Renate Weil And

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50 ISSN 1809-2616 ANAIS VI FÓRUM DE PESQUISA CIENTÍFICA EM ARTE Escola de Música e Belas Artes do Paraná. Curitiba, 2008-2009 CONSIDERAÇÕES SOBRE O ENSINO DE FLAUTA DOCE A PARTIR DE UMA ABORDAGEM COGNITIVA MUSICAL Renate Lizana Weiland 1 [email protected] Resumo: O presente trabalho discute a interação entre os aspectos figurativos e os operativos na aprendizagem musical mediante o ensino de Flauta Doce. Apóia-se teoricamente na Epistemologia Genética de Jean Piaget e na Teoria de Modelo Espiral de Desenvolvimento Musical de Keith Swanwick. Os dados empíricos foram coletados a partir de uma intervenção, realizada em uma Escola Pública. Os sujeitos foram crianças de 7 a 12 anos, alunos que participaram voluntariamente de um processo de ensino de música por meio da Flauta Doce. A pesquisa compreende a criação de recursos figurativos visando a promover o pensamento operativo nos alunos, mediante o aprendizado musical. Os resultados demonstram que estes recursos levam os alunos à operatividade desejada, facilitando a aprendizagem musical. Palavras-chave: Piaget; Modelo Espiral de Desenvolvimento Musical; Flauta Doce. INTRODUÇÃO Este trabalho está baseado em uma pesquisa de mestrado (WEILAND, 2006). Nesta, o objetivo foi discutir os aspectos cognitivos envolvidos nas atividades de engajamento com a música – de forma mais específica, o papel dos aspectos figurativos como suporte para o pensamento operativo nas experiências musicais dos alunos. A pesquisa, de abordagem qualitativa, utilizou-se de um estudo de campo de caráter exploratório, com um recorte transversal, e ocorreu em uma escola pública em Curitiba, sendo os alunos provenientes de famílias de baixa renda, com idades entre sete e doze anos. Estes alunos foram convidados a participar de aulas de Flauta Doce, realizadas em horário diferente das aulas regulares. 1 Professora do Departamento de Sopros da EMBAP, doutoranda em Educação da UFPR, Linha de Cognição, Aprendizagem e Desenvolvimento Humano.

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CONSIDERAÇÕES SOBRE O ENSINO DE FLAUTA DOCE A PARTIRDE UMA ABORDAGEM COGNITIVA MUSICAL

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    ISSN 1809-2616

    ANAISVI FRUM DE PESQUISA CIENTFICA EM ARTEEscola de Msica e Belas Artes do Paran. Curitiba, 2008-2009

    CONSIDERAES SOBRE O ENSINO DE FLAUTA DOCE A PARTIR DE UMA ABORDAGEM COGNITIVA MUSICAL

    Renate Lizana [email protected]

    Resumo: O presente trabalho discute a interao entre os aspectos figurativos e os operativos na aprendizagem musical mediante o ensino de Flauta Doce. Apia-se teoricamente na Epistemologia Gentica de Jean Piaget e na Teoria de Modelo Espiral de Desenvolvimento Musical de Keith Swanwick. Os dados empricos foram coletados a partir de uma interveno, realizada em uma Escola Pblica. Os sujeitos foram crianas de 7 a 12 anos, alunos que participaram voluntariamente de um processo de ensino de msica por meio da Flauta Doce. A pesquisa compreende a criao de recursos figurativos visando a promover o pensamento operativo nos alunos, mediante o aprendizado musical. Os resultados demonstram que estes recursos levam os alunos operatividade desejada, facilitando a aprendizagem musical. Palavras-chave: Piaget; Modelo Espiral de Desenvolvimento Musical; Flauta Doce.

    INTRODUO

    Este trabalho est baseado em uma pesquisa de mestrado (WEILAND,

    2006). Nesta, o objetivo foi discutir os aspectos cognitivos envolvidos nas atividades

    de engajamento com a msica de forma mais especfica, o papel dos aspectos

    figurativos como suporte para o pensamento operativo nas experincias musicais

    dos alunos.

    A pesquisa, de abordagem qualitativa, utilizou-se de um estudo de campo de

    carter exploratrio, com um recorte transversal, e ocorreu em uma escola pblica

    em Curitiba, sendo os alunos provenientes de famlias de baixa renda, com idades

    entre sete e doze anos. Estes alunos foram convidados a participar de aulas de

    Flauta Doce, realizadas em horrio diferente das aulas regulares.

    1 Professora do Departamento de Sopros da EMBAP, doutoranda em Educao da UFPR, Linha de Cognio, Aprendizagem e Desenvolvimento Humano.

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    Considerando as recentes pesquisas na rea, o ensino musical no deveria

    se restringir apenas a dominar habilidades especficas e tcnicas instrumentais na

    execuo de msicas na Flauta Doce, mas deveria buscar o desenvolvimento

    musical do aluno, incluindo diversas formas de interao com a msica, integrando

    as atividades de composio, execuo e apreciao, apoiadas na tcnica e

    literatura musicais.

    Segundo Hargreaves e Zimmerman, que discorrem a respeito das teorias do

    desenvolvimento da aprendizagem musical,

    O modelo de Swanwick e Tillman representa uma primeira tentativa corajosa e imaginativa de dar sentido e coerncia ao crescente corpo de bibliografia a respeito do desenvolvimento musical, uma tentativa ampla que adota, claramente uma abordagem cognitiva (HARGREAVES; ZIMMERMAN2, 1992, apud ILARI, 2006, p. 240).

    No Modelo C(L)A(S)P, que no um mtodo de educao musical, mas

    antes carrega em si uma viso filosfica sobre a educao musical, Swanwick

    (1979) advoga o envolvimento direto dos alunos com msica atravs da

    composio, da apreciao e da execuo e confere aos estudos de literatura e

    tcnica um papel secundrio, embora admitindo-os como necessrios no ensino. O

    fato de considerar a tcnica e literatura como complementares no ensino

    instrumental amplia a abrangncia da aula indo alm da reproduo de habilidades

    tcnicas e motoras e dos conhecimentos sobre msica, favorecendo uma

    experincia musical mais rica e variada.

    Para compreender como estas atividades acima citadas se processam no

    pensamento da criana, busquei estudos sobre cognio musical (CESTARI, 1983;

    BEYER, 1988; LINO, 1998; KEBACH, 2003; MAFFIOLETTI; 2005), que esto apoiados

    epistemologicamente na teoria de Piaget, apontando a interao do sujeito com o

    objeto como explicao para o desenvolvimento das estruturas do conhecimento.

    Indiscutivelmente, a obra de Piaget bastante significativa e importante o

    seu estudo por parte dos professores que trabalham com a construo do saber

    musical. Na obra A formao do smbolo na criana Imitao, Jogo e Sonho,

    Imagem e Representao (1975), Piaget acompanha passo a passo, atravs de

    observaes minuciosas sobre seus prprios filhos, a gnese da representao.

    2 HARGREAVES; ZIMMERMANN. Developmental theories of music learning. In: R. Collwell (org.). Handbook of Research on Music Teaching and Learning. NY: Schirmer Books, p. 377-391. Publicado no Brasil sob a permisso de David Hargreaves, traduo de Beatriz Ilari.

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    Piaget (1975) defende que a representao deriva em parte da imitao, que

    fornece seus significantes imaginados e em parte tambm do jogo, na medida em

    que evolui da sua forma inicial de exerccio sensrio-motor para sua segunda forma

    - jogo simblico ou jogo de imaginao. Sobre a imitao, Piaget insiste que no se

    trata de uma tcnica hereditria ou instintiva, mas de uma ao aprendida, sendo a

    imitao uma das manifestaes da inteligncia da criana. Na imitao ocorre o

    predomnio da acomodao, sendo a imitao considerada um prolongamento da

    acomodao, enquanto no jogo simblico ocorre o predomnio da assimilao.

    Atravs da interiorizao da imitao, a inteligncia tem acesso ao nvel da

    representao, a partir da funo simblica ou semitica. Esta permite criana

    representar os objetos ou acontecimentos no percebidos no momento, por meio de

    smbolos ou signos diferenciados. A capacidade evocadora pertence funo

    simblica ou semitica: os meios so a linguagem, a imitao diferida, a imagem

    mental, o desenho, o jogo simblico (DOLLE, 1983).

    Na obra acima citada, Piaget estudou detalhadamente como ocorre a

    passagem dos esquemas sensrio-motores para os esquemas conceituais. Entre o

    pensamento pr-conceitual e o pensamento operatrio pode intercalar-se certo

    nmero de termos intermedirios, conforme o grau de reversibilidade atingido pelo

    raciocnio, aparecendo entre os quatro e sete anos da criana, com o nome de

    pensamento intuitivo. Este implica uma lgica transdutiva que, segundo Piaget

    (1975, p. 300), gera um raciocnio carente de imbricaes reversveis. Por isso

    que a criana usa um tipo de lgica, que expressa pr-conceitos, que s ela entende.

    A criana, no perodo pr-operatrio, faz uso do pensamento intuitivo

    recorrendo s diversas imagens mentais do seu repertrio e para transformar essas

    imagens em conceitos percorre um longo caminho, sendo este processo bastante

    lento. Atravs da representao, a criana passar por uma lenta evoluo estrutural

    que lhe fornecer a possibilidade do aparecimento da linguagem verbal. Uma vez

    que a criana esteja de posse da funo simblica, ela capaz de diferenciar os

    significantes dos significados, o que lhe permite ento evocar objetos ou situaes,

    constituindo o comeo da representao. Piaget (1973, p. 71) explica que:

    o aspecto figurativo do pensamento representativo tudo o que se dirige s configuraes como tais, em oposio s transformaes. Guiado pela percepo e sustentado pela imagem mental, o aspecto figurativo da representao desempenha um papel preponderante (no sentido abusivamente preponderante e dependendo precisamente das transformaes) no pensamento pr-operatrio (...) o aspecto operativo do

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    pensamento relativo s transformaes e se dirige assim a tudo o que modifica o objeto, a partir da ao at as operaes.

    Segundo Cestari (1983, p. 79), o aspecto figurativo desempenha um papel

    preponderante no perodo pr-operatrio e o aspecto operativo no perodo das

    operaes concretas. Para que a criana possa realizar a representao grfica da

    msica, so necessrios tanto os aspectos operativos do pensamento, na

    vinculao entre as condutas da correspondncia som/grafia como os aspectos

    figurativos do pensamento, para as condutas utilizadas na construo do smbolo.

    Nas figuras abaixo, pode-se perceber diversas notaes escritas por alunos. Os

    primeiros exemplos so notaes espontneas, isto , a criana criou a sua prpria

    forma de grafar sua composio musical, e pode-se perceber a lgica do seu

    pensamento. No primeiro caso (Fig. 1), foi utilizada a escrita convencional, ou seja, o

    alfabeto e no segundo caso (Fig. 2), a criana desenhou esquematicamente os

    orifcios da flauta, escurecendo aqueles que queria manter fechados. Nas Figuras 3

    e 4, percebe-se a incorporao da notao tradicional pelo aluno.

    Figura 1 Grafia espontnea de aluna iniciante

    Figura 2 Grafia espontnea de aluno iniciante

    Figura 3 Grafias convencionais de alunos participantes de dois semestres de aulas

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    Figura 4 - Grafias convencionais de alunos participantes de quatro semestres de aulas

    Neste trabalho, fao um recorte da pesquisa, exemplificando algumas atividades e,

    portanto, deve-se ter em mente que os alunos participavam de aulas de msica e de

    Flauta Doce. A Flauta Doce foi utilizada aqui tambm no sentido de o aluno poder

    exercer a operatividade, pois mediante a aprendizagem com este instrumento, o

    aluno pde integrar os conceitos tericos e ampli-los, agindo sobre eles.

    MATERIAIS DE APOIO QUE FAVOREAM A OPERATIVIDADE DOS ALUNOS

    Como o espao neste artigo restrito, descrevo resumidamente alguns

    exemplos de materiais de apoio por mim criados, e comento os aspectos figurativos

    e operativos em cada atividade realizada.

    O Mapa Musical (Fig. 5) diz respeito a uma atividade de apreciao musical,

    realizada com o grupo de alunos iniciantes. Este recurso pde prender a ateno

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    dos alunos, instigando-os a ouvirem muitas vezes a apreciao proposta pelo

    professor, mantendo a sua ateno constante.

    Figura 5 - Mapa Musical - Bizet

    A deciso entre uma apreciao livre ou uma apreciao mais estruturada,

    requer do professor sensibilidade para perceber o que ser mais apropriado aos

    alunos. Bamberger (1995) que realizou estudos analisando condutas de crianas

    durante o fazer musical, procurando investigar o desenvolvimento musical das

    mesmas, atesta a importncia de os professores estarem atentos s mltiplas

    escutas dos seus alunos, requerendo ateno a respostas inesperadas por parte

    dos mesmos. Existem alunos, porm, que sem a presena de um material mais

    estruturado, no conseguem se manter concentrados na escuta musical, pois para

    eles os sons s existem enquanto esto sendo ouvidos, ainda no h a imagem

    aural, que permite estabelecer significados ou relaes, para discusso posterior.

    Tambm Wuytack e Palheiros (1995, p. 18), em outro estudo com

    representaes grficas que apiam a apreciao musical, defendem o uso de

    material estruturado, pois a representao da estrutura dos acontecimentos

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    auditivos atravs de um esquema visual facilita a percepo da unidade, uma vez

    que torna possvel aproximar os pormenores sem os separar do conjunto.

    A deciso sobre quando usar apreciao livre ou apreciao estruturada

    depender do professor, analisando as reaes de seus alunos e suas

    possibilidades de respostas ao que est sendo proposto. O Mapa Musical sempre

    ser visto como uma forma de apoio para a atividade principal - a apreciao musical.

    Na aula, inicialmente os alunos ouviram a obra musical, (primeira parte), sem o

    material de apoio. Numa segunda apreciao, eles receberam o Mapa Musical, mas

    a professora no explicou nada sobre os smbolos e desenhos do mesmo, dizendo

    aos alunos que eles descobririam o significado. Dessa forma ouviram a msica

    vrias vezes, a fim de descobrirem as relaes implicadas na representao grfica.

    O Mapa Musical possibilita as aes de equivalncia feitas pelo sujeito,

    fazendo corresponder um som para cada grafia, ou a correspondncia termo a termo

    grafia/som. Serviu assim, neste contexto, para aguar a curiosidade dos alunos e

    mant-los atentos msica ouvida. Quando se pede que somente ouam a msica,

    na maioria das vezes, os alunos no conseguem se concentrar, em virtude de a

    msica acontecer no tempo, sendo efmera e invisvel, o que dificulta bastante a sua

    ateno. Percebe-se que o Mapa Musical um material concreto para apoiar a

    audio dos alunos.

    Descrevo agora outro recurso figurativo criado para o grupo de alunos que j

    tocavam Flauta Doce, e que denominei de Cartelas Pentatnicas (Fig. 6). Foram

    apresentadas aos alunos quatro cartelas com trechos pentatnicos escritos,

    contendo quatro pulsos cada uma. Os alunos deveriam ordenar as cartelas de

    acordo com a seqncia tocada na Flauta Doce.

    Figura 6 - Cartelas Pentatnicas

    Para esta atividade, o aluno teve que ler (decodificar na notao musical

    tradicional) cada cartela, reconstruir no plano mental o som resultante e compar-lo

    com o som emitido pela professora. Tudo teve de ser realizado rapidamente, pois

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    aconteceu com as quatro cartelas de forma seqencial. Somente o aluno que tivesse

    uma estrutura operatria seria capaz de realizar esta tarefa.

    Depois, partindo da ordenao decodificada pelos alunos, a professora

    props nova modificao na msica, fazendo perguntas para levar os alunos a

    descobrirem as modificaes. Continuando a trabalhar em busca da operatividade

    no pensamento musical dos alunos, a professora pode realizar diversas atividades,

    dividindo os alunos em dois grupos, pedindo sugestes de cada grupo para novas

    seqncias de cartelas. Os alunos deveriam imaginar como soaria aquela seqncia

    nova, experiment-la na flauta, se quisessem escrev-la em seus cadernos, para

    depois toc-la. Em seguida, um grupo apresentava ao outro a sua composio e o

    grupo que estava ouvindo a composio dos colegas ordenava as cartelas,

    conforme a seqncia escolhida.

    Os alunos tambm foram incentivados a criarem uma nova seqncia,

    alterando livremente alguma nota que julgassem necessria, ou poderiam tambm

    compor um novo final, realizando isso tudo agora de forma individual. Neste caso

    para esta atividade de composio, a estratgia dos alunos foi a realizao da

    montagem de uma seqncia apoiando-se na colocao espacial das cartelas, para

    depois tocar nas Flautas e comentar o resultado sonoro. Isto mostra que os alunos

    ainda estavam bastante envolvidos com o material concreto e que para eles foi mais

    fcil manusear primeiro as cartelas para depois tocarem e ver como soava,

    confirmando a teoria de Piaget, que ressalta a importncia do material concreto. A

    partir dessa atitude e neste caso, percebeu-se que a composio ainda no tinha

    intencionalidade sonora, no sentido de que no houve uma antecipao sonora da

    msica composta. Antes, pareceu tratar-se do resultado da manipulao de

    materiais que estavam a sua disposio. Os alunos estavam preocupados com a

    necessidade de uma boa performance, para que os outros pudessem decodificar as

    cartelas utilizadas.

    O propsito desse material de apoio foi deixar os alunos tomarem decises a

    respeito de como queriam formar a sua msica a partir das cartelas, e

    gradativamente aumentar a liberdade de escolha, at a composio individual nos

    instrumentos. A primeira parte da atividade, j permitia ao aluno certa liberdade, na

    composio em grupos. Ao executar suas composies, os alunos percebiam se

    tratar de um cdigo universal, que poderia ser entendido e compartilhado por outros

    sujeitos. Os prprios alunos manifestaram interesse pela composio individual,

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    quando alguns disseram que gostariam de anotar em seus cadernos o que haviam

    composto a partir das cartelas, com as alteraes.

    O terceiro material didtico, utilizado com alunos do Grupo Si Bemol, que j

    freqentava as aulas de msica h mais tempo, foi uma cartela (Fig. 7) apresentada

    aos alunos, seguida da pergunta - Qual ser a msica mais longa?

    Figura 7 Cartela com a atividade qual a mais longa?

    Para elaborar a resposta o aluno j deve possuir aspectos operativos do

    pensamento musical. Apoiando-se somente nos aspectos figurativos, a resposta

    ser baseada no tamanho fsico da composio e no no nmero de tempos da

    mesma. Portanto, o aluno ter de comparar os tempos de durao das figuras

    rtmicas envolvidas na questo e, raciocinando assim, o aluno chegar concluso

    de que o primeiro exemplo, embora tenha mais notas musicais e perceptivamente

    visualmente parea mais longo, ocorrer em um menor tempo.

    CONSIDERAES FINAIS

    Na prtica docente no se pode admitir que o ensino de msica - tanto terico

    como instrumental, fique restrito aos aspectos figurativos, o que geraria uma

    aprendizagem superficial. Assim foram criados diferentes materiais de apoio,

    brevemente exemplificados, que levassem os alunos a exercer um domnio

    operativo da sua aprendizagem musical. Cada professor poder criar novos

    exemplos partindo da realidade concreta dos seus alunos e os materiais discutidos

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    neste texto, querem ser um pequeno exemplo de como possvel trabalhar a

    questo do operatividade no ensino musical.

    A Flauta Doce mostrou-se um instrumento muito adequado para que o aluno

    alcance a operatividade no pensamento musical, dando-lhe a oportunidade de

    explorar o instrumento para retirar dessa experincia o conhecimento necessrio e

    coloc-lo a servio dos aspectos abstratos da educao musical. Os materiais

    criados foram considerados dentro do Modelo C(L)A(S)P, levando em conta os

    aspectos figurativos e operativos das diferentes modalidades de envolvimento direto

    com a msica. O Modelo C(L)A(S)P mostrou-se bastante conveniente ao ensino de

    msica por meio da Flauta Doce. Propondo um ensino musical abrangente,

    contempla as diversas modalidades de envolvimento com a msica, e tambm ao

    estabelecer uma hierarquia entre as modalidades de envolvimento centrais e as

    perifricas no ensino musical.

    Por meio da minha interveno como pesquisadora e docente, procurei

    considerar os alunos como parceiros ativos na elaborao de respostas musicais,

    enfoque este que difere de um ensino musical que busca o imediatismo e a pouca

    profundidade da simples repetio de contedos musicais. Considerei o aluno como

    algum que tem algo a dizer e no como algum que somente reproduz a execuo

    de msicas ouvidas. Alm disso, constatei, por meio da anlise de dados, que existe

    uma grande complexidade cognitiva implicada nas respostas dos alunos, o que

    indica a necessidade da realizao de outros estudos na interface das reas de

    conhecimento compostas pela psicologia cognitiva e o ensino de msica.

    REFERNCIAS

    BAMBERGER, J. The mind behind the musical ear. How children develop musical intelligence. 2. ed. Cambridge: Harvard, 1995.

    BEYER, E. S. W. A abordagem cognitiva em msica uma crtica ao ensino da msica, a partir da teoria de Piaget. Porto Alegre, 1988.151f. Dissertao (Mestrado em Educao) Programa de Ps-Graduao em Educao, Faculdade de Educao, UFRGS, Porto Alegre, 1988.

    CD FESTIVAL CLSICO Ediciones del Prado. Madrid Espanha 1995. Faixa 11: Bizet: Los toreiros (Introduccin Acto I).

    CESTARI, M. L. A representao grfica da melodia numa perspectiva psicogentica. Porto Alegre, 1983, 140f. Dissertao (Mestrado em Educao). Faculdade de Educao, UFRGS, 1983.

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    DOLLE, J. M. Para compreender Jean Piaget. Rio de Janeiro: Zahar, 1983.

    ILARI, B. (org.) Em busca da mente musical. Curitiba: Editora da UFPR, 2006. p. 231-270.

    KEBACH, Patrcia. A construo do conhecimento musical: um estudo atravs do mtodo clnico. 204f. Dissertao (Mestrado em Educao). Faculdade de Educao. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2003.

    LINO, Dulcimarta Lemos. Pensar com sons: um estudo da notao musical como um sistema de representao. 227f. Dissertao (Mestrado em Educao). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1998.

    MAFFIOLETTI, Leda. Diferenciaes e Integraes: o conhecimento novo na composio musical infantil. 248f. Tese (Doutorado em Educao). Faculdade de Educao, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2005.

    PIAGET, J. A formao do smbolo na criana. Imitao, jogo e sonho, imagem e representao. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.

    _____. Problemas de psicologia gentica. Rio de Janeiro: Forense, 1973.

    SWANWICK, K. A basis for music education. London: Routledge, 1979.

    WEILAND, Renate L. Aspectos figurativos e operativos da aprendizagem musical de crianas e pr-adolescentes, por meio do ensino de flauta doce. 147 f. Dissertao (Mestrado em Educao). Universidade Federal do Paran, Curitiba, 2006.

    WUYTACK, J.; PALHEIROS, Graa Boal. Audio musical ativa: livro do professor e livro do aluno. Porto: Associao Wuytack de Pedagogia Musical, 1995.