adoção de

hábitos adequados que vão determinar as condições de saúde das pessoas.

Para melhorar as condições de saúde, além de modificações na estrutura social e no

comportamento preventivo, a Organização Mundial da Saúde (1948 apud QUEIROZ, 2003)

aponta para a necessidade de mudanças da percepção médica de saúde e doença,

22

principalmente no que tange ao modelo médico hegemônico, baseado no hospital e na

indústria farmacêutica. Para que ocorram mudanças nessa área, a saúde deve estar

contemplada em uma visão mais abrangente, com a integração do bem-estar psicológico e

social. Também deve existir uma readequação quanto aos serviços de saúde, incluindo “[...]

cobertura universalizada, hierarquizada, integrada, regionalizada e descentralizada, sob o

controle da comunidade [...]” (QUEIROZ, 2003, p. 75), podendo assim garantir efetivamente

o direito a saúde.

Percebe-se que a área médica está cada vez mais fracionada, no âmbito de suas

especialidades, o que aponta para um enorme risco: a fragmentação da pessoa que busca

atendimento. Para Fontes (1995, p. 9) “[...] as propriedades das partes somente podem ser

compreendidas a partir da dinâmica do todo”. Segundo o autor, o modelo reducionista e o

avanço da indústria farmacêutica têm sido útil no diagnóstico e tratamento de muitos casos,

mas a saúde da população em geral, principalmente dos mais carentes economicamente, só irá

melhorar se forem observados e melhorados os aspectos sociais e fatores ambientais. Como

afirma Fontes (1995, p. 23):

A área da saúde, no capitalismo, não escapa aos interesses monopolistas das elites, mantendo a população politicamente desinformada e, consequentemente, alienada e dependente do poder dominante das classes mais abastadas. A questão se torna ética para os profissionais da saúde, mas é política em suas raízes sociais.

A atenção à saúde deve ser integral, contemplando os três níveis de atenção básica à

saúde, atenção primária, secundária e terciária, sendo que no primeiro nível ocorre à

promoção da saúde e a proteção específica, já o segundo, implica no diagnóstico precoce e no

pronto atendimento e o terceiro consiste na reabilitação (KAWAMOTO, 1995). Mas quando a

saúde passa a ser vista como um bem de consumo, uma mercadoria, a qual pode ser

“comprada”, por meio dos recursos econômicos, tem-se como consequência, um crescente

aumento de muitas patologias, apesar do avanço das ciências médicas e farmacêuticas. De

acordo com Lima, A. (2005), a base do sistema de saúde é científica e tornou-se fria e

impessoal, o usuário é visto como um mero portador da síndrome patológica, ou seja,

prevalece a visão reducionista à holística, característica do modelo biomédico.

Contudo, para que os cuidados com a saúde tenham realmente uma visão holística,

torna-se necessário que sejam levados em consideração os aspectos da individualidade, do

23

social e do ecológico, tanto na prevenção, quanto no diagnóstico e no tratamento. Mas para

que essa mudança de concepção ocorra, primeiramente, deve-se ampliar a forma de

pensamento e adequar as medidas de intervenção, além de políticas públicas voltadas para a

prevenção, não fazendo do processo de adoecimento a engrenagem que movimenta a indústria

farmacêutica e, principalmente, o paciente deve passar de objeto para sujeito da ação.

Segundo Lima, A. (2005, p. 13):

As explicações biomédicas são aproveitadas quando estão, de certa forma, relacionadas com os saberes preexistentes e quando se adaptam às necessidades ditadas pelas condições atuais de vida. E, dentro do mesmo contexto, sugere-se que a complexidade da saúde exige novas formas de interação com a dinâmica popular com o objetivo de procurar novas alternativas e soluções, individuais e coletivas, para problemas apresentados pelo grupo.

Um sistema efetivo de assistência em saúde depende da atenção dada aos aspectos que

determinam as condições de prevenção da doença e promoção da saúde. E os profissionais da

área da saúde precisam entender o papel na sociedade onde atuam, assim como a inclusão de

novos valores culturais no contexto social, ou seja, além dos profissionais, a população

também participar ativamente desse processo.

Nesse sentido, julga-se necessário a ampliação do entendimento dos conceitos de

promoção da saúde e prevenção de doença. De acordo com Teixeira (2002), o conceito de

promoção da saúde foi empregado pela primeira vez por Sigerist, um historiador, em 1945,

definindo-a como uma das tarefas essenciais da Medicina. Esse conceito foi retomado duas

décadas depois em 1960, apresentando o conceito positivo de saúde, no sentido de incentivar

a prevenção das doenças, por meio de hábitos e comportamentos saudáveis, assim como

atuando diretamente nos fatores de risco. Já nos anos de 1970, constatou-se não ser suficiente

atuar na cura da doença, mas sim que era necessário intervir na causa do adoecimento.

Na Inglaterra, Estados Unidos e Canadá entre os anos de 1920 e 1950, o movimento

da Medicina preventiva surge como uma crítica a Medicina curativa. Esse movimento propôs

uma reforma na concepção dos profissionais e dos órgãos de atenção à saúde, introduzindo a

epidemiologia dos fatores de risco como critério da causalidade do adoecimento (AROUCA,

1975 apud CZERESNIA, 2003). O conceito de prevenção foi definido por Leavell e Clarck

(1976 apud CZERESNIA, 2003) como uma ação antecipada, embasada no domínio da

história natural, com o propósito de inviabilizar a evolução da doença.

24

Existem quatro grandes eixos dentro do enfoque da promoção da saúde, apresentados

pelo Informe Lalonde, documento oficial do Governo do Canadá publicado em 1974,

(TEIXEIRA, 2002), os quais são: biologia humana, meio ambiente, estilo de vida e

organização da atenção à saúde. Mas só com a Carta de Ottawa, em 1986, é que o conceito de

promoção da saúde foi definido, como: “[...] o processo de capacitação da comunidade para

atuar na melhoria da qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no controle

deste processo.” (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 1986 apud BUSS, 2000, p.

165).

A partir da Carta de Ottawa, são incorporadas cinco grandes campos de ação, como

métodos da promoção da saúde: elaboração e implementação de políticas públicas saudáveis;

Criação de ambientes favoráveis à saúde; reforço da ação comunitária; desenvolvimento de

habilidades pessoais; e reorientação dos sistemas e serviços de saúde. Esses campos

favorecerem as pessoas a ter condições de conhecer e controlar os fatores determinantes das

suas condições de saúde, por meio do ambiente favorável, do acesso à informação e das

oportunidades de fazer escolhas saudáveis (BUSS, 2000).

As condições de vida das pessoas relativas a saúde e a doença dependem, em grande

parte, das suas condições de trabalho, função desempenhada, base salarial, jornada de

trabalho, local, horário, segurança e satisfação. As medidas relacionadas à promoção da saúde

no trabalho devem levar em conta os aspectos mencionados por Scliar (2002), a informação

que, por meio de atitudes positivas, gera novos comportamentos e conseqüentemente novos

hábitos. Mas para isso, primeiramente, torna-se necessário entender o universo do trabalho,

que será abordado no próximo item.

2.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE O TRABALHO

O trabalho tem sido o tema de muitos estudos realizados por

profissionais/pesquisadores de áreas distintas. Isso se dá devido a sua complexidade e

importância, que perpassa toda vida das pessoas, e ocupa parte central do nosso cotidiano

(GUARESCHI, 2007).

De acordo com o Ministério da Saúde, são considerados trabalhadores todas as

pessoas que exe rçam “[...] uma atividade de trabalho, independentemente de estar inserido no

25

mercado de trabalho formal1 ou informal2, inclusive na forma de trabalho familiar e/ou

doméstico [...]” (BRASIL, 2001, p. 7). Neste estudo, porém, deter-nos-emos ao trabalho

formal.

O trabalho é um termo utilizado para definir a ocupação das pessoas, sendo este

definido de várias maneiras. De acordo com Albornoz (1976 apud GUARESCHI; GRISCI,

1993, p. 29), o trabalho têm várias significações: ”[...] no grego existe uma palavra para

fabricação e outra para esforço, oposta ao ócio. O latim distingue ‘labore’, a ação de ‘labor’, e

‘operare’, o verbo que corresponde a ‘opus’, obra.”

Percebemos que o trabalho se relaciona com as formas de ocupação do ser humano,

sejam elas desempenhadas de forma predominantemente física (braçal) ou intelectual. Além

de ter como característica principal existir uma objetividade, ou seja, antes do seu início já se

sabe qual é o fim esperado (MARX, 1985).

Para Guareschi e Grisci (1993, p. 22), o trabalho tem uma concepção bem diversa, mas

que pode ser entendido como “[...] a ação transformadora, consciente e desejante, que o

trabalhador exerce sobre a natureza, com ou sem auxílio de uma máquina”. Ou seja, é um ato

pensado previamente e que tem um objetivo final, e esta é a grande diferença entre o trabalho

humano e o trabalho dos animais, pois o humano é pensado previamente e o animal é

instintivo. Como afirma Marx (1985, p. 202):

Mas o que distingue o pior arquiteto da melhor abelha é que ele figura na mente sua construção antes de transformá-la em realidade. No fim do processo do trabalho aparece um resultado que já existia antes, idealmente, na imaginação do trabalhador.

O trabalho tem uma relação direta com a própria existência da pessoa, pois ela tem que

conseguir seu alimento e sua sobrevivência por meio do seu próprio esforço. No passado, a

pessoa era responsável por produzir tudo o que necessitava, roupas, alimento, moradia, sendo

muitas vezes, o trabalho recompensado com mercadorias (escambo), uma espécie de troca. O

1 Trabalho formal se caracteriza quando o trabalhador contribui para o instituto de previdência e possui carteira

de trabalho assinada. O que lhes garante proteção de lei e vantagens trabalhistas (MENEZES FILHO; MENDES; ALMEIDA, 2004).

2 Trabalho Informal: é uma forma de trabalho onde não existem vínculos ou benefícios fornecidos por uma empresa, além do trabalhador não possuir carteira assinada nem renda fixa (MENEZES FILHO; MENDES; ALMEIDA, 2004).

26

trabalho era de maneira informal e os acordos eram por meio de contratos verbais. Como

afirmam Garcia e Silva (2001, p. 2):

O trabalho é, dentro da história da humanidade, um elemento que se confunde com a própria vida, já que é ele o instrumento utilizado pelo próprio homem a fim de satisfazer as suas necessidades mais primárias, ou seja, de saciedade corporal e, portanto, de sobrevivência, ou seja, o homem interage junto aos recursos naturais a ele disponíveis a fim de buscar junto a estes elementos que lhe propic iam assegurar a sua existência.

Percebemos a direta relação do trabalho com o ambiente no qual está inserido,

utilizando-se tanto de recursos naturais como a criação de novos mecanismos. A seguir,

debateremos brevemente, os períodos históricos e o papel que o trabalho ocupou durante a

Antiguidade, a Idade Média e a Revolução Industrial.

Na Antiguidade, segundo Arendt (2000), as pessoas eram classificadas segundo a sua

ocupação e divididas em corpo e alma, de acordo com a sua posição social. Os que possuíam

posses e tinham a sua disposição escravos para o trabalho braçal, disponibilizavam de tempo

para apreciar as belas artes, logo, dizia-se que a alma dominava o corpo, sendo dessa maneira,

considerados superiores aos demais. Já as pessoas que dependiam do seu trabalho para

sustentar a si próprios e suas famílias eram consideradas seres inferiores e o corpo dominava a

sua alma. Detinham-se na maior parte do tempo às tarefas necessárias a suprir suas

necessidades primárias, não tendo direito de aprimorar-se na arte e nas relações sociais e

políticas.

Para um melhor entendimento, torna-se necessário ampliar a discussão a respeito das

formas de ocupação e definir, segundo Arendt (2000), o entendimento de labor, trabalho e

ação. A autora define labor como um processo biológico necessário para a sobrevicência

humana. Já o trabalho é considerado a capacipade de transformar coisas naturais em

artificiais, embora o trabalho não seja considerado a essência da pessoa, mas sim, algo

imposto, conseqüência do processo cultural. E finalizando, a ação, pode ser definida, como a

necessidade das pessoas em viver entre seus semelhantes, resultante da sua natureza social.

Ainda na Antiguidade, a sociedade estava dividida entre pessoas livres e não livres, ou

ainda, entre indivíduos superiores e inferiores. Essa denominação se dava pelo tipo de

ocupação (intelectual ou braçal, respectivamente) existindo uma possibilidade, mesmo que

remota, de uma pessoa considerada inferior, passar a ser superior, fato esse praticamente

impossível no período feudal (Idade Média) (GARCIA; SILVA, 2001).

27

Na Idade Média, as pessoas também eram separadas em estratos sociais, seguindo esta

ordem de importância: sacerdotes, guerreiros e trabalhadores. É nesse período que impera o

regime feudal, ou seja, grandes propriedades dirigidas pelos senhores feudais (guerreiros) e o

trabalho era desenvolvido por camponeses (trabalhadores), os quais serviam aos senhores

feudais (HUBERMAN, 1982).

De acordo com Huberman (1982), o estrato dos sacerdotes (clero) era composto, por

membros da igreja, bispos, sacerdotes, abades e ainda o papa (representante maior). De

acordo com o autor, a igreja utilizava-se da espiritualidade para intervir de forma

apaziguadora em conflitos, na tentativa de retardá-los ao máximo. Embora os representantes

da igreja condenassem os lucros, o clero entrava em contradição, pois a igreja era a grande

detentora de bens materiais e fazia parte da sociedade feudal, juntamente com nobres,

dispondo, desta maneira, de muita influência e prestígio junto ao rei e a sociedade.

Os guerreiros formavam outro estrato, a qual era constituída por nobres, príncipes,

duques e guerreiros propriamente ditos, os quais trocavam favores militares e proteção ao rei,

por terras (feudos). Essas propriedades eram regidas pelos senhores feudais, eram eles que

determinavam à legislação vigente em cada sistema feudal. As terras eram trabalhadas por

camponeses e agricultores, que arrendavam as terras dos senhores feudais, contraíam assim,

uma série de obrigações que eram o pagamento pelo arrendamento. Esses agricultores eram os

formadores do terceiro estrato, também denominados servos, existindo uma relação de

subordinação entre esses e os donos do feudo. Os trabalhadores, nessa época, não tinham

direitos, eram considerados propriedade, tendo pouca distinção entre eles e qualquer outro

animal, eram considerados “gado humano” (HUBERMAN, 1982).

Percebe-se que a relação com o trabalho, tanto na Antiguidade quanto na Idade Média,

está atribuída aos grupos subordinados, tendo esses uma relação com o trabalho apenas para

suprir as necessidades, sejam elas dos seus senhores ou próprias (GARCIA; SILVA, 2001).

Essa relação começa a se modificar com o início das cruzadas quando passa a existir a troca

de produtos ou mão de obra por dinheiro, dando início, assim, ao mercantilismo.

As cruzadas dão início ao mercantilismo e as pessoas envolvidas com esse tipo de

tarefa eram transportadores de matéria prima de uma região para outra, contribuindo assim

para o surgimento de novas aldeias, futuras cidades, e uma significativa mudança econômica e

do conceito de trabalho. Na Idade Média, as mercadorias eram comercializadas, basicamente

28

na forma de escambo, fossem elas por trabalho ou outra mercadoria. A partir de então, a

aquisição das mercadorias passa a se dar pela moeda e logicamente passa a existir a cobrança

de juros e taxas, os quais eram condenados pela igreja durante o feudalismo. Já a relação de

trabalho que antes era para suprir as próprias necessidades e dos seus senhores, desperta no

camponês o desejo de produzir além do necessário para poder comercializar, e os senhores

feudais passam a aceitar o pagamento pelo arrendamento de suas terras em dinheiro, o qual

era feito estritamente com trabalho (HUBERMAN, 1982).

De acordo com Garcia e Silva (2001), os camponeses rumam para as cidades em busca

de liberdade e trabalho, formando um novo grupo, que nesse período passa a ser a detentora

do conhecimento na transformação da matéria-prima em produto. Com isso, podemos fazer

uma reflexão e analisar que o trabalho passa a ser fracionado, desempenhado por muitas

“mãos” e o trabalhador deixa de ser o criador da obra (produto) e passa a ser responsável por

uma parte nesse processo. E indo além, as mesmas pessoas que eram responsáveis pela

produção e comercialização, agora passam a exercer apenas parte desse processo.

Três marcos revolucionários foram fundamentais para que o trabalho assumisse

características de bem social e suporte do capital, sendo eles a revolução francesa, a revolução

industrial e a revolução protestante (HENDERSON, 1979). Embora neste estudo, vamos nos

deter brevemente apenas na revolução industrial.

Durante os séculos XVII e XVIII, ocorre a transição entre o trabalho de manufatura

(realizado de forma artesanal), para o de maquino-fatura (processo industrial) e o trabalhador

passa a ser submetido ao regime da máquina e da gerência, ou seja, o trabalho passa a ser uma

forma de dominação. Consolida-se assim, o capitalismo e a revolução industrial, os quais

aprimoram cada vez mais seus objetivos de controle da produção e obtenção de lucros

(GARCIA; SILVA, 2001).

O movimento denominado revolução industrial teve origem na Europa, atingindo seus

países em épocas e ritmos diferentes, na segunda metade do século XVII, a Inglaterra foi o

primeiro país a tornar-se industrializado. Mas, a industrialização da Europa se deu

predominantemente a partir de 1900 (HENDERSON, 1979).

Esse processo provocou significativas influências nos sistemas de organização do

trabalho e na extrutura social. A Revolução Industrial passou por fases marcantes que

gradativamente foram modificando o cenário econômico mundial, um marco fundamental foi

29

à criação das primeiras máquinas de ferro que utilizavam o vapor como força motriz, logo

após, também surgiram o barco a vapor, as locomotivas, o telégrafo e os telefone. A fase

seguinte da revolução industrial teve início em 1850, com a aceleração dos processos

industriais e a descoberta de novas fontes de energia, como a eletrecidade e o petróleo. E na

passagem do milênio, ocorreu a mudança da era industrial para a da informação, com a

ascenssão da revolução técnológica (GARCIA; SILVA, 2001).

Embora desde a Antiguidade nunca tenha havido preocupação quanto à saúde do

trabalhador, é na revolução industrial que essa situação se agrava. Como afirma Minayo-

Gomez e Thedim-Costa (1997, p. 22):

Com o advento da Revolução Industrial, o trabalhador "livre" para vender sua força de trabalho, tornou-se presa da máquina, de seus ritmos, dos ditames da produção que atendiam à necessidade de acumulação rápida de capital e de máximo aproveitamento dos equipamentos, antes de se tornarem obsoletos.

Percebe-se que os trabalhadores tornam-se reféns do método de trabalho industrial,

sendo submetidos a condições desumanas de trabalho como falta de higiene, longas jornadas,

subalimentação, baixos salários, promiscuidade, expostos às máquinas que ofereciam altos

riscos de acidente, sendo, na maioria das vezes, mutilados ou mortos por elas (DEJOURS,

1992).

Paralelamente ao avanço acentuado dos processos de produção, também progridem os

movimentos trabalhistas na luta por melhores condições de trabalho que envolvem: jornada de

trabalho, férias, décimo terceiro salário, segurança, entre outros aspectos. Na França, a partir

de 1890, são criadas legislações referentes à saúde dos trabalhadores (DEJOURS, 1992).

Na busca por melhores condições de trabalho, os americanos Mary Parker (1868-

1933) e Chester Barnard (1886-1961) foram defensores pioneiros da pespectiva humanista na

administração, destacando a relevância do entendimento dos comportamentos, das

necessidades, das atitudes, das interações sociais e os processos de grupo no local de trabalho.

Baseado na perspectiva humanista destaca-se o movimento das relações humanas, o qual

demonstrou por meio de estudos científicos que os trabalhadores se tornavam mais produtivos

quando eram incentivados positivamente (DAFT, 2005).

30

No Brasil, durante o primeiro mandato do Governo Vargas, visando garantir

minimamente o sustento dos trabalhadores e suas famílias, foi criada a Consolidação das Leis

Trabalhistas (CLT), em 1943, sendo esta a maior legislação trabalhista do país. A CLT é

representada pela carteira de trabalho, o que busca garantir o reconhecimento dos direitos do

trabalhador quanto a benefícios, férias, décimo terceiro salário, Fundo de Garantia por Tempo

de Serviço (FGTS), aposentadoria, entre outros (BRASIL, 2007).

Segundo dados do Ministério do Trabalho, os procedimentos de segurança e saúde no

trabalho estão descritos nas 33 Normas Regulamentadoras (NR). A NR n. 1 (Disposições

Gerais), artigo 1.1.:

As Normas Regulamentadoras - NR, relativas à segurança e medicina do trabalho, são de observância obrigatória pelas empresas privadas e públicas e pelos órgãos públicos da administração direta e indireta, bem como pelos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário, que possuam empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho – CLT (BRASIL, 2007).

Ainda, segundo a mesma NR, cabe a Secretaria de Segurança e Saúde no Trabalho

(SSST) atuar em nível nacional, quanto a coordenar, orientar, controlar, supervisionar as

atividades relacionadas a saúde e segurança no trabalho. Já em instâncias regionais, essa

função compete à Delegacia Regional do Trabalho (DRT) (BRASIL, 2007).

Torna-se importante ressaltar que cabe ao empregador disponibilizar condições de

saúde e segurança no trabalho e ao empregado cumprir as disposições legais e

regulamentadoras tais como: usar o Equipamento de Proteção Individual (EPI), que deve ser

fornecido pelo empregador; submeter-se a exames médicos previstos nas NRs, assim como

colaborar com as suas aplicações (NR n. 1) (BRASIL, 2007).

Também consta nas NRs, especificamente a NR n. 5, a necessidade da criação da

Comissão Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho (CIPA), tendo como objetivo

prevenir acidentes e doenças provocadas pelas tarefas ocupacionais, de modo a tornar possível

o trabalho e promover os cuidados com a saúde. A CIPA também é responsável, entre outras

tarefas, pela realização da Semana Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho (SIPAT),

durante a qual são desenvolvidas palestras, debates, discussões sobre saúde, segurança do

trabalho entre outros temas fundamentais para a prevenção da doença e a promoção da saúde

no trabalho (BRASIL, 2007).

31

Segundo Cañete (1996), há necessidade de ações efetivas relacionadas à promoção da

saúde, pois grande parte dos esforços e investimentos, tanto das políticas públicas ou

empresariais, se referem a tratamentos curativos e/ou paliativos, e o enfoque relacionado à

prevenção ainda refere-se muito ao discurso. Esse tipo de intervenção (preventiva) refere-se a

uma esfera de âmbito mais abrangente envolvendo aspectos filosóficos, religiosos, étnicos,

culturais, entre outros, exigindo assim um entendimento e provável mudança de concepções

tanto do trabalhador, quanto da empresa.

A NR n. 7 refere-se ao Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional

(PCMSO), e é uma norma regulamentadora a qual devemos nos deter mais especificamente,

pois refere-se diretamente ao tema deste estudo. O objetivo da NR n. 7 (BRASIL, 2007):

Estabelece a obrigatoriedade de elaboração e implementação, por parte de todos os empregadores e instituições que admitam trabalhadores como empregados, do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional - PCMSO, com o objetivo de promoção e preservação da saúde do conjunto dos seus trabalhadores.

Segundo a mesma NR, o PCMSO deverá considerar as questões individuais e

coletivas referentes à saúde do trabalhador e a relação com o trabalho, assim como deter-se

nas questões relacionadas à prevenção, rastreamento e diagnóstico precoce das doenças

ocupacionais, sendo elaborado com base nos riscos à saúde que as tarefas exercidas oferecem.

O seu desenvolvimento deve incluir obrigatoriamente a realização de exames admissionais,

periódicos, de retorno ao trabalho, mudança de função e demissional, incluindo nos

respectivos exames: avaliação clínica (abrangendo anamnese ocupacional, exame físico e

mental) e exames complementares (especificados nas NRs).

As condições de conforto e segurança oferecidas aos trabalhadores, dependem, em

grande parte, da organização e estruturação do trabalho. Portanto, faremos uma abordagem

acerca desta temática.

2.2.1 Organização do trabalho

A organização do trabalho é entendida como o processo de definição de tarefas e

responsabilidades, define-se quem é responsável por determinada tarefa, como esta deve ser

32

feita e em quanto tempo. Couto (2002, p. 127) entende a organização do trabalho como: “[...]

todo conjunto de ações feitas pelo gestor e pelos facilitadores para que a prescrição de

trabalho (objetivos, planos e metas) ditada pela direção da organização seja cumprida”.

As formas de organização do trabalho são as mais distintas, mas, geralmente,

envolvem: Tecnologia, Máquinas, Manutenção, Matéria Prima, Material, Método, Meio

Ambiente e Mão-de-obra. Quando existe algum tipo de falha em qualquer um desses itens,

surgirão problemas no resultado operacional, podendo até, haver sobrecarga de trabalho.

Esses tipos de problemas podem ser minimizados e até evitados, se for aplicada à ergonomia

organizacional, a qual estrutura a organização do trabalho (COUTO, 2002).

No movimento pós-guerra dos anos 1920, o modelo administrativo das empresas foi

influenciado fortemente pelas abordagens tayloristas, fordista, fayolista e toyotista. Essas

abordagens favoreceram a disputa de força entre o patronato e a classe trabalhadora, gerando

assim um modelo de organização de trabalho baseado no autoritarismo e no capitalismo

(KANAANE, 1999).

Segundo Navarro e Padilha (2007), ao longo de todo o desenvolvimento do processo

de trabalho no sistema capitalista, ocorreram perdas progressivas do controle do trabalhador

sobre os processos de produção, ou seja, a desapropriação do contole sobre o próprio trabalho.

O que variou, foram as formas desse fenômeno ocorrer de acordo com os métodos de

organização do trabalho e dos sistemas de produção.

A abordagem taylorista foi a responsável pelo desenvolvimento da administração

científica, criada nos Estados Unidos por Frederick Winslow Taylor (1856-1915). Nesse

sistema, a organização do trabalho caracterizava-se por curtos ciclos e mínima demanda de

autonomia na execução da tarefa, justamente por ser altamente sistematizado e mecanizado

uma das maiores críticas a esse sistema, refere-se ao desperdício do potencial do trabalhador,

pois este não é estimulado a aprimorar suas capacidades de liderança, assim como as suas

habilidades físicas e mentais ficam restritas à tarefa que executa (KROEMER; GANDJEAN,

2005).

Influenciado pelas modificações provocadas pelo sistema taylorista, o empresário

americano Henry Ford (1863-1947), desenvolveu a partir de 1931, em suas fábricas

automotivas da Ford Motor Company, a linha de produção em série. O enfoque de produção

em massa, enfatizado por esse sistema, deu um enfoque ainda maior à especialização e

33

fragmentação do trabalho (MACIEL, 2008).

De acordo com Navarro e Padilha (2007), os trabalhadores resistiram ao sistema

fordista, pois sentiram os efeitos nefastos do trabalho mecanizado e rotinizado, com aumento

significativo nos níveis de absenteísmo, paralizações e sabotagens. Em contraposição aos

problemas gerados pelo sistema fordista com os trabalhadores, ocorreram consideráveis

aumentos de salário.

Enquanto isso na Europa, o francês Henry Fayol (1841–1925) foi o responsável pela

criação dos princípios administrativos, que diferentemente da administração científica de

Taylor, que enfoca a produtividade do trabalhador, o sistema fayolista aborda os princípios

administrativos, focados na organização total, incluindo unidade de comando, divisão do

trabalho, unidade de direção e escala hierárquica. Fayol também identificou cinco funções

básicas da administração; planejamanto, organização, comando, coordenação e controle

(DAFT, 2005).

Com o declínio dos sistemas tayloristas e fordista, suge no Japão, logo após a Segunda

Guerra Mundial, nas fábricas automobilísticas da Toyota, um novo modo de organização

produtiva, o toyotismo. Esse método foi baseado no que Taylor e Ford já haviam

desenvolvido nos Estados Unidos, porém tentando corrigir algumas falhas estruturais e se

adequar às novas necessidades de mercado em um mundo cada vez mais globalizado

(NAVARRO; PADILHA, 2007).

Para Antunes (1999), as principais características do sistema toyotista, se referem à

produção de acordo com a demanda, com a presença de estoques mínimos, assim como a

valorização da qualificação e polivalência do trabalhador. O regime toyotista também

implantou novos padrões de gestão e de controle da qualidade, primando à gestão

participativa e a qualidade total, sendo o responsável por significativas inovações no campo

organizacional, embora tenha contribuiu com o enfraquecimento das organizações sindicais,

representantes das classes trabalhadoras.

Mediante todas as influencias que os movimentos taylorista, fordista, fayolista e

toyotista provocaram no universo empresarial e na relação com o trabalho, a organização do

trabalho continua apresentando constantes inovações de acordo com as necessidades e

tendências. Atualmente, a principal característica do novo local de trabalho é que ele está

pautado em ações e idéias em vez de máquinas e ativos físicos. Isso tem provocado

34

modificações no local de trabalho e nas suas características, assim como o trabalhador dos

novos tempos também está se adequando a esse perfil de trabalho (DAFT, 2005).

Para Daft (2005), o novo local de trabalho está organizado em células, diferente do

modelo anterior que era constituído pela hierarquia. Na organização em redes, a informática e

a tecnologia da comunicação têm viabilizado esse modo de trabalho, mudando assim o

enfoque e as prioridades. Nesse cenário, as organizações têm valorizado a mudança e a

velocidade à estabilidade.

A organização do trabalho tem rompido com muitos paradigmas no universo

empresarial. O conceito de administração baseado na subordinação tem migrado para visões

que buscam a cooperação. A administração embasada na hierarquia (formato pirâmide, com

cargos superiores e inferiores) está ultrapassada e não cabe no contexto atual (HESSELBEIN,

1999). As estruturas administrativas devem ser fluídas e flexíveis: “Dirigido para a missão,

baseado nos valores, orientado pela demografia. Aprender a conduzir as pessoas, e não

reprimi- las. A administração é uma ferramenta e não um fim. O ato de seguir é uma

demonstração de confiança.” (HESSELBEIN, 1999, p. 20).

As pessoas devem sentir-se bem no seu local de trabalho, sentir-se valorizadas, sentir

que fazem parte daquele contexto, e não como peças de uma engrenagem, as quais são

substituídas ao primeiro sinal de desgaste. O desempenho dos trabalhadores está intimamente

relacionado aos seus valores e os da organização na qual trabalha (cultura, clima

organizacional, entre outros). A satisfação do trabalhador vai muito além das necessidades

econômicas. Quando ele está comprometido com a organização, percebe que o seu trabalho é

relevante e valorizado e buscará, cada vez mais, crescer junto com a empresa.

Segundo Kanaane (1999), o mundo do trabalho vem se modificando

significativamente nesse início do século XXI. A organização do trabalho está se adaptando

às novas necessidade globais, pode-se dizer que o trabalho de uma forma geral estará sub-

dividido em três classes: 1ª classe: envolverá os grupos de projetos; 2 ª classe: trabalho em

tempo parcial ou sazonal e 3 ª classe: trabalho individual ou em grupos familiares.

Os profissionais que se encaixarem na primeira classe terão de ser extremamente

qualificados e eficazes, associar-se-ão para desenvolverem projetos específicos e por um curto

período de tempo. Possivelmente, esta será a classe mais bem remunerada. Os profissionais

que constituem essa classe devem apresentar características como: capacidade de desenvolver

35

trabalho em equipe, adaptação ao novo, competência técnica e inter-pessoal, domínio de

idiomas, alta experiência e qualificação profissional, capacidade de lidar com pressão, além

de outras características, devem manter o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal.

Já a segunda classe, será composta por profissionais ou prestadores de serviços gerais,

os quais não necessitarão de grande capacidade técnica, mas terão que possuir habilidade em

distintas áreas e flexibilidade para se adaptarem a diferentes locais e tipos de trabalho, como

supermercados (nas mais diversas funções: caixa, repositor, etc.), indústria do turismo,

cuidador de crianças, entre outras tarefas. Essa categoria caracteriza-se pelo trabalho informal,

desempenhando atividades em locais diferenciados, inclusive nos finais de semana.

E finalizando, a terceira classe de trabalhadores, que se caracterizará por um número

cada vez maior de profissionais que passarão a desempenhar suas atividades profissionais, nas

próprias casas. Esse fenômeno tem se tornado cada vez mais frequente por dois principais

motivos, primeiramente pela facilidade e possibilidades oferecidas pelas tecnologias da

informação e comunicação (videofone, fax, celular, computador, teleconferências virtuais,

etc.) e segundo, para evitar a necessidade de deslocamento, driblando assim o trânsito, pontes

aéreas, entre outras. O tempo perdido com o deslocamento será reaproveitado no trabalho ou

descanso. Esses profissionais precisarão estar aptos para lidarem com várias demandas

culturais simultaneamente, estarem ligados a resultados, pensar estrategicamente, ser pró-

ativos, saber lidar com incertezas e extrema habilidade para lidar com as tendências do

mercado.

A princípio, aparentam ser significativos os benefícios proporcionados pelas condições

de trabalho domiciliar, pela praticidade e conforto. Embora, seja necessário destacar que

existe o risco que essa condição de trabalho, provoque uma sobrecarga ainda maior ao

trabalhador, pois não existirá uma separação entre o ambiente de trabalho e o de descanso,

nem mesmo da carga horária ou dias de trabalho.

Para Diniz (2008), as empresas estão modificando sua forma de administrar.

Atualmente, é necessário envolver os funcionários no processo de gestão, independentemente

da sua posição hierárquica. A denominada gestão participativa tem essa finalidade nas

organizações, estimulando para que exista um verdadeiro compromisso de cumplicidade, um

clima organizacional favorável ao crescimento profissional de cada trabalhador e,

consequentemente, da empresa.

36

Navarro e Padilha (2007) discutem que o trabalho e as suas formas de organização

desempenham papel fundamental na vida das pessoas, sendo sua centralidade muito mais

abrangente que a esfera econômica, como fonte de renda, mas que tem significativa

interferência na esfera psíquica, exercendo influência na saúde, tanto pela ausência dele, em

caso de desemprego, como pela aposentadoria. Embora seja necessário destacar que o

contexto de trabalho e suas formas de organização tenha sido a causa do adoecimento de

muitos trabalhadores.

Baseado nos altos índicies de adoecimento ocupacional e pelos novos conceitos de

gestão participativa, a qual propõe ter funcionários comprometidos com a organização e

motivados com o seu trabalho, surge o espaço para a intervenção de novas áreas de atuação

profissional no ambiente empresarial, entre essas possibilidades existe a ginástica laboral e a

ergonomia. A ginástica laboral visa além da prevenção de lesões, a motivação e o

comprometiomento do trabalhador. Já a ergonomia vem principalmente para atender e

regulamentar a legislação vigente, referente à saúde e à segurança no trabalho. Mas, é

importante ressaltar que existe a ergonomia organizacional, a qual se preocupa com a

organização do trabalho (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ERGONOMIA, 2007).

De acordo com Kroemer e Grandjean (2005), a organização do trabalho deverá ser

planejada, respeitando as capacidades dos trabalhadores, de forma que a tarefa apresente

desafios o suficiente para ser estimulante, porém sem ser complexa ao extremo, a ponto de

causar desânimo e sobrecarga. Objetiva desta forma, dar mais autonomia ao trabalhador,

reduzir o tédio e monotonia ocupacional, assim como a tarefa deve ser gratificante e permitir

o aprimoramento dos seus potenciais, preservando a saúde e prevenindo o adoecimento dos

trabalhadores. Kroemer e Grandjean (2005, p. 181) também destacam os ganhos em se adotar

tais medidas organizacionais:

O que é básico nessas duas melhorias é a premissa, já mencionada, de que haverá uma redução de absenteísmo, rotatividade de pessoal e estresse social, e de que as novas condições vão atrair mais trabalhadores. Portanto, a longo prazo, o resultado é o aumento da produtividade.

Torna-se importante destacar que a organização do trabalho deve proporcionar aos

trabalhadores autonomia sobre as tarefas executadas, participação, responsabilidade e

interação social. Principalmente, para tarefas altamente sistemáticas, monótonas e repetitivas,

combatendo assim a robotização e a mecanização do trabalhador. Quando o trabalhador tem a

37

dimensão da importância do seu trabalho (mesmo quando este é fragmentado) para o

resultado ou produto final, aumenta consideravelmente seu sentimento de satisfação no

trabalho, trazendo inúmeros benefícios como motivação, melhora do clima organizacional,

combate ao tédio e monotonia, menores índices de absenteísmo, maior produtividade e com

melhor qualidade (KROEMER; GANDJEAN, 2005).

Embora existam inúmeras áreas organizacionais que se preocupam em melhorar as

condições de trabalho das pessoas, ainda são fortes os interesses capitalistas e escravocratas,

sendo o trabalhador muitas vezes obrigado a concentir com perda dos direitos sociais

duramente conquistados, na tentativa de conseguir ou manter a empregabilidade. O modelo

atual de organização capitalista tem exigido trabalhadores ágeis, que assumam riscos

continuamente, que sejam abertos a mudança, não tem causado apenas sobrecarga de trabalho,

mas tem acarretado grande impacto na vida pessoal e profissional, assim como nas condições

de saúde e no processo de adoecimento, refletindo-se em um aumento crescente das doenças

ocupacioanis (NAVARRO; PADILHA, 2007).

Dentro do contexto da organização do trabalho, deve-se sistematizar e organizar

momentos de pausas para descanso, reposição do aporte energético e hídrico, assim como

promover a descontração e melhorar os níveis de motivação e atenção. As pausas devem ser

condizentes com as características da tarefa executada.

Segundo Kroemer e Grandjean (2005), para tarefas que exigem muito esforço físico,

as pausas deverão ser curtas e freqüentes, podendo ser no próprio local de trabalho ou com a

mudança de tarefa. Para tarefas predominantemente cognitivas, as pausas deverão ser mais

raras e com duração maior, de preferência fora do posto de trabalho. De acordo com os

autores, juntamente com as características especiais da tarefa, existem diferentes tipos de

pausas, como por exemplo: pausas espontâneas, que são as pausas feitas por iniciativa dos

próprios trabalhadores, sem interferir no fluxo de trabalho. As pausas disfarçadas são

consideradas quando o trabalhador faz uma tarefa secundária, paralelamente à principal. Já as

pausas que fazem parte da natureza do trabalho são todas as interrupções que surgem na

operação de uma máquina ou provocadas pela própria organização do trabalho. E finalizando,

as pausas prescritas pela gerência, como pausas para lanche e almoço, assim como as pausas

para realização da ginástica laboral.

Dentro do âmbito das gestões administrativas e da organização do trabalho, a

38

preocupação com a saúde e a segurança dos trabalhadores, a responsabilidade social e

ambiental, assim como evitar o presenteísmo 3 e reduzir os níveis de absenteísmo 4, tem

apresentado uma crescente parcela de importância. Esses requisitos estão sendo contemplados

atualmente, pois são resultantes dos inúmeros movimentos sindicais promovidos pelos

próprios trabalhadores, ao longo da história e, mais recentemente, tem sido uma exigência das

empresas clientes e da legislação vigente.

Conforme as questões relacionadas à organização do trabalho vão evoluindo, emergem

aspectos os quais passam a exigir atenção, um dos principais relaciona-se com as condições

de trabalho e as consequências provocadas nas condições de saúde e de adoecimento dos

trabalhadores. A seguir abordaremos o processo evolutivo da saúde do trabalhador.

2.2.2 Processo evolutivo da saúde do trabalhador

Os aspectos relacionados à saúde do trabalhador referem-se a um campo do saber que

busca compreender as relações entre saúde e doença, produzidos pelos processos de trabalho.

Entendem-se a saúde e doença como processos dinâmicos, relacionados de maneira estreita

com o desenvolvimento produtivo, em momentos históricos determinados (BRASIL, 2001).

De acordo com esse entendimento, Mendes e Dias (1991) afirmam que as relações de

trabalho interferem na forma como os trabalhadores definem o processo de saúde e

adoecimento. Os autores sugerem que é fundamental entender como e porque se desenvolvem

os mecanismos de adoecimento no trabalho e quais alternativas podem ser adotadas para

combater a doença e promover a saúde.

Para compreender o processo saúde/doença e construir prátic as de vigilância em

saúde, torna-se necessário conhecer o contexto na qual as pessoas estão vivendo, como

características demográficas, traços culturais, aspectos políticos, dados socioeconômicos e

epidemiológicos, assim como as condições sanitárias que fazem parte daquele espaço

territorial. As ações a serem desenvolvidas devem se apresentar na seguinte ordem:

informação, decisão e ação. Ou seja, primeiramente deve-se conhecer a realidade das pessoas,

prioridades, problemas, para em um segundo momento, decidir quais as medidas mais

3 Presenteísmo significa estar sempre presente ao trabalho, porém doente (CHIAVENATO, 1993). 4 Absenteísmo é a ausência temporária do trabalho por motivo de doença (CHIAVENATO, 1993).

39

adequadas e no terceiro passo, pô- las em ação (BRASIL, 2001).

Relacionando-se à saúde dos trabalhadores, deve-se levar em consideração os diversos

riscos5, aos quais estão ou poderão estar expostos durante o trabalho, sejam eles de ordem

ambiental ou organizacional. Como afirma o Ministério da Saúde (BRASIL, 2001, p. 9):

Assim, as ações de saúde do trabalhador, devem ser incluídas formalmente na agenda da rede básica de atenção à saúde. Dessa forma, amplia -se a assistência já ofertada aos trabalhadores, na medida em que passa a olhá-los como sujeitos a um adoecimento específico que exige estratégias – também específicas – de promoção, proteção e recuperação da saúde.

A saúde como bem maior do trabalhador é condição indispensável para o seu convívio

social e o desenvolvimento das relações de produção. Para tanto, torna-se necessário entender

como vêm sendo tratadas as questões referentes à saúde do trabalhador no decorrer dos

tempos.

Com a consolidação da revolução industrial, os aspectos relacionados ao adoecimento

no trabalho foram identificados, surgindo assim movimentos trabalhistas que vão lutar por

melhores condições de trabalho. Durante o século XIX, na Inglaterra, a Medicina do Trabalho

surge como especialidade médica, com profissionais atuando dentro das fábricas, na tentativa

de minimizar os riscos provocados pelo trabalho (MENDES; DIAS, 1991).

Porém, Dejours (1992, p. 14) afirma que à classe operária do século XIX, não cabia

falar em saúde “[...] antes, é preciso que seja assegurada a subsistência, independentemente da

doença. A luta pela saúde, nesta época, identifica-se com a luta pela sobrevivência: viver para

o operário é não morrer [...]”. Isso mostra o quanto as questões de saúde ficam em segundo

plano quando está em questão a subsistência, fato esse que, em muitas situações, perdura até

os dias atuais.

As condições de trabalho relacionadas à saúde sofrem modificações principalmente a

partir da Primeira Guerra Mundial (1914–1918), quando o movimento operário tenta

conseguir melhorias da relação saúde-trabalho. Os resultados mais significativos foram

obtidos onde o número de trabalhadores era mais numeroso e o trabalho tinha valor

econômico estratégico. Em 1913, algumas empresas passam a adotar os exames pré-

5 Risco pode ser entendido como toda situação real ou possibilidade de perigo (FERREIRA, 1989).

40

admissionais. Em 1916, ocorre a redução da jornada de trabalho para oito horas por dia (com

surpreendente aumento de produção) e em 1919, as doenças ocupacionais são reconhecidas,

assim como a indenização e o cuidado aos doentes. Também em 1919, é criada a lei referente

à atenuação dos perigos e da insalubridade, a qual é modificada em 1951, prevendo o uso

obrigatório de dispositivos de segurança nas máquinas. Durante a Segunda Guerra Mundial,

foi institucionalizada a Medicina do Trabalho (1946), a Previdência Social (1945) e os

Comitês de Higiêne e Segurança (1947) (DEJOURS, 1992).

Na primeira metade do século XIX, na Inglaterra, surgiu a Medicina do Trabalho, que

se caracterizou por ser centrada exclusivamente na figura do médico, sendo este uma pessoa

de inteira confiança do empresário e que se dispunha a defendê- lo. A prevenção e a

responsabilidade dos riscos provocados pelo trabalho à saúde do trabalhador, também eram

tarefas exclusicas do médico (MENDES; DIAS, 1991).

Segundo Mendes e Dias (1991), a preocupação com o oferecimento dos serviços

médicos aos trabalhadores começa a se refletir no cenário internacional, inclusive para a

Organização Internacional do Trabalho (OIT), a qual foi criada em 1919. Sendo assim, em

1953, a OIT, por meio da Recomendação n. 97, referente à “Proteção da Saúde dos

Trabalhadores”, fomenta a qualificação para a Medicina do Trabalho, além de estudos sobre

as diretrizes gerais da organização de serviços médicos do trabalho.

Mesmo com a atuação de profissionais da Medicina nos locais de trabalho, continuam

ocorrendo sérios danos à saúde dos trabalhadores. A atuação profissional do médico deixa de

ser exclusivamente relacionada ao processo de saúde e doença dos trabalhadores e estende-se

ao ambiente de trabalho, isso torna-se possível com a intervenção de outros profissionais.

Surge, assim, a saúde ocupacional que tem características multi e interdisciplinar, ou seja,

existe a atuação de vários profissionais relacionados à saúde e à segurança no trabalho

(MENDES; DIAS, 1991).

A saúde ocupacional surge sob o amparo da saúde pública, trazendo uma visão bem

mais abrangente que o modelo apresentado pela Medicina do Trabalho. Pode-se dizer que

houve uma ampliação da medicina do trabalho para a saúde ocupacional, contribuindo para a

construção de respostas racionais e científicas, para problemas de saúde provocados pelo

ambiente e processos de trabalho (BRASIL, 2005).

Ampliando-se os olhares, ou seja, com os diferentes profissionais que passam a atuar

41

na saúde ocupacional, tornou-se possível melhorar algumas condições de trabalho, embora o

trabalhador continuasse sendo objeto da ação. Surgem movimentos sindicais para lutar pela

participação dos trabalhadores nas questões relacionadas à saúde e à segurança do trabalho,

ou seja, a luta para se tornar sujeito da ação, pois são eles que mais conhecem as situações

concretas do cotidiano, manifestadas pelo sofrimento, doença e morte. Como conseqüência do

movimento dos trabalhadores, ocorrem significativas mudanças no mundo do trabalho,

principalmente as provocadas pela nova legislação adotada nos aspectos de saúde e segurança

do trabalhador. Essas novas medidas caracterizaram a transição dos termos saúde ocupacional

para saúde do trabalhador (MENDES; DIAS, 1991).

A saúde do trabalhador é conceituada como a área de conhecimento que contempla

aplicação e conhecimento técnico acerca dos múltiplos fatores que envolvem a saúde do

trabalhador e de seus familiares, mesmo sendo provocadas por aspectos externos ao ambiente

de trabalho. Essa área de conhecimento considera as diferentes manifestações e variações do

processo de adoecimento que afetam os trabalhadores, assim como variadas maneiras de

atuação e enfrentamento (BRASIL, 2005).

O processo saúde-trabalho passou a ser analisado não como um simples impacto do

trabalho sobre os trabalhadores, mas como consequência da relação de produção, determinada

socialmente pela dialética entre capital e trabalho. Hoje, as condições de ambiente de saúde e

segurança no trabalho passam a ser compreendidas como garantias essenciais para a qualidade

de vida das pessoas e direito de cidadania (FRIAS JÚNIOR, 1999).

De acordo com Oliveira e Vasconcellos (1992), existe uma multiplicidade de

instituições formadoras de opinião dos profissionais que atuam na saúde do trabalhador. De

um lado, a formação convencional, tentando suprir os interesses patronais de um mercado de

trabalho, ou seja, prima pelo cumprimento da legislação, sendo representada no Brasil pela

Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho

(FUNDACENTRO). Por outro lado, observamos o processo de formação dentro da concepção

da saúde pública6, promovido pelas universidades.

Nesse cenário, percebe-se que existe uma fragmentação de concepções no âmbito da

saúde do trabalhador, resultando em ações estanques, não integradas, desenvolvidas por

distintas instituições, distanciadas constitucionalmente. Destaca-se a necessidade de uma

6 Saúde pública: consistem em ações de saúde sobre as pessoas e sobre o ambiente (SCLIAR, 2002).

42

integração das ações para a saúde do trabalhador, por parte dos órgãos que a coordenam,

assim como dos diferentes profissionais que nela atuam (OLIVEIRA; VASCONCELLOS,

1992).

Segundo Mendes e Dias (1991), cabe mencionar a necessidade de uma visão que

busque integrar os interesses individuais e coletivos, assim como os biológicos e sociais,

tecnológicos e políticos, particulares e gerais, contemplando as reivindicações dos

trabalhadores, bem como os interesses patronais e as ações dos profissionais que atuam na

saúde do trabalhador.

O principal objetivo das estratégias voltadas para a saúde do trabalhador, seja por parte

da organização, dos profissionais da área da saúde ou dos trabalhadores, relaciona-se à

prevenção e combate às doenças ocupacionais. As doenças ocupacionais são patologias

resultantes de movimentos repetitivos, posturas inadequadas, sobrecarga de trabalho entre

outros aspectos.

2.2.3 Doenças ocupacionais

Para Dejours (1992), a manifestação de doenças, é a única forma que o trabalhador

tem de expressar que alguma coisa no seu ambiente ocupacional, não anda bem e que está lhe

causando sofrimento. Essa situação tem sido crescente e tem exigido medidas preventivas e

corretivas, tanto por parte dos governantes quanto das empresas.

De acordo com o Ministério da Previdência Social, no seu Anuário Estatístico da

Previdência Social (APES), do ano de 2007, as doenças ocupacionais são enfermidades

desencadeadas ou agravadas no exercício da tarefa laboral, sejam elas temporárias ou

permanentes. As doenças ocupacionais são classificadas como acidentes de trabalho,

independente se forem registrada a Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) junto ao

Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), ou não (BRASIL, 2008).

O Brasil é considerado um dos paises do mundo com maiores índices de acidentes de

trabalho e doenças ocupacionais, o que tem gerado custos elevados. De acordo com dados do

Serviço Social da Indústria (2004), são gastos anulmente R$5,9 bilhões em benefícios

previdenciários, sendo que as empresas chegam a R$26 bilhões perdidos com horas de

trabalho perdidas, recuperação da saúde, retreinamento, reinserção no mercado de trabalho,

43

licenças, entre outros fatores, o que representa perda anual de 4% do Produto Interno Bruto

(PIB).

As doenças com maior número de registros no Brasil são as Lesões por Esforços

Repetitivos (LER) e os Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT)

(BRASIL, 2008). Essas doenças podem ter origem atribuída a várias causas de ordem física,

pela repetição de movimento, posturas inadequadas, fatores insalubres aos quais os

trabalhadores estão expostos, aspectos psicológicos, entre outros. Nascimento e Moraes

(2000, p. 23) definem as doenças ocupacionais, de ordem física, como:

Afecções que podem acometer os ossos, tendões, sinóviais, músculos, nervos, fácias e/ou ligamentos. Afecções estas que podem se apresentar de forma isolada ou associada, tendo como manifestações clínicas, dor, inflamação e distúrbios neurovasculares, que podem, por vezes, levar a degradação da funcionalidade e, em casos mais graves, ao desequilíbrio emocional.

O termo LER foi amplamente utilizado para diagnosticar diversas condições

dolorosas, porém, tem como causa principal o movimento repetitivo realizado em qualquer

ambiente. Sendo assim, quando mencionarmos alguma afecção músculo esquelética adquirida

apenas no ambiente de trabalho, tornou-se mais correto usarmos o termo DORT. Embora,

como apresentado por Mendes e Leite (2008, p. 17), “[...] todos os DORT são LER, mas nem

todas as LER são DORT”.

Atualmente são empregados inúmeros termos e siglas para designar adoecimentos

provocados por degenerações físicas. Os termos mais difundidos são a LER e a DORT.

Usualmente, os termos são utilizados em conjunto DORT/LER ou LER/DORT7

(NASCIMENTO; MORAES, 2000).

Também, de acordo com Nascimento e Moraes (2000) e Mendes e Leite (2008),

podem ser encontradas na literatura, as seguintes denominações: Síndrome da Sobre Carga

Ocupacional (SSO); Distúrbio por Trauma Cumulativo (DTC); Afecções Músculos

Esqueléticas Relacionadas ao Trabalho (AMERT´s); Lesão por Trauma Cumulativo (LTC);

Distúrbio Músculo-esquelético Ocupacional (DMO), entre outras.

7 Será adotado neste trabalho o termo LER/DORT quando nos referimos as doenças ocupacionais, provocadas

por degenerações físicas.

44

As LER/DORT evoluem de forma gradativa e particular, de acordo com as

características de cada pessoa. Para Lima, A. (2005), as patologias ocupacionais devem ser

prevenidas e tratadas com muita seriedade e responsabilidade, pois além de serem processos

dolosos, podendo causar a invalidez do trabalhador, também acarretam prejuízos de ordem

psicológica, como angústia, depressão e incertezas quanto ao futuro.

Um dos grandes motivos para as organizações e a previdência social estar investindo

em medidas para reduzir e combater a incidência das LER/DORT tem sido o alto custo

gerado, como afirma Lima, A. (2005, p. 98):

Essa preocupação tem sido muito considerada por governos e organizações, pois é uma das maiores causas de absenteísmo e afastamento por doença funcional registradas pelos órgãos responsáveis de previdência social. E que gera um custo altíssimo, tanto para os governos quanto para as empresas particulares que têm de conviver com funcionários acometidos por esses problemas até a aposentadoria.

A causa das LER/DORT é de origem multifatorial, como sobrecarga mecânica, devido

à repetição de movimentos, posturas inadequadas, condições ambientais desfavoráveis como

temperatura, umidade, entre outros, assim como os aspectos de ordem emocional. Existem

pessoas com maior pré-disposição ao desenvolvimento desse tipo de patologias, ou seja,

apresentam um perfil psicológico, principalmente, quando atuando em cargos de chefia, ou de

grande responsabilidade e tensão, com intenso ritmo de trabalho e raros momentos de

descanso.

De acordo com Melo (1998), independente do tipo de patologia apresentada, as

LER/DORT apresentam sintomas semelhantes, classificadas nos seguintes graus de evolução:

a) Grau ou Fase 0: o trabalhador está exposto a uma situação de trabalho inadequada.

Ele começa a apresentar desconforto, sensação de peso, acentuando-se no final do

expediente, ou durante os picos de produção. O desconforto tende a diminuir ou até

cessar com o repouso, ou com a redução do ritmo de trabalho. Nesse caso, devem

ser realizadas investigações e intervenções ergonômicas no posto de trabalho, a fim

de reduzir o risco ergonômico. Assim, o trabalhador deverá participar de atividades

de prevenção das patologias ocupacionais bem como a de ginástica laboral, além de

praticar exercícios físicos, realizar exames médicos e fisioterápicos periodicamente,

usar equipamentos de segurança e adotar postura adequada de trabalho;

45

b) Grau ou Fase I: neste estágio, o desconforto persiste e se intensifica, não cessando

com o repouso, apenas é minimizado, persistindo por longos períodos, surgindo

com mais frequência no ambiente de trabalho, não apenas durante os picos de

produção ou no final do expediente. A dor é leve e fugaz, podendo ser detectada em

exames clínicos quando se comprime à massa muscular envolvida, tendo que haver

então mudanças no ambiente de trabalho. Deve ser efetuada à Comunicação de

Acidentes de Trabalho (CAT) e encaminhar para tratamento e o prognostico é bom;

c) Grau ou Fase II: nesta fase, existe provável redução na produção de trabalho,

devido à dor ser intensa e persistente, mesmo fora do trabalho. A pessoa passa a

apresentar dificuldades ou restrições em realizar atividades domésticas e cuidados

na higiene pessoal. A dor é mais localizada, com irradiação no segmento corporal

afetado, apresentando nodulações e redução de sensibilidade, podendo ser

acompanhada de calor e parestesias (formigamento). Neste estágio, o tratamento é

medicamentoso, apresentando prognóstico variável;

d) Grau ou Fase III: nesta fase, a pessoa apresenta dor intensa e irradiação bem

definida, a produtividade torna-se mínima, o afastamento é inevitável, e o retorno

improvável, gerando medo quanto à seguridade do cargo, associada à alteração no

relacionamento familiar, podendo desenvolver angústia e depressão profunda. A

pessoa apresenta edema, hipertrofia muscular e perda de sensibilidade, trazendo

muita dor quando apalpada a região afetada, com freqüente perda de força

associada a parestesias. Há paroxismos, ou seja, crises noturnas, prejudicando

consideravelmente a qualidade do sono e o prognóstico grave;

e) Grau ou Fase IV: nesta fase, torna-se notável a perda de força e limitação dos

movimentos, associada à atrofia do membro. É anulada a capacidade de trabalho e a

invalidez é caracterizada pela impossibilidade nas atividades do trabalho e muitas

vezes, domiciliares, trazendo alterações psicológicas. O edema persiste e poderão

surgir deformações e o prognóstico é sombrio.

Os sintomas e quadros evolutivos, apresentados nas diferentes fases de evolução das

doenças ocupacionais, são típicos em diferentes distúrbios patológicos. Apresentaremos a

seguir, os que ocorrem com maior frequência no ambiente ocupacional. De acordo com Gann

(2005), a tendinite, a tenossinovite e a bursite são descritas como:

46

a) Tendinite:

É uma inflamação instalada nos tendões, a qual pode ter origens distintas como a

origem mecânica, decorrente dos movimentos repetitivos, sobrecarga de esforço físico.

Também pode ter origem química, provocada por desidratação, alimentação incorreta e

toxinas no organismo, pois quando as estruturas tendíneas não estão suficientemente

drenadas, aumentará o atrito, desencadeando a inflamação. A seguir, a Figura 1 apresenta uma

demonstração visual da tendinite.

FIGURA 1 - Demonstração visual da tendinite.

Fonte: Clínica Decke rs (2008).

b) Tenossinovite:

É considerada uma inflamação nos tecidos sinoviais, que envolvem os tendões, em sua

passagem por túneis osteofibrosos, polias e locais em que a direção da força é mudada. Dessa

forma, deve-se evitar o movimento repetitivo de longa duração, atitude a qual deve ser menor

ainda se o movimento for feito com peso. A Figura 2 demonstra como pode ocorrer o

47

processo inflamatório nos tendões, denominado tenossinovite.

FIGURA 2 - Demonstração visual da tenossinovite.

Fonte: Grupo Marimar (2008).

c) Bursite:

É um processo inflamatório, que acomete as bursas, que são pequenas bolsas,

constituídas de fibras colágenas e revestidas de membrana sinovial, estão localizadas entre as

estruturas articulares. Quando ocorre fricção excessiva, provocada pelas atividades

desempenhadas, pode desencadear a médio e longo prazo um processo inflamatório.

Existem várias bursas pelo nosso corpo, porém o local de maior incidência no

ambiente ocupacional é no ombro, principalmente para os trabalhadores que realizam

movimentos com os braços de amplitude que vão acima da linha do ombro, pressionando

então as bursas e, no caso de bursite confirmada, agrava em muito o processo inflamatório. É

de suma importância, estar atento aos sinais desse processo, e se for diagnosticado no estado

inicial, as chances de recuperação são maiores e mais rápidas. A Figura 3 apresenta a

48

visualização da bursite.

FIGURA 3 - Demonstração visual da bursite.

Fonte: Medicina Geriátrica (2008).

Além das doenças ocupacionais de ordem física, já mencionadas, de acordo com Gann

(2005), existem outras, que se manifestam de forma bastante significativa no contexto de

trabalho, como a artrite, a Síndrome do Túnel do Carpo, a Cervicalgia e a Lombalgia. A

seguir estão descritos os conceitos e esquemas visuais dessas patologias:

a) Artrite:

De acordo com Nieman (1999), as artrites são um conjunto de doenças reumáticas que

acometem as estruturas articulares, ocasionando dor, aumento do volume articular, assim

como limitação dos movimentos. Por ser uma patologia crônica, perdura por toda vida,

portanto é considerada uma das patologias ocupacionais mais onerosas. A Figura 4 apresenta

o esquema visual da artrite.

49

FIGURA 4 - Demonstração visual da artrite.

Fonte: Bio met (2009a, 2009b ).

b) Síndrome do Túnel do Carpo:

Ocasionada pela inflamação do nervo mediano, o qual é responsável pelo movimento

do dedo polegar e sensação no dedo médio, indicador e parte da parte da mão. Nascimento e

Moraes (2000) definem como uma neuropatia compressiva muito comum. Ocorre uma

compressão no nervo mediano desencadeado por fatores que determinam o aumento do

volume das estruturas que passam no túnel do carpo ou por alterações da forma do túnel. O

túnel do carpo é um forame por onde passa nervo mediano, juntamente com os tendões

flexores. Dessa forma, quando realizamos muitos movimentos repetitivos e forem

requisitados os tendões flexores, ocorrerá uma resposta de dor com o respectivo aumento de

volume, desencadeando uma compressão no nervo mediano impossibilitando a sua utilização.

A Figura 5 ilustra a Síndrome do Túnel do Carpo.

50

FIGURA 5 - Demonstração visual da Síndrome do Túnel do Carpo.

Fonte: Mais Educação (2008).

c) Cervicalgia:

De acordo com Nascimento e Moraes (2000), a cervicalgia caracteriza-se por ser uma

dor localizada na região cervical da coluna. Ocorre com muita frequência, tanto por posturas

inadequadas, movimentos repetitivos, vícios posturais adotados no local de trabalho, ou fora

dele. Quando não tratada e combatida, a cervicalgia poderá evoluir para um

cervicobraquialgia, que é uma dor localizada na região cervical, com irradiação para os

membros superiores, por pinçamento de raiz nervosa. A Figura 6 apresenta a localização

anatômica da cervicalgia.

d) Lombalgia:

A lombalgia é frequentemente diagnosticada como a doença ocupacional que provoca

maior incidência de queixas e de dores. É caracterizada pelas dores localizadas na região

lombar, pode ser resultante de posturas viciosas no trabalho, lazer, em casa ou no dormir,

além de pegar peso de forma inadequada e outros (NASCIMENTO; MORAES, 2000). A

representação visual da lombalgia está ilustrada na Figura 7.

51

FIGURA 6 - Demonstração visual da cervicalgia.

Fonte: Osteopatia (2008). FIGURA 7 - Demonstração visual da lombalgia.

Fonte Lazarini (2008).

52

De acordo com Araújo (1998), as pessoas que desenvolvem LER/DORT, em geral,

ficam extremamente fragilizadas, pois sofrem inúmeros danos físicos, muitas vezes

irreparáveis, além de abalos emocionais significativos, semelhantes à depressão. Esse é um

quadro provocado por razões como a restrição ao trabalho, as fortes dores sentidas e a

possibilidade de não desenvolver atividades rotineiras. Ainda segundo o autor, o trabalhador

quando adoece, é vítima de desconfiança, pois muitas vezes, as queixas são consideradas

fingimento, ou estratégia para denunciar a empresa. Torna-se, então, extremamente

complicado para o trabalhador desempenhar outra função dentro da empresa, ou até mesmo

conseguir um novo trabalho.

Dessa forma, as doenças de ordem física são provocadas ou agravadas por aspectos de

caráter psicossomático, assim como podem ocorrer de maneira inversa. Seligmann-Silva

(1994) afirma que as relações de trabalho podem tanto fortalecer a saúde do trabalhador

quanto provocar o seu adoecimento. Segundo a autora, tem sido crescente o número de

pesquisas relacionadas à Saúde Mental do Trabalhador (SMT), assim como a ocorrência de

distúrbios de natureza psicossocial, como o estresse e a estafa profissional ou o burnout, as

quais serão discutidas a seguir.

De acordo com a Associação Brasileira de Stress (2009), o estresse é uma reação do

organismo, causada por reações psicofisiológicas, que se manifestam quando a pessoa se

confronta com situações desconhecidas, as quais podem provocar angústia, medo, pavor,

ansiedade. Para Seligmann-Silva (1994), no caso específico do estresse vinculado ao trabalho,

é importante identificar aspectos estressores no ambiente ocupacional, além de considerar que

o apoio social é o principal aspecto protetor. Nesse sentido, a ginástica laboral e a ergonomia,

são importantes estratégias para minimizar os efeitos nocivos do estresse.

Já a síndrome da estafa profissional, também denominada como burnout, é uma

conseqüência decorrente de prolongados níveis de estresse no trabalho, provocando exaustão

ou estafa emocional, dificuldade de relacionamento e distanciamento das relações pessoais, e

redução do sentimento de realização pessoal. As dimensões organizacionais, as características

individuais, o trabalho e a sociedade, são considerados os principais fatores de risco para o

desenvolvimento dessa síndrome (TRIGO; TENG; HALLAK, 2007).

Para as organizações, a maior preocupação com as doenças ocupacionais, se dá devido

aos altos custos gerados. Embora seja necessário destacar que o maior prejudicado é o

53

trabalhador, pois além de desenvolver a patologia e sofrer as conseqüências muitas vezes,

torna-se uma vítima, pois compromete a sua capacidade de trabalho, sua subsistência,

interferindo de forma significativa nas suas condições de saúde ou doença.

Para combater os efeitos nocivos do trabalho e o surgimento das doenças

ocupacionais, as organizações têm investido em áreas como a ergonomia e a ginástica laboral.

Mas é preciso enfatizar que tais recursos devem estar associados a outras medidas

organizacionais, como gestão participativa, questões salariais, valorização das pessoas, entre

outras, além de atenderem as necessidades dos trabalhadores e não apenas aos interesses

capitalistas.

2.2.4 Fatores que influenciam nas condições de trabalho: ergonomia e

ginástica laboral

São inúmeros os fatores que podem influenciar nas condições de trabalho, porém aqui

abordaremos a respeito da ergonomia e da ginástica laboral, respectivamente. Faremos um

breve levantamento histórico e conceitual sobre os dois temas, além de relacioná- los às

questões de saúde e doença no trabalho.

Couto (2002) considera que a ergonomia pode ser definida como o trabalho

interprofissional que, baseado num conjunto de ciências e tecnologias, procura o ajuste entre o

ser humano e seu ambiente de trabalho de forma confortável e produtiva, basicamente

procurando adaptar o trabalho às pessoas.

Para Iida (1993), a ergonomia é o estudo da adaptação do trabalho à pessoa. Nesta

definição, o trabalho tem uma acepção bastante ampla, abrangendo não apenas as atividades

que envolvem máquinas e equipamentos utilizados para transformar os materiais, mas

também toda a situação que envolve o relacionamento físico e os aspectos organizacionais, de

como esse trabalho é desenvolvido e controlado, para produzir os resultados desejados. De

acordo com o autor, ergonomia é o estudo do relacionamento entre a pessoa e o seu trabalho,

equipamento e ambiente e, particularmente, a aplicação dos conhecimentos de Anatomia,

Fisiologia e Psicologia na solução dos problemas surgidos desse relacionamento.

Para a Associação Brasileira de Ergonomia (2007), a ergonomia é definida como:

54

A Ergonomia (ou Fatores Humanos) é uma disciplina científica relacionada ao entendimento das interações entre os seres humanos e outros elementos ou sistemas, e à aplicação de teorias, princípios, dados e métodos a projetos a fim de otimizar o bem estar humano e o desempenho global do sistema.

A ergonomia surge em 1950, em países socialmente mais desenvo lvidos e

industrializados. É importante que se destaque que até 1960, as fábricas e postos de trabalho

eram constituídos sem qualquer consideração sobre o ser humano que iria trabalhar ali. Na

atualidade, ainda existem muitos fabricantes de equipamentos que ainda desconhecem as

características do ser humano e acabam construindo assim aparelhos inadequados aos

trabalhadores.

De acordo com Kroemer e Grandjean (2005), a ergonomia envolve questões

relacionadas a condições antropométricas dos postos de trabalho, intensidade e tempo da

jornada de trabalho, condições ambientais (luminosidade, ventilação, ruídos, temperatura),

estresse, monotonia, ou seja, tem uma visão bem abrangente do universo que envolve o

trabalho e, principalmente, o trabalhador.

Segundo a Associação Brasileira de Ergonomia (2007), a ergonomia, nas suas mais

diversas formas de intervenção, está pautada em três domínios: físico, cognitivo e

organizacional. O físico está relacionado às características antropométricas, fisiológicas,

anatômicas e biomecânicas das atividades físicas desempenhadas pelos trabalhadores, no

cumprimento de suas tarefas laborativas. Os trabalhos realizados nessa área incluem estudos

relacionados à postura, movimentos repetitivos, distúrbios músculo-esqueléticos, entre outros

aspectos relacionados aos aspectos físicos do trabalhador.

O segundo domínio de especialização da ergonomia, o cognitivo, refere-se aos

processos mentais, ou seja, tomada de decisões, raciocínio, respostas motoras, informações

visuais, sonoras, sensoriais e outros elementos ou sistemas. Os estudos nesta área envolvem

análises para investigar a carga mental provocada pela tarefa de trabalho, assim como as

tomadas de decisão, interações entre pessoa-máquina e níveis de estresse. Para aplicar a

ergonomia cognitiva, torna-se necessária a realização de treinamentos que capacitem os

trabalhadores para um melhor desempenho das atividades que exigem relação com programas

ou sistemas mecânicos.

Já o terceiro domínio, refere-se à organização do trabalho, descrição e definição de

tarefas, funções, horários, ritmo, estrutura do contexto de trabalho. Nesse tópico, está incluída

55

a comunicação, o projeto de trabalho, o trabalho em grupo, o projeto participativo, o trabalho

cooperativo, a cultura organizacional, organização em rede, a gestão participativa, além de

outros aspectos que se enquadram no domínio da ergonomia organizacional.

De acordo com a Associação Brasileira de Ergonomia (2007), a ergonomia é

classificada de acordo com o momento do processo em que ela é utilizada e de acordo com a

sua finalidade. Dentre os vários tipos de ergonomia, iremos discutir os mais relevantes, dentro

das características deste estudo: Ergonomia de Concepção, de Correção e de Conscientização.

A Ergonomia de Concepção é a que se utiliza no momento da criação de um projeto,

objeto, equipamento ou ambiente. Esse é o momento mais adequado para se desenvolver um

projeto/produto adequado às características e necessidades de seus usuários, embora seja

necessário um maior conhecimento do profissional, pois requer prever uma situação, a qual

ainda é hipotética. É considerada uma ergonomia preventiva, é muito eficaz e apresenta boa

relação custo benefício.

A Ergonomia de Correção ocorre quando se realiza a intervenção ou adequação de um

equipamento, produto ou estação de trabalho, já existente, buscando corrigir anomalias

existentes, as quais interferem nas condições de trabalho, no que se refere ao conforto e à

segurança, contribuindo com um provável aumento de produtividade, proporcionado pelas

boas condições de trabalho. Assim como nos demais tipos de ergonomia, mas nesta em

especial, por se tratar de situações reais de trabalho, torna-se indispensável envolver o

trabalhador no processo de avaliação e adequação, aplicando assim a macroergonomia. Esse

tipo de intervenção requer que o ergonomista detenha muito conhecimento e experiência para

realizar as adaptações e adequações, apresentando soluções criativas e viáveis

economicamente.

E a Ergonomia de Conscientização é considerada uma etapa complementar às demais,

pois sensibiliza os trabalhadores/usuários para a utilização correta dos recursos oferecidos

pela organização, para a realização das tarefas de trabalho, por meio de treinamentos e

capacitações periódicos. A aplicação da Ergonomia de Conscientização é indispensável,

embora em muitas situações, ela não seja aplicada. Não basta disponibilizar um ambiente de

trabalho com recursos ergonômicos, se os trabalhadores não souberem adequá- los as suas

características físicas e necessidades.

56

Para Kroemer e Grandjean (2005), a ergonomia auxilia na melhora das condições de

saúde dos trabalhadores, pois intervém na redução de movimentos repetitivos, na melhora das

posturas adotadas na realização das tarefas, na adequação às condições visuais, de

temperatura, de ruído e vibração. Também se preocupa com a organização da rotina de

trabalho para amenizar os efeitos psicológicos, provocados pela rotina de trabalho ou da

máquina utilizada. Os bons resultados referentes às adequações ergonômicas também vão

depender de fatores relacionados a como os trabalhadores vão aceitar essas intervenções e

sugestões, receber apoio da empresa e participar de outros programas relacionados, como a

ginástica laboral.

Segundo Polito e Bergamaschi (2002), a ginástica laboral surgiu na Polônia em 1925 e

no Japão em 1928. No Brasil, a experiência pioneira ocorreu no Vale dos Sinos, estado do Rio

Grande do Sul, em 1979. Depois desse período, caiu no esquecimento, ressurgindo na década

de 1990. A partir dessa década, a ginástica laboral teve como objetivo amenizar problemas

como estresse, LER/DORT, proporcionando aos funcionários um estilo de vida mais

saudável.

O termo pode ser definido como a prática de exercícios físicos no local de trabalho,

atuando de forma preventiva e terapêutica. A ginástica laboral é um repouso ativo que

aproveita as pausas regulares durante a jornada de trabalho para exercitar e relaxar os grupos

musculares mais requeridos durante o trabalho, tendo como objetivo a prevenção da fadiga e

das doenças ocupacionais (LER/DORT). Contudo, a ginástica laboral pode ser entendida

como uma atividade física, realizada no local de trabalho, com exercícios de compensação

para movimentos repetitivos, para ausência de movimento e para posturas incorretas no local

de trabalho (POLITO; BERGAMASCHI, 2002).

Pelo fato da ginástica laboral ser uma atividade coletiva, realizada durante a jornada de

trabalho, e os profissionais de Educação Física, responsáveis pelo seu planejamento e

aplicação, desenvolvem atividades lúdicas, cooperativas, promovendo a interação e integração

dos trabalhadores, o que contribui nos aspectos psicológicos dos participantes. Para Cañete

(1996), a ginástica laboral estimula a motivação, melhora o clima organizacional, reduz os

níveis de tensão, principalmente por promover as interações sociais e ter caráter humanizador.

A ginástica laboral pode ser classificada de acordo com o horário e a finalidade. A

ginástica laboral preparatória é aquela realizada no início da jornada de trabalho, ou nas

57

primeiras horas e tem duração de aproximadamente cinco a 15 minutos, de acordo com a

disponibilidade da empresa. Tem como principais objetivos, aquecer a musculatura que será

mais requerida durante as atividades laborais, assim como despertar e motivar os

trabalhadores para a jornada de trabalho (LIMA, V., 2003).

Outra classificação é a ginástica laboral compensatória ou de pausa, realizada durante

o expediente de trabalho, preferencialmente após o pico de produção, ou de acordo com a

viabilidade de horários da empresa. Tem como objetivo compensar as estruturas musculares

mais requeridas, impedir a instalação de vícios posturais, evitar e combater as doenças

ocupacionais, além de promover o relaxamento e o desligamento da tarefa (POLITO;

BERGAMASCHI, 2002).

Os tipos de ginástica laboral preparatória e/ou compensatória são as mais utilizadas,

embora seja importante mencionar que existem outros tipos, como a de relaxamento, a qual

visa restabelecer o equilíbrio muscular, geralmente realizada no final do expediente de

trabalho e tem uma duração maior (até 30 minutos). Já a ginástica laboral de manutenção é

realizada fora do horário de trabalho, com um programa de condicionamento físico

complementar, podendo ser realizada na própria empresa, com academias corporativas,

equipes desportivas, de corrida, entre outras atividades que atendam às preferências dos

participantes. Vale a pena ressaltar que medidas que visam melhorar o condicionamento

físico, ou seja, o combate ao sedentarismo, são fundamentais para promover a saúde e

prevenir/combater as doenças (MENDES; LEITE, 2008).

A aplicação da ginástica laboral tem se tornado uma importante ferramenta na

promoção da saúde e na prevenção da doença, quando atinge seus objetivos, reduzindo dores

e desconfortos musculares, níveis de absenteísmo, assim como a melhora da consciência

postural dos trabalhadores, motivação e melhora do espírito de equipe desenvolvido entre os

participantes. Outro aspecto relevante da ginástica laboral é que o profissional acompanha o

trabalhador durante as atividades, vai até o seu posto de trabalho periodicamente, o que

promove o estreitamento de laços e relação de confiança entre profissional e trabalhador.

Tanto na ginástica laboral quanto na ergonomia torna-se indispensável, ouvir o que o

trabalhador tem a dizer, quais são as suas contribuições e necessidades, quais as

representações sobre o trabalho, à saúde e a doença. Para entender melhor esta relação,

precisamos ampliar as discussões referentes às representações sociais.

58

2.3 SOBRE AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

De acordo com Queiroz (2003), Émile Durkhein (1858-1917) foi a primeira pessoa a

empregar o termo representações coletivas, no ano de 1957, em sua obra: “As formas

elementares da vida religiosa”. Também estudou, juntamente com outros autores, como

Marcel Mauss, várias sociedades primitivas, observando em profundidade a relação do

pensamento com a lógica social. O conceito de representação coletiva, já era entendido como:

[...] um conjunto de idéias, saberes e sentidos provenientes da estrutura social mais ampla, que os indivíduos incorporam, combinam e representam com a função de promover a cooperação. O conjunto das representações individuais nunca chegaria à essência das representações coletivas que, além de serem independentes e autônomas, transcendem qualitativamente às primeiras (QUEIROZ, 2003, p. 28).

Durkhein afirmava que o ser humano pensa, percebe e sente o mundo em que vive, a

partir dos mecanismos de organização da realidade que o cerca, desta forma pode-se dizer que

a realidade externa, ou social, influencia a pessoa (QUEIROZ, 2003).

Os estudos relacionados às representações coletivas realizados por Durkhein

representaram um grande avanço para a sociologia, pois começava, já naquela época, a

considerar a complexidade que envolve o fenômeno social. Os estudos de Durkehein serviram

de base para Moscovici, que, em 1961, na França, deu origem a Teorias das Representações

Sociais, na obra “Representação Social da Psicanálise” (ESPÍRITO SANTO, 2005).

Inserida no campo da Psicologia Social, a Teoria das Representações Sociais busca

compreender como se dá a construção do conhecimento no contexto social. As representações

sociais constituem-se de instâncias privilegiadas no processo de investigação científica, pois

apresentam em seu contexto elementos do pensar social, buscando no cenário do senso

comum, da dinâmica e diversidade do pensamento, mecanismos para compreender a relação

indivíduo e sociedade (MOSCOVICI, 2003).

Para Jodelet (1985 apud SPINK, 1993), as representações sociais são formas de

entendimento do conhecimento prático, dirigidas para a comunicação e compreensão do

cenário social no qual estamos inseridos. Essas formas de conhecimento manifestam-se de

diversas maneiras, por meio da fala, das atitudes, das imagens, dos conceitos, das teorias, da

cultura e da arte. São socialmente construídas e compartilhadas, criam uma realidade comum,

59

a qual possibilita a comunicação, sendo assim consideradas, fenômenos sociais, indo muito

além das construções cognitivas, pois perpassam pelo afeto, pela ação e pelas formas de

comunicação nas quais circulam.

As representações sociais são definidas como uma forma de conhecimento construído,

elaborado e partilhado socialmente, apresentando uma visão prática e contribuindo para a

construção de uma realidade que é comum a um determinado conjunto social. Ou seja, as

representações sociais são fenômenos construídos no coletivo para o coletivo (SPINK;

FREZZA, 2004).

Por representações sociais entendemos um tipo de saber, socialmente negociado,

contido no senso comum e na dimensão cotidiana, que permite a pessoa uma visão de mundo

e a orienta nos projetos de ação e nas estratégias que desenvolve em seu meio social. As

representações sociais são conhecimentos culturalmente carregados, que adquirem sentido e

significado pleno apenas se forem levados em consideração a situação e o estágio evolutivo

em que se manifestam (QUEIROZ, 2003).

Segundo Guareschi (2007, p. 30), o objetivo das teorias das representações sociais está

voltado para a análise de como se formam os conhecimentos, “[...] como pensamentos, com

que pensamos, a partir do que pensamos [...]”. As representações sociais não podem ser

consideradas uma realidade à parte, nem tampouco uma cópia do mundo, mas sim uma

construção simbólica deste.

As representações sociais são próprias de cada lugar, de cada pessoa, oriundas do

senso comum, o que não desmerece a sua complexidade e relevância científica. Para Spink

(1993), as representações sociais são conhecimentos práticos constituídos a partir das relações

sociais, além de servirem como referência que permite dar sentido ao mundo e as ferramentas

que possibilitam a comunicação. Para tanto, exploram o presente, mas trazem em suas

construções resquícios de crenças e saberes históricos. Como afirma Guareschi (2007, p. 33):

Inseridas na história e na cultura, as representações sociais se manifestam nos discursos públicos e no pensar social sobre fenômenos, que tocam de maneiras fundamentais as realidades sociais, como a realidade política, ecológica ou ligada à saúde.

Sendo essas representações constituidas de diferentes formas, com concepções

elaboradas de acordo como assimilam os acontecimentos que vivenciam e a realidade na qual

60

pertencem, seus respectivos grupos, e o modo como respondem. As representações sociais são

realidades em si mesmas, uma associação dos saberes e práticas, construídas individualmente,

elaborando de forma simbólica a maneira como vêem o mundo, sendo que essas construções

influenciam a sua forma de agir (GUARESCHI, 2007).

Para Minayo (1995), deve-se prestar muita atenção na construção das representações

sociais, pois exigem necessariamente uma reformulação de alguns paradigmas até então

estabelecidos, relacionados a trajetórias ideológicas, ético-culturais. Logo, as representações

sociais não devem ser estudadas de fo rma fracionada, devem sim, estar interligadas, como é

sugerido por Rosseti-Ferreira, Amorim e Silva (2004), essa teia de sentidos interligados,

amarrados, relacionadas com o individual e com o coletivo. Conforme Jodelet (1989 apud

SPINK, 1993, p. 304):

[...] as representações sociais devem ser estudadas articulando elementos afetivos, mentais, sociais, integrando a cognição, a linguagem e a comunicação às relações sociais que afetam as representações sociais e à realidade material, social e ideativa sobre a qual elas intervêm.

O grande desafio é entrar nessa complexidade de representações sociais para buscar

compreender melhor o sentido dado pelos trabalhadores à saúde e à doença, como um reflexo

das representações do contexto social no qual estão inseridos e atuando. O papel da teoria das

representações sociais consiste em validar o conhecimento produzido no senso comum como

científico. “O vasto campo do senso comum, das ciências populares, permite-nos agarrar essas

representações ao vivo, compreender como são geradas, comunicadas e colocadas em ação na

vida cotidiana.” (GUARESCHI, 2007, p. 35). Assim como os sonhos podem servir de

instrumentos para compreender o inconsciente, as representações sociais servem de elemento

para entender o cotidiano, o agir das pessoas e efetivar a construção do real.

De acordo com Guareschi (2007), as representações sociais apresentam dois sentidos

complementares. Em primeiro lugar, são teorias construídas com base no conhecimento

compartilhado socialmente, a partir das relações cotidianas. Em segundo, as representações

sociais estão interessadas em estudar e explicar, por meio do discurso público e cotidianos, os

diferentes fenômenos sociais que ocorrem nos diferentes contextos.

Um fator que influencia de forma ampla o contexto social são as condições de saúde e

doença da população. Para que se apresentem medidas efetivas de melhoramento no campo da

61

saúde, torna-se necessário compreender a forma como os sujeitos sociais entendem as

representações de saúde e de doença.

2.3.1 Representação social de saúde e doença

De acordo com Sevalho (1993), a representação de saúde e doença sempre esteve

pautada pela inter-relação dos corpos com as demais coisas que o cercavam, podendo derivar

de elementos naturais ou sobrenaturais. Os povos primitivos associavam os aspectos

referentes à saúde e doença a fenômenos sobrenaturais e à magia. No decorrer da história, a

representação esteve relacionada à religião, sendo a saúde consequência da vontade divina e a

doença uma forma de punição, maldição ou castigo. Porém, durante os séculos XIX e XX,

com o surgimento da clínica médica e o desenvolvimento da microbilogia, aspectos

biológicos também passam a fazer parte da representação de saúde e doença.

Para Enumo (2003), as representações sociais de saúde e doença refletem o modo

como as pessoas entendem esse processo, a relação entre saúde e doença e o seu contexto

social. O entendimento deve ir além das narrativas da pessoa a respeito do seu entendimento

de saúde ou doença, deve-se levar em conta o contexto social, os substratos políticos,

econômicos, culturais e ainda o reconhecimento e valorização do senso comum, do entender e

conhecer de cada pessoa, para que programas de intervenção sejam desenvolvidos. Isso torna

favorável a adesão às práticas preventivas e melhora a comunicação entre os profissionais de

saúde e o usuário.

Entender as representações de saúde e de doença pode ser um meio para chegar à

origem de como se adoece. Para Sato (1996), tradicionalmente, as medidas de conhecimento

das situações de saúde têm estado desvinculadas daquelas que visam combater os agravos e as

condições que a geram, seja por motivos técnicos ou políticos, interferindo nas condições de

saúde e favorecendo o desenvolvimento da doença. Dessa forma, os esforços não estão

voltados para a promoção da saúde ou da prevenção da doença e sim para as formas de

tratamento.

Outra forma de representar o estado de saúde ou de doença se dá por meio dos

sintomas. Para muitas pessoas, estar doente é quando se está impossibilitado de exercer suas

funções devido ao agravo dos sintomas, “[...] contudo, nem todas as doenças provocam

62

sensações de mal-estar. Existem estados patológicos que não despertam sensações e que,

muitas vezes, as pessoas não têm consciência deles [...]” (SERPA, 2007, p. 56), podendo

gerar assim um agravo patológico, além de dificuldade no diagnóstico e tratamento.

Boltanski (2004), em seu estudo sobre as Classes Sociais e o Corpo, discute que para

as classes sociais mais baixas, a doença só é percebida quando a pessoa se sente incapaz de

exercer suas funções sociais, principalmente, no que se refere ao exercício do trabalho. Já a

saúde está atrelada ao cumprimento das tarefas cotidianas, entendidas pela pessoa como

obrigatórias. Nessa percepção, a saúde está dissociada da pessoa e relacionada ao contexto

social, por meio da capacidade de executar tarefas, já nas camadas sociais mais elevadas, o

entendimento de saúde está atrelado às sensações e sintomas apresentados pela pessoa.

Todas as pessoas produzem representações de tudo o que vivenciam e, no processo

saúde/doença, esse processo também ocorre principalmente no adoecimento. Tem-se, então, a

necessidade de construir o próprio entendimento da doença, o que de certa forma faz parte do

processo de aceitação. Para Boltanski (2004), muitas vezes o paciente, incapaz de reproduzir

o discurso do médico, constrói o próprio discurso baseado nas palavras do médico. Porém, na

grande maioria das vezes, o discurso elaborado pelo paciente não é partilhado, deixando assim

de auxiliar nas medidas de promoção, prevenção, tratamento e cura. É necessário que exista

uma sintonia entre o pensar dos profissionais de saúde e a representação do usuário.

Existiram e existem, ao longo da história da humanidade, inúmeras teorias que tentam

compreender e explicar o processo saúde-doença e sua representação social. Fonseca (1997)

discute que basicamente essas teorias estão dividas em três: a Teoria da Unicausalidade, a

Teoria da Multicausalidade e a Teoria da Determinação Social do Processo Saúde Doença.

Na Teoria da Unicausalidade, o entendimento e a representação do processo saúde-

doença dava-se a partir de uma única causa, a que se dava fora do organismo da pessoa. Ou

seja, nessas circunstâncias a pessoa não tinha controle sobre a saúde ou a doença, pois era

vítima de forças sobrenaturais externas, que agiam no seu corpo. Nessa forma de

entendimento, a representação social era de que as condições de saúde e doença não estavam

relacionadas às condições do corpo.

Com a evolução das forças produtivas e da ciênc ia, ocorreram mudanças nas causas

atribuídas ao processo de adoecimento, principalmente na era bacteriológica. Com as doenças

transmissíveis, a causalidade é conseqüência de microorganismos, ocorrendo assim, uma

63

grande mudança no entendimento das causas do adoecimento: se no primeiro as causas eram

exclusivamente externas ao corpo das pessoas, no segundo momento, passam a ser atribuídas,

exclusivamente, ao funcionamento biológico e físico-químico. A representação social da

causa do adoecimento está vinculada ao corpo, independente dos aspectos externos.

A Teoria da Unicausalidade foi perdendo espaço quando os problemas de organização

social passam a atrair atenção para as condições de saúde das pessoas, evoluindo assim para a

Teoria Multicausal, surgida no final do século XIX e consolidada no século XX. Nessa

proposta, o processo saúde-doença possui várias causas, sendo consequência tanto dos

aspectos sociais quanto fatores psicobiológicos da pessoa. Nesse caso, a representação social

de saúde ou doença é constituída tanto das condições internas quanto externas das pessoas.

Ainda assim, as Teorias Unicausal e Multicausal não conseguem justificar o

surgimento da doença, evoluindo para uma nova teoria, a Teoria da Determinação Social do

Processo Saúde Doença. Nessa teoria, a causa do adoecimento deve ser buscada no contexto

social, nas formas de organização e construção da vida social, entendendo a saúde e a doença

como expressões do processo social. Nesse processo, pode-se entender como cada classe

social cria seus próprios padrões de saúde e doença, seja pelas condições negativas (infra-

estrutura, saneamento, alimentação, fatores econômicos, segurança, etc.), as quais oferecem

risco, ou positivas (possibilidade de sobrevivência, por meio dos recursos oferecidos). O

processo de construção das representações sociais sofre a influência das classes sociais

(BOLTANSKI, 2004).

Para analisar o processo saúde-doença no contexto social, deve-se levar em conta os

aspectos individuais ou singulares e os grupos sociais. Vale ressaltar que saúde e doença, no

contexto social, manifestam-se por meio de diferentes fenômenos sociais, de maior ou menor

intensidade dependendo do local e época em que ocorrem (FONSECA, 1997).

É nesse sentido, de entender as representações atribuídas à saúde e à doença no

trabalho, que esta pesquisa foi realizada. Acreditamos que esse é um caminho viável e

possível para elaborar e sugerir programas de intervenção como a ginástica laboral e a

ergonomia e se obter maior adesão por parte dos (as) trabalhadores (as).

64

3 OBJETIVOS

65

3.1 OBJETIVO GERAL

Analisar as representações sociais de saúde e doença de secretárias (os) das

Coordenações de Curso de uma universidade.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Verificar o perfil sociodemográfico das (os) secretárias (os) das Coordenações de

Curso.

Identificar as doenças ocupacionais relatadas pelos (as) participantes.

Identificar a representação social sobre a ergonomia.

Identificar a representação social sobre a ginástica laboral.

66

4 MÉTODO

67

Este é um estudo descritivo, de caráter qualitativo. De acordo com Marques et al.

(2006), a pesquisa qualitativa caracteriza-se por não possibilitar que os dados encontrados

possam ser matematizados, sendo, dessa forma, predominantemente utilizada nas áreas das

ciências sociais, principalmente em estudo que abordam as representações sociais.

4.1 LOCAL

A presente pesquisa foi realizada em uma Universidade particular, situada no estado

do Mato Grosso do Sul, nos setores de Coordenação de Cursos.

4.2 PARTICIPANTES

A instituição conta com 11 secretárias (os) de Curso que foram convidados a participar

desta pesquisa. Dez8 pessoas concordaram em participar, sendo, nove do sexo feminino e um

do sexo masculino.

4.3 INSTRUMENTO

Para coleta de dados, utilizou-se entrevista estruturada. A entrevista foi elaborada pela

autora, composta por perguntas fechadas, abordando dados sociodemográficos (idade, sexo,

estado civil, grau de escolaridade, papel na estrutura familiar, renda familiar, estilo de vida,

prática de exercícios físicos, incidência de doenças ocupacionais, entre outros) e perguntas

abertas relacionadas à representação social de saúde e doença, conhecimento sobre ginástica

laboral e ergonomia (APÊNDICE A).

Os dados sociodemográficos estão relacionados a forma como as pessoas constituem

as representações sociais, pois compartilham desse conhecimento com grupos diferentes. A

entrevista foi escolhida como uma estratégia adequada para este tipo de estudo.

8 Num total de 11 pessoas que trabalham nessa função. Uma pessoa preferiu não fazer parte do estudo, embora

tenha solicitado ser entrevistada.

68

4.4 PROCEDIMENTOS E ASPECTOS ÉTICOS

Inicialmente, marcamos uma reunião com a responsável pelo setor de Gestão de

Pessoas, solicitando a autorização para realização da pesquisa. A reunião foi realizada,

ocasião em que foi efetuada a entrega do documento de solicitação, cópia do projeto e

explicação dos objetivos deste estudo, além da Folha de Rosto para Pesquisas com Seres

Humanos, do Ministério da Saúde, para ser assinada.

Após a autorização da instituição, o projeto foi encaminhado para análise, junto ao

Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), tendo sido aprovado (ANEXO).

Quando se obteve o resultado do CEP, entrou-se em contato com os coordenadores

dos Cursos, solicitando permissão para convidar as secretárias e secretário de Curso para

participarem do estudo. Com a devida autorização, convidamos os participantes pretendidos a

fazerem parte do estudo, sendo aceito pela maioria 9.

Para as pessoas que consentiram em fazer parte deste estudo, em um primeiro

momento foram explicados os objetivos da pesquisa e agendado o dia e horário para a

realização da entrevista. Antes de inicia rmos a entrevista, foi entregue aos participantes o

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE B), de acordo com a Resolução n.

196, de 10 de outubro de 1996, do Conselho Nacional de Saúde (CNS) (BRASIL, 1996).

As entrevistas foram realizadas no próprio local de trabalho e na sala dos professores

pertencente ao bloco onde se localiza o setor de trabalho do (a) participante. As entrevistas

foram gravadas após o consentimento do participante.

Após o término de todas as entrevistas, as fitas K7 foram transcritas na íntegra. Num

segundo momento, foram identificadas as respostas de cada uma das perguntas realizadas.

Dando seqüência, foi feita a análise dos relatos.

4.5 PROCEDIMENTOS E ANÁLISE DOS RELATOS

Para análise dos conteúdos das entrevistas, foram seguidos os seguintes passos:

9 Apenas um(a) secretário(a) de curso, preferiu não fazer parte do estudo.

69

a) Transcrição das entrevistas na íntegra;

b) Disposição dos relatos de acordo com cada pergunta realizada;

c) Leituras sucessivas do material para identificar os temas que emergiram em cada

questão;

d) Escolha das palavras que sintetizassem o conteúdo das falas dos participantes;

e) Escolha dos trechos dos relatos que representassem os temas elencados;

Durante o processo de transcrição, análise e discussão dos relatos foram utilizadas

para identificar os participantes do estudo, as seguintes siglas: a todos foi atribuída a letra “P”,

correspondente à participante seguida do número de identificação, escolhido pela ordem das

entrevistas realizadas. Essa foi a forma utilizada para identificar os participantes, sem revelar

sua identidade, preservando assim o seu anonimato.

Os dados sociodemográficos obtidos com a realização da entrevista foram tabulados,

utilizando-se de frequência, apresentados na forma de tabela. Posteriormente, foram

analisados e discutidos de acordo com a literatura estudada.

A análise dos relatos teve como base a Teoria das Representações Sociais, que utiliza

as construções coletivas, constituídas nas inter-relações cotidianas, extraindo dos relatos dos

participantes as representações sociais por eles constituidas. Essa forma de análise é embasada

em autoras como Jodelet (2005) e Arruda (2002).

70

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

71

Os participantes deste estudo foram as secretárias e o secretário de Curso de uma

universidade particular do estado do Mato Grosso do Sul. Este estudo teve como propósito

analisar a representação social de saúde e doença dos participantes, com o intuito de termos a

disposição elementos que possam auxiliar em medidas que visem trabalhar a promoção da

saúde e a prevenção da doença no ambiente de trabalho.

A seguir, iremos apresentar a análise dos dados sociodemográficos e das entrevistas,

as quais foram divididas de acordo com as perguntas realizadas. A primeira discussão refere-

se aos dados sociodemográficos.

5.1 SOCIODEMOGRÁFICOS DOS PARTICIPANTES

Antes de apresentarmos os dados sociodemográficos, será feita uma rápida descrição

sobre a carga horária de trabalho. A jornada de trabalho de todos os participantes é de 44

horas semanais, sendo que, de segunda a quinta, a jornada de trabalho é de nove horas diárias

e, na sexta, oito horas de trabalho, ressaltando que os trabalhadores têm uma hora de intervalo

para almoço. Os que ainda estão frequentando o curso superior permanecem na instituição nos

três turnos, dois desempenhando as tarefas laborais e um estudando.

De acordo com Dejours (1992), no decorrer da história, a carga horária de trabalho

sofreu significativas modificações, o número de horas trabalhadas reduziu e o rendimento

aumentou. Daft (2005) argumenta que a eficiência tem se sobreposto ao tempo de execução

das tarefas ocupacionais, para tanto, são imprescindíveis as boas condições de trabalho.

A qualidade da execução da tarefa ocupacional não depende só do tempo e das

condições de trabalho, mas também é influenciada por aspectos que envolvem a vida do

trabalhador. Algumas questões referentes aos dados sociodemográficos foram perguntadas a

cada participante, para que fosse possível conhecer um pouco mais da sua realidade, como

aspectos relacionados à idade, escolaridade, renda familiar, tempo na instituição e tempo na

função. Os dados sociodemográficos auxiliarão para entendermos a realidade dos

participantes, em relação ao trabalho e as representações sociais.

No Quadro 1, iremos apresentar os dados sociodemográficos de cada participante, com

os dados de cada pergunta realizada.

72

QUADRO 1 - Dados sociodemográficos dos participantes da pesquisa

Partici-pante

Idade (ano)

Estado civil

Escolari-dade

Tempo de

insti-tuição (anos)

Tempo na função

(anos)

Renda da família (R$)

N° de pessoas

com quem mora

P1 21 S SC 5 5 1.200,00 10

P2 43 C SC 10 4 1.500,00 4

P3 37 C SC 16 9 1.500,00 5

P4 40 C SC 4,5 2 4.000,00 4

P5 24 C SI 3 3 1.400,00 2

P6 33 S SC 10 9 1.500,00 5

P7 34 D SC 6 6 1.500,00 4

P8 39 C SI 4 1 2.000,00 4

P9 33 S SI 3,5 3,5 1.500,00 2

P10 23 S SI 1,25 0,25 6.000,00 2

Legenda: solteiro (S); casado (C); divorciado (D); superior completo (SC); superior incompleto (SI).

A idade dos participantes do estudo variou entre 21 e 43 anos, sendo que nove pessoas

entrevistadas são do sexo feminino e uma do sexo masculino. Quanto ao estado civil, quatro

pessoas são solteiras, cinco são casadas e uma é divorciada. De todos os participantes, cinco

tem filhos, em média dois por pessoa.

Quanto à escolaridade, seis pessoas concluíram o nível superior, quatro estão na

universidade. Apenas uma pessoa com nível superior possui pós-graduação em nível de

especialização. O Curso de formação predominante é a Pedagogia, com quatro participantes,

seguida pela Publicidade e Propaganda, com dois participantes, além de Serviço Social,

Psicologia, Administração de Empresas e Engenharia Sanitária e Ambiental, cada uma

escolhida por um dos participantes deste estudo. Percebeu-se nos relatos dos participantes que

a grande maioria deles só ingressou em um curso superior, após iniciar suas atividades

laborais nessa instituição, devido à disponibilização de bolsas de capacitação aos seus

colaboradores. O auxílio financeiro ajuda as pessoas que não tenham possibilidades a se

formarem em um curso superior.

73

O tempo que cada um dos participantes está na instituição variou entre um ano e três

meses, para a pessoa que está há menos tempo, como a pessoa participante P10. E de 16 anos,

para a pessoa que está há mais tempo, como é o caso da pessoa participante P3.

Com esses dados, podemos analisar como alguns dos participantes mantêm o vínculo

empregatício com a instituição por longos períodos, o local, o contexto e a relação com o

trabalho interferem nas representações que o trabalhador e de seus familiares constituem. Isso

pôde ser identificado em uma das entrevistas realizadas, na qual a participante P3 comentou

que a filha estava em dúvida quanto ao curso escolhido, mas a instituição tinha que ser a que a

mãe trabalha, percebe-se que a filha construiu a sua representação social da universidade

associada a do trabalho da mãe.

Quanto aos anos que os participantes estão atuando diretamente na função de

secretária (o) de Curso, constatou-se o tempo de três meses para a pessoa que está atuando na

função há menos tempo. Já a pessoa que está a mais tempo na função, desempenha esse

trabalho há nove anos. O tempo na instituição e na função propiciara diferentes formas de

relação e de representação.

Os dados referentes à renda familiar apresentam mudanças significativas de pessoa

para pessoa. Em média, as famílias disponibilizam, aproximadamente, R$ 2.200,00, oscilando

entre R$ 1.200,00 à R$ 6.000,00, considerando que o número de pessoas por família variou

entre duas e dez pessoas. A renda por pessoa, de acordo com o número de integrantes por

família, é de R$ 120,00 para a família com menor renda e R$ 3.000,00 para a família com

maior renda financeira. A família com menor renda também é a mais numerosa e a de maior

renda é composta pelo menor número de pessoas, dessa forma pode-se inferir que a renda

familiar provoque significativas interferências nas possibilidades e prioridades de cada

família, assim como nas representações sociais.

Constatou-se que a maioria dos participantes assume junto a suas famílias

responsabilidades, sejam elas de auxílio financeiro, educacional, de assistência à saúde, entre

outros. Todas as pessoas entrevistadas moram com pessoas da família, sejam pais, irmãos,

sobrinhos ou companheiros (as). Todos contribuem financeiramente com suas famílias, em

graus de responsabilidade diferentes, embora a grande maioria seja responsável por grande

parte do sustento familiar. O trabalho representa para a maioria dos participantes, o

mecanismo de sustentação familiar.

74

As diferenças entre as rendas familiares das pessoas participantes podem ter

contribuído decisivamente no item abordado na próxima questão, referente à disponibilidade

de plano de saúde. Para muitas famílias, é inviável ter esse recurso, pois poderiam estar

comprometendo a subsistência dos familiares e a representação social de plano de saúde

também está relacionada a dispor de condição financeira elevada.

O objetivo da próxima questão foi de identificar se os participantes dispõem de plano

de saúde e quais as formas de atendimento à saúde, buscadas por eles.

5.2 QUANTO À DISPONIBILIDADE DE PLANO DE SAÚDE DOS

PARTICIPANTES

Quando os participantes foram perguntados se disponibilizavam de plano de saúde,

cinco responderam que tinham e os outros cinco, responderam que não. Aliás, uma

reivindicação unânime por parte dos participantes foi que a instituição oferecesse um plano de

saúde mais econômico, pois para muitos, a mensalidade do plano de saúde disponibilizado

compromete o orçamento familiar, tornando-se dessa forma inviável.

Percebeu-se que as pessoas que não têm plano de saúde buscam o atendimento com o

médico do trabalho da própria instituição, além do atendimento nas clínicas-escola. Porém,

quando existe uma maior urgência ou gravidade, os participantes deste estudo buscam os

serviços do atendimento público, geralmente nos bairros onde residem, como relatado em

seus depoimentos:

Pelo SUS! Geralmente, eu vou, no do meu bairro mesmo, lá tem um Posto de Saúde. É o mais próximo lá de casa, que nós temos, aí quando precisa, eles encaminham, né! (P1)

Não! Não tenho! É! Pelo SUS, no posto de saúde! Bom! Quando eu tô aqui, é aqui mesmo! Com o médico do trabalho... E quando o caso é assim, um pouquinho mais grave, a gente vai no posto de saúde. (P2)

Em alguns casos, os participantes têm que esperar por muito tempo por um

atendimento especializado, conforme relato a seguir:

75

Tem que esperar muito porque como é agenda, às vezes demora três meses, dois, três meses, quatro meses, depende da disponibilidade da agenda do médico. (P5)

Nesse caso, torna-se necessário destacar que, dependendo da situação, esse tempo de

espera pode comprometer significativamente a qualidade de vida dos usuários, por terem de

enfrentar longos períodos de desconforto, dor e angústia, além do risco de evolução do quadro

patológico. Percebemos que a maioria das pessoas que não tem plano de saúde, realmente

espera pelo atendimento, pois apenas um afirma buscar o atendimento particular. Todo esse

cenário de dificuldades encontradas pelas pessoas, para conseguirem atendimento de saúde,

influencia na forma como são constituidas as representações sociais de saúde e doença.

Kawamoto (1995) descreve sobre os níveis de aplicação de medidas preventivas à

doença, nos quais apresenta o período pré-patogênese, fase de promoção e proteção específica

à saúde, e período de patogênese, fase de diagnóstico e reabilitação. Considerando que a

maioria das pessoas ainda busca o atendimento médico quando apresenta sintomas e que, em

alguns casos, precisa esperar de três a quatro meses para ser atendida, podemos concluir que

são raras as intervenções em nível preventivo, ou durante a fase pré-patogênese.

Outra medida fundamental a ser trabalhada, em se tratando de prevenção da doença e

promoção da saúde, refere-se à prática de exercício físico. Com o objetivo de identificar a

incidência de práticas físicas na rotina dos participantes, foi realizada a próxima questão.

5.3 CONSIDERAÇÕES SOBRE A PRÁTICA DE EXERCÍCIOS FÍSICOS

Tendo em vista que a prática de exercícios físicos tem se tornado uma importante

ferramenta na promoção da saúde e na prevenção da doença, como discutido por Nahas

(2003) procuramos identificar se os participantes realizavam algum exercício físico, no seu

dia-dia, assim como buscamos analisar as representações sociais de exercício físico.

Os relatos dos participantes deste estudo apontam que apenas um dos entrevistados

pratica exercícios físicos regularmente, ou seja, mantém uma rotina semanal, e nove são

sedentários. Pode-se perceber, de acordo com o relato de uma das pessoas participantes que a

representação social do exercíc io físico está vinculada a uma necessidade e não a uma medida

de promoção ou prevenção, como afirma em seu depoimento:

76

Eu vejo a importância para o bem estar mesmo, né? a saúde, ao corpo. Mas não é nada de... Ah, eu tô precisando!!! ... né! (P1)

Com esse relato a participante estava referindo-se a sua forma física e boas condições

atuais de saúde. Este relato aponta para a necessidade de trabalhar a conscientização da

importância da prática de exercícios físicos, para manter o bom estado de saúde, ou seja, atuar

para a prevenção da doença e não apenas na reabilitação.

De acordo com os relatos dos participantes, foram identificados dois motivos

principais que levam ao sedentarismo, a falta de tempo e a falta de motivação. Três

participantes afirmam não praticar exercícios físicos pelo primeiro motivo, falta de tempo,

pela dificuldade em conciliar seus horários de trabalho, estudos e as tarefas familiares. A

seguir são apresentados alguns exemplos desses relatos:

Ah! Eu vejo que é muito importante praticar e eu sinto muita falta. Eu não tenho tempo mesmo! É um pouco de relaxismo de minha parte! (P2)

Eu sei disso, mas é muito complicado porque eu acordo com tudo atribulado, se eu for sair para caminhar [...]. (P7)

Atualmente não pratico por falta de tempo. (P10)

A falta de disponibilidade de tempo dos participantes para realização de exercícios

físicos, fora do turno de trabalho, pode ser atribuída aos seguintes aspectos: todos os

participantes fazem suas refeições na própria instituição, pois não dispõem de tempo para

voltar a suas casas; quatro ainda estão cursando o nível superior, permanecendo na instituição

durante os três turnos; cinco pessoas têm filhos, na sua grande maioria ainda crianças ou

adolescentes, o que requer grande tempo de dedicação e obrigações para com eles, além das

ocupações domésticas e administração de suas casas.

O outro motivo, apontado pelos participantes foi a falta de motivação para a realização

ou continuação das práticas físicas em sua rotina. A seguir, estão alguns relatos dos

participantes:

Faço caminhada um dia, daí já desanimo. E assim vai. Não tenho muita sequência não. (P3)

Olha eu gosto muito de hidro. Mas ultimamente eu ando muito preguiçosa. Não, não indo regularmente, né? Agora entrou o período de férias então... a parada. (P5)

77

Eu sinto a necessidade de ir embora, eu quero ir pra casa. Eu não agüento mais ficar aqui pra fazer academia. Só que daí quando eu chego em casa já é muito tarde pra mim ir pra uma academia. (P6)

Sim. Praticava natação. Já faz algum tempo. Mas eu praticava. Só que é assim, eu começo e paro. (P8)

Para Scliar (2002), inicialmente, as pessoas precisam ter a informação, depois a

atitude/comportamento, para só então, esse comportamento se tornar um hábito. Identificou-se

pelos relatos que os participantes têm a informação da importância dos exercícios físicos, em

muitos casos, até iniciam a prática, mas por uma série de fatores, como falta de tempo,

motivação, entre outros, raramente dão continuidade. Sendo assim, para poucas pessoas, as

práticas físicas se tornam um hábito.

Torna-se necessário resaltar que muito embora as pessoas tenham a informaçõa de que

a prática de exercícios físicos é importante para manter um bom estado de saúde e prevenir o

adoecimento, muitas vezes a rotina de trabalho e obrigações familiares, dificultam a

disponibilização de tempo para essa prática.

As pessoas, após interromper as práticas físicas, sentem falta dos benefícios que

obtinham com essa prática, como apontado pelos participantes em alguns relatos:

É e eu sinto falta! Porque agora eu percebo, já está bem mais complicado. (P2)

Vixi! Quando eu tava fazendo, tava me sentindo muito bem! Tava sentindo assim... Nossa! Saía, chegava em casa animada. Me sentindo muito bem ! (P3)

Mas eu sei que é muito importante [...]. Teve uma época que eu fazia academia de manhã e caminhava 30 minutos no ginásio (academia escola) e a minha qualidade de vida nesta época era muito diferente. Tenho consciência disso. (P7)

Problema é de saúde mesmo. De, por ser sedentária, o organismo não funciona direito. Tenho problema de intestino. É constipado alguns dias. E é isso. (P8)

A falta de motivação para praticar exercícios físicos pode ser trabalhada com

informações a respeito da importância e necessidade dessa prática, na promoção da saúde e

prevenção da doença. Mas para que os benefícios possam ser constatados, deve-se manter a

regularidade das práticas físicas, ao longo da vida.

78

Também cabem aos órgãos governamentais relacionados à saúde ocupacional,

instituições empregadoras e profissionais da área da Educação Física, adotar medidas para que

a conscientização, realmente leve à prática de exercícios físicos regulares, destaca-se que para

trabalhar com informação e conscientização é necessário conhecer as representaçãoes das

práticas físicas para as pessoas. Foi identificado que os participantes estão cientes da

importância dos exercícios físicos para o seu bem estar, inclusive já praticaram, mas não se

sentem motivados para persistir. Nessas circunstâncias, pode ser viabilizada pela instituição

empregadora a adequação de espaços físicos já existentes, para possibilitar a prática de

exercícios físicos no próprio local de trabalho, de preferência durante a sua jornada de

trabalho. Essa medida iria ao encontro de uma das reivindicações dos participantes do estudo,

que afirmam não praticar exercícios físicos por não disponibilizarem de tempo.

Na instituição, existe o Projeto Academia Escola, que já tem uma boa participação de

alunos e funcionários da instituição. Esse projeto disponibiliza aos seus freqüentadores, aulas

de ginástica, musculação e atividades na piscina. Também vem sendo realizado o Programa

de Ginástica Laboral (PGL), que era realizada pelo Curso de Terapia Ocupacional e, a partir

do segundo semestre de 2008, foi assumida pelo Curso de Educação Física.

Para combater a falta de motivação, que de acordo com a representação social dos

participantes é uma justificativa para não realizarem exercícios físicos, poderiam ser

viabilizadas, além das sessões de ginástica laboral, formas de incentivo e acompanhamento,

para que às pessoas mantenham práticas regulares de exercícios físicos. Provavelmente, essas

medidas iriam auxiliar de forma positiva na adesão às atividades e contribuiriam na redução

de dores, afastamentos, faltas no trabalho, entre outros benefícios agregados, assim como no

processo de gestão administrativa, que está pautado na liderança e na capacidade de adaptação

às novas necessidades (HESSELBEIN, 1999).

Para que novas medidas sejam apontadas e as decisões tomadas possam surtir o

resultado esperado, torna-se necessário conhecer as necessidades dos trabalhadores e a sua

realidade. Baseados nesse entendimento foram realizados questionamentos sobre as condições

de saúde dos trabalhadores.

79

5.4 CONSIDERAÇÕES SOBRE AS CONDIÇÕES DE SAÚDE DOS

PARTICIPANTES

Com o objetivo de identificar as condições atuais de saúde e as representações sociais

dos participantes de acordo com os seus relatos, foram feitas algumas questões sobre o tema.

Essas informações são fundamentais para apontar as medidas necessárias para viabilizar a

promoção da saúde e a prevenção à doença, no contexto do trabalho. Foram apontadas pelos

participantes deste estudo, quatro respostas sobre suas condições de saúde. Sendo elas: muito

boa, boa, com problema/dor e fragilizada.

Percebemos que apesar de alguns participantes terem alguns sintomas leves, ou até

apresentar problemas mais sérios como as LER/DOR, eles não os consideraram doença. De

um modo geral, eles relataram ter muito boas ou boas condições de saúde, como demonstram

os relatos de alguns participantes:

Eu considero que eu tenho uma saúde muito boa. Graças a Deus! Exames periódicos, eu sempre estou fazendo, regular, uma vez por ano. (P2)

São boas. São boas sim. Assim, não sei se a questão que você vai ficando com mais idade, ou pelo estresse do dia a dia mesmo, eu tive problema de LER. Eu tive afastada... (P3)

Boas. Estou acima do peso. Isso eu sei, tem certas coisas que dificultam tipo assim, às vezes eu fico um pouco ofegante, cansada devido ao peso, coisa e tal. Mas assim eu faço idéia de que tenho uma, uma saúde muito boa. É difícil eu pegar gripe, é difícil eu ter algum problema de saúde. Normalmente quando eu tenho que me ausentar do serviço é pra algum exame rotineiro mesmo, que é ginecologista, dores de cabeça que às vezes sinto. (P5)

É importante que as pessoas tenham claro que para continuar com boas condições de

saúde e de acordo com as representações sociais dos participantes, percebe-se que para ser

saudável é preciso, fazer exames periódicos, não se estressar e estar com o peso ideal, tornam-

se necessárias algumas medidas de promoção e prevenção. Como afirma Nahas (2003), para a

maioria das pessoas, a saúde é entendida como a ausência de doenças, a saúde depende de um

equilíbrio entre vários fatores, como nutrição, práticas físicas, comportamento preventivo,

controle do estresse, questões econômicas, interações social, entre outros inúmeros fatores. Já

para outros participantes, a representação social das condições de saúde estão relacionadas à

problema/dor e fragilidade, como identificamos em seus relatos:

80

Fragilizada. Fragilizada!!! Tanto emocional quanto biológica [...] Eu me sinto depressiva às vezes [...]. Tem vezes que eu fico em casa, tem dias que eu fico pior sabe? Na época das férias. Quando, quando a minha dor aumenta muito que eu preciso tirar licença, então eu fico assim [...]. É o dia inteiro só na cama porque eu não tenho ânimo para fazer nada. (P4)

Olha, fisicamente hoje eu tô com problema. Eu sinto muitas dores no braço. (P6)

[...] Eu penso assim!!! Eu tô bem! Mas aí na mesma hora que eu penso que tô bem, eu tô bem por quê? Eu não tenho assim aquela doença que eu tenho que ir direto pro hospital, sabe? Alguma coisa assim que debilite, sabe? Eu tenho que trabalhar, eu consigo trabalhar ainda. Na mesma hora eu penso nas minhas dores. Aí, na mesma hora isso não é saúde. Teve época da minha vida que eu não sentia dores, eu com 23, 24 anos, eu não sentia dores, é a melhor coisa da vida. (P7)

Nos relatos dos participantes, percebe-se que os problemas de saúde são apresentados

de forma dicotômica, em físicos e psicológicos, tanto relacionadas a causas originárias no

âmbito ocupacional, como no âmbito familiar. Esses relatos vêm ao encontro das concepções

de Dejours (1992), que apontam que as pessoas, muitas vezes, por não terem condições de se

expressarem emocionalmente, de desabafarem seus problemas, suas angústias, frustrações,

vão acumulando sentimentos, dores até não suportarem mais, ou chegarem ao esgotamento.

Nesse sentido, as formas e condições de trabalho interferem de maneira significativa.

Para Queiroz (2003), o enfrentamento das situações apontadas no parágrafo anterior

requer uma visão mais ampla que apenas a doença ou o processo de adoecimento, que

contemple os aspectos psicossociais. Portanto, é necessário que os gestores em saúde,

profissionais, trabalhadores e administradores das organizações tenham uma visão ampla, não

reducionista do processo saúde e doença, além de levarem em conta as representações sociais

dos trabalhadores.

Fontes (1995) defende que a doença tem sido a engrenagem das indústrias

farmacêuticas, embora tenha provocado o aumento de gastos operacionais de muitas

empresas. Acredita-se que tanto pela viabilidade econômica, quanto pelo retorno obtido, as

instituições de trabalho que investirem na promoção da saúde, no próprio ambiente

ocupacional, terão resultados satisfatórios e economicamente viáveis.

81

5.5 CONSIDERAÇÕES SOBRE PROBLEMAS DE SAÚDE E MEDIDAS

ADOTADAS

Com o propósito de ampliar o entendimento sobre as condições de saúde, questionou-

se a existência de problemas de saúde que, eventualmente, possam ter acometido os

participantes deste estudo. Assim como se buscou entender quais foram as medidas adotadas

no combate à doença e suas representações sociais.

De acordo com as respostas dos participantes, quatro afirmam não ter apresentado

problemas de saúde, ao longo de suas vidas, como se pode constatar nos seguintes relatos:

Não! Só coisinhas assim, dor de cabeça, nada de mais, normal! Neste caso, quando são coisas que eu considero simples, eu venho no médico, aqui mesmo no trabalho. Aí quando eles passam remédio, aí eu vou no posto e pego. (P2)

Não. Não muito! Quando eu era pequena, só assim na infância que era muita dor de cabeça que eu tinha. Dor de garganta, enxaqueca. Mas depois que você começa, que a mente fica mais ocupada, não tem tempo pra ficar doente não. (risos). Ah, vou... Tento verificar, o que que é que tá acontecendo. Se é estresse no serviço, junto com a faculdade, com problemas de casa, essas coisa né? Junta tudo, aí não há corpo nem mente que aguente. (P5)

Mais grave não. (P6)

Não! (P7)

Percebe-se que as representações de problemas de saúde das pessoas que fazem parte

deste estudo vinculam-se a situações com um grau de gravidade maior, patologias mais

graves. Quando estão apresentando sintomas como dores de cabeça, estresse, fadiga, dores,

não os consideram como uma doença, mas como algo normal.

Uma pessoa afirma ter apresentado apenas os problemas mais simples, como gripes,

dores de cabeça. Quando apresenta esses sintomas, geralmente procura resolvê- los de forma

caseira, com chás e remédios naturais.

Os demais participantes afirmam já ter apresentado algum problema de saúde no

decorrer de suas vidas. As principais patologias que os trabalhadores relataram, foram as

LER/DORT (tendinite), Síndrome de Sjögren, nódulo mamário, lúpus discóide, depressão,

82

dores/desconfortos musculares, problemas de coluna. Os relatos sobre os problemas de saúde

revelam situações de doença graves. A seguir, está o relato de um dos participantes:

Foi no [...]. Na verdade ele começou na mão depois subindo, subindo. Tive um problema sério no cotovelo e pro final foi muito serio aqui. (Toca o ombro com a mão para mostrar local da dor). No ombro. Que travava também. Repetitivo. É duas vezes que eu tirei licença bem grande mesmo por conta!!! Quase um ano. Queimação. Queimava. Parecia que estava... Formiga. Parecia que tava jogando coisa quente assim no meu braço. Sem contar, que eu tinha que ficar fazendo massagem o tempo todo. Travava meu pescoço. Teve época de eu ficar travadinha com o pescoço. Perda de força! Não conseguia segurar as coisas não. Caia. Aí quando voltei da minha última vez, eu comecei a fazer acupuntura. Foi excelente pra mim. Eu nunca mais tive crise. Agora quando começa a me dar crise, eu tive uma crise esse ano e não fui. Mas eu fui na fisio. Fiz uma semana diretão assim de massagem, relaxamento e não voltei. Mas para mim o que resolve, fisioterapia não é, é acupuntura. (P3)

Nessa parte do relato da participante P3, observamos a menção a sintomas de níveis

avançados das LER/DORT, como queimação, formigamento e perda de força. De acordo com

Melo (1998), as parestesias (formigamentos e queimação) são sintomas característicos do

grau II de evolução, já a perda de força é um sintoma típico do grau IV, o último na escala de

evolução das LER/DORT. A evolução das LER/DORT pode acarretar como consequência ao

trabalhador, a incapacidade física, tanto para o desenvolvimento das tarefas ocupacionais

como diárias. Em níveis crônicos, a dor é constante e a incapacidade física pode se tornar

permanente (OLIVEIRA, 2001).

Todos os tratamentos relacionados às LER/DORT devem estar associados ao

afastamento da tarefa de trabalho e/ou à readequação do posto de trabalho, que de acordo com

Chiavenato (1993), as faltas ao trabalho são definidas como absenteísmo. A pessoa que

apresenta os sintomas de LER/DORT, ou até mesmo quem não apresenta sintomas, mas está

exposto a situações de risco, como movimentos repetitivos e posturas inadequadas, deverá

realizar a prevenção da patologia, com alongamentos preparatórios e compensatórios,

educação postural, ingestão de líquidos, entre outras medidas preventivas.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (1997 apud PESSINI;

BARCHIFONTAINE, 2002, p. 87), ocorrem “[...] cerca de 160 milhões de casos de doenças

ocupacionais por ano, dos quais 30 a 40% podem levar a uma doença crônica e 10% à

incapacidade permanente de trabalhar.” Cerca de 5 a 10% dos trabalhadores nos países em

83

desenvolvimento e 20 a 50% nos países industrializados têm acesso a um serviço de saúde

ocupacional adequado.

A mesma participante (P3) também relatou o seu sentimento em relação patologia e a

reação das pessoas, e identificou-se que a representação social da patologia está associada ao

sentimento de dúvida e descrédito, como descrito em seu relato:

Aí ficam achando que você tá inventando, que você não tá sentindo nada, né! Porque ninguém tá vendo nada, não tem nada ali aparente. Porque a pessoa tem que ver né! Então você fica assim, parece que você tá [...]. (P3)

As LER/DORT tendem a causar além dos danos físicos, inúmeros abalos psicológicos

ao trabalhador pela impossibilidade de realizar as suas tarefas diárias. De acordo com a

concepção de Araújo (1998), o trabalhador, muitas vezes, sofre preconceito por parte de

colegas de trabalho, da chefia e da própria família, que muitas vezes não acreditam, supondo

que se está usando a doença como uma desculpa para não trabalhar ou se beneficiar com

indenizações.

Uma das pessoas participantes (P4) relatou que teve diagnóstico de fibromialgia,

depressão, Síndrome de Sjögren e nódulo mamário. A participante P8 relatou ter lúpus

discóide, já os participantes P9 e P10 relacionaram problemas de saúde referentes a dores

musculares e na coluna, conforme relatos a seguir:

É assim, eu vinha fazendo tratamento de fibromialgia já algum tempo, né! E não estava obtendo resultados. É, semestre passado eu fiquei uns três meses afastada daqui. Foi aí que a gente começou a fazer novos exames, novos tipos de exame até descobrir que eu tenho Síndrome de Sjögren [...]. Agora tirei nódulo da mama, procurei médico, fiz o que tinha que ter feito. O diagnóstico foi negativo e... mas assim... qualquer problema de saúde eu vou direto ao médico. Busco logo! (P4)

Tá. Tá porque eu já algum tempo... Já faz o que? Tá com... A minha filha tá com... Mais ou menos cinco anos que eu tenho problema de lúpus. Lúpus discóide. Que a gente, que é asa de borboleta. Ele dá na face, na região daqui (mostra no rosto). E essa doença tem muito a ver com estado, com meu emocional. Eu tenho que tá bem pro lúpus não reagir. Não posso ficar estressada [...]. (P8)

Tenho sentido o ombro esquerdo ultimamente. Teve uma vez que ele me incomodou muito. Procurei o médico da [...] (instituição), ele passou antiinflamatório, eu tomei e aliviou. (P9)

84

Sim. Machuquei a coluna e tratei com “shiatsu”10. (P10)

Para possibilitar um maior entendimento, iremos descrever resumidamente o conceito

e as causas da Síndrome de Sjögren e do lúpus discóide. De acordo com Felberg e Dantas

(2006), a Síndrome de Sjögren é uma doença sistêmica inflamatória crônica, auto- imune, que

afeta principalmente as glândulas lacrimais e salivares, provocando xeroftalmia (olhos secos)

e xerostomia (boca seca). Também pode afetar as glândulas sudoríparas, glândulas mucosas

do trato respiratório, gastrointestinal e uro-genital.

O lúpus discóide está sempre limitado à pele, apresentando inflamações cutâneas,

principalmente na face, nuca e couro cabeludo. Existem outros dois tipos de lúpus, o

sistêmico (considerado o mais grave, por afetar praticamente todos os órgãos e sistemas) e o

lúpus induzido por drogas, provocado pelo uso de certas drogas ou medicamentos. As causas

desencadeadoras do lúpus não são totalmente conhecidas, embora seja suposto que podem ser

de ordem genética ou ambiental, medicamentos, exposição a raios ultravioletas e o estresse. É

por causa desse último fator associado à causa, o estresse, que o lúpus pertence também ao

capítulo das doenças psicossomáticas (BALLONE, 2003).

De acordo com as idéias defend idas por Dejours (1992), a organização do trabalho

pode influenciar diretamente nos aspectos psicossociais dos trabalhadores, principalmente no

que tange as representações sociais, assim como a sobrecarga de trabalho, o clima

organizacional, a monotonia do trabalho, entre outros fatores. Portanto, uma estruturação

adequada do contexto de trabalho poderá refletir de forma bastante positiva nas condições de

saúde dos trabalhadores.

Quanto às medidas de enfrentamento e combate aos sintomas de doença, cinco

participantes afirmaram que buscam atendimento médico. Desses, metade procuram o médico

do trabalho e os demais, outros locais de atendimento, como Unidades Básicas de Saúde

(UBSs), Hospitais Universitários e atendimento particular, contribuindo dessa forma com a

melhora nas condições de saúde e ausência de doenças. Também encontramos as seguintes

formas de combate à doença: medicação caseira (1), atendimento fisioterápico (1), acupuntura

(1) e shiatsu (1).

10 A palavra SHIATSU é japonesa e significa pressão ("ATSU") com os dedos ("SHI"). Shiatsu é uma forma de

manipulação administrada pelos polegares, dedos e palmas, sem o uso de qualquer instrumento mecânico ou de outro tipo para aplicar pressão na pele humana, corrigir disfunções internas, promover e manter saúde e tratar doenças específicas (TATAGIBA, 2008).

85

São variadas as formas adotadas pelas pessoas para enfrentarem os sintomas e as

doenças. Os sintomas são manifestados pelas dores e desconfortos, que são sinais de alerta do

nosso corpo, para algo que não está bem.

5.6 CONSIDERAÇÕES SOBRE DORES E DESCONFORTOS

MUSCULARES APRESENTADOS PELOS PARTICIPANTES

Buscando articular as condições de saúde relatadas pelos participantes e a ocorrência

de alguns sintomas, foi perguntado aos participantes se sentiam algum tipo de dor ou

desconforto corporal. Três dos participantes afirmaram não sentir nenhum tipo de dor ou

desconforto corporal, conforme os relatos a seguir:

Eu não sinto nada! Eu nem sinto dor [...] (risos). (P1)

Não. Eu to cheinha, mas eu [...]. Tá tudo bem comigo. (P5)

Não, eu não sinto desconforto. Mas é devido à doença que ela meio que bagunça meu organismo. Sabe, por exemplo, é [...]. A medicação que eu tomo ela ataca o rim. Só que graças a Deus o meu não atacou, porque, porque eu fiquei com o remédio mais caro. (P8)

Mesmo que os participantes afirmassem não sentir dores ou desconforto, percebe-se

nas falas que, em alguns momentos, esses desconfortos ocorrem, seja pelo acúmulo de

trabalho, ou até em consequência de alguma patologia, como é o caso da participante P8.

O desconforto é o primeiro sintoma que ocorre quando estamos expostos a uma

situação de trabalho inadequada ou quando está sendo desencadeada uma disfunção orgânica.

Se não tratada, poderá evoluir para quadros clínicos mais graves, causando desgaste à pessoa,

abalos emocionais, custo operacional, entre outros problemas associados. Torna-se necessário

investigar a causa do desconforto e intervir antes que os sintomas evoluam. Onde a

representação social de doença é construída como algo visto e que precisa ser tratado.

Quanto aos participantes que afirmam sentir desconforto corporal, foram identificados

sete pessoas, um número considerável de participantes. A seguir o relato de um dos

participantes:

86

Sim! É na coluna! Na área lombar [...] na parte de baixo. Eu acho que é falta de exercício! Isso, porque quando eu estou em pé ou caminhando, eu não sinto, só quando eu sento, aí eu sinto dor. (P2)

A representação social de desconforto corporal foi atribuída ao sedentarismo. De

acordo com Nahas (2003), o exercício físico é um componente fundamental para aliviar as

tensões e desconfortos corporais, pois usa o excesso de adrenalina, reduzindo assim os níveis

de ansiedade, produzidas por sua tarefa laboral. Há a construção da representação social de

doença como a falta de exercício.

Os participantes P3 e P4 relatam os níveis do desconforto corporal e quais as

limitações provocadas, nos relatos a seguir:

Eu acho que desconforto [...]. Aqui né. (mostrando o ombro) Que não passa de vez [...]. É. Direito. E nas pernas né. Eu sinto bastante cansaço. Chego em casa com bastante dor. (P3)

Tenho. No ombro, hoje eu tava de um jeito que eu nem podia fazer assim ó (faz movimento com os ombros para cima e para baixo). Tava com dor de ouvido por causa da tendinite aqui no ombro (No ombro direito). Eu sinto muito cansaço nas minhas pernas. Não sei se é de ficar muito tempo assim parada, que a gente fica né! Mal, mal posicionada na verdade né! Aí eu sinto muita dor nas minhas pernas. (P4)

A participante P7 relatada sintomas que poderiam manifestar a exisitência de doenças,

de acordo com o relato:

Ombro esquerdo (mão dominante). Esporadicamente as costa. Às vezes tem formigamento. Às vezes tem perda de força. Às vezes se eu pegar uma panela de pressão vazia, eu não dou conta de segurar. Às vezes eu acordo e estou deitada em cima desse braço (direito), aí eu sinto que posso dormir em cima desse (esquerdo, o que apresenta maior dor). Aí eu já fico me policiando, e interfere muito na qualidade do meu sono. (P7)

Como descrito em nossa revisão de literatura, os sintomas das LER/DORT são

classificados em graus ou fases. De acordo com Melo (1998), os sintomas identificados no

depoimento da participante são característicos das fases II, III e IV. Considerando que a

última fase de evolução é o estágio IV, contata-se que o nível de evolução da LER/DORT da

participante P7 é preocupante. Se não for tratado brevemente, poderá evoluir para a

incapacidade física, impossibilitando-a de trabalhar, assim como de realizar atividades

cotidianas.

87

Os demais participantes apontam em seus relatos que sentem desconforto corporal na

região lombar e cervical, como descrito, nos relatos a seguir:

Muitas dores aqui nessa parte lombar. (P6)

Ombro esquerdo e às vezes no pescoço (cervical). (P9)

Sim. Sinto somente dores na coluna. (P10)

É provável que a origem das dores e desconfortos esteja associada aos movimentos

repetitivos e às posturas adotadas no ambiente ocupacional, assim como à inatividade física,

pois 90% dos participantes são sedentários. De acordo com Araújo (1998), as dores e os

desconfortos podem estar sendo provocadas ou influenciadas por hábitos diários, como ingerir

pouca água, pouco tempo para descanso, acúmulo de tarefas, no trabalho e em suas próprias

casas, entre outros.

Para Cañete (1996), as dores e desconfortos corporais são sinais de alerta, de que algo

não está bem, apontam para a existência ou aproximação de uma ameaça à integridade do

organismo, seja ela estrutural ou funcional. Em muitas situações, a dor também é um pedido

de ajuda silencioso.

Além do tratamento medicamentoso, sob orientação e prescrição médica, a dor poderá

ser combatida, inicialmente por meio de estudos e adequações ergonômicas, no local de

trabalho, com o intuito de diminuir os esforços e os movimentos repetitivos e melhorar as

posturas de trabalho. E pode ser complementada com a prática da ginástica laboral, para

preparar/aquecer e compensar as estruturas musculares mais requisitadas durante a tarefa

ocupacional, durante todos os processos de intervenção junto aos trabalhadores, deve-se levar

em consideração as suas representações sociais.

Estudos científicos têm comprovado a eficácia da ginástica laboral na redução de

dores e desconfortos. Em estudo realizado por Proença, Mendes e Leite (1998), com

funcionários públicos da cidade de Curitiba, PR, foi constatado que, após a implantação do

PGL, a incidência de algias musculares reduziu de 57%, para 14%.

Para identificar como é feito o combate às dores e desconfortos, foi perguntado aos

participantes deste estudo se os mesmos faziam uso de medicação. A afirmação negativa foi

apresentada por quatro (40%) pessoas e afirmativa por seis (60%).

88

Quanto ao uso de medicação, os antiinflamatórios são os mais utilizados pelos

participantes: quatro pessoas. Também é feito o uso de medicação para combater a

hipertensão arterial, ansiedade, Síndrome de Sjögren, problemas estomacais e circulatórios,

entre outros.

De acordo com Queiroz (2003), o uso da medicação é uma forma de amenizar os

sintomas e não o problema, pois se não for tratada a causa do desconforto, não se irá obter os

resultados desejados. O alívio proporcionado pelo uso da medicação dura enquanto estiver

agindo no organismo da pessoa, após, retorna a mesma situação anterior, que evolui

gradativamente.

As estratégias adotadas pelas pessoas para enfrentar as dores, os sintomas, as doenças

e também para cuidar da saúde, da vida, estão atreladas à maneira como visualizam o mundo

que circunda a sua volta, das representações sociais de saúde e doença que são construídas ao

longo de suas vidas.

5.7 REPRESENTAÇÃO SOCIAL DE SAÚDE

As representações sociais são teorias empregadas para analisar como se formam os

conhecimentos, a partir do senso comum. Para analisar as representações sociais de saúde, de

secretárias e secretário de Curso, foi realizada a seguinte pergunta: “O que é saúde para

você?”. As falas dos participantes foram agrupadas em categorias: bem estar e qualidade de

vida; prática de exercícios físicos; capacidade de trabalho; realização de exames clínicos

periódicos; conscientização; e ausência de dor, as quais foram identificadas e extraídas dos

relatos dos participantes.

Seis participantes deste estudo têm a representação social de saúde, associada ao bem

estar e a qualidade de vida como podemos identificar, nos seguintes relatos:

Saúde! É estar bem com a vida, de bem com o corpo, a mente, né! Saúde, em resumo era isso. De bem com a vida! Tem tanta gente mal por aí! Tem o espiritual, o físico, esse conjunto aí se refere a uma boa saúde. (P1)

Bem estar, qualidade de vida. É eu me sentir bem. Feliz, sabe? É saúde pra mim !!! (P4)

89

Saúde pra mim é qualidade de vida. É praticar exercícios porque melhora muito a auto-estima a gente se sente mais disposto. (P9)

Saúde é, acho que é bem estar. Você proporcionar a uma outra pessoa satisfação. Acho que se você está bem contigo, com sua saúde, você acaba influenciando outras pessoas também. Então, saúde pra mim, seria estar bem comigo mesmo. (P10)

Ao analisarmos os relatos, podemos perceber que a representação social de saúde foi

contruída com base na sensação de bem estar, sentir-se bem por inteiro, sentir-se bem em

todos os aspectos, sentir-se feliz. A relação de saúde com sensação de bem-estar, também foi

encontrada por Espírito Santo (2005), em estudo realizado com professores de Educação

Física que atuam em academias do Rio de Janeiro e por Santos et al. (2005), em pesquisa

realizada com nefrologistas e pacientes com problemas renais crônicos, na cidade de Aracaju,

SE. Analisando os conteúdos, podemos identificar que os relatos estão em consonância com a

definição da Organização Mundial da Saúde (2001).

A representação social de saúde também foi associada, pela participante P9, à prática

de exercícios físicos, pois melhora sua auto-estima, fazendo uma relação com os benefícios

promovidos pelos exercícios físicos, como, discutido por Cañete (1996). Em estudo realizado

por Espírito Santo (2005), a representação de saúde também esteve associada à prática de

exercícios físicos, as pessoas que fizeram parte do estudo, também eram praticantes de

exercícios físicos, além de serem profissionais de Educação Física.

A representação social de saúde também foi relacionada às relações sociais, tanto na

esfera pessoal, quanto profissional. Para que as pessoas encontrem, em seu ambiente de

trabalho, condições favoráveis ao bem estar e às boas interações sociais, torna-se necessário

ter uma organização do trabalho que possibilite tais condições. Daft (2005) defende que, para

oferecer boas condições de trabalho às pessoas e à própria organização empresarial, a

organização do trabalho deve se dar em redes, com o envolvimento e a participação de todos,

com pessoas criativas, participativas e com grande capacidade de readaptação.

Para alguns dos participantes, a representação social de saúde está vinculada à idéia de

poder trabalhar, como apresentado pela participante em seu relato:

A saúde é muito importante, né! Porque sem ela nós não podemos trabalhar. A gente sempre tem que estar procurando um médico para cuidar da saúde. Alimentação, esporte! (P2)

90

A participante aponta que saúde é importante para que se possa trabalhar. Expressa,

dessa forma, a relação entre saúde/corpo e trabalho, assim como o valor do trabalho, pois para

ela o trabalho é fundamental para manter o seu sustento e de sua família, logo, sem ele, suas

condições de saúde ficariam prejudicadas. A relação da saúde com a capacidade de trabalho

também foi encontrada por Bercini e Tomanik (2002), em estudo realizado com as mulheres

dos pescadores em Porto Rico, Paraná. De acordo com Boltanski (2004), a concepção de

corpo como ferramenta de trabalho é uma característica muito forte no contexto do trabalho,

principalmente pelas classes sociais menos favorecidas, pois as representações são

constituídas a partir da realidade das pessoas e no caso, esta realidade refere-se a um contexto

de trabalho, onde as pessoas necessitam do esforço do seu corpo para subsidiarem a própria

subsistência.

A representação social de saúde está em consonância com o modelo biomédico. A

participante P2 afirma realizar exames clínicos periódicos, para saber como estão as suas

condições de saúde, sem esperar apresentar os sintomas. Atitude altamente positiva, que se

enquadra perfeitamente no conceito de saúde preventiva: adotar medidas para permanecer

saudável. A participante (P2) também relacionou a importância da alimentação e da prática de

exercício físico, embora seja sedentária. Nesse aspecto, existe a consciência, sabe-se da

importância e necessidade de praticar exercícios físicos, mas não existe a atitude, ou seja, a

prática (NAHAS, 2003).

Já o entendimento da participante P6 aponta para a importância e necessidade de

trabalhar a conscientização junto aos trabalhadores, pois a representação social de saúde, na

verdade, foi uma representação social de doença, além de apresentar uma visão dicotômica,

de acordo com o seu relato, descrito a seguir:

É estar bem psicologicamente e fisicamente. É assim, eu acho que gripe, essas coisas, é tudo normal. Para mim o que seja mais grave que isso, que você tem... Seja impedido de se locomover, de sair, fazer as coisas. Você pode fazer aquilo que você pode que você gosta de fazer. Isso pra mim é saúde. (P6)

As pessoas entrevistadas não consideram os sintomas como manifestações do processo

de adoecimento, pois enquanto puderem se locomover e trabalhar consideram-se saudáveis.

Essa representação social aponta para a necessidade de um trabalho de conscientização, pois

as pessoas só procuram auxílio, tratamento, quando os sintomas estão insuportáveis ou que as

91

deixem impossibilitadas de trabalhar. Nesse caso, não ocorre a prevenção da doença, somente

o combate à doença. Quanto à promoção da saúde, ela não é considerada, pois como já

apresentamos, até o entendimento de saúde é a representação social de doença.

A participante P7, que entende saúde como a ausência da dor, apresenta em seu relato:

Viver sem dor! (P7)

Nesse relato, percebe-se o quanto a dor e o desconforto tem influenciado nas

condições de vida e de trabalho da participante, a ponto de relacionar saúde à não doença, a

possibilidade de não sentir dor. A doença é vista dentro do modelo biomédico. A saúde

também foi relacionada à não doença em estudo realizado com portadores de Diabetes Melito,

por Lima, A. (2005).

De acordo com Scliar (2002), desde 1948, a saúde não é entendida como a mera

ausência de doenças. Portanto, a construção das representações sociais das pessoas aponta,

inicialmente, para a necessidade de se combater a doença, para a reabilitação, para só

posteriormente, retomar a promoção da saúde, pois para quem está sentindo dor, a prioridade

é eliminar esse mal, para só então se voltar para a concepção de um conceito de saúde mais

abrangente, mais totalitário.

Também pode ser considerado redundante o entendimento de saúde apresentado no

relato abaixo:

Saúde é tudo. Acho que a gente tem que tá, sabe, muito bem. Saúde em primeiro lugar, o resto a gente corre atrás (8P).

Para Nahas (2003), a saúde não é obra do acaso, atribuída à sorte ou azar, mas sim,

uma conseqüência direta das atitudes adotadas no cotidiano, do estilo de vida adotado pelas

pessoas. Como pode-se identificar, em muitas situações, as representações sociais de saúde

são consideradas algo divino.

Embora este estudo tenha sido realizado no contexto de trabalho, apenas uma

participante (P2) relacionou a representação social de saúde à capacidade de trabalho, e uma

participante (P7) à não doença. Os demais participantes construíram suas representações em

contextos mais amplos, relacionados a sentimentos de felicidade, de bem estar, de qualidade

92

de vida, apontando a saúde a algo essencialmente fundamental em suas vidas, modificando a

aconstrução das representações sociais.

5.8 REPRESENTAÇÃO SOCIAL DE DOENÇA

Com o intuito de ampliar e aprofundar os conhecimentos acerca do binômio

saúde/doença, assim como com o objetivo de identificar e analisar a representação social de

doença, foi realizada a pergunta: “O que é doença para você?”.

Foram várias as representações empregadas pelos participantes para descrever doença,

embora sejam unânimes em afirmar que a doença é algo ruim, dano, sofrimento, dor, mal

estar, tristeza, ou seja, relacionada a sentimentos negativos. Percebe-se que o entendimento de

doença está sempre ligado a uma perda, ou a uma vivência dolorosa, como podemos observar

nos relatos dos participantes:

É mal estar [...] quando você não está bem consigo mesmo, nem com as outras pessoas. Eu considero que seja doença, né! Por que se você não está bem com você, nem com os outros [...]. É que depende assim, como você está, ou como convive com as pessoas, você não vive bem né! Da maneira como as pessoas te tratam! Até no seu trabalho atrapalha! Da maneira como você está visto. (P2)

É ruim. Doença pra mim é quando você não tá bem. Você ta com... tá com algum problema no seu organismo. Então, por exemplo, é tá com algum problema. Ou seja ele interno, externo [...] . (P8)

Doença é você não tá bem fisicamente, mentalmente e isso afeta em todos os processos. Com as suas relações sociais e com o seu dia a dia. (P5)

Os participantes associaram o entendimento de doença ao sentimento de mal estar,

embora um dos participantes faça menção ao estado emocional, às relações sociais, a como se

sente e a como é tratado por seus colegas de trabalho e familiares.

Os participantes construíram as suas representações de doença ancoradas em

sensações negativas, ao sentimento de mal estar, tanto nas relações internas, consigo próprio,

quanto relacionando-se com as demais pessoas. A representação de doença foi relacionada

com os aspectos orgânico-biológicos, psicológicos e sociais. De acordo com Alves e Rabelo

(1999), a representação social da doença é construída como uma forma das pessoas se

posicionarem e enfrentarem as situações de doença.

93

A representação social de doença também foi construída com base no sentimento de

dor, segundo o relato dos participantes, descritos a seguir:

Doença pra mim? É sentir dor. Uma doença [...]. Tem dias que eu falo: eu não vou agüentar de tanta dor, sabe? De tanto desconforto. Por que existe sabe? Essas indagações assim. Você fica se perguntando, por que eu? Sofrendo. Por que isso aconteceu comigo, sabe? Tem dia que eu choro, tem... Eu venho trabalhar para esquecer um pouco. E, aí vou tomando meus remédios, até... Procurando confiar, esquecer [...]. (P4)

A dor é a doença! (P7)

Por meio dos relatos, percebe-se que as representações sociais de doença, revelam que

o que não é sentido, não é considerado doença. Assim, é importante observarmos que uma das

participantes (P4) aponta em sua fala, um profundo sofrimento, angústia, na qual o trabalho

parece ser a fuga de um sofrimento maior e a doença, assim como os remédios, uma forma de

demonstrar a sua tristeza e frustrações. A representação social de doença foi construída com

base na dor, mas revela um universo muito mais amplo e complexo, pois por meio da dor, a

participante expõe um profundo estado de tristeza, de insatisfação, de angústias, de revoltas e

de sofrimento. As representações compartilhadas pela participante denotam uma insatisfação

com o contexto social que a cerca, além de demonstrar a vontade de esquecer os seus

problemas e angústias.

A entrevistada P3 apresenta em seu relato, através de sua vivência, o sentimento de

inutilidade e invalidez provocado pelas limitações impostas pela doença:

É sofrimento. É ficar bem para baixo mesmo. Eu tô dizendo isso por mim. Pelo que eu sentia na época [...] que eu tava doente né! Eu senti inválida. Hoje eu posso dizer que a gente pode. Que é possível. Até então [...]. Que é possível. No momento que eu estava doente eu achava que não. Eu ia acabar tendo que aposentar daquele jeito... Quando eu retornei ao trabalho, sabe? Eu criei uma força assim que eu queria continuar trabalhando... eu não queria mais sair né? É, então, que eu tava contando que foi quando eu retornei da licença. Que tava me sentindo muito mal. Tava até com... Eu tive medo mesmo, de ficar depressiva pela situação difícil. Que eu voltei, criei uma força que eu queria trabalhar. Que eu não queria mais ficar daquele jeito, me sentindo inválida. Então eu comecei a buscar tratamento alternativo. E aí que comecei a fazer acupuntura. E acho que não só a minha força de vontade... Eu começava a sentir dor e me irritava. E quanto mais eu me irritava, eu mais sentia dor (3P).

94

As participantes P3 e P4 compartilharam a representação social de doença, relacionada

ao sofrimento, ao sentimento de invalidez, provocados pelo trabalho. Enfrentou a doença pela

necessidade de se sentir capaz, de retornar ao trabalho, manifestando assim, em seu relato,

uma outra representação social: que só quando as pessoas estão aptas para o trabalho, são

consideradas úteis. A relação de doença e capacidade de trabalho, também foi encontrada em

estudo realizado por Santos et al. (2005), no qual a limitação ou incapacidade de trabalhar foi

atribuída por 41,6% dos participantes, para identificar o estar doente.

Dano, tristeza e a causa da doença também são representações sociais de doença

apresentadas nos relatos dos participantes, conforme exemplo a seguir:

Ai doença! A doença é algum dano, algo prejudicial ao meu bem estar, aí me proporciona alguma doença, né? (P1)

Tristeza. Porque doença é uma coisa que não é boa. Te desmotiva, de muitas coisas. Nós também temos uma parcela de responsabilidades por ficarmos doente. (P9)

Eu não vejo doença, por exemplo, a depressão assim é uma doença. Mas acho que o que chegou você a ter essas depressão acho que é a maior doença. Uma insatisfação de alguma coisa. É algo que não te deixa bem consigo mesmo e com as pessoas ao seu redor. (P10)

Torna-se importante ressaltar que são várias as concepções que compõem a construção

das representações sociais de doença para as pessoas, embora todas elas estejam associadas

aos malefícios provocados por ela. A representação social de doença foi construída com base

na causa do adoecimento.

De acordo com Enumo (2003), o entendimento das representações sociais de saúde e

doença reflete como as pessoas entendem esse processo. Porém, devem ir além dos rela tos e

serem associadas ao contexto social no qual cada pessoa está inserida.

Para a prevenção e o combate à doença, são necessárias ações conjuntas, que contem

com o comprometimento e envolvimento de cada uma das pessoas, por meio de suas atitudes.

Assim como o papel que cabe a instituição, disponibilizando e viabilizando o acesso a

programas de promoção da saúde e prevenção de doenças.

95

5.9 CONSIDERAÇÕES SOBRE A ADESÃO DOS PARTICIPANTES A

PROGRAMAS DE PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA

DOENÇA NO TRABALHO

A implantação de um programa ou medida de prevenção de doenças, ou de promoção

da saúde só atingirá seus objetivos, se forem adotadas medidas conjuntas realacionadas as

condições de trabalho e as representações dos trabalhadores. Dessa forma, buscou-se

identificar a possível adesão dos participantes aos programas de promoção da saúde no

trabalho, bem como identificar as medidas oferecidas para promover a saúde no trabalho.

Esta é uma questão que visa identificar quais representações sociais de promoção da

saúde e prevenção da doença dos participantes e a partir delas elaborar medidas para

promover a saúde e prevenir a doença. Assim como analisar a participação das pessoas.

Quando perguntados sobre a participação em iniciativas ou programas institucionais,

que visam à promoção da saúde, cinco participantes, responderam que participavam de um

PGL, conforme os relatos a seguir:

Aqui tem a ginástica laboral. Olha! Com relação à [...] como a gente estava falando, normalmente nós temos reuniões, né! (P1)

Sim. Aqui, na instituição foi essa ginástica laboral, algumas palestras também que teve. A gente tá sempre participando. (P5)

Sim. Ginástica laboral a gente já participou. (P6)

Aqui nós tínhamos a ginástica laboral, que se não me engano era o pessoal da TO (Terapia Ocupacional) que fazia, só. (P7)

Sim. Eu participo das aulas laborais. (P9)

A representação social de medidas de promoção da saúde e prevenção da doença é

amplamente associada a prática da ginástica laboral. Polito e Bergamaschi (2002), defendem

que a ginástica laboral tem fins preventivos e terapêuticos.

Outros dois participantes construíram a representação social de promoção da saúde no

trabalho com base nas atividades desenvolvidas pela CIPA e também às atividades e palestras

que são realizadas anualmente, durante a SIPAT, de acordo com os relatos a seguir:

96

Eu já participei da CIPA, né. (Quando questionada sobre a participação na ginástica laboral) Sim. Sempre quando tem eu participo e corro atrás, brigo com o povo: vamos participar! (P3)

Participo aqui na instituição, sempre que tem. E esse ano, a semana da SIPAT [...]. A gente tem muito treinamento para funcionários, mas nessa questão aí não! (P2)

As atividades desenvolvidas pela CIPA são importantes no processo de promoção da

saúde, prevenção do adoecimentos, dos acidentes no trabalho e na construção das

representações sociais. A CIPA conta com a colaboração de trabalhadores, que são eleitos

pelos próprios colegas de trabalho, para representá- los junto a essa comissão, assim como

auxiliam na divulgação e orientação das medidas adotadas pela CIPA.

Diniz (2008) argumenta que, no atual conceito de organização do trabalho, tornou-se

necessário envolver os trabalhadores no processo de gestão da empresa e na tomada de

decisões. Portanto, o envolvimento de trabalhadores, junto a medidas adotadas pela CIPA é

fundamental para que se identifiquem os propósitos dessa comissão, como no caso, identificar

que a CIPA incentiva a promoção da saúde no ambiente ocupacional, modificando dessa

forma as representações sociais de saúde e doença e interferindo nas ações individuais e

coletivas, as quais poderão resultar efetivamente em uma melhora das condições de saúde e

redução da incidência de doenças.

Também identificamos por meio dos relatos de três participantes, que eles nunca

haviam participado ou se envolvido em programas de promoção da saúde.

Conhecer os motivos que levaram esses trabalhadores a não se envolverem em

programas relacionados à promoção da saúde pode ser uma alternativa para tentar envolvê- los

e estimulá- los a participar. Na busca por esclarecimentos que possam auxiliar na criação e

adoção de medidas de promoção à saúde, formulamos a próxima pergunta.

5.10 REPRESENTAÇÃO SOCIAL DE GINÁSTICA LABORAL

Buscando identificar e analisar as representações sociais de ginástica laboral,

perguntamos aos participantes: “O que é ginástica laboral para você?”. A representação social

97

de ginástica laboral é entendida pelos participantes deste estudo, como o alongamento e o

relaxamento, assim como atividades de promoção da saúde e prevenção da doença, conforme

os relatos a seguir:

Ginástica laboral! Significa alongamento e vêm nos auxiliando em nossa postura, na pausa, alongamento, a mente, então ela trabalha com esta questão. Significa uma promoção da saúde (risos)! E a prevenção do adoecimento! (P1)

Ah! Eu acho muito importante, nós tínhamos uma menina que vinha dar ginástica laboral para nós, duas vezes por semana. É muito importante, você relaxa, é uma forma de trabalhar bem. É [...] nós fazíamos relaxamento, quando você está tenso, aí você ia na ginástica e relaxava. É! Quando a gente tá tenso na correria do trabalho [...]. (P2)

Bem, pelo que nós fizemos já, acredito que seja assim uma forma de você tá, sei lá, esticando seu corpo, relaxando seu corpo, suas ferramentas de trabalho, suas pernas, seus braços, sua mente, sem seu corpo em si. Deixando ele mais relaxado pra, pra eu não ter doenças, assim físicas mesmo, né? (P5)

Ginástica, atividade física, alongamento, para promover, pra facilitar ou pra diminuir os seus nervos, seus ossos pra você poder trabalhar bem. Mas ligada ao alongamento de musculatura do braço, da perna, dos ombros, do pescoço. Pra você relaxar. Postura correta. (P6)

É um momento de tranqüilidade de relaxamento, os alongamentos são ótimos, parece assim que você volta [...] te dá um gás. É muito bom! (P7)

É uma ginástica feita com técnico, com um professor, né? Da área, que dá alguns exercícios de alongamento pros [...] para as pessoas que estão ali. (P8)

Um estudo semelhante, realizado por Konrath (2006), com trabalhadores do Centro

Universitário FEEVALE, analisou a representação social do trabalho, para um grupo de

praticantes da ginástica laboral. A representação social da ginástica laboral foi semelhante,

sendo descrita como uma prática que visa promover o relaxamento, a saúde e a qualidade de

vida.

Já para os demais participantes deste estudo, quatro pessoas, a representação social da

ginástica laboral foi construída com base nas pausas na rotina de trabalho, nos momentos de

descontração e interação social com os colegas, de acordo com os depoimentos que seguem:

Acho que seria não só a prevenção [...]. Mas, você [...] só de você sair aqui

98

do seu posto, você encontra com seus colegas de trabalho, você tem aquele momento ali, que por mais que [...] que por mais que você não tá né, ali né. Como se diz? No momento ali para você descontrair mesmo, mas você já [...]. Uma pausa que você encontra, que você acaba brincando, mesmo às vezes não podendo, você brinca [...]. (P3)

É uma pausa no trabalho. É um cuidar de si, entendeu? É fazer um alongamento, dar uma relaxada, descontrair né! (P4)

Eu acho que é um momento de descontração com os colegas de trabalho, quanto você também dá uma revigorada assim. Logo após o almoço você está meio desanimada, aí você vai lá e faz. Parece que te dá um pouco mais de energia. (P9)

Então eu acho que ginástica laboral pra mim é uma forma de eu estar melhorando, acho que, meu ritmo de trabalho, conhecer novas pessoas, sair do seu ambiente de trabalho. (P10)

Os relatos dos participantes estão de acordo com os relatos encontrados por Konrath

(2006), onde a representação ginástica laboral aponta que essa prática pode ser uma

ferramenta de interação social entre os colegas, assim como, promoção do alívio de dores e

desconfortos. Por proporcionar um momento de descontração, no qual as interações sociais

sejam incentivadas, a ginástica laboral interfere nas formas de relação dos trabalhadores entre

si e com o contexto de trabalho, assim como nas representações sociais.

De acordo com os relatos dos participantes deste estudo, é possível constatar que os

benefícios promovidos pela ginástica laboral vão além do alívio dos desconfortos musculares,

mas estimulam a motivação e as interações sociais entre os participantes. Podem, portanto,

influenciar positivamente nos hábitos diários de seus participantes, resultando em uma

significativa contribuição na promoção da saúde e prevenção da doença.

De acordo com Cañete (1996), a ginástica laboral deve ter caráter humanizadora, que

realmente se proponha a aplicar medidas que promovam a motivação, a integração e a

valorização dos trabalhadores. Deve ser voluntária, para não se tornar mais uma obrigação.

Também deve ser prazerosa, para que os participantes se envolvam, despertando assim o

interesse e o hábito.

Contudo, é provável que ocorra redução nos níveis de absenteísmo, o que tende a gerar

considerável diminuição de custos operacionais, os quais poderão ser revertidos em medidas

efetivas de promoção da saúde na empresa, criando um benéfico ciclo de custo benefício para

a organização e os trabalhadores.

99

Cañete (1996) afirma que a ginástica laboral, aliada à ergonomia, parece ser a forma

encontrada para melhorar as condições de trabalho e lidar com os altos índices de

adoecimento no trabalho. Por isso, também foram analisadas quais são as representações

sociais de ergonomia para os participantes deste estudo.

5.11 REPRESENTAÇÃO SOCIAL DE ERGONOMIA

Foi feita uma pergunta aos participantes deste estudo, sobre o entendimento acerca da

ergonomia. Por meio dos relatos, percebeu-se que três participantes não souberam responder o

que é ergonomia e os demais participantes conheciam o conceito. As representações sociais

de ergonomia partilhadas pelos participantes deste estudo se referem à criação de

equipamentos adequados, posturas de trabalho, conforto e ambiente de trabalho adequado.

Uma das pessoas participantes construiu seu entendimento acerca das representações

sociais de ergonomia, embasado na evolução da criação e fabricação de equipamentos, como

descrito em seu relato:

Ergonomia! Significa evolução na indústria que fabrica equipamentos, na estrutura mesmo elétrica, hãm... Auxilia mesmo na evolução dos equipamentos... Nós temos aquele apoio de braço, que ficou ótimo para nós empregados. (P1)

A representação social de ergonomia fo i construída com base na evolução da máquina

e da indústria. Pode-se dizer que foi feita uma associação da ergonomia com a evolução dos

recursos disponibilizados nos produtos que são desenvolvidos e melhoria nas condições de

trabalho. Os estudos ergonômicos estão sendo desenvolvidos de forma cada vez mais ampla e

em inúmeras etapas no processo de produção, definindo assim, os tipos de ergonomia citadas

em nossa revisão bibliográfica (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ERGONOMIA, 2007).

Três participantes construíram a representação social de ergonomia, com base no

comportamento individual, nas posturas adotadas e no conforto, e não às condições de

trabalho, como mencionado nos relatos a seguir:

Ergonomia, eu acho que tem a ver aqui com meu posicionamento. Com

100

minha forma de atender o telefone, minha forma de sentar. (P3)

Postura. Postura correta. Que nós não estamos tendo aqui (risos). Aqui tá tudo errado! (P4)

Para outros três participantes, a representação social de ergonomia é constituída acerca

das necessidades de melhoramentos do posto de trabalho, conforme relatos a seguir:

A cadeira até que eu gosto. A cadeira onde eu sento, tem aquele apoio pros braços. Mas a luz sempre tá queimada, sempre fraca. O computador é muito ruim também, a imagem, é, é escuro, é cansativo. O ambiente é cansativo, é pesado. Os móveis são velhos assim, então, não te dá assim, uma alegria, um conforto total para trabalhar assim. Porque você meio que se deprime em ver: uma mesa velha, uma cadeira rasgada, um computador lento né. (P5)

Equipamentos adequados pro trabalho. Ferramenta, mesas, móveis. Tudo adequado pra que você desenvolva seu trabalho sem que você tenha qualquer seqüela do seu trabalho. (P6)

Eu acho que seria, por exemplo, em termos de equipamentos de trabalho. Acho que seria aquilo feito e adequado pro seu tipo de trabalho. (P10)

Ah, é relacionado ao trabalho, é a empresa te proporcionar um ambiente para você poder trabalhar bem. (P7)

Nesses relatos, identifica-se que foram compartilhadas representações sociais do

trabalho, as qua is são construídas com base nas condições do posto de trabalho, do mobiliário,

dos fatores ambientais, da qualidade dos equipamentos utilizados, os quais influenciam

diretamente nas condições de trabalho, podendo interferir na segurança, no conforto e bem-

estar do trabalhador. Iida (1993) afirma que a ergonomia é o estudo da relação da pessoa com

o seu ambiente de trabalho e equipamentos, possibilitando ao trabalhador, por meio de

dispositivos de regulagens, adequar os equipamentos às suas características físicas.

O trabalhador, por permanecer no local de trabalho diariamente, conhece as

dificuldades e as deficiências apresentadas, tendo condições de apontar os aspectos que

precisam ser melhorados. Logo, a sua participação no processo de readequação e

melhoramento das condições de trabalho é indispensável.

As representações sociais de ergonomia foram construídas com base nas experiências

vividas pelos participantes no próprio local de trabalho, ao mencionarem as posturas adotadas

na execução das tarefas laborais, equipamentos adequados e uso correto dos mesmos, assim

101

como o posto de trabalho deve oferecer segurança e conforto aos trabalhadores. Couto (2002)

afirma que a ergonomia prima pela segurança e conforto no trabalho, por meio do ajuste

harmonioso entre ser humano e ambiente.

Já outros três participantes afirmaram já ter ouvido falar em ergonomia, mas que não

saberiam defini- la, como relatam a seguir:

Sim, já ouvi falar, mas eu não entendo muito bem. (P2)

Ergonomia? Eu sabia! (risos) Esqueci. Mas eu sabia o que [...]. (P8)

Não saberei te explicar. (P9)

O fato de algumas pessoas não saberem o que é ergonomia aponta para a necessidade

de trabalhar a ergonomia de conscientização com os trabalhadores. De acordo com as

definições apresentadas pela Associação Brasileira de Ergonomia (2007), a ergonomia de

conscientização contempla a orientação e a capacitação dos trabalhadores para o uso correto

dos recursos ergonômicos disponibilizados no local de trabalho.

Independente do momento em que aplicamos os conceitos ergonômicos torna-se

necessário envolver o trabalhador nesse processo, por meio de sugestões, conscientização,

entre outros aspectos, principalmente as representações sociais. Pois muitas vezes, o posto de

trabalho apresenta recursos ergonômicos, os quais não são utilizados de forma correta, por

falta de orientação e capacitação.

A ergonomia, quando aliada à ginástica laboral, pode ser uma medida eficaz para

melhorar as condições de trabalho, assim como provocar influências na construção das

representações sociais. Com este intuito, foi realizada a próxima pergunta.

5.12 CONSIDERAÇÕES SOBRE A PRÁTICA DA GINÁSTICA LABORAL

E DAS INTERVENÇÕES ERGONÔMICAS EM SEU POSTO DE

TRABALHO

Essa pergunta teve como objetivo analisar a opinião dos participantes, sobre a prática

da ginástica laboral e das intervenções ergonômicas. Acredita-se que esse tipo de informação

poderá auxiliar na aplicação da ginástica laboral e da ergonomia no futuro.

102

Percebeu-se que todas as pessoas entrevistadas consideram importante a prática da

ginástica laboral e as intervenções ergonômicas, principalmente, por ser um momento de

descontração, uma pausa na rotina de trabalho. Pela rotina atribulada, os trabalhadores não

dispõem de tempo para cuidar da própria saúde, de acordo com os relatos a seguir:

Eu acho muito importante, que deveria ter em todos os setores. Que é muito importante porque você trabalha bem. Eu acho que a gente tendo a ginástica laboral, ia ser bom, pois é uma forma de trabalhar a prevenção. (P2)

É bastante importante porque a gente se sente mais é acomodado no ambiente de trabalho. E também te deixam um pouco mais disposto, mais à vontade. (P9)

Eu acho ótimo! Porque se for esperar que a gente a cada uma hora, duas horas, uma hora e meia pare, levante, alongue faça. Não faz. Não faz porque não dá tempo. tá estranhando que o telefone não tá tocando. É assim né, às vezes eu tô com dois telefones juntos, entendeu? A gente não, não tem tempo de se cuidar, de parar e de fazer. Eu acho muito importante, porque pelo menos uma vez assim sabe a gente pára e se cuida um pouco. (P4)

Eu acho que é essencial. Hoje em dia é realmente essencial. (P10)

É gostoso! Dá, dá uma relaxada boa assim. Você vê que seu corpo tá tenso [...] . (P5)

A representação social acerca da prática da ginástica laboral e das intervenções

ergonômicas compartilhadas pelos participantes desse estudo são amplamente positivas, pois

demonstra que as pessoas estão abertas a esse tipo de intervenção.

As adaptações ergonômicas já são realizadas pelo setor de segurança do trabalho, o

qual tem sido muito bem aceito pelos trabalhadores, como apresentados nos relatos. Porém

podemos aprimorar o trabalho se levarmos em conta às representações sociais dos

trabalhadores, para que de forma conjunta possam ser otimizados os recursos organizacionais,

humanos e ergonômicos, contribuindo para promover a saúde, prevenir a doença e as relações

no e com o trabalho.

Além das questões relatadas, ao término da entrevista, foi perguntado aos participantes

do estudo se gostariam de contribuir com mais alguma informação, por meio da seguinte

pergunta: Você gostaria de complementar com mais alguma informação? Os participantes

foram unânimes em afirmar que são favoráveis as iniciativas da empresa no que se refere a

103

promoção da saúde e prevenção da doença, como as intervenções ergonômicas e a prática da

ginástica laboral, embora ressaltem que seja necessário uma reorganização nas tarefas de

trabalho, para favorecer a participação, assim como destacaram serem favoráveis a realização

de outros estudos semelhantes a este.

104

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

105

As constantes modificações do ambiente ocupacional têm provocado transformações

sistemáticas no cotidiano dos trabalhadores, o ritmo de trabalho tem se intensificado, assim

como as exigências quanto à eficiência e agilidade de execução também. As condições de

trabalho foram modificando-se e, de modo geral, vêm sendo melhoradas, mas ainda não são

suficientes e eficientes a ponto de elimimar os efeitos nocivos, provocados pela execução da

tarefa ocupacional, ainda causem grande impacto na saúde dos trabalhadores.

Considerando os inúmeros prejuízos causados pelas doenças ocupacionais na vida dos

trabalhadores, assim como os altos custos gerados, tanto às organizações empregatícias,

quanto aos sistemas de saúde, nota-se a necessidade do desenvolvimento de estudos que

visem aprofundar os conhecimentos acerca do universo do trabalho, das percepções

construídas pelos trabalhadores sobre saúde e doença, para que possibilite melhores condições

de intervenções eficazes no que tange à melhora das condições de saúde, segurança e conforto

do trabalhador.

Assim, na busca de reforçar os parâmetros que nortearam este estudo, faz-se

necessário descrevermos os pontos fundamentais da pesquisa, como: os dados

sociodemográficos, a representação social de saúde, de doença, de ginástica laboral e de

ergonomia.

Tem sido crescente a utilização das teorias das representações sociais, na realização de

estudos relacionados a diferentes áreas, em especial nos estudos relacionados à saúde. Essa

escolha se dá, por inúmeros motivos, mas principalmente, pelo fato de que as representações

sociais construídas pelas pessoas norteiam suas ações.

Considerando a premissa de que o trabalhador comungue de um contexto de trabalho,

no qual as pessoas só se consideram doentes quando não conseguem trabalhar, torna-se difícil,

implantar medidas e programas que visem à promoção da saúde e prevenção da doença. Foi

constatado que as representações sociais de saúde dos participantes deste estudo estão

relacionadas ao bem-estar e à qualidade de vida, assim como relacionadas à prática de

exercícios físicos, embora a maioria dos participantes seja sedentária. A representação de

saúde também foi atribuída à capacidade de trabalho, à prevenção e à não doença.

Já a representação social de doença foi construída com base em sentimentos negativos,

como dano, sofrimento, dor, mal-estar e tristeza, assim como a inutilidade e a causa do

106

adoecimento. A representação social de doença construída pelos participantes deste estudo é

semelhante à representação de doença de outros grupos de trabalhadores já estudados.

Com relação à possível adesão em programas de promoção da saúde e prevenção da

doença, os participantes se mostraram favoráveis, embora alguns tenham afirmado que nunca

se envolveram em nenhuma atividade dessa natureza. A ginástica laboral, as atividades

desenvolvidas pela CIPA e as atividades realizadas durante a SIPAT foram identificadas

como medidas de promoção e prevenção já adotadas no local onde trabalham.

A ginástica laboral é entendida pelos participantes como a prática de alongamento e

relaxamento, que visa à promoção da saúde e à prevenção da doença. Os trabalhadores

identificam a ginástica laboral como uma quebra na rotina de trabalho, além de promover

momentos de descontração e integração social entre os participantes. Essa concepção é

altamente positiva, pois demonstra o quanto a prática da ginástica laboral poderá influenciar

nas melhores condições de trabalho, melhorando o clima organizacional e, possivelmente,

reduzindo níveis de estresse no trabalho.

No que se refere à ergonomia, alguns participantes não souberam expressar qual o seu

entendimento sobre essa temática. A representação social de ergonomia para os demais

participantes esteve ancorada no contexto de trabalho, atribuindo o conceito à evolução da

máquina (equipamentos) e da indústria, assim como às posturas adotadas na execução das

tarefas ocupacionais e ao conforto. Os melhoramentos realizados no posto de trabalho

também foram associados à ergonomia.

Embora as pessoas tenham diferentes concepções acerca do mesmo tema, todos os

participantes consideram importantes e são favoráveis a implantação do PGL e às

intervenções ergonômicas realizadas nos postos de trabalho.

A proposta deste estudo está inserida no Programa de Mestrado em Psicologia, da

UCDB, no qual já foram realizados outros trabalhos abordando as representações sociais de

saúde e doença. Foram realizados estudos envolvendo pessoas com retinopatia diabética

(LIMA, A., 2005), cuidadores domiciliares (SANTOS, 2006), cuidadores de pessoas que

freqüentam as Clínicas Escolas da UCDB (VERONESE, 2007), pessoas vivendo com

hipertensão e diabetes (SERPA, 2007) e crianças e adolescentes vivendo com obesidade,

participantes do Programa de Obesidade Infantil (POI) (GARCIA, 2008). Esses trabalhos

107

primaram pelo aprofundamento e ampliação dos aspectos relacionados à saúde e à doença, em

uma perspectiva integral do ser humano, utilizando-se das concepções construídas pelos

participantes, valorizando sua forma de pensar.

Enfatizando que os resultados apresentados são referentes a secretárias e secretário de

uma instituição de ensino superior, destacamos a necessidade de serem realizados outros

estudos envolvendo trabalhadores e o âmbito ocupacional, para que seja possível a adoção de

medidas eficazes no que se refere à promoção da saúde e prevenção da doença. Também

acreditamos que sejam necessárias adequações no contexto ocupacional, no que se refere às

gestões administrativas e organizacionais.

Pelos relatos, foi possível identificar que os trabalhadores estão sobrecarregados

emocionalmente e que a entrevista serviu como uma forma de desabafo, um momento de

partilha. Os participantes estão abertos a medidas que visam melhorar as condições de saúde e

de trabalho. Este estudo me proporcionou uma visão integrada do contexto de trabalho e do

trabalhador, sob o prisma das representações sociais de saúde e doença, possibilitando

maiores condições para adequar programas de promoção e prevenção, como a ginástica

laboral e a ergonomia às necessidades dos trabalhadores.

108

REFERÊNCIAS

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116

APÊNDICES

117

APÊNDICE A – Instrumento de coleta de dados

ROTEIRO DA ENTREVISTA

1) Identificação:

Idade:.......................................................................................................................................

Sexo:........................................................................................................................................

Estado civil:.............................................................................................................................

Escolaridade:...........................................................................................................................

Tempo que atua nesta função:.................................................................................................

Qual a sua jornada de trabalho? ..............................................................................................

Tem plano de saúde?...............................................................................................................

Pratica algum exercício físico? Qual? Com que freqüência? .................................................

Papel na que ocupa na estrutura familiar:...............................................................................

Renda familiar:........................................................................................................................

Número de pessoas que moram com você:.............................................................................

2) Como você considera as suas condições de saúde?

3) Já apresentou algum tipo de problema de saúde? O que você fez? Quando isso aconteceu?

4) Sente desconforto em alguma parte do corpo?

5) Você faz uso de alguma medicação? Qual (is)?

6) O que é saúde para você?

7) O que é doença para você?

8) Já participou ou participa de algum programa de promoção da saúde no trabalho? Qual?

9) O que é ginástica laboral para você?

10) Você já participou de atividades de ginástica laboral?

11) O que é ergonomia para você?

12) O que você acha sobre a prática da ginástica laboral e das intervenções ergonômicas em seu posto de trabalho?

13) Você gostaria de complementar com mais alguma informação?

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APÊNDICE B – Termo de Consentimento

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO11

1. TITULO DO PROJETO DE PESQUISA: REPRESENTAÇÃO SOCIAL DE SAÚDE E DOENÇA: IMPLICAÇÕES NA GINÁSTICA LABORAL E ERGONOMIA

2. PESQUISADOR(A) Nome: Fabiane Maria Zat CPF: 949963930-68 RG: 6075510401SSP/RS Telefone: (67) 9292-0162 Endereço: Rua Suécia nº190 Bairro Planalto Cidade: Campo Grande/MS

3. ORIENTADOR (A): Nome: Profª Drª Angela Elizabeth Lapa Coêlho CPF: 308688744-34 RG: 183924 SSP/PB Telefone: (67) 3312-3585 Endereço: Av. Tamandaré nº 6000 – Jardim Seminário Cidade: Campo Grande/MS

4. OBJETIVOS DA PESQUISA: Objetivo Geral: Analisar as representações sociais de saúde e doença para secretárias de curso de uma universidade, situada no Mato Grosso do Sul. Objetivos Específicos: Verificar o perfil sócio demográfico das (os) secretárias (os) das Coordenações de Curso; Analisar a representação social de saúde e doença; Analisar a compreensão sobre a ergonomia e a ginástica laboral.

5. JUSTIFICATIVA DA PESQUISA: O sistema capitalista ainda impera nos tempos atuais, porém muitas políticas voltadas à melhoria das condições de trabalho, têm sido implantadas, como a gestão participativa, satisfação dos colaboradores, programas relacionados à prevenção de doenças e promoção da saúde, como a ginástica laboral, ergonomia, entre outros. Acredita-se que as representações sociais podem auxiliar no entendimento de como os trabalhadores entendem esses programas acima mencionados, possibilitando assim maior probabilidade de aceitação que estes virem a ser implantados.

6. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS: Inicialmente marcamos uma reunião com setor de Gestão de Pessoas, solicitando a autorização para realização da pesquisa na instituição. Primeiramente, solicitou-se reunião com a chefia do setor, para entregado do documento de solicitação, cópia do projeto e explicação dos objetivos deste estudo, além da Folha de Rosto para Pesquisas com Seres Humanos, do Ministério da Saúde. O projeto foi autorizado pela instituição e foi encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), para análise.

11 O modelo do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido é de responsabilidade do pesquisador e seu

conteúdo deve responder a dois critérios fundamentais: assegurar ao pesquisador a autonomia para publicação dos resultados alcançados pela pesquisa e assegurar aos sujeitos que serão submetidos à pesquisa o direito de se manifestar e apoiar ou não o que estiver sendo apresentado na posposta.

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Posteriormente convidaremos as (os) secretárias (os) de curso a fazerem parte desta pesquisa. Em seguida agendaremos a data e local para a realização das entrevistas. Durante todo o tempo de pesquisa estaremos realizando observações e anotações no diário de campo, referentes à situação de trabalho, comentários, queixas, as quais poderão servir de apoio na análise das informações coletadas.

7. POSSÍVEIS DESCONFORTOS E RISCOS: Por investigar a representação social de saúde e doença, através de entrevistas, as pessoas que participarão deste estudo, poderão sentir-se desconfortáveis e/ou fragilizadas por abordarem temas relacionados as suas próprias condições de saúde ou doença. Sentimentos provocados pelo trabalho como angústia e medo, poderão ocorrer.

8. POSSÍVEIS BENEFÍCIOS ESPERADOS: Terão oportunidade de falarem sobre suas concepções relacionadas ao trabalho, às condições de saúde e doença, apontar suas necessidades e sugerir melhoramentos das condições de trabalho. Além de receberem a devolutiva deste estudo, que possivelmente, apontará alternativas para minimizar os efeitos maléficos do trabalho, assim como sugestões de melhoramento. Considerando as informações constantes dos itens acima e as normas expressas na Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde/Ministério da Saúde consinto, de modo livre e esclarecido, participar da presente pesquisa na condição de participante da pesquisa, sabendo que: 1. A participação em todos os momentos e fases da pesquisa é voluntária e não implica quaisquer tipos de despesa e/ou ressarcimento financeiro. Em havendo despesas operacionais, estas deverão estar previstas no Cronograma de Desembolso Financeiro e em nenhuma hipótese poderão recair sobre o sujeito da pesquisa e/ou seu responsável; 2. É garantida a liberdade de retirada do consentimento e da participação no respectivo estudo a qualquer momento, sem qualquer prejuízo, punição ou atitude preconceituosa; 3. É garantido o anonimato; 4. Os dados coletados só serão utilizados para a pesquisa e os resultados poderão ser veiculados em livros, ensaios e/ou artigos científicos em revistas especializadas e/ou em eventos científicos; 5. A pesquisa aqui proposta foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), que a referenda e 6. O presente termo está assinado em duas vias. Campo Grande-MS ......./......../......... 1) ........................................................................

Nome e assinatura do (a) ( ) Sujeito da pesquisa ( ) Responsável pelo participante Meio de contato: ........................................

2) ........................................................................ Nome e assinatura do (a) pesquisador (a)

3) ........................................................................ Nome e assinatura do(a) orientador(a)

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ANEXO

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DECLARAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA

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