Relatório Visa e-Commerce Latam 2010 - 1/2

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71 A força do e-commerce Impulsionado pelo Brasil, pelo turismo e por grandes redes de varejo, o comércio eletrônico segue crescendo na América Latina AMÉRICAECONOMIA INTELLIGENCE COLABOROU: PEDRO MARCONDES, DE SÃO PAULO Ilustrações: Patricio Otniel Q uem temeu que o incipiente comércio eletrônico latino- americano fosse mais uma vítima da crise financeira que colapsou a economia em todo o mundo, pôde res- pirar tranquilo ao ver os resultados de 2009. O uso da internet como canal de vendas de produtos e serviços a consu- midores (ou B2C, como é conhecido no jargão especializado) continuou crescen- do, mesmo frente a um cenário adverso. Segundo um estudo realizado pela Amé- ricaEconomía Intelligence, a pedido da empresa de meios de pagamento Visa, o B2C cresceu 39,2% em 2009, chegando a US$ 21,77 bilhões em toda a América Latina e o Caribe. E, se o comportamento registrado no primeiro trimestre se repe- tir durante o ano, em 2010, esse comércio poderá crescer 27%, chegando próximo de US$ 28 bilhões em vendas. Tal resultado, em meio a uma tem- porada repleta de indicadores econômi- cos e financeiros em baixa, tampouco chega a ser uma surpresa. O comércio eletrônico promove uma mudança tão profunda na forma como as pessoas se relacionam com as empresas que lhes proveem serviços e produtos, que a tendência geral foi prejudicada apenas pelo impacto do crescimento negativo de alguns países e pela desconfiança dos investidores internacionais, e não pela disposição do consumidor. A penetração de computadores e de banda larga na América Latina conti- nuou subindo a taxas anuais de 20% e 15%, respectivamente. No final de 2009, havia 150 milhões de usuários de com- putador na região e 40 milhões de assi- nantes de internet banda larga. O mes- mo aconteceu com a disponibilidade e o uso de diferentes meios de pagamento.

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Relatório 1/2 sobre o Comércio Eletrônico Latinoamericano elaborado a cada dois anos pela América Economia Intelligence para a Visa.

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Junho, 2010 AméricaEconomia 71

A força do e-commerceImpulsionado pelo Brasil, pelo turismo e por grandes redes de varejo, o comércio eletrônico segue crescendo na América Latina

AMÉRICAECONOMIA INTELLIGENCE

COLABOROU: PEDRO MARCONDES, DE SÃO PAULOIlustr

açõe

s: Pat

ricio

Otnie

l

Q uem temeu que o incipiente

comércio eletrônico latino-

americano fosse mais uma

vítima da crise fi nanceira que colapsou

a economia em todo o mundo, pôde res-

pirar tranquilo ao ver os resultados de

2009. O uso da internet como canal de

vendas de produtos e serviços a consu-

midores (ou B2C, como é conhecido no

jargão especializado) continuou crescen-

do, mesmo frente a um cenário adverso.

Segundo um estudo realizado pela Amé-

ricaEconomía Intelligence, a pedido da

empresa de meios de pagamento Visa,

o B2C cresceu 39,2% em 2009, chegando

a US$ 21,77 bilhões em toda a América

Latina e o Caribe. E, se o comportamento

registrado no primeiro trimestre se repe-

tir durante o ano, em 2010, esse comércio

poderá crescer 27%, chegando próximo

de US$ 28 bilhões em vendas.

Tal resultado, em meio a uma tem-

porada repleta de indicadores econômi-

cos e fi nanceiros em baixa, tampouco

chega a ser uma surpresa. O comércio

eletrônico promove uma mudança tão

profunda na forma como as pessoas se

relacionam com as empresas que lhes

proveem serviços e produtos, que a

tendência geral foi prejudicada apenas

pelo impacto do crescimento negativo

de alguns países e pela desconfi ança

dos investidores internacionais, e não

pela disposição do consumidor.

A penetração de computadores e de

banda larga na América Latina conti-

nuou subindo a taxas anuais de 20% e

15%, respectivamente. No fi nal de 2009,

havia 150 milhões de usuários de com-

putador na região e 40 milhões de assi-

nantes de internet banda larga. O mes-

mo aconteceu com a disponibilidade e o

uso de diferentes meios de pagamento.

I-BIZ

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72 AméricaEconomia Junho, 2010

I-BIZ

GRÃOS PELO PLANETAO velho clichê de que o comércio eletrônico abre as portas de um negócio para o mundo cabe como luva na história da costa-riquenha Café Britt. Em 2009, 95% dos US$ 5,1 milhões que a empresa vendeu pela web tiveram como destino consumidores dos EUA e do Canadá. “Um turista que viaja à Costa Rica degusta uma xícara de café no avião, compra chocolates e bolsas da Café Britt no aeroporto para presentear seus entes queridos e leva um cartão de

desconto para sua compra online”, diz Pablo Vargas, presidente executivo da Café Britt, indicando que o marketing e a logística são parte fundamental de

sua operação. A companhia fez acordos com empresas de entrega expressa, como FedEx e DHL, e instalou um serviço de atendimento ao cliente em San José, no qual só trabalham pessoas bilíngues com grau universitário. “Apesar de estarmos em um país pequeno, através da internet podemos oferecer um excelente serviço e uma experiência de compra muito po-sitiva, com assistência online por chat, atendimento telefônico e resposta a consultas em, no máximo, duas horas”, diz Vargas. A empresa tem crescido a taxas de 15% ao ano, mas o exe-cutivo admite que chegar a esse resultado não foi fácil. Ele conhece outros empresários que tentaram comercializar seu produto pela web, mas não conseguiram resultados rápidos e abandonaram a iniciativa. “É preciso encarar esse setor como primordial, focar-se e investir.”

A oferta sofi sticou-se, em um pro-

cesso liderado pelas empresas aéreas

e pelas grandes operadoras de varejo,

seguido por um grupo cada vez maior

de pequenas e médias empresas, que

aperfeiçoaram seus modelos de ne-

gócio na rede. A demanda cresceu

em número e na disposição do con-

sumidor em comprar, à medida que

as gerações que foram educadas com

a internet desde o colégio entraram

no mercado de trabalho e puderam

canalizar seu poder de compra via web.

“Finalmente, alcançamos uma massa

razoável de usuários na América Lati-

na, sufi ciente para que muitos mode-

los de negócio na internet conquistem

rentabilidade mais rapidamente”, diz o

argentino Alec Oxenford, fundador da

casa de leilões online DeRemate.com

(comprada pela MercadoLivre.com) e

que hoje está à frente da OLX.com, um

serviço de classifi cados gratuitos com

presença global.

Entretanto, esse estudo aponta

que tal crescimento ainda não se dá de

maneira uniforme. Em alguns merca-

dos, a crise foi uma justifi cativa para

adiar investimentos em tecnologia e

logística, necessários para um avanço

nos modelos de comércio online, o que

impediu um aumento maior no volu-

me de bens e serviços adquiridos por

CafeBritt.com

meio da internet. Colômbia e Peru, por

exemplo, foram países que registraram

altas muito discretas no comércio de

produtos pela web. Somente este ano o

LATINOS AMADURECEMB2C como % do PIBFonte: AméricaEconomía Intelligence

0,14%

0,19%

0,11%

0,07% 0,07%

0,20%

0,33%

0,32%

0,10%

0,13%

0,18%

0,30%

0,84%

0,54%

0,52%

0,36%

0,42%

0,26%

0,11%

0,05%

0,09%0,13%

0,18%

0,24%0,27%

0,35%

0,64%

0,52%

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

0,9%

0,8%

0,7%

0,6%

0,5%

0,4%

0,3%

0,2%

0,1%

0,0%

Brasil

América Latina

Chile

México

CLICS & MONEYGasto total com e-commerce na América Latina (em US$ milhões)Fontes: Visa Internacional e AméricaEconomía Intelligence

2003

1.866,4

4.885,0

2004

15.645,0

2008

3.042,1

2004

10.572,5

2007

7.542,5

2006

21.774,9

2009

27.597,9

2010*

34.497,3

2011*

30.000

25.000

20.000

15.000

10.000

5.000

0

(*)Projeção

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Junho, 2010 AméricaEconomia 73

A VANTAGEM DE SER O ÚLTIMONo Brasil, a intensa guerra no campo do comércio eletrônico tem sido alimentada, nos últi-mos tempos, pela chegada de players globais. Em outubro de 2008, a rede norte-americana Walmart entrou em campo. Agora chegou a vez da francesa Carrefour, que inaugurou sua operação em março, com um objetivo ambicioso: ocupar a quinta posição entre os playersdo comércio eletrônico, no Brasil, até o fi nal de 2011. “Ser o último pode trazer benefícios”, diz Rodrigo Lacerda, diretor de Marketing da rede. “Podemos criar um site a partir do diag-nóstico de tudo o que está acontecendo, entendendo as necessidades do consumidor, co-nhecendo as tendências atuais e oferecendo uma solução diferenciada.” Com um investimento de US$ 27 milhões, o portal levou sete meses para ser desenvolvido, aproveitando todos os conceitos da rede 2.0. Os usuários podem obter informações sobre produtos por meio de vídeos explicativos, resenhas escritas por outros internautas, blogs, chats e redes sociais. A loja virtual do Carrefour no Brasil oferece garantia estendida de produtos e atenção pós-venda. A plataforma brasileira, primeira a ser lançada pela multinacional francesa em um país emergente, servirá de modelo em seus projetos em outros países, como Argentina, Colômbia e China.

Carrefour.com.br

Grupo Éxito, principal rede varejista da

Colômbia, começará a investir no de-

senvolvimento de seu negócio na web

(veja quadro O Papel dos Donos).

Em outros países, a contração do

turismo – gerada pela crise e pela gripe

suína – impediu que se registrassem

taxas de expansão maiores. Esse é o

caso principalmente do México, onde

o turismo representa cerca de 70% das

operações de B2C.

VAREJISTAS AO ATAQUENão é possível compreender a dimen-

são do crescimento do B2C na América

Latina sem falar do Brasil. O país não

é somente o maior da América Latina;

também é o que apresenta os indica-

dores mais altos em termos de uso de

comércio eletrônico na região, uma

vantagem que se acentuou durante

2009, com a entrada de 4,4 milhões de

novos usuários de internet no país, que

ajudaram a levar as cifras de B2C para

além dos US$ 13 bilhões, mais de 60%

de todo o e-commerce focado no consu-

midor fi nal da região. “Nosso cenário

conservador de crescimento para o B2C

é de 30% por ano até 2016”, diz Gerson

Rolim, diretor executivo da Câmara-e.

net, associação que reúne as operado-

ras de comércio eletrônico.

Rolim não é o único otimista em re-

lação ao Brasil. As grandes redes vare-

jistas incrementaram fortemente suas

apostas tecnológicas e logísticas para

aumentar a força de seu comércio ele-

trônico. O Walmart, por exemplo, que

entrou no e-commerce brasileiro em

outubro de 2008, afi rma que pretende

dobrar suas vendas virtuais em 2010. O

foco de sua estratégia se concentra na

variedade: a empresa quer aumentar

sua oferta online dos atuais 10 mil arti-

gos, distribuídos em 11 categorias, para

100 mil, divididos em 21 seções, até o

fi nal do ano. O Walmart também tem

lojas virtuais em outros países, como

no Chile, representado pela marca Líder,

e no México, com a Superama. Contudo,

ambos operam somente na venda de

alimentos. O Carrefour Brasil, que aca-

ba de lançar seu portal de e-commerce

no país, tem um plano semelhante (veja

quadro A Vantagem de Ser o Último).

Entretanto, o maior destaque no

segmento varejista é o Pão de Açúcar,

gigante que, com a compra de seus

rivais Ponto Frio e Casas Bahia, não

apenas assumiu a liderança das ven-

das físicas de varejo, como alcançou

a segunda posição no comércio ele-

trônico brasileiro. A empresa, que, no

fechamento desta edição, passava por

um processo de revisão de sua fusão

com a Casas Bahia, passou a concentrar

as unidades de venda de bens duráveis

na internet em uma nova empresa,

chamada de Nova PontoCom. Com um

faturamento estimado em US$ 1 bilhão

para 2010, fi ca atrás apenas da B2W-

Companhia Global do Varejo, formada

CONFIANÇA EM ALTAQual a sua percepção sobre a segurança nas operações feitas pela web?

Fonte: Pesquisa com leitores de AméricaEconomia, maio de cada ano

Resultado referente só a respostas “alta/muito alta”, como percentual do total

2008

201080%

40%

60%

20%

70%

30%

50%

10%

0%

AR

GE

NT

INA

CO

STA

RIC

A

PAN

AM

Á

BR

ASI

L

EQ

UA

DO

R

PE

RU

VE

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I

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UG

UA

I

A. L

AT

INA

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74 AméricaEconomia Junho, 2010

I-BIZ

por Submarino.com e Lojas America-

nas. A B2W, entretanto, tem visto sua

distância em relação às concorrentes

se reduzir. Em 2009, pelo segundo ano

consecutivo, cresceu menos que a mé-

dia dessa indústria, reduzindo sua par-

ticipação de 60% para 47%. Em busca de

reverter tal tendência, o grupo anun-

ciou que investirá US$ 100 milhões em

tecnologia neste ano.

A necessidade de reação é justi-

ficada; afinal, o mercado brasileiro

tem se sofisticado. Por exemplo, em

2009, os eletrodomésticos figuraram

pela primeira vez entre os artigos mais

comprados pela web no Brasil. As ven-

das desses itens cresceram 137% em

relação a 2008 e só fi caram atrás, entre

os produtos tangíveis, das categorias

mais tradicionais, como livros, assi-

naturas de jornais e revistas, além de

acessórios de cuidado pessoal (saúde,

beleza e medicamentos).

O dinamismo do B2C brasileiro, en-

tretanto, ainda não se repete em outros

mercados da América Latina. No México,

a rede PalaciodeHierro.com é líder, mas

o segmento varejista ainda não aposta

suas melhores fi chas no canal de vendas

online. Na Argentina, há modelos bem-

sucedidos, mas ainda falta demanda.

Na Colômbia e no Peru, o investimento

dos operadores varejistas é recente e do-

minado por pequenos casos isolados. So-

mente o Chile, segundo país com maior

maturidade em comércio eletrônico da

região, mostra desenvolvimentos im-

portantes, em um setor dominado pela

Falabella.com (veja quadro Da Logística

às Redes Sociais), mas no qual também

se destacam outras varejistas, como

Cencosud, Ripley, Sodimac e LaPolar.

PEQUENAS EM DESTAQUESer um jogador relevante em uma área

de e-commerce requer muito investi-

mento em tecnologia e em sistemas

logísticos. É impossível conseguir ven-

das de US$ 100 milhões sem que haja

compromissos substanciais e recursos

sustentáveis. Contudo, as pequenas em-

presas também têm conquistado bons

resultados na web. À medida que os mo-

tores da busca começam a ser a principal

ferramenta de pesquisa dos usuários

da internet na hora de tomar decisões

de compra, os pequenos começam a ter

chances similares às das grandes redes

de chegar com sua oferta ao consumi-

dor. Isso é facilitado por sites como o Mer-

cadoLivre.com, um portal que passou de

leilões a transações com consumidores,

cujas vendas, atualmente, são 90% a pre-

ço fi xo, e 80% de produtos novos, o que

mostra um amplo domínio de pequenos

negócios em sua plataforma.

Uma das vantagens do e-commerce

é que ele gera incentivos para que em-

presas que operam na informalida-

de ingressem no mundo formal com

propostas de valor diferenciadas. É o

caso do Mercado La Salada, um grande

centro têxtil de Buenos Aires, que criou

o MercadoLaSalada.com, ou das feiras

tecnológicas peruanas Las Malvinas

(Malvinasperu.com) e Computiendas

(Computiendasperu.com).

“As empresas pequenas e médias

têm tudo a ganhar com o comércio ele-

trônico, por seus benefícios visíveis, co-

mo o acesso a novos mercados, e pela

afi nidade da natureza dinâmica do meio

com seus modelos de negócio”, diz José

María Ayuso, vice-presidente Executivo

Global de Produto da Visa. “São muitos

DA LOGÍSTICA ÀS REDES SOCIAISSe alguém pesquisar a história da rede chilena de lojas de departamento Falabella, não encontrará nenhuma referência a seu site. Fontes da empre-sa dizem que tais informações estão classifi cadas como confi denciais, por causa do sucesso do negócio. Ricardo Alonso, gerente geral da Falabella.com, afi rma que o nível de vendas registrado no portal supera o de qual-quer loja física do país. Fontes próximas da empresa dizem que as vendas online representam 57% do faturamento da área de varejo da Falabella,

participação que justifi ca os dados de tráfi co on-line indicados por sites como Alexa.com ou Goo-gleTrends.com. Alonso não confi rma tal dado, mas comenta os fatores-chave do sucesso da Falabella.com. “A experiência da compra é o fundamental”, diz. Segundo o executivo, não basta ter um bom catálogo de ofertas sem ter boa logística. “Isso não implica apenas ter caminhões para entrega,

mas sistemas inteligentes para traçar rotas e integração de sistemas que permita monito-

rar as entregas”, diz. Um exemplo-chave no qual muitos falham é a logística reversa, que permite que um comprador devolva o produto, se não estiver satisfeito com a compra. “É um processo complexo, mas não fazê-lo bem pode signifi car o fi m do e-commerce.” Por isso, Falabella tratou de desenvolver seu próprio modelo, seguindo o exemplo de varejistas bem-sucedidos dos EUA e da Europa, os quais Alonso visita regularmente. Outro fator fundamental é observar o usuário.

“Medimos tudo o que ele faz no site. Tudo”, afi rma. A estratégia de ob-servação permanente estende-se inclusive às redes sociais, realizando promoções em canais como Facebook ou Twitter. Além do Chile, Falabella.com opera na Argentina e se prepara para estrear na Colômbia e no Peru, países nos quais atualmente só possui sites informativos.

Falabella.com

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Junho, 2010 AméricaEconomia 75

O PAPEL DOS DONOSA visão dos donos e o apoio que dão ao comércio eletrônico são fundamentais na hora de elaborar uma estratégia de sucesso. Não acredita? Então pergunte aos executivos do Grupo Éxito, maior rede de varejo da Colômbia, comprada em 2007 pela francesa Casino. “Começamos nossa plataforma online em 1998, mas era uma unidade pequena, sem ambição”, conta Eduardo René Miranda, chefe de Comércio Eletrônico do grupo. “Desde que a Casino chegou, porém, passamos a respirar internet.” Para essa mudança, foi importante a expe-riência da rede francesa com seus portais em outros países, injetando ambição no grupo, que prepara vários investimentos para renovar seu portal. “As vendas online do Éxito foram de US$ 15 milhões em 2009, apenas 0,8% do total; no caso do Extra.com, no Brasil, o site representa 5% das vendas do grupo”, compara Mi-randa, calculando o potencial a explorar.

Exito.com

sa. “Isso se dará, especialmente, nos

países em que há mais bancarização e

penetração tecnológica”.

CRUZAR FRONTEIRASUm iPad, um celular Android ou o últi-

mo PC da Sony são sonhos de consumo

que talvez ainda não estejam dispo-

níveis no comércio de determinada

região. Mas isso não impede que se

compre diretamente dos EUA, por meio

dos sites mais populares desse país, co-

mo o Amazon ou o eBay. A modalidade

de consumo online caracterizada pela

compra de produtos que estão dispo-

níveis em sites de comércio eletrônico

de outros países já ganhou relevância.

Na verdade, é um dos componentes do

e-commerce que mais cresce. Apesar

dos custos de logística e de aduanas,

cada vez mais os consumidores latino-

americanos estão usando a internet

para comprar produtos que não en-

contram em seus países. “Quando o

iPhone foi lançado, em 2007, recebemos

uma enorme quantidade de pedidos de

compra do novo aparelho provenientes

da América Latina”, diz Paul Gartland,

CEO da Skybox, empresa de logística,

com sede em Miami, dedicada ao envio

de produtos comprados nos EUA para

seus consumidores latino-americanos.

“Em 2009, fi zemos 150 mil envios de

produtos dos EUA para a América La-

tina, um aumento de 18% em relação a

2008, apesar da crise”, explica.

O México é, por sua integração lo-

gística com os Estados Unidos, o país

que mais compra dos EUA através da

web. Muitos mexicanos compram dire-

tamente na Amazon e no BestBuy.com,

sem passar por um serviço intermedi-

ário. Líderes da indústria estimam que

esse comércio seja equivalente a quase

um terço de todo o e-commerce realiza-

do pelo México. De fato, a concorrência

direta dos Estados Unidos é um dos

fatores que têm inibido as empresas

mexicanas a incrementar sua aposta

no comércio eletrônico.

A América Central e o Caribe tam-

bém são grandes compradores de sites

estrangeiros, por sua proximidade ge-

ográfi ca com os EUA e pela pouca pro-

fundidade de seus próprios mercados.

Os países do Caribe que falam inglês

contam, ainda, com a vantagem do

idioma, o que torna a compra um pro-

cesso ainda mais natural.

No entanto, se havia um país on-

de os cidadãos se caracterizavam por

fazer compras internacionais, esse

era a Venezuela. Até 2007, o governo

venezuelano autorizava uma cota de

compras pela internet de até US$ 1,5

mil. Entretanto, por causa da realidade

2005 2006 2007 2008 2009

BRASIL 2.269,9 3.540,5 4.898,7 8.572,6 13.230,4

MÉXICO 567,1 867,6 1.377,0 2.010,0 2.624,9

VENEZUELA 253,4 489,6 821,5 787,8 906,1

ARGENTINA 240,9 378,1 561,5 732,8 875,0

CHILE 242,8 471,8 687,5 919,5 1.027,9

CARIBE 387,0 565,0 660,0 754,9 868,1

COLÔMBIA 150,3 175,0 201,3 301,9 435,0

PORTO RICO 344,0 384,3 445,0 489,8 587,8

OUTROS 131,3 164,8 203,0 260,9 306,5

AMÉRICA CENTRAL 189,2 359,9 499,0 563,9 637,2

PERU 109,1 145,5 218,2 250,9 276,0

AL + CARIBE 4.885,0 7.542,5 10.572,5 15.645,0 21.774,9

E-CONSUMO TOTALPaíses/blocos selecionadosB2C em US$ milhõesFonte: Visa e América Economía Intelligence

O Brasil representa mais de 60% de todo o comércio

eletrônico da região

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76 AméricaEconomia Junho, 2010

I-BIZ

dual do mercado de câmbio venezue-

lano, essa cota, que permitia a compra

de dólares na taxa ofi cial mais baixa,

acabava funcionando como um subsí-

dio, incentivando o uso massivo. Isso

motivou o governo a reduzir o limite de

compras para US$ 400, elevar o câmbio

ofi cial, e fi xar requisitos mais restriti-

vos ao acesso a esses dólares, reduzindo

o número de compras online.

Já no Brasil, o volume de compras

no exterior registra um crescimento

A COMPRA DO MÊSA gripe A (H1N1) fez bem ao negócio da LeShop.com.ar. O portal, criado em 2000, viu sua demanda crescer em julho do ano passado, quando a pandemia forçou a quarentena nas principais cidades da Argentina. Foi então que o LeShop se transformou em um dos sitesprediletos de compra online, com uma taxa de crescimento de 50% em 2009. Gonzalo To-más Benítez, diretor executivo do portal, afi rma que esse resultado se deve a dois fatores:

logística própria e atenção personalizada. “Entendemos que, para ganhar mercado e fi delizar clientes, esses fatores são chave, porque ajudam a

construir confi ança”, diz. Esse supermercado na internet afi rma ter 35% de participação de mercado, em um segmento que faturou US$ 65 milhões em 2009. A navegação no siteda LeShop – que replica a operação da empresa suíça homônima – simula o passeio por um supermercado, incluindo as gôndolas. Seu objetivo é facilitar a mudança de hábito do consumidor na hora de fazer suas compras. Também oferece um assessor pessoal, que se apresenta com nome e sobrenome e responde a qualquer dúvida ou mudança no pedido. “Nosso cliente é exigente e valoriza a qualidade, pontualidade e exatidão em cada pedido”, afi rma Benítez.

Leshop.com.ar

significativo. Apesar de algumas ta-

rifas sobre produtos eletrônicos che-

garem a 100%, os brasileiros de maior

poder aquisitivo têm aproveitado a

valorização do real para comprar pela

internet muitos dos produtos eletrôni-

cos que ainda não estão nas lojas de seu

país. De acordo com a Camara-e.net, os

brasileiros gastaram US$ 620 milhões

dólares, em 2009, em compras interna-

cionais pela web, um aumento de 30%

em relação a 2008.

Esse movimento de compras trans-

fronteiriças é de mão dupla. Por isso,

também vale destacar que muitos imi-

grantes que vivem nos Estados Unidos

substituíram as remessas de dólares

em dinheiro que enviariam às suas

famílias em seus países de origem por

compras em sites de e-commerce

desses lugares. Isso tem levado

empresas como a mexicana

TiendasElektra.com, do Gru-

po Salinas, assim como

clubes de desconto, como

o PriceSmart, na Améri-

ca Central e no Caribe, a

desenvolver serviços es-

peciais para os clientes

internacionais.

COMO AVIÃO Grande parte do impulso do

comércio eletrônico na região

continua sendo protagonizado pela

indústria do turismo, especialmente

pelas companhias aéreas. E não se trata

de tentativas revolucionárias de algu-

mas companhias de baixo custo, como

a Gol, no Brasil, a Volaris, no México, ou

a Aires, na Colômbia. O maior esforço,

nos últimos dois anos, ocorreu entre

os players estabelecidos, ou seja, com-

panhias aéreas de bandeira que têm

investido fortemente para fomentar a

venda direta de passagens pela inter-

net. A chilena Lan, por meio de seu site

Lan.com, tem sido uma das mais agres-

sivas nessa luta, com promoções para

atrair os viajantes a comprar em seu

site e eliminar qualquer agência inter-

mediária, que ganharia uma comissão

pela venda. Mas é a brasileira Gol que

continua sendo a companhia da região

com maior volume de vendas pela in-

ternet, com mais de 90% de sua receita

gerada dessa forma – embora muitas

delas não possam ser consideradas di-

retas, já que são feitas pelas agências

de viagens no site da empresa.

A novidade, porém, é que já exis-

tem pequenas e médias empresas do

setor que começam a utilizar o comér-

cio eletrônico para fechar transações.

Pode ser uma empresa de transporte

turístico no costa maia mexicana, co-

mo a CancunTransfers.com, ou um

resort no Caribe, ou uma pousada em

VENEZUELA4,2%

PORTO RICO2,7%

PERU1,3%

MÉXICO12,1%

COLÔMBIA2%

OUTROS1,4%

CARIBE4%

ARGENTINA4%

BRASIL60,8%

AMÉRICA CENTRAL2,9%

CHILE4,7%

POTÊNCIA BRASILParticipação por país no gasto total do B2C na ALFontes: Visa Internacional e AméricaEconomía Intelligence

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EUFORIA VIRTUALO show do Aerosmith na Colômbia estava programado para o dia 20 de maio, mas, no escritório de Eduardo Olea, o frenesi envolvendo esse espetáculo co-meçou muito antes: especifi camente, à zero hora do dia 13 de março, momen-to em que começava a venda de ingressos através do portal Tuboleta.com, da empresa Coltickets, da qual Olea é gerente de Pesquisa e Desenvolvimento. “Nessa hora, 85 mil pessoas disputavam um dos 10 mil ingressos. Chegamos a ter um pico de 110 mil pessoas”, conta. O excesso de busca fez o sistema cair, o que incentivou a empresa a investir em capacidade para processar um grande volume de transações. Afi nal, um negócio online que envolve grandes nomes da música precisa de robustez para administrar a euforia dos fãs. “A internet é o canal predileto para a compra de entradas para eventos como fi nais de campeonatos de futebol ou grandes shows internacio-nais”, diz. A empresa – com presença também no Peru e no Equador – realiza vendas por meio de diferentes canais: dois presenciais (em 70 pontos de ven-da, mais bilheterias de vários teatros e estádios), além da venda por telefone e internet. Do total de entradas que a Tuboleta vendeu em 2009, 27% foram por via telefônica e 22%, pela web. Uma característica verifi cada é que as compras feitas pela web se concentram nos ingressos de valor mais alto. Enquanto, so-mando todos os canais de venda, o valor médio de uma entrada é de US$ 15, a média de preço de um ticket vendido pela internet é de US$ 30.

TuBoleta.com

Machu Picchu, no Peru. “Hoje, 70%

das reservas de hotéis passam por

uma atividade online”, afi rma Alvaro

Diago, diretor para América Latina do

grupo InterContinental Hotels Group,

que inclui marcas como a HolidayInn.

“Embora a fi delidade de marcas seja

relevante nessa indústria, a internet

tem permitido que empresas de me-

nor porte se tornem conhecidas e ga-

nhem posições.”

A indústria de viagens, ainda que

em sua grande maioria não sofra com

os problemas de logística que atingem

os varejistas on-line – já que não há um

bem físico para entregar –, tem o desafi o

da confi ança do consumidor, pois se tra-

ta de compras caras. Um ticket médio na

indústria do turismo é de US$ 900 para

a passagem de avião e US$ 400 para a

reserva de hotel, de acordo com dados

da Despegar.com, o que requer uma alta

dose de credibilidade para ser realizado.

OS GARGALOS Apesar dos bons resultados revelados

neste estudo, a América Latina conti-

nua a ser uma região predominante-

mente offl ine e não bancarizada. Ainda ARGENTINA BRASIL CHILE COLÔMBIA EQUADOR MÉXICO PERU VENEZUELA AL

COMPRADORES COMPULSIVOSQuem fez compras no último mês (só respostas positivas)Fonte: TGI / KMR

1,77%1,34%

3,72%4,01%

4,28%

200720082009

2,80% 2,94%

1,96%

0,28%

1,78%

1,75%

1,89%1,81%

0,71%0,94%

1,62%2,76%

2,40%

1,00%

2,63%

3,75%

3,07%3,40%

3,10%

6,14%6,58%

7,21%8,0%

7,0%

6,0%

5,0%

4,0%

3,0%

2,0%

1,0%

0,0%

são muitos os fatores que devem evo-

luir para que a região alcance os níveis

de comércio eletrônico dos países de-

senvolvidos. Por exemplo, em vários

países ainda há pendências quanto aos

mecanismos de transação comercial

online, o que gera trâmites e complica-

dores adicionais para essas operações.

Os sistemas de logística e postal

também são citados como grandes obs-

táculos para a consolidação de projetos.

Com exceção do Brasil, que conta com

um sistema de correio postal de alto ní-

vel, os demais países da região têm me-

canismos inefi cientes de distribuição

de bens, o que obriga muitas empresas

a criar a sua própria logística. Algo im-

pensável, por exemplo, nos EUA, onde

empresas como a DHL, UPS e Fedex são

os melhores sócios das lojas.

Além disso, ainda faltam fortes in-

vestimentos em tecnologia para que

as empresas ofereçam serviços que

realmente gerem experiências dife-

renciadas para o usuário em relação às

compras tradicionais. Esse fator, soma-

do à desconfi ança que ainda persiste

em grande parte da população, cria

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I-BIZ

barreiras. Nada, entretanto, que não

possa ser superado, e cada novo avan-

ço permitirá o aumento do volume de

bens e serviços que nossas economias

movimentam pela web.

COMO QUEIMA DE ESTOQUENeste ano, o Despegar.com lançou uma promoção para a qual convenceu hotéis da Argentina a reduzir em até 50% o valor das diárias e antecipar as vendas de temporada através do portal. Tal estratégia não foi isolada. Desde a sua criação, nos anos 1990, essa agência de viagens busca au-mentar a participação de estadia e pacotes turísticos em suas vendas. “A ideia é que, dentro de poucos anos, eles representem 50% do total”, diz o argentino Cristian Vilate, co-fundador e vice-presidente da Hoteles Despegar.com para a América Latina. A preocupação da empresa se justifi ca. Hoje, a venda de passagens de avião, que representa 80% das transações feitas pelo site, já não oferece a mesma rentabilidade de anos atrás, sobretudo porque as próprias com-panhias aéreas passaram a buscar a internet para fortalecer suas vendas diretas, reduzindo as comissões pagas às agências. “Esse é um negócio que só vale a pena em escala”, diz Vilate. A empresa fechou 2009 com um volume de transações próximo dos US$ 500 milhões e espera chegar aos US$ 900 milhões em 2010. O mercado brasileiro, no qual a empresa atua por meio da marca Decolar.com.br, é o maior da operação, respondendo por mais de 40% dos negócios da companhia. No país, são superados apenas pelo site SubmarinoViagens.com, fi -lial do gigante B2W. O México é seu segundo mercado, com 20% das vendas, seguido pela Argentina, com 15%.

METODOLOGIA As estimativas da AméricaEconomía

Intelligence para a elaboração deste es-

tudo, relativas aos anos de 2008 e 2009,

foram feitas a partir das informações

fornecidas por fontes ofi ciais de cada

país (câmaras ou associações de comér-

cio eletrônico), homologadas e com-

plementadas por análises industriais,

relatórios fi nanceiros de grandes em-

presas e análise de especialistas, além

de informações fornecidas por duas

pesquisas: a “TGI 2009”, da consultoria

KMR, realizada em uma amostra repre-

sentativa de 24.433 entrevistados, em

oito países da região, durante 2009; e

outra feita em maio, pela AméricaEco-

nomía Intelligence, com 2,3 mil leitores

da revista AméricaEconomia. Para os

países que não têm órgãos que forne-

çam dados estatísticos sobre o setor,

a AméricaEconomía Intelligence rea-

lizou estimativas próprias, tendo em

conta outras variáveis relacionadas às

vendas pela web.

Para fi ns deste estudo, defi nimos

como comércio eletrônico a consumido-

res (B2C) as transações comerciais que

são fechadas pela internet e derivam

em pelo menos uma ordem de compra

cujo destinatário seja uma pessoa fí-

sica. Isso inclui transações realizadas

entre consumidores e empresas de va-

rejo, de turismo e companhias aére-

as; entre outros consumidores (C2C); e

transações com o governo (pagamento

de impostos online). Os valores em dó-

lares foram obtidos utilizando a taxa

de câmbio válida para o último dia de

cada ano respectivo.

Agradecemos a colaboração das

seguintes fontes de informação: Amip-

ci, Camara-e.net, Cace, Cavecom, CCS,

FMI, Ilce, ITU, World Internet Statistics,

Unctad, Cepal, Organização Mundial

do Turismo, Câmara Colombiana de

E-Commercio, Capece, Direção Geral

do Comércio Eletrônico do Panamá,

Camtic, Tendencias Digitales, entre

outros especialistas e líderes na área

de comércio eletrônico na região, que

nos ajudaram a obter as informações

necessárias para essa pesquisa.

Despegar.com

DINHEIRO ELETRÔNICOMeio de pagamento preferidoFonte: TGI 2009

10 20 30 40 50 60 70 800%

CARTÃO DE CRÉDITO 75%

13%CARTÃO DE DÉBITO

3%TRANSFERÊNCIA

1%CHEQUE

7%CONTRA ENTREGA

Os brasileiros de alto poder aquisito têm aproveitado a valorização do real

para comprar pela internet produtos que ainda não chegaram nas lojas do país