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  • MINISTRIO DE MINAS E ENERGIA

    NELSON JOS HUBNER MOREIRA Ministro Interino

    Secretaria de Geologia, Minerao e Transformao Mineral

    CLUDIO SCLIAR

    Secretrio

    CPRM-SERVIO GEOLGICO DO BRASIL

    AGAMENON SRGIO LUCAS DANTAS Diretor-Presidente

    MANOEL BARRETTO DA ROCHA NETO Diretor de Geologia e Recursos Minerais

    JOS RIBEIRO MENDES Diretor de Hidrogeologia e Gesto Territorial

    FERNANDO PEREIRA DE CARVALHO Diretor de Relaes Institucionais e Desenvolvimento

    LVARO ROGRIO ALENCAR SILVA Diretor de Administrao e Finanas

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS UFMG

    PROFESSOR RONALDO TADEU PENA

    Reitor

    INSTITUTO DE GEOCINCIAS PROFESSORA CRISTINA HELENA RIBEIRO ROCHA AUGUSTIN

    Diretora

    PROGRAMA GEOLOGIA DO BRASIL Contrato CPRM- UFMG N. 059/PR/05

    Braslia, 2007

  • APRESENTAO

    O Programa Geologia do Brasil (PGB), desenvolvido pela CPRM - Servio Geolgico do Brasil, responsvel pela retomada em larga escala dos levantamentos geolgicos bsicos do pas. Este programa tem por objetivo a ampliao acelerada do conhecimento geolgico do territrio brasileiro, fornecendo subsdios para novos investimentos em pesquisa mineral e para a criao de novos empreendimentos mineiros, com a conseqente gerao de novas oportunidades de emprego e renda. Alm disso, os dados obtidos no mbito desse programa podem ser utilizados em programas de gesto territorial e de recursos hdricos, dentre inmeras outras aplicaes de interesse social.

    Destaca-se, entre as aes mais importantes e inovadoras desse programa, a estratgia de implementao de parcerias com grupos de pesquisa de universidades pblicas brasileiras, em trabalhos de cartografia geolgica bsica na escala 1:100.000. Trata-se de uma experincia que, embora de rotina em outros pases, foi de carter pioneiro no Brasil, representando uma importante quebra de paradigmas para as instituies envolvidas. Essa parceria representa assim, uma nova modalidade de interao com outros setores de gerao de conhecimento geolgico, medida que abre espao para a atuao de professores, em geral lderes de grupos de pesquisa, os quais respondem diretamente pela qualidade do trabalho e possibilitam a insero de outros membros do universo acadmico. Esses grupos incluem tambm diversos pesquisadores associados, bolsistas de doutorado e mestrado, recm-doutores, bolsistas de graduao, estudantes em programas de iniciao cientfica, dentre outros. A sinergia resultante da interao entre essa considervel parcela do conhecimento acadmico nacional com a excelncia em cartografia geolgica praticada pelo Servio Geolgico do Brasil (SGB) resulta em um enriquecedor processo de produo de conhecimento geolgico que beneficia no apenas a academia e o SGB, mas toda a comunidade geocientfica e industria mineral.

    Os resultados obtidos mostram um importante avano, tanto na cartografia geolgica quanto no estudo da potencialidade mineral e do conhecimento territorial em amplas reas do territrio nacional. O refinamento da cartografia, na escala adotada, fornece aos potenciais usurios, uma ferramenta bsica, indispensvel aos futuros trabalhos de explorao mineral ou aqueles relacionados gesto ambiental e avaliao de potencialidades hdricas, dentre outros.

    Alm disso, o projeto foi totalmente desenvolvido em ambiente SIG e vinculado ao Banco de Dados Geolgicos do SGB (GEOBANK), incorporando o que existe de atualizado em tcnicas de geoprocessamento aplicado cartografia geolgica e encontra-se tambm disponvel no Portal do SGB www.cprm.gov.br.

    As metas fsicas da primeira etapa dessa parceria e que corresponde ao binio 2005-2006, foram plenamente atingidas e contabilizam 41 folhas, na escala 1:100.000, ou seja aproximadamente 1,5% do territrio brasileiro. As equipes executoras correspondem a grupos de pesquisa das seguintes universidades: UFRGS, USP, UNESP, UnB, UERJ, UFRJ, UFMG, UFOP, UFBA, UFRN, UFPE e UFC.

    Este CD contm a Nota Explicativa da Folha Manhuau, juntamente com o Mapa

    Geolgico na escala 1:100.000 (SF.23-X-B-III), em ambiente SIG, executado pela UFMG, atravs do Contrato CPRM-UFMG No.059/PR/05.

    Braslia, setembro de 2007

    AGAMENON DANTAS MANOEL BARRETTO Diretor Presidente Diretor de Geologia e Recursos Minerais

  • MINISTRIO DE MINAS E ENERGIA SECRETARIA DE GEOLOGIA, MINERAO E TRANSFORMAO MINERAL

    CPRM - SERVIO GEOLGICO DO BRASIL

    PROGRAMA GEOLOGIA DO BRASIL Contrato CPRM-UFMG N. 059/PR/05

    NOTA EXPLICATIVA DA FOLHA

    MANHUAU (SF.23-X-B-III)

    1:100.000

    AUTORES Carlos Maurcio Noce, Antnio Gilberto Costa, Danielle Piuzana,

    Valter Salino Vieira, Camila da Mota Carvalho

    COORDENAO GERAL Antnio Carlos Pedrosa Soares

  • APOIO INSTITUCIONAL DA CPRM Departamento de Geologia-DEGEO

    Edilton Jos dos Santos

    Diviso de Geologia Bsica-DIGEOB Incio Medeiros Delgado

    Diviso de Geoprocessamento-DIGEOP

    Joo Henrique Gonalves

    Edio do Produto Diviso de Marketing-DIMARK

    Ernesto von Sperling

    Gerncia de Relaes Institucionais e Desenvolvimento - GERIDE/ SUREG-BH

    Marcelo de Arajo Vieira

    Brysa de Oliveira Elizabeth de Almeida Cadte Costa

    M. Madalena Costa Ferreira Rosngela Gonalves Bastos de Souza

    Silvana Aparecida Soares

    Representante da CPRM no Contrato Fernando Antnio Rodrigues de Oliveira

    APOIO TCNICO DA CPRM Supervisor Tcnico do Contrato

    Luiz Carlos da Silva

    Apoio de Campo Luiz Carlos da Silva

    Reviso do Texto

    Luiz Carlos da Silva

    Organizao e Editorao Luiz Carlos da Silva

    Carlos Augusto da Silva Leite

    Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais-CPRM/Servio Geolgico do Brasil.

    Manhuau- SF.23-X-B-III, escala 1:100.000: nota explicativa./Carlos Maurcio Noce, Antnio Gilberto Costa, Danielle Piuzana, Valter Salino Vieira, Camila da Mota Carvalho.- Minas Gerais: UFMG/CPRM, 2007.

    44p; 01 mapa geolgico (Srie Programa de Geologia do Brasil PGB) verso em CD-Rom.

    Contedo: Projeto desenvolvido em SIG Sistema de Informaes Geogrficas utilizando o GEOBANK Banco

    de dados.

    1- Geologia do Brasil- I- Ttulo II- Pedrosa Soares, A.C. Coord. III- Noce, C.M., IV- Costa, A.G. V- Piuzana, D. VI- Vieira, V.S. VII- Carvalho, C.M..

    CDU 551(815)

    ISBN 978-85-7499-041-5

  • Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau i

    AGRADECIMENTOS

    Os autores agradecem graduanda em Geologia pelo IGC-UFMG, Renata Augusta Azevedo Silva

    pela ajuda nos trabalhos de campo. A colaborao com o Dr. Luiz Carlos Silva em projetos de

    geocronologia na regio, bem como nas discusses no campo, trouxe importante contribuio para

    este trabalho.

  • Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau ii

    SUMRIO

    AGRADECIMENTOS ............................................................................................................. i

    1. INTRODUO ................................................................................................................ 1

    1.1 Localizao Geogrfica ............................................................................................. 1

    1.2 Dados fsicos de produo ........................................................................................ 1

    2. ASPECTOS FISIOGRFICOS ............................................................................................. 2

    3. TRABALHOS ANTERIORES ............................................................................................... 4

    4. CONTEXTO GEOTECTNICO E GEOLOGIA REGIONAL ........................................................... 6

    4.1 Embasamento ........................................................................................................ 6

    4.2 Orgeno Araua ..................................................................................................... 7

    5. GEOLOGIA LOCAL ......................................................................................................... 11

    5.1 Estratigrafia .......................................................................................................... 12

    5.1.1 Complexo Piedade (Complexo Mantiqueira) ...................................................... 12

    5.1.2 Complexo Juiz de Fora ................................................................................... 14

    5.1.3 Grupo Andrelndia ........................................................................................ 17

    5.1.4 Gnaisse Tonaltico de Manhuau Sute Galilia ................................................ 24

    5.1.5 Gnaisse e Granitide Charno-enderbitico com granada Sute Leopoldina ............. 25

    5.1.6 Leucogranito granadfero da Pedra do Godinho .................................................. 26

    5.1.7 Diques e outros corpos mficos intrusivos ....................................................... 26

    5.1.8 Depsitos superficiais .................................................................................... 27

    5.2 Metamorfismo ....................................................................................................... 28

    5.3 Geologia Estrutural ................................................................................................. 29

    5.4 Geoqumica ........................................................................................................... 32

    5.5 Dados isotpicos .................................................................................................... 33

    5.5.1 U-Pb ........................................................................................................... 33

    5.5.2 Sm-Nd ........................................................................................................ 36

    5.6 Recursos Minerais .................................................................................................. 37

    5.6.1 Bauxita ....................................................................................................... 37

    5.6.2 Depsitos e ocorrncias minerais relacionados a pegmatitos (caulim, mica, quartzo, gua-marinha) ................................................................................. 38

    5.6.3 Ocorrncias de crindon e ametista ................................................................. 39

    5.6.4 Materiais de construo civil (saibro, brita, rocha ornamental) ............................. 39

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ........................................................................................ 40

  • Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 1

    1. INTRODUO

    1.1 Localizao Geogrfica

    A rea abrangida pelo mapa geolgico da Folha Manhuau (escala 1:100.000) est delimitada pelos meridianos 42o30 42o00 e paralelos 20o00 20o30, situada na poro leste do Estado de Minas Gerais (Fig. 1). Alm da cidade de Manhuau, a rea mapeada inclui diversos outros centros urbanos como Abre Campo, Sericita, Raul Soares, Matip, Luisburgo, etc.

    A folha cortada por duas importantes rodovias federais, a BR116 (Rio-Bahia) e a BR-262, permitindo fcil acesso a partir de Belo Horizonte, Rio de Janeiro ou Vitria.

    1.2 Dados fsicos de produo

    O mapeamento geolgico da Folha Manhuau foi realizado entre os meses de junho e outubro de

    2005. Foram descritas 468 novas estaes de campo e revisitadas outras 63 de trabalhos

    anteriores realizados por membros da equipe. Alm disso, o trabalho apoiou-se em 162 estaes

    de campo cuja descrio foi fornecida pelo Servio Geolgico do Brasil-CPRM. Foram tambm

    cadastrados 29 depsitos e ocorrncias minerais. Neste relatrio so apresentadas duas novas

    determinaes U-Pb (SHRIMP e ID-TIMS). De trabalhos anteriores a folha conta ainda com uma

    determinao U-Pb (SHRIMP), sete determinaes de idade-modelo e uma iscrona Sm-Nd, alm

    de 22 anlises qumicas de rocha total.

    Figura 1: Localizao da Folha no mbito do contrato UFMG/CPRM-2005.

  • Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 2

    2. ASPECTOS FISIOGRFICOS

    O clima da regio pode ser classificado como tropical quente e semi-mido (IBGE 1977),

    caracterstico de grande parte da bacia do mdio Rio Doce. A estao seca bem acentuada e

    prolonga-se por trs a cinco meses (maio a setembro). O inverno coincide com os meses mais

    secos, enquanto o perodo chuvoso relaciona-se com o final da primavera e incio do vero. Os

    meses de dezembro e janeiro so caracterizados por intensa precipitao pluviomtrica.

    A precipitao mdia anual varia entre 1.000 mm e 1.250 mm. De maneira geral, caracteriza-se

    por mdias trmicas anuais superiores a 20C e, em fevereiro, o ms mais quente, a temperatura ultrapassa os 26C.

    A vegetao original que recobria a rea mapeada classificada como floresta subcaduciflia

    tropical segundo o IBGE (1977). Constitui uma vegetao de transio entre florestas perenes de

    encosta e as formaes no florestais do interior. O clima o principal fator condicionante: semi-

    mido com estao seca bem marcada que condiciona a periodicidade de sua vida vegetativa,

    caracterizada pela perda de folhas na estao seca. Entretanto, a floresta subcaduciflia tropical

    encontra-se quase totalmente devastada, cedendo lugar agricultura, que diminuiu a fertilidade da

    terra e originou pastagens e capoeiras.

    Na Folha Manhuau, a quase totalidade das reas serranas encontra-se destituda da cobertura

    vegetal original, em funo das atividades pastoris e agrcolas - principalmente a cafeicultura. Tal

    cobertura encontra-se ainda bastante descaracterizada em seus poucos remanescentes. A rea

    apresenta, localmente, plancies de inundao, onde ocorre a vegetao tpica de regies

    alagadias.

    A rea da Folha Manhuau est includa em uma unidade geomorfolgica designada Serranias da

    Zona da Mata Mineira (Gatto et al. 1983), caracterizada por relevos de formas alongadas, tipo

    cristas e linhas de cumeada. Na regio de Manhuau, no leste da folha, adjacente ao Macio do

    Capara, ocorrem linhas de serra paralelas, bastante retilneas e orientadas NNW, com escarpas

    ngremes e topos aguados, cujas cristas podem superar os 1.600 m. de altitude (Fig. 2a).

    O relevo torna-se progressivamente mais dissecado para oeste, passando a predominar um relevo

    de colinas alongadas com topos convexos (Fig. 2b), cuja altitude mdia decresce progressivamente

    de 700-800 m. na regio de Caputira para 400-500 m. em Abre Campo e Raul Soares. Neste

    relevo colinoso destacam-se pontes e linhas de cumeada mais elevados, mas quase sempre

    abaixo dos 1.000 m. de altitude.

  • Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 3

    Figura 2: Aspectos geomorfolgicos: a) linhas de serra retilneas da regio de Manhuau, orientadas NNW, com escarpas ngremes e topos aguados, cujas cristas podem superar os 1.600 m. de altitude; b) relevo de colinas alongadas com topos convexos, predominante na poro oeste da Folha Manhuau

    B A

  • Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 4

    3. TRABALHOS ANTERIORES

    A rea coberta pela Folha Manhuau 1:100.000 foi includa nos seguintes projetos de mapeamento

    geolgico regional nas escalas 1.1.000.000 e 1:250.000:

    - DNPM, Carta Geolgica do Brasil ao Milionsimo Folhas Rio de Janeiro, Vitria Iguape,1979.

    - CPRM, Folha Ponte Nova, escala 1:250.000 (autoria de Frederico Ozanan Raposo), mapa indito,

    apresentado no 40o Congresso Brasileiro de Geologia (Belo Horizonte, 1998).

    Os mapas geolgicos em escala maior que abrangem partes da rea da Folha Manhuau so

    encontrados em trs dissertaes de mestrado (Fig. 3), as quais tambm constituem as principais

    fontes de dados petrogrficos, geoqumicos, geocronolgicos e sobre recursos minerais, que aqui

    foram compilados. A contribuio de cada um destes trabalhos sintetizada a seguir:

    - Fischel, D.P., 1998. Geologia e dados istpicos Sm-Nd do Complexo Mantiqueira e do Cinturo

    Ribeira na regio de Abre Campo, Minas Gerais. Universidade de Braslia, Dissertao de Mestrado,

    98 p.

    Este trabalho apresenta um mapa na escala 1:100.000 do leste da Folha Manhuau, um estudo

    estrutural detalhado e diversas descries petrogrficas. importante fonte de dados

    geocronolgicos Sm-Nd para a folha; apresenta oito determinaes de idades-modelo (TDM) e duas

    iscronas minerais.

    - Moreira, L.M. 1997. Evoluo crustal do leste de Minas Gerais: uma contribuio a partir do

    estudo geotermobaromtrico de metamorfitos da regio Simonsia-Manhuau (MG). Universidade

    Federal de Minas Gerais, Dissertao de Mestrado, 113 p.

    O mapa geolgico deste trabalho, apresentado na escala 1:60.000 mas originalmente efetuado em

    escala 1:25.000, abrange parte do quadrante nordeste da Folha Manhuau. So apresentados

    dados geoqumicos (rocha total) para as vrias unidades geolgicas e anlises minerais para

    estudos de geotermobarometria.

    - Campos, J.C.S. 1999. Os depsitos de caulim, ametista e corndon a NW de Manhuau (MG):

    geologia da rea, mineralogia e gnese. Universidade Federal de Ouro Preto, Dissertao de

    Mestrado, 168 p.

    Apresenta um mapa geolgico na escala 1:125.000 que abrange a regio central da Folha

    Manhuau. O foco do trabalho o estudo de recursos minerais, especialmente dos pegmatitos

    produtores de caulim.

  • Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 5

    Estudos cientficos de carter regional, abrangendo os campos da Geologia Estrutural,

    Geotectnica, Geocronologia e Petrologia, so importantes fontes de informao sobre a Folha

    Manhuau, tais como os artigos de Costa et al. (1993, 1998), Cunningham et al. (1998), Silva

    et al. (2002) e Peres et al. (2004).

    1

    23

    Figura 3: Localizao das reas mapeadas por 1 - Fischel (1998), 2 - Moreira (1997) e 3 - Campos (1998), no mbito da Folha Manhuau.

  • Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 6

    4. CONTEXTO GEOTECTNICO E GEOLOGIA REGIONAL

    A rea estudada localiza-se na poro meridional do Orgeno Araua, prxima ao limite com o

    Orgeno Ribeira. O Orgeno Araua se estende do Crton do So Francisco ao litoral atlntico,

    aproximadamente entre os paralelos 15 e 21 S (Pedrosa-Soares et al. 2001). Na altura do

    paralelo 21, a passagem do Orgeno Araua para o Orgeno Ribeira marcada pela deflexo da

    estruturao brasiliana que muda da direo NNE, a norte, para NE, a sul. No se verifica

    descontinuidade estratigrfica ou metamrfica na zona de fronteira entre estes orgenos.

    As unidades geolgicas presentes no domnio do Orgeno Araua podem ser agrupadas em dois

    grandes conjuntos: i. embasamento Arqueano/Paleoproterozico; ii. unidades supracrustais e

    sutes magmticas associadas aos vrios estgios evolutivos do orgeno.

    4.1 Embasamento

    O embasamento encontra-se exposto na forma de complexos gnissico-migmatticos, constituindo

    escamas de empurro e terrenos para-autctones. Tais complexos distribuem-se no domnio

    ocidental externo do Orgeno Araua (Mantiqueira, Guanhes), e no domnio interno (Juiz de Fora,

    Pocrane). Os dados geocronolgicos indicam que, com exceo do Complexo Guanhes, de idade

    arqueana (Silva et al. 2002), as demais unidades foram geradas no Paleoproterozico, entre ca. 2200

    e 2050 Ma (Machado et al. 1996, Silva et al. 2002a).

    As unidades do embasamento que interessam diretamente regio em estudo so os complexos

    Mantiqueira e Juiz de Fora. A associao de rochas dos complexos Mantiqueira e Juiz de Fora, os

    dados geoqumicos e isotpicos, bem como sua distribuio geogrfica de oeste para leste,

    permitiram a construo de um modelo em que estas unidades representam, respectivamente, um

    arco magmtico desenvolvido sobre a margem do paleocontinente arqueano, e um ou mais arcos

    magmticos acrescionrios. Representam, portanto, segmentos de um Orgeno Paleoproterozico,

    posteriormente desmembrado e retrabalhado pela Orognese Brasiliana. (Figueiredo & Teixeira

    1996, Costa et al. 1996, Alkmin & Marshak 1998, Heilbron et al. 2003a).

    O Complexo Mantiqueira constitudo por anfiblio ortognaisses de aspecto bandado, por vezes

    migmatticos, exibindo comumente intercalaes de rochas anfibolticas, e tem sido englobado em

    mais de uma unidade litoestratigrfica desde a definio original da Srie Mantiqueira por Barbosa

    (1954). Desta forma, em funo do autor, a mesma associao litolgica pode ser parcial ou

    totalmente includa no Gnaisse ou Complexo Piedade (Ebert 1958, Machado Filho et al. 1983, Silva

    et al. 2002b), no Complexo Gnissico-Migmattico (Silva 1978) ou no Complexo Barbacena (Hasui

    & Oliveira 1984). A designao Complexo Mantiqueira deve-se a Brandalise (1991). Uma sntese

  • Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 7

    atual sobre a evoluo dos conhecimentos sobre esta unidade pode ser encontrada em Heilbron

    et al. (2003a).

    Os biotita-hornblenda gnaisses do Complexo Mantiqueira so derivados de sutes clcio-alcalinas,

    com composio variando de tonaltica a grantica, subordinadamente trondhjemtica. As rochas

    bsicas dividem-se em um agrupamento de composio toleitica e outro de afinidade alcalina

    (Duarte 1998).

    Dataes U-Pb SHRIMP determinaram idades de cristalizao magmtica para estes ortognaisses

    no intervalo 2169-2058 Ma (Silva et al. 2002a). Dados isotpicos de Sr e Nd sugerem que tais

    rochas foram predominantemente geradas por processos de fuso de uma crosta arqueana

    (Figueiredo & Teixeira 1996, Fischel et al. 1998). Figueiredo & Teixeira (1996) postulam tambm

    alguma contribuio de material juvenil paleoproterozico.

    O termo Complexo Juiz de Fora refere-se extensa faixa de rochas granulticas com direo NE-

    SW, que aflora na regio limtrofe entre os estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro, inicialmente

    estudada por Ebert (1955, 1957) e Rosier (1957). Vrias propostas de definio, interpretao e

    subdiviso para esta associao litolgica, muitas vezes conflitantes, foram apresentadas nas

    ltimas dcadas. Sugere-se a leitura da sntese de Heilbron et al. (2003a), que apresenta uma

    anlise dessas diversas contribuies sobre o Complexo Juiz de Fora e completa listagem

    bibliogrfica.

    Segundo a definio de Heilbron (1993, 1995), o Complexo Juiz de Fora constitudo por

    ortognaisses e metabasitos com paragneses da fcies granulito, que localmente mostram efeitos

    de evento metamrfico retrgrado, com formao de hornblenda e biotita a partir de piroxnios. As

    intercalaes metassedimentares, includas no complexo por outros autores, foram interpretadas

    como escamas tectnicas da cobertura neoproterozica. A partir destas premissas, e da idade de

    cristalizao de ca. 2134 Ma (U-Pb) obtida por Machado et al. (1996) para uma rocha charnocktica

    do Complexo Juiz de Fora da regio de Conservatria (RJ), pode-se caracterizar esta unidade como

    uma associao magmtica de idade Transamaznica. Costa et al. (1995) e Duarte et al. (1997)

    identificaram no Complexo Juiz de Fora a presena de sutes bsicas (uma toleitica e outra com

    tendncia alcalina) e sutes clcio-alcalinas. Segundo Duarte (1998) e Duarte & Heilbron (1999),

    o primeiro evento metamrfico a afetar as rochas do complexo, responsvel pela formao de

    paragneses diagnsticas da fcies granulito (ortopiroxnio + plagioclsio clinopiroxnio

    hornblenda) em arranjo granoblstico, anterior formao da foliao regional, relacionada

    Orognese Brasiliana. A paragnese mineral associada a esta foliao tem carter retrgrado,

    evidenciado pela cristalizao de hornblenda, biotita e granada a partir de ortopiroxnio e

    clinopiroxnio, nos ortogranulitos.

    4.2 Orgeno Araua

    A evoluo do Orgeno Araua (Fig. 4) encontra-se detalhada nos trabalhos de Pedrosa-Soares

    et al. (2001) e Heilbron et al (2004), e em inmeros trabalhos referenciados nestas mesmas

    snteses.

  • Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 8

    Figura 4: Mapa geolgico do Orgeno Araua (Pedrosa-Soares et al. 2005).

    A fase rifte da bacia desenvolveu-se entre ca. 930 e 880 Ma, e seu registro sedimentar

    representado pelas unidades basais e proximais do Grupo Macabas, constitudas de quartzito e

    conglomerado, superpostos por metadiamictito com intercalaes de quartzito. O estgio

    transicional entre as fases rifte e de margem passiva representado pela seqncia glcio-marinha

    do Grupo Macabas, consistindo de diamictito (fluxo de detritos) estratificado com turbidito

    arenoso a peltico e formao ferrfera sedimentar (tipo Rapitan), metamorfisados na fcies xisto

    verde. A fase de margem continental passiva da Bacia Macabas representada por extensa

    sedimentao de turbiditos areno-pelticos de mar profundo e por remanescentes de crosta

  • Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 9

    ocenica. Esta unidade distal do Grupo Macabas a Formao Ribeiro da Folha a qual, onde

    exclusivamente sedimentar, consiste de quartzo-mica xisto bandado com intercalaes de rocha

    clcio-silictica, grafita xisto e mrmore. Na parte vulcano-sedimentar da Formao Ribeiro da

    Folha predomina micaxisto peraluminoso com intercalaes de metachert sulfetado, grafita xisto

    com cianita e/ou sulfeto, formaes ferrferas bandadas dos tipos xido, silicato e sulfeto, e orto-

    anfibolitos. O metamorfismo regional varia da zona da granada (transio das fcies xisto verde e

    anfibolito) at a zona da sillimanita da fcies anfibolito. Os orto-anfibolitos mostram assinatura

    geoqumica de assoalho ocenico e representam sees diversas da crosta ocenica, desde a

    poro gabrica inferior at rochas vulcnicas. Datao Sm-Nd dos orto-anfibolitos forneceu idade

    isocrnica (rocha total) em torno de 816 Ma, indicativa da cristalizao magmtica dos protlitos

    mficos. Lascas tectnicas de rochas meta-ultramficas esto encaixadas na Formao Ribeiro da

    Folha, interpretadas como pores de manto sub-ocenico.

    O Grupo Rio Doce, que tambm caracterizado por sedimentao turbidtica de mar profundo

    (metagrauvaca, micaxisto e gnaisse), um candidato a representante da margem passiva oriental

    (i.e., do lado africano) da bacia neoproterozica, pois se encontra a leste da zona de sutura.

    A fase orognica est registrada pelos estgios pr-colisional (630-585 Ma), sincolisional (585-565

    Ma), tardi-colisional (565-535 Ma) e ps-colisional (520-490 Ma).

    O estgio pr-colisional (630-585 Ma), ou acrescionrio, engloba os processos relacionados

    edificao do arco magmtico clcio-alcalino. Neste estgio foi gerada a sute G1 que constituda,

    predominantemente, por tonalito e granodiorito, com diorito subordinado e freqentes encraves

    mficos. A foliao regional est impressa nas rochas desta sute, bem como nos seus encraves

    que, geralmente, tambm esto estirados. O grande acervo de dados geoqumicos e isotpicos

    demonstra que a Sute G 1 se formou em ambiente de arco magmtico de margem continental

    ativa.

    Os padres principais de deformao e metamorfismo so originados no estgio sincolisional

    (585-565 Ma). Os vetores indicadores do aumento de temperatura do metamorfismo regional

    convergem para a zona de intensa anatexia, situada a norte do paralelo 19. A foliao regional

    das rochas pelticas formada por paragneses do regime de mdia presso (tipo barrowiano),

    desde a zona da clorita, que margeia o crton, at a zona da sillimanita, no domnio tectnico

    interno. No complexo paragnissico do nordeste de Minas Gerais, norte do Esprito Santo e sul da

    Bahia, so comuns paragneses a biotita, granada, cordierita e/ou sillimanita, sincinemticas

    foliao regional, que indicam metamorfismo regional da fcies anfibolito alto transio

    anfibolito/granulito, a presses moderadas a baixas (Costa 1990). Fuso parcial extensiva no

    complexo paragnissico. Os granitos do tipo S, foliados (gnaisses), deste estgio esto englobados

    na sute G2. Esta sute inclui corpos granticos tabulares autctones ou parautctones e intruses,

    deformados em concordncia com a foliao regional. As composies predominantes so

    cordierita-granada-biotita granito, granada-biotita granito e granito a duas micas. So muito

    freqentes os xenlitos e restos de teto (roof pendants), de tamanhos os mais variados,

    constitudos por metassedimentos em estgios variados de assimilao. Os pegmatitos ricos em

    gemas e minerais industriais, da regio de Conselheiro Pena-Galilia, so derivados de granitos G2.

    Em poca que se estendeu do estgio pr-colisional ao sincolisional ocorreu a sedimentao, em

    bacia de retroarco, dos protlitos do complexo paragnissico cujos zirces detrticos apresentam

  • Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 10

    idades U-Pb em torno de 630 Ma (Noce et al. 2004). A rochas deste complexo tm sido englobadas

    em mais de uma unidade, como o Complexo Jequitinhonha e Complexo Paraba do Sul. As rochas

    predominantes so gnaisses peraluminosos (ricos em biotita, granada, cordierita e/ou sillimanita,

    com traos de grafita, ou seja, kinzigito stricto sensu) e seus termos menos aluminosos, que

    apresentam intercalaes de grafita gnaisse, quartzito, rocha clcio-silictica e leptinito. Grandes

    depsitos de grafita lamelar situam-se na parte norte do complexo paragnissico. Este complexo

    pode incluir tambm representantes da sedimentao de margem passiva da bacia precursora do

    Orgeno Araua, principalmente a sul do paralelo de Vitria, onde ocorrem expressivas camadas

    de mrmore.

    O estgio tardi-colisional parece ter se estendido de 565 Ma a 535 Ma. O limite mais novo deste

    intervalo ainda impreciso, em funo da falta de dados geocronolgicos conclusivos. Granada-

    cordierita leucogranito a rocha caracterstica (mas no exclusiva) da sute G3S, gerada neste

    estgio. Esta sute engloba tanto mobilizados flsicos quanto resduos de fuso. Alguns pltons

    granticos do tipo I, com assinatura clcio-alcalina de alto K, que ocorrem no setor nordeste do

    orgeno, foram considerados tardi-colisionais e comporiam a sute G3I.

    No domnio externo do orgeno, o estgio tardi-colisional representado pela Formao Salinas.

    Na rea-tipo, esta formao consiste de grauvaca, pelito e conglomerado clastosuportado,

    metamorfisados na fcies xisto verde. Entretanto, o metamorfismo pode atingir a fcies anfibolito

    na borda oriental da formao. Dataes de zirces detrticos e de zirces de seixos de rochas

    vulcnicas flsicas limitam a idade mxima da Formao Salinas em 570 Ma. As intruses granticas

    G4 que a cortam (500 Ma) balizam sua idade mnima. Portanto, a Formao Salinas representa

    sedimentao tardi-orognica e, por isto, foi retirada do Grupo Macabas (Lima et al. 2002).

    O estgio ps-colisional (520-490 Ma) oferece evidncias marcantes do colapso extensional do

    Orgeno Araua. No domnio tectnico externo, a clivagem de crenulao ngreme que mergulha

    para oeste e corta a foliao regional a principal estrutura originada pelo colapso extensional do

    orgeno, ao qual so tambm atribudas as sutes granticas G4 e G5. A sute G4 ocorre ao longo

    da zona limtrofe entre os domnios tectnicos externo e interno, onde esto expostas intruses

    granticas relativamente rasas (alojados entre 5 e 15 km de profundidade). So intruses em

    forma de balo e conjuntos de pltons amalgamados, com cpulas pegmatides localmente

    preservadas. Os granitos G4 so do tipo S e apresentam propores diversas de muscovita, biotita

    e granada. Orientao de fluxo gneo e xenlitos de encaixante so freqentes. Os granitos da

    sute G4 so fontes de pegmatitos residuais, ricos em gemas (particularmente turmalinas e

    morganita), minerais de ltio, feldspatos e outros minerais da indstria cermica e vidreira, e

    minerais de metais raros (e.g., tantalita). A sute G5 constituda de intruses granticas do tipo I,

    livres da foliao regional, cuja ocorrncia se limita ao ncleo do orgeno. Estas intruses podem

    conter fcies charnockticas e enderbticas. Na poro sul do orgeno, em decorrncia da exposio

    de nvel crustal mais profundo, so comuns os pltons zonados que mostram ncleos (razes) de

    composio bsica. A composio predominante das intruses G5 varia de granito a sienogranito,

    geralmente porfirtico a sub-porfirtico, com freqentes enclaves mficos e eventuais xenlitos de

    rocha encaixante. Feies de mistura mecnica (mingling) e qumica (mixing) de magmas so

    comuns. A assinatura geoqumica das intruses clcioalcalina de alto K e alto Fe. Os pltons G5,

    particularmente aqueles que se situam na poro norte do orgeno, so fontes de pegmatitos ricos

    em gua-marinha e topzio.

  • Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 11

    5. GEOLOGIA LOCAL

    GRANITIDES BRASILIANOS

    NEOPROTEROZICO

    PALEOPROTEROZICO

    NEOGENO

    GRUPO ANDRELNDIA

    COMPLEXO PIEDADE

    COMPLEXO JUIZ DE FORA

    Depsitos aluvionaresN4a

    Granada-biotita gnaisse e sillimanita-granada-biotita gnaisse (ocorrncia restrita destes gnaisses com cordierita e/ou hercynita e/ou hyperstnio). Freqentemente migmatticos com mobilizados leucogranticosricos em granada. Camadas de quartzito, com espessura atingindo at algumas centenas de metros, interca-ladas com o paragnaisse (q)

    NPagm q

    Granulito de composio gabro-nortica (hyperstnio + diopsdio + plagioclsio quartzo e granada).PP2jfb

    Gnaisse migmattico, com mesossoma granultico (composio bsica) e predomnio de mobilizados enderb-ticos (hyperstnio + plagioclsio + quartzo; biotita anfiblio como minerais secundrios).

    PP2jfgm

    Biotita-honblenda gnaisse bandado, com intercalaes de corpos de anfibolitoPp2pd

    Leucogranito granadfero da Pedra do GodinhoNP32pg

    PROVNCIA MANTIQUEIRA/ORGENO ARAUA

    Gnaisse e granitide charno-enderbtico com granada - Sute Leopoldina: charno-enderbitos com granada, exibindo textura isotrpica a bem foliada

    Np32lp

    Gnaisse tonaltico de Manhuau - Sute Galilia: biotita gnaisse e biotita-hornblenda gnaisse, composio variando de tonal-tica a grantica

    NP31ma

    Figura 5: Coluna geolgica na Folha Manhuau.

    As unidades geolgicas definidas na Folha Manhuau so apresentadas na Fig. 5.

    A poro NW da folha cortada pela Zona de Cisalhamento de Abre Campo, que marca o contato

    entre os ortognaisses bandados do Complexo Mantiqueira, a oeste, com uma associao de

    natureza tectnica que ocupa a maior parte da rea da folha. Esta associao exibe a alternncia

    de faixas predominantemente compostas por gnaisses migmatticos, de composio enderbtica, e

    paragnaisses (biotita-granada gnaisses). Fonseca et al. (1979) posicionam estas rochas a leste da

    zona de Abre Campo na associao charnocktica de idade Paleoproterozica, e Fischel (1998) e

    Cunningham et al. (1998) no Complexo Juiz de Fora. A presena de faixas tectonicamente

    justapostas de unidades distintas foi descrita por Costa et al. (1998). Os gnaisses enderbticos,

    juntamente com outros litotipos associados como granulitos bsicos, foram atribudos ao Complexo

    Juiz de Fora, enquanto os paragnaisses (granulitos peraluminosos na classificao de Costa et al,

    1998) foram includos no Complexo Paraba do Sul.

    A correlao com o Complexo Juiz de Fora comprovada pela idade paleoproterozica (211320,

    Noce 2004) obtida em uma rocha granultica de composio nortica na Pedreira de Abre Campo,

    que fica a poucas centenas de metros do limite ocidental da Folha Manhuau. Por outro lado, a

    correlao da unidade supracrustal com o Complexo Paraba do Sul (tambm proposta por Raposo

  • Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 12

    1998, embora este autor no tenha reconhecido a real extenso da unidade) no se sustenta luz

    conhecimento atual da geologia regional. De fato, esta associao de intercalaes tectnicas do

    Complexo Juiz de Fora com uma seqncia supracrustal, revelada pelo mapeamento da Folha

    Manhuau, representa a continuao setentrional da mesma associao mapeada nas folhas Ub

    (Noce et al. 2003a), Muria (Romano & Noce 2003), Leopoldina (Heilbron et al. 2003b) e Juiz de

    Fora (Duarte et al. 2003), onde tal seqncia foi reconhecida como pertencente ao Grupo

    Andrelndia. A nica diferena que a estruturao regional NE-SW observada naquelas folhas,

    caracterstica do Orgeno Ribeira, inflete para uma orientao em torno de N-S na Folha

    Manhuau, refletindo a passagem para o domnio do Orgeno Araua.

    Completam o quadro geolgico da Folha Manhuau corpos plutnicos gnaissificados, englobando

    charno-enderbitos com granada e biotita (hornblenda) gnaisses, alm de corpos mficos. Estes

    granitides so associados ao magmatismo brasiliano, embora apenas uma datao esteja

    disponvel. Uma rocha charnocktica encaixada em paragnaisses, prximo a Manhuau, foi datada

    em 5844 Ma (U-Pb SHRIMP, Silva et al. 2002a).

    Uma descrio mais detalhada das unidades que ocorrem na Folha Manhuau apresentada nos

    itens seguintes

    5.1 Estratigrafia

    5.1.1 Complexo Piedade (Complexo Mantiqueira)

    Esta unidade ocorre a oeste da Zona de Cisalhamento ou Descontinuidade de Abre Campo. Afora

    divergncias de nomenclatura, visto no trabalho de Silva et al. (2002a) ter sido adotada a

    denominao Complexo Piedade, esta unidade do embasamento do Orgeno Araua tem sido

    reconhecida como tal nos vrios trabalhos que abordam a regio em estudo. O termo Piedade foi

    adotado no mapa geolgico da Folha Manhuau por deciso do SGB, embora os autores o

    considerem inadequado para a unidade em causa.

    As rochas do Complexo Mantiqueira constituem a extremidade noroeste da Folha Manhuau. Na

    rea so registrados gnaisses bandados que apresentam pores quartzo feldspticas alternadas

    com pores mficas, ricas em biotita e/ou hornblenda (Fig. 6a). A alternncia de bandas flsicas e

    mficas, com espessura centimtrica a decimtrica, uma caracterstica marcante das rochas do

    Complexo Mantiqueira. A paragnese das bandas flsicas representada por quartzo + plagioclsio

    + biotita feldspato potssico, enquanto as bandas mficas so constitudas por anfiblio + plagioclsio + biotita quartzo granada + opacos + titanita, tpica do fcies anfibolito. Estruturas migmatticas tipo schlieren, dobrada e surretica so comuns.

    So freqentes corpos de anfibolito concordantes com a foliao/bandamento dos gnaisses,

    atingindo espessura mtrica. Apresentam-se muitas vezes boudinados (Fig. 6b).

  • Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 13

    Figura 6: Complexo Mantiqueira. a) biotita-hornblenda gnaisse bandado (Estao D-18; 762771E/ 7770077); b) boudin mtrico de anfibolito (Estao CN-211; 768280E/7779642N).

    Microscopicamente, as rochas do Complexo Mantiqueira possuem granulao mdia, textura

    granoblstica e subordinadamente nematoblstica. So constitudas por anfiblio (hornblenda e

    harstingsita), plagioclsio, biotita e quartzo (Fig. 7). Como minerais acessrios ocorrem zirco de

    forma arredondada; titanita inclusa em anfiblio ou associada biotita; allanita arredondada

    tambm freqente. Opacos so freqentes principalmente nas bandas mficas. A composio

    modal apresenta a seguinte mdia: quartzo (45%), plagioclsio (30%), harstingizita (15%), biotita

    (5%), hornblenda (5%).

    O plagioclsio predominante oligoclsio (An11-18). Ocorre como cristais hipidiomrficos a

    xenomrficos, com lamelas de geminao polissintticas, freqentemente acunhadas ou

    descontnuas. O limite dos gros de plagioclsio com outros minerais lobado. Em lminas de

    afloramentos bandados, na poro flsica possvel observar o plagioclsio associado biotita

    lamelar e quartzo, formando bandas estreitas, que se alternam com bandas mficas, onde o

    mesmo ocorre junto hornblenda e biotita. O quartzo apresenta-se com trama tpica de

    recristalizao dinmica, na forma de fitas, com forte extino ondulante. Normalmente, as fitas de

    quartzo circundam porfiroclastos de feldspatos e, nas bandas flsicas, os contatos entre os gros

    de quartzo e demais minerais so geralmente retos. O anfiblio responsvel pela textura

    nematoblstica das bandas mficas. Anfiblios caractersticos so harstingizita e hornblenda e

    esto freqentemente associados biotita. Incluses de titanita e zirco so freqentes. A biotita

    ocorre em forma de palhetas orientadas, comumente associada ao anfiblio e minerais opacos em

    agregados e bandas mficas. O pleocrosmo marrom claro a marrom escuro. A biotita pode

    ocorrer como mineral primrio ou secundrio, no ltimo caso substituindo o anfiblio.

    Silva et al. (2002a) obtiveram uma idade de cristalizao de 207911 Ma para os ortognaisses que constituem o Complexo Mantiqueira, em afloramento situado a oeste da Folha Manhuau, na cidade

    de Ponte Nova. Idades-modelo (TDM) arqueanas, obtidas por Fischel (1998), indicam uma fonte

    crustal para o protlito destes gnaisses.

    B A

  • Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 14

    800 800

    Figura 7: Associao mineral tpica dos gnaisses do Complexo Mantiqueira (quartzo + plagioclsio + biotita + anfiblio; amostra CN 218; 763712E/7772997N). a) nicis paralelos; b) nicis cruzados.

    5.1.2 Complexo Juiz de Fora

    Esta unidade ocorre na forma de escamas tectnicas interdigitadas a escamas de rochas

    metassedimentares do Grupo Andrelndia. composta por rochas metamrficas ortoderivadas

    cujas paragneses so diagnsticas para o fcies granulito. O Complexo Juiz de Fora inclui litotipos

    cuja composio varia de mfica a flsica. Uma descrio geral da unidade apontaria a presena de

    granulitos bsicos como bandas, lentes e/ou boudins, de tamanho centimtrico a mtrico,

    encaixados em gnaisses migmatticos de composio predominantemente enderbtica. Esta associao, com colorao verde-escura caracterstica, exibe bandas e/ou injees de cor mais

    clara e granulao mais grossa, de composio charno-enderbtica a charnocktica.

    Os granulitos bsicos, que localmente podem formar corpos mais expressivos, possuem granulao

    fina a mdia, textura granoblstica a protomilontica e estrutura macia a fracamente foliada (Figs.

    8 e 9). A mineralogia primria representada por ortopiroxnio+clinopiroxnio e plagioclsio.

    Granada esqueletal em equilbrio com o piroxnio observada em algumas lminas. Minerais

    secundrios so biotita, anfiblio e quartzo. Como acessrios ocorrem zirco, apatita e minerais

    opacos, sendo os ltimos muito freqentes. A composio modal apresenta a seguinte variao:

    ortopiroxnioclinopiroxnio (15-50%), plagioclsio (20-50%), quartzo (5-35%), biotita (0-15%),

    anfiblio (0-45%). Estas rochas foram interpretadas por Costa (1998) como gabros-noritos,

    representando corpos intrusivos e/ou lavas bsicas cristalizados em condies de fcies granulito, e

    cujo carter toleitico de baixo K similar a basaltos de arco-de ilha ou fundo ocenico.

    O ortopiroxnio (hiperstnio) ocorre na forma xenomrfica a hipidiomrfica, com granulao

    variando de mdia a grossa, contendo incluses de plagioclsio e biotita. Associa-se a minerais

    opacos e anfiblio. O plagioclsio possui composio albita-oligoclsio (An7-22) ocorrendo como

    cristais hipidiomrficos a idiomrficos, de granulao fina a mdia. Podem apresentar

    intercrescimento antiperttico. Esto maclados segundo a Lei da Albita e Periclina. As lamelas de

    geminao so finas a mdias, descontnuas e, s vezes, recurvadas. O quartzo pouco freqente

    e apresenta-se com granulao variando de fina a mdia, sendo muito comum a extino

    ondulante. Est bastante recristalizado, formando bandas estreitas e descontnuas. Pode formar

    ribbons em amostras muito deformadas, com evidncias de recristalizao dinmica e formao de

    B A

  • Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 15

    subgros. O anfiblio a hornblenda ou harstingizita e ocorre em cristais xenomrficos a

    hipidiomrficos. Formam bandas e definem, juntamente com a biotita, a foliao da rocha. Estes

    minerais so produtos de alterao.

    O gnaisse migmattico enderbtico o litotipo amplamente dominante no Complexo Juiz de Fora.

    Exibe comumente um bandamento centimtrico, bastante regular, dado pela alternncia de nveis

    mais flsicos centimtricos e menos flsicos milimtricos, caracterizando uma estrutura do tipo

    estromtica. Outras estruturas migmatticas onde as bandas mais claras exibem formas irregulares

    so tambm observadas (Fig. 10). Estes gnaisses perdem a cor verde escura com o intemperismo,

    tornando-se cinza claros.

    A mineralogia destes gnaisses enderbticos representada por ortopiroxnio, plagioclsio,

    clinopiroxnio, biotita, quartzo e hornblenda. Como acessrios ocorrem zirco, apatita, epidoto e

    minerais opacos. A composio modal apresenta a seguinte variao: ortopiroxnio (10-45%),

    plagioclsio (15-45%), quartzo (10-60%), biotita (5-15%). Possuem granulao variando de fina a

    grossa e normalmente textura granoblstica, subordinadamente textura lepidoblstica. Em zonas

    de cisalhamento dcteis possuem textura protomilontica a milontica marcada por ribbons de

    quartzo e evidncias de recristalizao dinmica e individualizao de subgros (Fig. 11).

    O plagioclsio presente nestas rochas varia de albita a oligoclsio (An9-25) e ocorre como cristais

    finos a grossos, maclado segundo a lei da Albita, sendo as maclas freqentemente recurvadas e

    com forte extino ondulante. H ocorrncia de plagioclsios antipertticos. O ortopiroxnio

    (hiperstnio) ocorre na forma xenomrfica a hipidiomrfica, com granulao mdia, e observa-se

    geminao mecnica em algumas lminas (Fig. 12). Associa-se a minerais opacos e

    intensamente substitudo por hornblenda, biotita ou bastita. O clinopiroxnio menos freqente. O

    quartzo possui granulao variando de fina a mdia, extino ondulante freqentes, normalmente

    associado ao plagioclsio. Pode encontrar-se na forma de ribbons. A biotita ocorre em forma de

    palhetas orientadas, comumente associada ao anfiblio e minerais opacos em agregados e bandas

    mficas.

    Figura 8: Complexo Juiz de Fora, granulito bsico. a) granulao fina, aspecto macio (estao CN-270; 794330E/7764483N); b) detalhe do granulito, com as mesmas caractersticas citadas acima(estao CN-279; 797416E/7746253N); c) com aspecto foliado e cortado por vnula charnocktica (estao CN-343; 806314E/7755924N).

    B A

    C

  • Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 16

    Figura 9: Textura granoblstica tpica dos granulitos bsicos da Complexo Juiz de Fora (amostra CN 2;766883E/7735650N). a) nicis paralelos; b) nicis cruzados

    B A

    Figura 10: Complexo Juiz de Fora, gnaisse migmattico enderbtico. a) fcies com bandamento regular bem desenvolvido, centimtrico (migmatito estromtico; estao CN-8; 797965E/7753910N); b) fcies migmattica com bandas mais claras formando vnulas irregulares (estao CN-8; 797965E/7753910N); c) resduo ou restito de gra-nulito bsico, granulao fina (estao CN-278; 797942E/7748096N); d) bandas claras de compo-sio charnocktica (estao CN-135; 794287E/ 7769956N); e) detalhe de mobilizado charnocktico de granulao grossa (estao CN-279; 797416E/ 7746253N).

    B A

    D C

    E

  • Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 17

    Figura 11: Gnaisse enderbtico do Complexo Juiz de Fora, exibindo textura milontica com evidncias de recristalizao dinmica e individualizao de subgros dos enderbitos (amostra CN20;800918E/7737407N). a) nicis paralelos; b) nicis cruzados.

    Figura 12: Detalhe de geminao mecnica em cristal de ortopiroxnio, gnaisse enderbtico (amostra CN 401;800780E/7783704N). a) nicis paralelos; b) nicis cruzados

    5.1.3 Grupo Andrelndia

    5.1.3.1 Definio geral da unidade

    O Grupo Andrelndia, definido originalmente por Ebert (1956), ocorre em domnios distintos do

    Orgeno Ribeira a sul e sudeste do Crton do So Francisco, bem como nas nappes do extremo sul

    do Orgeno Braslia, a sudoeste do crton (vide Ribeiro et al. 2003, Heilbron et al. 2004 e

    referncias bibliogrficas contidas nestes trabalhos). A definio das seqncias deposicionais que

    compem o Grupo ou Megasseqncia Andrelndia foi realizada no chamado domnio autctone, ou

    seja, a borda cratnica balizada pelas cidades de Caranda-So Joo Del Rei-Lavras. Neste domnio,

    a composio, texturas e estruturas primrias esto parcialmente preservadas, facilitando o

    reconhecimento dos protlitos, da geometria de corpos e de discordncias. A Megasseqncia

    Andrelndia composta pela Seqncia Carrancas, inferior, e pela Seqncia Serra do Turvo,

    superior (Paciullo 1997).

    A Seqncia Carrancas inclui, da base para o topo, quatro unidades: i. paragnaisses bandados com

    intercalaes de anfibolitos (arenitos feldspticos continentais e turbidticos, associados a toleitos

    800

    Op

    800 Pl

    B A

    400400

    B A

  • Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 18

    de ambiente intraplaca continental e MORB enriquecido); ii. paragnaisses bandados com

    intercalaes de anfibolitos, quartzitos e filitos cinzentos (paraseqncias retrogradacionais

    depositadas em trato de sistema transgressivo); iii. quartzitos e intercalaes delgadas de xistos

    (paraseqncias agradacionais plataformais shoreface- depositadas em trato de sistema

    transgressivo); iv. filitos e xistos cinzentos com intercalaes quartzticas (sedimentos depositados

    em trato de sistema de mar alto em ambiente plataformal distal -offshore). A Seqncia Serra do

    Turvo representada por uma espessa sucesso de biotita xisto, cujos protlitos sedimentares

    seriam turbiditos pelticos e pelitos hemipelgicos. As fcies distais dessa seqncia so

    representadas por uma sucesso de biotita xisto a gnaisse com intercalaes de anfibolito, gondito

    e rochas calcissilicticas, metamorfisados em fcies anfibolito e granulito.

    Em vrios estudos que definiram a compartimentao tectnica do Orgeno Ribeira, em sua poro

    centro-norte, a cobertura metassedimentar do Complexo Juiz de Fora foi correlacionada ao Grupo

    Andrelndia (Heilbron 1993, Heilbron et al. 1995), sendo constituda por uma sucesso de

    paragnaisses, quartzitos e xistos pelticos, que grada rumo ao topo para uma sucesso

    predominantemente peltica (micaxistos e gnaisses).

    5.1.3.2 O Grupo Andrelndia na Folha Manhuau

    Esta unidade ocupa grande parcela da Folha Manhuau a leste da Zona de Cisalhamento de Abre

    Campo, composta por rochas metamrficas em facies anfibolito alto a granulito a partir de

    sedimentos pelticos a psamticos. Ocorre na forma de faixas alongadas de direo geral N-S

    intercaladas tectonicamente aos granulitos ortoderivados do Complexo Juiz de Fora. A presena de

    sillimanita e ortopiroxnio, este ltimo encontrado raramente, indicam condies de metamorfismo

    de alta temperatura. Incluso de espinlio em granada tambm outro indicador que as rochas

    desta unidade foram submetidas a metamorfismo de alto grau (fcies granulito), e posteriormente

    reequilibradas em condies de temperatura menos elevadas. Amostras provenientes de zona de

    cisalhamento evidenciam acentuado retrometamorfismo marcado por crescimento de biotita.

    O litotipo amplamente dominante no Grupo Andrelndia representado por paragnaisses (Fig. 13a)

    derivados de sedimentos pelito-grauvaqueanos (sillimanita-granada-biotita-plagioclsio-quartzo

    gnaisse), podendo por vezes exibir leitos cuja composio original era mais arenosa e que

    resultaram em gnaisses quartzo-feldspticos com alguma proporo de biotita e granada. Em raras

    exposies so encontradas intercalaes delgadas de anfibolito (Fig. 13b), provavelmente

    representando derrames ou soleiras de rocha bsica, e de rocha calcissilictica (metamargas).

    Destaca-se nesta unidade a presena de zonas de alternncia paragnaisse/quartzito, que podem

    exibir grande continuidade lateral, com camadas individuais de quartzito que atingem espessuras

    de dezenas de metros.

  • Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 19

    Figura 13: Grupo Andrelndia, feies macroscpicas do paragnaisse (biotita-granada gnaisse. a) bandamento fino caracterstico, granada esparsa (estao CN-20; 800918E/7737407N); b) corpos tabulares, boudinados, de anfibolito no paragnaisse (estao CN-285; 791012E/7745465N).

    Os paragnaisses so rochas de cor acinzentada, granulao variando de fina a mdia, finamente

    bandadas, compostos por plagioclsio + quartzo + granada + biotita feldspato potssico sillimanita espinlio ortopiroxnio (Fig 14a, b). A feio mais tpica a presena em grande proporo de gros geralmente idiomrficos de granada (Fig. 15a, b). Seu dimetro pode chegar a

    alguns centmetros embora, comumente, seja de 2 a 5 mm. Alm desta fcies muito rica em

    granada observam-se exposies onde a granada esparsa. Os paragnaisses exibem tambm

    leitos de aspecto macio, muito quartzosos, aparentemente correspondendo a intercalaes

    psamticas. Na regio leste da Folha Manhuau Moreira (1997) reconheceu os seguintes tipos

    petrogrficos: biotita-cordierita-granada gnaisse, biotita-cordierita-sillimanita-granada gnaisse e

    sillimanita-granada gnaisse.

    Figura 14: Grupo Andrelndia, feies microscpicas do paragnaisse. a) sillimanita-biotita granada gnaisse, nicis paralelos (amostra CN 420; 804930E/7781862N); b) idem anterior, nicis cruzados.

    B A

    400 400

    A B

  • Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 20

    Figura 15: Grupo Andrelndia, feies macroscpicas do paragnaisse. a) poro rica em granada, com mobilizados leucocrticos em vnulas (estao CN-206; 770288E/7774449N); b) leito com alta concentrao de granada (estao CN-213; 772618N/7784754N).

    Em lmina delgada, os paragnaisses exibem em geral textura granolepidoblstica inequigranular

    (Fig. 16a, b), as texturas protomilonticas e milonticas sendo freqentes. A composio

    mineralgica principal mais comum, como j referida anteriormente, plagioclsio + quartzo +

    biotita + granada. Como minerais acessrios so encontrados apatita, zirco, grafita e outros

    minerais opacos (Fig. 16c). O plagioclsio possui composio albita-oligoclsio (An7-23),

    freqentesmente com intercrescimento antiperttico. Encontra-se maclado segundo Lei da Albita e

    Periclina e, em alguns casos, com geminao Karslbad. Apresenta extino ondulante, lobos

    mimerquticos, e forma porfiroclastos nas rochas milonticas. Em muitos casos, apresenta-se

    sericitizado e saussuritizado. Os gros de granada possuem, em geral, formato arredondado e

    contm freqentes incluses de biotita, plagioclsio, quartzo, zirco e minerais opacos. Em alguma

    lminas observam-se incluses de espinlio (Fig. 16d). As bordas dos cristais de granada

    evidenciam reaes com biotita, e alguns cristais apresentam estrutura tipo snowball (Fig. 16e, f).

    Gros de quartzo so xenomrficos, de granulao fina a grossa, e apresentam evidncias de

    deformao intracristalina expressa em extino ondulante. Em lminas com intensa deformao,

    apresenta-se com trama tpica de recristalizao dinmica, na forma de fitas, com forte extino

    ondulante. A sillimanita ocorre na forma de prismas alongados e agulhas inclusas em granadas ou

    disseminadas na matriz. Encontra-se associada biotita, minerais opacos e plagioclsio. O

    ortopiroxnio aparece em raros gros, quase completamente substitudos por biotita e parece

    associar-se granada. A biotita aparece em lamelas bem formadas, com pleocrosmo marrom claro

    at marrom escuro. Muitas vezes encontra-se bordejando granada e ortopiroxnio, sendo a biotita,

    nestes casos, secundria.

    B A

  • Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 21

    Figura 16: Grupo Andrelndia, feies microscpicas do paragnaisse, a) textura lepidoblstica tpica do paragnaisse, nicis paralelos (amostra CN 54; 766726E/7731832N); b) idem anterior, nicis cruzados; c) detalhe de palhetas de grafita associadas biotita, nicis paralelos (amostra CN 54); d) incluses de espinlio e biotita em cristal de granada, nicis paralelos (amostra CN 27; 765018E/7747784N); e) incluses de plagioclsio e quartzo em granada com estrutura snowball, nicis paralelos (amostra CN 27); f) idem anterior, nicis cruzados.

    Os paragnaisses so freqentemente migmatticos (Fig. 17a), com mobilizados quarzto-feldspticos

    de granulao grossa exibindo granada bem desenvolvida (Fig. 17b). Estes mobilizados podem ser

    concordantes e/ou discordantes do bandamento gnissico, e chegam

    a predominar em algumas exposies (Fig. 17c). Neste caso chegam a formar pequenos corpos

    de um tpico leucogranito S que, em pelo menos um local, mapevel na escala deste

    trabalho.

    gt bt

    800 200

    400 800

    800 800

    grafita

    A

    B

    C

    D

    E

    F

  • Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 22

    As ocorrncias de quartzito (Fig. 18a) dentro do Grupo Andrelndia definem, de fato, uma zona de

    alternncia de paragnaisse e quartzito. O quartzito est sempre em contato, e intercalado, com

    leitos de gnaisses profundamente saprolitizado, contendo granada. Observam-se camadas

    individuais de quartzito, que podem atingir espessuras de dezenas de metros, e zonas de

    alternncia quartzito/paragnaisse de aspecto rtmico, onde as camadas de quartzito tm espessura

    centimtrica a mtrica. Os contatos com o gnaisse podem ser tanto gradacionais como bruscos

    (Fig. 18b, c) O quartzito apresenta textura sacaride, bastante puro, em geral com manchas de

    caulim disseminadas. Contm proporo insignificante de outros minerais, como moscovita,

    granada, sillimanita e feldspato potssico. Observa-se tambm a alternncia de leitos de quartzito

    puro, macio, com leitos impuros de aspecto laminado. Mobilizados anatticos ricos em granada

    podem injetar o quartzito.

    Em lmina delgada, o quartzito pode apresentar pequenas propores de feldspato, biotita e

    moscovita. O quartzo apresenta-se totalmente recristalizado (Fig. 19), ocorrendo como cristais

    xenomrficos a hipidiomrficos, mas sendo ainda possvel identificar a disposio em ribbons.

    O feldspato e as micas (biotita/muscovita) so de ocorrncia restrita e, no caso das micas, foram

    observadas como pequenas palhetas mal formadas. A biotita possui pleocrosmo variando de

    amarelo palha a castanho esverdeado ou avermelhado. Definem a foliao e muitas vezes esto

    inclusas nos cristais de quartzo. Possuem incluses de zirco. A moscovita ocorre como mineral

    secundrio.

    B A

    C

    Figura 17: Grupo Andrelndia, feies macroscpicas do paragnaisse. a) bandamento dobrado, mobilizados leucocrticos e intercalaes rompidas de anfibolito (estao CN-167; 771841E/ 7785094N); b) mobilizado leucocrtico com granada (estao CN-150; 793067E/7764104N); c) bolso de granada granito foliado (estao CN-280; 796148E/7743058N).

  • Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 23

    Delgadas camadas, lentes e boudins de rocha calcissilictica so encontradas intercaladas nos

    paragnaisses. Tais rochas so constitudas de clinopiroxnio, quartzo, plagioclsio e granada, tendo

    como minerais acessrios titanita, minerais opacos e zirco. Minerais secundrios e/ou de alterao

    so carbonatos, biotita e saussurita. Apresentam textura granoblstica, granulao mdia e

    estrutura bandada. Alternam-se bandas flsicas, compostas por plagioclsio de granulao mdia e

    quartzo, e bandas ricas em clinopiroxnio e plagioclsio.

    O plagioclsio de composio oligoclsio-andesina (An25-35) e encontra-se geminado segundo a

    Lei da Albita e, mais raramente, segundo a Lei da Periclina. Apresenta lamelas interrompidas e a

    maior parte dos cristais encontra-se em avanado estgio de saussuritizao/sericitizao.

    O clinopiroxnio altera-se para biotita. A titanita bastante freqente e exibe hbito navicular

    predominante.

    Figura 18: Grupo Andrelndia, quartzito. a) camada espessa de quartzito puro, aspecto estratificado (estao CN-148; 790704E/7765364N); b) contato transicional entre quartzito e paragnaisse saproliti-zado (estao CN-156; 791556E/7773520N); c) alternncia de leitos de quartzito e paragnaisse (estao CN-156).

    Figura 19: Aspecto do quartzito do Grupo Andrelndia em lmina delgada, nicis cruzados (amostra CN 281a; 794646E/ 7744648N).

    800

    B A

    C

  • Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 24

    5.1.4 Gnaisse Tonaltico de Manhuau Sute Galilia

    Esta rocha encontrada em dois corpos maiores, na regio de Manhuau e Vermelho Novo, e

    tambm em alguns pequenos corpos. Em geral, trata-se de um gnaisse de cor cinza bastante

    homogneo, mesocrtico, rico em minerais mficos (bitita e hornblenda), granulao fina

    predominante com pores exibindo granulao mdia (Fig. 20a, b). Sua composio

    dominantemente tonaltica. No corpo de Manhuau ocorre exposio onde o gnaisse rico em

    encraves de composio quartzo-diortica, com evidncia de atuao de processos de magma

    mingling e mixing (Fig. 20c). Os encraves exibem formas variveis, mas so fortemente estirados

    segundo o plano de foliao. O corpo localizado a leste de Vermelho Novo encontra-se

    profundamente intemperisado, salvo por uma exposio de gnaisse tonaltico com textura

    milontica, contendo encraves de composio mais mfica fortemente estirados, e uma exposio

    de gnaisse de composio grantica e granulao variando de fina a mdia com pores porfirticas.

    Pegmatitos so encontrados no interior do corpo e provveis apfises deste cortam quartzito do

    Grupo Andrelndia (Fig. 20d).

    Figura 20: Biotita-hornblenda gnaisse. a) granulao fina e aspecto homogneo so caractersticos (estao CN-198; 794686E/7760499N); b) foliao gnissica bem desenvolvida (estao CN-198); c) encraves quartzo-diorticos indicando processo de magma mingling (estao CN-341;808139E/ 7755460N); d) contato intrusivo com quartzito Andrelndia (estao CN-137; 792961E/7780956N).

    Microscopicamente as amostras destes gnaisses apresentam predominantemente textura

    protomilontica a milontica, granulao fina a mdia, compostas por: plagioclsio (30-40%),

    quartzo (25-40%), biotita (10-30%), hornblenda (0-25%) e microclina (0-25%). Zirco e minerais

    opacos so os acessrios mais comuns.

    B A

    C D

  • Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 25

    O plgioclsio possui composio albita-oligoclsio (An12-24), ocorrendo na matriz da rocha ou na

    forma de porfiroclastos. Possui geminao segundo a Lei da Albita. As lamelas de geminao

    encontram-se recurvadas e os cristais esto em estgio avanado de saussuritizao/sericitzao

    H intercrescimento mimerqutico nos contatos com os cristais de quartzo e/ou microclina. A biotita

    ocorre em forma de palhetas mal formadas, com pleocrosmo variando de amarelo palha a

    castanho. Normalmente associa-se ao quartzo dispondo-se segundo a direo da foliao,

    contornando porfiroclastos de plagioclsio e microclina. A hornblenda forma cristais xenomrficos

    de cor verde escura, granulao fina a mdia. A microclina ocorre como porfiroclastos fraturados e

    com forte extino ondulante. Ocorre tambm em pequenos gros compondo a matriz. Os cristais

    de microclina mostram alterao para moscovita.

    As caractersticas do Gnaisse Tonaltico de Manhuau permitem associa-lo Sute Galilia,

    representante dos granitides pr-colisionais do arco magmtico do Orgeno Araua, posicionados

    majoritariamente no intervalo 600-585 Ma (Pedrosa-Soares et al. 2001).

    5.1.5 Gnaisse e Granitide Charno-enderbitico com granada Sute Leopoldina

    Corpos de rochas enderbticas/charnockticas, em geral de pequeno porte, so encontrados em

    vrios locais. Corpos maiores, alongados na direo N-S, so encontrados na poro sudoeste da

    Folha Manhuau. So rochas intrusivas nas sequncias para e ortoderivadas e que mostram textura

    gnea reliquiar nas pores mais internas dos corpos. So predominantemente de composio

    enderbtica, mais raro charnocktica.

    Apresentam cor verde escura e granulao variando de mdia a grossa. O tipo mais caracterstico

    homogneo e de aspecto macio, com textura gnea preservada (Fig. 21a, b), exibindo fcies

    inequigranulares com feldspatos subcentimtricos. A granada ocorre de forma esparsa ou

    concentrada em pores da rocha. Foram tambm observadas fcies com estrutura migmattica do

    tipo schlieren, com restos de bandas mficas de granulao fina e encraves de granulito bsico.

    Tais feies indicam o carter anattico destes corpos charno-enderbticos.

    Normalmente estas rochas apresentam granulao variando de mdia a grossa. A composio

    modal mdia da maioria das amostras estudadas a seguinte: ortopiroxnio (5-25%), plagioclsio

    (30-60%), quartzo (15-40%), biotita (5-15%) harstingizita (0-5%). Como acessrios ocorrem

    zirco, apatita, epidoto e minerais opacos (Fig. 22).

    O ortopiroxnio (hiperstnio) ocorre na forma xenomrfica a hipidiomrfica, com granulao mdia

    a grossa, contendo incluses de plagioclsio e biotita. Associa-se a minerais opacos e anfiblio. Os

    cristais apresentam contatos retos com os gros de plagioclsio e quartzo. O plagioclsio varia

    composicionalmente de albita a oligoclsio (An7-22), ocorre em cristais hipidiomrficos a

    xenomrficos, granulao variando de mdia a grossa, geminados segundo a Lei da Albita, sendo

    muito comum observar as maclas encurvadas ou descontnuas. Muitos cristais so antipertticos.

    O quartzo mostra-se inequigranular, com limites de subgros formando bandas, indicando

    recristalizao dinmica ou na forma de cristais maiores com contatos lobados. Apresenta extino

    ondulante e compe a matriz em gros cominudos. A biotita apresenta granulao mdia e suas

    lamelas mostram pleocrosmo de amarelo a marrom escuro. Encontra-se nas bordas do piroxnio,

  • Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 26

    sendo resultado de alterao. O anfiblio (harstingizita) ocorre na forma xenomrfica, granulao

    grossa, associada aos minerais opacos.

    Figura 21: Charno-enderbitos. a) vista geral de afloramento, mostrando o aspecto homogneo da rocha (estao CN-198; 794686E/7760499N); b) detalhe de charno-enderbito, granulao mdia, com granada.

    Estas rochas charno-enderbticas foram associadas

    Sute Bela Joana, designao adotada por

    Fonseca (1998) para rochas semelhantes no

    Estado do Rio de Janeiro. O mesmo tipo de

    granitide foi detalhadamente descrito por Duarte

    et al. (2000) na regio de Juiz de Fora, sob a

    designao de Charno-enderbito Salvaterra. Os

    autores interpretaram este corpo gneo como de

    natureza autctone a para-autctone, gerado pela

    fuso parcial de paragnaisses do Grupo

    Andrelndia com contribuio subordinado dos

    ortogranulitos do Complexo Juiz de Fora.

    5.1.6 Leucogranito granadfero da Pedra do Godinho

    Trata-se de um leucogranito de granulao mdia, rico em cristais bem desenvolvidos de granada

    e muito pobre em minerais mficos (biotita). Esta rocha forma apenas um pequeno corpo

    mapevel na escala do mapa, mas encontrada na forma de bolses e veios anatticos em grande

    parte das exposies do paragnaisse do Grupo Andrelndia.

    5.1.7 Diques e outros corpos mficos intrusivos

    Corpos intrusivos mficos so de ocorrncia restrita na rea da Folha Manhuau. O tipo mais

    freqente possui granulao fina, ocorrendo na forma de diques com espessura inferior a 1 m, ou

    na forma de corpos concordantes de espessura centimtrica a decimtrica, em ambos os casos

    encaixados nos paragnaisses (Fig. 23a). Em um local foram encontrados blocos de um metagabro

    (Fig. 23b).

    Figura 22: Aspecto microscpico do charno-enderbito (amostra CN-114; 779503E/7750224N).

    800

    B A

  • Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 27

    Figura 23: Corpos mficos. a) dique de anfibolito cortando paragnaisse (Estao CN-248; 807132E/ 7752050N; b) bloco de metagabro (CN-246).

    So rochas constitudas principalmente por anfiblio e plagioclsio (Fig. 24). O anfiblio

    hornblenda, que ocorre em cristais hipidiomrficos a idiomrficos, de granulao fina, com

    pleocrosmo variando de verde claro at verde escuro. Contm muitas incluses de titanita,

    minerais opacos, apatita e plagioclsio. O plagioclsio ocorre em cristais hipidiomrficos a

    xenomrficos, de granulao variando de fina

    a mdia, mas observa-se alguns cristais de

    granulao grossa e alongados, envoltos pela

    foliao, apresentando estrutura zonada. Esto

    maclados segundo a Lei da Albita e Periclina,

    sendo as lamelas descontnuas e, s vezes,

    acunhadas. Contm incluses de quartzo,

    titanita e minerais opacos. O clinopiroxnio

    ocorre em cristais hipidiomrficos a xenomr-

    ficos, de granulao mdia, associados aos

    gros de anfiblio. Em algumas lminas foi

    possvel observar sobrecrescimento de anfi-

    blio em clinopiroxnio. Associa-se tambm a

    minerais opacos e plagioclsio. O quartzo

    pouco freqente, apresentando-se em gros finos. Est bastante recristalizado, formando bandas

    estreitas e descontnuas. Minerais opacos so freqentes, ocorrem inclusos em plagioclsio e

    associados titanita e clinopiroxnio; apatita rara.

    5.1.8 Depsitos superficiais

    Os depsitos aluviais so pouco expressivos, com exceo daqueles do canto noroeste da folha, no

    vale do Rio Matip. Neste local, inclusive, encontra-se um paleoterrao aluvial muito bem

    preservado (Fig. 25a).

    Registra-se, prximo a Santa Margarida, a ocorrncia de um depsito argiloso, sem estratificao,

    cores vermelho a branco e espessura mnima de 7-8 m, interpretado como um provvel depsito

    lacustre (Fig. 25b, c).

    800

    Figura 24: Aspecto microscpico de dique mfico; textura orientada e composio mineralgica apresen-tando hornblenda, clinopiroxnio, plagioclsio, biotita e quartzo (nicis cruzados, amostra CN 345d; 809475/ 7755031N).

    B A

  • Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 28

    5.2 Metamorfismo

    Estudos de geotermobarometria em amostras de rocha bsica e de leucossoma migmattico do

    Complexo Juiz de Fora estabeleceram que o pico metamrfico foi atingido em condies de P e T

    por volta de 8 kbar e 880 C. Isto implica que o metamorfismo ocorreu na crosta inferior a uma

    profundidade de cerca de 25 km (Costa 1998, Tsunogae et al. 2002).

    Uma amostra de paragnaisse do Grupo Andrelndia com a paragnese mineral granada+

    cordierita+sillimanita+quartzo forneceu valores de P e T significativamente mais baixos, 3 kbar e

    660-690 C (Tsunogae et al. 2002). Esta paragnese com cordierita encontrada apenas no

    extremo leste da rea, devendo representar uma zona de mais baixa presso e conseqente nvel

    crustal mais elevado. Em amostras da regio oeste da rea o paragnaisse exibe granada com

    incluses de espinlio verde. A associao espinlio+quartzo tida como caracterstica de

    temperaturas muito elevadas, maiores que 900 oC, e presses moderadas a baixas menores que

    9 kbar (Harley 1989). Caso o espinlio tenha se cristalizado por reaes metamrficas envolvendo

    o consumo de granada e ou cordierita, a presso pode alcanar valores de at 9 kbar, em

    concordncia com os clculos feitos em litotipos similares, entre Jequeri e Abre Campo, por

    Schultz-Kuhnt (1985). Em resumo, as paragneses dos paragnaisses, com granada, feldspato

    potssico, sillimanita e ortopiroxnio indicativa de um metamorfismo da fcies granulito, que

    segundo Schultz-Kuhnt (1985) ocorreu a temperaturas entre 750 e 900C e presses no intervalo 8-10 kbar.

    Figura 25: Depsitos superficiais. a) terrao aluvial, exibindo camada arenosa com estratificao cruzada recoberta por depsito argiloso de plancie aluvial (estao CN 215; 767271E/7785969N); b) vista geral de depsito argiloso, provvel ambiente fluvial (estao CN-298; 787823E/7740504N); c) detalhe do depsito anterior.

    B A

    C

  • Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 29

    A principal concluso que se tira destes dados que o metamorfismo Brasiliano atingiu o fcies

    granulito na rea, e as condies de pico de P-T so semelhantes ou ligeiramente inferiores

    quelas obtidas nas rochas do embasamento transamaznico. Caso assuma-se a proposio de

    Duarte (1998) e Duarte & Heilbron (1999), segundo a qual as rochas do Complexo Juiz de Fora

    foram metamorfisados no fcies granulito em um evento pr-brasiliano, pode-se estar diante do

    registro de dois eventos metamrficos de alto grau.

    5.3 Geologia Estrutural

    A estruturao deste setor do Orgeno Araua marcada por quatro extensas zonas de

    cisalhamento de direo N-S a NNE (Cunningham et al. 1998, Peres et al. 2004). Aquelas situadas

    mais a leste so as zonas de cisalhamento de Dom Silvrio e de Ponte Nova; a primeira de alto

    ngulo com movimentao sinistral e a segunda representa um empurro de baixo ngulo, com

    movimentao para oeste. Ambas conectam-se com a Zona de Cisalhamento de Abre Campo a

    norte do paralelo 20. Esta grande estrutura, que corta o extremo oeste da Folha Manhuau,

    estende-se por mais de 300 km entre Governador Valadares e Juiz de Fora, e associa-se a uma

    notvel anomalia gravimtrica e magntica (Haralyi & Hasui 1982). A Zona de Cisalhamento de

    Abre Campo (Fig. 26a) possui movimentao destral, assim como a Zona de Cisalhamento de

    Manhuau situada mais a leste, nas proximidades da cidade homnima. Esta ltima exibe foliao

    de alto ngulo a vertical, enquanto na zona de Abre Campo domnios de alto ngulo gradam para

    domnios onde a foliao mergulha moderadamente para leste.

    Estas grandes zonas de cisalhamento, na Folha Manhuau, exibem orientao entre N-NE e N-S.

    A Zona de Cisalhamento de Manhuau tem expresso de campo muito mais pronunciada que a

    Zona de Cisalhamento de Abre Campo. Seu domnio marcado por uma acentuada milonitizao

    (Fig. 26b) que afeta as rochas em toda a poro leste da folha, definindo uma faixa que atinge at

    20 km de largura. A faixa milontica associada Zona de Cilhamento de Abre Campo atinge

    larguras de at 2 km.

    Figura 26: Estruturas mesoscpicas nas grandes zonas de cisalhamento. a) Zona de Cisalhamento de Abre Campo, gnaisse Mantiqueira no contato com paragnaisse Andrelndia (estao CN-209; 767973E/7775697N); b) milonito de biotita-hornblenda gnaisse no domnio da Zona de Cisalhamento de Manhuau (estao CN-356; 795316E/7774406N).

    A

    B A

  • Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 30

    A foliao principal na poro centro-oeste da folha, fora do domnio da Zona de Cisalhamento de

    Manhuau, exibe mergulhos moderados a ngremes para E (Fig. 27a). Prximo ao limite ocidental

    da folha so observados mergulhos suborizontais nos gnaisses do Complexo Mantiqueira

    (Fig. 28). Dobras abertas a fechadas afetam a foliao principal, refletindo-se nos mergulhos para

    W exibidos no diagrama da fig. A lineao de estiramento tem orientao direcional a fortemente

    oblqua (rake = 40, Fig. 27b). Segundo Fischel (1998) esta geometria reflete uma movimentao

    ao longo da Zona de Cisalhamento de Abre Campo em duas fases deformacionais. A deformao

    inicial, de carter tangencial com movimentao para oeste, foi responsvel pelo posicionamento

    de cunhas de empurro de paragnaisses e gnaisses enderbticos por sobre as rochas do Complexo

    Mantiqueira, e foi sucedida por uma deformao direcional destral (Costa et al. 1998). Nos

    gnaisses do Complexo Mantiqueira, a oeste da Zona de Cisalhamento de Abre Campo, a foliao

    principal transpe uma foliao/bandamento mais antiga, possivelmente relacionada deformao

    pr-brasiliana (i.e., Transamaznica - Fischel 1998, Costa et al. 1998, Cunningham et al. 1998).

    A foliao no domnio da Zona de

    Cisalhamento de Manhuau exibe mergulhos

    de alto ngulo a verticais. O sentido do

    mergulho predominantemente para W,

    mas mergulhos para E tambm ocorrem,

    resultando em uma geometria em leque.

    A relao entre a foliao e lineao de

    estiramento mineral (Fig. 29a, b) indica

    movimentao essencialmente direcional, e

    de natureza destral de acordo com

    indicadores cinemticos diversos (assimetria

    em porfiroclastos, veios de quartzo

    sigmoidais, corpos rompidos de anfibolito,

    etc; Fig. 30a, b). Igualmente associadas a

    este movimento transcorrente so as dobras apertadas de eixo orientado N-NE, como aquelas

    exibidas por camadas de quartzito (Fig. 30c). Segundo Cunningham et al. (1998) esta disposio

    em leque da foliao assemelha-se geometria das estruturas em flor positivas de zonas de

    cisalhamento transpressivas (Fig. 30d). Tal fato, juntamente com a presena de lineaes de

    estiramento algo oblquas (orientadas NE em planos de foliao de direo N-S, Fig.), sugere um

    componente de movimentao para W associado transcorrncia destral.

    Figura 27: Elementos estruturais da poro W da rea; a) Diagrama de contorno de polos da foliao principal (136 medidas, mximo em 115/72, contornos: 1, 3, 5, 7). B) Diagrama de elementos lineares (eixo de dobra , lineao mineral - ).

    Figura 28: Gnaisse Mantiqueira exibindo foliao sub-horizontal com dobramento suave (estao CN-219; 763856E/7776632N).

    N N(a) (b)

  • Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 31

    A intensa deformao no domnio da Zona de Cisalhamento de Manhuau teve como efeito a quase

    total obliterao de estruturas pr-Brasilianas registradas na unidade do embasamento, o

    Complexo Juiz de Fora. Foi possvel apenas, nos gnaisses enderbticos, identificar uma

    foliao/bandamento mais antiga preservada principalmente em charneiras rompidas de dobras

    (Cuningham et al. 1998).

    Figura 30: Estruturas no domnio da Zona de Cisalhamento de Manhuau: a) milonito de paragnaisse com porfiroclasto indicando movimentao destral (estao CN-324; 783865E/7742689N); b) corpo de anfibolito rompido, indicando movimentao destral (estao CN-285; 791012E/7745465N); c) dobra apertada em camada de quartzito com eixo subvertical (estao CN-148; 790704E/7765364N); d) quartzito exibindo estrutura em flor (estao CN-195; 788960E/7753313N).

    A idade da deformao principal responsvel pela estruturao da rea est bem balizada pelas

    determinaes geocronolgicas que posicionam o pico metamrfico brasiliano em torno de 585-565

    Ma. Segundo Peres et al. (2004), as zonas de cisalhamento de Dom Silvrio (sinistral) e Abre

    Figura 29: Elementos estruturais da poro E da rea; a) Diagrama de contorno de polos da foliao principal (127 medidas, mximo em 71/76, contornos: 1, 3, 5, 7). B) Diagrama de elementos lineares (eixo de dobra , lineao mineral - ).

    B A

    D C

    N(a) (b)

  • Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 32

    Campo (destral) funcionaram como rampas laterais na movimentao para norte da fatia crustal

    delimitada por elas. Este movimento posicionado no estgio inicial de fechamento do Orgeno

    Araua. A Zona de Cisalhamento de Abre Campo, interpretada como uma zona de sutura (Fischel

    1998), funcionou como stio de subduco oblqua para NNE, gerando este componente de

    movimentao tectnica para norte. Durante o encurtamento do orgeno, no estgio sin-colisional,

    que seriam gerados dobramentos e empurres com vergncia para oeste, em um sistema

    transpressivo destral. A Zona de Cisalhamento de Manhuau, por sua vez, associa-se aos grandes

    movimentos transcorrentes que representam a expresso tardia da coliso, gerados em processo

    de tectnica de escape (Costa et al. 1998, Peres et al. 2004). Estruturas distensivas da fase de

    colapso do orgeno, datado em torno de 520-500 Ma, so incomuns na rea. Em uma exposio a

    sul de Manhuau observa-se um dique de anfibolito seccionado por uma falha normal dctil de

    mdio ngulo e mergulho para E, o que coerente com as estruturas descritas para a fase do

    colapso (Marshak et al. 2006)

    5.4 Geoqumica

    As anlises qumicas disponveis para as unidades geolgicas da Folha Manhuau esto

    apresentadas nas tabelas 1 a 3.

    Os granulitos bsicos do Complexo Juiz de Fora, classificados petrograficamente como de

    composiop gabro-nortica, caem em vrios diagramas de classificao qumica (vide exemplo na

    Fig.31a) no campo dos basaltos, basaltos alcalinos e andesitos. Mostram tambm tanto carter

    toleitico como clcio-alcalino (Fig. 31b). Segundo Costa et al. (1993) apenas os dados indicando

    carter toleitico refletem a composio original da rocha, enquanto as demais amostras analisadas

    teriam sofrido modificaes em sua composio devido aos processos metamrfico-deformacionais.

    Costa (1998) assume que a composio dos granulitos bsicos similar dos toleitos de baixo-K de

    arcos-de-ilha ou de fundo ocenico.

    Figura 31: Granulitos bsicos do Complexo Juiz de Fora. a) diagrama de classificao de rochas gneas, de Cox et al. (1979); b) diagrama de Irvine & Baragar (1971).

    (a)

    Tholeiitic

    Calc-Alkaline

    Na2O+K2O MgO

    FeOt

    (b)

    35 45 55 65 750

    3

    6

    9

    12

    15

    18

    Nephelin

    P-N

    B+T

    P-T

    Phonolite

    Benmorite

    MugeariteHawaiite

    BasaltB-A Andesite

    DaciteTrachyandesite

    Rhyolite

    Trachyte

    SiO2

    Na2

    O+K

    2O

  • Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 33

    35 45 55 65 750

    3

    6

    9

    12

    15

    18

    Nephelin

    P-N

    B+T

    P-T

    Phonolite

    Benmorite

    MugeariteHawaiite

    BasaltB-A Andesite

    DaciteTrachyandesite

    Rhyolite

    Trachyte

    SiO2

    Na2

    O+K

    2O

    2

    10

    100

    200

    LaCe Nd Sm

    EuGd Dy

    HoEr Yb

    Lu

    Sam

    ple/

    C1

    Cho

    ndri

    te

    A composio qumica dos gnaisses enderbticos do Complexo Juiz de Fora varia de dactica a

    andestica (Fig. 32a) e os diagrama de ETR mostram acentuado empobrecimento em ETRp e

    anomalias de Eu ausentes ou positivas (Fig. 32b).

    Os diques e outros corpos mficos intrusivos caem no campo dos basaltos e basaltos alcalinos

    (Fig. 33a), e mostram tanto tendncia toleitica quanto clcio-alcalina (Fig. 33b). As anlises pata

    estas rochas apresentam grande disperso na maioria dos diagramas discriminatrios de ambiente

    tectnico, com exceo daquele de Pearce et al. (1977), onde se posicionam no campo das rochas

    continentais (Fig. 33c).

    Anlises qumicas dos granada-gnaisses (Tabela 3) caem no campo dos pelitos e grauvacas.

    Figura 32: Gnaisses enderbticos do Complexo Juiz de Fora. a) diagrama de classificao de rochas gneas, de Cox et al. (1979); b) diagrama de ETR.

    5.5 Dados isotpicos

    5.5.1 U-Pb

    A nica datao U-Pb (SHRIMP) disponvel para a rea da Folha Manhuau foi obtida por Silva et al.

    (2002a), em uma pedreira na cidade de Manhuau (estao CN-345). Aflora no local o

    paragnaisse, rico em mobilizados migmatticos exibindo cristais bem desenvolvidos de granada, e

    cortado por faixas milonticas. Na mesma pedreira ocorre uma rocha de composio charno-

    enderbtica, foliada e de aspecto bandado, com bandas escuras de granulao fina e bandas verde-

    claro de granulao mdia, ricas em granada. As relaes desta rocha com o paragnaisse

    no esto expostas. Foi obtida uma idade de cristalizao de 5844 Ma. As caractersticas dos

    gros de zirco analisados sugerem que este evento magmtico foi sincrnico com o pico

    metamrfico (Silva et al. 2002a).

    Neste relatrio so apresentados dados inditos (U-Pb SHRIMP em zirco e U-Pb ID-TIMS em

    monazita) para uma exposio do Complexo Juiz de Fora em pedreira prxima cidade de Abre

    Campo (coordenadas: 760667E/7754105N). Esta exposio encontra-se a poucas centenas de

    metros do limite oeste da Folha Manhuau, desta forma justificando a incluso destes dados, de

    (a) (b)

  • Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 34

    grande relevncia para o entendimento da evoluo geolgica regional. A rocha da pedreira

    encontra-se migmatizada gerando pores com estrutura estromtica definida pela alternncia de

    bandas claras (leucossoma) e escuras (melanossoma). O mesossoma, interpretado como o

    protlito do migmatito, apresenta colorao verde escura e constitudo de orto e clinopiroxnio,

    anfiblio, biotita, plagioclsio e quartzo. Trata-se de uma rocha ortoderivada de composio

    intermediria (nortica a enderbtica), tpica do Complexo Juiz de Fora. Este conjunto exibe

    dobramento complexo e rico em veios concordantes a ligeiramente discordantes de um granito

    rosa com granulao fina (Fig.34).

    35 45 55 65 750

    3

    6

    9

    12

    15

    18

    Nephelin

    P-N

    B+T

    P-T

    Phonolite

    Benmorite

    MugeariteHawaiite

    BasaltB-A Andesite

    DaciteTrachyandesite

    Rhyolite

    Trachyte

    SiO2

    Na2

    O+K

    2O

    Tholeiitic

    Calc-Alkaline

    Na2O+K2O MgO

    FeOt

    Figura 33: Diques mficos. a) Diagrama de classificao de rochas gneas, de Cox et al. (1979); b) diagrama de Irvine & Baragar (1971); c) diagrama de Pearce et al. (1977); o campo 5 dos basaltos continentais.

    Uma amostra do mesossoma foi datada pelo mtodo U-Pb SHRIMP (amostra LC-66a). Foram

    analisados 10 spots em 10 gros de zirco. Os zirces so prismticos a rombodrico e com faces

    arredondadas, exibindo baixa lumines-cncia em imagem de catodo-luminescncia com um fino

    sobrecrescimento externo de alta luminescncia (baixo U, Fig. 35). Os gros exibem zonamento

    interno do tipo sector zoning, tpico de zirces cristalizados em rochas gneas mficas, com uma

    exceo representada por um gro com zonamento oscilatrio.

    Os dados analticos so apresentados na Tabela 1. Oito anlises so discordantes mas colinea-res,

    definindo uma linha de discrdia com intercepto superior em 211320 Ma (Fig. 36). Duas anlises

    (a)

    (b)

    (c)

    1

    23

    4 5

    MgO Al2O3

    FeOt

  • Programa Geologia do Brasil Folha Manhuau 35

    caem acima da linha de discrdia (4.1 e 7.1) e no foram consideradas no clculo da idade.

    possvel que um evento metamrfico com idade ligeiramente menor que a idade de cristalizao

    tenha perturbado parcialmente o sistema isotpico. De qualquer forma, a idade de 211320 Ma

    pode ser considerada a melhor estimativa para a cristalizao magmtica da rocha.

    Tabela1: Dados isotpicos U-Pb para a amostra LC-66.

    Nmero Spot

    % 206Pbc

    U Ppm

    Th

    ppm

    232Th /238U

    206Pb* ppm

    Idade(1) 206Pb/238U

    Idade(1) 207Pb/206Pb

    % disc.

    (1) 207Pb* /206Pb*

    % (1)

    207Pb* /235U

    % (1)

    206Pb* /238U

    % err corr

    1.1 0,05 585 246 0,43 172