REPORTAGEM Família Assa - Revista Backstage · lão em um funk-MPB de sua própria au-toria, e a...

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76 www.backstage.com.br REPORTAGEM reproduz show do DVD no Canecão no Canecão F amília Assa d F amília Assa d M arcelão recentemente havia feito o P.A. no concer- to com orquestra de Wagner Tiso no mesmo Canecão e conta que participar de outro espetácu- lo baseado em instrumentos acústicos no mesmo local foi importante. “Essa experiência foi boa, porque a gente fica bem íntimo de como funciona o som aberto aqui, ainda mais tendo sido há pouco, não houve mudança na acústica desde então”, analisa o técnico, que também costuma tra- balhar com outra família musical, os Caymmi, e pilotou a Yamaha PM4000 da casa, com 48 canais, dos 17 que foram utilizados. Já os monitores foram feitos na Soundcraft SM20, também da casa, em nove canais. Ainda na praia da captação de instrumentos, Penynha gravou, entre outros, o DVD de Wagner Tiso, o tributo 100 João Pequeno [email protected] Traduzir para os palcos brasileiros o show gravado em DVD pela Família Assad na Bélgica foi tarefa para profissionais do primeiro time, como Marcelão Melo, que comandou o P.A. e Gilberto ‘Penynha’ Suzano, responsável pelos monitores no palco do Canecão, onde oito músicos de três gerações fizeram única apresentação no Rio de Janeiro Fotos: Rogerio Vonkruger / Divulgação

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REPORTAGEM

reproduz show do DVDno Canecãono Canecão

Família AssadFamília AssadM

arcelão recentemente havia feito o P.A. no concer-to com orquestra de Wagner Tiso no mesmoCanecão e conta que participar de outro espetácu-

lo baseado em instrumentos acústicos no mesmo local foiimportante. “Essa experiência foi boa, porque a gente ficabem íntimo de como funciona o som aberto aqui, aindamais tendo sido há pouco, não houve mudança na acústica

desde então”, analisa o técnico, que também costuma tra-balhar com outra família musical, os Caymmi, e pilotou aYamaha PM4000 da casa, com 48 canais, dos 17 que foramutilizados. Já os monitores foram feitos na SoundcraftSM20, também da casa, em nove canais.

Ainda na praia da captação de instrumentos, Penynhagravou, entre outros, o DVD de Wagner Tiso, o tributo 100

João [email protected]

Traduzir para os palcos brasileiros o show gravado em DVD pela FamíliaAssad na Bélgica foi tarefa para profissionais do primeiro time, comoMarcelão Melo, que comandou o P.A. e Gilberto ‘Penynha’ Suzano,responsável pelos monitores no palco do Canecão, onde oito músicos detrês gerações fizeram única apresentação no Rio de Janeiro

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anos de Radamés Gnatalli,com Marcos Nim-richter eo Novo Quinteto.

A produção para o showdos Assd demandou cuida-dos para evitar vazamentosde som entre os instrumen-tos, notadamente violões epiano. A proximidade entrecada integrante tambémprecisou ser bastante cuida-da neste sentido, respeitan-do, inclusive, as diferençasde dimensões entre o palcodo Canecão e o Palais des Beuax Arts

(Palácio das Belas Artes, em portugu-ês), onde o DVD fora gravado em Bru-xelas, em 2004.

O hiato de três anos entre a gravaçãoe os shows no Brasil se deve ao fato deque somente este ano o DVD foi lançadono Brasil, pela gravadora Rob Digital. Aprodução original era da Gha Records,da belga Françoise-Emmanuelle, mulherde Odair e também música, já tendo sidoparceira da Badi no Duo Romantique,há 20 anos.

É na geração 50/60 da família que es-tão os músicos consagrados. Os irmãosSérgio, 54, e Odair, 50, fazem do DuoAssad há mais de 30 anos uma das for-mações mais influentes do violão erudi-to, sendo referência para a obra deVilla-Lobos no exterior, mas com trânsi-

to também para a música popular brasi-leira. E a irmã mais nova Badi, 40, tam-bém se notabilizou como violonista, masem um terreno diferente em que cabemmúsica popular contemporânea brasilei-ra e estrangeira, com muitas experimen-tações. É capaz, por exemplo, de cantare fazer beat box vocal, ao mesmo tempo.É assim que interpreta Ai que saudade

d’ocê (de Vital Farias, popularizada porGeraldo Azevedo).

O patriarca Jorge Assad, 83, emboranão fosse profissional, sempre foi umbandolinista de mão cheia, voltado para osamba e, principalmente, o choro. A mãe,Angelina, ou, como todos a chamam,dona Ika, 77, é, talvez, o caso mais curioso,pois nunca havia se aventurado na músi-ca até há pouco, quando descobriu que ti-nha voz. Durante o show no Canecão,

Badi conta que a mãe che-gou a ser chamada de “BillieHoliday brasileira” por umjornal norte-americano apósuma apresentação por lá, oque encorajou ela e Sérgio aproduzirem, no ano passado,um CD solo com a mãe can-tando principalmente velhossambas-canção.

Entre a nova geração, Cla-rice, 29, filha mais velha deSérgio é a que, até agora, se-guiu profissionalmente a mú-

sica. Pianista, cantora e compositora detrilhas e temas para orquestras nos Esta-dos Unidos, ela é a responsável pelos ar-ranjos vocais do DVD – os arranjos ins-trumentais ficaram por conta do pai.Embora não sejam profissionais, o irmãomais novo Rodrigo, 26, canta e toca vio-lão em um funk-MPB de sua própria au-toria, e a prima Carolina, 24, filha deOdair, mostra boa performance vocal emmúsicas como Oriente, de Gilberto Gil.

A versatilidade é um ponto forte deClarice e Badi. A primeira, além perfi-lar composições próprias ao piano,toca com até então insuspeitado suin-gue o baixolão ao acompanhar a músi-ca do irmão, enquanto Badi toca per-cussão no próprio corpo – além de em-

prestar os instrumentos aos sobrinhos.Ela ainda deixa seu próprio violão para

O violão Thomas Humphrey foi captado com o AKG 414 Dona Ika e Jorge Assad: pilares da família Assad

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pegar um de Odair empres-tado e tocá-lo de maneiranada convencional, comuma baqueta entre o braçoe as cordas, fazendo umefeito parecido com o somda harpa. Também toca di-versos tipos de percussão.Sérgio e Odair, além demostrarem seu trabalho emduo de violão erudito, co-mo em um trecho das ba-chianas, de Villa-Lobos, a-companham irmã, filhos,sobrinhos e pais, que sobemao palco por último, fazendo uma belasérie de sambas e choros, como Lamen-

to, de Pixinguinha, e Se acaso você che-

gasse, de Lupicínio Rodrigues e Fe-lisberto Martins.

Instrumentos acústicos

demandam cuidado

contra vazamentos de som

A produção distribuiu os 17 canaisusados para a apresentação da famíliano Canecão em quatro internos nosinstrumentos e os outros 13, micro-fonados externamente. Os únicos ins-trumentos plugados eram o bandolimde ‘seu’ Jorge e o violão Takamine e obaixolão Fender de Badi, havendodois canais para o violão por questãode colocação no palco – como Badi fi-cava à direita e Rodrigo tocou no centro,a opção foi por abrir mais um canal paraele naquela posição. Já o bandolim, umGolden Tone, modelo de fabricação nor-te-americana, foi o único em DI passiva,com menor impedância.

Os violões de Sérgio e Odair foramcaptados com um microfone (AKG 414)cada um. São dois instrumentos do mes-mo modelo norte-americano, ThomasHumphrey, ambos comprados pelos ir-mãos em Nova Iorque. O corpo bicolordava a impressão de ser feito em duas ma-

deiras diferentes, mas é em apenas uma.“É característica do jacarandá”, explicaOdair.

Para o piano tocado por Clarice fo-ram mais microfones (AKG 451), ummais rente às cordas, na parte da frentee o outro na parte de trás, captando aambiência e reverberação. Ela toca como piano da casa, um Yamaha de umquarto. “Chamam-no de baby porque épequenininho”, diz ela, que não fazquestão de instrumento de fabricanteou tamanho específico. “Toco com oque tiver na casa, até porque um pianode cauda não é dos mais fáceis de trans-portar”, conta.

O nível dos monitores e a reverbera-ção entre o piano e os violões foi um dosfatores mais trabalhosos na passagem desom, para evitar que o áudio de algumvazasse e influísse nos instrumentos eproporcionasse o retorno correto aos mú-sicos, principalmente no piano.

No monitor colocado logoatrás do piano, vários ajustesprecisaram ser feitos para quea pianista tivesse o retorno de-sejado dos demais. “Pedi paraquase tirarem o meu retorno[do próprio piano] e deixa-rem só um pouquinho, quasenada para eu ouvir, deixandoquase só os violões aqui”, di-zia Clarice, sobre um trabalhode acerto que, sozinho, de-mandou cerca de uma horana passagem de som.

Além disso, a tampa do pia-no foi parcialmente fechada para que a re-verberação não invadisse a captação dos vi-olões, que ficavam em frente a ele, no cen-tro do palco. Clarice foi a única a ter doisdos nove monitores posicionados para elano palco do Canecão. Os demais foram dis-tribuídos entre cada membro da família.

À exceção de Badi, os microfones co-locados para as vozes foram todos SM58.Foram sete canais de voz ao todo, sendotrês sem fio, para Carolina e também paraClarice e Rodrigo, nos momentos em queestes cantavam, sem instrumento. Em es-pecial, esta distribuição foi necessária nosmomentos finais do show, em que toda afamília participava junta. Badi foi a únicaa cantar em um headset. Dois entre os trêsSM58 normais, com fio, foram para Cla-rice, quando ao piano, e dona Ika, sempresentada, cantarem. O restante era paraSérgio e Odair falarem com a platéia.

Os dois outros microfones foram coloca-dos para Badi, no violão que ela toca no

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Badi,a única a cantar com um headseat, usou no violão um AKG

“A proximidade entre cada integrante tambémprecisou ser bastante cuidada neste sentido,

respeitando, inclusive, as diferenças de dimensõesentre o palco do Canecão e o Palais des Beuax Arts,onde o DVD fora gravado em Bruxelas, em 2004”

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chão, com as baquetas esticando as cordas,fazendo efeito ‘de harpa’ (AKG 435) e noCajón, caixa de madeira que lhe serviatanto como banco quanto como instru-mento de percussão (MD 421).

História musical

nasce em família

A história musical em família dosAssad começa no início dos anos 60, emSão João da Boa Vista, interior de SãoPaulo, quando o filho mais velho, Sérgio,então com 11 anos, resolve aprender vio-lão para acompanhar o pai, Jorge, que eraum bandolinista amador, mas de mãocheia, bastante requisitado nas rodas dechoro da cidade. Bateu o ciúme emOdair, então com oito, que resolveuaprender também.

O dom dos filhos para a música ficoulogo evidente e convenceu o pai a levá-los para o Rio de Janeiro, onde a partirde 1969 estudaram violão clássico com

Morina Tavares, ex-aluna de AndrésSegovia. A professora notou o talentodos irmãos e os estimulou a tocaremcomo duo e, assim, no ano seguinte, fo-ram vencedores de um concurso reali-zado em Bratislava, na antiga Tche-coslováquia (atual capital da Eslová-quia, após a separação das repúblicas).Em seguida, foram para os Estados Uni-dos e, em 1983, se radicaram na Europa,onde Odair vive até hoje.

Sérgio voltou para os Estados Uni-dos, onde a mulher dele é professorauniversitária e foi na terra do Tio Samque a filha mais velha do casal, Cla-rice, hoje com 29 anos, construiu suajá sólida carreira musical. Passou porBerkeley, em Boston, mas não gostouda orientação por considerá-la “muitopop” para quem, como ela, estava àprocura de um estudo mais erudito.Então, se transferiu para Michigan ehoje vive em Nova Iorque, onde dedi-

ca-se principalmente a compor temaspara orquestras e trilhas sonoras.

De volta ao início dos anos 80, en-quanto os irmãos Sérgio e Odair se tor-navam referência no circuito interna-cional, Badi começou a estudar músicana adolescência, mas deixou o violãoclássico para desenvolver um estilo pró-prio, incluindo experimentações comoa utilizada no DVD. Em 1984, aos 17anos, venceu o prêmio Jovens Ins-trumentistas em 1984 e, em seguida,integrou a Orquestra de Violões do Riode Janeiro, liderada por Turíbio Santos até1987, quando começou também a atuarem família, formando o duo Romantiquecom Françoise-Emmanuelle Denis, hojeprodutora do DVD da Família Assad,além de casada com Odair. Durante 15anos, girou o mundo se apresentandoprincipalmente na Europa e nos Esta-dos Unidos, voltando ao Brasil em2002. Gravou com feras como Heraldodo Monte, Rafael Rabello e LarryCoryell, entre outros.

O DVD e as apresentações mundoafora fazem justiça histórica à forma-ção musical desta família, que se espa-lhou – como seus integrantes – por estemesmo mundo, mas nasceu ali , namesma matriz, que com orgulho e ta-lento eles reúnem.

“A produção distribuiu os 17 canais usados para aapresentação da família no Canecão em quatro

internos nos instrumentos e os outros 13,microfonados externamente. Os únicos plugados eram

o bandolim, o violão e o baixolão”

A tampa do piano foi parcialmente fechada para que a reverberação não invadisse a captação dos violões