REMUNERAÇÃO VARIÁVEL NO SERVIÇO PÚBLICO COMO … · O pagamento por desempenho exige medição...

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Centro de Convenções Ulysses Guimarães Brasília/DF 16, 17 e 18 de abril de 2013 REMUNERAÇÃO VARIÁVEL NO SERVIÇO PÚBLICO COMO FATOR DE INDUÇÃO NA MELHORIA DO DESEMPENHO DO SERVIDOR Silvio Campos Guimarães Nelson Marconi

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Centro de Convenções Ulysses Guimarães Brasília/DF – 16, 17 e 18 de abril de 2013

REMUNERAÇÃO VARIÁVEL NO SERVIÇO PÚBLICO COMO FATOR DE INDUÇÃO NA

MELHORIA DO DESEMPENHO DO SERVIDOR

Silvio Campos Guimarães Nelson Marconi

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Painel 43/162 Remuneração variável como incentivo ao desempenho

REMUNERAÇÃO VARIÁVEL NO SERVIÇO PÚBLICO COMO FATOR

DE INDUÇÃO NA MELHORIA DO DESEMPENHO DO SERVIDOR

Silvio Campos Guimarães Nelson Marconi

RESUMO O objetivo do presente artigo é analisar os programas de remuneração variável direcionados para servidores públicos em busca dos seus efeitos no desempenho do servidor. Para isso se procurou identificar estudos que apresentassem métodos capazes de correlacionar o desempenho com a adoção do programa. Nota-se que a literatura é divergente quanto à associação entre os benefícios disponibilizados e a melhoria do desempenho no setor público. Para contribuir com as pesquisas e com o esclarecimento da divergência observada foram realizados testes no programa implantado pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, avaliando o desempenho dos diretores e professores no período de 2007 a 2011 com a aplicação de modelo econométrico de Diferença em Diferenças para eliminar efeitos fixos não observáveis. Também foi avaliado o desempenho dos alunos em busca do efeito dos diretores e professores sobre as notas dos primeiros. Como resultado constatou há efeitos positivos para professores e alunos, o que não se confirmou para os diretores. Constatou também nas três avaliações tendência negativa de 2009 para 2011, com exceção para professor e aluno da 8ª série de português.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...................................................................................................... 04

2 OBJETIVO E JUSTIFICATIVAS.......................................................................... 05

3 REVISÃO DA BIBLIOGRAFIA............................................................................. 06

4 O PROGRAMA PAULISTA DOS BÔNUS NA EDUCAÇÃO............................... 10

5 METODOLOGIA................................................................................................... 12

6 DADOS................................................................................................................. 15

7 TESTES................................................................................................................ 17

7.1 Testes do efeito do programa sobre o desempenho do diretor.................. 18

7.2 Resultados nos diretores................................................................................ 20

7.3 Testes do efeito do programa sobre o desempenho do professor............. 21

7.4 Resultados dos professores........................................................................... 26

7.5 Testes do efeito do programa sobre o desempenho do aluno.................... 29

7.6 Resultados dos alunos.................................................................................... 29

8 CONCLUSÕES.................................................................................................... 32

9 REFERÊNCIAS.................................................................................................... 33

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1 INTRODUÇÃO

Atualmente as organizações estão sendo incentivadas a seguir algumas

linhas de gestão com práticas administrativas que favorecem a emergência do

capital humano como fator principal para serem bem sucedidas. De acordo com

Flannery (1997), essas transformações geram mudança de valores, de cultura e

reconfiguram as estruturas organizacionais. Estas, por sua vez, criam novas formas

de administrar as pessoas por meio de políticas de recursos humanos que integram

todos os setores da organização e dimensionam suas estratégias para um único

foco, isto é, o da valorização das pessoas como condição para obter

comprometimento de todos e atingir os objetivos determinados.

Os modelos tradicionais de remuneração fixa para o servidor não se

propõem a servir como forma permanente de incentivo à melhoria desempenho do

servidor. Algumas experiências têm sido tentadas com este propósito. Uma delas é

o Programa de Remuneração Variável (PRV), que atrela o cumprimento de metas à

premiação em dinheiro ou equivalente.

Os estudos desenvolvidos visando avaliar os impactos desses programas

têm encontrado resultados que se contradizem, ora identificando efeitos positivos,

ora negativos, ora neutros. Parece que os argumentos utilizados para avaliar os

efeitos dos programas não foram convincentes para desmotivar os elaboradores

destes programas a insistir na sua implantação ou mesmo desincentivar novos

gestores a adotar tais programas. Pode ser que não haja sustentação teórica para

continuidade dos Programas de Remuneração Variável (PRV) ou que as métricas

utilizadas para avaliar seus impactos sejam inadequadas e pouco convincentes. É

neste último ponto que este trabalho pretende oferecer contribuição, avançando nas

discussões tanto da teoria quanto do ponto de vista empírico com base nos dados

disponíveis.

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2 OBJETIVO E JUSTIFICATIVAS

O objetivo do presente estudo é analisar os programas de remuneração

variável direcionados para servidores públicos em busca dos seus efeitos no

desempenho do servidor.

A relevância do tema é significativa. Em 2010 o Brasil possuía 44.068.355

empregos formais. Deste total, 8.923.380 são trabalhadores no setor público nos

governos municipais, estaduais e federal, incluso a administração direta e indireta e

que podem se beneficiar de um modelo de remuneração variável 1 . Ou seja,

aproximadamente 20% dos empregos formais do país estão na administração

pública.

Nas experiências desenvolvidas em diversos países e no Brasil ainda não

se obteve respostas convincentes de como constatar e mensurar o impacto da

remuneração variável no desempenho do servidor.

Também pode ser notada a carência de estudos em países em

desenvolvimento dos efeitos da remuneração variável, seja no setor público ou na

área privada. Nesse sentido, pode se citar o estudo de Hasnain, Manning e

Pierskalla (2012) que analisou 153 estudos sobre o tema, sendo que apenas 26

foram realizados em países em desenvolvimento. Todos os demais foram em países

membros da OCDE. A revisão da literatura aqui utilizada encontrou poucos estudos

na América Latina, sendo que no Brasil são escassos os estudos sobre o tema.

Nota-se uma janela de oportunidade para se desenvolver estudos nesta área

considerando a realidade da cultura local e que esta pesquisa intenciona contribuir

na procura por meios que possam aferir adequadamente os efeitos da remuneração

variável.

Assim, dado a importância do tema tanto para governos quanto para

servidores, o presente trabalho pretende contribuir no desenvolvimento de

metodologias para mensurar o impacto dos programas de remuneração variável no

desempenho do servidor público.

1 Consulta em 17/02/12 em http://www.mte.gov.br/rais/2010/

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3 REVISÃO DA BIBLIOGRAFIA

Bowman (2010) examinou pesquisas acadêmicas, artigos recentes

publicados na mídia, publicações governamentais e dados de 15 entrevistas não

estruturadas de 30 a 50 minutos por telefone no ano de 2008 com interesse em

avaliar os programas de remuneração variável no governo federal americano.

Bowman constatou que em dois relatórios governamentais, The Civil Service Reform

Act em 1978 e Recognition Act em 1984, foi apontado que houve constrangimentos

do participantes, atrasos no programa, custou mais dinheiro do que o previsto e não

reconheceu corretamente os melhores servidores, concluindo que se houve efeitos

positivos na produtividade, satisfação do trabalhador e no turnover, foram limitados

ou nenhum. Em alguns dos trabalhos citados por Bowman, tais programas são

piores do que não fazer nada, porque viciam, corrompem os interesses intrínsecos

em trabalhar.

No relatório do Government Accountability Office (GAO) em 2007 as

críticas não foram menos contundentes, indicando que 81% das pessoas

acreditavam que moralmente estavam piores que antes e que houve sindicalização

excessiva como resultado. Em outro programa, Senior Executive Service, constatou

que não houve impacto no desempenho, afetou negativamente a motivação e o

moral, antecipou aposentadorias e desencorajou as gerências de nível médio a

adotar o programa.

Na contramão destes relatos e apresentando pontos positivos, o relatório

do National Institute of Standards constatou que o programa deles contribuiu para

eficiência dos altos talentos, reteve os melhores talentos e expandiu a autoridade

dos gerentes para contratar e decidir sobre remuneração.

No geral, pesquisadores não acusam os programas de não funcionarem

sob determinadas circunstâncias, mas que a condição ideal para que funcionem

raramente é encontrada na realidade empírica.

Christopher Hood (2006) realizou um estudo comparando os programas

de remuneração baseado em desempenho no Reino Unido com o sistema de metas

utilizados na antiga União Soviética e em outros países socialistas. Para ele, este

sistema leva ao que chamou de gaming, que é o uso de artifícios pelos servidores

públicos para atingir as metas estabelecidas com dados e informações que, na

realidade, estão superavaliados.

7

O autor constata que as práticas empregadas pelos órgãos britânicos nos

programas lançados pelo primeiro ministro inglês Tony Blair em 2001 eram as

mesmas utilizadas pelos órgãos soviéticos, especialmente na era Brezhnev (1964-

1982). As distorções nas avaliações das metas atingidas foram permeando o

sistema até sua ruina completa.

Hood identifica alguns antídotos para combater o gaming no modelo de

remuneração por desempenho: adotar as regras rígidas; utilizar dados precisos;

detalhar as metas, realizar auditorias, punir também aqueles que são complacentes

com a indisciplina e o erro.

Weibel et al. (2009) oferece uma contribuição apresentando uma

pesquisa utilizando uma amostra de 46 estudos, nos quais buscou identificar se os

incentivos financeiros são relacionados ao desempenho.

O estudo ajuda a explicar o sucesso modesto de remuneração para o

desempenho do setor público, por cinco razões. Em primeiro lugar, parece que no

setor público elevar a motivação é uma dificuldade. Assim, a remuneração por

desempenho pode potencialmente criar um efeito de crowding-out forte (apropriação

da premiação pelo servidor como um direito permanente, assemelhando-a a

remuneração fixa). Em segundo lugar, o financiamento público é claramente mais

limitado do que o financiamento do setor privado. Em terceiro lugar, remuneração

por desempenho pode reduzir os investimentos em capacitação e na seleção de

servidores contratados. Em quarto lugar, o problema do servidor executar tarefas

múltiplas pode representar uma dificuldade adicional para o pagamento por

desempenho no setor público. O pagamento por desempenho exige medição precisa

do desempenho e conhecimento prévio pelo servidor da sua atribuição para que o

esforço individual seja eficaz, no entanto, as instituições de públicas muitas vezes

têm de entregar produtos e serviços complexos, tais como ''boa saúde'' ou ''boa

educação''. Em quinto lugar, do ponto de vista político-econômico, a aplicação de

recompensas por desempenho também traz o risco de manipulação política.

Hasnain, Manning e Pierskalla (2012) fizeram uma revisão teórica e

buscaram evidências dos efeitos do pagamento associado ao desempenho, assim

considerada qualquer forma compensação na qual a remuneração final de um

empregado é função de alguma forma de avaliação do desempenho.

Nos estudos avaliados o desempenho poderia ser obtido por meio de

avaliações qualitativas ou medidas quantitativas dos inputs (alocação de esforços,

8

comparecimento ao trabalho, contribuição voluntária no ambiente de trabalho e

aquisição de novas habilidades/conhecimentos); outputs (conclusão de

compromisso pré-acordado ou número de clientes/casos atendidos); ou outcomes

(teste de avaliação de estudantes, avaliação dos clientes, taxa de utilização dos

serviços ou criação de receita).

Os pesquisadores identificaram 153 estudos relacionados ao tema que

objetivaram de alguma forma aferir os resultados obtidos. Em 93 deles foram

encontrados efeitos positivos diversos, outros 37 foram considerados neutros e

apenas 23 constataram efeitos negativos. Do total inicial foram selecionados 110,

que avaliavam atividades semelhantes ao do setor público, caracterizadas por ser

trabalhos complexos e de resultados difíceis de serem observados.

No estudo constatou-se que o efeito positivo nos considerados craft jobs

(serviços que dependem de habilidades pessoais, mas os resultados são similares

para qualquer indivíduos ou grupos, p.e. professor, médico, auditor) é significante,

enquanto nos coping jobs (serviços que dependem de habilidades pessoais, mas os

resultados não são comparáveis entre indivíduos ou grupos, p.e. gerentes,

executivos) é muito menor.

Os autores chamam a atenção pela falta de estudos que avaliam os

efeitos de longo prazo. A maioria realiza conclusões pontuais, podendo ser

modificadas no tempo na medida em que o programa se tornar mais familiar para os

participantes, inclusive por comportamentos negativos (p.e. gaming).

Assis (2012) realizou estudo na Secretaria de Segurança Pública do

Estado de Minas Gerais em busca dos efeitos do PRV nas estruturas da Policia

Civil, Militar e Corpo de Bombeiros.

Os resultados foram distintos para cada instituição avaliada. Na Polícia

Civil notou-se que houve um importante aumento de produtividade, que auxiliou a

esvaziar as prateleiras de inquéritos antigos. Entretanto, não houve um processo

de comunicação sobre o propósito das metas, e a ausência de um líder com

legitimidade para traduzir e articular o modelo com os objetivos organizacionais

cooperou para que alguns gestores intermediários cobrassem resultados a

qualquer preço. Esse tipo de cobrança contribuiu para a queda na qualidade dos

inquéritos.

9

Na Policia Militar ficou constatado que o acordo contribuiu para que a

noção de resultado e metas fosse mais difundida, especialmente no interior do

Estado.

O efeito mais positivo foi notado no Corpo de Bombeiros. Os dois

indicadores pactuados provocaram uma série de mudanças nos processos

organizacionais e geraram efeitos concretos de melhoria para os cidadãos.

Oshiro & Scorzafave (2011) propuseram medir o impacto do PRV

implantado em 2008 pelo governo de São Paulo na Secretaria de Educação sobre a

proficiência dos alunos das escolas estaduais paulistas.

Para avaliar o programa os autores compararam o resultado dos alunos

antes da implantação do programa com o resultado posterior. Para isto foram

utilizados os dados da Prova Brasil edição 2007 e 2009. O grupo de tratamento foi

as escolas estaduais paulistas e o grupo de controle foi as escolas dos demais

estados e as escolas municipais paulistas. A variável de interesse foi a proficiência

em matemática e português dos alunos da quarta e oitava séries apuradas na Prova

Brasil.

Os resultados notados foram positivos apenas para a 4ª série. O efeito

estimado em matemática foi cerca de 6,4 pontos na escala SAEB (de 0 a 500) e em

português foi de 3,7 pontos. Com relação à oitava série os coeficientes de interesse

não foram significativos estatisticamente tanto em matemática quanto em português.

Pode-se notar pelos estudos analisados que as avaliações qualitativas

dos PRV tendem a identificar pontos positivos com razoável facilidade. Porém, as

avaliações quantitativas tendem a encontrar resultados mais modestos, quando não

negativos. Neste ponto, recupera-se o que diz Marsden (2009) de que a forma de

avaliar pode não estar medindo adequadamente o desempenho do servidor e que a

presente pesquisa pretende ajudar a elucidar.

4 O PROGRAMA PAULISTA DOS BÔNUS NA EDUCAÇÃO

O programa testado neste estudo foi o programa paulista de bônus na

educação. As regras do sistema de remuneração foram lançadas pelo Programa de

Qualidade da Escola (PQE) em maio de 2008.

10

Em março de 2009, o governo estadual remunerou cerca de 200 mil

servidores baseado em resultados de 2008.

A Secretaria de Educação do Estado de São Paulo estipula metas para a

série final de cada ciclo de ensino - quarta série (quinto ano) e oitava série (nono

ano) do ensino fundamental e terceiro ano do ensino médio - da escola e remunera

todos os professores do ciclo avaliado e os demais funcionários, ou seja, o incentivo

é dado ao grupo pertencente à escola avaliada.

As metas são estabelecidas com base no Índice de Desenvolvimento da

Educação do Estado de São Paulo (IDESP) para cada etapa escolar, que por sua

vez, é composto por dois outros índices:

No qual ID é o índice de Desempenho e IF é o índice de Fluxo. O ID é

baseado nas notas do SARESP, exame de avaliação externa paulista. O exame

avalia a proficiência dos alunos de acordo com as exigências do Sistema Nacional

de Avaliação da Educação Básica, que define o aprendizado desejado para o aluno

no final de cada ciclo. Para o pagamento de bônus, considera-se apenas a

proficiência em Matemática e Português.

O ID para cada disciplina (j) e para cada etapa de escolarização (s) é

dado por:

Na fórmula, def é um indicador que mede a defasagem em relação às

expectativas de aprendizado.

Em que AB, B, Ad e Av representam respectivamente a proporção de

alunos nos níveis abaixo do básico, básico, adequado e avançado em relação ao

total de alunos avaliados.

O indicador de Fluxo (IF) é dado pela taxa média de aprovação em cada

etapa de escolarização e é dado por:

11

Em que A é a taxa de aprovação na série i e n é o número de séries2 da

etapa de escolarização considerada.

A partir dos dados do IDESP calcula-se a parcela que a escola cumpriu

da meta. O Índice de Cumprimento (IC) em determinado ano (t) para cada etapa

escolar (s) é dado pela seguinte fórmula:

O IC é limitado no intervalo de 0% a 120%. Para valores negativos,

considera-se o piso (zero). Para valores superiores a 120%, considera-se o

cumprimento de 120%.

Um adicional por qualidade passou a ser considerado a partir de 2009.

Este índice reflete a posição da escola em relação à média das outras escolas

(IDESP global) e à sua meta de longo prazo (META 2030). O Índice de Qualidade

(IQ) do ano t para a série s é calculado pela seguinte fórmula:

Para efeito de pagamento, considera-se o indicador (IQ+IC), que está

limitado entre 0 e 120%.

As metas de longo prazo do IDESP para cada série são iguais para todas

as escolas e foram estabelecidas levando-se em consideração níveis de

aprendizado comparáveis aos de países da Organização para a Cooperação e o

Desenvolvimento Econômico (OCDE). As metas para 2030 para quarta e oitava

séries do fundamental são, respectivamente, 7,0 e 6,0.

2 Atualmente, com o ensino fundamental de nove anos, n é igual a 5 para as séries iniciais do EF e 4

para as séries finais

12

Com relação ao pagamento do bônus, o valor varia de acordo com a

parcela da meta cumprida e é feito a professores do ciclo que cumpriu a meta e para

funcionários com nível de absenteísmo abaixo de 1/3. Em escolas que cumprem

100% da meta, por exemplo, os funcionários recebem o equivalente a 2,4 salários.

Em escolas que superam a meta prevista, o bônus pode chegar a 2,9 salários.

Escolas que não cumprem as metas, mas que nos dois anos anteriores foram

classificadas entre as 10% melhores, também recebem uma remuneração. Este

seria um incentivo para escolas boas, cujas metas são difíceis de cumprir, pois as

notas já estão num patamar elevado.

5 METODOLOGIA

Para averiguar o efeito do programa de remuneração variável (bônus)

adotado na Secretaria de Educação do Estado de São Paulo para os diretores e

professores da rede estadual a partir de 2008 deveríamos comparar o desempenho

em duas situações, com e sem a presença do programa. Porém, como o programa é

aplicado a todos os servidores da educação estadual indistintamente, não é possível

observar as duas situações ao mesmo tempo.

Angrist & Pischke (2009) sugerem como alternativa encontrar grupos com

características semelhantes e que não tenham participado deste programa e de

nenhum outro programa de remuneração variável. Desta forma pode-se utilizar o

grupo que participou do programa (grupo de tratamento) e outro que não participou

(grupo de controle), considerando as características observáveis. Seguindo esta

recomendação, o grupo de controle poderá ser os diretores e professores das

escolas estaduais nos demais Estados brasileiros que não adotaram programa de

remuneração variável.

Para identificar o grupo de controle foi realizado pesquisa em todas as

Secretarias de Educação dos demais 25 estados brasileiros e mais no Distrito

Federal, excluindo aqueles que adotaram programa de remuneração variável.

Como resultado, representantes de 19 Estados responderam que não

adotam PRV. Nos Estados do Acre, Piauí e Paraíba não foi possível confirmar se há

ou não PRV, dado que os respondentes não souberam informar com precisão.

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Serão considerados como se tivessem e, desta forma, não farão parte do grupo de

controle. Os três Estados juntos representam aproximadamente 5% do total de

alunos, professores e diretores. Tais exclusões não comprometem o resultado da

pesquisa.

Nos Estados do Amazonas, Pernambuco, Minas Gerais e Espirito Santo

foram encontrados programas de remuneração variável associados ao desempenho

do servidor. No total 7 Estados foram excluídos do grupo de controle. Os Estados

que informaram ter programa (ex. Goiás), mas que não eram associados ao

desempenho e que caracterizava um mero complemento de salário, foram mantidos

como parte do grupo de controle.

Uma vez definido quais serão os grupos de tratamento e controle, há de

serem eliminados os efeitos das características não observáveis e que não variam

no tempo. Segundo Angrist & Pischke (2009), pode-se eliminar tais efeitos utilizando

um estimador de Diferenças em Diferenças (DD) e comparando o resultado de antes

e depois do tratamento. O método DD consiste na comparação da diferença dos

resultados (Y) do grupo de tratamento e controle ao longo do tempo (diferença no

tempo). Será considerado como o resultado antes da adoção do programa e o

resultado depois do programa. Neste caso o DD identifica o efeito da intervenção

sobre o resultado de interesse Y, que pode ser assim escrito:

(8)

O status tratamento de um servidor i será dado por meio de uma variável

binária D que assume o valor 1 quando participa do programa e 0 se não participa.

O valor da variável de interesse para o indivíduo i será caso ele seja submetido

ao tratamento e caso contrário. O efeito do tratamento para o indivíduo i ( ) é

dado por . No entanto o contrafactual de um indivíduo não tratado

não é observável, dado que o mesmo indivíduo não tem como

estar no grupo de tratamento e controle simultaneamente.

Para que seja possível calcular o estimador de DD é necessário admitir a

hipótese de tendência comum que é dada por:

.

14

Neste caso o impacto médio é dado por:

(10)

Desta forma o DD pode ser escrito como a diferença do ATT (average

treatment effect on treated) antes de depois da adoção do programa por:

(11)

ou

(12)

Assim o estimador DD poderá ser calculado pelo método de Mínimos

Quadrados Ordinários (MQO) a partir do seguinte modelo:

(13)

Onde:

, se recebeu o tratamento e 0 caso contrário;

, depois do tratamento e 0 se antes;

Ajustando o modelo ao contexto do presente trabalho, o desempenho do

indivíduo i no estado s e no período t pode ser apresentado da seguinte forma:

15

Onde:

, se é diretor, professor ou aluno de uma escola estadual

paulista (ou seja, se recebeu tratamento) e 0 caso contrário;

, se é referente a 2009 ou a 2011 (depois do programa) e 0 se é

referente a 2007 (antes do programa).

O é estimado pela interação entre o indivíduo i (diretor, professor ou

aluno) de uma escola estadual e o ano, representando o impacto sobre o

desempenho dos tratados. É a variável de interesse;

é o vetor de covariáveis

é o resíduo da regressão

6 DADOS

Os bônus pagos aos servidores paulistas estão associados ao

desempenho no Saresp, conforme detalhado anteriormente neste trabalho, porém,

esta avaliação é restrita ao Estado de São Paulo, impedindo com isto que possam

utilizar outros Estados como contrafactual. Esta carência pode ser suprida pelo

Sistema de Avaliação da Educação Básica – Saeb/Prova Brasil, que teve aplicação

antes e depois da implantação do programa paulista.

O Saeb/Prova Brasil é uma avaliação externa em larga escala aplicada de

forma censitária, a cada dois anos, pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais Anísio Teixeira – INEP.

A metodologia do Saeb/Prova Brasil baseia-se na aplicação de testes

padronizados de Língua Portuguesa e Matemática e Questionários

Socioeconômicos a estudantes de todas as turmas de 4ª e 8ª séries do ensino

fundamental regular (em regime de 8 anos) e de 5º e 9º anos (em regime de 9 anos)

de escolas públicas, desde que possuíssem pelo menos 20 alunos nas séries e anos

avaliados. Além dos estudantes, diretores e professores também respondem a

Questionários Socioeconômicos.

16

No formato revisado em 2005, o Saeb realizou três edições, em 2007,

2009 e 2011. Nessa última edição foram avaliados 4.286.276 estudantes,

matriculados em 56.222 escolas distribuídas em todo território nacional.

A aplicação dos questionários visou ao levantamento não apenas de

informações sobre o desempenho dos alunos, como também sobre as condições

intra e extraescolares que incidem sobre o processo de ensino e aprendizagem.

Para isso, preencheram os questionários, além dos próprios alunos que

responderam as provas, os seus professores de língua portuguesa e matemática e

os diretores de suas unidades escolares.

Os questionários aplicados aos diretores e professores levantaram dados

sobre a caracterização sociodemográfica de seus respondentes, sua formação e

experiência profissional, as condições de trabalho em que se desenvolve o ambiente

escolar, as práticas pedagógicas e de gestão que vêm sendo adotadas. A

participação em políticas, programas e projetos governamentais também foi avaliada

pelos questionários aplicados a esses profissionais.

Os questionários dos alunos permitiram levantar dados sobre o seu perfil,

nível de renda e estrutura familiar, bem como seus hábitos de leitura, sua trajetória

escolar, as práticas escolares e cotidianas e suas expectativas quanto à

continuidade dos estudos.

A escala de desempenho em Matemática e Língua Portuguesa é medida

de 0 a 500.

Com base nas características apresentadas da Prova Brasil, considera-se

que a mesma possui dados e informações suficientes para que se possa realizar os

testes necessários para identificar os efeitos no desempenho dos diretores,

professores e alunos da rede escolar estadual paulista do PRV implantado em 2008.

7 TESTES

Para a análise do impacto do programa paulista, que foi implantado em

dezembro de 2008, serão utilizados os dados da Prova Brasil aplicada nos anos de

2007 (antes da implantação do programa) e de 2009 e 2011 (depois da implantação)

17

aos alunos da 4ª e 8ª série (em regime de 8 anos) e de 5º e 9º anos (em regime de 9

anos) de escolas públicas, equivalente ao final de cada ciclo do ensino fundamental.

Serão também utilizados os dados dos questionários aplicados aos diretores e

professores, bem como o aplicado aos alunos de ambas as séries. Os questionários

são distintos para cada grupo avaliado.

Será testado o desempenho dos diretores de escola, professores e alunos

antes e depois do programa de bonificação da Secretaria de Educação do Estado de

São Paulo.

O desempenho do diretor será analisado pela adoção de práticas

gerenciais que podem beneficiar tanto o desempenho do professor quanto do aluno.

O desempenho do professor será avaliado pelo emprego de um conjunto de práticas

pedagógicas que podem beneficiar o aprendizado do aluno, enquanto o

desempenho dos alunos será analisado tendo como variável de interesse a nota em

português e matemática nas respectivas séries.

Os questionários aplicados ao diretor da escola e professor serão

utilizados para identificar práticas pedagógicas/gerenciais. O mesmo também será

feito com os alunos das respectivas séries para identificar características

socioeconômicas e práticas de estudo.

Desta forma, será possível avaliar o efeito do programa sobre o diretor da

escola, professor e aluno, controlando as variáveis observáveis que podem afetar o

desempenho destes grupos.

A análise do diretor será feita de forma independente, porém no teste do

professor será controlado o efeito do diretor e no teste do aluno será controlado o

efeito do diretor e professor.

7.1 Testes do efeito do programa sobre o desempenho do diretor

O desempenho do diretor será mensurado por um algoritmo construído

com base no questionário que lhe foi aplicado, utilizando questões que meçam as

práticas gerenciais direcionadas para melhora pedagógica empregadas na escola.

Para compor o algoritmo de atividades do diretor foram selecionadas as

seguintes questões relacionadas às práticas gerenciais:

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Questão 22 – Se promoveu alguma atividade de formação continuada

na escola – Resposta A=Sim ou B=Não, transformada em: A = 2; B = 1;

Questão 24 – Neste ano, quantas vezes o conselho de escola se

reuniu? Respostas de A a E, transformada em: A = 3; B = 4; C = 5; D =

2; E = 1;

Questão 29 – Neste ano, quantas vezes se reuniram os conselhos de

classe? Respostas de A a E, transformada em: A = 3; B = 4; C = 5; D =

2; E = 1;

Questão 30 – Se há projeto pedagógico da escola, como foi elaborado

e por quem – Respostas de A a H, transformada em: A = 2; Respostas

B,C,D,E,F= 3; Respostas G,H=1.

Para as questões 24 e 29 os valores imputados obedeceram a ordem de

relevância dentro do contexto pedagógico da escola, quanto mais vezes o evento

acontece, melhor.

Na questão 30 foi adotado maior valor (3) para as resposta que indicam

ser o projeto pedagógico elaborado pelo diretor e professores, tanto com

participação recíproca ou não. O valor intermediário (2) foi adotado para a alternativa

que indica ser o projeto pedagógico da escola o mesmo que foi encaminhado pela

Secretaria de Educação. Considera-se que o projeto discutido internamente tenha

mais aderência a realidade da escola do que os modelos pré-fabricados em

gabinetes. Por fim, adotou-se o menor valor (1) para as respostas que denotam

desconhecimento do diretor sobre como foi elaborado o projeto pedagógico ou se

ele não existe.

Na análise das questões notou-se que há predominância de respostas na

alternativa que indica que a maioria dos diretores adotam boas práticas gerenciais e

pedagógicas, mas ainda distante do ponto ideal.

O algoritmo será a variável dependente, sendo obtido pelo somatório das

respostas das quatro questões apresentadas. A estatística descritiva se apresenta

da seguinte forma:

Variável Observações Média Desvio Padrão Mínimo Máximo

Algoritmo 14.719 13,5431 1,9446 4 15

19

Variável Observações Média Desvio Padrão Mínimo Máximo

Diretor

Definido a composição da variável dependente (algoritmo), que avalia o

desempenho do diretor, o próximo passo é definir o estimador Diferenças em

Diferenças (DD). O mesmo será calculado pelo método dos Mínimos Quadrados

Ordinários (MQO) a partir da equação (14) apresentada na seção da metodologia

deste trabalho.

A análise comparativa dos dados da Prova Brasil dos diretores paulistas e

dos demais estados indicam que os paulistas possuem mais idade que dos demais

estados participantes da pesquisa, são mais graduados, porém menos pós-

graduados. Tem participado com maior frequência das atividades de formação

continuada e tem salário é superior. Mesmo com salário superior, os diretores

paulistas exercem outra atividade que contribui com a renda pessoal com maior

frequência. Os professores ligados à escola do diretor possuem proporção menor de

vínculo estável com a escola. Também se pode notar que os paulistas têm maior

experiência na função.

A diferença mais significativa dentre as covariáveis está nas atividades de

apoio ou reforço de aprendizagem para os alunos. Enquanto apenas 65,6% dos

diretores dos demais estados desenvolvem algum programa para isto, 97,5% dos

paulistas o fazem.

De modo geral, os dados apresentados demonstram que diretores

paulistas possuem características que melhor favorecem a promoção de ensino de

qualidade.

7.2 Resultados nos diretores

A variável de interesse é o resultado da interação de Ano com o Estado.

O coeficiente desta variável indica o efeito nos indivíduos tratados, ou seja, diretor

participante do programa de remuneração variável das escolas estaduais paulista.

Dado a quantidade de variáveis de controle, a tabela a seguir indica

apenas se foi controlada neste experimento.

20

Tabela 7.2.1 – Variáveis controladas dos diretores

Variáveis Controladas

Sexo

Idade

Cor

Ensino Superior

Pós-graduação

Atividade Formação Continuada

Salário

Renda Familiar

Salário/Renda Familiar

Exerce outra atividade que contribui para renda pessoal

Tempo como diretor

Tempo como diretor na escola

Carga horária na escola

Salário/ Carga horária

% professores com vínculo estável na escola

Desenvolve programa regular de apoio de aprendizagem

Participação na escolha do livro didático

21

Tabela 7.2.2 - Coeficientes estimados - Diretores 2009 e 2011

Variáveis 2009 2011

Ano*Estado 0.038* -0.213**

(0.055) (0.053)

Ano 0.189** -0.415**

(0.035) (0.041)

Estado 0.681** 0.720**

(0.039) (0.037)

Constante 10.033** 8.995**

(0.359) (0.318)

No Observações 21.238 20.744

R2 0.1609 0.1627

(1) Erro padrão entre parênteses (2) ***p<0,01; **p<0,05; *p<0,1 Fonte: elaboração do autor

O resultado apresentado indica efeito de 0,038 (significante ao nível de

10%) no desempenho do diretor de escola estadual paulista em 2009, enquanto em

2011 o efeito foi negativo em -0,213 pontos (0,053 desvio padrão). Demonstra

também que houve declínio no desempenho em 2011

7.3 Testes do efeito do programa sobre o desempenho do professor

Dado que o professor não possui avaliação específica, para identificar seu

desempenho, propõe-se também a construção de algoritmos baseados no

questionário aplicado utilizando questões que avaliem a dedicação nos aspectos

pedagógicos e no conteúdo ministrado pelo docente no ensino de português e

matemática, na 4ª e na 8ª série. Desta forma serão construídos quatro algoritmos

dos professores: português 4ª série, matemática 4ª série, português 8ª série e

matemática 8ª série.

A criação de algoritmos distintos se justifica porque os professores da 4ª e

da 8ª série, não importando se de português ou matemática, são, quase sempre,

pessoas distintas. Esta diferenciação é menos intensa na 4ª série, na qual é mais

22

comum o mesmo professor ministrar as duas disciplinas, porém a base de dados

comprova que há diferenças.

As informações podem ser extraídas do questionário do professor. No que

se refere às técnicas pedagógicas, foram identificados dois grupos de questões,

sendo um relacionado com o ensino de português, com nove questões, e outro com

a matemática, com dez questões. A tabela seguinte apresenta as questões, sendo

que as respostas poderiam ser:

(A) Semanalmente

(B) Algumas vezes por mês

(C) Uma vez por mês

(D) Uma vez por bimestre

(E) Nunca

a) Sobre a prova de português (questões extraídas do questionário do professor):

AS ATIVIDADES (DE LÍNGUA PORTUGUESA) QUE VOCÊ REALIZA COM OS

ALUNOS DA(S) SÉRIE(S) AVALIADA(S) TÊM POSSIBILITADO AOS ALUNOS

(Marque apenas UMA opção em cada linha.)

Metodologia de ensino em português

24. copiar textos extensos do livro didático ou do quadro de giz (quadro-negro ou lousa).

25. conversar sobre textos de jornais e revistas.

26. fazer exercícios sobre gramática relacionados com textos de jornais ou revistas.

27. ler, discutir com colegas e escrever textos relacionados com o desenvolvimento de projeto temático.

28. ler contos, crônicas, poesias ou romances.

29. conversar sobre contos, crônicas, poesias ou romances.

30. usar contos, crônicas, poesias ou romances para exercitar aspectos da gramática.

31. fixar os nomes de conceitos gramaticais e linguísticos.

32. discutir um texto, explorando as diferenças entre fatos e opiniões.

Na análise das respostas notou-se que há predominância da alternativa

A, que é a tendência esperada, indicada por aproximadamente 50% dos

professores. Mesmo assim, a distribuição demonstra que há condições de

mobilidade dos professores nas próximas avaliações em busca de uma situação

ideal, que seria a concentração de 100% na alternativa A. Desta forma, a

23

composição dos algoritmos baseados nestas questões indica ser adequada para

avaliar o desempenho do professor de português, tanto da 4ª quanto da 8ª série.

b) Sobre a prova de matemática (questões extraídas do questionário do professor):

AS ATIVIDADES (DE MATEMÁTICA) QUE VOCÊ REALIZA COM OS ALUNOS

DA(S) SÉRIE(S) AVALIADA(S) TÊM POSSIBILITADO AOS ALUNOS (Marque

apenas UMA opção em cada linha.)

Metodologia de ensino em matemática

28. fazer exercícios para automatizar procedimentos.

29. lidar com problemas que exigem raciocínios diferentes e mais complexos que a maioria dos exemplos usuais.

30. falar sobre suas soluções, discutindo os caminhos usados para encontrá-las.

31. gravar as regras que permitem obter as respostas certas dos cálculos e problemas.

32. lidar com temas que aparecem em jornais e/ou revistas, discutindo a relação dos temas com a Matemática.

33. interpretar resultados numéricos obtidos para dar uma resposta adequada ao problema.

34. lidar com situações que lhes sejam familiares e que apresentem temas do interesse dos alunos.

35. experimentar diferentes modos de resolver um problema ou de efetuar um cálculo.

36. aprimorar a precisão e a velocidade de execução de cálculos.

37. experimentar diferentes ações (coletar informações recortar, analisar, explorar, discutir, manipular etc.) para resolver problemas.

Novamente se notou a predominância das respostas na alternativa A,

indicada por aproximadamente 60% dos professores. Seguindo o mesmo

entendimento das questões de português, a distribuição das respostas demonstra

que condições de mobilidade do professores nas próximas avaliações em busca de

uma situação ideal, que seria a concentração de 100% na alternativa A. Desta

forma, a composição dos algoritmos baseados nestas questões indica ser adequada

para avaliar o desempenho do professor de matemática, tanto da 4ª quanto da 8ª

série.

Cada alternativa de resposta em ambas tabelas varia de A a E recebeu

arbitrariamente valor numérico entre 1 e 5. A imputação dos valores obedeceu à

frequência com que cada atividade é empregada, que varia de Semanalmente até

24

Nunca. Ao primeiro foi dado valor 5 e ao último valor 1, distribuindo harmonicamente

os valores intermediários nas demais alternativas. Com este constructo premiam-se

com maior valor as atividades pedagógicas adotadas com maior frequência.

Desta forma, as questões de 24 a 43 obedeceram a seguinte

transformação: A = 5; B = 4; C = 3; D = 2; E = 1

No que se refere ao conteúdo ministrado, a questão 55 do questionário de

2007 será utilizada como componente do algoritmo da variável de interesse e se

apresenta da seguinte forma:

Conteúdo ministrado em português ou matemática

55. quanto dos conteúdos previstos você conseguiu desenvolver com os alunos da(s) turma(s) avaliada(s), neste ano?

Menos de

40%.

(A)

Entre

40% e

60%.

(B)

Entre

60% e

80%.

(C)

Mais de

80%.

(D)

Para esta questão, que não se refere à técnica pedagógica, mas sim ao

quanto percentualmente do conteúdo pedagógico foi dado em sala, teve-se que

readaptar a escala de ordem decrescente para a crescente, variando de Menos de

40% até Mais de 80%, nesta ordem, considerando que quanto mais conteúdo foi

repassado, melhor para o aluno. A transformação se apresenta assim: A = 1; B = 2;

C = 3; D = 4

Os algoritmos elaborados com base no exposto anteriormente serão a

média aritmética por escola do somatório das respostas dos professores nos quatro

segmentos apresentados; português 4ª e 8ª série e matemática 4ª e 8ª série. A

média agrupará o resultado dos professores por escola, sendo esta a unidade

utilizada nesta pesquisa, mantendo-se coerente com o Índice de Desenvolvimento

da Educação do Estado de São Paulo (IDESP) apurado por escola, que é utilizado

para pagamento do PRV paulista.

Os algoritmos serão as variáveis dependentes de cada uma das quatro

classificações de professores. A estatística descritiva se apresenta da seguinte

forma:

25

Algoritmo Observações Média Desvio Padrão

Mínimo Máximo

Professor 4ª série Português

23.790 40,8892 4,2705 11 49

Professor 8ª série Português

29.000 37,8987 5,6640 10 49

Professor 4ª série Matemática

24.046 48,1038 4,2138 12 54

Professor 8ª série Matemática

29.569 46,3417 5,2996 11 54

Dado que a maioria dos professores respondeu a alternativa A que indica

como sendo a melhor prática pedagógica pelo conceito adotado neste trabalho e

que tem o maior peso entre elas, os algoritmos dentro ou próximo do quartil mais

elevado, conforme pode ser observado nos histogramas seguintes:

26

Este mesmo procedimento foi realizado com os dados de 2009 e 2011

gerando estatísticas semelhantes.

A análise comparativa dos dados da Prova Brasil do perfil dos professores

paulistas com os professores dos demais estados indica que os paulistas são mais

graduados, porém menos pós-graduados que dos demais estados participantes da

pesquisa e tem salário superior. Também são menos estáveis nas escolas e

trabalham menos horas na sua escola, porém mais horas por semana, distribuídas

entre outra escola e outra atividade diferente de professor. As diferenças notadas

não são suficientes para demonstrar que há vantagens expressivas entre o perfil do

professor paulista e os demais estados.

7.4 Resultados dos professores

A variável dependente são os algoritmos dos professores das séries e

disciplinas avaliadas, enquanto a variável de interesse será o resultado da interação

de Ano com o Estado. Esta última busca identificar se houve efeito no professor de

escola paulista, comparando-o com os professores das escolas dos demais Estados

que não adotaram PRV, tanto no ano de 2009 quanto em 2011 (após a adoção do

PRV em 2007). O coeficiente desta variável indica o efeito nos indivíduos tratados,

ou seja, da escola do professor participante do programa de remuneração variável

das escolas estaduais paulista.

Dado a quantidade de variáveis de controle, a tabela a seguir indica

apenas se foi controlada neste experimento.

27

Tabela 7.4.1 – Variáveis controladas dos professores

Variáveis Controladas

Sexo

Idade

Cor

Ensino Superior

Pós-graduação

Atividade Formação Continuada

Salário nesta escola

Exerce outra atividade que contribui para renda

pessoal

Salário nesta escola / Salário Bruto como professor

Salário Bruto como professor

Tempo como professor

Tempo como professor na mesma escola

Tempo que ministra aula para a séria avaliada

Carga horária na escola

Salário nesta escola / Carga horária na escola

Quantidade escolas em que trabalha

Quantidade horas-aula dada por semana

28

Tabela 7.4.2 - Coeficientes estimados - Professores 2009 e 2011

Variável

dependente:

Desempenho do

Professor

Português 4a

Série

Matemática 4a

Série

Português 8a

Série

Matemática 8a

Série

2009 2011 2009 2011 2009 2011 2009 2011

Ano*Estado 0.748** 0.351** 0.526** 0.356** -1.641** -0.644** -0.993** -1.097**

(0.184) (0.188) (0.189) (0.180) (0.290) (0.214) (0.260) (0.182)

Ano 1.710** 1.941** 0.324** 1.245** -3.486** 0.188** -2.462** 1.615**

(0.121) (0.137) (0.124) (0.131) (0.166) (0.138) (0.152) (0.119)

Estado 0.425** 0.305** -0.412** -0.482** 2.059** 1.462** 1.360** 1.220**

(0.139) (0.135) (0.141) (0.130) (0.223) (0.164) (0.196) (0.144)

Desempenho do

Diretor 0.079** 0.119** 0.114** 0.130** -0.011* 0.088** 0.117** 0.064**

(0.022) (0.022) (0.023) (0.022) (0.039) (0.029) (0.035) (0.025)

Constante 41.103** 39.534** 45.377** 44.946** 35.428** 35.546** 42.168** 44.217**

(0.625) (0.592) (0.641) (0.575) (1.014) (0.741) (0.881) (0.616)

No Observações 9.974 9.979 9.867 10.047 15.818 16.364 15.893 18.581

R2 0.0879 0.0725 0.0279 0.0462 0.1079 0.0515 0.0501 0.0290

(1) Erro padrão entre parênteses (2) ***p<0,01; **p<0,05; *p<0,1 Fonte: elaboração do autor

Nota-se com base na tabela anterior que os coeficientes da variável de

interesse (Ano*Estado) são todos estatisticamente significativos a 95% de confiança.

O efeito é positivo para 4ª série tanto de português quanto em matemática. Porém,

para a 8ª série a situação se inverte, com coeficientes negativos para ambas as

disciplinas. Também é possível notar que o efeito é decrescente de 2009 para 2011

para todas as análises, exceto para Português 8ª série, que se torna menos

negativo.

O efeito do diretor também é estatisticamente significante, exceto para

português 8ª série em 2009, porém, o efeito é discreto em todas as análises.

29

7.5 Testes do efeito do programa sobre o desempenho do aluno

A avaliação do efeito do programa sobre o aluno não é propriamente o

objeto de interesse direto desta pesquisa, porém como a função do diretor e do

professor decorre da existência do aluno e o bom desempenho dos primeiros poderá

refletir no desempenho do aluno, torna-se necessário avaliar o efeito finalístico do

desempenho dos diretores e professores na nota do aluno. Para avaliar o

desempenho do aluno da rede estadual paulista a variável de interesse será a

proficiência em Português e Matemática dos alunos da 4ª e 8ª série apurada pela

Prova Brasil nos anos de 2007, 2009 e 2011.

Será avaliado o efeito em português e em matemática separadamente

nas respectivas séries.

Na análise comparativa do perfil dos alunos paulistas com os demais

estados, as variações mais significativas são notadas na idade escolar adequada

nas respectivas séries, nas quais os alunos paulista estão mais próximos, enquanto

o Brasil se mostra mais tardio. Também pode ser notado que os paulistas moram em

casas com menos quartos, entraram na escola na pré-escola com maior frequência.

Uma diferença significativa está na questão da reprovação em que os paulistas tem

aproximadamente 20 pontos percentuais a menos do que os alunos do Brasil.

7.6 Resultados dos alunos

A variável dependente será a nota do aluno das séries e disciplina

avaliada de acordo com a escala SAEB (0 a 500), enquanto a variável de interesse

será o resultado da interação de Ano com o Estado. Esta última busca identificar se

houve efeito no aluno de escola paulista, comparando-o com os alunos das escolas

dos demais Estados que não adotaram PRV, tanto no ano de 2009 quanto em 2011

(após a adoção do PRV em 2007). O coeficiente desta variável indica o efeito nos

indivíduos tratados, ou seja, aluno da escola do diretor e professor participante do

programa de remuneração variável das escolas estaduais paulista.

Será apurado o efeito no aluno controlando o desempenho do diretor e

professor. Com isto será obtido o efeito no aluno sem que o desempenho do seu

superior influencie se resultado.

30

Dado a quantidade de variáveis de controle, a tabela a seguir indica

apenas se foi controlada neste experimento.

Tabela 7.6.1 – Variáveis controladas dos alunos

Variáveis Controladas

Sexo

Cor

Idade

Tem computador em casa

Número de banheiros em casa

Número de quartos em casa

Número de pessoas com quem mora

Mora com a mãe

Escolaridade da mãe

Escolaridade do pai

Pais vão à reunião de pais

Pais incentivam a estudar

Pais incentivam a fazer o dever de casa

Pais incentivam a ler

Pais incentivam a não faltar à escola

Trabalho fora

Série que entrou na escola

Se já foi reprovado

31

Tabela 7.6.2 - Coeficientes estimados - Aluno 2009 e 2011

Variável

dependente:

Desempenho do

Professor

Português 4a Série

Matemática 4a

Série Português 8a Série Matemática 8a Série

2009 2011 2009 2011 2009 2011 2009 2011

Ano*Estado 3.413** -0.367* 8.341** 3.816** -1.453** 0.727** -0.173* -1.008**

(0.218) (0.219) (0.230) (0.229) (0.152) (0.149) (0.148) (0.146)

Ano 6.652** 13.234** 9.197** 13.916** 5.529** 14.550** -4.958** 10.200**

(0.153) (0.158) (0.159) (0.162) (0.123) (0.118) (0.119) (0.116)

Estado -2.960** -3.032** -2.587** -2.638** -0.855** -1.034** -3.587** -3.769**

(0.152) (0.152) (0.160) (0.158) (0.107) (0.106) (0.104) (0.104)

Desempenho do

Diretor 1.475** 1.341** 1.755** 1.599** 1.266** 0.875** 1.632** 1.207**

(0.032) (0.032) (0.034) (0.033) (0.025) (0.024) (0.024) (0.024)

Desempenho do

Professor 0.181** 0.082** 0.295** 0.268** -0.009* 0.011* 0.080** 0.202**

(0.018) (0.017) (0.018) (0.019) (0.007) (0.008) (0.007) (0.008)

Constante 113.88** 109.25** 117.04** 106.93** 210.53** 212.29** 216.58** 217.77**

(1.265) (1.288) (1.428) (1.455) (0.830) (0.860) (0.837) (0.884)

No Observações 516.255 524.748 514.473 525.754 1.239.824 1.257.018 1.237.631 1.270.426

R2 0.1817 0.2010 0.1736 0.1887 0.1551 0.1634 0.1318 0.1379

(1) Erro padrão entre parênteses (2) ***p<0,01; **p<0,05; *p<0,1 Fonte: elaboração do autor

Nota-se com base na tabela anterior que os coeficientes da variável de

interesse (Ano*Estado) são estatisticamente significativos a 95% de confiança,

exceto para alunos de português da 4ª série em 2011 e de matemática 8ª série em

2009. O efeito maior pode ser notado nos alunos de 4ª série em 2009, porém esse

efeito se mostra declinante para 2011. A única série avaliada com melhora de

desempenho a 8ª série em português. Todas as demais reduzem seu desempenho

em 2011.

32

O efeito do diretor também é estatisticamente significante a 95%, porém,

o efeito é discreto em todas as análises também se mostra declinante de 2009 para

2011.

O efeito do professor se mostra significante, exceto para os alunos de

português da 8ª série, porém o mesmo é modesto em influenciar o desempenho

dos alunos.

8 CONCLUSÕES

Dentro do contexto dos programas de remuneração variável, este trabalho

se propôs a investigar se o programa de bônus adotado na Secretaria de Educação

do Estado de São Paulo em 2008 tiveram impactos sobre o desempenho dos

diretores das escolas e professores, bem como sobre as notas dos alunos em

matemática e português.

Utilizando-se do método de Diferenças em Diferenças (DD) para eliminar

os efeitos fixos não observáveis, foi avaliado o desempenho de 2009 e 2011, após a

implantação do programa em 2008, com o desempenho de 2007, antes do

programa.

Os resultados demonstraram alinhados com a bibliografia consultada.

Para os diretores foram encontrados resultados não significantes a 95% em 2009 e

negativos em 2011 em -0,213 pontos. Nos professores os resultados em 2009 e

2011 foram positivos para português e matemática da 4ª série e negativos para 8ª

série.

Os resultados dos alunos apresentaram em linha com os professores,

sendo o melhor desempenho notado para alunos da 4ª série de matemática em

2009 com 8,341 pontos.

Exceto para o professor e aluno de português da 8ª série, todos os

demais demostraram piora no desempenho de 2009 para 2011.

33

9 REFERÊNCIAS

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35

___________________________________________________________________

AUTORIA

Silvio Campos Guimarães – Doutorando em Administração Pública da Fundação Getulio Vargas. Fundação Getulio Vargas – Escola de Administração de Empresas de São Paulo.

Endereço eletrônico: [email protected] Nelson Marconi – Professor do Departamento de Economia da Fundação Getulio Vargas. Fundação Getulio Vargas – Escola de Administração de Empresas de São Paulo.