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MINISTRIO DE MINAS E ENERGIA
NELSON JOS HUBNER MOREIRA Ministro Interino
Secretaria de Geologia, Minerao e Transformao Mineral
CLUDIO SCLIAR
Secretrio
CPRM-SERVIO GEOLGICO DO BRASIL
AGAMENON SRGIO LUCAS DANTAS Diretor-Presidente
MANOEL BARRETTO DA ROCHA NETO Diretor de Geologia e Recursos Minerais
JOS RIBEIRO MENDES Diretor de Hidrogeologia e Gesto Territorial
FERNANDO PEREIRA DE CARVALHO Diretor de Relaes Institucionais e Desenvolvimento
LVARO ROGRIO ALENCAR SILVA Diretor de Administrao e Finanas
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS UFMG
PROFESSOR RONALDO TADEU PENA
Reitor
INSTITUTO DE GEOCINCIAS PROFESSORA CRISTINA HELENA RIBEIRO ROCHA AUGUSTIN
Diretora
PROGRAMA GEOLOGIA DO BRASIL Contrato CPRM- UFMG N. 059/PR/05
Braslia, 2007
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APRESENTAO
O Programa Geologia do Brasil (PGB), desenvolvido pela CPRM - Servio Geolgico do Brasil, responsvel pela retomada em larga escala dos levantamentos geolgicos bsicos do pas. Este programa tem por objetivo a ampliao acelerada do conhecimento geolgico do territrio brasileiro, fornecendo subsdios para novos investimentos em pesquisa mineral e para a criao de novos empreendimentos mineiros, com a conseqente gerao de novas oportunidades de emprego e renda. Alm disso, os dados obtidos no mbito desse programa podem ser utilizados em programas de gesto territorial e de recursos hdricos, dentre inmeras outras aplicaes de interesse social.
Destaca-se, entre as aes mais importantes e inovadoras desse programa, a estratgia de implementao de parcerias com grupos de pesquisa de universidades pblicas brasileiras, em trabalhos de cartografia geolgica bsica na escala 1:100.000. Trata-se de uma experincia que, embora de rotina em outros pases, foi de carter pioneiro no Brasil, representando uma importante quebra de paradigmas para as instituies envolvidas. Essa parceria representa assim, uma nova modalidade de interao com outros setores de gerao de conhecimento geolgico, medida que abre espao para a atuao de professores, em geral lderes de grupos de pesquisa, os quais respondem diretamente pela qualidade do trabalho e possibilitam a insero de outros membros do universo acadmico. Esses grupos incluem tambm diversos pesquisadores associados, bolsistas de doutorado e mestrado, recm-doutores, bolsistas de graduao, estudantes em programas de iniciao cientfica, dentre outros. A sinergia resultante da interao entre essa considervel parcela do conhecimento acadmico nacional com a excelncia em cartografia geolgica praticada pelo Servio Geolgico do Brasil (SGB) resulta em um enriquecedor processo de produo de conhecimento geolgico que beneficia no apenas a academia e o SGB, mas toda a comunidade geocientfica e industria mineral.
Os resultados obtidos mostram um importante avano, tanto na cartografia geolgica quanto no estudo da potencialidade mineral e do conhecimento territorial em amplas reas do territrio nacional. O refinamento da cartografia, na escala adotada, fornece aos potenciais usurios, uma ferramenta bsica, indispensvel aos futuros trabalhos de explorao mineral ou aqueles relacionados gesto ambiental e avaliao de potencialidades hdricas, dentre outros.
Alm disso, o projeto foi totalmente desenvolvido em ambiente SIG e vinculado ao Banco de Dados Geolgicos do SGB (GEOBANK), incorporando o que existe de atualizado em tcnicas de geoprocessamento aplicado cartografia geolgica e encontra-se tambm disponvel no Portal do SGB www.cprm.gov.br.
As metas fsicas da primeira etapa dessa parceria e que corresponde ao binio 2005-2006, foram plenamente atingidas e contabilizam 41 folhas, na escala 1:100.000, ou seja aproximadamente 1,5% do territrio brasileiro. As equipes executoras correspondem a grupos de pesquisa das seguintes universidades: UFRGS, USP, UNESP, UnB, UERJ, UFRJ, UFMG, UFOP, UFBA, UFRN, UFPE e UFC.
Este CD contm a Nota Explicativa da Folha Manhuau, juntamente com o Mapa
Geolgico na escala 1:100.000 (SF.23-X-B-III), em ambiente SIG, executado pela UFMG, atravs do Contrato CPRM-UFMG No.059/PR/05.
Braslia, setembro de 2007
AGAMENON DANTAS MANOEL BARRETTO Diretor Presidente Diretor de Geologia e Recursos Minerais
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MINISTRIO DE MINAS E ENERGIA SECRETARIA DE GEOLOGIA, MINERAO E TRANSFORMAO MINERAL
CPRM - SERVIO GEOLGICO DO BRASIL
PROGRAMA GEOLOGIA DO BRASIL Contrato CPRM-UFMG N. 059/PR/05
NOTA EXPLICATIVA DA FOLHA
MANHUAU (SF.23-X-B-III)
1:100.000
AUTORES Carlos Maurcio Noce, Antnio Gilberto Costa, Danielle Piuzana,
Valter Salino Vieira, Camila da Mota Carvalho
COORDENAO GERAL Antnio Carlos Pedrosa Soares
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APOIO INSTITUCIONAL DA CPRM Departamento de Geologia-DEGEO
Edilton Jos dos Santos
Diviso de Geologia Bsica-DIGEOB Incio Medeiros Delgado
Diviso de Geoprocessamento-DIGEOP
Joo Henrique Gonalves
Edio do Produto Diviso de Marketing-DIMARK
Ernesto von Sperling
Gerncia de Relaes Institucionais e Desenvolvimento - GERIDE/ SUREG-BH
Marcelo de Arajo Vieira
Brysa de Oliveira Elizabeth de Almeida Cadte Costa
M. Madalena Costa Ferreira Rosngela Gonalves Bastos de Souza
Silvana Aparecida Soares
Representante da CPRM no Contrato Fernando Antnio Rodrigues de Oliveira
APOIO TCNICO DA CPRM Supervisor Tcnico do Contrato
Luiz Carlos da Silva
Apoio de Campo Luiz Carlos da Silva
Reviso do Texto
Luiz Carlos da Silva
Organizao e Editorao Luiz Carlos da Silva
Carlos Augusto da Silva Leite
Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais-CPRM/Servio Geolgico do Brasil.
Manhuau- SF.23-X-B-III, escala 1:100.000: nota explicativa./Carlos Maurcio Noce, Antnio Gilberto Costa, Danielle Piuzana, Valter Salino Vieira, Camila da Mota Carvalho.- Minas Gerais: UFMG/CPRM, 2007.
44p; 01 mapa geolgico (Srie Programa de Geologia do Brasil PGB) verso em CD-Rom.
Contedo: Projeto desenvolvido em SIG Sistema de Informaes Geogrficas utilizando o GEOBANK Banco
de dados.
1- Geologia do Brasil- I- Ttulo II- Pedrosa Soares, A.C. Coord. III- Noce, C.M., IV- Costa, A.G. V- Piuzana, D. VI- Vieira, V.S. VII- Carvalho, C.M..
CDU 551(815)
ISBN 978-85-7499-041-5
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Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau i
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem graduanda em Geologia pelo IGC-UFMG, Renata Augusta Azevedo Silva
pela ajuda nos trabalhos de campo. A colaborao com o Dr. Luiz Carlos Silva em projetos de
geocronologia na regio, bem como nas discusses no campo, trouxe importante contribuio para
este trabalho.
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Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau ii
SUMRIO
AGRADECIMENTOS ............................................................................................................. i
1. INTRODUO ................................................................................................................ 1
1.1 Localizao Geogrfica ............................................................................................. 1
1.2 Dados fsicos de produo ........................................................................................ 1
2. ASPECTOS FISIOGRFICOS ............................................................................................. 2
3. TRABALHOS ANTERIORES ............................................................................................... 4
4. CONTEXTO GEOTECTNICO E GEOLOGIA REGIONAL ........................................................... 6
4.1 Embasamento ........................................................................................................ 6
4.2 Orgeno Araua ..................................................................................................... 7
5. GEOLOGIA LOCAL ......................................................................................................... 11
5.1 Estratigrafia .......................................................................................................... 12
5.1.1 Complexo Piedade (Complexo Mantiqueira) ...................................................... 12
5.1.2 Complexo Juiz de Fora ................................................................................... 14
5.1.3 Grupo Andrelndia ........................................................................................ 17
5.1.4 Gnaisse Tonaltico de Manhuau Sute Galilia ................................................ 24
5.1.5 Gnaisse e Granitide Charno-enderbitico com granada Sute Leopoldina ............. 25
5.1.6 Leucogranito granadfero da Pedra do Godinho .................................................. 26
5.1.7 Diques e outros corpos mficos intrusivos ....................................................... 26
5.1.8 Depsitos superficiais .................................................................................... 27
5.2 Metamorfismo ....................................................................................................... 28
5.3 Geologia Estrutural ................................................................................................. 29
5.4 Geoqumica ........................................................................................................... 32
5.5 Dados isotpicos .................................................................................................... 33
5.5.1 U-Pb ........................................................................................................... 33
5.5.2 Sm-Nd ........................................................................................................ 36
5.6 Recursos Minerais .................................................................................................. 37
5.6.1 Bauxita ....................................................................................................... 37
5.6.2 Depsitos e ocorrncias minerais relacionados a pegmatitos (caulim, mica, quartzo, gua-marinha) ................................................................................. 38
5.6.3 Ocorrncias de crindon e ametista ................................................................. 39
5.6.4 Materiais de construo civil (saibro, brita, rocha ornamental) ............................. 39
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ........................................................................................ 40
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Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 1
1. INTRODUO
1.1 Localizao Geogrfica
A rea abrangida pelo mapa geolgico da Folha Manhuau (escala 1:100.000) est delimitada pelos meridianos 42o30 42o00 e paralelos 20o00 20o30, situada na poro leste do Estado de Minas Gerais (Fig. 1). Alm da cidade de Manhuau, a rea mapeada inclui diversos outros centros urbanos como Abre Campo, Sericita, Raul Soares, Matip, Luisburgo, etc.
A folha cortada por duas importantes rodovias federais, a BR116 (Rio-Bahia) e a BR-262, permitindo fcil acesso a partir de Belo Horizonte, Rio de Janeiro ou Vitria.
1.2 Dados fsicos de produo
O mapeamento geolgico da Folha Manhuau foi realizado entre os meses de junho e outubro de
2005. Foram descritas 468 novas estaes de campo e revisitadas outras 63 de trabalhos
anteriores realizados por membros da equipe. Alm disso, o trabalho apoiou-se em 162 estaes
de campo cuja descrio foi fornecida pelo Servio Geolgico do Brasil-CPRM. Foram tambm
cadastrados 29 depsitos e ocorrncias minerais. Neste relatrio so apresentadas duas novas
determinaes U-Pb (SHRIMP e ID-TIMS). De trabalhos anteriores a folha conta ainda com uma
determinao U-Pb (SHRIMP), sete determinaes de idade-modelo e uma iscrona Sm-Nd, alm
de 22 anlises qumicas de rocha total.
Figura 1: Localizao da Folha no mbito do contrato UFMG/CPRM-2005.
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Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 2
2. ASPECTOS FISIOGRFICOS
O clima da regio pode ser classificado como tropical quente e semi-mido (IBGE 1977),
caracterstico de grande parte da bacia do mdio Rio Doce. A estao seca bem acentuada e
prolonga-se por trs a cinco meses (maio a setembro). O inverno coincide com os meses mais
secos, enquanto o perodo chuvoso relaciona-se com o final da primavera e incio do vero. Os
meses de dezembro e janeiro so caracterizados por intensa precipitao pluviomtrica.
A precipitao mdia anual varia entre 1.000 mm e 1.250 mm. De maneira geral, caracteriza-se
por mdias trmicas anuais superiores a 20C e, em fevereiro, o ms mais quente, a temperatura ultrapassa os 26C.
A vegetao original que recobria a rea mapeada classificada como floresta subcaduciflia
tropical segundo o IBGE (1977). Constitui uma vegetao de transio entre florestas perenes de
encosta e as formaes no florestais do interior. O clima o principal fator condicionante: semi-
mido com estao seca bem marcada que condiciona a periodicidade de sua vida vegetativa,
caracterizada pela perda de folhas na estao seca. Entretanto, a floresta subcaduciflia tropical
encontra-se quase totalmente devastada, cedendo lugar agricultura, que diminuiu a fertilidade da
terra e originou pastagens e capoeiras.
Na Folha Manhuau, a quase totalidade das reas serranas encontra-se destituda da cobertura
vegetal original, em funo das atividades pastoris e agrcolas - principalmente a cafeicultura. Tal
cobertura encontra-se ainda bastante descaracterizada em seus poucos remanescentes. A rea
apresenta, localmente, plancies de inundao, onde ocorre a vegetao tpica de regies
alagadias.
A rea da Folha Manhuau est includa em uma unidade geomorfolgica designada Serranias da
Zona da Mata Mineira (Gatto et al. 1983), caracterizada por relevos de formas alongadas, tipo
cristas e linhas de cumeada. Na regio de Manhuau, no leste da folha, adjacente ao Macio do
Capara, ocorrem linhas de serra paralelas, bastante retilneas e orientadas NNW, com escarpas
ngremes e topos aguados, cujas cristas podem superar os 1.600 m. de altitude (Fig. 2a).
O relevo torna-se progressivamente mais dissecado para oeste, passando a predominar um relevo
de colinas alongadas com topos convexos (Fig. 2b), cuja altitude mdia decresce progressivamente
de 700-800 m. na regio de Caputira para 400-500 m. em Abre Campo e Raul Soares. Neste
relevo colinoso destacam-se pontes e linhas de cumeada mais elevados, mas quase sempre
abaixo dos 1.000 m. de altitude.
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Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 3
Figura 2: Aspectos geomorfolgicos: a) linhas de serra retilneas da regio de Manhuau, orientadas NNW, com escarpas ngremes e topos aguados, cujas cristas podem superar os 1.600 m. de altitude; b) relevo de colinas alongadas com topos convexos, predominante na poro oeste da Folha Manhuau
B A
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Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 4
3. TRABALHOS ANTERIORES
A rea coberta pela Folha Manhuau 1:100.000 foi includa nos seguintes projetos de mapeamento
geolgico regional nas escalas 1.1.000.000 e 1:250.000:
- DNPM, Carta Geolgica do Brasil ao Milionsimo Folhas Rio de Janeiro, Vitria Iguape,1979.
- CPRM, Folha Ponte Nova, escala 1:250.000 (autoria de Frederico Ozanan Raposo), mapa indito,
apresentado no 40o Congresso Brasileiro de Geologia (Belo Horizonte, 1998).
Os mapas geolgicos em escala maior que abrangem partes da rea da Folha Manhuau so
encontrados em trs dissertaes de mestrado (Fig. 3), as quais tambm constituem as principais
fontes de dados petrogrficos, geoqumicos, geocronolgicos e sobre recursos minerais, que aqui
foram compilados. A contribuio de cada um destes trabalhos sintetizada a seguir:
- Fischel, D.P., 1998. Geologia e dados istpicos Sm-Nd do Complexo Mantiqueira e do Cinturo
Ribeira na regio de Abre Campo, Minas Gerais. Universidade de Braslia, Dissertao de Mestrado,
98 p.
Este trabalho apresenta um mapa na escala 1:100.000 do leste da Folha Manhuau, um estudo
estrutural detalhado e diversas descries petrogrficas. importante fonte de dados
geocronolgicos Sm-Nd para a folha; apresenta oito determinaes de idades-modelo (TDM) e duas
iscronas minerais.
- Moreira, L.M. 1997. Evoluo crustal do leste de Minas Gerais: uma contribuio a partir do
estudo geotermobaromtrico de metamorfitos da regio Simonsia-Manhuau (MG). Universidade
Federal de Minas Gerais, Dissertao de Mestrado, 113 p.
O mapa geolgico deste trabalho, apresentado na escala 1:60.000 mas originalmente efetuado em
escala 1:25.000, abrange parte do quadrante nordeste da Folha Manhuau. So apresentados
dados geoqumicos (rocha total) para as vrias unidades geolgicas e anlises minerais para
estudos de geotermobarometria.
- Campos, J.C.S. 1999. Os depsitos de caulim, ametista e corndon a NW de Manhuau (MG):
geologia da rea, mineralogia e gnese. Universidade Federal de Ouro Preto, Dissertao de
Mestrado, 168 p.
Apresenta um mapa geolgico na escala 1:125.000 que abrange a regio central da Folha
Manhuau. O foco do trabalho o estudo de recursos minerais, especialmente dos pegmatitos
produtores de caulim.
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Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 5
Estudos cientficos de carter regional, abrangendo os campos da Geologia Estrutural,
Geotectnica, Geocronologia e Petrologia, so importantes fontes de informao sobre a Folha
Manhuau, tais como os artigos de Costa et al. (1993, 1998), Cunningham et al. (1998), Silva
et al. (2002) e Peres et al. (2004).
1
23
Figura 3: Localizao das reas mapeadas por 1 - Fischel (1998), 2 - Moreira (1997) e 3 - Campos (1998), no mbito da Folha Manhuau.
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Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 6
4. CONTEXTO GEOTECTNICO E GEOLOGIA REGIONAL
A rea estudada localiza-se na poro meridional do Orgeno Araua, prxima ao limite com o
Orgeno Ribeira. O Orgeno Araua se estende do Crton do So Francisco ao litoral atlntico,
aproximadamente entre os paralelos 15 e 21 S (Pedrosa-Soares et al. 2001). Na altura do
paralelo 21, a passagem do Orgeno Araua para o Orgeno Ribeira marcada pela deflexo da
estruturao brasiliana que muda da direo NNE, a norte, para NE, a sul. No se verifica
descontinuidade estratigrfica ou metamrfica na zona de fronteira entre estes orgenos.
As unidades geolgicas presentes no domnio do Orgeno Araua podem ser agrupadas em dois
grandes conjuntos: i. embasamento Arqueano/Paleoproterozico; ii. unidades supracrustais e
sutes magmticas associadas aos vrios estgios evolutivos do orgeno.
4.1 Embasamento
O embasamento encontra-se exposto na forma de complexos gnissico-migmatticos, constituindo
escamas de empurro e terrenos para-autctones. Tais complexos distribuem-se no domnio
ocidental externo do Orgeno Araua (Mantiqueira, Guanhes), e no domnio interno (Juiz de Fora,
Pocrane). Os dados geocronolgicos indicam que, com exceo do Complexo Guanhes, de idade
arqueana (Silva et al. 2002), as demais unidades foram geradas no Paleoproterozico, entre ca. 2200
e 2050 Ma (Machado et al. 1996, Silva et al. 2002a).
As unidades do embasamento que interessam diretamente regio em estudo so os complexos
Mantiqueira e Juiz de Fora. A associao de rochas dos complexos Mantiqueira e Juiz de Fora, os
dados geoqumicos e isotpicos, bem como sua distribuio geogrfica de oeste para leste,
permitiram a construo de um modelo em que estas unidades representam, respectivamente, um
arco magmtico desenvolvido sobre a margem do paleocontinente arqueano, e um ou mais arcos
magmticos acrescionrios. Representam, portanto, segmentos de um Orgeno Paleoproterozico,
posteriormente desmembrado e retrabalhado pela Orognese Brasiliana. (Figueiredo & Teixeira
1996, Costa et al. 1996, Alkmin & Marshak 1998, Heilbron et al. 2003a).
O Complexo Mantiqueira constitudo por anfiblio ortognaisses de aspecto bandado, por vezes
migmatticos, exibindo comumente intercalaes de rochas anfibolticas, e tem sido englobado em
mais de uma unidade litoestratigrfica desde a definio original da Srie Mantiqueira por Barbosa
(1954). Desta forma, em funo do autor, a mesma associao litolgica pode ser parcial ou
totalmente includa no Gnaisse ou Complexo Piedade (Ebert 1958, Machado Filho et al. 1983, Silva
et al. 2002b), no Complexo Gnissico-Migmattico (Silva 1978) ou no Complexo Barbacena (Hasui
& Oliveira 1984). A designao Complexo Mantiqueira deve-se a Brandalise (1991). Uma sntese
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Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 7
atual sobre a evoluo dos conhecimentos sobre esta unidade pode ser encontrada em Heilbron
et al. (2003a).
Os biotita-hornblenda gnaisses do Complexo Mantiqueira so derivados de sutes clcio-alcalinas,
com composio variando de tonaltica a grantica, subordinadamente trondhjemtica. As rochas
bsicas dividem-se em um agrupamento de composio toleitica e outro de afinidade alcalina
(Duarte 1998).
Dataes U-Pb SHRIMP determinaram idades de cristalizao magmtica para estes ortognaisses
no intervalo 2169-2058 Ma (Silva et al. 2002a). Dados isotpicos de Sr e Nd sugerem que tais
rochas foram predominantemente geradas por processos de fuso de uma crosta arqueana
(Figueiredo & Teixeira 1996, Fischel et al. 1998). Figueiredo & Teixeira (1996) postulam tambm
alguma contribuio de material juvenil paleoproterozico.
O termo Complexo Juiz de Fora refere-se extensa faixa de rochas granulticas com direo NE-
SW, que aflora na regio limtrofe entre os estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro, inicialmente
estudada por Ebert (1955, 1957) e Rosier (1957). Vrias propostas de definio, interpretao e
subdiviso para esta associao litolgica, muitas vezes conflitantes, foram apresentadas nas
ltimas dcadas. Sugere-se a leitura da sntese de Heilbron et al. (2003a), que apresenta uma
anlise dessas diversas contribuies sobre o Complexo Juiz de Fora e completa listagem
bibliogrfica.
Segundo a definio de Heilbron (1993, 1995), o Complexo Juiz de Fora constitudo por
ortognaisses e metabasitos com paragneses da fcies granulito, que localmente mostram efeitos
de evento metamrfico retrgrado, com formao de hornblenda e biotita a partir de piroxnios. As
intercalaes metassedimentares, includas no complexo por outros autores, foram interpretadas
como escamas tectnicas da cobertura neoproterozica. A partir destas premissas, e da idade de
cristalizao de ca. 2134 Ma (U-Pb) obtida por Machado et al. (1996) para uma rocha charnocktica
do Complexo Juiz de Fora da regio de Conservatria (RJ), pode-se caracterizar esta unidade como
uma associao magmtica de idade Transamaznica. Costa et al. (1995) e Duarte et al. (1997)
identificaram no Complexo Juiz de Fora a presena de sutes bsicas (uma toleitica e outra com
tendncia alcalina) e sutes clcio-alcalinas. Segundo Duarte (1998) e Duarte & Heilbron (1999),
o primeiro evento metamrfico a afetar as rochas do complexo, responsvel pela formao de
paragneses diagnsticas da fcies granulito (ortopiroxnio + plagioclsio clinopiroxnio
hornblenda) em arranjo granoblstico, anterior formao da foliao regional, relacionada
Orognese Brasiliana. A paragnese mineral associada a esta foliao tem carter retrgrado,
evidenciado pela cristalizao de hornblenda, biotita e granada a partir de ortopiroxnio e
clinopiroxnio, nos ortogranulitos.
4.2 Orgeno Araua
A evoluo do Orgeno Araua (Fig. 4) encontra-se detalhada nos trabalhos de Pedrosa-Soares
et al. (2001) e Heilbron et al (2004), e em inmeros trabalhos referenciados nestas mesmas
snteses.
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Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 8
Figura 4: Mapa geolgico do Orgeno Araua (Pedrosa-Soares et al. 2005).
A fase rifte da bacia desenvolveu-se entre ca. 930 e 880 Ma, e seu registro sedimentar
representado pelas unidades basais e proximais do Grupo Macabas, constitudas de quartzito e
conglomerado, superpostos por metadiamictito com intercalaes de quartzito. O estgio
transicional entre as fases rifte e de margem passiva representado pela seqncia glcio-marinha
do Grupo Macabas, consistindo de diamictito (fluxo de detritos) estratificado com turbidito
arenoso a peltico e formao ferrfera sedimentar (tipo Rapitan), metamorfisados na fcies xisto
verde. A fase de margem continental passiva da Bacia Macabas representada por extensa
sedimentao de turbiditos areno-pelticos de mar profundo e por remanescentes de crosta
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Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 9
ocenica. Esta unidade distal do Grupo Macabas a Formao Ribeiro da Folha a qual, onde
exclusivamente sedimentar, consiste de quartzo-mica xisto bandado com intercalaes de rocha
clcio-silictica, grafita xisto e mrmore. Na parte vulcano-sedimentar da Formao Ribeiro da
Folha predomina micaxisto peraluminoso com intercalaes de metachert sulfetado, grafita xisto
com cianita e/ou sulfeto, formaes ferrferas bandadas dos tipos xido, silicato e sulfeto, e orto-
anfibolitos. O metamorfismo regional varia da zona da granada (transio das fcies xisto verde e
anfibolito) at a zona da sillimanita da fcies anfibolito. Os orto-anfibolitos mostram assinatura
geoqumica de assoalho ocenico e representam sees diversas da crosta ocenica, desde a
poro gabrica inferior at rochas vulcnicas. Datao Sm-Nd dos orto-anfibolitos forneceu idade
isocrnica (rocha total) em torno de 816 Ma, indicativa da cristalizao magmtica dos protlitos
mficos. Lascas tectnicas de rochas meta-ultramficas esto encaixadas na Formao Ribeiro da
Folha, interpretadas como pores de manto sub-ocenico.
O Grupo Rio Doce, que tambm caracterizado por sedimentao turbidtica de mar profundo
(metagrauvaca, micaxisto e gnaisse), um candidato a representante da margem passiva oriental
(i.e., do lado africano) da bacia neoproterozica, pois se encontra a leste da zona de sutura.
A fase orognica est registrada pelos estgios pr-colisional (630-585 Ma), sincolisional (585-565
Ma), tardi-colisional (565-535 Ma) e ps-colisional (520-490 Ma).
O estgio pr-colisional (630-585 Ma), ou acrescionrio, engloba os processos relacionados
edificao do arco magmtico clcio-alcalino. Neste estgio foi gerada a sute G1 que constituda,
predominantemente, por tonalito e granodiorito, com diorito subordinado e freqentes encraves
mficos. A foliao regional est impressa nas rochas desta sute, bem como nos seus encraves
que, geralmente, tambm esto estirados. O grande acervo de dados geoqumicos e isotpicos
demonstra que a Sute G 1 se formou em ambiente de arco magmtico de margem continental
ativa.
Os padres principais de deformao e metamorfismo so originados no estgio sincolisional
(585-565 Ma). Os vetores indicadores do aumento de temperatura do metamorfismo regional
convergem para a zona de intensa anatexia, situada a norte do paralelo 19. A foliao regional
das rochas pelticas formada por paragneses do regime de mdia presso (tipo barrowiano),
desde a zona da clorita, que margeia o crton, at a zona da sillimanita, no domnio tectnico
interno. No complexo paragnissico do nordeste de Minas Gerais, norte do Esprito Santo e sul da
Bahia, so comuns paragneses a biotita, granada, cordierita e/ou sillimanita, sincinemticas
foliao regional, que indicam metamorfismo regional da fcies anfibolito alto transio
anfibolito/granulito, a presses moderadas a baixas (Costa 1990). Fuso parcial extensiva no
complexo paragnissico. Os granitos do tipo S, foliados (gnaisses), deste estgio esto englobados
na sute G2. Esta sute inclui corpos granticos tabulares autctones ou parautctones e intruses,
deformados em concordncia com a foliao regional. As composies predominantes so
cordierita-granada-biotita granito, granada-biotita granito e granito a duas micas. So muito
freqentes os xenlitos e restos de teto (roof pendants), de tamanhos os mais variados,
constitudos por metassedimentos em estgios variados de assimilao. Os pegmatitos ricos em
gemas e minerais industriais, da regio de Conselheiro Pena-Galilia, so derivados de granitos G2.
Em poca que se estendeu do estgio pr-colisional ao sincolisional ocorreu a sedimentao, em
bacia de retroarco, dos protlitos do complexo paragnissico cujos zirces detrticos apresentam
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Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 10
idades U-Pb em torno de 630 Ma (Noce et al. 2004). A rochas deste complexo tm sido englobadas
em mais de uma unidade, como o Complexo Jequitinhonha e Complexo Paraba do Sul. As rochas
predominantes so gnaisses peraluminosos (ricos em biotita, granada, cordierita e/ou sillimanita,
com traos de grafita, ou seja, kinzigito stricto sensu) e seus termos menos aluminosos, que
apresentam intercalaes de grafita gnaisse, quartzito, rocha clcio-silictica e leptinito. Grandes
depsitos de grafita lamelar situam-se na parte norte do complexo paragnissico. Este complexo
pode incluir tambm representantes da sedimentao de margem passiva da bacia precursora do
Orgeno Araua, principalmente a sul do paralelo de Vitria, onde ocorrem expressivas camadas
de mrmore.
O estgio tardi-colisional parece ter se estendido de 565 Ma a 535 Ma. O limite mais novo deste
intervalo ainda impreciso, em funo da falta de dados geocronolgicos conclusivos. Granada-
cordierita leucogranito a rocha caracterstica (mas no exclusiva) da sute G3S, gerada neste
estgio. Esta sute engloba tanto mobilizados flsicos quanto resduos de fuso. Alguns pltons
granticos do tipo I, com assinatura clcio-alcalina de alto K, que ocorrem no setor nordeste do
orgeno, foram considerados tardi-colisionais e comporiam a sute G3I.
No domnio externo do orgeno, o estgio tardi-colisional representado pela Formao Salinas.
Na rea-tipo, esta formao consiste de grauvaca, pelito e conglomerado clastosuportado,
metamorfisados na fcies xisto verde. Entretanto, o metamorfismo pode atingir a fcies anfibolito
na borda oriental da formao. Dataes de zirces detrticos e de zirces de seixos de rochas
vulcnicas flsicas limitam a idade mxima da Formao Salinas em 570 Ma. As intruses granticas
G4 que a cortam (500 Ma) balizam sua idade mnima. Portanto, a Formao Salinas representa
sedimentao tardi-orognica e, por isto, foi retirada do Grupo Macabas (Lima et al. 2002).
O estgio ps-colisional (520-490 Ma) oferece evidncias marcantes do colapso extensional do
Orgeno Araua. No domnio tectnico externo, a clivagem de crenulao ngreme que mergulha
para oeste e corta a foliao regional a principal estrutura originada pelo colapso extensional do
orgeno, ao qual so tambm atribudas as sutes granticas G4 e G5. A sute G4 ocorre ao longo
da zona limtrofe entre os domnios tectnicos externo e interno, onde esto expostas intruses
granticas relativamente rasas (alojados entre 5 e 15 km de profundidade). So intruses em
forma de balo e conjuntos de pltons amalgamados, com cpulas pegmatides localmente
preservadas. Os granitos G4 so do tipo S e apresentam propores diversas de muscovita, biotita
e granada. Orientao de fluxo gneo e xenlitos de encaixante so freqentes. Os granitos da
sute G4 so fontes de pegmatitos residuais, ricos em gemas (particularmente turmalinas e
morganita), minerais de ltio, feldspatos e outros minerais da indstria cermica e vidreira, e
minerais de metais raros (e.g., tantalita). A sute G5 constituda de intruses granticas do tipo I,
livres da foliao regional, cuja ocorrncia se limita ao ncleo do orgeno. Estas intruses podem
conter fcies charnockticas e enderbticas. Na poro sul do orgeno, em decorrncia da exposio
de nvel crustal mais profundo, so comuns os pltons zonados que mostram ncleos (razes) de
composio bsica. A composio predominante das intruses G5 varia de granito a sienogranito,
geralmente porfirtico a sub-porfirtico, com freqentes enclaves mficos e eventuais xenlitos de
rocha encaixante. Feies de mistura mecnica (mingling) e qumica (mixing) de magmas so
comuns. A assinatura geoqumica das intruses clcioalcalina de alto K e alto Fe. Os pltons G5,
particularmente aqueles que se situam na poro norte do orgeno, so fontes de pegmatitos ricos
em gua-marinha e topzio.
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Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 11
5. GEOLOGIA LOCAL
GRANITIDES BRASILIANOS
NEOPROTEROZICO
PALEOPROTEROZICO
NEOGENO
GRUPO ANDRELNDIA
COMPLEXO PIEDADE
COMPLEXO JUIZ DE FORA
Depsitos aluvionaresN4a
Granada-biotita gnaisse e sillimanita-granada-biotita gnaisse (ocorrncia restrita destes gnaisses com cordierita e/ou hercynita e/ou hyperstnio). Freqentemente migmatticos com mobilizados leucogranticosricos em granada. Camadas de quartzito, com espessura atingindo at algumas centenas de metros, interca-ladas com o paragnaisse (q)
NPagm q
Granulito de composio gabro-nortica (hyperstnio + diopsdio + plagioclsio quartzo e granada).PP2jfb
Gnaisse migmattico, com mesossoma granultico (composio bsica) e predomnio de mobilizados enderb-ticos (hyperstnio + plagioclsio + quartzo; biotita anfiblio como minerais secundrios).
PP2jfgm
Biotita-honblenda gnaisse bandado, com intercalaes de corpos de anfibolitoPp2pd
Leucogranito granadfero da Pedra do GodinhoNP32pg
PROVNCIA MANTIQUEIRA/ORGENO ARAUA
Gnaisse e granitide charno-enderbtico com granada - Sute Leopoldina: charno-enderbitos com granada, exibindo textura isotrpica a bem foliada
Np32lp
Gnaisse tonaltico de Manhuau - Sute Galilia: biotita gnaisse e biotita-hornblenda gnaisse, composio variando de tonal-tica a grantica
NP31ma
Figura 5: Coluna geolgica na Folha Manhuau.
As unidades geolgicas definidas na Folha Manhuau so apresentadas na Fig. 5.
A poro NW da folha cortada pela Zona de Cisalhamento de Abre Campo, que marca o contato
entre os ortognaisses bandados do Complexo Mantiqueira, a oeste, com uma associao de
natureza tectnica que ocupa a maior parte da rea da folha. Esta associao exibe a alternncia
de faixas predominantemente compostas por gnaisses migmatticos, de composio enderbtica, e
paragnaisses (biotita-granada gnaisses). Fonseca et al. (1979) posicionam estas rochas a leste da
zona de Abre Campo na associao charnocktica de idade Paleoproterozica, e Fischel (1998) e
Cunningham et al. (1998) no Complexo Juiz de Fora. A presena de faixas tectonicamente
justapostas de unidades distintas foi descrita por Costa et al. (1998). Os gnaisses enderbticos,
juntamente com outros litotipos associados como granulitos bsicos, foram atribudos ao Complexo
Juiz de Fora, enquanto os paragnaisses (granulitos peraluminosos na classificao de Costa et al,
1998) foram includos no Complexo Paraba do Sul.
A correlao com o Complexo Juiz de Fora comprovada pela idade paleoproterozica (211320,
Noce 2004) obtida em uma rocha granultica de composio nortica na Pedreira de Abre Campo,
que fica a poucas centenas de metros do limite ocidental da Folha Manhuau. Por outro lado, a
correlao da unidade supracrustal com o Complexo Paraba do Sul (tambm proposta por Raposo
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Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 12
1998, embora este autor no tenha reconhecido a real extenso da unidade) no se sustenta luz
conhecimento atual da geologia regional. De fato, esta associao de intercalaes tectnicas do
Complexo Juiz de Fora com uma seqncia supracrustal, revelada pelo mapeamento da Folha
Manhuau, representa a continuao setentrional da mesma associao mapeada nas folhas Ub
(Noce et al. 2003a), Muria (Romano & Noce 2003), Leopoldina (Heilbron et al. 2003b) e Juiz de
Fora (Duarte et al. 2003), onde tal seqncia foi reconhecida como pertencente ao Grupo
Andrelndia. A nica diferena que a estruturao regional NE-SW observada naquelas folhas,
caracterstica do Orgeno Ribeira, inflete para uma orientao em torno de N-S na Folha
Manhuau, refletindo a passagem para o domnio do Orgeno Araua.
Completam o quadro geolgico da Folha Manhuau corpos plutnicos gnaissificados, englobando
charno-enderbitos com granada e biotita (hornblenda) gnaisses, alm de corpos mficos. Estes
granitides so associados ao magmatismo brasiliano, embora apenas uma datao esteja
disponvel. Uma rocha charnocktica encaixada em paragnaisses, prximo a Manhuau, foi datada
em 5844 Ma (U-Pb SHRIMP, Silva et al. 2002a).
Uma descrio mais detalhada das unidades que ocorrem na Folha Manhuau apresentada nos
itens seguintes
5.1 Estratigrafia
5.1.1 Complexo Piedade (Complexo Mantiqueira)
Esta unidade ocorre a oeste da Zona de Cisalhamento ou Descontinuidade de Abre Campo. Afora
divergncias de nomenclatura, visto no trabalho de Silva et al. (2002a) ter sido adotada a
denominao Complexo Piedade, esta unidade do embasamento do Orgeno Araua tem sido
reconhecida como tal nos vrios trabalhos que abordam a regio em estudo. O termo Piedade foi
adotado no mapa geolgico da Folha Manhuau por deciso do SGB, embora os autores o
considerem inadequado para a unidade em causa.
As rochas do Complexo Mantiqueira constituem a extremidade noroeste da Folha Manhuau. Na
rea so registrados gnaisses bandados que apresentam pores quartzo feldspticas alternadas
com pores mficas, ricas em biotita e/ou hornblenda (Fig. 6a). A alternncia de bandas flsicas e
mficas, com espessura centimtrica a decimtrica, uma caracterstica marcante das rochas do
Complexo Mantiqueira. A paragnese das bandas flsicas representada por quartzo + plagioclsio
+ biotita feldspato potssico, enquanto as bandas mficas so constitudas por anfiblio + plagioclsio + biotita quartzo granada + opacos + titanita, tpica do fcies anfibolito. Estruturas migmatticas tipo schlieren, dobrada e surretica so comuns.
So freqentes corpos de anfibolito concordantes com a foliao/bandamento dos gnaisses,
atingindo espessura mtrica. Apresentam-se muitas vezes boudinados (Fig. 6b).
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Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 13
Figura 6: Complexo Mantiqueira. a) biotita-hornblenda gnaisse bandado (Estao D-18; 762771E/ 7770077); b) boudin mtrico de anfibolito (Estao CN-211; 768280E/7779642N).
Microscopicamente, as rochas do Complexo Mantiqueira possuem granulao mdia, textura
granoblstica e subordinadamente nematoblstica. So constitudas por anfiblio (hornblenda e
harstingsita), plagioclsio, biotita e quartzo (Fig. 7). Como minerais acessrios ocorrem zirco de
forma arredondada; titanita inclusa em anfiblio ou associada biotita; allanita arredondada
tambm freqente. Opacos so freqentes principalmente nas bandas mficas. A composio
modal apresenta a seguinte mdia: quartzo (45%), plagioclsio (30%), harstingizita (15%), biotita
(5%), hornblenda (5%).
O plagioclsio predominante oligoclsio (An11-18). Ocorre como cristais hipidiomrficos a
xenomrficos, com lamelas de geminao polissintticas, freqentemente acunhadas ou
descontnuas. O limite dos gros de plagioclsio com outros minerais lobado. Em lminas de
afloramentos bandados, na poro flsica possvel observar o plagioclsio associado biotita
lamelar e quartzo, formando bandas estreitas, que se alternam com bandas mficas, onde o
mesmo ocorre junto hornblenda e biotita. O quartzo apresenta-se com trama tpica de
recristalizao dinmica, na forma de fitas, com forte extino ondulante. Normalmente, as fitas de
quartzo circundam porfiroclastos de feldspatos e, nas bandas flsicas, os contatos entre os gros
de quartzo e demais minerais so geralmente retos. O anfiblio responsvel pela textura
nematoblstica das bandas mficas. Anfiblios caractersticos so harstingizita e hornblenda e
esto freqentemente associados biotita. Incluses de titanita e zirco so freqentes. A biotita
ocorre em forma de palhetas orientadas, comumente associada ao anfiblio e minerais opacos em
agregados e bandas mficas. O pleocrosmo marrom claro a marrom escuro. A biotita pode
ocorrer como mineral primrio ou secundrio, no ltimo caso substituindo o anfiblio.
Silva et al. (2002a) obtiveram uma idade de cristalizao de 207911 Ma para os ortognaisses que constituem o Complexo Mantiqueira, em afloramento situado a oeste da Folha Manhuau, na cidade
de Ponte Nova. Idades-modelo (TDM) arqueanas, obtidas por Fischel (1998), indicam uma fonte
crustal para o protlito destes gnaisses.
B A
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Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 14
800 800
Figura 7: Associao mineral tpica dos gnaisses do Complexo Mantiqueira (quartzo + plagioclsio + biotita + anfiblio; amostra CN 218; 763712E/7772997N). a) nicis paralelos; b) nicis cruzados.
5.1.2 Complexo Juiz de Fora
Esta unidade ocorre na forma de escamas tectnicas interdigitadas a escamas de rochas
metassedimentares do Grupo Andrelndia. composta por rochas metamrficas ortoderivadas
cujas paragneses so diagnsticas para o fcies granulito. O Complexo Juiz de Fora inclui litotipos
cuja composio varia de mfica a flsica. Uma descrio geral da unidade apontaria a presena de
granulitos bsicos como bandas, lentes e/ou boudins, de tamanho centimtrico a mtrico,
encaixados em gnaisses migmatticos de composio predominantemente enderbtica. Esta associao, com colorao verde-escura caracterstica, exibe bandas e/ou injees de cor mais
clara e granulao mais grossa, de composio charno-enderbtica a charnocktica.
Os granulitos bsicos, que localmente podem formar corpos mais expressivos, possuem granulao
fina a mdia, textura granoblstica a protomilontica e estrutura macia a fracamente foliada (Figs.
8 e 9). A mineralogia primria representada por ortopiroxnio+clinopiroxnio e plagioclsio.
Granada esqueletal em equilbrio com o piroxnio observada em algumas lminas. Minerais
secundrios so biotita, anfiblio e quartzo. Como acessrios ocorrem zirco, apatita e minerais
opacos, sendo os ltimos muito freqentes. A composio modal apresenta a seguinte variao:
ortopiroxnioclinopiroxnio (15-50%), plagioclsio (20-50%), quartzo (5-35%), biotita (0-15%),
anfiblio (0-45%). Estas rochas foram interpretadas por Costa (1998) como gabros-noritos,
representando corpos intrusivos e/ou lavas bsicas cristalizados em condies de fcies granulito, e
cujo carter toleitico de baixo K similar a basaltos de arco-de ilha ou fundo ocenico.
O ortopiroxnio (hiperstnio) ocorre na forma xenomrfica a hipidiomrfica, com granulao
variando de mdia a grossa, contendo incluses de plagioclsio e biotita. Associa-se a minerais
opacos e anfiblio. O plagioclsio possui composio albita-oligoclsio (An7-22) ocorrendo como
cristais hipidiomrficos a idiomrficos, de granulao fina a mdia. Podem apresentar
intercrescimento antiperttico. Esto maclados segundo a Lei da Albita e Periclina. As lamelas de
geminao so finas a mdias, descontnuas e, s vezes, recurvadas. O quartzo pouco freqente
e apresenta-se com granulao variando de fina a mdia, sendo muito comum a extino
ondulante. Est bastante recristalizado, formando bandas estreitas e descontnuas. Pode formar
ribbons em amostras muito deformadas, com evidncias de recristalizao dinmica e formao de
B A
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Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 15
subgros. O anfiblio a hornblenda ou harstingizita e ocorre em cristais xenomrficos a
hipidiomrficos. Formam bandas e definem, juntamente com a biotita, a foliao da rocha. Estes
minerais so produtos de alterao.
O gnaisse migmattico enderbtico o litotipo amplamente dominante no Complexo Juiz de Fora.
Exibe comumente um bandamento centimtrico, bastante regular, dado pela alternncia de nveis
mais flsicos centimtricos e menos flsicos milimtricos, caracterizando uma estrutura do tipo
estromtica. Outras estruturas migmatticas onde as bandas mais claras exibem formas irregulares
so tambm observadas (Fig. 10). Estes gnaisses perdem a cor verde escura com o intemperismo,
tornando-se cinza claros.
A mineralogia destes gnaisses enderbticos representada por ortopiroxnio, plagioclsio,
clinopiroxnio, biotita, quartzo e hornblenda. Como acessrios ocorrem zirco, apatita, epidoto e
minerais opacos. A composio modal apresenta a seguinte variao: ortopiroxnio (10-45%),
plagioclsio (15-45%), quartzo (10-60%), biotita (5-15%). Possuem granulao variando de fina a
grossa e normalmente textura granoblstica, subordinadamente textura lepidoblstica. Em zonas
de cisalhamento dcteis possuem textura protomilontica a milontica marcada por ribbons de
quartzo e evidncias de recristalizao dinmica e individualizao de subgros (Fig. 11).
O plagioclsio presente nestas rochas varia de albita a oligoclsio (An9-25) e ocorre como cristais
finos a grossos, maclado segundo a lei da Albita, sendo as maclas freqentemente recurvadas e
com forte extino ondulante. H ocorrncia de plagioclsios antipertticos. O ortopiroxnio
(hiperstnio) ocorre na forma xenomrfica a hipidiomrfica, com granulao mdia, e observa-se
geminao mecnica em algumas lminas (Fig. 12). Associa-se a minerais opacos e
intensamente substitudo por hornblenda, biotita ou bastita. O clinopiroxnio menos freqente. O
quartzo possui granulao variando de fina a mdia, extino ondulante freqentes, normalmente
associado ao plagioclsio. Pode encontrar-se na forma de ribbons. A biotita ocorre em forma de
palhetas orientadas, comumente associada ao anfiblio e minerais opacos em agregados e bandas
mficas.
Figura 8: Complexo Juiz de Fora, granulito bsico. a) granulao fina, aspecto macio (estao CN-270; 794330E/7764483N); b) detalhe do granulito, com as mesmas caractersticas citadas acima(estao CN-279; 797416E/7746253N); c) com aspecto foliado e cortado por vnula charnocktica (estao CN-343; 806314E/7755924N).
B A
C
-
Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 16
Figura 9: Textura granoblstica tpica dos granulitos bsicos da Complexo Juiz de Fora (amostra CN 2;766883E/7735650N). a) nicis paralelos; b) nicis cruzados
B A
Figura 10: Complexo Juiz de Fora, gnaisse migmattico enderbtico. a) fcies com bandamento regular bem desenvolvido, centimtrico (migmatito estromtico; estao CN-8; 797965E/7753910N); b) fcies migmattica com bandas mais claras formando vnulas irregulares (estao CN-8; 797965E/7753910N); c) resduo ou restito de gra-nulito bsico, granulao fina (estao CN-278; 797942E/7748096N); d) bandas claras de compo-sio charnocktica (estao CN-135; 794287E/ 7769956N); e) detalhe de mobilizado charnocktico de granulao grossa (estao CN-279; 797416E/ 7746253N).
B A
D C
E
-
Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 17
Figura 11: Gnaisse enderbtico do Complexo Juiz de Fora, exibindo textura milontica com evidncias de recristalizao dinmica e individualizao de subgros dos enderbitos (amostra CN20;800918E/7737407N). a) nicis paralelos; b) nicis cruzados.
Figura 12: Detalhe de geminao mecnica em cristal de ortopiroxnio, gnaisse enderbtico (amostra CN 401;800780E/7783704N). a) nicis paralelos; b) nicis cruzados
5.1.3 Grupo Andrelndia
5.1.3.1 Definio geral da unidade
O Grupo Andrelndia, definido originalmente por Ebert (1956), ocorre em domnios distintos do
Orgeno Ribeira a sul e sudeste do Crton do So Francisco, bem como nas nappes do extremo sul
do Orgeno Braslia, a sudoeste do crton (vide Ribeiro et al. 2003, Heilbron et al. 2004 e
referncias bibliogrficas contidas nestes trabalhos). A definio das seqncias deposicionais que
compem o Grupo ou Megasseqncia Andrelndia foi realizada no chamado domnio autctone, ou
seja, a borda cratnica balizada pelas cidades de Caranda-So Joo Del Rei-Lavras. Neste domnio,
a composio, texturas e estruturas primrias esto parcialmente preservadas, facilitando o
reconhecimento dos protlitos, da geometria de corpos e de discordncias. A Megasseqncia
Andrelndia composta pela Seqncia Carrancas, inferior, e pela Seqncia Serra do Turvo,
superior (Paciullo 1997).
A Seqncia Carrancas inclui, da base para o topo, quatro unidades: i. paragnaisses bandados com
intercalaes de anfibolitos (arenitos feldspticos continentais e turbidticos, associados a toleitos
800
Op
800 Pl
B A
400400
B A
-
Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 18
de ambiente intraplaca continental e MORB enriquecido); ii. paragnaisses bandados com
intercalaes de anfibolitos, quartzitos e filitos cinzentos (paraseqncias retrogradacionais
depositadas em trato de sistema transgressivo); iii. quartzitos e intercalaes delgadas de xistos
(paraseqncias agradacionais plataformais shoreface- depositadas em trato de sistema
transgressivo); iv. filitos e xistos cinzentos com intercalaes quartzticas (sedimentos depositados
em trato de sistema de mar alto em ambiente plataformal distal -offshore). A Seqncia Serra do
Turvo representada por uma espessa sucesso de biotita xisto, cujos protlitos sedimentares
seriam turbiditos pelticos e pelitos hemipelgicos. As fcies distais dessa seqncia so
representadas por uma sucesso de biotita xisto a gnaisse com intercalaes de anfibolito, gondito
e rochas calcissilicticas, metamorfisados em fcies anfibolito e granulito.
Em vrios estudos que definiram a compartimentao tectnica do Orgeno Ribeira, em sua poro
centro-norte, a cobertura metassedimentar do Complexo Juiz de Fora foi correlacionada ao Grupo
Andrelndia (Heilbron 1993, Heilbron et al. 1995), sendo constituda por uma sucesso de
paragnaisses, quartzitos e xistos pelticos, que grada rumo ao topo para uma sucesso
predominantemente peltica (micaxistos e gnaisses).
5.1.3.2 O Grupo Andrelndia na Folha Manhuau
Esta unidade ocupa grande parcela da Folha Manhuau a leste da Zona de Cisalhamento de Abre
Campo, composta por rochas metamrficas em facies anfibolito alto a granulito a partir de
sedimentos pelticos a psamticos. Ocorre na forma de faixas alongadas de direo geral N-S
intercaladas tectonicamente aos granulitos ortoderivados do Complexo Juiz de Fora. A presena de
sillimanita e ortopiroxnio, este ltimo encontrado raramente, indicam condies de metamorfismo
de alta temperatura. Incluso de espinlio em granada tambm outro indicador que as rochas
desta unidade foram submetidas a metamorfismo de alto grau (fcies granulito), e posteriormente
reequilibradas em condies de temperatura menos elevadas. Amostras provenientes de zona de
cisalhamento evidenciam acentuado retrometamorfismo marcado por crescimento de biotita.
O litotipo amplamente dominante no Grupo Andrelndia representado por paragnaisses (Fig. 13a)
derivados de sedimentos pelito-grauvaqueanos (sillimanita-granada-biotita-plagioclsio-quartzo
gnaisse), podendo por vezes exibir leitos cuja composio original era mais arenosa e que
resultaram em gnaisses quartzo-feldspticos com alguma proporo de biotita e granada. Em raras
exposies so encontradas intercalaes delgadas de anfibolito (Fig. 13b), provavelmente
representando derrames ou soleiras de rocha bsica, e de rocha calcissilictica (metamargas).
Destaca-se nesta unidade a presena de zonas de alternncia paragnaisse/quartzito, que podem
exibir grande continuidade lateral, com camadas individuais de quartzito que atingem espessuras
de dezenas de metros.
-
Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 19
Figura 13: Grupo Andrelndia, feies macroscpicas do paragnaisse (biotita-granada gnaisse. a) bandamento fino caracterstico, granada esparsa (estao CN-20; 800918E/7737407N); b) corpos tabulares, boudinados, de anfibolito no paragnaisse (estao CN-285; 791012E/7745465N).
Os paragnaisses so rochas de cor acinzentada, granulao variando de fina a mdia, finamente
bandadas, compostos por plagioclsio + quartzo + granada + biotita feldspato potssico sillimanita espinlio ortopiroxnio (Fig 14a, b). A feio mais tpica a presena em grande proporo de gros geralmente idiomrficos de granada (Fig. 15a, b). Seu dimetro pode chegar a
alguns centmetros embora, comumente, seja de 2 a 5 mm. Alm desta fcies muito rica em
granada observam-se exposies onde a granada esparsa. Os paragnaisses exibem tambm
leitos de aspecto macio, muito quartzosos, aparentemente correspondendo a intercalaes
psamticas. Na regio leste da Folha Manhuau Moreira (1997) reconheceu os seguintes tipos
petrogrficos: biotita-cordierita-granada gnaisse, biotita-cordierita-sillimanita-granada gnaisse e
sillimanita-granada gnaisse.
Figura 14: Grupo Andrelndia, feies microscpicas do paragnaisse. a) sillimanita-biotita granada gnaisse, nicis paralelos (amostra CN 420; 804930E/7781862N); b) idem anterior, nicis cruzados.
B A
400 400
A B
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Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 20
Figura 15: Grupo Andrelndia, feies macroscpicas do paragnaisse. a) poro rica em granada, com mobilizados leucocrticos em vnulas (estao CN-206; 770288E/7774449N); b) leito com alta concentrao de granada (estao CN-213; 772618N/7784754N).
Em lmina delgada, os paragnaisses exibem em geral textura granolepidoblstica inequigranular
(Fig. 16a, b), as texturas protomilonticas e milonticas sendo freqentes. A composio
mineralgica principal mais comum, como j referida anteriormente, plagioclsio + quartzo +
biotita + granada. Como minerais acessrios so encontrados apatita, zirco, grafita e outros
minerais opacos (Fig. 16c). O plagioclsio possui composio albita-oligoclsio (An7-23),
freqentesmente com intercrescimento antiperttico. Encontra-se maclado segundo Lei da Albita e
Periclina e, em alguns casos, com geminao Karslbad. Apresenta extino ondulante, lobos
mimerquticos, e forma porfiroclastos nas rochas milonticas. Em muitos casos, apresenta-se
sericitizado e saussuritizado. Os gros de granada possuem, em geral, formato arredondado e
contm freqentes incluses de biotita, plagioclsio, quartzo, zirco e minerais opacos. Em alguma
lminas observam-se incluses de espinlio (Fig. 16d). As bordas dos cristais de granada
evidenciam reaes com biotita, e alguns cristais apresentam estrutura tipo snowball (Fig. 16e, f).
Gros de quartzo so xenomrficos, de granulao fina a grossa, e apresentam evidncias de
deformao intracristalina expressa em extino ondulante. Em lminas com intensa deformao,
apresenta-se com trama tpica de recristalizao dinmica, na forma de fitas, com forte extino
ondulante. A sillimanita ocorre na forma de prismas alongados e agulhas inclusas em granadas ou
disseminadas na matriz. Encontra-se associada biotita, minerais opacos e plagioclsio. O
ortopiroxnio aparece em raros gros, quase completamente substitudos por biotita e parece
associar-se granada. A biotita aparece em lamelas bem formadas, com pleocrosmo marrom claro
at marrom escuro. Muitas vezes encontra-se bordejando granada e ortopiroxnio, sendo a biotita,
nestes casos, secundria.
B A
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Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 21
Figura 16: Grupo Andrelndia, feies microscpicas do paragnaisse, a) textura lepidoblstica tpica do paragnaisse, nicis paralelos (amostra CN 54; 766726E/7731832N); b) idem anterior, nicis cruzados; c) detalhe de palhetas de grafita associadas biotita, nicis paralelos (amostra CN 54); d) incluses de espinlio e biotita em cristal de granada, nicis paralelos (amostra CN 27; 765018E/7747784N); e) incluses de plagioclsio e quartzo em granada com estrutura snowball, nicis paralelos (amostra CN 27); f) idem anterior, nicis cruzados.
Os paragnaisses so freqentemente migmatticos (Fig. 17a), com mobilizados quarzto-feldspticos
de granulao grossa exibindo granada bem desenvolvida (Fig. 17b). Estes mobilizados podem ser
concordantes e/ou discordantes do bandamento gnissico, e chegam
a predominar em algumas exposies (Fig. 17c). Neste caso chegam a formar pequenos corpos
de um tpico leucogranito S que, em pelo menos um local, mapevel na escala deste
trabalho.
gt bt
800 200
400 800
800 800
grafita
A
B
C
D
E
F
-
Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 22
As ocorrncias de quartzito (Fig. 18a) dentro do Grupo Andrelndia definem, de fato, uma zona de
alternncia de paragnaisse e quartzito. O quartzito est sempre em contato, e intercalado, com
leitos de gnaisses profundamente saprolitizado, contendo granada. Observam-se camadas
individuais de quartzito, que podem atingir espessuras de dezenas de metros, e zonas de
alternncia quartzito/paragnaisse de aspecto rtmico, onde as camadas de quartzito tm espessura
centimtrica a mtrica. Os contatos com o gnaisse podem ser tanto gradacionais como bruscos
(Fig. 18b, c) O quartzito apresenta textura sacaride, bastante puro, em geral com manchas de
caulim disseminadas. Contm proporo insignificante de outros minerais, como moscovita,
granada, sillimanita e feldspato potssico. Observa-se tambm a alternncia de leitos de quartzito
puro, macio, com leitos impuros de aspecto laminado. Mobilizados anatticos ricos em granada
podem injetar o quartzito.
Em lmina delgada, o quartzito pode apresentar pequenas propores de feldspato, biotita e
moscovita. O quartzo apresenta-se totalmente recristalizado (Fig. 19), ocorrendo como cristais
xenomrficos a hipidiomrficos, mas sendo ainda possvel identificar a disposio em ribbons.
O feldspato e as micas (biotita/muscovita) so de ocorrncia restrita e, no caso das micas, foram
observadas como pequenas palhetas mal formadas. A biotita possui pleocrosmo variando de
amarelo palha a castanho esverdeado ou avermelhado. Definem a foliao e muitas vezes esto
inclusas nos cristais de quartzo. Possuem incluses de zirco. A moscovita ocorre como mineral
secundrio.
B A
C
Figura 17: Grupo Andrelndia, feies macroscpicas do paragnaisse. a) bandamento dobrado, mobilizados leucocrticos e intercalaes rompidas de anfibolito (estao CN-167; 771841E/ 7785094N); b) mobilizado leucocrtico com granada (estao CN-150; 793067E/7764104N); c) bolso de granada granito foliado (estao CN-280; 796148E/7743058N).
-
Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 23
Delgadas camadas, lentes e boudins de rocha calcissilictica so encontradas intercaladas nos
paragnaisses. Tais rochas so constitudas de clinopiroxnio, quartzo, plagioclsio e granada, tendo
como minerais acessrios titanita, minerais opacos e zirco. Minerais secundrios e/ou de alterao
so carbonatos, biotita e saussurita. Apresentam textura granoblstica, granulao mdia e
estrutura bandada. Alternam-se bandas flsicas, compostas por plagioclsio de granulao mdia e
quartzo, e bandas ricas em clinopiroxnio e plagioclsio.
O plagioclsio de composio oligoclsio-andesina (An25-35) e encontra-se geminado segundo a
Lei da Albita e, mais raramente, segundo a Lei da Periclina. Apresenta lamelas interrompidas e a
maior parte dos cristais encontra-se em avanado estgio de saussuritizao/sericitizao.
O clinopiroxnio altera-se para biotita. A titanita bastante freqente e exibe hbito navicular
predominante.
Figura 18: Grupo Andrelndia, quartzito. a) camada espessa de quartzito puro, aspecto estratificado (estao CN-148; 790704E/7765364N); b) contato transicional entre quartzito e paragnaisse saproliti-zado (estao CN-156; 791556E/7773520N); c) alternncia de leitos de quartzito e paragnaisse (estao CN-156).
Figura 19: Aspecto do quartzito do Grupo Andrelndia em lmina delgada, nicis cruzados (amostra CN 281a; 794646E/ 7744648N).
800
B A
C
-
Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 24
5.1.4 Gnaisse Tonaltico de Manhuau Sute Galilia
Esta rocha encontrada em dois corpos maiores, na regio de Manhuau e Vermelho Novo, e
tambm em alguns pequenos corpos. Em geral, trata-se de um gnaisse de cor cinza bastante
homogneo, mesocrtico, rico em minerais mficos (bitita e hornblenda), granulao fina
predominante com pores exibindo granulao mdia (Fig. 20a, b). Sua composio
dominantemente tonaltica. No corpo de Manhuau ocorre exposio onde o gnaisse rico em
encraves de composio quartzo-diortica, com evidncia de atuao de processos de magma
mingling e mixing (Fig. 20c). Os encraves exibem formas variveis, mas so fortemente estirados
segundo o plano de foliao. O corpo localizado a leste de Vermelho Novo encontra-se
profundamente intemperisado, salvo por uma exposio de gnaisse tonaltico com textura
milontica, contendo encraves de composio mais mfica fortemente estirados, e uma exposio
de gnaisse de composio grantica e granulao variando de fina a mdia com pores porfirticas.
Pegmatitos so encontrados no interior do corpo e provveis apfises deste cortam quartzito do
Grupo Andrelndia (Fig. 20d).
Figura 20: Biotita-hornblenda gnaisse. a) granulao fina e aspecto homogneo so caractersticos (estao CN-198; 794686E/7760499N); b) foliao gnissica bem desenvolvida (estao CN-198); c) encraves quartzo-diorticos indicando processo de magma mingling (estao CN-341;808139E/ 7755460N); d) contato intrusivo com quartzito Andrelndia (estao CN-137; 792961E/7780956N).
Microscopicamente as amostras destes gnaisses apresentam predominantemente textura
protomilontica a milontica, granulao fina a mdia, compostas por: plagioclsio (30-40%),
quartzo (25-40%), biotita (10-30%), hornblenda (0-25%) e microclina (0-25%). Zirco e minerais
opacos so os acessrios mais comuns.
B A
C D
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Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 25
O plgioclsio possui composio albita-oligoclsio (An12-24), ocorrendo na matriz da rocha ou na
forma de porfiroclastos. Possui geminao segundo a Lei da Albita. As lamelas de geminao
encontram-se recurvadas e os cristais esto em estgio avanado de saussuritizao/sericitzao
H intercrescimento mimerqutico nos contatos com os cristais de quartzo e/ou microclina. A biotita
ocorre em forma de palhetas mal formadas, com pleocrosmo variando de amarelo palha a
castanho. Normalmente associa-se ao quartzo dispondo-se segundo a direo da foliao,
contornando porfiroclastos de plagioclsio e microclina. A hornblenda forma cristais xenomrficos
de cor verde escura, granulao fina a mdia. A microclina ocorre como porfiroclastos fraturados e
com forte extino ondulante. Ocorre tambm em pequenos gros compondo a matriz. Os cristais
de microclina mostram alterao para moscovita.
As caractersticas do Gnaisse Tonaltico de Manhuau permitem associa-lo Sute Galilia,
representante dos granitides pr-colisionais do arco magmtico do Orgeno Araua, posicionados
majoritariamente no intervalo 600-585 Ma (Pedrosa-Soares et al. 2001).
5.1.5 Gnaisse e Granitide Charno-enderbitico com granada Sute Leopoldina
Corpos de rochas enderbticas/charnockticas, em geral de pequeno porte, so encontrados em
vrios locais. Corpos maiores, alongados na direo N-S, so encontrados na poro sudoeste da
Folha Manhuau. So rochas intrusivas nas sequncias para e ortoderivadas e que mostram textura
gnea reliquiar nas pores mais internas dos corpos. So predominantemente de composio
enderbtica, mais raro charnocktica.
Apresentam cor verde escura e granulao variando de mdia a grossa. O tipo mais caracterstico
homogneo e de aspecto macio, com textura gnea preservada (Fig. 21a, b), exibindo fcies
inequigranulares com feldspatos subcentimtricos. A granada ocorre de forma esparsa ou
concentrada em pores da rocha. Foram tambm observadas fcies com estrutura migmattica do
tipo schlieren, com restos de bandas mficas de granulao fina e encraves de granulito bsico.
Tais feies indicam o carter anattico destes corpos charno-enderbticos.
Normalmente estas rochas apresentam granulao variando de mdia a grossa. A composio
modal mdia da maioria das amostras estudadas a seguinte: ortopiroxnio (5-25%), plagioclsio
(30-60%), quartzo (15-40%), biotita (5-15%) harstingizita (0-5%). Como acessrios ocorrem
zirco, apatita, epidoto e minerais opacos (Fig. 22).
O ortopiroxnio (hiperstnio) ocorre na forma xenomrfica a hipidiomrfica, com granulao mdia
a grossa, contendo incluses de plagioclsio e biotita. Associa-se a minerais opacos e anfiblio. Os
cristais apresentam contatos retos com os gros de plagioclsio e quartzo. O plagioclsio varia
composicionalmente de albita a oligoclsio (An7-22), ocorre em cristais hipidiomrficos a
xenomrficos, granulao variando de mdia a grossa, geminados segundo a Lei da Albita, sendo
muito comum observar as maclas encurvadas ou descontnuas. Muitos cristais so antipertticos.
O quartzo mostra-se inequigranular, com limites de subgros formando bandas, indicando
recristalizao dinmica ou na forma de cristais maiores com contatos lobados. Apresenta extino
ondulante e compe a matriz em gros cominudos. A biotita apresenta granulao mdia e suas
lamelas mostram pleocrosmo de amarelo a marrom escuro. Encontra-se nas bordas do piroxnio,
-
Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 26
sendo resultado de alterao. O anfiblio (harstingizita) ocorre na forma xenomrfica, granulao
grossa, associada aos minerais opacos.
Figura 21: Charno-enderbitos. a) vista geral de afloramento, mostrando o aspecto homogneo da rocha (estao CN-198; 794686E/7760499N); b) detalhe de charno-enderbito, granulao mdia, com granada.
Estas rochas charno-enderbticas foram associadas
Sute Bela Joana, designao adotada por
Fonseca (1998) para rochas semelhantes no
Estado do Rio de Janeiro. O mesmo tipo de
granitide foi detalhadamente descrito por Duarte
et al. (2000) na regio de Juiz de Fora, sob a
designao de Charno-enderbito Salvaterra. Os
autores interpretaram este corpo gneo como de
natureza autctone a para-autctone, gerado pela
fuso parcial de paragnaisses do Grupo
Andrelndia com contribuio subordinado dos
ortogranulitos do Complexo Juiz de Fora.
5.1.6 Leucogranito granadfero da Pedra do Godinho
Trata-se de um leucogranito de granulao mdia, rico em cristais bem desenvolvidos de granada
e muito pobre em minerais mficos (biotita). Esta rocha forma apenas um pequeno corpo
mapevel na escala do mapa, mas encontrada na forma de bolses e veios anatticos em grande
parte das exposies do paragnaisse do Grupo Andrelndia.
5.1.7 Diques e outros corpos mficos intrusivos
Corpos intrusivos mficos so de ocorrncia restrita na rea da Folha Manhuau. O tipo mais
freqente possui granulao fina, ocorrendo na forma de diques com espessura inferior a 1 m, ou
na forma de corpos concordantes de espessura centimtrica a decimtrica, em ambos os casos
encaixados nos paragnaisses (Fig. 23a). Em um local foram encontrados blocos de um metagabro
(Fig. 23b).
Figura 22: Aspecto microscpico do charno-enderbito (amostra CN-114; 779503E/7750224N).
800
B A
-
Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 27
Figura 23: Corpos mficos. a) dique de anfibolito cortando paragnaisse (Estao CN-248; 807132E/ 7752050N; b) bloco de metagabro (CN-246).
So rochas constitudas principalmente por anfiblio e plagioclsio (Fig. 24). O anfiblio
hornblenda, que ocorre em cristais hipidiomrficos a idiomrficos, de granulao fina, com
pleocrosmo variando de verde claro at verde escuro. Contm muitas incluses de titanita,
minerais opacos, apatita e plagioclsio. O plagioclsio ocorre em cristais hipidiomrficos a
xenomrficos, de granulao variando de fina
a mdia, mas observa-se alguns cristais de
granulao grossa e alongados, envoltos pela
foliao, apresentando estrutura zonada. Esto
maclados segundo a Lei da Albita e Periclina,
sendo as lamelas descontnuas e, s vezes,
acunhadas. Contm incluses de quartzo,
titanita e minerais opacos. O clinopiroxnio
ocorre em cristais hipidiomrficos a xenomr-
ficos, de granulao mdia, associados aos
gros de anfiblio. Em algumas lminas foi
possvel observar sobrecrescimento de anfi-
blio em clinopiroxnio. Associa-se tambm a
minerais opacos e plagioclsio. O quartzo
pouco freqente, apresentando-se em gros finos. Est bastante recristalizado, formando bandas
estreitas e descontnuas. Minerais opacos so freqentes, ocorrem inclusos em plagioclsio e
associados titanita e clinopiroxnio; apatita rara.
5.1.8 Depsitos superficiais
Os depsitos aluviais so pouco expressivos, com exceo daqueles do canto noroeste da folha, no
vale do Rio Matip. Neste local, inclusive, encontra-se um paleoterrao aluvial muito bem
preservado (Fig. 25a).
Registra-se, prximo a Santa Margarida, a ocorrncia de um depsito argiloso, sem estratificao,
cores vermelho a branco e espessura mnima de 7-8 m, interpretado como um provvel depsito
lacustre (Fig. 25b, c).
800
Figura 24: Aspecto microscpico de dique mfico; textura orientada e composio mineralgica apresen-tando hornblenda, clinopiroxnio, plagioclsio, biotita e quartzo (nicis cruzados, amostra CN 345d; 809475/ 7755031N).
B A
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Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 28
5.2 Metamorfismo
Estudos de geotermobarometria em amostras de rocha bsica e de leucossoma migmattico do
Complexo Juiz de Fora estabeleceram que o pico metamrfico foi atingido em condies de P e T
por volta de 8 kbar e 880 C. Isto implica que o metamorfismo ocorreu na crosta inferior a uma
profundidade de cerca de 25 km (Costa 1998, Tsunogae et al. 2002).
Uma amostra de paragnaisse do Grupo Andrelndia com a paragnese mineral granada+
cordierita+sillimanita+quartzo forneceu valores de P e T significativamente mais baixos, 3 kbar e
660-690 C (Tsunogae et al. 2002). Esta paragnese com cordierita encontrada apenas no
extremo leste da rea, devendo representar uma zona de mais baixa presso e conseqente nvel
crustal mais elevado. Em amostras da regio oeste da rea o paragnaisse exibe granada com
incluses de espinlio verde. A associao espinlio+quartzo tida como caracterstica de
temperaturas muito elevadas, maiores que 900 oC, e presses moderadas a baixas menores que
9 kbar (Harley 1989). Caso o espinlio tenha se cristalizado por reaes metamrficas envolvendo
o consumo de granada e ou cordierita, a presso pode alcanar valores de at 9 kbar, em
concordncia com os clculos feitos em litotipos similares, entre Jequeri e Abre Campo, por
Schultz-Kuhnt (1985). Em resumo, as paragneses dos paragnaisses, com granada, feldspato
potssico, sillimanita e ortopiroxnio indicativa de um metamorfismo da fcies granulito, que
segundo Schultz-Kuhnt (1985) ocorreu a temperaturas entre 750 e 900C e presses no intervalo 8-10 kbar.
Figura 25: Depsitos superficiais. a) terrao aluvial, exibindo camada arenosa com estratificao cruzada recoberta por depsito argiloso de plancie aluvial (estao CN 215; 767271E/7785969N); b) vista geral de depsito argiloso, provvel ambiente fluvial (estao CN-298; 787823E/7740504N); c) detalhe do depsito anterior.
B A
C
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Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 29
A principal concluso que se tira destes dados que o metamorfismo Brasiliano atingiu o fcies
granulito na rea, e as condies de pico de P-T so semelhantes ou ligeiramente inferiores
quelas obtidas nas rochas do embasamento transamaznico. Caso assuma-se a proposio de
Duarte (1998) e Duarte & Heilbron (1999), segundo a qual as rochas do Complexo Juiz de Fora
foram metamorfisados no fcies granulito em um evento pr-brasiliano, pode-se estar diante do
registro de dois eventos metamrficos de alto grau.
5.3 Geologia Estrutural
A estruturao deste setor do Orgeno Araua marcada por quatro extensas zonas de
cisalhamento de direo N-S a NNE (Cunningham et al. 1998, Peres et al. 2004). Aquelas situadas
mais a leste so as zonas de cisalhamento de Dom Silvrio e de Ponte Nova; a primeira de alto
ngulo com movimentao sinistral e a segunda representa um empurro de baixo ngulo, com
movimentao para oeste. Ambas conectam-se com a Zona de Cisalhamento de Abre Campo a
norte do paralelo 20. Esta grande estrutura, que corta o extremo oeste da Folha Manhuau,
estende-se por mais de 300 km entre Governador Valadares e Juiz de Fora, e associa-se a uma
notvel anomalia gravimtrica e magntica (Haralyi & Hasui 1982). A Zona de Cisalhamento de
Abre Campo (Fig. 26a) possui movimentao destral, assim como a Zona de Cisalhamento de
Manhuau situada mais a leste, nas proximidades da cidade homnima. Esta ltima exibe foliao
de alto ngulo a vertical, enquanto na zona de Abre Campo domnios de alto ngulo gradam para
domnios onde a foliao mergulha moderadamente para leste.
Estas grandes zonas de cisalhamento, na Folha Manhuau, exibem orientao entre N-NE e N-S.
A Zona de Cisalhamento de Manhuau tem expresso de campo muito mais pronunciada que a
Zona de Cisalhamento de Abre Campo. Seu domnio marcado por uma acentuada milonitizao
(Fig. 26b) que afeta as rochas em toda a poro leste da folha, definindo uma faixa que atinge at
20 km de largura. A faixa milontica associada Zona de Cilhamento de Abre Campo atinge
larguras de at 2 km.
Figura 26: Estruturas mesoscpicas nas grandes zonas de cisalhamento. a) Zona de Cisalhamento de Abre Campo, gnaisse Mantiqueira no contato com paragnaisse Andrelndia (estao CN-209; 767973E/7775697N); b) milonito de biotita-hornblenda gnaisse no domnio da Zona de Cisalhamento de Manhuau (estao CN-356; 795316E/7774406N).
A
B A
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Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 30
A foliao principal na poro centro-oeste da folha, fora do domnio da Zona de Cisalhamento de
Manhuau, exibe mergulhos moderados a ngremes para E (Fig. 27a). Prximo ao limite ocidental
da folha so observados mergulhos suborizontais nos gnaisses do Complexo Mantiqueira
(Fig. 28). Dobras abertas a fechadas afetam a foliao principal, refletindo-se nos mergulhos para
W exibidos no diagrama da fig. A lineao de estiramento tem orientao direcional a fortemente
oblqua (rake = 40, Fig. 27b). Segundo Fischel (1998) esta geometria reflete uma movimentao
ao longo da Zona de Cisalhamento de Abre Campo em duas fases deformacionais. A deformao
inicial, de carter tangencial com movimentao para oeste, foi responsvel pelo posicionamento
de cunhas de empurro de paragnaisses e gnaisses enderbticos por sobre as rochas do Complexo
Mantiqueira, e foi sucedida por uma deformao direcional destral (Costa et al. 1998). Nos
gnaisses do Complexo Mantiqueira, a oeste da Zona de Cisalhamento de Abre Campo, a foliao
principal transpe uma foliao/bandamento mais antiga, possivelmente relacionada deformao
pr-brasiliana (i.e., Transamaznica - Fischel 1998, Costa et al. 1998, Cunningham et al. 1998).
A foliao no domnio da Zona de
Cisalhamento de Manhuau exibe mergulhos
de alto ngulo a verticais. O sentido do
mergulho predominantemente para W,
mas mergulhos para E tambm ocorrem,
resultando em uma geometria em leque.
A relao entre a foliao e lineao de
estiramento mineral (Fig. 29a, b) indica
movimentao essencialmente direcional, e
de natureza destral de acordo com
indicadores cinemticos diversos (assimetria
em porfiroclastos, veios de quartzo
sigmoidais, corpos rompidos de anfibolito,
etc; Fig. 30a, b). Igualmente associadas a
este movimento transcorrente so as dobras apertadas de eixo orientado N-NE, como aquelas
exibidas por camadas de quartzito (Fig. 30c). Segundo Cunningham et al. (1998) esta disposio
em leque da foliao assemelha-se geometria das estruturas em flor positivas de zonas de
cisalhamento transpressivas (Fig. 30d). Tal fato, juntamente com a presena de lineaes de
estiramento algo oblquas (orientadas NE em planos de foliao de direo N-S, Fig.), sugere um
componente de movimentao para W associado transcorrncia destral.
Figura 27: Elementos estruturais da poro W da rea; a) Diagrama de contorno de polos da foliao principal (136 medidas, mximo em 115/72, contornos: 1, 3, 5, 7). B) Diagrama de elementos lineares (eixo de dobra , lineao mineral - ).
Figura 28: Gnaisse Mantiqueira exibindo foliao sub-horizontal com dobramento suave (estao CN-219; 763856E/7776632N).
N N(a) (b)
-
Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 31
A intensa deformao no domnio da Zona de Cisalhamento de Manhuau teve como efeito a quase
total obliterao de estruturas pr-Brasilianas registradas na unidade do embasamento, o
Complexo Juiz de Fora. Foi possvel apenas, nos gnaisses enderbticos, identificar uma
foliao/bandamento mais antiga preservada principalmente em charneiras rompidas de dobras
(Cuningham et al. 1998).
Figura 30: Estruturas no domnio da Zona de Cisalhamento de Manhuau: a) milonito de paragnaisse com porfiroclasto indicando movimentao destral (estao CN-324; 783865E/7742689N); b) corpo de anfibolito rompido, indicando movimentao destral (estao CN-285; 791012E/7745465N); c) dobra apertada em camada de quartzito com eixo subvertical (estao CN-148; 790704E/7765364N); d) quartzito exibindo estrutura em flor (estao CN-195; 788960E/7753313N).
A idade da deformao principal responsvel pela estruturao da rea est bem balizada pelas
determinaes geocronolgicas que posicionam o pico metamrfico brasiliano em torno de 585-565
Ma. Segundo Peres et al. (2004), as zonas de cisalhamento de Dom Silvrio (sinistral) e Abre
Figura 29: Elementos estruturais da poro E da rea; a) Diagrama de contorno de polos da foliao principal (127 medidas, mximo em 71/76, contornos: 1, 3, 5, 7). B) Diagrama de elementos lineares (eixo de dobra , lineao mineral - ).
B A
D C
N(a) (b)
-
Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 32
Campo (destral) funcionaram como rampas laterais na movimentao para norte da fatia crustal
delimitada por elas. Este movimento posicionado no estgio inicial de fechamento do Orgeno
Araua. A Zona de Cisalhamento de Abre Campo, interpretada como uma zona de sutura (Fischel
1998), funcionou como stio de subduco oblqua para NNE, gerando este componente de
movimentao tectnica para norte. Durante o encurtamento do orgeno, no estgio sin-colisional,
que seriam gerados dobramentos e empurres com vergncia para oeste, em um sistema
transpressivo destral. A Zona de Cisalhamento de Manhuau, por sua vez, associa-se aos grandes
movimentos transcorrentes que representam a expresso tardia da coliso, gerados em processo
de tectnica de escape (Costa et al. 1998, Peres et al. 2004). Estruturas distensivas da fase de
colapso do orgeno, datado em torno de 520-500 Ma, so incomuns na rea. Em uma exposio a
sul de Manhuau observa-se um dique de anfibolito seccionado por uma falha normal dctil de
mdio ngulo e mergulho para E, o que coerente com as estruturas descritas para a fase do
colapso (Marshak et al. 2006)
5.4 Geoqumica
As anlises qumicas disponveis para as unidades geolgicas da Folha Manhuau esto
apresentadas nas tabelas 1 a 3.
Os granulitos bsicos do Complexo Juiz de Fora, classificados petrograficamente como de
composiop gabro-nortica, caem em vrios diagramas de classificao qumica (vide exemplo na
Fig.31a) no campo dos basaltos, basaltos alcalinos e andesitos. Mostram tambm tanto carter
toleitico como clcio-alcalino (Fig. 31b). Segundo Costa et al. (1993) apenas os dados indicando
carter toleitico refletem a composio original da rocha, enquanto as demais amostras analisadas
teriam sofrido modificaes em sua composio devido aos processos metamrfico-deformacionais.
Costa (1998) assume que a composio dos granulitos bsicos similar dos toleitos de baixo-K de
arcos-de-ilha ou de fundo ocenico.
Figura 31: Granulitos bsicos do Complexo Juiz de Fora. a) diagrama de classificao de rochas gneas, de Cox et al. (1979); b) diagrama de Irvine & Baragar (1971).
(a)
Tholeiitic
Calc-Alkaline
Na2O+K2O MgO
FeOt
(b)
35 45 55 65 750
3
6
9
12
15
18
Nephelin
P-N
B+T
P-T
Phonolite
Benmorite
MugeariteHawaiite
BasaltB-A Andesite
DaciteTrachyandesite
Rhyolite
Trachyte
SiO2
Na2
O+K
2O
-
Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 33
35 45 55 65 750
3
6
9
12
15
18
Nephelin
P-N
B+T
P-T
Phonolite
Benmorite
MugeariteHawaiite
BasaltB-A Andesite
DaciteTrachyandesite
Rhyolite
Trachyte
SiO2
Na2
O+K
2O
2
10
100
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A composio qumica dos gnaisses enderbticos do Complexo Juiz de Fora varia de dactica a
andestica (Fig. 32a) e os diagrama de ETR mostram acentuado empobrecimento em ETRp e
anomalias de Eu ausentes ou positivas (Fig. 32b).
Os diques e outros corpos mficos intrusivos caem no campo dos basaltos e basaltos alcalinos
(Fig. 33a), e mostram tanto tendncia toleitica quanto clcio-alcalina (Fig. 33b). As anlises pata
estas rochas apresentam grande disperso na maioria dos diagramas discriminatrios de ambiente
tectnico, com exceo daquele de Pearce et al. (1977), onde se posicionam no campo das rochas
continentais (Fig. 33c).
Anlises qumicas dos granada-gnaisses (Tabela 3) caem no campo dos pelitos e grauvacas.
Figura 32: Gnaisses enderbticos do Complexo Juiz de Fora. a) diagrama de classificao de rochas gneas, de Cox et al. (1979); b) diagrama de ETR.
5.5 Dados isotpicos
5.5.1 U-Pb
A nica datao U-Pb (SHRIMP) disponvel para a rea da Folha Manhuau foi obtida por Silva et al.
(2002a), em uma pedreira na cidade de Manhuau (estao CN-345). Aflora no local o
paragnaisse, rico em mobilizados migmatticos exibindo cristais bem desenvolvidos de granada, e
cortado por faixas milonticas. Na mesma pedreira ocorre uma rocha de composio charno-
enderbtica, foliada e de aspecto bandado, com bandas escuras de granulao fina e bandas verde-
claro de granulao mdia, ricas em granada. As relaes desta rocha com o paragnaisse
no esto expostas. Foi obtida uma idade de cristalizao de 5844 Ma. As caractersticas dos
gros de zirco analisados sugerem que este evento magmtico foi sincrnico com o pico
metamrfico (Silva et al. 2002a).
Neste relatrio so apresentados dados inditos (U-Pb SHRIMP em zirco e U-Pb ID-TIMS em
monazita) para uma exposio do Complexo Juiz de Fora em pedreira prxima cidade de Abre
Campo (coordenadas: 760667E/7754105N). Esta exposio encontra-se a poucas centenas de
metros do limite oeste da Folha Manhuau, desta forma justificando a incluso destes dados, de
(a) (b)
-
Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 34
grande relevncia para o entendimento da evoluo geolgica regional. A rocha da pedreira
encontra-se migmatizada gerando pores com estrutura estromtica definida pela alternncia de
bandas claras (leucossoma) e escuras (melanossoma). O mesossoma, interpretado como o
protlito do migmatito, apresenta colorao verde escura e constitudo de orto e clinopiroxnio,
anfiblio, biotita, plagioclsio e quartzo. Trata-se de uma rocha ortoderivada de composio
intermediria (nortica a enderbtica), tpica do Complexo Juiz de Fora. Este conjunto exibe
dobramento complexo e rico em veios concordantes a ligeiramente discordantes de um granito
rosa com granulao fina (Fig.34).
35 45 55 65 750
3
6
9
12
15
18
Nephelin
P-N
B+T
P-T
Phonolite
Benmorite
MugeariteHawaiite
BasaltB-A Andesite
DaciteTrachyandesite
Rhyolite
Trachyte
SiO2
Na2
O+K
2O
Tholeiitic
Calc-Alkaline
Na2O+K2O MgO
FeOt
Figura 33: Diques mficos. a) Diagrama de classificao de rochas gneas, de Cox et al. (1979); b) diagrama de Irvine & Baragar (1971); c) diagrama de Pearce et al. (1977); o campo 5 dos basaltos continentais.
Uma amostra do mesossoma foi datada pelo mtodo U-Pb SHRIMP (amostra LC-66a). Foram
analisados 10 spots em 10 gros de zirco. Os zirces so prismticos a rombodrico e com faces
arredondadas, exibindo baixa lumines-cncia em imagem de catodo-luminescncia com um fino
sobrecrescimento externo de alta luminescncia (baixo U, Fig. 35). Os gros exibem zonamento
interno do tipo sector zoning, tpico de zirces cristalizados em rochas gneas mficas, com uma
exceo representada por um gro com zonamento oscilatrio.
Os dados analticos so apresentados na Tabela 1. Oito anlises so discordantes mas colinea-res,
definindo uma linha de discrdia com intercepto superior em 211320 Ma (Fig. 36). Duas anlises
(a)
(b)
(c)
1
23
4 5
MgO Al2O3
FeOt
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Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 35
caem acima da linha de discrdia (4.1 e 7.1) e no foram consideradas no clculo da idade.
possvel que um evento metamrfico com idade ligeiramente menor que a idade de cristalizao
tenha perturbado parcialmente o sistema isotpico. De qualquer forma, a idade de 211320 Ma
pode ser considerada a melhor estimativa para a cristalizao magmtica da rocha.
Tabela1: Dados isotpicos U-Pb para a amostra LC-66.
Nmero Spot
% 206Pbc
U Ppm
Th
ppm
232Th /238U
206Pb* ppm
Idade(1) 206Pb/238U
Idade(1) 207Pb/206Pb
% disc.
(1) 207Pb* /206Pb*
% (1)
207Pb* /235U
% (1)
206Pb* /238U
% err corr
1.1 0,05 585 246 0,43 172